Por Patrick Mariano, no blog Viomundo:
Em 27 de janeiro de 1982, a revista Veja estampava na capa a morte de Elis Regina. Como título, em letras quase do mesmo tamanho da sua própria foto, o seguinte texto “A tragédia da cocaína”. E nada mais.
Vinte anos depois, a mesma revista ilustrava a morte da cantora Cássia Eller.
Da mesma forma com que tratou Elis Regina, a revista disse em letras garrafais “Drogas mais uma vítima – A polícia suspeita que um coquetel de drogas, álcool e remédio matou a cantora que havia dois anos lutava para se livrar da dependência de cocaína”
Era somente isso que a revista tinha a dizer sobre essas duas monumentais artistas? Pior, irresponsavelmente, cravava, sem qualquer amparo fático ou laudo médico, a causa da morte dias após sua ocorrência.
Ainda que fosse a causa, o que depois não se comprovou – Cássia teve um infarto do miocárdio em decorrência de estresse e sobre Elis vale ler o texto de Cynara Menezes, mencionado nas notas – a forma como a revista as tratou revela o tamanho da sua cretinice.
Revela, porém, um pouco mais. Uma tentativa clara da revista em tentar destruir ídolos nacionais, seja por atuar como abutre sobre a tragédia para vender o sórdido, seja por que ideologicamente interessa que o País não tenha ídolos ou que estes sejam aqueles mais adequados ao seu pensamento político.
É o que se passa agora com o ex-presidente Lula. Incontáveis capas da revista pedem sua prisão de forma desvelada. Inclusive se valendo de montagens com roupa de presidiário ou algemas sem o mínimo respeito à ética profissional.
Tentam destruir a imagem de uma referência nacional com ilações, conjecturas e mentiras, assim como açodadamente fizeram com Elis e Cássia.
Aliás, a mesma revista mantém “colunistas” que se esmeram em tentar destruir a obra de Chico Buarque. Há uma evidente negação ou deliberada ação de atingir símbolos da arte e da política que não guardam afinidade com o seu pensamento ideológico.
Uma revista que a única coisa que tem a dizer sobre Elis Regina no dia da sua morte é “drogas mais uma vítima”, tem a deletéria função de espalhar mentiras, viver de boatos e tentar apagar a história que não lhe interessa, como se fosse um integrante do estado islâmico dinamitando monumentos históricos.
Quanto a Lula, por óbvio, deve ter ficado claro os limites da sua política de conciliação de classes e o erro de não ter pautado o debate sobre a regulação da mídia, mas isso é outra questão.
Vivemos sob o império da mentira. Basta, portanto, que ela integre uma delação premiada. Nada é conferido, não há o benefício da dúvida, inexiste apuração jornalística minimamente séria. Basta que alguém mencione algo e isso vai para a capa.
O instituto da delação premiada se tornou para o direito processual penal, na prática, a institucionalização do jornalismo da VEJA nos autos. Esse tipo de jornalismo preguiçoso, maledicente e irresponsável agora rege os atos processuais de juízes celebridades.
E o direito constitucional à defesa e ao contraditório é relegado e sufocado com capas e mais capas de revistas que nunca tiveram, nem nunca terão, qualquer apreço pela ética profissional.
De Lula já se disse tudo. Que era comunista, tinha um aparelho de som 3 em 1 em casa, que era um bêbado e analfabeto. O filho do dono de um grande jornal chegou a lhe perguntar como queria ser presidente do Brasil se não sabia falar inglês.
São esses preconceitos e ódios que estão no cerne do ataque ao ex-presidente que agora paga um preço pela ingenuidade política de acreditar ser possível romper abissais fossos estruturais da sociedade brasileira agradando a todos. Mas, até onde se saiba, ingenuidade não é crime algum.
O que a revista Veja não consegue entender é que Lula não é um produto artificial. Foi construído sobre caminhões, comícios improvisados e caravanas pelo sertão do Brasil. Representa o que o brasileiro tem de mais autêntico. A capacidade de improvisar, a sensibilidade de chorar em público e o carisma quase messiânico de quem sabe o que é passar fome. É um ícone para muitas gerações e continuará sendo, independente de suas malfadadas capas.
Com erros e acertos, Lula foi capaz de reduzir a distância entre o brasileiro mais simples e a liturgia do poder, por isso incomoda tanto.
Destruir símbolos e monumentos da história política e cultural de um país tem um preço muito alto que é o de dinamitar referenciais e o próprio sentido de um povo. É como deixar um país sem luz ou norte, ambiente propício para o ressurgimento de fantasmas autoritários adormecidos.
Em 27 de janeiro de 1982, a revista Veja estampava na capa a morte de Elis Regina. Como título, em letras quase do mesmo tamanho da sua própria foto, o seguinte texto “A tragédia da cocaína”. E nada mais.
Vinte anos depois, a mesma revista ilustrava a morte da cantora Cássia Eller.
Da mesma forma com que tratou Elis Regina, a revista disse em letras garrafais “Drogas mais uma vítima – A polícia suspeita que um coquetel de drogas, álcool e remédio matou a cantora que havia dois anos lutava para se livrar da dependência de cocaína”
Era somente isso que a revista tinha a dizer sobre essas duas monumentais artistas? Pior, irresponsavelmente, cravava, sem qualquer amparo fático ou laudo médico, a causa da morte dias após sua ocorrência.
Ainda que fosse a causa, o que depois não se comprovou – Cássia teve um infarto do miocárdio em decorrência de estresse e sobre Elis vale ler o texto de Cynara Menezes, mencionado nas notas – a forma como a revista as tratou revela o tamanho da sua cretinice.
Revela, porém, um pouco mais. Uma tentativa clara da revista em tentar destruir ídolos nacionais, seja por atuar como abutre sobre a tragédia para vender o sórdido, seja por que ideologicamente interessa que o País não tenha ídolos ou que estes sejam aqueles mais adequados ao seu pensamento político.
É o que se passa agora com o ex-presidente Lula. Incontáveis capas da revista pedem sua prisão de forma desvelada. Inclusive se valendo de montagens com roupa de presidiário ou algemas sem o mínimo respeito à ética profissional.
Tentam destruir a imagem de uma referência nacional com ilações, conjecturas e mentiras, assim como açodadamente fizeram com Elis e Cássia.
Aliás, a mesma revista mantém “colunistas” que se esmeram em tentar destruir a obra de Chico Buarque. Há uma evidente negação ou deliberada ação de atingir símbolos da arte e da política que não guardam afinidade com o seu pensamento ideológico.
Uma revista que a única coisa que tem a dizer sobre Elis Regina no dia da sua morte é “drogas mais uma vítima”, tem a deletéria função de espalhar mentiras, viver de boatos e tentar apagar a história que não lhe interessa, como se fosse um integrante do estado islâmico dinamitando monumentos históricos.
Quanto a Lula, por óbvio, deve ter ficado claro os limites da sua política de conciliação de classes e o erro de não ter pautado o debate sobre a regulação da mídia, mas isso é outra questão.
Vivemos sob o império da mentira. Basta, portanto, que ela integre uma delação premiada. Nada é conferido, não há o benefício da dúvida, inexiste apuração jornalística minimamente séria. Basta que alguém mencione algo e isso vai para a capa.
O instituto da delação premiada se tornou para o direito processual penal, na prática, a institucionalização do jornalismo da VEJA nos autos. Esse tipo de jornalismo preguiçoso, maledicente e irresponsável agora rege os atos processuais de juízes celebridades.
E o direito constitucional à defesa e ao contraditório é relegado e sufocado com capas e mais capas de revistas que nunca tiveram, nem nunca terão, qualquer apreço pela ética profissional.
De Lula já se disse tudo. Que era comunista, tinha um aparelho de som 3 em 1 em casa, que era um bêbado e analfabeto. O filho do dono de um grande jornal chegou a lhe perguntar como queria ser presidente do Brasil se não sabia falar inglês.
São esses preconceitos e ódios que estão no cerne do ataque ao ex-presidente que agora paga um preço pela ingenuidade política de acreditar ser possível romper abissais fossos estruturais da sociedade brasileira agradando a todos. Mas, até onde se saiba, ingenuidade não é crime algum.
O que a revista Veja não consegue entender é que Lula não é um produto artificial. Foi construído sobre caminhões, comícios improvisados e caravanas pelo sertão do Brasil. Representa o que o brasileiro tem de mais autêntico. A capacidade de improvisar, a sensibilidade de chorar em público e o carisma quase messiânico de quem sabe o que é passar fome. É um ícone para muitas gerações e continuará sendo, independente de suas malfadadas capas.
Com erros e acertos, Lula foi capaz de reduzir a distância entre o brasileiro mais simples e a liturgia do poder, por isso incomoda tanto.
Destruir símbolos e monumentos da história política e cultural de um país tem um preço muito alto que é o de dinamitar referenciais e o próprio sentido de um povo. É como deixar um país sem luz ou norte, ambiente propício para o ressurgimento de fantasmas autoritários adormecidos.
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