Por Rozina de Jesus
Poderia vencer esse artigo com apenas uma frase: mercadores de corpos humanos, escravocratas, genocidas e estupradores não merecem exaltação e homenagem pública. No entanto, vamos aproveitar que tal discussão está na ordem do dia e refletir sobre o caráter político e ideológico dos monumentos e estátuas de São Paulo, expressão das narrativas, símbolos e valores da classe dominante.
O exercício do poder não dá trégua, envolve todas as dimensões da vida em sociedade, domina a infraestrutura e molda a superestrutura segundo a imagem e semelhança da classe hegemônica. Não à toa, a representação de Duque de Caxias, o patrono do Exército, paira colossalmente na Praça Princesa Isabel. Vemos os suntuosos monumentos às Bandeiras, no Ibirapuera, e Borba Gato, em Santo Amaro, o ardiloso Anhanguera, em frente ao Masp e o gigantesco Obelisco em Memória ao Soldado Constitucionalista de 1932, também no Ibirapuera, expressando a potência civilizatória do paulistanismo, fabulação que se constituiu numa força agregadora das elites de São Paulo, já em finais do século 19, e foi utilizada como instrumento ideológico para unir a população em torno de uma identidade comum e empregar na disputa da hegemonia política e econômica no Brasil.
Andando pelas ruas, avenidas e praças paulistanas, é possível destacar que, através dos monumentos, a classe dominante expressa sua ideologia, estabelece o lugar das pessoas e denuncia o país injusto e desigual que projeta. Além disso, esconde a população negra, negando-lhe a histórica presença na sociedade. As estátuas que predominam nas praças e avenidas da cidade são: masculinas e brancas, as abstrações figuram marcadores eurocêntricos, não há povo, não há trabalhadores e trabalhadoras, não há gente comum, não há diversidade. As representações das mulheres não têm personalidade, biografia, nome, não se constitui em personagens que ao longo dos séculos edificam a cidade. Os índios são ilustrados apenas como paisagens campestres, silvícolas sem contribuição civilizacional, algo exótico, despercebidos.
A onda que percorre vários países de questionamento aos monumentos de facínoras, como o Rei Leopoldo da Bélgica, responsável direto pelo genocídio de milhões de homens, mulheres e crianças no Congo, como os generais confederados nos EUA que mergulharam o país numa guerra fratricida para assegurar o direito de continuarem a escravizar corpos negros e africanos, significa a luta para edificar uma sociedade sob novos paradigmas, que coadunam com a justiça, equidade, liberdade, fraternidade.
A burguesia paulistana ocupa a cidade com grandes e pequenos monumentos, retratando heróis e a história oficial, logo, os heróis e a história dos donos do poder. Questionar os símbolos dominantes, que ocupam São Paulo sem nenhum pudor, é uma disputa do presente, não é revisionismo, é projeção da Nação que desejamos. Em junho de 2016 o Minhocão mudou o nome para Elevado João Goulart, até então era Elevado Costa e Silva, denotando a inequívoca decisão de São Paulo em homenagear patriotas comprometidos com o Brasil e seu povo.
Por fim, Borba Gato representa uma triste página de nossa história, de modo que o monumento que o exalta afronta a memória dos povos indígenas, quilombolas, escravizados e assassinados. Trata-se de uma imagem da mais selvagem experiência de genocídio, estupro, comercialização e escravidão de vidas e corpos humanos na história. Jamais será uma representação digna do povo brasileiro, é uma obra dos poderosos, dos que oprimem, exploram e expropriam o trabalho social. O objetivo desse monumento é selar descaradamente o espaço público como propriedade privada dos donos do poder.
Poderia vencer esse artigo com apenas uma frase: mercadores de corpos humanos, escravocratas, genocidas e estupradores não merecem exaltação e homenagem pública. No entanto, vamos aproveitar que tal discussão está na ordem do dia e refletir sobre o caráter político e ideológico dos monumentos e estátuas de São Paulo, expressão das narrativas, símbolos e valores da classe dominante.
O exercício do poder não dá trégua, envolve todas as dimensões da vida em sociedade, domina a infraestrutura e molda a superestrutura segundo a imagem e semelhança da classe hegemônica. Não à toa, a representação de Duque de Caxias, o patrono do Exército, paira colossalmente na Praça Princesa Isabel. Vemos os suntuosos monumentos às Bandeiras, no Ibirapuera, e Borba Gato, em Santo Amaro, o ardiloso Anhanguera, em frente ao Masp e o gigantesco Obelisco em Memória ao Soldado Constitucionalista de 1932, também no Ibirapuera, expressando a potência civilizatória do paulistanismo, fabulação que se constituiu numa força agregadora das elites de São Paulo, já em finais do século 19, e foi utilizada como instrumento ideológico para unir a população em torno de uma identidade comum e empregar na disputa da hegemonia política e econômica no Brasil.
Andando pelas ruas, avenidas e praças paulistanas, é possível destacar que, através dos monumentos, a classe dominante expressa sua ideologia, estabelece o lugar das pessoas e denuncia o país injusto e desigual que projeta. Além disso, esconde a população negra, negando-lhe a histórica presença na sociedade. As estátuas que predominam nas praças e avenidas da cidade são: masculinas e brancas, as abstrações figuram marcadores eurocêntricos, não há povo, não há trabalhadores e trabalhadoras, não há gente comum, não há diversidade. As representações das mulheres não têm personalidade, biografia, nome, não se constitui em personagens que ao longo dos séculos edificam a cidade. Os índios são ilustrados apenas como paisagens campestres, silvícolas sem contribuição civilizacional, algo exótico, despercebidos.
A onda que percorre vários países de questionamento aos monumentos de facínoras, como o Rei Leopoldo da Bélgica, responsável direto pelo genocídio de milhões de homens, mulheres e crianças no Congo, como os generais confederados nos EUA que mergulharam o país numa guerra fratricida para assegurar o direito de continuarem a escravizar corpos negros e africanos, significa a luta para edificar uma sociedade sob novos paradigmas, que coadunam com a justiça, equidade, liberdade, fraternidade.
A burguesia paulistana ocupa a cidade com grandes e pequenos monumentos, retratando heróis e a história oficial, logo, os heróis e a história dos donos do poder. Questionar os símbolos dominantes, que ocupam São Paulo sem nenhum pudor, é uma disputa do presente, não é revisionismo, é projeção da Nação que desejamos. Em junho de 2016 o Minhocão mudou o nome para Elevado João Goulart, até então era Elevado Costa e Silva, denotando a inequívoca decisão de São Paulo em homenagear patriotas comprometidos com o Brasil e seu povo.
Por fim, Borba Gato representa uma triste página de nossa história, de modo que o monumento que o exalta afronta a memória dos povos indígenas, quilombolas, escravizados e assassinados. Trata-se de uma imagem da mais selvagem experiência de genocídio, estupro, comercialização e escravidão de vidas e corpos humanos na história. Jamais será uma representação digna do povo brasileiro, é uma obra dos poderosos, dos que oprimem, exploram e expropriam o trabalho social. O objetivo desse monumento é selar descaradamente o espaço público como propriedade privada dos donos do poder.
* Rozina de Jesus integra a direção da Unegro em São Paulo.
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