terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Baby Doc, o sanguinário ditador do Haiti

Por Altamiro Borges

Um dos principais culpados pelas atuais mazelas do Haiti, o ex-ditador Jean-Claude Duvalier, conhecido como Baby Doc, retornou ao país neste domingo (16). Durante quinze anos, de 1971 a 1986, ele comandou uma das ditaduras mais ferozes e corruptas do planeta. Como “presidente hereditário”, ele deu sequência ao regime sanguinário de seu pai, François Papa Doc, que comandou o Haiti de 1957 a 1971 sob a proteção do imperialismo estadunidense.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Globo detesta servidores públicos

Reproduzo artigo de Augusto da Fonseca, publicado no blog Festival de Besteiras na Imprensa:

Como já dissemos anteriormente, O Globo está no terceiro turno das eleições presidenciais ou, na melhor das hipóteses, já está na campanha presidencial de 2014.

A manipulação da informação corre à solta no jornal, na rádio CBN, na TV Globo e na Globo News.

Não importam os fatos. Qualquer que seja, há sempre uma forma de manipular a informação via juizo sem fundamentação ou via manchetes negativas para fatos positivos.

Como exemplo do que digo, analisemos as manchetes do jornal O Globo de hoje (16/1/11) e o conteúdo das respectivas matérias:

Capa: "No governo Lula, mais 82 mil servidores".

Página 3 (a principal, depois da capa): "Máquina foi inchada até com serviços terceirizados".

Subtítulo dessa manchete: "Na gestão Lula, essas despesas subiram muito acima da inflação".

Como a maioria das pessoas não passa das manchetes, ou seja, não lê a matéria completa, fica a impressão de que o Lula inchou “indevidamente” a máquina pública que era tão “enxutinha” ao final do governo FHC, ainda que às custas de sucateamento da educação, saúde, segurança e infraestrutura, entre muitas outras.

Entretanto, as pessoas que se dispuserem a ler a matéria completa terão uma grata surpresa: essa é uma notícia altamente positiva para o país!

Senão, vejamos alguns trechos relevantes da matéria, elaborada pela Regina Alvarez, que não tem culpa do que o editor faz com as suas matérias (normalmente manipula).

“Maioria das contratações ocorreu na área de educação, com mais 49 mil servidores“.

Perguntei para a minha neta de quatro anos se isso era bom ou ruim e ela me respondeu na lata:

“Vô, todo mundo diz que a prioridade número um do Brasil é a educação. Logo, isso é muito bom!”

Li outro trecho da matéria para a minha neta:

Subtítulo manipulador: “Na Presidência, aumento de 148%“.

Que horror! Diriam em uníssono o Merval e a Míriam Leitão.

Mas, o que diz o texto?

“O número de servidores passou de 3.147 para 7.820. Nesse caso, pesou o fato de a Presidência ter incorporado alguns órgãos que estavam em outros ministérios no governo passado, como é o caso do IPEA“.

‘Voilá”! Não há o que criticar, portanto.

Aumentou muito o número de professores e de profissionais da educação para as Escolas Técnica e Universidades.

E vai aumentar mais, senhores e senhoras do Globo.

“É difícil viver num país onde a imprensa pode manipular a informação do jeito que for mais conveniente para ela, né vô?“, falou a minha neta

“Mas nós e o governo Dilma vamos fazer alguma coisa contra isso. Aguarde, minha neta.”

“E eu vou poder ajudar?“

Balancei a cabeça positivamente.

Politizada essa menina!

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A internet já disputa com a televisão

Reproduzo artigo de Pedro de Oliveira, publicado no sítio Vermelho:

Gradualmente a internet vai se equiparando à televisão como a principal fonte de informação nacional e internacional do público norte-americano. Em uma pesquisa conduzida pela empresa especializada PEW Research Center for the People and the Press – realizada de 1 a 5 de dezembro do ano passado, com 1 500 pessoas - cerca de 41% dos pesquisados declaram ser a internet a fonte primária de noticias nacionais e internacionais, o que em relação ao ano de 2007 significava apenas em 17%.

A televisão continua sendo ainda a referência principal de noticias para 66% dos norte-americanos, índice que por sua vez significava 74% há três anos e 82% em 2002. Esta mesma pesquisa constatou que a maioria das pessoas busca informações sobre notícias mais pela Internet do que pelos jornais impressos como sua principal fonte de referência.

Este dado mostra a continua curva de crescimento da internet e a queda constante da leitura de jornais: o índice de leitura era de 34% em 2007 e é de apenas 31% atualmente. Já a proporção do índice de ouvintes de notícias pelo rádio manteve-se relativamente estável. Este índice hoje é de 16% dos que procuram notícias nacionais e internacionais.

Pela primeira vez na série histórica desenvolvida pela PEW – que é um instituto independente de pesquisa sobre a mídia – em 2010 a internet superou a televisão como a principal fonte de informações nacionais e internacionais para as pessoas com menos de 30 anos de idade. Desde 2007 o índice de pessoas de 18 a 29 anos que citaram a internet como fonte principal de informações saltou de 34% para 65%, enquanto que no mesmo período o índice de jovens que citaram a televisão como fonte principal diminuiu de 68% para 52%.

A televisão ainda predomina entre os menos escolarizados

Os estudantes universitários nesta pesquisa afirmam buscar como fonte principal de informações a internet com o índice de 51%, enquanto os que procuram a televisão se situam em 54%. Os de nível secundário se colocam de outra forma: 51% citam a internet como fonte principal e 63%, a televisão. O extrato com educação mais inicial faz um bom contraste com os melhores escolarizados: 29% apenas buscam na internet as fontes principais de informação e a maioria de 75% procura a televisão em primeiro lugar.

No caso da televisão brasileira – num levantamento de outra pesquisa publicada no jornal Folha de S.Paulo em 6/01/2010 -, o SBT perdeu quase 50% do seu público de 2000 até 2010. Ou seja, caiu de 10,4 pontos de média no país para apenas 5,9 pontos, que foi a média do ano passado. A Rede Record cresceu 31% na década passada, pulando de 5,5 pontos para 7,2 pontos como média em 2010. Enquanto a Rede Globo, por sua vez, caiu 8,5% na década. Registrou no ano de 2000 média de 19,9 pontos e 18,2 pontos em 2010.

Ou seja, no ambiente brasileiro também se pode verificar o crescimento das redes mais voltadas para um publico menos escolarizado, enquanto que os programas mais sofisticados vão sendo consumidos cada vez mais pelos canais pagos e pela internet.

O crescimento vertiginoso das redes sociais

Se é verdade que as pesquisas detectam este gradual crescimento da internet em relação à televisão como fonte primária de informações, no caso das redes sociais o aumento é explosivo: a contagem de tweets aumentou de 5.000 por dia em 2007 para 90.000.000 (noventa milhões) diários em 2010. Somente o Facebook passou de 30 milhões de usuários em 2007 para mais de 500 milhões atualmente.

Exatamente em função deste poder gigantesco que estas redes sociais foram adquirindo nos últimos anos é que o Departamento de Estado dos EUA, já sob direção da candidata derrotada nas primárias para indicação do candidato a presidente pelo Partido Democrata, Hillary Clinton, anunciou em janeiro de 2010 que o governo americano faria um grande investimento para o desenvolvimento de ferramentas desenhadas para reabrir o acesso à internet em países que restringem sua utilização. Este tipo de política teria como alvo impedir que Estados como a República Popular da China impeça websites como o Google, YouTube ou o New York Times atuem como queiram em seu país.

Alguns programas foram criados com este objetivo como o Freegate e o Haystack, mas acabaram não se tornando úteis para o objetivo do imperialismo, transformando-se ao contrário numa ferramenta a mais para impedir que as empresas norte-americanas infiltrassem idéias e conceitos para combater o governo central na China.

De fato, a questão das redes sociais tornou-se um problema de Estado cada vez mais importante para os interesses norte-americanos no mundo. A capa da principal revista de relações internacionais dos EUA – Foreign Affairs – edição de janeiro/fevereiro de 2011, é dedicada ao tema sob o titulo “O poder político da mídia social”.

A tese principal do artigo é que os Estados Unidos perderam a guerra na tentativa de impedir outros países controlarem a rede social de mídia e que deveriam se voltar para “a luta pelas liberdades políticas nestas sociedades de forma geral”, como se isso tivesse sido em algum momento um dos objetivos do imperialismo americano através da história.

Globo e El País: jornalismo na lama

Reproduzo artigo de Maurício Caleiro, publicado no blog Cinema & Outras Artes:

Em termos de comunicação, a estratégia que garantiu ao ex-presidente Lula se reeleger e terminar seu segundo mandato com 87% de aprovação popular - a despeito de oito anos de oposição cerrada da mídia, incluindo espasmos golpistas - concentrou-se no seguinte tripé:

1.Diversificação do investimento da verba publicitária federal, espraiada em pequenas e médias publicações e emissoras de rádio;

2.Internet (notadamente blogosfera e redes sociais);

3.Marketing político de primeiro nível, não restrito a campanhas eleitorais.

Mídia internacional

Além desses fatores, a cobertura que grandes veículos da imprensa internacional fizeram da personalidade política de Lula e de seu governo, contraposta à má-vontade e às distorções preconceituosas da mídia nativa, não só tornou evidente o quanto esta oferecia uma visão falsa dos fatos, como forneceu – à história, ao público internacional e a estratos mais antenados no próprio Brasil - um atestado da eficiência da gestão presidencial.

Tal atestado, por sua vez, contradiz as acusações de populismo que, através, de ilações entre altas taxas de aprovação e programas de inclusão social como o Bolsa-Família, a mídia corporativa esforçava-se por pespegar em Lula, adotando-as como a explicação virtualmente exclusiva para o sucesso de sua gestão.

Rancor dos derrotados

A vitória eleitoral de Dilma Rousseff representou a derrota do projeto político abraçado pela mídia corporativa nativa. Pois, como escrevi no início da campanha eleitoral, em artigo no Observatório da Imprensa, as eleições de 2010, de caráter eminentemente plebiscitário, não oporiam apenas o projeto de inclusão social em bases pós-keynesianas encarnado pelo lulopetismo e o retorno à ortodoxia neoliberal tucana, mas a efetividade da influência eleitoral da mídia corporativa versus a diversificação desconcentrada e contra-discursiva da internet e dos pequenos media.

Derrotada uma vez mais, resta à velha mídia procurar minar qualquer estratégia comunicacional que contrarie seu projeto político. Na internet, a briga é por uma regularização draconiana, representada pelo projeto do senador Eduardo Azeredo (acusado de ser o principal nome do mensalão tucano e réu em denúncia criminal aceita pelo STF). Já em relação à desconcentração das verbas publicitárias federais, pouco pode fazer, no curto prazo, para revertê-la novamente ao modelo concentrador de que sempre se beneficiou.

Fontes não confiáveis

No entanto, credenciar-se novamente como fonte da imprensa anglo-européia poderia significar a chance tanto de impedir que Dilma, por seus próprios méritos, se beneficie da cobertura jornalística desta (como ocorreu com Lula) quanto de, assim, criar um fator de chantagem, digo, de pressão para demandar maiores verbas federais para suas publicações.

Por tais razões é importante a reação sistemática dos brasileiros contra matéria publicada hoje pelo usualmente sóbrio El País, da Espanha, ecoando uma edição de imagens claramente mal intencionada e jornalisticamente criminosa da Rede Globo – na qual altera flagrantes de momentos de descontração durante a primeira reunião ministerial, em Brasília, com imagens da tragédia das enchentes. Ou seja, que conecta artificialmente dois eventos espacialmente apartados e de diferentes naturezas de modo a, por interesses políticos, manipular emocionalmente os espectadores, num ato de incrível baixeza e falta de profissionalismo.

No texto, o correspondente de longa data Juan Arias – um especialista em Vaticano e escritor de livros com temática espiritual, incluindo um sobre Paulo Coelho – se diz impressionado e indignado pelas imagens. Um jornal do prestígio internacional do El País não pode manter em um país com a atual importância estratégica do Brasil um correspondente que não só se mostra incapaz de identificar o viés fortemente tendencioso da imprensa, mas compra como legítima – e se deixa impressionar por – uma montagem descontextualizada e artificial de imagens que a ética jornalística condena.

É preciso protestar

Ainda antes antes de saber que Eduardo Guimarães publicara um post conclamando seus leitores a escreverem ao jornal espanhol protestando, enviei ao El País um comentário (que foi publicado). Eis a tradução:

“Não é necessário ser um gênio para perceber que não é honesto confundir a atmosfera particular de uma reunião ministerial com a reação de um presidente ante o sofrimento humano causado pelas enchentes. Além disso, o fato é que a reação efetiva de Dilma Rousseff para amenizar os efeitos da tragédia foi rápida e objetiva, visitando as zonas afetadas e autorizando a liberação do equivalente a U$450 milhões. A imprensa brasileira, desde a eleição de Lula da Silva em 2002, atua como um partido político e não pode ser levada a sério. Sinto muito que um jornal supostamente sério como o El País “compre” a campanha infame que os meios corporativos brasileiros movem contra Rousseff. Reproduzir suas mentiras significa enganar os leitores do jornal – como o correspondente Juan Arias, se realmente tem consciência do que ora acontece no Brasil, deveria saber”.

Gostaria de reforçar o apelo de Eduardo e convidar mais pessoas a protestarem. Ressalvo, no entanto, a importância de ser educado e argumentativo, ao invés de se utilizar da agressividade xenófoba que se lê em alguns comentários. Agredir os espanhóis pelo erro do jornal não é inteligente nem adequado (pense: você acharia justo ser ofendido pelo que a mídia brasileira publica?). Não dominando o idioma, talvez seja conveniente valer-se de um tradutor na internet (não são perfeitos mas ajudam), de maneira a fazer com que os leitores espanhóis entendam nossas razões e eventualmente apóiem nosso protesto. O importante é fazer, através do volume de cartas e da sensatez das argumentações, o editor do El País convencer-se de que erraram - e feio.

A banalização da violência no BBB-11

Reproduzo artigo de Maíra Kubik Mano, publicado no blog Viva Mulher:

Eu conheço uma pessoa que se inscreveu para a 11ª edição do Big Brother Brasil (BBB). Perdeu um final de semana inteiro fazendo o tal vídeo, com direito a locações diferentes e falas ensaiadas. Seu objetivo era o mesmo de todos os demais: ganhar uma bolada e, numa tacada só, ficar famosa. E quem não quer isso na sociedade do espetáculo e da hiper valorização do consumismo?

Como ela é uma amiga de longa data, eu não quis criticar sua decisão. Tentei entender, acolher, participar. Me peguei até prometendo que sim, eu iria naquela torcida da família ao lado de fora da casa quando tem alguma eliminação. “Disfarçada e o mais longe possível do Pedro Bial”, pensei. “E sem camisetinha com frase de apoio”. Amigo que é amigo vai ao BBB, né?

No fim das contas, ela não foi selecionada. E cá entre nós, sorte a dela. Para além do absurdo inicial da concepção do programa, que explora publicamente o espaço privado sem qualquer limite, essa edição promete ser ainda mais degradante para os participantes. É o que demonstra a declaração de José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, diretor do reality show, que decidiu “liberar a pancadaria”.

Como não presto muita atenção nesse programa, fiquei sabendo do ocorrido por meio de uma nota de repúdio (abaixo) que mulheres de diferentes organizações lançaram hoje contra o BBB e seu comandante. A preocupação delas é evitar o estímulo à violência gratuita, o que me parece bastante sensato e motivo suficiente para divulgar o texto nesse blog que vos fala. No mínimo, vale o esforço e o alerta.

“A banalização e espetacularização da violência têm servido de estímulo para mais-violência na sociedade. (...) Não há qualquer sentido em ‘liberar a pancadaria’ num programa de grande audiência, sabedoras que somos do estímulo que isso representa para os jovens e adultos”, afirmam. E continuam: “exigimos a retratação imediata e pública da ‘liberação’ dada pelo diretor do programa aos componentes do mesmo, bem como sugerimos medidas preventivas, que se contraponham ao discurso proferido, entre as quais recomendamos: - a veiculação de uma campanha de não-violência (uma geral, e outra, de gênero); - uma atenção redobrada no sentido de minimizar a quantidade de cenas de violência na programação geral das emissoras de TV e, particularmente, no BBB11.”

É um pedido difícil este que elas estão fazendo. Afinal, qual seria o parâmetro para medir algo mais ou menos bizarro, violento e invasivo num programa com tal proposta? De qualquer forma, eu assino embaixo. Não custa nada tentar melhorar um pouco o maior meio de comunicação do Brasil, certo?


Nota de preocupação e repúdio

Temos acompanhado com muita preocupação o pronunciamento de José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, diretor do programa de reality show BBB (Big Brother Brasil), da TV Globo.

O pronunciamento do “Boninho”, antes da estréia do programa, cuja fala e repercussão anexamos, não poderia ser mais evidente – é um estímulo à violência na nova edição do BBB, em sua 11ª edição.

Provavelmente preocupado com os índices de audiência do programa e, querendo reerguê-los, Boninho explicitamente “liberou a pancadaria” nesta edição, provavelmente apostando na tradicional espetacularização da violência, receita já bastante usada pela grande mídia, sem qualquer respeito aos direitos humanos.

Acreditamos que, por ser uma concessão pública, e pela sua importância como educadora informal, pelo respeito devido aos telespectadores, cabe à televisão se pautar pelos mais altos interesses da sociedade e pela responsabilidade social que o poder que detém com a concessão lhe confere.

Não nos interessa a banalização da violência na mídia, que tem servido de estímulo para a sua reprodução na sociedade em que vivemos, numa espiral infernal que nos distancia do modelo de sociedade livre de violência na qual gostaríamos de viver.

A violência contra a mulher é um mal que queremos erradicar, pelo que temos militado há décadas. Os acordos e protocolos internacionais firmados pelo Brasil, a luta implementação da Lei Maria da Penha veio coroar os nossos esforços no sentido de tentar inibir tal violência. Seria portanto altamente prejudicial e contraditório que a mídia estimulasse a violência, tão-somente para melhorar os seus próprios índices de audiência! As mulheres querem, merecem, precisam e têm o direito de viver numa sociedade livre de violência de gênero e de qualquer forma de opressão.

Nos parece igualmente prejudicial a nossos interesses, caso a mensagem do Boninho não vise estimular a violência contra as mulheres, mas “a pancadaria” entre os homens.

A banalização e espetacularização da violência têm servido de estímulo para mais-violência na sociedade. Como mães, namoradas, filhas, companheiras, irmãs, amigas, a violência entre os homens não nos interessa. Não há qualquer sentido em “liberar a pancadaria” num programa de grande audiência, sabedoras que somos do estímulo que isso representa para os jovens e adultos.

As masculinidades não devem ser medidas pela violência e é importante ter em mente que não podemos oferecer tais modelos, para muitos jovens que se identificam com esse programa. Finalmente, dizem bem os psicólogos sobre a contribuição destas cenas na formação da subjetividade das crianças, quando não também dos adultos.

Finalmente, por se tratar de um reality show, passa como cenas da vida real, selecionada para estar na mídia. Neste contexto, essa violência, pancadaria estimulada, seria ainda mais nociva à sociedade brasileira, do que a presenciada em filmes e telenovelas, notadamente mais ficcionais.

Assim, exigimos a retratação imediata e pública da “liberação” dada pelo diretor do programa aos componentes do mesmo, bem como sugerimos medidas preventivas, que se contraponham ao discurso proferido, entre as quais recomendamos:

- a veiculação de uma campanha de não-violência (uma geral, e outra, de gênero),

- uma atenção redobrada no sentido de minimizar a quantidade de cenas de violência na programação geral das emissoras de TV e, particularmente, no BBB11.

- Observatório da Mulher;
- Coletivo de Mulheres Ana Montenegro;
- Campanha pela Ética na TV – SP;
- Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero;
- Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras/SP;
- Anas do Brasil – Educação Popular Ampliada;
- Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social;
- AMARC-BRASIL (Associação Mundial de Rádios Comunitárias);
- Fórum da Mulher Tocantinense;
- Jornal MULHERES;
- Jornal H; Palmas/Tocantins;
- SESEG/Amazonas;
- Rede Mulher e Democracia – Alagoas;
- Ciranda Brasil de Comunicação Compartilhada;
- Rede 3setor;
- Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher - Americana – SP, entre outras.

EUA estão em guerra contra os imigrantes

Reproduzo artigo de Jorge Durand, publicado no jornal mexicano La Jornada:

Os Estados Unidos são um país guerreiro, saem de uma guerra para entrar em outra. Pode ser que este seja o destino dos impérios, também quando estão em queda. Além dos inimigos externos, a política nos EUA leva a ter os inimigos internos. Vamos relembrar o período da Lei Seca, em seguida o macartismo, a guerra fria e o anticomunismo. Agora, o perigo está na fronteira e os inimigos são imigrantes sem documentos.

Como em outras épocas, as forças mais obscuras do conservadorismo levam o país do norte a situações extremas e cometem erros históricos excessivos que fomentam o fanatismo, a perseguição, a violência. Muitos republicanos se taxam como “conservadores verdadeiros”, enquanto os liberais, entre eles Barack Obama, sentem-se encurralados e não se atrevem a defender suas posições, muito menos a atacar frontalmente a oposição e os difamadores.

Nas estradas do Texas são colocados anúncios com o rosto de Barack Obama desfigurado e agressivo, com a legenda de socialista ao lado. As campanhas mais absurdas, como a de acusar o presidente Barack Obama de socialista em função de sua proposta de uma reforma no sistema de saúde, ecoa em amplos setores da população. E se Obama não soube ou não conseguiu defender-se, muitos menos os imigrantes que são os mais indefesos e vulneráveis.

A retórica da invasão de imigrantes através da fronteira com o México é feita com as operações Bloqueio, Guardião e, a mais belicista, “Defender a Linha” (Hold the line). A este respeito, o antropólogo Leo Chávez analisa em seu livro “Covering immigration” (Cobrindo a imigração) dezenas de matérias de revistas que descrevem uma fronteira em crise, a necessidade de “fechar a porta”, de prevenir uma “invasão do México”, a preocupação porque a “América muda de cor” e, a mais irônica, sobre o letreiro “English spoken” (Inglês falado), como se o país tivesse perdido a identidade.

Mas as reclamações anti-imigrantes terminam quando o garçom serve a comida, a empregada doméstica limpa a casa e o consumidor compra verduras baratas no supermercado. A mão-de-obra mexicana é fundamental para que o sistema funcione. Mas não é indispensável. Há milhares de pobres no mundo que gostariam de estar no lugar dos mexicanos. E isto eles sabem – manipulam e utilizam o sistema segundo suas conveniências. A única vantagem diferencial é que estamos próximos, disponíveis e somos dispensáveis. Trazer mão-de-obra da China, Índia ou África teria custos adicionais e não poderia ser descartada com tanta facilidade.

A experiência indica que o melhor trabalhador é o que não tem documento, que é tratado como ilegal, que precisa esconder-se, vive com medo, não pode reclamar e carece de direitos. As vistorias são realizadas nas fábricas, nos comércios, nos restaurantes – onde há trabalhadores em excesso e são facilmente substituídos. Já faz alguns anos que não há vistorias em zonas agrícolas, onde faltam trabalhadores e não há reposição – 85% dos trabalhadores agrícolas dos EUA nasceram no México e a maioria não tem documentos. Esta é a maneira como somos tratados há mais de um século.

Uma parte do problema é que os imigrantes tornaram-se visíveis e estão dispersos por todo o território estadunidense. No Texas e na Califórnia sempre houve a presença Mexicana e ela já faz parte da sociedade, da diversidade racial e cultural. Em Arkansas, Geórgia, Alabama, nas Carolinas e em outros novos estados, os imigrantes são os recém chegados, os estrangeiros. A raça de “bronze” altera o equilíbrio racial e ancestral entre brancos e negros. Mas atrás das atitudes anti-imigrantes e legalistas há um conflito racial evidente.

Os afro-americanos aprenderam a levantar a voz diante de qualquer evidência de agressão ou discriminação contra seus irmãos. Os latinos, muitas vezes, ficam inibidos enquanto grupo, carecem de representação política e suportam calados as agressões. Há alguns anos compreendi o motivo, que quando perguntavam a um imigrante mexicano se ele havia se sentido discriminado, quase sempre respondia que não. A resposta foi dada por outro imigrante que estava nos Estados Unidos há muitos anos, quando me explicou que era uma questão de linguagem: se não entende o insulto ou a agressão, o impacto é muito menor e “é melhor...” Se não pode responder em inglês, você não terá nenhuma escolha.

A reforma imigratória foi convertida em um mito. Os republicanos afirmam que o tema só poderá ser discutido quando a fronteira estiver segura. E isto nunca vai acontecer. Sempre haverá incidentes fronteiriços. O muro está incompleto e não foi a solução. Além disso, atrás do muro é necessário um exército para vigiar 3.000 km de fronteira.

Não é só isso. No interior dos EUA é preciso controlar e verificar que só pode ser contratada a pessoa que tem documentação. Mas o sistema de verificação – E-Verif – é lento, complicado e tem muitos erros. Além de precisar fazer o tramite em linha, é preciso fazer uma consulta telefônica e esperar a confirmação. Várias pequenas empresas e empregadores não têm capacidade para fazer isso. São cerca de 10 milhões que trabalham com o número de segurança social falso ou utilizam de outra pessoa, mas a imensa maioria paga impostos.

Os imigrantes irregulares subsidiaram a segurança social com aproximadamente 200 bilhões de dólares. Esse dinheiro vai para um fundo, onde fica acumulado e é utilizado em caso de reclamações. Mas os que não têm documentos não podem reclamar, nunca vão ganhar esse dinheiro e nenhuma aposentadoria. Sem este dinheiro, o sistema de pensões estadunidense estaria quebrado.

Mas os argumentos monetários não contam, quando se trata de imigrantes irregulares. A falta de documentos é um pecado original que mancha para sempre a história de uma pessoa.

* Tradução de Sandra Luiz Alves.

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