Golpe dentro do golpe uniu Globo, MP e bancos

Por Renato Rovai, em seu blog:

Michel Temer não presta. E pelo que representa e comanda não poderia ser candidato a vice presidente de Dilma Rousseff. Este foi o erro original que o levou até onde está. E a investigação em curso sobre a sua conversa com Joesley Batista precisa chegar ao fim. Ou seja, ao seu impeachment.

Dito isto, talvez esteja na hora de tentar entender tudo que vem acontecendo no Brasil nos últimos dias para além dos áudios e vazamentos.

Michel Temer parece estar sofrendo um golpe dentro do golpe organizado pela Globo, Ministério Público e setores do sistema financeiro. Um movimento do qual também fariam parte membros do seu governo. Em especial, a peça chave da equipe econômica, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles.

O quebra-cabeça é um tanto complexo, mas depois de muitas conversas vou tentar montá-lo aqui com todo o cuidado para não ser irresponsável ou injusto.

Gente que conhece os bastidores da Globo garante que os Marinho foram a verdadeira fonte do blogueiro Lauro Jardim. Como se viu depois da divulgação dos áudios, Jardim sequer teve acesso a gravação antes de escrever seu post. Produziu uma nota que poderia derrubar o presidente da República (apoiado até então pelas organizações para a qual trabalha) a partir de um relato ou de uma suposta transcrição. Que sequer era correta.

Evidente que não foi dessa forma. Na Globo nunca é dessa forma. Uma nota como essa foi amplamente discutida antes de ir ao ar. E até por isso virou plantão especial do JN e horas de debates na GloboNews.

Mas por que a Globo que apoiava Temer teria decidido fazer isso? O que estaria por trás desse cavalo de pau da emissora?

Como se sabe a Globo não se escandaliza por questões éticas. O que se debate nos bastidores é que teria ficado claro para a emissora que Temer, Aécio e Gilmar, entre outros, passaram a operar contra a Lava Jato. E enquanto Lula não for preso isso é inadmissível para a Globo.

Ao mesmo tempo, desde março a emissora já teria a informação de que Joesley Batista havia gravado Temer e Aécio. E que o MP teria grampeado Aécio e conseguido uma conversa nada republicana entre ele e Gilmar Mendes.

É neste momento que parece ter começado a conspiração entre setores do MP e a emissora, que teria procurado alguns bancos para ver como poderia operar o pós-Temer.

Como se percebe no áudio entre Temer e Joesley, o nome da solução estava lá. Prestem atenção na gravação. O dono da JBS inclui o Henrique (Meirelles) na conversa dizendo que é um homem trabalhador, que se convidado para ir a praia não vai, que gosta mesmo de trabalho etc. e tal. E depois passa a dizer que Meirelles não comete as ilegalidades por ele sugeridas e que não nomeia as pessoas que indica. Ou seja, faz a descrição de alguém sério e comprometido com o espírito público.

O vazamento da delação da JBS jogou todo mundo na lama. Menos Meirelles que foi funcionário do grupo JBS por quatro anos.

A Globo fez então sua parte no roteiro. Despejou todo mundo ao mar e passou a defender a renúncia de Temer e eleição indireta.

Mas parece não ter combinado o jogo com os russos. E Folha, Estadão, Record e outros grupos de comunicação sentiram o cheiro de algo suspeito e não embarcaram no movimento.

Ao que parece Temer e alguns de seus aliados, entre eles tucanos graúdos, começaram a se movimentar explicando os riscos deste golpe dentro do golpe.

O resultado disso é que há neste momento uma guerra fratricida entre aqueles que se uniram para derrubar Dilma. Tanto no grupo político, como midiático. Isso aumenta as chances de uma solução pelas eleições diretas, mas a aliança Globo, MP e bancos pode convencer outros setores a aceitarem a solução de eleição indireta para colocar Meirelles ou outro preposto à frente do país.

É um momento tenso da histórica política nacional, mas ao mesmo tempo bastante interessante. Nunca uma operação da Globo foi tão desastrada como a atual. Ela pode ganhar este braço de ferro. Mas ao entrar neste jogo de cabeça, mostrou a bunda. E deixou claro para todos até onde pode chegar.

PS 1: Não se deve esquecer que a JBS era o terceiro maior anunciante da Globo. E que na conversa com Temer, Joesley disse que tinha influência na mídia. Ou seja, será que antes de ir para a delação o empresário não teria conversado com os donos do maior grupo de comunicação do país?

PS 2: Aécio foi detonado para que a Lava Jato tenha mais condições políticas para prender Lula. Tanto que os analistas da Globo não pararam de falar que o MP não age por motivações políticas. E que o PT não pode mais reclamar disso.