sábado, 2 de fevereiro de 2019

O que sobra depois de não sobrar nada?

Por Leonardo Boff, em seu blog:

Muitos em nosso país vivemos uma situação de luto. O luto se impõe quando sofremos perdas: os muitos mortos e centenas de desaparecidos do rompimento da barragem da Vale que destruiu criminosamente a cidade de Brumadinho. A perda da pessoa amada, do emprego que garantia a família, a emigração forçada por causa de ameaças de morte. Maior é o luto quando atinge bens fundamentais de um país: a perda da democracia, dos direitos trabalhistas garantidos há muitos anos, a diminuição das aposentadorias dos idosos, os cortes das políticas públicas para pobres e miseráveis, a privatização dos commons, bens fundamentais para a soberania do país. Mas o grande luto é termos que aceitar um presidente que reforçou a cultura do ódio, de seu desconhecimento das questões nacionais, que nos envergonhou em Davos, onde os donos do dinheiro no mundo se reúnem para garantir seus interesses. Seu discurso que poderia ser de 45 minutos, durou escassos seis, pois era tudo do pouco que tinha a dizer. Desmarcou as entrevistas para ocultar sua ignorância e as acusações graves que pesam sobre um membro de sua família.

A discreta política externa de Bolsonaro

Por Marcelo Zero

Enquanto o clã Bolsonaro e o chanceler templário mesmerizam a opinião pública nacional e internacional com suas declarações bombásticas, estapafúrdias e francamente cretinas sobre política externa, a equipe econômica do novo governo prepara, praticamente na surdina, decisões que terão, se implementadas, profundo impacto negativo na inserção internacional do Brasil.

A primeira delas seria a revisão das tarifas consolidadas que o Brasil tem na OMC.

As tarifas consolidadas são aquelas tarifas que os países inserem na OMC como suas tarifas máximas de importação, aquelas que eles consideram necessárias para a proteção dos seus diversos setores produtivos.

Mourão transita fácil na aversão a Bolsonaro

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Há muitas análises – corretas, em geral – sobre a movimentação cada vez mais desenvolta do General-Vice Hamilton Mourão, que procura se despir da farda do “linha-dura” que usou na caserna e durante a campanha eleitoral.

E quase todas esbarram em algumas coisas que, por enquanto, não podemos saber com certeza: sua ambição de substituir o ex-capitão, que pode escorregar pelo lamaçal aberto pelo caso Flávio-Queiroz ou até tomar um espaço de “chefe” do setor militar do governo, hoje entregue ao também general Augusto Heleno.

O bolsonarista ou bolsomínion

Por Urariano Mota, no site Vermelho:

De imediato, pensamos nele como um idiota ou imbecil. Mas isso é muito leve. Não se deve criminalizar um idiota, coitado, que chegou a esse estado em caminhos naturais, digo, por infelicidade da natureza. Nem tampouco ele pode ser visto como um imbecil, que se tornou ou se fez assim muito contra a vontade.

Jamais alguém gostou de ser tido como um deficiente cognitivo. Quero dizer, o bolsonarista ou bolsomínion possui traços de ambos, com a diferença que ele possui orgulho do seu modo degenerado de ser. E com isso se torna um desinibido da própria e com a própria estupidez. Antes de hoje, o bolsonarista estava escondido nas sombras. Ele perambulava nas trevas, oculto então a resmungar entre seus pares:

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

A mídia descontrolada: um livro obrigatório

Do site do Centro de Estudos Barão de Itararé:

As eleições presidenciais de 2018 desorientaram os meios de comunicação tradicionais. Todos eles apostavam numa candidatura palatável para os seus interesses políticos e empresariais mas não encontraram quem a encarnasse. De repente se viram às voltas com uma realidade inesperada. Têm pela frente um governo que os despreza, que assusta muito dos seus leitores, ouvintes e telespectadores, mas do qual não podem se afastar totalmente, como sempre acontece no Brasil. A dependência das verbas publicitárias oficiais e de outros favores governamentais é muito grande.

'Época', Damares e a criança indígena

Do blog Socialista Morena:

Reportagem de capa da revista Época acusa a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (sic) do governo Bolsonaro, Damares Alves, de ter adotado irregularmente uma criança indígena aos 6 anos de idade, que vive com ela e tem hoje 20 anos, Lulu Kamayurá. A repórter Natália Portinari, que esteve no Parque Nacional do Xingu e assina a reportagem junto com Vinicius Sassine, antecipou no twitter parte do teor do texto, que estará disponível na edição deste fim de semana.

Perseguição a Lula em ponto máximo

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Pode-se ler, no inciso 1 do artigo 120 da Lei de Execução Penal, o motivo pelo qual Luiz Inácio Lula da Silva tinha direito líquido e certo de deixar a cela de Curitiba, viajar a São Bernardo e despedir-se de Genivaldo Inácio da Silva, o irmão mais velho, metalúrgico, morto de câncer, aos 79 anos.

Diz o texto que "os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto e os presos provisórios" poderão "obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão".

Até quando vai o “lawfare” contra Lula?

Por Viviane Ávila, no site Jornalistas Livres:

No mesmo dia em que o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva é capa no jornal francês L’Humanité como um possível candidato ao Nobel da Paz, na terça-feira 29, ele é terminantemente proibido pela Justiça Federal de ir ao velório de seu irmão mais velho Genival Inácio da Silva, 79 anos, carinhosamente chamado de Vavá, que morreu devido a um câncer. No dia seguinte, quarta 30, quando o ministro do STF Dias Toffoli liberou a ida de Lula à São Bernardo, já era tarde demais: Vavá já estava sendo sepultado e enterrado.

Os militares e a fábula dos sete cegos

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Sete cegos caminhavam por uma estrada quando cruzaram com um elefante. Todos queriam saber como era um elefante. Um deles apalpou a barriga do elefante e disse que elefante era uma parede. Outro apalpou a perna, e disse que elefante era um tronco. Um terceiro apalpou as presas do elefante e concluiu que o elefante era um chifre.

Acontece algo semelhante com a cobertura brasiliense sobre o pensamento militar.

Lula, Antígona e os canalhas

Por Marcia Tiburi, na revista Cult:

Antígona não pode enterrar o próprio irmão. Desesperada, ela decide por conta própria enterrar Polinices, condenado a ficar insepulto por Creonte, o tirano de Tebas. Foi punida por seu gesto com a prisão e nela preferiu morrer do que amargar a conivência com a injustiça de Creonte que não respeitou a lei dos mortos.

No Brasil, a lei dos mortos da antiguidade clássica reaparece no Artigo 120 da Lei de Execução Penal: “Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos: I – falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão”.

Covardes e perversos carrascos

Por Eric Nepomuceno, no site Carta Maior:

Na terça-feira (29/1), faleceu aos 79 anos o operário metalúrgico Genival Inácio da Silva, vítima de um câncer pulmonar. Era irmão mais velho de Luiz Inácio da Silva e uma figura essencial em sua vida e sua memória.

Quando Lula nasceu, Genival tinha seis. Ao longo de toda a infância e adolescência, foi uma espécie de guia protetor do benjamim de uma família abandonada pelo pai. Era, dos outros seis filhos de Dona Lindú, o mais apegado, o mais íntimo de Lula.

Ajuda israelense teve motivação teológica

Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:

Os soldados, técnicos e oficiais israelenses chegaram rápido a Brumadinho, ainda no domingo. Trouxeram toneladas de equipamentos sofisticados e inservíveis. O número de desaparecidos em razão do crime da Vale estava em torno de 180 e em breve a estimativa seria revista para cima, passando de duas centenas.

Assim como chegou, a tropa de cerca de 130 homens e mulheres voltou celeremente para seu país, na quinta-feira. Boa parte dos equipamentos não foi desencaixotada e o número de vítimas já batia algumas dezenas acima. A relação com as equipes locais foi tensa e criou um indesejável duplo comando.

A direita no Brasil e o governo Bolsonaro

Por Wilson Ramos Filho, no site Esquerda:

O país não sabe o que esperar. Ou melhor, cada grupo espera algo, não necessariamente o mesmo. Na campanha eleitoral os eleitos não se comprometeram com um programa de governo detalhado. De toda sorte, pesquisas de opinião. De toda sorte, pesquisas de opinião demonstram que três em cada quatro brasileiros têm uma expectativa positiva, consideram que suas vidas irão melhorar [1].

Nos círculos intelectuais estabeleceu-se o debate sobre eventual caráter fascista do próximo governo. No presente artigo será discutida esta questão, com o alerta prévio de que as ideias aqui lançadas foram redigidas ainda antes do início do governo, ou seja, com base apenas nas informações disponíveis na imprensa, considerando-se a composição do futuro ministério.

Lula é refém de facínoras

Foto: Ricardo Stuckert
Por Jeferson Miola, em seu blog:

“Para o júbilo o planeta está imaturo.
É preciso arrancar alegria ao futuro.
Nesta vida morrer não é difícil.
O difícil é a vida e seu ofício”.
Vladimir Maiakóvski

A crueldade do regime de exceção contra Lula alcançou o paroxismo e expôs uma realidade incontornável: Lula é refém de facínoras.

Lula foi sequestrado pelo regime de exceção e encarcerado na masmorra da Lava Jato. Lá, ele permanece sob contínua vigilância de abutres e facínoras – juízes, procuradores, policiais federais – que se revezam na função de carcereiros delinquentes, fora da lei.

França: Onde estão os “Coletes Amarelos”?

Por Antônio Martins, no site Outras Palavras:

Sumido dos jornais brasileiros, o movimento francês que se opôs ao aumento dos preços dos combustíveis e propôs como alternativa tributar os ricos, segue vivo. Duas matérias publicadas nos últimos dias – uma no New York Times, outra no site alternativo norte-americano Counterpunch são um sinal.

Densa porém elegante, a reportagem do NYTimes, que saiu na edição de 20 de janeiro, é quase um ensaio sociológico. Foi escrita por Alissa Rubin. Parte de um fato desconhecido no Brasil: desde meados de janeiro, o governo Emmanuel Macron proibiu os “coletes amarelos” de acampar nas rotatórias das rodovias. Qual o sentido desta interdição, aparentemente estranha?

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

A esquizofrenia de Veja, IstoÉ e Época

Israel e o uso político de Brumadinho

Por Soraya Misleh, na revista CartaCapital:

Diante da tragédia em Brumadinho (MG), expressões de solidariedade vêm dos lugares mais distantes. Lamentavelmente, as vidas humanas ceifadas pela ganância do capital também despertam oportunismo. Caso do Estado de Israel, cuja violação de direitos humanos fundamentais é praxe. Frente ao espetáculo midiático em torno da ação dos seus mais de 130 soldados na região desde a última segunda-feira (28), pode ser vista por pessoas bem intencionadas com bons olhos. Natural.

O que Ustra faria com Flávio Bolsonaro?

Por Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

O Brasil da lama bolsonarista conseguiu transformar o assassino Carlos Alberto Brilhante Ustra em algo próximo de um ícone pop.

Saímos definitivamente do armário. A hashtag “Ustra Vive” é um dos assuntos mais comentados do Twitter.

O filósofo e professor da USP Vladimir Safatle foi uma das personalidades entrevistadas no programa que o DCM fazia com produção da TVT.

Safatle falou da nova configuração da sociedade brasileira no pós-golpe. O Brasil precisa encarar, dizia ele, que “não é um país”.

Brumadinho e a legislação ambiental

Por Alexandre Guerra, no site da Fundação Perseu Abramo:

O rompimento da barragem ocorrida na planta de mineração de ferro da empresa Vale de Brumadinho (MG) já deixou 84 mortos e 276 desaparecidos até esse momento. O crime ocorrido na mina Córrego do Feijão trouxe para a centralidade da pauta política a discussão sobre a questão ambiental, até então deixada em segundo plano pelo governo Bolsonaro.

O Brasil e o ensaio venezuelano

Por Roberto Amaral, em seu blog:

Seria bom nossa diplomacia lembrar que o trumpismo que vale hoje para a Venezuela, amanhã valerá para nós

Eis o principal legado do quase primeiro mês de bolsonarismo: abandonamos o posto e a responsabilidade de liderança regional para cumprir o papel de coadjuvantes da política ditada pelos interesses e conveniências da estratégia de guerra dos EUA de Donald Trump, voltados, agora mais consistentemente, para o Atlântico Sul e a América do Sul, aproveitando, até, o vácuo deixado pelo Brasil.

Por força de sua história e de sua liderança, o Brasil se havia destacado por alimentar o espírito integracionista e esta foi a maior proeza, e também a atitude mais arriscada de nossa política externa, desdenhada nos breves dias do novo governo.