quarta-feira, 22 de julho de 2009

Ministro-racista de Israel está no Brasil

Sem alardes ou críticas da mídia, já se encontra em visita oficial ao Brasil o ministro de Relações Exteriores de Israel, o racista assumido Avigdor Liberman. Segundo a nota da embaixada do país em Brasília, o objetivo da viagem de dez dias à América Latina, que também inclui a Argentina, Peru e Colômbia, “é desenvolver contato em novas direções, além das relações especiais com os Estados Unidos e os laços estreitos com a Europa”. Na prática, Israel procura sair do isolamento, decorrente da sua política agressiva, e evitar a crescente influência do Irã no continente.

Liberman já teve um encontro “cordial” com o governador José Serra, um almoço com a elite da Fiesp e participará de audiência com o presidente Lula. Temendo protestos públicos, foi montado enorme aparato de segurança para proteger o ministro-racista. Sua comitiva circulou pela capital paulista puxada por oito batedores da PM, além de dois veículos blindados. Contrariando a praxe diplomática, o carro que transportou Liberman foi dirigido por um membro da Shabak, a agência de “inteligência” de Israel. A Polícia Federal forneceu 15 agentes armados à comitiva, contra uma média de três para autoridades estrangeiras do mesmo nível.

Mídia blinda o terrorista

Como era de se esperar, a mídia hegemônica tem evitado críticas ao chanceler-racista. Inclusive, ela tentou desqualificar as corajosas declarações do secretário de relações internacionais do PT, Valter Pomar, que acusou Liberman de ser “fascista e racista”. O oligárquico Estadão, que nunca escondeu as suas simpatias pelo sionismo, estampou o título maldoso “Funcionário do PT chama chanceler de Israel de fascista”, negando sua condição de dirigente petista. Numa jogada rasteira, o jornal ainda tentou estimular a cizânia entre Valter Pomar e o governo Lula. Sem citar a fonte, o texto afirma que um porta-voz do presidente considerou suas declarações “bastante grosseiras”.

Se fosse mais séria e pluralista, a mídia hegemônica deixaria de lado as fofocas maldosas e daria uma breve biografia do carrasco Avigdor Liberman. Bastaria reproduzir as declarações públicas do atual chanceler israelense, como fez recentemente o jornal Água Verde, publicado no Paraná. Seu dossiê lembra que Lieberman responde a processos na Justiça por envolvimento com o crime organizado (Máfia Russa), incluindo tráfico de drogas, e que fundou o partido de extrema direita Yisrael Beitenu, que apoiou o atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em troca de cargos no governo. Entre as suas declarações racistas e criminosas, o jornal destaca algumas:

“Transformar o Irã num aterro”

- Em 1998, ele defendeu a inundação do Egito através do bombardeio da Represa de Assuã;

- Em 2001, como ministro da Infraestrutura Nacional de Israel, propôs que a Cisjordânia fosse dividida em quatro cantões sem governo palestino central e sem a possibilidade dos palestinos transitarem na região;

- Em 2002 o jornal israelense Yedioth Ahronoth publicou a seguinte declaração de Liberman: “As 8 da manhã nós vamos bombardear todos os seus centros comerciais, à meia-noite as estações de gás, e às duas horas vamos bombardear seus bancos”.

- Em 2003 o diário israelense Haaretz informou que Liberman defendeu que os milhares de prisioneiros palestinos detidos em Israel fossem afogados no Mar Morto, oferecendo, cinicamente, ônibus para o transporte;

- Em maio de 2004, ele propôs um plano de transferência de territórios palestinos, anexando os territórios palestinos e expulsando a população nativa;

- Em maio de 2004, afirmou que 90% dos 1,2 milhão de cidadãos palestinos de Israel “tinham de encontrar uma nova entidade árabe para viver”, fora das fronteiras de Israel. “Aqui não é o lugar deles. Eles podem pegar suas trouxas e dar no pé!”

- Em maio de 2006, ele defendeu o assassinato dos membros árabes do Knesset (Parlamento israelense) que haviam se encontrado com os membros do Hamas integrantes da Autoridade Palestina para discutir acordos de paz na região;

- Em dezembro de 2008, defendeu o uso de armas químicas e nucleares contra a Faixa de Gaza, afirmando que seria “perda de tempo usar armas convencionais. Devemos jogar uma bomba atômica em Gaza para reduzir o tempo de conflito, assim como os EUA atacaram em Hiroshima na Segunda Guerra”, afirmou em entrevista em jornal israelense Haaretz;

- Em junho de 2009, discursou no Knesset israelense ameaçando “transformar o Irã num aterro”, através do bombardeio do país com armas nucleares.

terça-feira, 21 de julho de 2009

E a “liberdade de imprensa” em Honduras?

O golpe militar em Honduras comprova, até para os mais tapados, que a tal “liberdade de imprensa” pregada pelos barões da mídia representa, na verdade, a “liberdade dos monopólios”. O discurso das corporações midiáticas é pura hipocrisia. Um jornalista hondurenho já foi assassinado em condições misteriosas; toda a equipe da Telesur, que dava um show na cobertura do trágico episódio, foi presa e expulsa do país pelos gangsteres golpistas; inúmeras rádios comunitárias foram atacadas; a Rede Globo de Tegucigalpa, que nada tem a ver com a Vênus enlameada brasileira, também foi fechada; até a CNN em espanhol foi proibida de exibir as cenas de violência nas ruas, que já causaram dezenas de mortes.

Apesar de toda esta brutalidade fascista, nenhum dos colunistas bem pagos da mídia hegemônica fez declarações inflamadas em defesa da “liberdade de imprensa”; nenhum meio privado criticou a brutal censura e as agressões aos jornalistas; nenhum editorial da “grande imprensa” questionou o fato de que a mídia hondurenha está nas mãos de meia dúzia de oligarcas reacionários, que clamaram pelo golpe e dão total respaldo à ditadura sanguinária. A máfia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que recentemente criticou o presidente Lula por suas “criticas descabidas ao enfoque do noticiário”, não se pronunciou contra os atentados à liberdade de expressão. A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), bancada pelo CIA na sua campanha permanente contra a revolução cubana, também está quieta.

Defesa das atrocidades dos golpistas

Segundo relatos da própria Cruz Vermelha, os “gorilas” hondurenhos promovem as piores atrocidades, como invasões de casas, torturas, estupros e assassinatos, e a mídia hegemônica ainda tenta relativizar o papel dos ditadores. A Folha agora passou a qualificar o governo golpista de “interino”. A TV Globo critica o presidente deposto, Manuel Zelaya, por ele rejeitar um acordo de “conciliação nacional” com os bandidos. O Correio Braziliense chegou a justificar o golpe num texto repugnante. Alguns doentes mentais da revista Veja, travestidos de blogueiros, argumentam que a violenta deposição de Zelaya foi para “salvar a democracia”. São todos falsários quando pregam a “liberdade de imprensa”.

Para acompanhar o que de fato ocorre em Honduras é preciso furar o bloqueio dos barões da mídia. A Telesur, retransmitida pela TV Educativa do Paraná e por algumas emissoras comunitárias, continua exibindo cenas da violência dos golpistas e da crescente resistência dos hondurenhos. Pela internet, os sítios da Agência Boliviana de Notícias e o Aporrea, entre outros, trazem informações exclusivas dos movimentos sociais deste país. Na prática, estes veículos alternativos realizam a autêntica defesa da “liberdade de expressão”, enquanto a mídia hegemônica comprova que serve apenas aos interesses dos poderosos e às ambições do império. Seu discurso da “liberdade de imprensa” é puro cinismo!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Massacre em Honduras não existe nas TVs

Em junho passado, a mídia mundial deu enorme destaque para os protestos contra as eleições no Irã, que garantiram 64% dos votos para Mahmoud Ahmadinejad. Mesmo criticando a “censura”, as redes de TV inundaram o planeta com cenas das “explosões espontâneas contrárias à ditadura islâmica”. A morte de uma jovem em Teerã teve overdose de exposição nas telinhas. O curioso é que o mesmo empenho na cobertura jornalística não se observa em Honduras, palco de um golpe militar que já causou dezenas de mortes. Dados oficiais da Cruz Vermelha contabilizam mais de 50 hondurenhos assassinados e cerca de mil lideranças oposicionistas presas e desaparecidas.

O repórter Laerte Braga, que mantém contatos com a resistência hondurenha, está indignado com o silêncio da mídia. Ele garante que já são mais de 150 executados no país. “Pessoas são mortas nas ruas de Tegucigalpa, muitas são conduzidas às prisões e os postos de saúde controlados pelos golpistas negam atendimento aos feridos”. Militares e esquadrões da morte invadem residências, saqueiam, estupram as mulheres e torturam. “Setores da resistência falam em banho de sangue, tamanha a selvageria dos militares. Porta-vozes da Cruz Vermelha se mostram horrorizados com a violência... Traficantes de drogas e quadrilhas com base em Miami estão em Honduras dando respaldo ao golpe e ocupam o Ministério da Justiça através de membros do esquadrão da morte”.

Mídia servil aos interesses do império

Para Laerte Braga, “há uma ação concentrada dos embaixadores dos EUA na região, em conluio com o governo paralelo dos EUA, para desestabilizar toda a área, provocar uma guerra e, assim, derrubar governos contrários aos interesses norte-americanos. Obama é um boneco, um objeto de decoração envolvido nas tramas golpistas... O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, acusou os golpistas de tentarem forçar uma situação de guerra para justificar uma intervenção militar norte-americana, mesmo que disfarçada com a presença de tropas de outros países, como já ocorre no Haiti”. O seu governo e o de El Salvador já reforçaram a presença de tropas nas fronteiras.

Com a mesma convicção, o jornalista Juan Gelman, do diário argentino Página 12, afirma que “a Casa Branca conhecia há meses o golpe que se preparava em Honduras, embora seus porta-vozes finjam agora sua inocência”. Ele lembra que o atual embaixador em Tegucigalpa, Hugo Llorens, privilegiou as relações com o general golpista Romero Vásquez desde a sua chegada ao país, em setembro passado. Cita ainda as declarações de Hillary Clinton contra o referendo convocado por Manuel Zelaya. “É difícil supor que os chefes militares de Honduras, armados pelo Pentágono e formados na Escola das Américas, tenham se movido sem a autorização de seus mentores”.

Golpistas corruptos e assassinos

Diante dos interesses imperiais dos EUA e do temor das elites locais com o avanço dos governos progressistas no continente, a mídia hegemônica evita mostrar as cenas de violência. Ela também ofusca os protestos diários e crescentes contra o golpe. As televisões privadas sequer denunciam que os “gorilas” são fascistas assumidos e corruptos processados. O general Romero Vásquez, autor do seqüestro do presidente Zelaya, foi preso em 1993, acusado de roubar 200 automóveis de luxo. Já o “ministro” Billy Joya foi chefe da divisão tática do Batalhão B3-16, o esquadrão da morte hondurenho que torturou e seqüestrou inúmeras pessoas nos anos 1980.

Nada disto aparece nas telinhas da televisão. O tratamento da mídia venal é totalmente diferente do exibido durante as “explosões espontâneas” no Irã. Manuel Zelaya era um obstáculo para os interesses do império na região. Ele rompeu o tratado de “livre comércio” com os EUA, firmou o acordo com a Alba (Alternativa Bolivariana das Américas) e aliou-se a Hugo Chávez, tão odiado e estigmatizado pela mídia imperial. Daí a cobertura tendenciosa. Sua linha editorial é evidente. Seguindo as ordens da Casa Branca, ela aposta na solução “negociada”, que inviabilize o retorno de Zelaya ao poder e legitime um “governo de conciliação nacional”. Tanto que vários veículos de comunicação já têm tratado o governo golpista como “interino”.

domingo, 19 de julho de 2009

A mídia patrocinou o golpe em Honduras

O jornalista Ernesto Carmona, numa minuciosa pesquisa publicada no sitio Rebelión, confirmou o que muitos já imaginavam. A maior parte da mídia hondurenha ajudou a preparar o clima para o golpe militar que depôs o presidente democraticamente eleito Manuel Zelaya no final de junho. Ela tem dado total apoio à sangrenta ditadura, que já matou dezenas de pessoas, decretou toque de recolher, censurou rádios comunitárias e jornais alternativos e transformou este pequeno país da América Central num campo de concentração. A mídia mundial nada fala sobre estas ligações macabras, até porque já apoiou outros golpes e ditaduras fascistas – como no caso do Brasil.

Segundo o estudo, a mídia hondurenha, a exemplo da brasileira, é altamente concentrada. Três famílias controlam os quatro jornais diários de circulação nacional e uma única família domina as redes de televisão e rádio. “Um reduzido grupo de empresários, que se apropriou do direito de informar, monopoliza a ‘liberdade de expressão’, posta a serviço dos seus próprios interesses políticos e econômicos, uma vez que explora um rentável negócio”. Conforme aponta, a mídia segue “uma orientação ideológica de direita e pertence a empresários que mantêm os diários como uma empresa mercantil. Seus vínculos com os grupos de poder político são muito estreitos, porque eles mesmos pertencem também a estes grupos de poder”.

Oligarcas dominam os jornais impressos

Dos quatro jornais, dois são editados na capital, Tegucigalpa (El Heraldo e Tiempo), e dois são impressos em San Pedro Sula, a segunda maior cidade do país (La Tribuna e La Prensa). Todos são comandados por velhos oligarcas, que controlam os dois partidos que se revezam no poder há décadas. La Tribuna tem como maior acionista o ex-presidente de Honduras, Roberto Flores Facussé (1998-2002), do Partido Liberal (PLH), um agrupamento de centro-direita, fundado em 1891, a qual pertence o presidente deposto. O seu setor mais à direita, comandado por Roberto Micheleti, orquestrou o golpe com aos generais corruptos, alinhados e adestrados nos EUA.

Já o jornal La Prensa pertence à família de Jorge Larach, que também é dona de El Heraldo. Sua linha editorial defende “a necessidade de que o país se abra aos conceitos modernos da economia de mercado” e atacou ferozmente à decisão de Zelaya de romper com o tratado de livre comércio (TLC) com os EUA. O diário El Heraldo, um dos mais raivosos no apoio ao golpe, é dirigido pelo filho de Jorge Larach, “membro das comissões de notáveis, sempre próximo ao presidente de turno e provedor da indústria de armas e de medicamentos do Estado”. Por último, o Tiempo pertence a Jaime Rosenthal, um poderoso banqueiro que também é secretário-geral do PLH e já disputou várias vezes a presidência de Honduras e sempre foi rechaçado nas urnas.

Um oligarca domina a TV

Já a televisão é controlada por uma única pessoa, José Rafael Ferrari, que também possui enorme presença nas rádios e é presidente da Fundação Teletón. Ele é dono de uma rede nacional e dirige canais com distintos nomes e afiliadas – canais 5, 13, 7. Suas emissoras omitem as manifestações contra os golpistas e as condenações internacionais ao golpe e dão amplo respaldo à ditadura de Micheleti. Nos seus telejornais diários, Honduras parece que foi salva da “ditadura chavista” de Zelaya e hoje vive no paraíso da democracia liberal e numa autêntica paz – a paz dos cemitérios.

As emissoras de rádio de alcance nacional também são dominadas por velhos oligarcas e existem somente duas revistas semanais – Hablemos claro e Honduras this week (nome em inglês, numa prova cabal de subserviência). “Todos estes personagens são defensores acirrados da ‘liberdade de imprensa’, tal como prega a Sociedade Interamericana de Imprensa (SID), os diários mais reacionários do continente, as cadeias internacionais de notícias, como a CNN, e todas as caixas de ressonância do golpe em Honduras”, ironiza Ernesto Carmona.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Congresso da UNE e manipulação da mídia

Após viajarem milhares de quilômetros em centenas de ônibus fretados, mais de 15 mil jovens de todos os recantos do país estarão reunidos em Brasília para participar do 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Durante cinco dias, eles esbanjarão energia, criatividade e garra em várias passeatas, em acirradas polêmicas nos 25 grupos de debate sobre temas candentes e em plenárias infindáveis. Não haverá cansaço ou desanimo, mas uma baita disposição para lutar por melhorias na educação e por mudanças profundas no país. Caso a mídia tupiniquim respeitasse a nossa juventude, o congresso seria manchete em todos os jornais e nas emissoras de TV e rádio.

Mas a mídia hegemônica prefere evitar qualquer engajamento dos jovens. Ela aposta sempre na alienação e ceticismo. Rejeita qualquer ação coletiva. Prefere estimular o consumismo doentio e o individualismo exacerbado. Por isso, o evento da UNE surge, no máximo, no pé de página dos jornalões tradicionais ou em rápidos flashes na TV. Quando ela trata do evento, é para atacar a organização juvenil e criminalizar suas lutas. Ela omite ou emite opiniões raivosas. Como nos ensina Perseu Abramo, no livro “Padrões de manipulação na grande imprensa”, a ocultação e a inversão da opinião pela informação são duas técnicas muito utilizadas pelos barões da mídia.

Padrões de manipulação da imprensa

“O padrão da ocultação se refere à ausência e presença dos fatos reais na produção da imprensa. Não se trata, evidentemente, de fruto do desconhecimento e nem mesmo de mera omissão diante do real. É, ao contrário, um deliberado silêncio militante sobre determinados fatos da realidade. Esse é um padrão que opera nos antecedentes, nas preliminares da busca da informação, isto é, no ‘momento’ das decisões de planejamento da edição, naquilo que na imprensa geralmente se chama de pauta... O padrão da ocultação é decisivo e definitivo na manipulação da realidade: tomada a decisão de que um fato ‘não é jornalístico’, não há a menor chance de que o leitor tome conhecimento de sua existência por meio da imprensa. O fato real é eliminado da realidade, ele não existe”, ensina o mestre na obra reeditada pela Fundação Perseu Abramo.

Já o segundo truque visa “substituir, inteira ou parcialmente, a informação pela opinião. O órgão de imprensa apresenta a opinião no lugar da informação, e com o agravante de fazer passar a opinião pela informação. O juízo de valor é inescrupulosamente usado como se fosse a própria mera exposição narrativa/descritiva da realidade. O leitor/espectador já não tem mais diante de si a coisa tal como existe ou acontece, mas sim uma determinada valorização que órgão quer que ele tenha de uma coisa que ele desconhece, porque o seu conhecimento lhe foi oculto, negado e escamoteado pelo órgão... Ao leitor/espectador não é dada qualquer oportunidade que não a de consumir, introjetar e adotar como critério de ação a opinião que lhe é autoritariamente imposta”.

O zumbido irritante da Folha

Estes e outros truques da manipulação estão presentes na cobertura do cativante evento da UNE. As emissoras de televisão, que falam para milhões de brasileiros, preferem ocultar o congresso; é como se ele não existisse. Já os jornalões tradicionais, que atingem pequenas faixas entorpecidas das camadas médias, optam por desqualificar os militantes estudantis e suas bandeiras. A opinião substitui a informação. Um caso emblemático é o da cobertura da Folha de S.Paulo, que ainda ilude os ingênuos com o seu falso ecletismo. Com o título “Patrocinada pela Petrobras, UNE faz manifestação contra a CPI”, um texto de pé de página investiu raivosamente contra o congresso.

Não há qualquer informação sobre a pauta do congresso, sobre os participantes ou sobre as lutas estudantis. O artigo hidrófobo destaca apenas que a Petrobras “direcionou R$ 100 mil ao evento” e que os universitários programaram uma manifestação contra a CPI do Senado. A exemplo dos ataques desferidos contra o MST e as centrais sindicais, que recebem verbas públicas para vários projetos culturais e educacionais, a Folha tenta caracterizar a UNE como “governista”. Também critica o fato dos líderes estudantis ocuparem postos no governo Lula. O cinismo é descarado.

Quem está de rabo preso?

Um simples anúncio publicitário da Petrobras na Folha custa muito mais do que o patrocínio ao congresso da UNE. Nem por isso, ela é governista. Pelo contrário. O jornal é um dos principais porta-vozes da oposição demo-tucana. Para ser coerente nas críticas ao uso das verbas oficiais, a Folha deveria rejeitar os milionários anúncios em suas páginas. O governo Lula também poderia ser mais ousado, evitando alimentar cobra. Quanto a tal CPI do Senado, o jornal não informa que ela foi instalada por imposição da própria mídia e serve aos propósitos da oposição demo-tucana. Já no que se refere aos líderes estudantis em postos do governo, a Folha confirma que tem nojo do povo. Para ela, trabalhador é para trabalhar; estudante é para estudar; e a elite é para governar.

No livro citado, Perseu Abramo desmascara a frase publicitária do jornal. “A Folha está de rabo preso com o leitor só tem seu verdadeiro significado desvendado quando recolocada de pé sobre o chão e lida com a re-inversão dos seus termos: o leitor é que está de rabo preso com a Folha, e por extensão com todos os grandes órgãos de comunicação. Recriando a realidade à sua maneira e de acordo com seus interesses político-partidários, os órgãos de comunicação aprisionam seus leitores nesse círculo de ferro da realidade irreal e sobre ele exercem todo o seu poder. O Jornal Nacional faz plim-plim e milhões de brasileiros salivam no ato. Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil e Veja dizem alguma coisa e centenas de milhares de brasileiros abanam o rabo em sinal de assentimento e obediência”.