domingo, 17 de novembro de 2019

América Latina: a ultradireita contra-ataca

Por Antonio Martins, no site Outras Palavras:

Última lição do dia: os homens, eles voltam sempre. É preciso estar sempre de olhos abertos… Na peça Os Saltimbancos, recriada por Chico Buarque, o aviso é dado pelo Jumento, personagem de fina inteligência. Os Bichos espantaram os Barões e têm, enfim, onde dormir. Mas ainda não podem descansar em paz, porque prepara-se a revanche. Na América Latina, um Outubro Rebelde abalou os governos neoliberais do Chile e do Equador, destronou Maurício Macri na Argentina e continua a sacudir o Haiti. Novembro, porém, começou em refrega.

Afinal, quem deu o golpe na Bolívia?

Por Eric Nepomuceno

A presidente provisória, que logo deve convocar eleições, se chama Jeanine Árñez.

Como na cerimônia de posse ela teve o senador direitista Álvaro Murillo sussurrando junto ao seu ouvido o que deveria dizer, é fácil entender qual será sua autonomia como presidente interina.

Essa senhora insignificante teria força para chegar onde chegou? Não. Era um zero à esquerda até anteontem, continua sendo hoje e continuará amanhã. Chegou onde chegou graças ao golpe desfechado depois que Evo Morales conquistou mais um mandato ao derrotar no primeiro turno o ex-presidente Carlos Mesa.

Inconformado com o resultado, Mesa fez uma denúncia de fraude. Foi essa denúncia que derrubou Evo Morales?

Não: foi só o primeiro estopim.

Bolsonaro reage com cautela a Lula

Foto: Ricardo Stuckert
Por André Barrocal, na revista CartaCapital:

A soltura do ex-presidente Lula criou a expectativa de que o presidente Jair Bolsonaro se daria bem, ao tirar proveito do antipetismo que o ajudou a eleger-se no ano passado.

As reações iniciais do ex-capitão mostram-no cauteloso, no entanto, apesar de ele ter invocado a Lei de Segurança Nacional contra o petista e de tê-lo chamado de “canalha”.

Após inaugurar casas na Paraíba dia 11, Bolsonaro comentou: “Não vou polemizar com esse cara, que continua condenado”.

Na antevéspera, tinha tuitado que não responderia “a criminosos que por ora estão soltos”. E pedia aos apoiadores para não brigarem entre si nem cometerem erros.

“Não dê munição ao canalha, que momentaneamente está livre, mas carregado de culpa”, escreveu.

sábado, 16 de novembro de 2019

Folha de S.Paulo na mira do "capetão"

Bolsonaro no dia do assassinato de Marielle

Novos ventos sopram sobre o Judiciário

Crise na América Latina e os Brics

Tirem suas próprias conclusões!

Bolsonaro recuou na invasão da embaixada

As movimentações financeiras dos Bolsonaro

A influência dos EUA no golpe na Bolívia

República da desigualdade completa 130 anos

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Lula livre, monstros à solta

Por Emiliano José, na revista Teoria e Debate:

A libertação de Lula é um acontecimento de repercussão mundial. Aqueceu os corações de milhões de brasileiros. Despertou novas esperanças na esquerda de todo o mundo. O significado dessa saída da prisão não será apreendida tão rapidamente. Registro: Lula provou estar certo. Não cabia, como tantos propuseram, asilar-se numa embaixada, como não era acertado resistir em São Bernardo no dia 7 de abril de 2018, provocando, quem sabe, um morticínio. Lula sabia: falaria de um jeito ou outro ao povo brasileiro e ao mundo, lutando por sua inocência, e um dia a verdade surgiria, transparente, seus algozes desmascarados, pequenos mentirosos, incapazes de apresentar quaisquer provas, até porque não existiam.

De golpe em golpe, a República estrebucha

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

Sexta-feira, 15 de novembro de 2019, feriado da Proclamação da República.

Para mim, que trabalho de domingo a domingo, hoje é um dia como outro qualquer, nada vejo para comemorar, 130 anos depois.

Se não me falha a memória dos tempos de escola, o que houve no dia 15 de novembro de 1889 foi um golpe militar para destituir o imperador D. Pedro II, seguido de muitos outros golpes até chegarmos aos tenebrosos dias atuais com um ex-militar no poder.

Muita gente não deve lembrar, mas nossos dois primeiros presidentes republicanos foram marechais do Exército.

América Latina na mira dos milicianos

Por Luís Fernando Vitagliano, no site Brasil Debate:

Ao que tudo indica, o que está acontecendo na Bolívia de hoje não é um levante popular. Foram as milícias as responsáveis pelos atos que geraram a total desestabilização do sistema político boliviano. Nos dias que sucederam as eleições, inúmeros representantes do governo, do judiciário e dos parlamentares eleitos foram atacados em suas casas, com suas famílias, por milicianos e renunciaram aos seus mandatos. Não por pressão política, mas por violência explícita. O caso mais escandaloso noticiado pela imprensa brasileira é o da prefeita Patrícia Arce, da pequena cidade de Vinto, próxima a Cochabamba, que foi arrastada pelas ruas, agredida, humilhada e teve seu cabelo cortado. Considerou-se a sua renúncia, mas como se pode discutir renúncia nesse contexto de violência?

Mídia e instrumentalização do direito penal

Por Natália Pinto Costa, no site da Fundação Maurício Grabois:

A atual conjectura política tem corroborado ainda mais com a instrumentalização do direito penal, explica-se melhor, a institucionalização da insegurança, o descrédito em outras instancias de proteção, entre outros motivos que podem ser listados, elevam o direito penal como um instrumento para a solução dos problemas, muitas vezes de cunho social para então criar uma simbolismo penal, perpassando a ideia de que a criação ou o endurecimento das leis penais são a solução para todas as demandas.

A exploração midiática, caracterizada pelo senso comum, por meio de um discurso, sobretudo, hiperpunitivista, contribui para a criação de um inimigo em comum, criando no imaginário social indivíduos que são estereotipados como os responsáveis pela violência e a desordem social, além da exploração do crime como um produto altamente rentável.

O adereço de Guedes e o sentido do governo

Por Sonia Fleury, no site Outras Palavras:

Ao encaminhar ao Senado novas propostas de revisão constitucional – PEC 186 Emergencial e PEC 188 do Pacto Federativo – o ministro Paulo Guedes usava um curioso adereço, bastante estranho a seu perfil de homem do mercado financeiro, cujos padrões estéticos indicadores do sucesso pessoal são bastante conhecidos. Tratava-se de uma pulseira artesanal, tipo as que homenageiam o Senhor do Bonfim na Bahia, na qual se lia APOCALIPSE e o número de um versículo do livro bíblico. Chamou atenção o uso do inusitado adorno, já que o ministro, até então, não fazia parte da ala governamental conhecida pelo fanatismo religioso, situando-se na ala do fanatismo neoliberal.

As figuras que deram o golpe na Bolívia

Por Victor Farinelli, no site Carta Maior:

O golpe de Estado ocorrido na Bolívia no último domingo (10/11) mostrou clara características de racismo e intolerância política. E isso não é um acaso.

O professor José Luis Fiori, um dos maiores intelectuais brasileiros, fez um relato de alguns dos fatos que marcaram aquele início de golpe, e que mostram o tipo atitude que está por trás da avançada golpista:

“Assim como outras tantas, a residência presidencial de Evo foi invadida, depredada e vandalizada. Na parede da sala, uma grande pichação: `Hijo de Puta´. Transmitido pelas TVs um vídeo amador mostrava o ato. Dentro da casa dezenas de jovens de classe média, incluindo muitas meninas adolescentes com casacos do Mickey Mouse. Quem vandalizou a casa de Evo inacreditavelmente foram estudantes de classe média. Mas algo grandioso se revela no próprio vídeo. Se a intenção era depredar a casa de algum político magnata, a surpresa foi geral. Uma casa austera, simples, sem luxo algum. Nenhuma ostentação de nada, nem uma única banheira de hidromassagem, nada. O box onde Evo tomava seus banhos é metade do meu. Ao lado de seu quarto uma salinha minúscula com uma esteira rolante e dois aparelhos de exercício. A mini-academia mais simples que já vi na vida. E é aí que o vídeo acaba mordendo o próprio rabo. Pois ao não encontrarem o luxo que esperavam só restou aqueles jovens mediocrizados pela vida a ridicularização do gosto simplório de seu ex-presidente indígena. E assim ao mirar um par de tênis numa pequena estante um jovem comenta sorrindo: "olha o mal gosto do índio". Eles bem que tentaram. Depredaram, vandalizaram, violentaram. Mas quem saiu digno e erguido, livre de todo aquele lixo que tentaram jogar-lhe, foi um homem nobre e digno chamado Juan Evo Morales Ayma”.

O "Por amor" de Bolsonaro

Por Fernando Brito, em seu blog:

A live presidencial de ontem, na qual Jair Bolsonaro “explica” sua saída do PSL e a criação do tal “Aliança pelo Brasil” é algo que, olhado com um mínimo de seriedade, desvela toda a miséria da política brasileira.

Nenhuma palavra sobre programa de governo, sobre ideias, sobre opiniões.

É só uma questão de “amor”. A ele, é claro:

“Vou começar um partido pobre, sem dinheiro, sem televisão. Quem for para lá vai por amor. É igual casamento, a gente casa por amor”, disse aos repórteres na volta ao Palácio da Alvorada.

Não há como dialogar com Bolsonaro

Por Vinícius Mendes, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:

Quem assistir a Bacurau, codirigido pelos pernambucanos Kleber Mendonça Filho (Recife frio, O som ao redor, Aquarius) e Juliano Dornelles (O ateliê da Rua do Brum), vai ser levado quase obrigatoriamente a fuçar as próprias influências para interpretar o filme.

No exterior, a maior parte da crítica foi estética: Peter Bradshaw, do The Guardian, escreveu que a obra – em cartaz nos cinemas brasileiros desde 29 de agosto – o remeteu ao chileno Alejandro Jodorowsky (El topo e A sagrada montanha), enquanto Manohla Dargis, do New York Times, disse que Bacurau tem algo do norte-americano John Carpenter (Eles vivem) e de um clássico do cinema mundial: Os sete samurais (1954), do japonês Akira Kurosawa. No Brasil, Luiz Carlos Merten, do Estadão, afirmou que o filme continua o estilo western ideológico do baiano Glauber Rocha (Deus e o diabo na terra do sol, O dragão da maldade contra o santo guerreiro). Em julho, Kleber escreveu em seu perfil no Twitter que quer atrair também o público de Jumanji (1996).