domingo, 14 de maio de 2017

Venda no varejo afunda, ‘mas vai melhorar!’

Por Altamiro Borges

Durante o governo de Dilma Rousseff, qualquer notícia positiva na economia sempre era seguida de um alerta terrorista: “mas vai piorar!”. Agora, no covil golpista de Michel Temer, é bem o inverso. A manipulação chega a ser cômica – se não fosse patética e ridícula. Vários indicadores apontam para a rápida degradação da economia. Mas os antigos urubólogos da mídia, agora convertidos em otimistas infantis – talvez para justificar as polpudas verbas de publicidade – garantem: “Mas vai melhorar”. Nesta semana, por exemplo, houve a confirmação de que as vendas no varejo despencaram e tiveram o pior resultado dos últimos 14 anos. A preocupante notícia não foi manchete nos jornalões e nem virou motivo de comentários histéricos e apocalípticos nas emissoras de televisão e rádio.

Segundo a entidade patronal do setor, as vendas no varejo em março recuaram 1,9% na comparação com fevereiro. A perda em relação ao mesmo mês do ano passado foi de 4%, chegando à 24ª taxa negativa consecutiva nessa base de comparação. A notícia desapontou até os que torcem pelo êxito da corja golpista. Segundo uma nota da Folha, “a avaliação dos economistas é que, com o desemprego em alta e o mercado de crédito ainda na lona, o varejo deve seguir sem reação expressiva”. Para Luís Afonso Lima, economista da Mapfre Investimentos, “a tendência para o varejo permanece negativa, principalmente em razão do mercado de trabalho, com mais de 14 milhões de desempregados e do que chama de ‘empregado com cabeça de desempregado’ – o indivíduo que não compra nada porque vê muita gente ao seu redor sem emprego”.

Outros dois dados divulgados na semana passada confirmam a gravidade da crise econômica – que só se aprofundou com a concretização do “golpe dos corruptos” que depôs Dilma Rousseff e com a chegada ao poder da quadrilha de Michel Temer. O setor de serviços registrou queda de 2,3% em março, o pior resultado da série iniciada em 2012. Já um levantamento do SPC Brasil confirmou que o pessimismo toma conta dos consumidores brasileiros. A Época postou uma notinha sobre este cenário – se fosse no governo anterior, o notícia seria destaque na revista, jornal e emissoras de tevê e rádio da famiglia Marinho. Mas agora “não vem ao caso”, já que a situação “vai melhorar” – juram os ex-urubólogos. Vale conferir a minúscula matéria:

“Um levantamento do SPC Brasil mostra bem o impacto da crise na vida dos brasileiros. Seis em cada dez (62%) consumidores manifestaram a intenção de reduzir gastos em maio, 32% planejam mantê-los como estão e apenas 3% pretendem aumentar as despesas. Entre aqueles que vão comprar menos, 24% querem apenas economizar, 20% vão economizar porque sentem que os produtos estão mais caros e 15% por estarem endividados. Ainda de acordo com o levantamento, apenas 15% dos consumidores brasileiros estão com as contas no azul. Ou seja, a renda é maior que as despesas. Ainda segundo a pesquisa, realizada em abril, 43% dos entrevistados admitem ficar no zero a zero e 34% encontram-se no vermelho e não conseguem pagar todas as contas no fim do mês. Foram ouvidas 800 pessoas em 12 capitais das cinco regiões brasileiras”.

A única notícia boa que a mídia chapa-branca não se cansa de repetir é que a inflação está em baixa. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) baixou para 0,14% em abril, “a menor taxa para o mês desde 1994” – enfatizam risonhos os mercenários da imprensa. Eles só não explicam para os incautos leitores e telespectadores que a queda na inflação é uma tendência natural quando a economia está afundando. Com o desemprego em alta, batendo recordes, e os salários em baixa, o consumo das famílias diminuem e os preços caem. É a famosa lei da oferta e da procura do capitalismo, que os “analistas” da mídia parecem já ter esquecido. Afinal, a única coisa que não caiu foi a verba da publicidade do covil golpista, que garante os gordos salários dos próprios ex-urubólogos.

Em tempo: Na semana passada, a Ricardo Eletro, a terceira maior varejista de eletroeletrônicos e móveis do Brasil, anunciou que o seu faturamento está despencando. Em 2014, ele foi de R$ 9 bilhões. Em 2016, caiu para R$ 6,3 bilhões. A empresa já acumula dívidas por volta de R$ 3 bilhões e corre sério risco de falência. Esta notícia deve ter entristecido os mercenários da mídia. Afinal, a Ricardo Eletro é uma das seis empresas que patrocinam o futebol na Globo. Cada cota de patrocínio sai por algo em torno de R$ 240 milhões. Caso a empresa afunde de vez, talvez até algum ex-urubólogo global mude de humores.

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