quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Livro denuncia bloqueio midiático a Cuba

Reproduzo entrevista concedida ao jornalista Rogério Lessa, publicada no sítio Monitor Mercantil:

Apoiado em cifras oficiais, o jornalista Mário Augusto Jakobskind afirma que o bloqueio imposto pelos Estados Unidos por meio século ao regime socialista cubano já causou prejuízo superior a US$ 82 bilhões à população do país:

"É muito dinheiro para uma ilha pobre, com poucos recursos naturais. Cuba não é o paraíso, nem o inferno que certos setores tentam passar. Mas, certamente, sem o bloqueio o país poderia estar em situação bem melhor, o que permitiria uma análise mais realista do regime", pondera Jakobskind, que lançou no Brasil seu livro "Cuba, apesar do bloqueio, 50 anos de revolução" (Booklink).

Indignado com o bloqueio midiático que também cerca a ilha do Caribe, o jornalista já fizera uma edição do livro na passagem dos 25 anos da revolução, com prefácio de Henfil e pósfácio de João Saldanha. Jakobskind decidiu atualizar a publicação neste momento em que aumenta a pressão por mudanças e muitos apostam no fim do regime.

O que o levou a escrever, há 25 anos, a primeira edição de Cuba, apesar do bloqueio, e atualizar o livro agora?

É um livro-reportagem. A idéia de escrevê-lo - e atualizá-lo um quarto de século depois - deve-se, sobretudo, à tentativa de analisar o cerco midiático que Cuba sofre desde o início de sua revolução, antes mesmo da declaração em que o país optou pelo socialismo.

Acompanhando os noticiários diários dos principais jornais do eixo Rio/São Paulo, Cuba só aparece como uma ditadura, como se o povo não tivesse o direito de escolher os seus dirigentes. Alguns veículos de imprensa chegam a se referir a Cuba como o país da "ditadura dos Castros", em referência a Fidel e Raul. Em termos jornalísticos, há quase um total desconhecimento sobre o que acontece por lá, para não falar em preconceito e o noticiário de um modo geral basear-se em fontes que não têm interesse em mostrar os fatos como realmente são.

Com o fim da URSS, muitos pensaram que o regime cubano ia desmoronar. Agora a aposta é a mesma. Não fosse o bloqueio, o país estaria em dificuldades?

Dados oficiais indicam que 50 anos de bloqueio, que foi aumentado gradativamente, resultaram em perdas de US$ 82 bilhões. É muito dinheiro para uma ilha pobre, com poucos recursos naturais, praticamente apenas níquel.

Esse bloqueio atinge as raias do absurdo. Certa vez um menino cubano ganhou um concurso mundial de pinturas de uma multinacional fabricante de máquinas fotográficas e os EUA pressionaram até evitar a entrega de um prêmio, uma máquina fotográfica digital. Esse é um exemplo grotesco, mas o bloqueio se estende a remédios fabricados por empresas norte-americanas. Barak Obama tentou flexibilizar, mas a colônia cubana em Miami tem grande poder de pressão.

Há censura à Internet em Cuba?

Não há censura, mas uma questão técnica. Hoje o bloqueio impede que Cuba tenha acesso à fibra ótica, o que precarizou muito a Internet, cujo acesso se dá por telefone. É muito demorado. Agora, a partir deste ano, a Venezuela dará grande impulso para romper o bloqueio, inclusive via satélite.

Cuba está inserida no contexto latino-americano e mundial. É a mesma cultura que a brasileira. É muito difícil apartar o povo desse contexto cultural. O morador de ilha tem uma cultura diferente. Absorvem muito o que vem de fora. Sonham também. Alguns acham que vão encontrar o paraíso em outros países. Mas têm saúde e educação. Se querem mais é algo natural do ser humano.

Fidel recentemente escreveu contra a tortura, mas parte da mídia passa a imagem que passa de que boa parte da população vive sob tortura.

Qualquer jornalista que chega a Cuba tem de se credenciar. A partir daí é livre para falar com qualquer um. Há um cerco midiático, além do econômico e financeiro. Tudo o que acontece é interpretado de maneira a queimar a imagem do país e seus dirigentes. Volta e meia as televisões se referem à "ditadura dos irmãos Castro", como se não houvesse uma legislação chancelando os dirigentes. Depois de Raul, não será outro irmão de Fidel que assumirá o poder.

Alguns cubanos reclamam por não terem acesso a locais turísticos. A opção pelo turismo foi uma necessidade imposta pelo bloqueio? As mudanças em curso também poderão criar outra anomalia, com cubanos desempregados?

Dependerá da forma como essas mudanças serão conduzidas. Muitas coisas já deveriam ter sido feitas. Quem determina que no socialismo o pequeno comércio precisa ser do Estado?

Em 1989, antes do período especial, quem fosse para o interior, muitas vezes não tinha como comprar uma garrafa de água. Isso acontecia por causa da burocracia. Agora várias profissões foram regulamentadas. Por que uma barbearia tem de ficar na mão do Estado? Quando Cuba criou seu próprio modelo, acertou. Quando seguiu a URSS errou. Che Guevara frisava que o país tinha de cuidar da própria industrialização, para não ficar dependente dos russos.

Outra característica do modelo cubano é a liberdade religiosa, com Estado laico. É uma vantagem?

Sim. A única restrição é às Testemunhas de Jeová, pela proibição de transfusão de sangue. Mas encontrei gente do candomblé que é integrante do Partido Comunista. Não pode é existir uma teocracia, como no Irã ou em Israel. São coisas que a mídia não discute.

As últimas entrevistas de Fidel Castro o surpreenderam?

Fidel, no fundo, é um grande jornalista, de grande lucidez. Em 2001 houve um encontro de jornalistas latino-americanos dos mais variados setores e opiniões. As intervenções dele eram no momento exato, sem forçar a barra, e muito pertinentes.

Antes do assalto ao Quartel de Moncada, ele era advogado e também escrevia em jornais. Portanto, tem feito reflexões. O leitor concorda ou não. Uma das últimas preocupações de Fidel é com uma possível guerra nuclear. É um assunto polêmico. A possibilidade é muito remota, mas existe.

A partir do ataque a um barco sul-coreano, no qual morreram 46 pessoas, ele identificou o dedo da CIA e chamou a atenção também para o conflito entre as Coréias, pouco alardeado, mas que levou o Japão a recuar da decisão de abrir mão da "proteção" da base norte-americana...

O problema da mídia é muito sério. Onde estão as entidades que defendem a liberdade de expressão diante da perseguição ao Wikileaks? Imagine se um governo que não compactuasse com os EUA tomasse essa iniciativa? Coisas assim mostram como a mídia de mercado atua como aparelho ideológico. E aqui no Brasil isto está cada vez mais visível e concreto. E Cuba sofre esse mesmo bloqueio midiático, que influi no juízo de valor. O país não é um paraíso nem o inferno.

No final de 2010, foi anunciado que cerca de 500 mil cubanos deixarão de ser trabalhadores do Estado. Será o fim do pleno emprego?

Deixarão de ser trabalhadores do Estado mas terão emprego garantido. Já existia isso em alguns setores, como nos Paladares (pequenos restaurantes, inspirados na personagem de uma novela brasileira).

O fato de algumas pessoas de esquerda acharem que haverá desemprego está ligado à leitura mecânica do marxismo, que os leva, no fundo, a deixarem de ser marxistas.

Garcia Linera, vice-presidente da Bolívia, lembra que os mecanicistas interpretem os fatos a partir de seus dogmas. Há até partidos que se dizem de esquerda que entendem que Cuba é uma ditadura capitalista. Cada um tem o direito de interpretar da forma que quiser, mas estão utilizando mal o marxismo.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Centrais prometem “acampar em Brasília”

Reproduzo artigo de Luana Bonone, publicado no sítio Vermelho:

As cores da democracia assumiram tonalidade de pressão social nesta terça-feira (18). As seis centrais sindicais realizaram um ato unificado em frente ao prédio da Justiça Federal em São Paulo. A diversidade de cores de camisas e bandeiras apenas reforçava a unidade das três reivindicações: salário mínimo de R$ 580; aumento real de salário para os aposentados e correção da tabela do Imposto de Renda.

Não foi por acaso que o ato de hoje foi realizado em frente à Justiça Federal. Na terça-feira passada (11), o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, havia dito que "se o governo não começar a negociar até segunda-feira, na terça-feira vamos entrar na Justiça com milhares de ações". Após a mobilização que reuniu cerca de mil pessoas, os presidentes das centrais protocolaram uma ação pela correção de 6,47% na tabela do Imposto de Renda (IR) que, defasada desde 1995, vem causando graves prejuízos financeiros aos trabalhadores.

O representante da União Geral dos Trabalhadores (UGT) no ato, Candidé Pegado, explica que “salário não é renda... renda têm os empresários. Salário é para garantir alimentação, habitação e transporte para o trabalhador”.

As centrais pautam também a garantia de aumento real das aposentadorias. A bandeira é que o reajuste seja 80% do reajuste do salário mínimo. Quanto a este, as centrais não arredam o pé: tem que ser R$ 580. “Se não mudar o valor do salário mínimo, a partir de fevereiro nós vamos acampar em Brasília”, convoca o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes.

Reunião com Dilma

Para pressionar pelas pautas, as centrais reivindicam uma reunião com a presidente da República: “quem ajudou a eleger, ajuda a mobilizar para garantir os direitos dos trabalhadores” , lembra Wagner, que em seguida chama os percussionistas presentes à passeata a “esquentar os tamborins”, afinal, esta é apenas a primeira passeata do ano.

A Força Sindical também reclamou da dificuldade das centrais em conseguir uma conversa com o novo governo. “Se a presidente Dilma ficar ouvindo seus burocratas, terá muito trabalho com os trabalhadores”, alertou Paulinho, reafirmando que as centrais não aceitarão o reajuste de 6,45% para os aposentados nem a Medida Provisória que apresenta um salário mínimo de R$ 545, o que seria apenas a reposição da inflação, segundo o sindicalista.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, lembrou que “os únicos que estão saindo prejudicados com a crise são os trabalhadores”. O cutista argumenta que os empresários foram beneficiados com políticas de crédito e que a resposta que deve ser dada aos trabalhadores é a valorização do salário mínimo, com garantia de aumento real.

Quem concorda com esta linha de defesa é o Luiz Gonçalves, presidente estadual da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST): “cansamos de enfiar dinheiro nos cofres públicos para salvar a imprensa e os banqueiros”, bradou o líder da Nova Central.

Artur Henrique apresentou, ainda, o salário mínimo como o “principal instrumento” que o governo Dilma deve utilizar no combate à miséria.

Unidade dos trabalhadores

O consenso do êxito que a unidade das centrais representa foi sintetizado pelo presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Antônio Neto: “essa unidade fez o salário mínimo ter 54% de aumento real, venceu o atraso nas últimas eleições, e vai fazer o Brasil crescer, se desenvolver com salário digno para todos os brasileiros”. Neto ressaltou ainda, que a decisão da presidente Dilma não é econômica, mas política.

Wagner Gomes, que integrou a comissão que entrou no prédio da Justiça Federal para protocolar a ação judicial movida pelas centrais pela correção da tabela do Imposto de Renda, disse que se a presidente Dilma não receber as centrais até o dia 1º de fevereiro, para retomar a negociação sobre o valor do salário mínimo com as centrais sindicais, os trabalhadores recepcionarão a abertura do Congresso Nacional com uma grande mobilização e pretendem ficar acampados em Brasília até que as negociações obtenham êxito.

Este foi apenas o primeiro ato unificado das centrais em 2011. No fim-de-semana, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) aprovou a bandeira de 10% do PIB para a Educação. Na segunda-feira (17), o presidente da UNE disse que os estudantes farão pressão pelas suas bandeiras, com mobilizações já marcadas para março. E o MST já iniciou ocupações de terras em São Paulo. O mês de janeiro tem sido agitado. E, pelo visto, 2011 promete.

Tucson: o que a mídia tem a ver com isso?

Reproduzo artigo do professor Venício A. de Lima, publicado no Observatório da Imprensa:

Já foram muitas as análises e os comentários publicados neste Observatório e em outros veículos sobre os eventos ocorridos em Tucson, Arizona, no sábado, dia 8 de janeiro.

Apesar do enorme desastre da região serrana do Rio de Janeiro – que nos afeta a todos, muito mais de perto – é imperativo que se faça pelo menos um registro em relação aos trágicos eventos nos Estados Unidos por envolverem diretamente o objeto principal de nossa observação semanal: a mídia.

Intolerância em nome da democracia

Em recente balanço que fiz sobre as políticas públicas de comunicações ao longo dos oito anos de governo Lula (ver, neste OI, "O balanço dos governos Lula") mencionei o que acredito tenha sido uma das características do período, isto é, o recrudescimento da posição radical dos grupos privados de mídia em relação a qualquer proposta de regulação das comunicações, oriunda ou não do governo.

Como exemplos citei a partidarização da grande mídia e as inacreditáveis reações provocadas pela aprovação do Projeto de Indicação nº 72.10, pela unanimidade da Assembléia Legislativa do Ceará (depois vetado pelo governador Cid Gomes). Em Brasília, o advogado e editor do suplemento "Direito & Justiça" do Correio Braziliense, referindo-se às propostas aprovadas pela 1ª Conferência Nacional de Comunicação, escreveu que "Goebbels, encarregado por Hitler da difusão da propaganda nazista e de eliminar adversários do regime, não teria feito melhor".

Terminava, então, o referido balanço afirmando que "considerando a radicalização e a intolerância que têm marcado a relação entre os principais atores do campo nos últimos anos, o futuro próximo certamente reserva imensos desafios para a democratização das comunicações no Brasil".

Quão distante de nós ainda está o tipo de intolerância radical que se transforma em violência criminosa e que já se tornou uma triste rotina nos Estados Unidos?

Intolerância radical na mídia americana

Em novembro de 2010, em comentário que não constava do texto escrito preparado para a audiência pública da qual participava, o senador Jay Rockefeller (democrata da Virgínia do Oeste), presidente da Comissão de Comércio, manifestou sua irritação contra a radicalização política na mídia dos EUA. Referindo-se diretamente aos principais executivos das redes de TV a cabo, disse ele:

"Tem um pequeno ‘bug’ dentro de mim que quer a FCC [Federal Communications Commission] dizendo à FOX e à MSNBC: ‘Fora. Desligue. Chega. Adeus’. Isso faria um enorme favor ao discurso político; à nossa habilidade de fazer nosso trabalho aqui no Congresso; e ao povo americano, para que todos fossem capazes de conversar uns com os outros e ter alguma fé em seu governo e, mais importante, em seu futuro"

No texto escrito ele também afirmou:

"Quando se trata de produzir conteúdo, nossa máquina de entretenimento está, muito frequentemente, numa corrida para baixo. Ainda pior, nossos noticiários se entregaram totalmente às forças do entretenimento. Ao invés do fiscal que exerce um controle sobre os excessos do governo e dos negócios, temos o latido interminável de um ciclo noticioso de 24 horas [the endless barking of a 24-hour news cycle]. Nós temos um jornalismo que está sempre ávido pelo próximo rumor, mas insuficientemente interessado pelos fatos que podem nutrir nossa democracia. Como cidadãos, estamos pagando o preço" (ver aqui nota do New York Times sobre o assunto).

A polêmica posição do senador Rockefeller foi, por óbvio, bombardeada pela grande mídia nos EUA como uma ameaça à liberdade de imprensa. Sua lembrança, no entanto, serve para mostrar como não escapava a empresários/políticos como ele o papel de instigadora da intolerância que a mídia americana vem desempenhando no país, sobretudo após a eleição e posse de Barack Obama.

Que se saiba, as declarações de Jay Rockefeller não mereceram maiores comentários na grande mídia brasileira. O fato é apenas mais um a confirmar as imensas dificuldades que a mídia tem de lidar criticamente com o papel que ela própria joga na construção democrática, para além da retórica da defesa da liberdade de expressão associada a seus interesses comerciais.

Por outro lado, não é fácil para um jornalista setorial, imerso no cumprimento de uma pauta e no atendimento ao "enquadramento" esperado por seu editor/patrão, avaliar qual a "representação" da sociedade está ajudando a construir cotidianamente.

Some-se a tudo isso a preocupante característica da internet que parece facilitar a radicalização de opiniões. Perry Hewitt, da Universidade de Harvard, afirmou recentemente:

"A internet pode ser uma força positiva para criar laços sociais, mas negativa no que diz respeito à violação das liberdades civis e no aumento da polarização de opiniões" [ver aqui].

EUA vs. Brasil

Não temos entre nós o que tem sido chamado de "cultura do ódio" e, menos ainda, a tradição de acesso e uso indiscriminado de armas de fogo que existe nos EUA.

Apesar disso, não deixa de ser assustador que nossa oposição política e eleitoral, não só já se utilize de técnicas e estratégias importadas dos radicais de direita americanos (ver "Guerra suja na campanha eleitoral"), como sua retórica discursiva muitas vezes resvale para a irresponsabilidade de acusações e comparações históricas infundadas e descabidas.

Estaria sendo construído aqui um rastro de intolerância política radical que, de certa forma, tem se manifestado nos embates sobre a regulação da mídia?

Oxalá minha análise esteja equivocada.

Mídia descobre a ditadura da Tunísia

Reproduzo artigo de Igor Fuser, publicado no jornal Brasil de Fato:

Quando eu ingressei como redator na editoria de assuntos internacionais da Folha de S.Paulo, um colega veterano me ensinou como se fazia para definir quais, entre as centenas de notícias que recebíamos diariamente, seriam merecedoras de destaque no jornal do dia seguinte. "É só olhar os telegramas das agências e ver o que elas acham mais importante", sentenciou.

Pragmático, ele adotava esse método como um meio seguro de evitar que o noticiário da Folha destoasse dos jornais concorrentes, os quais, por sua vez, se comportavam do mesmo modo. Na realidade, portanto, quem pautava a cobertura internacional da imprensa brasileira era um restrito grupo de três agência noticiosas - Reuters, Associated Press e United Press International, todas afinadíssimas com as prioridades geopolíticas dos Estados Unidos.

Passadas mais de duas décadas, a cobertura internacional da mídia brasileira ainda se orienta por diretrizes estrangeiras. A única diferença é que agora as agências enfrentam a competição de outros fornecedores de informação, como a CNN e os serviços de empresas como a BBC e o New York Times, oferecidos pela internet. Mas o conteúdo é o mesmo. O resultado é que as informações internacionais que circulam pelo planeta, reproduzidas com mínimas variações em todos os continentes, são quase sempre aquelas que correspondem aos interesses de Washingon.

Quem confia nessa agenda está condenado uma visão parcial e distorcida, uma ignorância que só se revela quando ocorrem "surpresas" como a rebelião popular que derrubou o governo da Tunísia. De repente, o mundo tomou conhecimento de que a Tunísia - um país totalmente integrado à ordem neoliberal e um dos destinos favoritos dos turistas europeus - era governada há 23 anos por um ditador corrupto, odiado pelo seu povo. Como é que ninguém sabia disso?

A mídia silenciou sobre o despotismo na Tunísia porque se tratava de um regime servil aos interesses políticos e econômicos dos EUA. O ditador Ben Ali nunca foi repreendido por violações aos direitos humanos e, mesmo quando ordenou que suas forças repressivas abrissem fogo contra manifestantes desarmados, matando dezenas de jovens, o presidente estadunidense Barack Obama e sua secretária de Estado, Hillary Clinton, permaneceram em silêncio. Não abriram a boca nem mesmo para tentar conter o massacre. Só se manifestaram depois que Ben Ali fugiu do país, como um rato, carregando na bagagem mais de uma tonelada de ouro.

O caso da Tunísia não é o único na região. No vizinho Egito, outro regime vassalo dos EUA, Hosni Mubarak governa ditatorialmente desde 1981. Suas prisões estão lotadas de opositores políticos e as eleições ocorrem em meio à fraude e à violência, o que garante ao governo quase todas as cadeiras parlamentares. Mas o que importa, para o "Ocidente", é o apoio da ditadura egípcia às posições estadunidenses no Oriente Médio, em especial sua conivência com o expansionismo israelense.

Por isso, a ausência de democracia em países como a Tunísia e o Egito nunca recebe a atenção da mídia convencional, ao contrário da condenação sistemática de regimes autoritários não-alinhados com os EUA, como o Irã e o Zimbábue. É sempre assim: dois pesos, duas medidas.

Ministério Público de olho no BBB-11

Reproduzo matéria de Juliana Sada, publicada no blog Escrevinhador:

No dia 20 de dezembro, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (PFDC/MPF) enviou um documento à Rede Globo pedindo atenção aos direitos constitucionais e da pessoa humana na 11ª edição do reality show “Big Brother Brasil” – BBB11.

A ação foi motivada pelo alto número de denúncias que a última edição do programa recebeu. De acordo com a campanha “Ética na TV – Quem financia a Baixaria é Contra a Cidadania”, o BBB10 foi o campeão de reclamações no período entre agosto de 2009 e abril de 2010. Foram 227 denúncias que relatavam desrespeito à dignidade humana, nudez, exposição de pessoas ao ridículo e apelo sexual. De acordo com a PFDC ainda há problemas de homofobia, incitação à violência e inadequação no horário de exibição.

A Recomendação enviada à Rede Globo também adverte à emissora que observe a sua própria autorregulamentação, na qual o grupo assumiu “a missão de exibir conteúdos de qualidade que atendam às finalidades artística, cultural, informativa, educativa e que contribuam para o desenvolvimento da sociedade”. A emissora deve também tomar as medidas necessárias para evitar as violações de direitos humanos, além de veicular o programa no horário adequado, atentando para as diferenças de fusos horários e também para o horário de verão.

Violência liberada

Apesar da Recomendação enviada pelo Ministério Público, a Rede Globo não deu indícios de mudança no comportamento. Aliás, fez o contrário. Recentemente, o diretor do programa, José Bonifácio de Oliveira, conhecido como Boninho, declarou que decidiu “liberar a porrada” nesta edição de “Big Brother”.

A decisão do diretor causou protestos por parte de diversos grupos feministas que se preocupam com a banalização da violência, como foi relatado aqui.

Prazo e sanções

A Procuradoria deu à Rede Globo o prazo de 30 dias para se manifestar quanto à adoção das recomendações feitas no documento. Até o momento a emissora não se manifestou quanto à Recomendação, e o prazo expira nesta semana. O documento em si não gera nenhum tipo de sanção à Rede Globo, cumprindo a função de uma advertência. A penalização ocorrerá se algum direito ou lei for desrespeitada pelo BBB11.

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A maldição dos juros atormenta Dilma

Por Altamiro Borges

Começa hoje, dia 18, a primeira reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) do governo de Dilma Rousseff. Os chamados “agentes do mercado”, nome fantasia que a mídia dá aos agiotas financeiros, já dão como certo um novo aumento da taxa básica de juros. A aposta dos especuladores é de que a Selic subirá 0,5% - elevando a taxa dos atuais 10,75% para 11,25%, uma das mais altas do planeta. A presidenta, que prometeu lutar pela redução dos juros, talvez sofra a sua primeira derrota já nesta semana.