Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
Se Temer e os senhores a quem serve entendem um pouco do Brasil, de seu povo e de sua cultura, devem ter captado o sentido e a gravidade dos gritos de “Fora Temer” que ecoaram em vários pontos do País, nos blocos e eventos carnavalescos de rua. Eles invadiram até mesmo as transmissões de emissoras, como a TV Globo, que tentou ignorá-los mas foi convencida, pela repetência dos fatos, a registrá-los. O “fora Temer” no carnaval não contou com organizadores nem apoiadores. Foi espontaneísmo de massas em estado puro e líquido, um grito do “consciente coletivo” contra o governo golpista e o desmanche do país, um prenúncio do ocaso que se avizinha.
Se Temer e os senhores a quem serve entendem um pouco do Brasil, de seu povo e de sua cultura, devem ter captado o sentido e a gravidade dos gritos de “Fora Temer” que ecoaram em vários pontos do País, nos blocos e eventos carnavalescos de rua. Eles invadiram até mesmo as transmissões de emissoras, como a TV Globo, que tentou ignorá-los mas foi convencida, pela repetência dos fatos, a registrá-los. O “fora Temer” no carnaval não contou com organizadores nem apoiadores. Foi espontaneísmo de massas em estado puro e líquido, um grito do “consciente coletivo” contra o governo golpista e o desmanche do país, um prenúncio do ocaso que se avizinha.
Por coincidência, nesta quarta-feira de cinzas, com as marcas da festa ainda visíveis nas ruas, Marcelo Odebrecht falará ao ministro Hermann Benjamim, relator da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, sobre a participação da empreiteira de sua família no financiamento da campanha de 2014, inclusive do pedido de ajuda que lhe fez o próprio Temer, e da forma como o atendeu. Talvez explique porque uma parte da grana chegou ao escritório do amigo-irmão do presidente, José Yunes, pelas mãos do operador Lucio Funaro. Mas ainda que não seja pela via do TSE, parece cada vez mais improvável a sobrevivência de um governo que consegue representar tantas faces do descalabro: ilegitimidade, ruína econômica, entreguismo, involução social e exuberância da corrupção, afora outros males.
Diferentemente das manifestações do ano passado pró-impeachment ou contra o golpe, o “fora Temer” no carnaval não foi previamente combinado pelas redes sociais, não foi convocado por partidos ou grupos organizados, não teve o apoio da Fiesp ou da CUT, não exigiu a produção de cartazes e carros de som. Os antropólogos culturais costumam dizer que no carnaval as fantasias e desejos se libertam dos controles censórios para irromper em cena. Com o “fora Temer” deu-se o mesmo processo. O que irrompeu não foi uma fantasia mas o mal estar reprimido com a situação criada pelo golpe e a ânsia por uma saída política mais imediata. Quem pede “fora Temer” não quer esperar 2018.
O parentesco mais próximo que o grito deste carnaval pode ter é com as “jornadas de junho” de 2013, que reuniram indignados com a corrupção e decepcionados com a política de esquerda ou de direita, ricos ou pobres, reacionários e progressistas, oportunistas de ocasião ou inocentes sinceramente interessadas em “passar o país a limpo”. Mas como em política não há gesto inútil, aqueles protestos foram capturados e direcionados pelas forças que já pensavam no golpe. Minada a popularidade de Dilma, o resto foi vindo. Agora, massas que se reuniram apenas para brincar o carnaval entoaram um Fora Temer a plenos pulmões. No Rio, houve até um “Lula lá” de madrugada, no bloco “minha luz é de led”. Mas desprezemos esta preferência, bem como as declarações de artistas e notáveis, para ficarmos só com a força espontaneísta do Fora Temer.
Agora vem a quaresma do governo Temer, um tempo de grandes tribulações. No âmbito do processo do TSE, além de Marcelo Odebrecht, o relator ouvirá depoimentos de outros delatores da Odebrecht: amanhã os de Benedito Barbosa da Silva Júnior e Fernando Reis, no Rio, e na segunda-feira os Cláudio Melo Filho e Alexandrino de Salles Ramos de Alencar, em Brasília. Benjamim está pisando no acelerador. A defesa de Temer fará uso de todos os recursos protelatórios, como pedidos de auditoria e de novas audiências. Chegando ao plenário, o processo estará sob a regência do ministro Gilmar Mendes, presidente do tribunal e aliado indisfarçado do presidente. Gilmar pode muito mas não pode tudo.
Diferentemente das manifestações do ano passado pró-impeachment ou contra o golpe, o “fora Temer” no carnaval não foi previamente combinado pelas redes sociais, não foi convocado por partidos ou grupos organizados, não teve o apoio da Fiesp ou da CUT, não exigiu a produção de cartazes e carros de som. Os antropólogos culturais costumam dizer que no carnaval as fantasias e desejos se libertam dos controles censórios para irromper em cena. Com o “fora Temer” deu-se o mesmo processo. O que irrompeu não foi uma fantasia mas o mal estar reprimido com a situação criada pelo golpe e a ânsia por uma saída política mais imediata. Quem pede “fora Temer” não quer esperar 2018.
O parentesco mais próximo que o grito deste carnaval pode ter é com as “jornadas de junho” de 2013, que reuniram indignados com a corrupção e decepcionados com a política de esquerda ou de direita, ricos ou pobres, reacionários e progressistas, oportunistas de ocasião ou inocentes sinceramente interessadas em “passar o país a limpo”. Mas como em política não há gesto inútil, aqueles protestos foram capturados e direcionados pelas forças que já pensavam no golpe. Minada a popularidade de Dilma, o resto foi vindo. Agora, massas que se reuniram apenas para brincar o carnaval entoaram um Fora Temer a plenos pulmões. No Rio, houve até um “Lula lá” de madrugada, no bloco “minha luz é de led”. Mas desprezemos esta preferência, bem como as declarações de artistas e notáveis, para ficarmos só com a força espontaneísta do Fora Temer.
Agora vem a quaresma do governo Temer, um tempo de grandes tribulações. No âmbito do processo do TSE, além de Marcelo Odebrecht, o relator ouvirá depoimentos de outros delatores da Odebrecht: amanhã os de Benedito Barbosa da Silva Júnior e Fernando Reis, no Rio, e na segunda-feira os Cláudio Melo Filho e Alexandrino de Salles Ramos de Alencar, em Brasília. Benjamim está pisando no acelerador. A defesa de Temer fará uso de todos os recursos protelatórios, como pedidos de auditoria e de novas audiências. Chegando ao plenário, o processo estará sob a regência do ministro Gilmar Mendes, presidente do tribunal e aliado indisfarçado do presidente. Gilmar pode muito mas não pode tudo.
Outras demonstrações de que o governo não tem condições morais de se sustentar estarão se acumulando nos próximos dias, com a divulgação de uma parte das delações da Odebrecht. Elas devem atingir ministros, colaboradores e parlamentares da base do governo. Ainda que os delatores façam revelações cabeludas sobre Temer, relacionadas com fatos ocorridos antes de sua posse, ele não poderá ser processado por elas. O presidente, diz a Constituição, não pode ser processado e julgado por atos estranhos ao exercício do cargo. Isso não impede, entretanto, que um governante açoitado por denúncias graves perca as condições morais e politicas de se manter no cargo. Se Temer chegar a este ponto, alguma saída terá que ser produzida pelas elites, ainda que seja no TSE, apesar de Gilmar.
Para Lula, cuja candidatura já leva jornais como O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo a clamarem por sua interdição judicial, seria até melhor esperar pela saída natural, as eleições de 2018. Quando mais Temer ficar no Planalto, mais desmoralizado estará seu governo no final. Lula seria beneficiário de um “quanto pior, melhor”, mas o país estaria mais destruído, dificultando e retardando a recuperação. Também por isso o início do ocaso do governo é um bom sinal, e sua derrocada será uma redenção.
Para Lula, cuja candidatura já leva jornais como O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo a clamarem por sua interdição judicial, seria até melhor esperar pela saída natural, as eleições de 2018. Quando mais Temer ficar no Planalto, mais desmoralizado estará seu governo no final. Lula seria beneficiário de um “quanto pior, melhor”, mas o país estaria mais destruído, dificultando e retardando a recuperação. Também por isso o início do ocaso do governo é um bom sinal, e sua derrocada será uma redenção.
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