quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Autorregulamentação, mais do mesmo

Reproduzo artigo do jornalista e escritor Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa:

Na quinta-feira (19/8), a Associação Nacional de Jornais (ANJ) veio à boca do palco para anunciar a criação de um conselho de autorregulamentação como forma de reiterar o compromisso da entidade com a liberdade de expressão e com a responsabilidade editorial. De acordo com a presidente da ANJ, Judith Brito, reeleita no dia 20, a entidade organizará até o final do ano um conselho autônomo, destinado a examinar queixas contra periódicos afiliados e impor eventuais sanções. E nunca escrevi um texto de abertura que demandasse tantas explicações, tanta necessidade de se colocar o assunto às claras como este.

O que passou a serem favas contadas e tratadas como instância deliberativa "mais que oportuna" pela quase totalidade dos grandes blocos empresariais de comunicação no Brasil, os mesmos que dão suporte físico e algum tipo de substância à sua entidade porta-voz, longe de acenar com algo útil, trouxe ao debate, uma vez mais, a desconcertante existência do monopólio da comunicação no Brasil que avança no século 21, sem perceber a força de enxurrada arrancando ideias arcaicas como a que sustentava a indústria da seca, e outras não menos letais que teimavam em rotular brasileiros em duas classes apenas – os do Sul-Sudeste, ricos e opulentos e os do Norte-Nordeste-Centro-Oeste, prisioneiros de crônica falta de meios elementares para sua subsistência física.

No entanto, ficou patente que é muito mais fácil mudar o curso do Rio São Francisco e também muito mais factível o Brasil constatar o mais vigoroso processo de mobilidade social que se tem notícia nos últimos séculos que o país democratizar o acesso aos meios de comunicação e transformar o direito de expressão em conquista não de um punhado empresas de comunicação, mas sim uma conquista de sociedade como um todo.

Três interrogações

Nada soa mais extemporâneo no momento por que passa o país que a criação de um Conselho de Autorregulamentação. Extemporâneo por quê?

Oras, alguém já teve a feliz e oportuna idéia de criar um Conselho de Autorregulamentação para os presidiários do país? Um conselho com força para evitar rebeliões, motins, assegurar a segurança da população carcerária, dos agentes públicos etc?

Alguma entidade de classe das operadoras de telefonia celular já teve a brilhante iniciativa de propor a criação de um Conselho de Autorregulamentação como algo viável para coibir os milhares de abusos cometidos por suas afiliadas, desde aquela comezinha falha de cobrar taxas e impostos do tipo "se colar, colou" até a de não prover com rapidez e eficiência o direito do usuário à sua portabilidade?

Não chama a atenção o fato de que, até o momento, nenhuma entidade representativa dos proprietários de transporte público (ônibus, vans etc.) tenha criado o seu Conselho de Autorregulamentação com a missão de punir os motoristas que mostram descaso com seus usuários, dirigem em alta velocidade, não param nos pontos designados, freiam bruscamente, arrancam antes mesmo de o passageiro estar completamente dentro do veículo?

A presidente Judith Brito promete que será um conselho autônomo, destinado a examinar queixas contra periódicos afiliados e impor eventuais sanções. Autônomo? Como assim? O cordão umbilical do conselho em gestação não derivaria, em absoluto, de sua entidade-mater, a ANJ?

Sei não, depois que o monobloco da comunicação no Brasil decidiu tutelar o conceito de liberdade de expressão parece que tudo é possível. A começar por iniciativa como esta que já nasce fadada ao descrédito: como tratar de julgar com objetividade matéria de natureza eminentemente subjetiva?

É sintomático recolher do editorial da Folha de S.Paulo de segunda-feira (23/8) estas pérolas:

"Setores autoritários do bloco hoje dominante na política brasileira, o de Lula e Dilma, acenam com um controle `social´ sobre a mídia. Mas como formar um conselho representativo? Como evitar que esse conselho seja dominado pela militância em nome da `sociedade´? Como assegurar que suas decisões sejam `certas´?"

E não seriam estas mesmíssimas três interrogações que inviabilizam logo de saída o anunciado Conselho de Autorregulamentação a ser indicado pela ANJ? Como formar um conselho representativo se quem o cria representa tão somente um espectro – majoritário, sem dúvida – das empresas de comunicação do Brasil?

Fim do ano

Apenas a título de exemplo, como imaginar que revistas como CartaCapital e Caros Amigos "se sintam representadas" em tal conselho?

E o jornalismo da internet, uma realidade que assoma os olhos por sua pujança e vigor nos últimos anos, como estariam representadas se não são subsidiários de portais mantidos por empresas como as Organizações Globo, a Editora Abril, os jornais Folha de S.Paulo e Estado de S.Paulo?

E os blogues, por alguns chamados logo de início como "sujos"? Quem representaria os "sujos" no conselho de autorregulamentação? Ou então este seria apenas um conselho dos "cheirosinhos"?

Como evitar que esse conselho proposto pela ANJ seja dominado exatamente por aqueles que mais se dizem porta-vozes da sociedade, muito embora não tenham recebido qualquer procuração da população para tal, seja por meio de eleições livres e universais, seja através de consultas plebiscitárias? A não se encontrar resposta plausível a esta pergunta, penso que a nova instância nada acrescentaria ao status quo de nossas comunicações no Brasil. Ao contrário, visaria tão somente legitimar a prepotência dos que muito podem sobre os que nunca podem, dos que têm direito a falar e a ser ouvidos sobre os que têm, quando muito, apenas o direito de falar, mas nunca o de ser ouvidos.

E, missão impossível mesmo seria a busca de meios que pudessem assegurar que as decisões do novo rebento da ANJ sejam "certas". Sim, porque é de todo impensável, em pleno século 21, acreditar que é justo... decidir em causa própria.

Ora, nem vamos muito longe com o andor porque os santos continuam sendo de barro: não é da praxe jurídica que a isenção por parte de quem julga é essencial para se obter julgamento justo?

E não é por isso que juízes devem se "declarar impedidos" quando têm interesses próprios em julgamento e, se não o fizerem, a parte prejudicada poderá requerer simplesmente a nulidade do mesmo?

Vamos ver se até o dia 31 de dezembro de 2010 seremos brindados com respostas a tais questões. Até lá, esperemos mais, cada vez mais, do mesmo.

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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ministro Padilha no encontro dos blogueiros



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Emir Sader e os desafios dos blogueiros



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O encontro dos blogueiros em vídeo



Vídeo produzido por CarlosCarlos, do blog Bola & Arte

O Globo contra o Ipea: a farsa continua

Reproduzo matéria publicada no sítio Carta Maior:

O jornal O Globo segue em sua campanha contra o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Depois de ver fracassado seu intento de produzir uma matéria contendo ataques falsos à instituição, no último domingo, o jornal, pelas mãos da repórter Regina Alvarez, busca o auxílio de universitários ligados ao PSDB e ao DEM para seguir com suas investidas.

Como se sabe, O Globo, dizendo querer ouvir o “outro lado” na matéria do final de semana, enviou extenso questionário em tom prepotente para a diretoria do órgão. Visando evitar que as respostas fossem manipuladas ou distorcidas, o Ipea resolveu publicar a íntegra de seus argumentos e fatos no site www.ipea.gov.br desde a noite de sexta-feira passada.

No domingo, O Globo produziu uma matéria vazia, mas cheia de afirmações e conclusões sem comprovação. A matéria tinha um ponto positivo: divulgou que o Ipea teria dado respostas ao jornal em seu sitio. O número de visitas à página do Ipea, por sua vez, aumentou exponencialmente.

Volta à carga

Nesta terça, o jornal carioca tenta voltar à carga. Em matéria intitulada “Especialistas criticam interferência no Ipea”, a mesma Regina Alvarez consulta os economistas Regis Bonelli e Paulo Rabello de Castro, ambos militantes da oposição ao governo e ardentes defensores das privatizações dos governos de Fernando Henrique Cardoso.

Logo de cara, a matéria, citando palavras de Bonelli, assegura que “os atuais desvios de finalidade e a interferência política no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) comprometem a imagem da instituição, que se manteve como organismo de Estado em todos os governos”. Mais não diz. O curioso é que nunca o Ipea teve tanta credibilidade não apenas entre os setores empresariais e acadêmicos, mas também – e esta é a novidade – entre setores do movimento sindical e social.

O Globo vai adiante. A jornalista ouviu duas fontes universitárias e também um parlamentar, Valter Feldman, do PSDB-SP. Não deu lugar ao propalado “outro lado” . O Ipea não foi consultado dessa vez.

Segundo o texto, a opinião de Bonelli “reflete a opinião e o sentimento de outros pesquisadores, que preferem se manter no anonimato por temor a represálias”. Assim, em um “furo internacional”, O Globo revela que há “represálias” internas no Ipea. Em qualquer redação do mundo isso seria pauta das mais quentes. Não na reportagem de O Globo, na qual nada de concreto aparece. A matéria revela apenas o empenho da jornalista em defender as idéias daqueles que pagam o seu salário. As mencionadas represálias e perseguições nunca foram comprovadas, apenas existem nos factóides que caracterizam o diário.

Desinformado

O economista Paulo Rabello de Castro, por sua vez, é o típico entrevistado que parece estar totalmente desinformado. Convidado a opinar, ele dispara: “O Ipea precisa retornar às pesquisas de fôlego que deixou de fazer: análises sobre emprego, distribuição de renda, competitividade da economia”. Ainda segundo o universitário, “caberia ao instituto fazer um estudo aprofundado sobre a produtividade de segmento e ações do setor público, assim como uma análise efetiva e aprofundada da conjuntura internacional, que pode surpreender o governo”. E finaliza: “A produção atual é rala e superficial. Raramente alguma coisa impressiona”.

Rabelo de Castro deve ser muito ocupado ou provavelmente está sem acesso à internet. Se antes de responder tivesse se dado ao trabalho de consultar a página do IPEA, veria a profusão de pesquisas justamente sobre os temas que arrola.

Defensores do desmantelamento do Estado e da passagem das funções públicas de seus órgãos para a esfera privada, Bonelli, Rabello de Castro e Feldman se tornaram, da noite para o dia, ardorosos defensores do Estado.

Aparentemente, O Globo e suas fontes não sabem o que fazer com outras pesquisas. Não são as do Ipea, mas as eleitorais, que mostram a previsível derrocada de seu candidato em 3 de outubro. Perderam a linha. A baixaria, provavelmente, só vai aumentar. E outros universitários, conhecidos da grande mídia, serão chamados a ajudar O Globo. A tarefa inglória: o candidato José Serra vai caindo como um balão que apagou.

Tiro na água

Na página do Ipea, vale a pena o leitor conferir a pergunta que O Globo, para apimentar a sua matéria do último domingo, fez sobre a contratação de jatinhos pela instituição. Confiram a pergunta e a resposta.

Fogo amigo ou inimigo?

Um dos universitários consultados na matéria de hoje de O Globo, que atacou a instituição, recentemente foi contratado para produzir estudo que servirá de base para uma das mais importantes publicações que o Ipea lançará em breve.

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Mais fotos do encontro dos blogueiros













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Rovai avalia o encontro dos blogueiros




Reproduzo artigo de Renato Rovai, publicado no sítio da Revista Fórum:

Neste final de semana mais uma página foi virada na história da comunicação no Brasil. O 1° Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas torna-se um marco nesse processo de mudança de patamar na correlação de forças entre a comunicação vertical e a horizontal. Ou seja, entre a velha mídia que trata o seu público enquanto consumidor e receptor. E a nova mídia que se constrói de forma colaborativa e em processo de rede.

Por que ele se torna um marco? Primeiro, porque reuniu um grupo grande e representativo de blogueiros. Participaram do evento 330 pessoas de 19 estados brasileiros. Número que poderia ser ainda maior se as inscrições não fossem encerradas na segunda-feira. Depois, porque os debates realizados nos dois dias foram de alto nível e apontaram para um processo organizativo que busca ampliar a penetração do movimento em todos os estados, como também criar formas de proteção e incentivo à atividade blogueira. Por um lado criando uma rede de advogados que defenda blogueiros em ações judiciais e por outro construindo projetos que possibilitem sustentabilidade aos ativistas.

Além disso, o evento também foi um espaço de troca de experiências, de construção de novas redes e de qualificação coletiva. Os participantes não só trocavam endereços de e-mail, blogues e perfis no tuiter, mas também idéias e experiências em diferentes temas. Como, por exemplo, formas de melhorar a qualidade da ação na internet.

O evento também foi fundamental para que as pessoas se conhecessem. E a grande descoberta coletiva foi a identidade do Cloaca News. Que foi identificado pelo blogueiro e amigo Rodrigo Vianna ainda na festa de abertura de sexta-feira, realizada na subsede da Avenida Paulista do Sindicato dos Bancários de SP. Cloaca acabou sendo eleito por aclamação como o primeiro blogueiro a receber o troféu Barão de Itararé.

Mas outras tantas descobertas aconteceram. Entre elas a de muitos amigos que circulam neste e em outros blogues postando comentários. Isso leva-me a uma observação: blogueiro não é só quem faz os posts, mas também quem os comenta. São os comentaristas que dão vitalidade à blogosfera e que têm sido fundamentais para que muitas vezes uma informação produzida num espaço se espraie.

Talvez se os blogues não tivessem espaço para comentários, o Encontro Nacional dos Blogueiros não tivesse acontecido. Quem coloca um blogue em contato com outro são eles, ou melhor, muitos de vocês.

O 1° Encontro foi um primeiro passo não só no processo de organização dessa nova esfera da comunicação, mas também um momento para que aqueles que estão envolvidos nesse processo pudessem repensar suas ações. Este blogue, por exemplo, passará a interagir mais com seus leitores e comentaristas.

Um abraço especial para todos que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente neste fim de semana.

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Arthur Virgílio vai apanhar do Serra



Arthur Virgílio, líder tucano no Senado, está tremendo nas bases. Na sua primeira peça de campanha na TV, ele mudou o nome - banindo o H -, escondeu a legenda do PSDB, afirmou na maior caradura que é "independente" e, o mais grotesco, não citou sequer uma vez o nome de José Serra. O valentão, que prometeu "dar uma surra" no Lula, pode apanhar nas urnas e do irritadiço presidenciável demotucano.

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Arthur Virgílio leva uma "surra" do Lula



Pesquisas indicam que José Serra pode ficar em terceiro lugar no Amazonas, abaixo de Marina Silva. Para completar o desastre, também afunda a candidatura ao Senado do tucano raivoso Arthur Virgílio. O valentão já está em terceiro lugar, abaixo da candidata comunista Vanessa Grazziotin. Essa "surra" faria um enorme bem à democracia brasileira.

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Getúlio e Lula: o mesmo combate

Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:

Há pouco mais de meio século – em 1954 -, em um dia 24 de agosto, morria Getúlio Vargas, o mais importante personagem da história brasileira no século passado. Ele havia sido antecedido na presidência do país por Washington Luis (como FHC, carioca recrutado pela elite paulista), que se notabilizou pela afirmação de que “A questão social é questão de polícia”, que erigiu como brasão de seu governo, produto da aliança “café com leite”, das elites paulista e mineira (essa que FHC queria reviver).

Getúlio liderou o processo popular mais importante do século passado no Brasil, dando inicio à construção do Estado nacional, rompendo com o Estado das oligarquias regionais primário-exportadoras, e começando a imprimir um caráter popular e nacional ao Estado brasileiro.

Um país que tinha tido escravidão até pouco mais de quatro décadas – o último a terminar com a escravidão nas Américas - , que significava que o trabalho era atividade reservada a “raças inferiores”, passava a ter um presidente que interpelava os brasileiros no seu discurso com “Trabalhadores do Brasil”. Fundou o Ministério do Trabalho, deu inicio à Previdência Social, fazendo com que a questão social passasse de “questão de policiai”, a responsabilidade do Estado.

Começou a aparelhar o Estado para ser instrumento fundamental na indução do crescimento econômico que, junto às políticas de industrialização substitutiva de importações, deu inicio ao mais longo ciclo de expansão da história do Brasil. Promoveu a expansão da classe operária, criou as carreiras públicas no Estado, impulsionou a construção de um projeto nacional, de uma ideologia da soberania nacional, organizou um bloco de forças que levou a cabo o processo de industrialização, de urbanização, de modernização do Brasil.

Getúlio pagou com sua vida a audácia da fundação da Petrobrás, no seu segundo mandato. Foi vítima dos tucanos da época, com o corvo mor Carlos Lacerda como golpista de plantão. Tal como agora, detestavam tudo o que tivesse que ver com o povo, com nação, com Estado. Resistiram à campanha “O petróleo é nosso”, como entreguistas e representantes do império norteamericano aqui. A direita nunca perdoou Getúlio.

Os corvos daquela época – tal como os de hoje – desapareceram na poeira do tempo. Seu continuador, FHC, afirmou que ia “virar a página do getulismo”, porque sabia que o neoliberalismo seria incompatível com o Estado herdado do Getúlio. Fracassou seu governo e o projeto de Estado mínimo dos tucanos.

A figura de Getúlio permanece como referência central do povo brasileiro e se revigora com o governo Lula. Com a consolidação da Petrobrás, com a retomada do papel do Estado indutor do desenvolvimento econômico, da afirmação dos direitos sociais dos trabalhadores e da massa da população.

São Paulo, que promoveu uma tentativa de derrubada do Getúlio em 1932 – movimento caracterizado por Lula como uma tentativa de golpe -, promove Washington Luis e o 9 de Julho (de 1932), com nomes de avenidas, estradas e ruas, mas não tem nenhum espaço público importante com o nome do Getúlio. Não por acaso São Paulo representa hoje o ultimo grande bastião da direita, das forças e do pensamento conservador, no Brasil.

Getúlio foi um divisor de águas na história brasileira, como hoje é Lula. Diga-me o que pensa de Getúlio e de Lula e eu te direi quem você é politicamente. O dia 24 de agosto encontra o Brasil reencontrado com o Estado nacional, democrático e popular, com a soberania na política externa, com o regaste do mundo do trabalho, com mais uma derrota da direita. O fio condutor da história brasileira passa pelos caminhos abertos e trilhados por Getúlio e por Lula.

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A mídia e o "novo analfabetismo"

Reproduzo artigo do professor Venício A. de Lima, publicado no Observatório da Imprensa:

Faz tempo que os estudiosos chamam a atenção para o problema do excesso de informação nas sociedades contemporâneas. Em precioso artigo intitulado "O novo analfabetismo", publicado no Jornal do Brasil, há exatos seis anos, Emir Sader lembrava que:

"Até um certo momento, a capacidade de compreensão do mundo, e de nós dentro do mundo, esbarrava na falta de informações. Mais recentemente, passamos a sofrer o fenômeno oposto: excesso de informações. Nos dois casos, o que sofre é a capacidade de compreensão, de apreensão dos fenômenos que nos rodeiam, que produzem e reproduzem o mundo tal qual é e nós dentro dele... A informação contemporânea, massificada, fragmentada, atenta contra a capacidade de compreensão da realidade como uma totalidade. Os noticiários de televisão enunciam uma enorme quantidade de informação, sem capacitar para sua compreensão, com um ritmo e uma velocidade que impedem sua assimilação e o questionamento do sentido proposto".

Já tive a oportunidade de argumentar neste OI que informação não é conhecimento e que o excesso de informação passou a ser sinônimo de desinformação. Além disso, o principal problema provocado pelo excesso de informação tem sido identificado como a incapacidade do cidadão comum de "compreensão da realidade como uma totalidade".

Há, todavia, outro aspecto pouco lembrado: a informação que está disponível "em excesso" nem sempre é aquela que permite a "compreensão da realidade como uma totalidade". Ou ainda: não é nem mesmo a informação correta sobre fatos e dados de grande interesse público.

Presidente muçulmano em país antimuçulmano?

Parte dos resultados de uma pesquisa nacional realizada nos Estados Unidos pelo conceituado Pew Research Center, agora divulgados, dramatiza essa nova realidade.

O número de americanos que acredita que o seu presidente é muçulmano tem aumentado ano a ano e chegou a 18% da população, em agosto de 2010. Se somados àqueles que declaram "não saber" ou que ele é de "outra religião" que não a sua, 63% dos americanos desconhecem que Barack Obama, na verdade, é cristão.

Quando perguntados como souberam qual a religião de Obama, 60% daqueles que acreditam que ele é muçulmano citam a mídia. Dezesseis por cento mencionam a televisão como sua fonte.

Alguns ainda podem acreditar que não se deva atribuir maior significado aos dados revelados pelo Pew Center. No entanto, bastaria lembrar a crescente onda anti-islâmica que varre os Estados Unidos [por exemplo, "The US blogger on a mission to halt `Islamic takeover´"], ou mencionar a manchete de capa da revista Time desta semana [vol. 176, nº. 9] que pergunta "A América é islamofóbica?" e publica os assustadores resultados de outra pesquisa nacional:

* 25% consideram os muçulmanos americanos não patriotas;

* 28% dos americanos afirmam ser contra um muçulmano integrar a Suprema Corte (nunca houve nenhum); e

* 33% se opõem a um muçulmano concorrendo à presidência.

E o dever de informar?

É imperativo, portanto, perguntar: se o grau de informação (desinformação?) dos americanos em relação à crença religiosa do seu próprio presidente expressa a qualidade da informação sendo oferecida pela grande mídia - sobretudo, a televisão - , estaria ela cumprindo sua missão fundamental na democracia que é informar corretamente ao cidadão?

A lição para nós, brasileiros, é a reiterada necessidade de se estar atento às muitas contradições das posições públicas assumidas pela grande mídia e suas entidades representativas.

A defesa da liberdade de imprensa em nome do direito de informar - que, na verdade, é o corolário do direito básico do cidadão de ser informado - não significa que a informação necessária e correta esteja disponível. Mesmo em sociedades onde, eventualmente, possa existir "excesso de informação".

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O próximo passo da blogosfera

Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:

A Conceição Oliveira, do Maria Frô, definiu bem: os blogueiros mais velhos devem ensinar aos mais novos como fazer política; e os mais novos devem ensinar tecnologia aos mais velhos. Foi a respeito de um momento que considero simbólico no debate final do Encontro Nacional de Blogueiros, quando aqueles que queriam incluir a palavra “mídia colaborativa” na carta foram derrotados pela grande maioria. Perderam duas vezes, por não terem conseguido explicar o que queriam dizer com isso. Talvez não tenham tido tempo de fazê-lo. Vou tentar explicar esse distanciamento entre as gerações, que ficou evidente.

Quando leio os portais da grande mídia e mesmo quando leio a Carta Maior, a Caros Amigos e a CartaCapital na internet (as três com conteúdo editorial excelente), percebo que todos estão ainda na internet do século 20. Na internet 1.0. Na internet verticalizada , em que os editores decidem e os leitores lêem. Sim, há caixas de comentários. E há espaço para os leitores se manifestarem, enviando fotos e informações, em alguns portais. Mas esses espaços ainda refletem, acima de tudo, a transposição da lógica da velha mídia para o espaço virtual. O leitor está ali, mas ainda é tratado como se fosse hierarquicamente inferior aos jornalistas, aos editores e aos especialistas.

Para não cometer uma injustiça, noto o excelente blog do Emir, do professor Emir Sader, que foi ao encontro dos blogueiros; e as mudanças que Celso Marcondes fez, melhorando muito o site da CartaCapital.

Noto, também, que a lógica da velha mídia é reproduzida por muitos blogueiros. Aliás, ela fazia sentido quando a internet começou a se transformar em um espaço para furar o bloqueio dos barões da mídia. Muitos blogueiros se tornaram, eles próprios, micro-barões da mídia, com poder de veto sobre os comentários e a condução da linha editorial do espaço. Fazia sentido, quando não existiam ainda as ferramentas da internet 2.0, da chamada mídia colaborativa ou horizontalizada.

Quais são essas ferramentas? O twitter e o formspring, os microblogs que permitem a você trocar informações com outros internautas; as redes sociais como o facebook e o orkut, em que você se integra a uma comunidade de internautas; e ferramentas como o twitpic, a twitcam e o ustream, que permitem a você enviar e receber imagens de internautas e transmitir vídeo ao vivo enquanto interage com os leitores. Há dezenas de outras, essas são apenas as mais conhecidas.

O que significam essas ferramentas? Basicamente, interação.

Qual a consequência do uso delas por um blogueiro, seja jornalista ou não? Fica implícito que ele desce do pedestal, se iguala aos leitores, passa a ser apenas o coordenador do espaço, que na verdade é tocado pelos interesses dos leitores e comentaristas.

A longo prazo, seria o fim do jornalismo industrial. Seria, não, será. Talvez eu não viva para testemunhar isso, mas o papel tradicional da mídia, assim chamada por pretender fazer a mediação entre os diversos atores sociais, receberá um estaca no coração cravada pela “mídia colaborativa”.

As razões para isso residem no fato de que há uma infinidade de leitores muito mais qualificados do que eu ou qualquer blogueiro para escrever sobre engenharia, medicina e informática. Para fazer humor ou opinar sobre política. Para tratar de questões éticas ou legais. E essas pessoas começam a participar da blogosfera, criando seus próprios espaços ou comentando nos já existentes.

Como demonstrei no Encontro Nacional de Blogueiros, onde apresentei a minha “mala de ferramentas” (câmeras, gravadores, cabos de conexão etc.), quando quero carrego comigo uma emissora de rádio, de TV e um jornal. Quanto Assis Chateaubriand gastou para formar seu império? E o Roberto Marinho? Guardadas as devidas proporções, as novas tecnologias de informação permitem a um blogueiro ter seu mini-império informativo com um investimento total de menos de 5 mil reais.

Qual é a diferença essencial entre ele, blogueiro, e o jornalista que trabalha em uma corporação? A liberdade para falar e escrever o que quiser, desde que se submeta de maneira elegante à chuva de críticas de seus próprios leitores, quando for o caso. Sim, porque os leitores deixam de ser apenas receptores de informação. Eles opinam, criticam, acrescentam e anunciam na caixa de comentários. Funcionam como abelhas em um processo de polinização. Trazem sugestões de textos, insights e informações que muitas vezes se transformam em posts, ou seja, os leitores se tornam co-responsáveis pelo espaço.

É justamente por isso que, como notou o Rodrigo Vianna, do Escrevinhador, talvez o foco do Segundo Encontro Nacional de Blogueiros deva ser na troca de informações entre os blogueiros sobre essas novas tecnologias. Fizemos alguns painéis que tiraram o fôlego do público, tantas eram as novidades sobre as quais falamos.

Já antevejo o passo seguinte: esses blogueiros, futuramente, poderão ser os professores dessas tecnologias em seus bairros, em escolas técnicas ou junto aos movimentos sociais.

Essas tecnologias, obviamente, são politicamente neutras, mas devem ser apropriadas para que um número cada vez maior de brasileiros possa produzir conteúdo informativo e participar direta e ativamente do trabalho de aprofundamento de nossa nascente democracia.

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As mulheres no encontro das blogueiras

Reproduzo matéria publicada no blog "Maria da Penha neles":

Participamos do Primeiro Encontro de Blogueiros Progressistas em São Paulo no último fim de semana.Foi um encontro alegre e descontraído, com a presença de muitas mulheres interessantes, batalhadoras e comprometidas com as lutas sociais.

Foi emocionante ver reunidas tantas mulheres que estão alinhadas com os novos tempos que vivemos e que se posicionam de maneira firme para defender suas ideais e lutas. Não tenho estatísticas mostrando o número de mulheres participantes, mas no "olhometro", arriscaria dizer que empatamos em número de participantes com os homens.

Tivenos a oportunidade de ouvir as experiências exitosas dos blogueiros de grande sucesso, o Paulo Henrique Amorim, o Luis Azenha e o Nassiff, e de blogueiros menos conhecidos mas importantíssimos na luta pela democracia, pela liberdade de expressão e contra o pensamento único da grande mídia.

Destaco o emocionante e corajoso depoimento de Débora da Silva, do blog Mães de Maio, que seguramente encorajou outras mulheres a continuar lutando por seus ideais de justiça social e liberdade de expressão.

Foi gratificante conhecer pessoalmente mulheres maravilhosas como Caia Fitipaldi, que colabora de forma voluntária com muitos blogueiros com suas ótimas traduções da imprensa internacional, a bela Nanda Tardin, que incansavelmente divulga as notícias de "nuestra américa", a simpática e competente twitteira Conceição Oliveira, do blog Maria Fro, e a vibrante Conceição Lemos, do blog do Azenha.

Muitas blogueiras jovens que, como eu e minha companheira de blog Rosangela Basso, ouviram atentamente e aprenderam muito com os mais experientes. O encontro de blogueiros progressistas, encerrado no domingo 22 de agosto, já deixou muita saudade e a vontade de que o próximo se realize logo.

No próximo encontro, já com uma mulher presidente do Brasil, temos que nos organizar e garantir que nossa presença se destaque nas palestras e depoimentos, pois este ainda teve a predominância de homens. Não vai aqui uma crítica aos homens ou aos organizadores do evento, mas um alerta a nós mulheres.

Somos corajosas, somos competentes e temos um Brasil novo para conquistar, mas não conquistaremos nossos espaços por decreto, mas com luta e determinação, mostrando nossa cara e nossa história, como o faz nossa futura presidente do Brasil.

Temos que estar preparadas para nos mobilizarmos e botar nossos blogues na rua, quando nossa futura presidente da República precisar da força das mulheres brasileiras para mostrar ao Brasil que ainda insiste em nos desqualificar, que somos cidadãs plenas de direitos e que lutaremos para ser protagonistas deste novo Brasil

A bola está nas nossas mãos!

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A diversidade no encontro dos blogueiros

Reproduzo matéria publicada no sítio da revista Fórum:

Terminou ontem (22) o I Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, realizado em São Paulo. O evento contou com 330 participantes de 19 estados brasileiros e discutiu diversos temas, desde formas de integrar mais os blogues, aprimorando a diversidade informativa, como questões referentes à defesa da neutralidade na rede e acesso público à banda larga.

Todos os relatórios dos seis grupos de trabalho foram aprovados por unanimidade. Um dos pontos consensuais foi a necessidade de difusão de conhecimentos a respeito das ferramentas utilizadas para blogar e das redes sociais, já que nem todos os blogueiros tem o mesmo nível de conhecimento técnico na área. A ideia é que oficinas sejam realizadas nos estados e uma cartilha sobre software livre será produzida para tornar o conceito mais próximo das pessoas. A lista dos blogues de todos os participantes será publicada na página eletrônica do Centro Barão de Itararé.

Outra das preocupações dos participantes foi pensar em formas de assegurar auxílio jurídico aos blogueiros, por meio da formação de uma rede de operadores do Direito. Isso tendo em vista que já existem notificações e mesmo ações judiciais promovidas por veículos da imprensa comercial feitos com a intenção de cercear a liberdade de expressão de blogueiros que nem sempre têm condições financeiras de arcar com sua defesa.

A questão do financiamento também foi debatida e levantou-se a necessidade de mobilizar parte da sociedade civil progressista para apoiar os blogues, incluindo a conexão com iniciativas relacionadas à economia solidária.

Descentralização

Uma das polêmicas da plenária final foi acerca do adjetivo “progressistas” no título do evento. Mas, em votação, o nome acabou sendo mantido, garantindo um caráter mais aberto em relação à orientação dos blogues que podem participar. A carta aprovada também ratificou o caráter suprapartidário do evento.

A proposta é que o próximo Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas aconteça em um local que não seja São Paulo. Ele deve ocorrer em maio de 2011, mas, antes encontros estaduais devem ser realizados.

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José de Abreu agita os blogueiros



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TVT no encontro dos blogueiros



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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

300 podem virar mil blogueiros

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Foi um encontro vitorioso esse ocorrido no fim-de-semana em São Paulo. Reunimos, em dois dias de intensos debates, mais de 300 blogueiros progressistas de todo o país; havia gente de 19 Estados!

Vitorioso, em primeiro lugar, porque aconteceu. Conseguimos dar o primeiro passo. Conseguimos fazer a reunião, na raça. E saiu tudo direito: alimentação, hospedagem, estrutura para os debates. Em apenas 3 meses, botamos o Encontro de pé, contando “apenas” com a boa vontade geral e com o apoio material de 25 quotistas - em sua maioria, sites e sindicatos ou organizações de trabalhadores.

Esse, aliás, é um aspecto simbólico que pode ter passado quase despercebido durante o fim-de-semana: mostramos a força dessa parceria entre movimentos sociais, sindicatos e blogueiros independentes. Como deixou claro a Debora Silva , do “Movimento Mães de Maio”, logo na mesa de abertura no sábado: a internet tem mais força se estabelecer essa parceria com as ruas, com a turma que se organiza em associações e sindicatos. A força da blogosfera progressista é a força dos movimentos sociais. Uma não existe sem os outros. A internet não substitui o combate nas ruas, na realidade concreta.

O Encontro foi também divertido. E isso é ótimo! É preciso haver algum prazer nessas atividades. Aquelas velhas assembléias da esquerda nos anos 70 e 80, em que todo mundo parecia sempre sofrer e arrastar sua cruz para provar uma militância destemida, não cabem mais no século XXI. Militância pode -e deve - ser feita com leveza e (sempre que possível) com bom-humor.

E essa foi uma reunião também emocionante! Muito legal encontrar as pessoas no auditório, ou nos grupos de debate, olhar pro crachá e dizer: “ah, você é o Roberto”; ah, você é a Marlúcia”; ou ”você é o Miguel do Rosário”. São apenas exemplos. São pessoas que eu leio sempre – como blogueiros ou comentaristas nos blogs (no meu e nos outros)- e que eu só conhecia no mundo virtual. Encontrar esse povo todo pessoalmente foi uma experiência riquíssima.

Aliás, esse pra mim foi um dos pontos fortes do Encontro: aproximar os blogueiros de todo país, para fortalecer essa rede virtual e horizontal que já se criou no Brasil.

Um dos momentos mais engraçados foi ver o editor-em-chefe do Cloaca News, todo tímido, recebendo o merecido reconhecimento dos presentes pela combatividade e criatividade. Ele ganhou o troféu Barão de Itararé – como blogueiro de 2010. Só faltou a gente descobrir agora quem é o Stanley Burburinho! Essa tarefa fica pra 2011.

Outro ponto importante foram os debates de política da Comunicação: a defesa firme do Plano Nacional de Banda Larga, a briga pela “neutralidade” da rede (não aceitar que sites grandes tenham condições técnicas de navegação melhores do que os pequenos) e o apoio à ADIN (Ação Direta de Constitucionalidade) que o professor Fabio Komparato vai mover no STF, exigindo a regulamentação dos artigos da Constituição que falam sobre Comunicação.

Tudo isso, e muito mais, está na Carta Final do Encontro – que sofreu várias emendas e deve ter sua redação divulgada nas próximas horas.

Por último, mas isso talvez seja o mais importante, conversou-se muito sobre as questões técnicas: como fazer um blog de qualidade, como usar vídeo, como aproveitar ferramentas como o twitter. Ficou claro que, nas próximas edições do encontro, a gente deve gastar mais tempo com essas questões práticas, e menos com o debate “político”. Não que a Política seja desimportane (e vocês saõ testemunhas de como eu gasto posts e mais posts falando de Política aqui); mas é que o povo está com sede de aprender, de fazer, de criar!

Acertamos, na Assembléia Final de domingo, que nos meses de março e abril de 2011 vamos priorizar os encontros estaduais (com foco nessas oficinas bem práticas, e também no debate sobre a realidade da comunicação em cada região), preparatórios para o Segundo Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que deve ocorrer em Maio de 2011.

A idéia é fazer a segunda edição numa cidade mais central do país (Brasília? Salvador? Rio?), pra facilitar o deslocamento da turma que vem do Nordeste, da Amazônia e do Centro-Oeste.

A Comissão Organizadora do Primeiro Encontro deve se reunir nas próximas semanas, pra fazer uma grande avaliação, e pra implementar algumas das sugestões que surgiram no debate - entre elas a de criar uma grande lista de blogs (que poderia ficar sob administração do Centro Barão de Itararé – será que é viável?).

Sãs muitas idéias, muita coisa pra fazer! Uma delas, que me parece fundamental, é organizar um Encontro de Blogueiros sul-americanos. Surgiu a proposta de realizá-lo em Foz do Iguaçu, ano que vem, para aproveitar a efervescência política em todo o Continente.

Será que temos perna pra tanta coisa? Acho que sim. Em 3 meses, fizemos o primeiro Encontro – com 300 blogueiros. No segundo, com um pouquinho mais de trabalho, podemos chegar fácil a Mil blogueiros.

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As decisões do encontro dos blogueiros

Reproduzo reportagem de Anselmo Massad e Ricardo Negrão, publicada na Rede Brasil Atual:

Cerca de 300 autores de blogs reunidos na capital paulista neste domingo (22), segundo dia do 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, na capital paulista, aprovaram uma carta de princípios.

O texto defende a liberdade de expressão, especialmente na internet, democratização da comunicação e a universalização da banda larga no Brasil (acesse link para íntegra da Carta dos Blogueiros Progressistas, no quadro abaixo). O documento encerra o 1º Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas.

Os trabalhos foram organizados por Altamiro Borges, do Centro de Estudos Barão de Itararé, e tomaram cerca de duas horas e meia. Propostas elencadas na manhã do domingo por grupos de trabalho foram apresentadas e aprovadas na plenária.

Também foi deliberada a realização de um segundo encontro, em data e local ainda a definir, além de eventos locais e regionais e aprovadas moções de apoio e de solidariedade a jornalistas e comunicadores.

Uma das primeiras polêmicas entre os ativistas esteve relacionada ao próprio nome do evento. Enquanto alguns participantes defendiam outras opções de adjetivos aos blogueiros, ficou definida a manutenção do termo "progressistas".

"O que seremos depende menos do nome e mais de nossa conduta daqui para frente", resumiu Conceição Lemes, do Viomundo. A resolução teve apoio da maioria da plenária.

Preocupações em definir o movimento como suprapartidário e desvinculado de lideranças e correntes políticas específicas, em sublinhar a posição contrária à censura e em garantir o apoio à neutralidade da internet foram incorporadas à redação final.

O texto foi divulgado na tarde deste domingo. Há ainda apoio a regulamentação dos artigos da Constituição Federal que tratam dos meios de comunicação no país e de incentivo a estruturas de financiamento para produtores autônomos.

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Galeria de fotos do encontro dos blogueiros











Fotos de Geórgia Pinheiro, publicadas no blog Conversa Afiada

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Encontro dos blogueiros: missão cumprida

Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no blog Cidadania:

Devo aos leitores um relato muito pessoal e despretencioso sobre o 1º Encontro Nacional dos Blogueiros progressistas. Optei por não tirar fotos para que o relato substitua a imagem e por não especificar os pontos dos quais tratamos porque isso será feito depois de compilado tudo o que foi discutido.

Na sexta-feira, na “Regional” do Sindicato dos Bancários, em uma travessa da avenida Paulista, a quatro quadras de casa, encontrei o local da canja que Luis Nassif e seu grupo musical dariam.

O sobrado azul com um jardim na frente tem um corredor amplo que dá para um salão de cerca de 200 metros quadrados em que foi montado um palco em que Nassif e seu grupo aguardavam, sentados, pelo momento de iniciar o show.

Mal cheguei e já vi amigos da comissão organizadora, leitores e blogueiros que reconhecia aos poucos. Não conseguia dar dois passos sem que me abordassem. Alguns timidamente, outros efusivamente, mas todos com carinho e respeito.

A música de Nassif e seus companheiros era agradável, bem tocada e servia como trilha sonora em um ambiente em que as pessoas estavam alegres, entusiasmadas, cheias de gentileza e sorrisos.

A sensação que tive foi a de estar entre velhos amigos, ainda que muitos dos que ali estavam só conhecesse pela internet. Mas, claro, havia vários companheiros do Movimento dos Sem Mídia e os amigos da comissão organizadora.

O que me encheu de alegria foi o carinho daquelas pessoas. Sério, era carinho. Perguntavam da Victoria, cada um deles. Mulheres e homens de várias partes do país, de várias faixas etárias. Pessoas de diversas classes sociais. Da periferia, dos bairros “nobres”, de cidades de todos os portes.

Que diversidade. Todos juntos como amigos de longa data. Na diferença o cerne da idéia que nos reuniu, de aproximar pessoas diferentes, mas iguais. Idealistas. Pessoas que acreditam que estão fazendo alguma coisa boa e importante pelo país, que apenas estão defendendo o que acham que seja o certo.

Por volta das 23 horas, vários de nós, como bons blogueiros “sujos”, decidimos terminar a noite jantando no lendário restaurante “Sujinho”, que tanto da intelectualidade boêmia paulistana viu passar por ali na segunda metáde do século passado. Lotamos o restaurante. Éramos dezenas.

No sábado, chego ao Sindicato dos Engenheiros em cima da hora de início dos trabalhos – às 9 da manhã. O local está lotado. Mais de 300 pessoas. Em frente ao prédio de cerca de dez andares, várias delas conversavam animadamente. No hall de entrada, garotas trabalhando freneticamente para emitir crachás de identificação após localizarem a inscrição de quem chegava.

Para ir da entrada até o primeiro andar do Sindicato, no auditório de cerca de 300 lugares, demorei, pelo menos, uns vinte minutos. Não conseguia dar dois passos sem ter que parar para conversar e tirar fotos. Mais carinho, mais sorrisos, mais pedidos de informação sobre a Victoria.

Logo se formou a mesa com o Luis Nassif, o Paulo Henrique Amorim, o Leandro Fortes e a ativista Débora Silva, de uma entidade autodenominada “Mães de Maio” que luta por justiça para filhos vitimados por violência policial.

Os palestrantes, jornalistas eminentes, despertaram muita atenção e interesse, tudo regado às tiradas espirituosas de Paulo Henrique, um mestre na arte de seduzir platéias.

Chega a hora do almoço. Caminhamos alguns quarteirões a um restaurante “por quilo” de boa qualidade – com destaque para uma mousse de maracujá que, confesso, tive que repetir algumas vezes.

Um pensamento: fiquei imaginando como a turma do instituto Millenium julgaria brega o nosso almoço “por quilo”, e foi aí que me deu mais fome.

À tarde, novas mesas temáticas de acordo com a programação do evento amplamente anunciada. Participei como moderador de uma mesa que contou com Luiz Carlos Azenha, Conceição Oliveira, Emerson Luis e Guto Carvalho.

Ao fim da tarde, aparece o ator José de Abreu para alegrar o fim do primeiro dia de trabalho com o seu bom humor e a sua simpatia.

No domingo, chego tarde ao Encontro. Perto das 11 horas da manhã. Acontecem diversas oficinas, conforme a programação anunciada. Tentei acompanhar um pouco de cada uma. Mais carinho, mais simpatia, mais gente pedindo notícias de Victoria.

Para encerrar o evento, Altamiro Borges me convoca para leitura do documento final, que redigi e foi difundido em vários blogs, inclusive no site do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé.

O documento foi modificado, recebeu contribuições e supressões. Atingiu consenso depois de quase duas horas de debates e de uma saudável divergência. Ao fim, aplaudimos uns aos outros, abraçamo-nos, despedimo-nos. Alguns, como eu, ainda esticaram até um boteco qualquer para uma rodada de cerveja.

Esta é uma homenagem às pessoas, suas diferenças e a incrível coincidência de ideais que as reuniu. De astros do jornalismo – se é que se pode chamá-los assim – a pessoas simples da periferia de várias partes do país, todos com os mesmos propósitos e se tratando como iguais que são.

Só me resta agradecer a todos os que honraram com as suas presenças àqueles que se reuniram no Sujinho há alguns meses e engendraram aquela festa de três dias da qual tantos pudemos desfrutar.

Concluo com meus cumprimentos a Altamiro Borges, Conceição Lemes, Conceição Oliveira, Diego Casaes, Luis Nassif, Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, Renato Rovai e Rodrigo Vianna. Foi um privilégio ter participado da elaboração e execução desse projeto com pessoas tão especiais.

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