segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ditabranda da Folha tortura Dilma

“Grupo de Dilma planejou o seqüestro de Delfim Netto”. Com esta manchete espalhafatosa, que lembra os veredictos dos verdugos do regime militar, a Folha de S.Paulo deu início à campanha de baixarias contra a candidata preferida de Lula. O jornal, que se desgastou e perdeu assinantes ao qualificar a sanguinária ditadura de “ditabranda”, não recua. Ele utilizará todos os meios sujos para “torturar” a ministra Dilma Rousseff, visando fustigar a sua campanha à sucessão de 2010.

A reportagem, inclusive com a “ficha policial” de Dilma, parece ter sido feito sob encomenda para a campanha publicitária do tucano José Serra – que, apesar de ter vivido no exílio durante o regime militar, preferiu se omitir diante do neologismo “ditabranda”, reforçando seus laços com o que há de mais reacionário na sociedade. A ministra é apresentada como assaltante de bancos e planejadora de operações de assassinatos. A imagem construída é de uma “terrorista perigosa”.

A família terrorista dos Frias

A atual ministra até foi entrevistada e negou, de forma taxativa, qualquer participação no plano de seqüestro do ex-ministro Delfim Netto, tzar da economia no regime militar. Mesmo assim, o jornal da Famíglia Frias preferiu estampar na capa o título espalhafatoso, sabendo que milhares de leitores são deformados na leitura instantânea das manchetes e na visualização das fotos. A grosseira manipulação até permitiria a abertura de um processo jurídico por danos morais.

A reportagem, como é comum neste “jornalismo canalha”, também peca por não contextualizar o fato. A ministra fica com a pecha de “terrorista”, já a Famíglia Frias, que apoiou o golpe militar, cedeu suas peruas para transportar presos políticos à tortura e respaldou o setor “linha dura” dos generais fascistas, surge como partidária do jornalismo investigativo e independente. Um engodo que dá ânsia de vomito – ou azia, conforme afirmou o presidente Lula sobre a leitura de jornais.

A nova baixaria da Folha pode, porém, trazer frutos positivos. Mais leitores enojados com tanta manipulação poderão cancelar as suas assinaturas, afetando o bolso e atiçando as brigas entre os herdeiros da Famíglia Frias. Ela também revelou uma ministra que não se intimida diante do terrorismo midiático. Provocada pela repórter, Dilma não vacilou em criticar a Folha. “Minha filha, esse seu jornal não pode chamar a ditadura de ditabranda, viu? Não pode, não. Você não sabe o que é quantidade de secreção que sai de um ser humano quando ele apanha e é torturado”.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

FHC, Lula e a greve na Petrobras

Nos últimos dias, como registrou o Rodrigo Vianna no seu blog “Escrevinhador”, o odiado FHC teve forte exposição na mídia. “FHC em O Globo. FHC no Roda Viva, FHC na Globo News. O ex-presidente voltou com tudo. Ele está em campanha aberta. E há, evidentemente, um esforço concentrado da ‘mídia amiga’ para melhorar sua imagem. No início de 2003, o sociólogo deixou o poder desmoralizado. As privatizações ‘estranhas’, a teimosia em manter a paridade do real com o dólar (o que levou o país à bancarrota em 1998/99), o fracasso do segundo mandato, o crescimento pífio, o ‘apagão’ elétrico Tudo isso transformou FHC num de morto-vivo político”.

Para bajular o seu herói-neoliberal, a “mídia amiga” poderia até ter aproveitado a ocorrência de uma nova greve dos petroleiros para elogiar a postura do ex-presidente no trato com os grevistas. Em maio de 1995, FHC acionou tropas do Exército para derrotar os trabalhadores da Petrobras. As refinarias foram ocupadas por soldados fortemente armados, vários líderes foram detidos, os sindicatos foram penalizados com multas diárias de R$ 100 mil. Até um assessor da “dama de ferro” Margareth Thatcher, hoje internada como louca na Inglaterra, foi acionado para ajudar a “quebrar a espinha dorsal” do sindicalismo. Na ocasião, a revista Veja deu capa para FHC, vestido como soldado entrincheirado, e elogiou a sua truculência.

Petroleiros retomam sua força

Tal lembrança, emblemática da postura autoritária de FHC, não serviria para limpar sua imagem. No caso do governo Lula, com todas suas limitações, a conduta diante da greve na Petrobras foi bem diferente. Depois da derrota histórica de 1995, hoje os petroleiros comemoram a vitória da sua paralisação. Até o jornal Opinião Socialista, do PSTU, estampou: “Petroleiros fazem greve nacional e saem vitoriosos”. A paralisação durou cinco dias, de 23 a 27 de março, e garantiu importantes avanços, como o aumento de 12,5% na PLR (Participação nos Lucros e Resultados), a não punição dos grevistas e a retirada dos interditos proibitórios impetrados pela empresa.

A paralisação contou com 80% de adesão no setor operacional e variou, de 30% a 70%, nas áreas administrativas. Outro dado expressivo do avanço desta categoria estratégica foi que a greve uniu os operários da Petrobras com os terceirizados. Além da pauta econômica, os grevistas também apresentaram exigências políticas, como a defesa da estatização integral da empresa. No triste reinado de FHC, o carrasco neoliberal badalado pela “mídia amiga”, a greve seria tratada como caso de polícia, até como forma de intimidar categorias menos organizadas. Hoje, os petroleiros comemoram o avanço das suas lutas e organização. Muitas batalhas virão pela frente!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A luta pela reestatização da Embraer

No dia 15 de abril, na Assembléia Legislativa de São Paulo, acontecerá o lançamento oficial do Comitê pela Reestatização da Embraer. A sessão foi convocada pelo deputado Pedro Bigardi (PCdoB), atendendo solicitação do comitê composto por quatro centrais sindicais (CTB, NCST, Conlutas e Intersindical) e várias entidades dos movimentos sociais, como a Pastoral Operária e o Movimento dos Sem-Teto (MTST). Criado em 26 de março, na sede da CTB, o comitê tem como prioridade a reversão das 4.270 demissões na empresa e seu retorno ao controle do estado.

Segundo Wagner Gomes, presidente da CTB, o lançamento oficial objetiva conquistar o apoio de amplas forças políticas. Ele lembra que a Embraer foi construída com os tributos do povo, sendo privatizada de forma lesiva aos interesses nacionais, e que até hoje conta com recursos públicos. Somente o BNDES doou à empresa US$ 8 bilhões nos últimos dez anos. Todo este subsídio foi dado sem qualquer contrapartida. A empresa obtém altos lucros – fechou 2008 com R$ 4 bilhões em caixa – e ainda demite os trabalhadores. “É preciso dar um basta”, alerta Wagner Gomes.

TRT condena “demissões abusivas”

A luta contra a Embraer é plenamente justificável. Ela mostrou a sua total falta de compromisso diante dos trabalhadores e da nação brasileira com a dispensa arbitrária de 4.270 operários. Até o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) considerou as demissões abusivas e condenou a empresa a pagar mais dois avisos prévios aos desempregados e a estender o convênio médico às famílias. A decisão, porém, não resolve o drama dos desempregados e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos já solicitou novo julgamento no Tribunal Superior do Trabalho (TST).

“A decisão do TRT quanto à indenização não nos agradou. Foi uma condenação muito pequena. Por isso, vamos recorrer. Mas é importante que as demissões sejam consideradas abusivas, já que isso gera um precedente jurídico relevante”, afirma Luiz Carlos Prates, dirigente do sindicato e da Conlutas. Para ele, “o julgamento do TRT mostra que é preciso que os trabalhadores de todo o país se mobilizem para pressionar o governo pela elaboração de uma lei que proíba as demissões imotivadas, ratificando a Convenção 158 da OIT, e que garanta a estabilidade no emprego”.

Uma privatização criminosa

Além da luta contra as demissões, o comitê pretende intensificar o debate sobre a reestatização. A Embraer é hoje a terceira fabricante de aviões no mundo e a segunda maior responsável pelas exportações brasileiras. Com sedutor esquema publicitário, ela apela ao orgulho nacional. Mas, como afirma Gustavo Sixel, “há muito ela não é brasileira... Em dezembro de 1994, uma batida de martelo concluiu a entrega deste patrimônio. Os 57 minutos de espera não foram suficientes para o preço subir. O lance de R$ 154,1 milhões foi apenas 0,3% maior do que o preço mínimo. E foi pago com ‘moeda podre’, com títulos da dívida pública comprados com deságio”.

Ou seja, a empresa não foi vendida, mas entregue a preço de banana. Poucos meses após o leilão, ela já valia R$ 1,7 bilhão. Hoje, estima-se que ela pode valer dez vezes mais – R$ 17 bilhões. No rastro da privatização, veio a entrega ao capital estrangeiro. Apesar do edital da venda limitar em 40% a participação externa, hoje mais de 50% das ações ordinárias estão nas mãos das empresas multinacionais. O governo federal, o BNDES e o fundo de pensão Previ, juntos, têm quase 20% das ações. O restante se encontra sob total controle da Bolsa de Valores de Nova Iorque e dos fundos de investimento dos EUA, como a Janus, a Oppenheimer e Thornburg.

Remessa de lucro e demissões no país

“A Embraer foi entregue. Não é uma empresa brasileira, como ela faz crer, mais sim mais uma multinacional instalada aqui... A idéia da reestatização está muito longe de parecer absurda. No caso da Embraer, menos ainda. Os lucros são recordes, ano a ano. As encomendas de aeronaves superam as de 2008. Há recursos em caixa para manter todos os funcionários por dois anos, a ponto dos diretores terem dividido R$ 50 milhões entre si, como bônus. Há plenas condições de manter os funcionários, inclusive reduzindo a jornada sem reduzir os salários. Mas a prioridade é o lucro: cerca de 60% do faturamento vai para os acionistas”, garante o jornalista Gustavo Sixel.

Enquanto remete os lucros ao exterior, a Embraer arranca dinheiro dos cofres públicos. A ajuda do governo, inclusive através do Fundo de Amparo aos Trabalhadores (FAT), já financiou mais de 500 aeronaves. “Ao todo, R$ 19,7 bilhões foram liberados desde 1995. Dinheiro que, no fim das contas, serve para garantir o lucro dos acionistas da Embraer na Bolsa de Nova Iorque, enquanto milhares de trabalhadores brasileiros são demitidos. Isto sim é um verdadeiro absurdo”.

terça-feira, 31 de março de 2009

Mídia oculta protestos de trabalhadores

No livro “Caminhos para uma comunicação democrática”, editado pelo jornal Le Monde Diplomatique, o sociólogo espanhol Manuel Castells, renomado estudioso da área de comunicação, afirma: “A maior influência que a mídia exerce sobre a política não é proveniente do que é publicado, mas do que não o é, de tudo o que permanece oculto, que passa despercebido. A atividade midiática repousa sobre uma dicotomia: algo existe no pensamento do público se está presente na mídia. O seu poder fundamental reside, portanto, na sua capacidade de ocultar, de mascarar, de omitir”.

O raciocínio de Castells se encaixa perfeitamente à cobertura que a mídia deu ao Dia Nacional de Luta e Mobilizações em Defesa do Emprego e dos Direitos, nesta segunda-feira (30). Na fase dos preparativos, os jornalões e as emissoras de televisão simplesmente não deram qualquer destaque a esta iniciativa histórica, que uniu as oito centrais sindicais e os principais movimentos sociais – como UNE e MST. Nem sequer uma linha do manifesto unitário, que exigiu “emprego e salário, manutenção e ampliação dos direitos, redução dos juros e da jornada de trabalho sem redução salarial, reforma agrária e investimentos em políticas sociais”, foi divulgada à sociedade.

A inutilidade de Sardenberg

A omissão foi ainda mais criminosa no dia do protesto. Ocorreram manifestações em 20 capitais e em várias cidades de porte. Cálculo parcial aponta que mais de 80 mil pessoas participaram da jornada de lutas em todo o país. Na capital paulista, 20 mil pessoas andaram vários quilômetros, realizando paradas em frente à sede da Federação das Indústrias (Fiesp), do Banco Central e da Bolsa de Valores. Ocorreram também bloqueios de estradas promovidos pelo MST, paralisações de escolas organizadas pelas entidades estudantis, ocupações de prédios públicos. Nada disso foi motivo de maior destaque na mídia hegemônica, que preferiu “ocultar, mascarar e omitir”.

Nos jornalões, o ato teve poucas linhas e nenhuma manchete. Virou nota nas páginas internas. Já as emissoras de televisão, que são concessão pública, preferiram desqualificar o protesto. Quase em uníssono, todas criticaram a manifestação em São Paulo, que “congestionou o trânsito”. Seus comentaristas regiamente pagos – talvez de ressaca pela prisão relâmpago de Eliana Tranchesi, a dona da ilícita casa de luxo Daslu – fizeram silêncio ou atacaram os organizadores do ato. Carlos Sardenberg, recentemente promovido na TV Globo, ousou afirmar que “o protesto foi inútil”. Se o que sai na TV é o que realmente existiu, o contundente protesto de 30 de março não existiu.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Resposta unitária dos trabalhadores à crise

Nesta segunda-feira, 30 de março, os trabalhadores irão às ruas em todo o país para exigir que o ônus da grave crise capitalista mundial não seja jogado sobre as suas costas. Estão previstos atos públicos, passeatas e paralisações relâmpagos em todas as capitais e nas principais cidades. Será a maior manifestação no Brasil desde a eclosão da fase aguda crise, no final do ano passado. Será também um momento singular e histórico de unidade do sindicalismo e dos movimentos sociais.

Todas as centrais sindicais (CTB, CUT, Força, UGT, NCST, UGT, Conlutas e Intersindical) e as maiores confederações verticais se uniram na convocação desde dia nacional de luta. Até setores mais avessos às ações conjuntas, como a Conlutas, aderiram ao protesto. Além do sindicalismo, a manifestação conta com o engajamento do que há de mais representativo nos movimentos sociais brasileiros. A União Nacional dos Estudantes (UNE) aprovou a participação no seu conselho de entidades gerais. O Movimento dos Sem-Terra (MST) fará marchas em vários estados.

Primeiro passo de uma longa jornada

Como afirma o manifesto unitário, “os trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade estão unidos contra a crise e as demissões, por emprego e salário, manutenção e ampliação de direitos, redução dos juros e da jornada de trabalho sem redução de salários, reforma agrária e em defesa dos investimentos em políticas sociais... O povo não é culpado pela crise. Ela é resultante de um sistema que entra em crise periodicamente e transformou o nosso planeta em um imenso cassino financeiro, com regras ditadas pelo ‘deus-mercado’. Diante do fracasso desta lógica excludente, eles querem que a classe trabalhadora pague a fatura em forma de demissões, redução de salários e de direitos, injeção de recursos do BNDES e criminalização dos movimentos sociais. Basta!”.

O protesto unitário desta segunda-feira será o primeiro passo de uma jornada que deve ser dura e longa. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a atual crise poderá gerar mais de 51 milhões de demissões no planeta. O Brasil já contabiliza as suas vítimas. O IBGE divulgou nesta semana que a taxa de desemprego em fevereiro teve a segunda alta consecutiva, passando de 8,2% em janeiro para 8,5%. No mesmo período, ainda segundo o IBGE, o rendimento médio real domiciliar per capita recuou 1%, para R$ 835,21. Já o Dieese, que tem um critério mais amplo de aferição do desemprego, informa que a taxa subiu de 13,1% para 13,9% em fevereiro.

Preparar ações de maior envergadura

O Dia Nacional de Luta e Mobilização em Defesa do Emprego e dos Direitos será também um teste sobre a capacidade de resistência dos trabalhadores brasileiros à crise mundial. Na França, uma poderosa greve geral evidenciou o grau de radicalidade que está jornada pode adquirir; na Inglaterra, Portugal, Grécia e Alemanha, entre outros países europeus, a mobilização já atinge novos estágios, com ocupações de fábricas, paralisações e passeatas quase que diárias. O protesto unitário desta segunda-feira pode preparar ações de maior envergadura também no Brasil.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Remessa de lucros sangra o Brasil

Nos dez primeiros dias do mês de março, as multinacionais transferiram para as suas matrizes no exterior US$ 3,266 bilhões. A sangria foi maior do que em todo o mês de janeiro e indica que a questão da remessas de lucros torna-se um gravíssimo problema para o Brasil num momento de acirramento da crise mundial capitalista. A denúncia, feito com base em dados oficiais do Banco Central, foi publicada por Carlos Lopes, editor do jornal Hora de Povo, e deveria servir de alerta às autoridades econômicas do país, antes que a “marolinha” se transforme de vez num tsunami.

“Entraram no país US$ 7,169 bilhões, somando dinheiro meramente especulativo (que tem como destino a Bolsa de Valores ou títulos públicos), o ‘investimento direto estrangeiro’ (dinheiro para comprar empresas, ampliar a participação acionária externa ou empréstimos da matriz a filial de empresa estrangeira) e empréstimos externos para empresas brasileiras. Segundo o BC, a maior parte do que entrou deveu-se, principalmente, às ‘operações financeiras’. Porém, saíram US$ 10,435 bilhões em remessas de lucros e dividendos. Portanto, o país perdeu US$ 3 bilhões e 266 milhões em apenas dez dias”, enfatiza Carlos Lopes, para quem esta sangria é criminosa.

A herança maldita de FHC

O jornalista, um nacionalista convicto, acompanha com preocupação o aumento da remessa de lucros nos últimos meses. Ele já havia denunciado, em outro artigo, que em janeiro as perdas foram de US$ 2,251 bilhões; em fevereiro, o resultado preliminar indicou perda de US$ 2,30 bi. Agora, em apenas dez dias, a sangria já atinge US$ 3,266 bilhões. “Isto mostra que as empresas estrangeiras estão acelerando a drenagem de recursos do país e que a conta do entreguismo de Fernando Henrique e comparsas, com suas comemorações aos bilhões de dólares que entraram no país para comprar empresas públicas e privadas, tende a ser cobrada de forma dramática”.

Antes mesmo da eclosão da atual crise mundial, a política entreguista de FHC já tinha cobrado o seu preço. De 1999 até 2006, entraram no país US$ 124 bilhões e foram remetidos ao exterior US$ 223 bilhões – saldo negativo de US$ 99 bilhões. “Mas, se isso já era verdade antes da crise, quando esta aparece, a drenagem de recursos dos países onde os monopólios externos têm filiais torna-se, na razão direta do pânico e do rombo a cobrir, mais e mais desesperada. Assim, a crise começou em setembro e as multinacionais remeteram US$ 57,234 em 2008, o que significa que num único ano elas remeteram para fora um quarto do que enviaram em oito anos (1999-2006)”.

Medidas drásticas contra a sangria

Como observa Carlos Lopes, as multinacionais não têm qualquer compromisso com o Brasil. “O compromisso desse capital é com sua matriz – no máximo, com algumas camadas de seu país de origem. Não é com o nosso país. O seu inchaço aqui dentro serve apenas para aumentar de forma gigantesca as remessas de lucros ao exterior, tanto as oficiais quando as disfarçadas sob a forma de empréstimos à matriz, royalties, etc. [...]. Com a crise, obviamente, essa drenagem de recursos tende a ser tornar avassaladora. Ao mesmo tempo, os saldos comerciais tendem a ser menores – em janeiro, tivemos o primeiro déficit comercial mensal em oito anos”, escreveu em outro texto.

Estes números alarmantes mostram que o governo Lula necessita, urgentemente, tomar medidas para conter a sangria de recursos. Como afirma Carlos Lopes, as potências imperialistas “estão tentando se proteger, ou escapar da crise, às nossas custas. O que significa que nós devemos nos proteger da sanha deles”. Medidas efetivas, como o controle da remessa de lucros e do fluxo de capitais, que tanto aterrorizam os neoliberais – inclusive alguns infiltrados no atual governo –, deveriam voltar a fazer parte da agenda política num momento em que o capitalismo afunda e tenta repassar o ônus da crise para as nações periféricas e para os trabalhadores.

quinta-feira, 26 de março de 2009

FHC está com saudades da “ditabranda”

Torcendo para que a crise mundial abale a popularidade do presidente Lula, o agourento FHC resolveu soltar a sua língua ferina. Em apenas dois dias, o “príncipe da Sorbonne” falou duas besteiras retumbantes. Talvez influenciado pela Folha de S.Paulo, que recentemente cunhou o odioso termo “ditabranda” para se referir ao sombrio período da ditadura no país, afirmou: “Aí que saudades do governo militar, quando eu podia falar”. Foi uma resposta intempestiva a uma justa alfinetada de Lula, que recentemente afirmou que “tem ex-presidente que fala demais”.

Talvez FHC esteja com saudades da fase em que viveu no exílio, quem sabe “brando”, durante o regime militar. Nos anos de chumbo da ditadura não se “podia falar” à vontade no país, marcado por prisões arbitrárias, torturas, mortes, cassação de parlamentares, intervenção nos sindicatos e censura à imprensa alternativa. Ou talvez FHC esteja com saudades do seu reinado de oito anos no Palácio do Planalto, quando acionou as tropas do Exército para reprimir a greve da Petrobras e desqualificou as criticas ao seu governo, taxando-as de “blábláblá”. Bem diferente de Lula, sua gestão foi autoritária e fez de tudo para “quebrar a espinha dorsal” dos movimentos sociais.

Corrupção e caradura dos tucanos

A outra pisada na bola de FHC ocorreu durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, no qual ele afirmou, descaradamente, que no governo Lula “a corrupção é endêmica. A diferença [entre a minha administração e atual] é de atitude: não posso dizer que não teve, mas garanto que eu não compactuei com ela. Nunca passei a mão na cabeça de corrupto [ao contrário do presidente Lula]”, registrou, excitada, a Folha. Este jornal, hoje um dos principais palanques da oposição neoliberal-conservadora, deveria, no mínimo, citar as denúncias de corrupção durante o governo de FHC. E olha que não foram poucas. Vale à pena refrescar a memória de FHC e de Otavinho:

- Sivam. Logo no início do primeiro mandato de FHC, denúncias de corrupção e de tráfico de influencias no contrato de US$ 1,4 bilhão na criação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) derrubaram o um ministro e dois assessores do presidente. Mas a CPI instalada no Congresso, após intensa pressão, foi esvaziada pelos aliados do governo e resultou apenas num relatório com informações requentadas ao Ministério Público;

- Pasta Rosa. Pouco depois, em agosto de 1995, eclodiu a crise dos bancos Econômico (BA), Mercantil (PE) e Comercial (SP). Através do Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro (Proer), FHC beneficiou com R$ 9,6 bilhões o Econômico numa jogada política para favorecer o seu aliado ACM. A CPI instalada não durou cinco meses, justificou o “socorro” aos bancos quebrados e nem sequer averiguou o conteúdo da pasta rosa, que trazia o nome de 25 deputados subornados pelo Banco Econômico;

- Precatórios. Em novembro de 1996 veio à tona a falcatrua do pagamento de títulos no Departamento de Estradas de Rodagem (Dner). Os beneficiados pela fraude pagavam 25% do valor destes precatórios para a quadrilha que comandava o esquema, resultando num prejuízo à
União de quase R$ 3 bilhões. A sujeira resultou na extinção do órgão, mas os aliados de FHC impediram a criação da CPI para investigar o caso;

- Compra de votos. Em 1997, gravações telefônicas colocaram sob forte suspeita a aprovação da emenda constitucional que permitiria a reeleição de FHC. Os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, teriam recebido R$ 200 mil para votar no projeto. Eles renunciaram ao mandato e foram expulsos do partido, mas o pedido da CPI foi bombardeado pelos governistas;

- Desvalorização do real. Num nítido estelionato eleitoral, FHC promoveu a desvalorização do real no início de 1999. Para piorar, socorreu com R$ 1,6 bilhão os bancos Marka e FonteCidam – ambos com vínculos com tucanos de alta plumagem. A proposta de criação da CPI tramitou durante dois anos na Câmara Federal e foi arquivada por pressão da bancada governista;

- Privataria. Durante a privatização da Telebrás, grampos no BNDES flagraram conversas entre Luis Carlos Mendonça de Barros, ministro das Comunicações, e André Lara Resende, dirigente do banco. Eles articulavam o apoio da Previ, o Banco do Brasil, para beneficiar o consórcio do banco Opportunity, que tinha como um dos donos o tucano Pérsio Árida. A negociata teve valor estimado de R$ 24 bilhões. Apesar do escândalo, o governo sabotou a instalação da CPI. O outro envolvido neste escândalo foi Daniel Dantas, o especulador “muito competente”, segundo outra besteira dita recentemente por FHC;

- Eduardo Jorge. O secretário-geral de FHC foi alvo de inúmeras denúncias no reinado tucano: esquema de liberação de verbas no valor de R$ 169 milhões para o TRT-SP; montagem do caixa-dois para a reeleição; lobby para favorecer empresas de informática com contratos no valor de R$ 21,1 milhões só para a Montreal; e uso de recursos dos fundos de pensão nas privatizações.

- CPI da Corrupção. Em 2001, chafurdando na lama, o governo ainda bloqueou a abertura de uma CPI para apurar todas as denúncias contra a sua triste gestão. Foram arrolados 28 casos de corrupção, que depois se concentraram nas falcatruas da Sudam, na privatização da Telebrás e no envolvimento do ex-ministro Eduardo Jorge.

A pisada na bola de Lula

Toda essa imundice no ninho tucano ficou impune, com a cumplicidade da maior parte da mídia. FHC também contou com a ajuda do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, que por isso foi batizado de “engavetador-geral”. Dos 626 inquéritos instalados até maio de 2001, 242 foram engavetados e outros 217 foram arquivados. Eles envolviam 194 deputados, 33 senadores, 11 ministros e ex-ministros e, em quatro, o próprio FHC. Nada foi apurado e FHC afirma hoje, na maior caradura, que “nunca passei a mão na cabeça de corrupto”. Haja paciência!

Logo no início do seu primeiro mandato, Lula se jactou de ter rejeitado terminantemente a idéia da abertura das investigações sobre a “herança maldita” da corrupção tucana. Diante da língua ferida de FHC, talvez ele já tenha se arrependido de tanta “bondade”!

quarta-feira, 25 de março de 2009

A mídia e o golpe militar de 1964

O neologismo “ditabranda”, cravado no editorial de 17 de fevereiro da Folha de S.Paulo, serviu para desmascarar este veículo, que vende a imagem publicitária de que é um jornal independente e plural – de “rabo preso com o leitor”. A revisão histórica sobre a sanguinária ditadura militar brasileira custou à Folha um manifesto de repúdio com mais de 8 mil adesões e um emocionante protesto em frente à sua sede com cerca de 500 presentes. Numa manobra marota, o diretor de redação, Otavio Frias Filho, foi obrigado a se retratar, parcialmente, do odioso neologismo.

O forte desgaste na sociedade teve também um alto custo material, o que deve ter apavorado os herdeiros da Famíglia Frias. Segundo revela o blog de Leonardo Sakamoto, “os leitores chiaram. Fontes de dentro do jornal dizem que uma onda de cancelamento de assinaturas teria acendido a luz amarela. Fala-se em perdas de até 2 mil assinantes”. Outro jornalista bem informado sobre os bastidores da mídia, Rodrigo Vianna, informa que “a fuga de leitores teria enfraquecido ainda mais a posição interna de Otavinho. Ele o irmão Luis Frias travam uma guerra pelo comando do grupo desde a morte do pai”. A “retratação” de Otavinho foi uma tentativa de “conter a sangria”.

Os editoriais dos golpistas

O episódio também serviu para relembrar o papel da mídia no período da ditadura. Mas, justiça seja feita, não foi somente o Grupo Folhas que clamou pelo golpe e que deu apoio à ditadura na sua fase mais sombria – de prisões ilegais, torturas, mortes, censura, cassação de parlamentares, fechamento de sindicatos e outras violências. Com a aproximação da fatídica data do golpe, vale citar a conduta de outros veículos privados de comunicação. A postura destes no passado ajuda a entender sua linha editorial reacionária na atualidade. Reproduzimos alguns editoriais da época, coletados pelo jornal Brasil de Fato:

- “Vive a nação dias gloriosos. Porque souberam se unir todos os patriotas [...] para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para os rumos contrários à sua vocação e tradições... Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegem de seus inimigos”. O Globo.

- “Desde ontem se instalou no país a verdadeira legalidade... Legalidade que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de mais fundamental ela tem... A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas... Aqui acusamos o Sr. João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida, na desordem social e na corrupção generalizada”. Jornal do Brasil.

- “Multidões em júbilo na Praça da Liberdade. Ovacionados o governador do estado e os chefes militares. O ponto culminante das comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao Palácio da Liberdade”. Jornal O Estado de Minas.

- “Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr. João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comunos-carreiristas-negocistas-sindicalistas. Um dos maiores gatunos que a história brasileira já registrou, o Sr. João Goulart passa outra vez à história, agora também como um dos grandes covardes que ela já conheceu”. Tribuna da Imprensa, na época sob comando do governador golpista Carlos Lacerda.

Fato histórico documentado

Como aponta o professor Venício de Lima, num excelente artigo na Carta Maior, “a participação ativa dos grandes grupos de mídia na derrubada do presidente João Goulart já é um fato histórico fartamente documentado”. Não dá para escondê-lo. Daí a tentativa da Folha e de outros veículos de revisar a história da ditadura e reconstruir o seu significado, inclusive com a criação de novos termos – como “ditabranda”. Ele sugere o livro “1964: A conquista do Estado”, obra clássica de René Dreifuss, para se entender este sombrio período e postura golpista da mídia hegemônica.

“Através das centenas de páginas do livro de Dreifuss o leitor interessado poderá conhecer quem foram os conspiradores e reconstruir detalhadamente suas atividades, articuladas e coordenadas por suas instituições, fartamente financiadas por interesses empresariais nacionais e estrangeiros: o IBAD e o IPES... No que se refere especificamente ao papel dos grupos de mídia, sobressai a ação do GOP, Grupo de Opinião Pública ligado ao IPES e constituído por importantes jornalistas e publicitários. O capítulo VI, sobre ‘a campanha ideológica’, traz ampla lista de livros, folhetos e panfletos publicados pelo IPES e uma relação de jornalistas e colunistas a serviço do golpe”.

Para o professor Venício de Lima, é essencial revisitar esta história, principalmente no momento em que o país debate a democratização da mídia. “Não são poucos os atores envolvidos no golpe de 1964 – ou seus herdeiros – que continuam vivos e ativos. A grande mídia brasileira, apesar de muitas mudanças, continua basicamente controlada pelos mesmos grupos familiares, políticos e empresariais. O mundo mudou, o país mudou. Algumas instituições, porém, continuam presas ao seu passado. Não deve surpreender que eventualmente transpareçam suas verdadeiras posições e compromissos, expressos em editoriais, notas ou, pior do que isso, disfarçados na cobertura jornalística cotidiana. Tudo, é claro, sempre feito ‘em nome e em defesa da democracia”.

terça-feira, 24 de março de 2009

Conferência de comunicação gera disputas

A Conferência Nacional de Comunicação nem foi convocada oficialmente e já é alvo de ataques e sabotagens. Ela foi anunciada inesperadamente pelo presidente Lula no Fórum Social Mundial, em Belém, no final de janeiro, sendo motivo de comemoração para todos os que lutam contra a ditadura midiática no país. Na sequência, foram feitas varias reuniões em Brasília para definir o temário e a comissão organizadora, mas a decreto oficial de convocação ainda não foi publicado. Esta demora preocupante se deve a intensa disputa de bastidores sobre os rumos da conferência.

No próprio governo, as divergências são visíveis. O ministro Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação Social, defende que a conferência discuta as concessões públicas, a propriedade cruzada e a concentração da mídia, num processo que sirva para democratizar este setor. Já o ministro das Comunicações, Hélio Costa, afirmou em recente palestra que “a democratização da comunicação sempre existiu no governo Lula. Não precisa de uma conferência nacional para fazer a democratização de nada”, polemizou, contrapondo-se ao próprio presidente.

Guerra no meio empresarial

As divergências também estão acirradas nos meios empresariais. Os barões da mídia temem que a convergência digital acelere a invasão das multinacionais da telefonia no setor. Eles fazem um discurso em defesa da produção cultural brasileira, mas não aceitam tocar nos seus privilégios – no monopólio midiático que manipula corações e mentes. Paulo Tonet, da Associação Nacional de Jornais, expressou bem esta contradição, ao criticar o debate sobre a concentração do setor e ao defender que a conferência discuta apenas “o conteúdo nacional da produção”. Nesta guerra entre as teles e os barões da radiodifusão, a sociedade brasileira está totalmente excluída, alijada.

Mesmo com suas diferenças, os dois segmentos do capital se unem para evitar que a conferencia democratize, de fato, os meios de comunicação. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que expressa os interesses de ambos, recentemente atacou o presidente Lula por suas “críticas desmedidas” à mídia e manifestou temor com o evento. Já os jornalões e emissoras de televisão destilam veneno contra a participação da sociedade. A Folha de S.Paulo, por exemplo, publicou reportagem marota sobre os gastos públicos com o evento, previstos em R$ 8,2 milhões. Quanto menor a estrutura, mais difícil será o acesso e a participação das organizações da sociedade civil.

Limites ao poder incontrolado

Como alerta o professor Laurindo Leal, a gritaria indica que “a campanha contra já começou. E a ordem veio de cima, bem de cima: da associação internacional dos donos da mídia no continente, conhecida pela sigla SIP. Ela se diz preocupada ‘porque os debates serão conduzidos por ONGs e movimentos sociais que pretendem interferir no funcionamento da imprensa’. A expressão pode ser traduzida pelo temor diante da possibilidade de um debate mais sério e aprofundado sobre o pensamento único imposto pelos grandes meios de comunicação. Afinal, debates como o proposto podem conduzir a ações práticas, capazes de impor limites a esse poder incontrolado”.

Profundo conhecedor do poder da ditadura midiática, ele adverte que será preciso intensa pressão da sociedade para garantir uma conferência democrática. Do contrário, ela poderá ser manietada. Ele lembra que a divisão entre as teles e a radiodifusão pode servir como brecha aos movimentos sociais. Mas não alimenta ilusões. “Do lado patronal, dificilmente sairia posição diferente, afinal estão defendendo interesses de classe seculares... Daí a importância da mobilização, necessária para impedir que os interesses empresariais da mídia se sobreponham aos da sociedade”.

Ilusões e avanços do governo Lula

Estas disputas explicam a demora na convocação da conferência. Apesar da guerra de bastidores, tudo indica que ela será oficializada. O governo Lula sofreria baita desgaste se recuasse agora. A realização de um debate democrático, com ampla participação da sociedade, é anseio e demanda dos movimentos sociais brasileiros. A proposta da conferência fez parte da plataforma de Lula nas eleições de 2002, mas o governo preferiu conciliar com a oligarquia midiática, num misto de ilusão de classe e de tentativa pragmática de neutralizar os veículos privados.

A manipulação da mídia na eleição presidencial de 2006 fez com que o governo Lula acordasse, parcialmente, para este desafio estratégico. Uma iniciativa positiva foi a da criação da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), responsável pela TV Brasil. O presidente também passou a polemizar mais com mídia privada, o que irritou a SIP. O anúncio da conferência em Belém foi outra iniciativa positiva. A questão agora é garantir que o processo seja realmente democrático, garantindo a ampla participação da sociedade num debate cada vez mais candente.

segunda-feira, 23 de março de 2009

A máfia da mídia (SIP) condena Lula

Em relatório divulgado na semana passada, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que reúne os magnatas da mídia privada, incluiu o presidente Lula na lista dos governantes contrários à “liberdade de expressão” – junto com Hugo Chávez, Evo Morales e outros. O texto afirma que “o presidente brasileiro sempre ataca a imprensa e lança críticas desmedidas quando o enfoque do noticiário não lhe agrada”. A SIP teme as mudanças políticas na America Latina. “Agora são os governos que não só estão abusando da imprensa, como estão atiçando as chamas do ódio”.

Para justificar a inclusão de Lula na lista, o documento menciona a tentativa do governo de criar, em 2004, o Conselho Federal de Jornalismo, e as críticas do presidente às manipulações da mídia – como na recente entrevista à revista Piauí, no qual afirmou “que a leitura dos jornais lhe causa azia”. A maior preocupação da SIP, entretanto, é com a convocação da Conferência Nacional de Comunicações para dezembro. Ela teme que este processo prejudique a “liberdade de imprensa” e já pressiona o governo para limitar este debate democrático e estratégico na sociedade.

Instrumento do imperialismo ianque

A SIP realmente não gosta da democracia. Ela reúne os barões da mídia que apoiaram os golpes militares no continente e sustentaram as ditaduras sanguinárias. No auge do neoliberalismo, eles prosperaram com os subsídios públicos e na orgia do “livre mercado”. Agora, estão desesperados com as vitórias de governantes progressistas na América Latina e com o debate destravado sobre a democratizaçao das comunicações. A SIP é a fachada desta máfia midiática. Não tem qualquer moral para falar em “liberdade de imprensa”, que ela confunde com liberdade dos monopólios.

Sedida em Miami, ela defende os interesses das corporaçoes capitalistas, dissemina as políticas imperialistas dos EUA e agrega os setores mais reacionários da mídia. A SIP se apresenta como “independente” dos governos, mas seu presidente é primo do ministro da Defesa e irmão do vice-presidente da Colômbia. No seu relatório anterior, ela teve a caradura de elogiar os “avanços” na relação do governo narco-terrorista de Álvaro Uribe com a imprensa, sendo que a Colômbia é um dos recordistas mundiais em assassinatos de jornalistas e sindicalistas.

Jules Dubois, o homem da CIA

Num acalentado estudo, intitulado “Os amos da SIP”, o jornalista Yaifred Ron faz um histórico assustador desta entidade. Conforme comprova, “a Sociedade Interamericana de Imprensa é um cartel dos grandes donos de meios de comunicação do continente, que nasceu nos marcos da II Guerra Mundial e se moldou no calor da Guerra Fria para protagoniar uma história de defesa dos interesses oligopólicos, de aliança com os poderes imperiais e de atentados contra a soberania dos povos latino-americanos”. Com base em inúmeros documentos, ela demonstra que a entidade tem sólidos e antigos vínculos com a central de “inteligência” dos EUA, a temida CIA.

Ela foi fundada em 1943 numa conferência em Havana, durante a ditadura de Fulgencio Batista. Num primeiro momento, devido à aliança contra o nazi-fascimo, ela ainda reuniu alguns veículos progressistas. Mas isto durou pouco tempo. Com a onda marcatista nos EUA e a guerra fria, ela foi tomada de assalto pela CIA. Em 1950, na quinta conferência, em Quito, dois funcionários da agência ianque, Joshua Powers e Jules Dubois, passam a comandar na entidade. Dubois será seu coordenador durante 15 anos e teve seu nome registrado no edifício da entidade em Miami.

Desestabilizar governos progressistas

A SIP se torna um instrumento da CIA para desestabilizar os governos progressistas da América Latina. Para isso, os estatutos foram adulterados, garantindo maioria às publicações empresariais dos EUA; a sede foi deslocada para Miami; e as vozes críticas foram alijadas. “Em resumo, eles destruíram a SIP como entidade independente, transformado-a num aparato político a serviço dos objetivos internacionais dos EUA”, afirma Yaifred. Na década de 50, ela fez raivosa oposição ao governo nacionalista de Juan Perón e elegeu o ditador nicaragüense Anastácio Somoza como “o anjo tutelar da liberdade de pensamento”. Nos anos 60, seu alvo foi a revolução cubana; nos anos 70, ela bombardeou o governo de Salvador Allende, preparando o clima para o golpe no Chile.

“A ligação dos donos da grande imprensa com os regimes ditatoriais latino-americanos tem sido suficientemente documentada e citada em várias ocasiões para demonstrar que as preocupações da SIP não se dirigem a defesa da liberdade, mas sim à preservação dos interesses empresariais e oligárquicos”. Na fase mais recente, a SIP foi cúmplice do golpe midiático na Venezuela, em abril de 2002, difundido todas as mentiras contra o governo democrático de Hugo Chávez. Este não vacilou e considerou seus representantes como personas non gratas no país. Ela também tem feito ataques sistemáticos aos governos de Evo Morales, Rafael Correa e Cristina Kirchner.

Medo da conferência no Brasil

Atualmente, o maior temor da SIP decorre das mudanças legislativas que objetivam democratizar os meios de comunicação na América Latina. Qualquer iniciativa que vise regulamentar o setor e diminuir o poder dos monopólios é taxada de “atentado à liberdade de imprensa”. Como informa Yaifred, “para frear qualquer ação governamental que favoreça a democratização da mídia, a SIP se uniu a outra entidade patronal regional, a Associação Interamericana de Radiodifusão (AIR)”. Ambas declararam guerra as mudanças legislativas em curso na Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina. Daí o medo da realização da Conferência Nacional de Comunicação no Brasil e os ataques descabidos ao presidente Lula, que até é bastante conciliador com os barões da mídia.

sexta-feira, 20 de março de 2009

A democratização da mídia… na Argentina

Numa atitude ousada e corajosa, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, resolveu enfrentar a ditadura midiática. Enviou ao parlamento um projeto de lei dos serviços de comunicação social para substituir a lei da radiodifusão imposta pelo regime militar (1976-1983). Ao anunciá-lo, ela afirmou que o projeto “é uma dívida da democracia”. Conforme explicou, a lei é “para que todos possam pensar por si mesmos e não como indicam uma rádio ou um canal de televisão... Os bens de caráter social não podem ser monopolizados por um setor ou por uma empresa que acreditam ser os donos da expressão de todo um povo”. Cristina Kirchner parecia se referir ao Brasil!

Entre outros avanços, o projeto limita em 35% a concentração no ramo de TV a cabo; reduz de 24 para 10 o número de concessões por empresa; reserva 33% do espectro da radiodifusão para as entidades sem fins lucrativos, inclusive sindicatos; fixa um calendário de “eventos de interesse público” para transmissão obrigatória; cria o Conselho Multisetorial e Participativo, composto por acadêmicos e entidades populares; apóia a produção local mediante cotas de exibição; fomenta a produção de conteúdos educativos e infantis; estimula a rede pública de comunicação; determina as audiências públicas para renovação de concessões e uso das tecnologias digitais.

Apoiador da ditadura, Clarín estrebucha

Como relata Emir Sader, que participa de um seminário em Buenos Aires, “a mídia privada, que conviveu tranquilamente com a lei imposta pela ditadura, já começou uma nova campanha contra o governo, acusando-o de ‘totalitário’ e de querer controlar a ‘imprensa livre’ – autodenominada por eles mesmos, os poucos grupos controlados oligarquicamente por poucas famílias, que se julgam no direito de definir quem é democrático. A proposta argentina é uma decisiva contribuição para a democratização na formação da opinião pública e, por isso mesmo, será alvo dos violentos ataques da mídia, que promoveu o golpe militar de 1976 no país e apoiou a ditadura militar”.

O sociólogo lembra que o jornal Clarín, que hoje faz oposição à presidente Cristina Kirchner, foi um dos principais apoiadores da ditadura militar. Já no fim do reinado do general Rafael Videla, ele publicou: “Ao final de cinco anos há um saldo de ordem, segurança e paz imposta pela força militar... Videla volta a seu lar acompanhado pelo respeito e consideração dos que reconhecem sua honestidade e seu patriotismo”. Hoje, o general-torturador é execrado pela sociedade e sofre vários processos. O grupo Clarín prosperou na ditadura e atualmente é dono de 50% do mercado de TV paga e jornais, além de participações na internet, rádios e canais abertas. No ano passado, ele foi o principal porta-voz do locaute dos barões do agronegócio contra o governo Kirchner.

“Pior censura é a dos monopólios”

O novo projeto de lei significa um duro golpe no poder monopolizado e manipulador do Clarín e das outras três famílias que controlam a mídia no país. Como afirma Sergio Fernández, diretor da agência oficial de notícias, “ele representa um fato histórico e um passo fundamental para que os argentinos vivam numa verdadeira democracia. Necessitamos viver numa sociedade aonde não exista censura e não há pior censura que a dos monopólios. Na construção da subjetividade humana, poucas coisas são tão antidemocráticas como a dos grandes meios de comunicação. Em nosso país, apenas quatro grupos são responsáveis pela edição e distribuição de 83% dos conteúdos informativos. Eles exercem uma influencia determinante na disputa dos sentidos”.

Conforme alertou, o debate sobre a nova lei deverá contagiar a sociedade nas próximas semanas. O texto será submetido à consulta pública por até 90 dias antes de ir à votação no parlamento. O governo conta com o apoio de importantes entidades populares, como a ONG Mães da Praça de Maio, e de várias rádios e televisões comunitárias. Já os barões da mídia se encontram divididos, numa disputa fratricida entre os donos da radiodifusão e as empresas de telefonia, que desejam entrar neste mercado lucrativo. Apesar desta fratura, os jornalões e as emissoras de TV prometem dar dor de cabeça à presidente Cristina Kirchner. A manipulação será violenta.

Debate empacado no Brasil

Enquanto o debate sobre a democratização dos meios de comunicação avança na Argentina, no Brasil o status quo se mantém inalterado. Durante o Fórum Social Mundial, realizado em Belém (PA) no final de janeiro, o presidente Lula finalmente anunciou a convocação da Conferência Nacional de Comunicação. A notícia foi festejada pelos ativistas que lutam contra a ditadura midiática no país. Até agora, porém, a portaria convocando o evento não foi publicada. Há boatos de que o atraso se deve à feroz disputa sobre os rumos da conferência – temário e comissão organizadora –, com divergências no próprio governo e entre as poderosas empresas da área.

O atraso confirma que a conferência será alvo de intensa disputa. Como aponta Renata Mielli, no seu blog “Janela sobre a palavra”, há muitos inimigos de um debate democrático sobre este tema – a começar do representante da TV Globo “sentado na cadeira do Ministério da Comunicação... Os tubarões da mídia, preocupados em ver o seu castelo ser ameaçado, já se preparam para participar dos debates com o intuito de minimizar possíveis avanços no sentido da ampliação da participação da sociedade. Da nossa parte, fica a necessidade de ampliar a mobilização dos mais amplos setores para participarmos da conferência que é nevrálgica para o avanço da democracia. Uma vez que, infelizmente, Lula não tem a mesma ousadia de Cristina Kirchner”.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Queda de arrecadação e superávit primário

A Receita Federal divulgou nesta quinta-feira que a arrecadação de impostos e contribuições do governo federal caiu 27% em fevereiro na comparação com janeiro. Foram arrecadados R$ 45,1 bilhões – o pior resultado desde maio de 2006. Foi o segundo mês consecutivo de retração com relação ao mês anterior e o quarto em relação ao mesmo período do ano passado. Na comparação com fevereiro de 2008, a contração foi de 11,5%, descontada a inflação. A queda acendeu o sinal de alerta no Palácio do Planalto e atiçou a oposição neoliberal-conservadora e sua mídia venal.

O motivo da retração é óbvio: a crise capitalista mundial, que já causa no Brasil a diminuição da produção e dos serviços, falências e desemprego. Tanto que a maior retração na arrecadação se deu no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que recuou 26,25% no período. Também houve recuo no Imposto de Renda para pessoas jurídicas e físicas, de 6%. No seu comunicado, a própria Receita Federal reconheceu que um dos motivos da queda foi “a redução no crescimento dos indicadores macroeconômicos”. A “marolinha” cada vez se parece mais com o tsunami!

Reserva de caixa dos banqueiros

Com menos dinheiro em caixa, o governo Lula já estuda medidas para evitar cortes drásticos nos investimentos em infra-estrutura e nos programas sociais. Do lado positivo, que merece apoio e forte pressão dos movimentos sociais, aventa-se a possibilidade da redução do superávit primário – o nome fantasia da reserva de caixa dos banqueiros. A meta de economia para o pagamento de juros da dívida pública, atualmente prevista para 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB), pode ser reduzida para 3,3%. É uma medida progressista, mas tímida e insuficiente. O próprio conceito de superávit primário é hoje questionado por vários países vitimados pela crise econômica mundial.

Economistas progressistas, como Maria Conceição Tavares e Marcio Pochmann, sugerem cortes mais drásticos deste mecanismo de defesa dos banqueiros e rentistas. Eles lembram que EUA e Europa têm elevado os gastos públicos, relativizando os temores neoliberais sobre o rigor fiscal. Diante da retração da produção industrial, do comércio e dos serviços, a economia demanda mais crédito. Os recursos retidos pelo superávit servem apenas à ditadura financeira, não movimentam a economia real, não geram emprego e renda. O superávit agrava a crise de liquidez no mercado.

Governo Lula está na berlinda

Já do lado negativo, aplaudido por banqueiros e pela mídia, o governo estuda promover corte no orçamento da União. Especula-se que ele pode chegar a R$ 45 bilhões, o que afetará os recursos para educação, saúde e outras áreas sociais, além de prejudicar os servidores públicos. O governo garante que preservará os investimentos em infra-estrutura, em especial nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento. Já em fevereiro, em tom de brincadeira, o presidente Lula disse que a crise mundial não afetará o programa. “Nenhuma obra do PAC sofrerá redução por conta da crise. Cortaremos o batom da Dilma, meu corte de unha, mas nenhuma obra sofrerá corte”.

Nesta semana, Lula também garantiu que não haverá corte de recursos para os programas sociais. Já no que se refere ao funcionalismo, prometeu que fará de tudo para manter o negociado com as entidades sindicais do setor, que prevê um reajuste salarial para julho. Mas ele deixou uma pulga atrás da orelha. “Nós temos um acordo e minha idéia é cumpri-lo. Eu só não cumprirei se houver anormalidade”, afirmou. A mídia hegemônica, que nutre um ódio mortal aos servidores públicos, já difunde que a crise mundial deverá adiar e reduzir o reajuste salarial da categoria.

Como se nota, a crise mundial cobra posições mais nítidas do governo e coloca em novo patamar a luta de classes no país. A ditadura financeira pressiona para manter seus privilégios intocados. Não quer nem ouvir falar em redução do superávit primário. Deseja empurrar a crise, agravada pela orgia rentista, para cima dos trabalhadores, com cortes nos programas sociais e arrocho do funcionalismo. O governo Lula, que firmou um pacto com a oligarquia financeira nas eleições de 2002 – a famosa “carta aos brasileiros”, também rotulada de “carta aos banqueiros” –, está agora na berlinda. Ou rompe o pacto com os rentistas ou afunda o Brasil na recessão.