Por Jeferson Miola, em seu blog:
O Senado é um terreno minado para o governo militar. Ali acontece a CPI da Covid e ali tramitam os processos [1] de indicação do pastor evangélico para o STF, e [2] de recondução do cão-de-guarda miliciano na Procuradoria da República.
A CPI avança o cerco a vigaristas – de civis e militares, políticos, empresários, evangélicos charlatães – que montaram esquemas bilionários de propinas enquanto tornavam o Brasil vice-campeão mundial no macabro certame de morticínio humano.
O STF, em outro lado da Praça dos Poderes, é uma espécie de “espada de Dâmocles” permanente sobre as cabeças do Bolsonaro, da extrema-direita, dos charlatães fundamentalistas, dos generais e das milícias – as reais, as digitais, as legais e as ilegais que sustentam o governo.
Ali na Suprema Corte correm inquéritos criminais que inquietam e tiram o sono desta horda fascista que milicianizou e vandalizou a política e a vida nacional.
Como fica lógico e evidente, portanto, interesses estratégicos do governo Bolsonaro estão sendo jogados no legislativo e no judiciário.
O lógico e esperável, nesta circunstância, seria Bolsonaro baixar o tom e cessar os ataques ao Supremo e ao Congresso.
O capitão, porém, ao invés de optar pela sensatez política e arrefecer o clima, acirra ainda mais os ânimos, ameaça as instituições, ataca a democracia e aumenta o tom do assobio para a matilha fascista.
Esta opção política que Barbara Tuchman [A Marcha da Insensatez] definiria como uma escolha contraproducente pode significar, na verdade, uma escolha metódica do Bolsonaro para a instalação de um caos conveniente.
Ao governo militar interessa que o Senado reprove Augusto Aras e André Mendonça e convém, também, que o STF asfixie e vitimize os canais fascistas de difamação e de propagação de ódio na internet.
Com isso eles reforçam a “narrativa” de que as instituições não deixam Bolsonaro governar e perseguem ativistas da base do governo. E ganham, assim, a retórica para convocar e manter perfilada a matilha fascista.
Na infame homenagem ao “herói” Roberto Jefferson, Eduardo Bolsonaro usou este pretexto para dizer à matilha sedenta que “já estamos vivendo a ditadura” das instituições [sic].
O general promovido a “marechal” [sic] Augusto Heleno, do alto de suas ideias caquéticas, e em clara ameaça de intervenção militar, disse que se o artigo 142 existe na Constituição, “pode ser usado”.
É bastante claro que [1] em condições normais de temperatura e pressão do jogo político; e que, [2] dentro das regras da democracia, a oligarquia dominante não conseguirá impedir a vitória do Lula em outubro de 2022 – que inclusive poderá acontecer no 1º turno da eleição, segundo a maioria dos institutos de pesquisa.
Neste cenário de potencial vitória do Lula, que se combina com a profunda desmoralização e crise de legitimidade do governo militar, Bolsonaro e o partido dos generais não têm nada a perder. A eles mais interessa o caos, a confusão e o tumulto como recurso de sobrevivência e de afirmação de poder.
Bolsonaro fustiga as instituições de modo deliberado e em coordenação com o comitê central do partido militar. Com isso, Bolsonaro e os militares geram o caos que “justifica” [sic] o “contragolpe” do “seu” Exército.
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