Nas últimas semanas, a mídia só tem tratado dos escândalos de corrupção no governo Dilma – que exigem, acima de tudo, rigorosa apuração e exemplar punição. O bombardeio, além de desgastar a presidenta, serve de alívio para os tucanos, tirando-os do foco. Na sua cobertura seletiva, a mídia tenta ajudar o PSDB a se reerguer. Junto com os demos, que rumam para a extinção e para o inferno, os tucanos voltam a esbravejar, apresentando-se como paladinos da ética.
A vingança será maligna
Mas alguns fatos indicam que a situação segue tensa no ninho tucano, principalmente em São Paulo. Após hegemonizar o estado por quase duas décadas, seus principais líderes não param de se bicar. Até agora eles não engoliram o racha patrocinado no DEM pelo prefeito Gilberto Kassab, cria de José Serra. Já a briga entre o atual e o ex-governador do estado continua sangrenta. Alckmin até fala em apoiar Serra para a prefeitura da capital, mas tudo parece jogo de cena.
Traído na eleição de 2008, quando Serra rifou o partido e apoiou o demo Kassab, Alckmin parece adepto do bordão “a vingança será maligna”. Ele fez de tudo para isolar e até humilhar Serra na disputa pela direção estadual do PSDB e expurgou quase todos os serristas do Palácio dos Bandeirantes. Mas as maldades não param. No último domingo, uma notícia curiosa, que ficou meio escondida, pode sugerir que a guerra se intensifica entre os chefões tucanos.
Propaganda eleitoral gratuita
As jornalistas Catia Seabra e Daniela Lima, da Folha, revelaram que o Metrô paulista estava exibindo para os seus 3,3 milhões de usuários mensagens e imagens do deputado Gabriel Chalita, pré-candidato do PMDB à prefeitura da capital paulista. A “propaganda eleitoral gratuita”, feita quase diariamente, pode ser contabilizada na conta do governo do estado, que controla a estatal. Geraldo Alckmin até disse “desconhecer” o curioso episódio. Será?
Segundo a reportagem, “há cerca de um mês, dez vídeos produzidos com mensagens extraídas de um dos livros do deputado começaram a ser exibidos, de graça, pela TV Minuto, que controla a programação nas três linhas do metrô da capital. Batizado de ‘Gentileza’, com base em livro de auto-ajuda homônimo de Chalita, o programa tem dez esquetes, de 15 segundos cada. Quando exibidas, entram oito vezes por dia na programação”.
“Plano B” do governador
Em tom irônico, o texto informa que “nos vídeos, a imagem de Chalita é associada a civilidade e leveza. Sob fundo amarelo, uma linha azul cruza uma flor, arremessando pétalas ao ar, até formar a letra G, de gentileza - e de Gabriel. Ao lado, surge o rosto de Chalita. Abaixo, seu nome. Depois, são exibidas animações com mensagens como ‘trabalhar é transformar sonhos em realidade’ ou ‘gestos de gentileza, mesmo pequenos, são poderosos’”.
A Folha, o mais serrista dos jornalões, faz questão de realçar que “as inserções começaram a circular no mesmo mês em que a pré-candidatura de Chalita à Prefeitura de São Paulo foi oficializada” e especula sobre um possível Plano B do governador. “Chalita é amigo de Alckmin. O governador alavancou a sua carreira política ao nomeá-lo secretário de Educação na sua gestão anterior”. Ele saiu do PSDB em 2009, mas “ainda mantém influência no tucanato”.
O governador e o “guru do subsolo”
Segundo a matéria, o hoje peemedebista Chalita “foi consultado por Alckmin sobre a nomeação de titulares para as secretarias de Educação, Justiça e Desenvolvimento Social. É considerado por alguns o plano B do governador para a prefeitura, caso a candidatura do PSDB não tenha força contra o candidato do prefeito Gilberto Kassab”. Fernando de Barros e Silva, colunista que reproduz caninamente as opiniões da famiglia Frias, é ainda mais corrosivo nas ironias.
No artigo “O guru do subsolo”, de ontem, ele esculhamba os envolvidos no episódio. Sobre Chalita: “Tipo midiático, que transita entre a religião e a auto-ajuda e age como animador espiritual do eleitorado, o pensador do subsolo está cavando seu espaço – e muito mais adiantado que as obras do metrô”. Sobre o governador: “Estranho é que Chalita faça propaganda gratuita de si mesmo no circuito de TV do metrô, uma empresa estatal atualmente sob os cuidados de Geraldo Alckmin, de quem o deputado-guru é amigo”.
2 comentários:
Chupa essa manga, Folha Serrista! Ah, essas jornalistas que escreveram a matéria reportada no seu blog, Miro, precisam aprender a escrever. Até onde sei, a frase que começa: "há cerca de um mês", deveria ter sido escrita assim: "acerca de...".
Sr. Palacio não sabe tudo: "há cerca de um mês" está certíssimo... Ponto para as jornalistas.
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