quinta-feira, 22 de abril de 2010

Como perder uma eleição ganha

Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, do blog Cidadania.com:

Este texto já foi escrito um bilhão de vezes por mim e por muitos outros, se me permitem o exagero. Trata da forma mais eficiente (sic) para um bom governante, extremamente popular e com seu povo vibrando de satisfação, conseguir perder uma eleição ganha simplesmente não fazendo a menor força para vencer.

Aliás, trata-se de um método de autofagia eleitoral que a ex-prefeita Marta Suplicy usou com enorme “competência” em sua campanha à prefeitura paulistana em 2008, dando minha cidade de presente para o boneco inflável do Serra enchê-la de água com excrementos até a tampa, entre outros danos que vem causando a São Paulo. Aliás, a obra kassabiana é o que tem feito sua popularidade mergulhar em queda livre.

A sorte da direita, porém, é a de que o paulista é o povo mais alienado da América Latina. Viajo por este país e por este continente há 30 anos e não conheço um povo mais inexplicável do que o do Estado e da cidade nos quais eu e minhas quatro ou cinco gerações de ascendentes vivemos. Só um povo assim para não se lembrar que quem lhe deu Kassab foi Serra.

Mas tudo isso seria contornável simplesmente porque São Paulo não é o Brasil e porque, além disso, um terço dessa enorme população tem miolos, de forma que a unidade federativa mais reacionária da América Latina pode conseguir eleger seus prefeitos e governadores reacionários o quanto quiser, mas está provado que não pode impedir o Brasil de ir para lado diametralmente oposto.

Só que, para usar essa brecha para impedir que o país caia de novo nas mãos dos vampiros tucanos e pefelês, seria preciso travar o debate político em todas as frentes, não aceitando que a parte da imprensa aliada do PSDB infrinja a lei eleitoral ao não abrir mão de denunciá-la no amplo espaço que o PT teve e que terá na TV, que é onde acontece a eleição.

No segundo turno de 2008, em vez de Marta Suplicy permitir que sua campanha desandasse para a baixaria ao atacar a vida privada de Kassab da mesma forma suja com que a ex-prefeita sempre foi atacada, ela poderia ter usado o horário eleitoral para pelo menos perder bonito, fazendo uma denúncia que o PT nunca ousou fazer na TV em campanhas eleitorais, de que este, aquele e aquele jornal, tevê, revista, rádio têm lado devido a motivos escusos.

Mas o PT tem medo. A Globo faz uma vinheta para Serra e põe no seu espaço comercial mais caro (o intervalo do Fantástico, no domingo) e fica por isso mesmo. Ou seja: apesar de ter recuado depois que, como relatou o blogueiro Ricardo Noblat, um de seus advogados recebeu um aviso do próximo presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandovsky, a emissora de Serra fez seu trabalhinho sujo.

Dezenas de milhões de Homers Simpsons assistiram, no domingo passado à noite, a uma propaganda de Serra dizendo que o Brasil quer mais em resposta ao seu bordão de que o Brasil pode mais. Está feito, minha gente. Propaganda para um lado só. Foi uma só e foi só o que bastou.

O PT deveria ir à Justiça Eleitoral e pedir espaço no intervalo do Fantástico para pregar que concessões públicas não sejam usadas com fim eleitoral para um só dos candidatos. Deveria explicar que o espectro eletromagnético pertence a todos os brasileiros e não apenas aos eleitores de Serra, mesmo sendo eles os concessionários públicos.

Mas o mundo caiu sobre a cabeça do coordenador da campanha de Dilma na internet, Marcelo Branco, só por ele fazer uma observação no Twitter sobre o partidarismo descarado de uma vinheta televisiva em que até o logo da desculpa para ser feita, o dos 45 anos da Globo, usou fonte praticamente idêntica ao do logo do PSDB, e que aludiu sem parar ao bordão do Serra dizendo que o Brasil quer mais quando o tucano diz que ele pode mais – repetirei isso sem parar, também.

Em seguida, a mídia diz que Branco levou uma carraspana do PT por ter dito o que era preciso, por ter se contraposto a uma propaganda eleitoral absolutamente ilegal em favor de um dos pré-candidatos a presidente. É verdade? Dizem que não, que Branco foi, na verdade, efusivamente cumprimentado pelo PT. Que é mentira essa versão da mídia.

Só que quem cala, consente. Se é mentira que Branco foi advertido pelo PT por criticar a vinheta da Globo, advertência que a nota da coluna Painel da Folha desta quarta-feira diz que o publicitário recebeu, por que o partido não emite uma nota dizendo que o publicitário tem todo seu apoio pela crítica que fez?

Aliás, uma curiosidade: o PT pretendia aceitar aquele absurdo? Se Branco não tivesse chiado, o partido assistiria impassível àquela propaganda explícita de Serra, com logo igual ao do partido dele e dizendo que o Brasil quer mais depois de o pré-candidato do PSDB dizer que o Brasil pode mais? Será possível que os petistas não tiraram uma só lição de 2008?

Daí, alguns aloprados, desesperados pela falta de competência das lideranças petistas, inventam de jogar sujo questionando a sexualidade de uma pessoa ou comprando dossiês tentando vencer eleições perdidas. E quem é que paga o pato? Lula, Dilma, Marta... Ainda que, no caso da última, apesar de ser uma política com P maiúsculo, a ex-prefeita teve culpa no cartório em 2008, sim. Não vou tapar o sol com a peneira.

A militância petista está a um passo da desmobilização. O jornalista Mauro Carrara captou bem a situação em artigo amplamente reproduzido em blogs e sites pela internet e em listas de emails. Ele bem captou que estão transformando Dilma em Marta. É isso o que a direita faz com as mulheres na política, o que explica elas serem só dez por cento da classe política apesar de serem mais da metade da população brasileira.

Dilma tem tudo para ser eleita. O governo Lula é um sucesso. O povo quer sua continuidade. Contudo, começo a achar que o PT me subsidiará novo artigo igual a este que talvez eu tenha que escrever depois da eleição deste ano, um artigo que teria como título a frase “Como perder uma eleição ganha”.

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4 comentários:

Djalma disse...

Prezado Altamiro,

brilhante seu artigo-advertência a um PT apático, subserviente e quase inocente demais (se assim podemos chamar um partido com seu tempo de existência).
Aqui em Limeira uma imprensa arrogante, partidária ao extremo deita e rola em cima do PT e nada.
Temos um radialista que em seu programa tem um prazer enorme (posso dizer quase sexual) de destratar PT, Dilma, Lula (coitado apanha mais que tudo e todo dia, mesmo que não tenha assunto o radialista induz um tema pra espinafrar o coitado e o PT).
E não é que é só estalar os dedos e lá estão sindicalistas membros do PT batendo ponto num programeco ridículo dando mole pro indivíduo.
Realmente face a tudo que vemos atualmente, aonde a mobilização do chamado PIG está tomando tamanho e extrapolando tudo em suas atitudes; a atitude do PT e seus dirigentes é de preocupar.
Ou acham que está tudo ganho e aí venho lembra-los de FHC*Jânio, ou tem um medo, pavor de contrapor ao PIG.

jozahfa disse...

Respeito muito o Eduardo, mas é ele sempre aquele que gosta de patrocinar o drama. Já está dizendo que Dilma vai perder. Não gosto dessa paranóia. Se o povo acreditar no jornal nacional de que vale essa porra de blogosfera?

Cecilia disse...

Acho que você tem bastante razão em avisar e nas análises que você faz. Mas esse clima amargo de "somos incompetentes, só sabemos fracassar" eu não aprovo mesmo. Acho a Dilma boa e bem preparada, menos arrogante e talvez também (até porque não é tão rica) menos submetida aos marqueteiros. Vamos assumir com alegria nossas escolhas que a alegria é uma grande aliada. Boa sorte!
Cecilia.

Unknown disse...

Silêncio estranho

Há meses o contribuinte paulista financia a campanha presidencial de José Serra, em anúncios de caráter falsamente institucional espalhados por todo o país. Os veículos de comunicação divulgam diariamente suas “realizações”, escondendo uma greve que levou milhares de professores às ruas da capital, omitindo a infiltração de policiais à paisana entre os grevistas e o espancamento destes pela PM.
Agora Serra deixa o Rodoanel inacabado, mesmo depois de submeter os trabalhadores a turnos seguidos de trabalho, durante as madrugadas, em ritmo marcial. O motorista encontra uma estrada sem sinalização nem aparelhos de segurança e resgate. Não há sequer policiamento. E ele ainda pagará pedágio pela merreca, na terra das maiores tarifas do país.
Mas, diante de tudo isso, resta uma dúvida incômoda: por que o PT e a campanha de Dilma Rousseff não fazem nada a respeito? Onde estão as representações judiciais e o escândalo indignado que mobilizariam a oposição caso estivesse em situação contrária? Sim, sabemos, que seria quase impossível romper o silêncio da imprensa e a omissão do Judiciário. Mas desde quando os petistas perderam a sanha combativa?
Sei lá. A aceitação passiva de tantos e tamanhos absurdos deixa a impressão de que se trata de um posicionamento consciente. Na melhor das hipóteses, é apenas uma estratégia muito burra.