sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Globogate: a farsa da mídia golpista

Reproduzo três artigos de Antonio Martins, da série Globogate, publicados no sítio Outras Palavras:

A semana em que as elites perderam a noção (1)

A esta altura, restam muito poucas dúvidas: tudo indica que também o vídeo da suposta “segunda agressão” a José Serra no bairro carioca de Campo Grande (20/10) foi manipulado pela Rede Globo. Denunciada mundialmente no Twitter, na sexta-feira (22/10), após a aparição de análises que demonstram fusão falsificadora de imagens, a emissora não procurou se defender, nas edições seguintes do Jornal Nacional.

Sua redação paulista fora palco, na véspera, de uma cena insólita. Os próprios jornalistas vaiaram a “edição” das cenas em que o candidato do PSDB é atingido por um rolo de fita adesiva, materializado do nada. Na madrugada posterior às denúncias de fraude (23h09 de 22/10), o site da Globo exibiu discretamente uma nota do “perito” Ricardo Molina. Redigido depois que os sinais de fusão fraudulenta de imagens tornaram-se evidentes, o texto procura, em essência isentar a emissora em investigações futuras sobre falsificação. Molina alega que analisou material “encontrado na internet”.

À medida em que a primeira certeza se consolida, começa a se desenhar uma segunda. A provável manipulação de imagens não foi um fato isolado. Ela articula-se com outro assunto que dominou o noticiário da velha mídia esta semana. Vazaram os depoimentos que o jornalista Amaury Ribeiro prestou à Polícia Federal, no inquérito sobre a quebra dos sigilos fiscais de Verônica Serra e outros expoentes do PSDB. O processo corre em sigilo de justiça. Porém, por serem parte envolvida, os advogados de Eduardo Jorge Caldas, ex-tesoureiro de campanha do partido, pediram, através de liminar, acesso às peças. São a fonte óbvia da inacreditável sequência de matérias publicadas, também a partir de 22/10, pela Folha de S.Paulo e Jornal Nacional.

Aqui, já não se trata, como se verá no terceiro texto desta série, de manipulação de imagens – mas de substituição explícita do jornalismo pelo panfleto partidário. Tendo acesso exclusivo ao depoimento de Amary Ribeiro, a Folha e o JN esconderam de seus leitores uma série assombrosa de informações ou pistas de grande relevância. Preferiram destacar em manchete, durante quatro dias, uma penca de ninharias, pinçadas com claro intuito de servir à campanha de José Serra. A tentativa foi reforçada pela edição de Veja que circula este fim-de-semana.

Iniciado na quarta-feira – poucas horas, portanto, depois de o candidato tucano comparecer à Globo para uma entrevista ao vivo no Jornal Nacional – o movimento inclui sinais de ataque flagrante ao direito à informação, praticado por empresas que se beneficiam de concessão e pesados subsídios públicos. Foi, provavelmente, concebido para desencadear, a onze dias do pleito, a última tentativa de vitória do candidato conservador, numa disputa em que está em jogo, também, o destino das reservas do Pré-Sal.

A força da velha mídia chocou-se, porém, com a rebeldia da internet. Entre quarta e sexta-feira, as manipulações imagéticas e factuais foram desfeitas por uma rede – auto-organizada e informal, porém muito potente – de busca e difusão da verdade. Personagens quase-anônimos desmontaram, com inteligência e conhecimento, as tentativas da Globo de fabricar a “agressão” a Serra. Jornalistas como Luís Nassif demonstraram o caráter partidista das “reportagens” da Folha. Graças ao Twitter e ao Facebook, cada nova descoberta era retransmitida instantaneamente por milhares de pessoas, o que estimulava novas investigações.

No momento em que este texto é concluído, a batalha não está decidida. O contra-ataque da blogosfera – reforçado por uma fala corajosa, de Lula, denunciando a farsa pró-Serra (na quinta-feira, 21/10) – amedrontou temporariamente a Rede Globo, a Folha e a própria campanha do PSDB. Desde sexta à noite, quando difundiram-se os vídeos que desmentiam o Jornal Nacional, a investida refluiu. O recuo, a esta altura, pode ter sido fatal para as Serra.

Após as eleições será indispensável investigar o episódio da semana passada. A depender da mobilização social, ele poderá ser conhecido, no futuro, como o GloboGate. Ou o momento em que o setor mais conservador das elites brasileiras abusou descontroladamente do controle que exerce sobre a mídia, a ponto de provocar, como resposta, um amplo movimento pela democratização das comunicações.

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A batalha de Campo Grande (2)

Por volta da meia noite de quinta-feira (21/10), o professor José Antonio Meira da Rocha sentiu a aguilhoada de uma pulga, atrás da orelha. Três horas antes, ele havia assistido ao Jornal Nacional, e “quase” se convencera com as explicações do “perito” Ricardo Molina. Claro, havia exagero e encenação: é insólito fazer tomografia no cérebro depois de sentir na testa o choque de um rolo de fita adesiva. Mas as imagens pareciam mostrar que José Serra havia sido, de fato, atingido por um objeto um pouquinho mais pesado que uma bola de papel.

Como complemento a suas aulas de Jornalismo Gráfico, no campus de Frederico Westfalen da Universidade Federal de Santa Maria, José Antonio tem o hábito de debater, com os alunos, tratamento de imagens na internet ou na TV. Instalou em seu computador uma placa de captura de vídeo de 120 reais. Usa o programa Avidemux (eu Ubuntu-Linux) para examinar quadro a quadro tudo o que assiste.

Algo chamou a atenção de José Antonio, quando analisava as imagens da Globo. A suposta fita adesiva surgia do nada. Não aparecia nem antes, nem depois de tocar a cabeça de Serra. O professor comparou com as cenas da bolinha de papel. Nestas, há uma trajetória, um antes e um depois – ainda que o objeto surja naturalmente distorcido, como um risco de luz.

O professor José Antonio considera risível o trecho em que o “perito” Ricardo Molina assegura, em seu laudo das 23h09 de 22/10, que Serra foi atingido por um objeto real, descartando uma fusão de imagens. “Molina, um especialista em áudios, não deveria aventurar-se a análises de vídeo. Ao argumentar que o ‘objeto’ que aparece sobre a cabeça Serra não é ilusório porque tem formas definidas, ele reforça a hipótese contrária. A característica principal do efeito artifact é ser uma distorção. Imagens tênues assumem, quando muito comprimidas, a aparência de objetos com formas exageradamente geométricas. Enxergar o resultado como prova é grosseiro”.

Inquieto com uma fita adesiva que se materializava num único quadro, sem existência anterior ou posterior, José Antonio decidiu escrever uma mensagem a seus alunos e às listas de internet especializadas em jornalismo: uma na Universidade do Texas (seguida por dezenas de jornalistas brasileiros), outra no Fórum pela Democratização das Comunicações. Animou-se, enquanto redigia. Ao final, decidiu postar a análise também em seu blog. Foi dormir às três da madrugada de sexta (22/10). Ao acordar, às onze, estava fora do ar, devido ao excesso de audiência… O desmascaramento do Jornal Nacional de quinta-feira – o feito mais decisivo na batalha que a velha e a nova mídia travaram, durante 48 horas e em dois rounds, começava a ganhar a blogosfera.

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A disputa começou na tarde de quarta-feira. Ao decidir deslocar-se ao Calçadão de São Cristóvão, José Serra contrariou todas as estratégias razoáveis para a campanha de um candidato em segundo turno. Ao menos, para uma campanha normal: de convencimento, diálogo com formadores de opinião e geração de emoções positivas, capazes de se converter em votos.

No Rio de Janeiro, Serra teve seu quinto pior resultado no primeiro turno: apenas 22,5% dos votos [1]. Entre as centenas de zonas eleitorais do Rio, as sete que atendem os eleitores de Campo Grande [2] estão entre as menos favoráveis ao candidato tucano. Nelas, sua média cai para 18%. Ele perde invariavelmente de Dilma e de Marina, chegando a 15,9% na 246ª zona – onde por pouco não ficou atrás de brancos e nulos (12,3%).

Por fim, em todo o extenso bairro de Campo Grande (o terceiro em área, no Rio), o Calçadão é, talvez, o setor mais adverso ao candidato. São três ruas curtas e muito estreitas, dominadas por comércio popular e ambulante (veja fotos e visão de rua, no Google). A dez dias das urnas, e cerca de dez milhões de votos atrás de sua adversária, quantos sufrágios seria possível recuperar por lá?

Milhões – caso se criasse um fato político capaz de provocar comoção nacional. A cinco minutos do Calçadão [3], está localizada a sede do SintSaúde, o sindicato dos “mata-mosquitos”, agentes da Fundação Nacional de Saúde encarregados de parte do combate à dengue. Entre as milhares categorias profissionais em que se dividem os trabalhadores brasileiros, é, provavelmente, a que mais teme José Serra. No rastro do “ajuste fiscal” determinado por Fernando Henrique Cardoso em 1999, ele demitiu 6 mil destes trabalhadores de uma vez – um ato tido por muitos como causa do alastramento da epidemia, no período seguinte. A maior parte foi readmitida por Lula, anos depois.

A presença de Serra soaria aos “mata-mosquitos”, é evidente, como uma provocação. Na tarde de quarta-feira, um número expressivo deles preparou cartazes às pressas e se dirigiu ao Calçadão para contrapor-se ao candidato. Fizeram-no de modo pacífico. Foram agredidos pelos segurança do candidato e se exaltaram, o que permitiu à mídia gerar fotos e vídeos de tumulto.

Ainda assim, nenhuma imagem é capaz, até agora, de justificar as duas cenas em que Serra leva as mãos à cabeça – numa delas, produzindo impressão de dor; noutra, imediatamente após falar ao telefone. Foi em torno destas fotos e vídeos que se produziram as duas etapas da disputa.

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A primeira vai da tarde de quarta-feira até a noite de quinta. Por volta das 15h, o site G1, da Globo “informa” que José Serra fora “atingido na cabeça”, após tumulto provocado por “militantes petistas” em Campo Grande. O filme que acompanha a narrativa, porém não sugere nada grave. O candidato aparece sereno, em todas as cenas. Na última, em que se retira da área, acena e sorri.

Na sequência, produz-se algo curioso. A Globo deixa de destacar, em seus sites, o vídeo que ela própria produzira. Ele é substituído por uma foto estática, na qual Serra curva-se para baixo, leva as mãos à cabeça e é circundado por pessoas que gritam. A notícia ganha dramaticidade crescente. O candidato submete-se a tomografia e é aconselhado, por um oncologista (!) ligado ao PSDB e ao DEM [4], a 24 horas de repouso.

O jornalista Paulo Henrique Amorim reage quase de imediato, em seu blog. Percebendo grande exagero na repercussão dada ao incidente, compara José Serra a Roberto Rojas, o goleiro da seleção chilena que, em 1989, simulou ter sido atingido por um rojão em jogo contra o Brasil, em 1989. Começa, com este mote, a primeira grande onda de resistência à manipulação. Seu meio principal é o Twitter, onde toda postagem pode associada a um assunto (“tag”) e é possível, graças a isso, acompanhar o que milhões de pessoas escrevem sobre o mesmo tema.

Em algumas horas, a “tag” #serrarojas espalha-se. A corrente leva milhares de pessoas à investigação jornalística – um fenômeno muito mais potente que o antigo “esforço de reportagem” dos jornalões. Na busca, descobre-se o vídeo do SBT sobre a caminhada.

A novidade desperta uma catarse. Parece desnudar-se, de forma patética, um comportamento farsesco, presente em toda a campanha de Serra. “Hoje aprendemos que, quando atingidos por uma bolinha de papel, devemos fazer tomografia”, diz uma postagem de ironia sutil, no Twitter. Centenas de outras debocham do fato de o candidato ter manifestado dor vinte minutos depois do choque com a folha de papel A4 amassada – e logo após ter recebido um telefonema.

Lula, que na quarta-feira estivera a ponto de telefonar a José Serra, solidarizando-se com ele contra a “agressão” sofrida, executou um giro. Na manhã de quinta, ao inaugurar o polo naval do Rio Grande do Sul, fez uma declaração que mudaria o curso da campanha, por obrigar Serra a atacá-lo diretamente. “A mentira que foi produzida ontem pela equipe de publicidade do candidato José Serra é uma coisa vergonhosa. Ontem deveria ser conhecido como dia da farsa, dia da mentira. (…)Espero que o candidato tenha um minuto de bom senso e peça desculpas ao povo brasileiro pela mentira descarada”

Entre a manhã e a tarde de quinta-feira, #serrarojas tornou-se uma preferência mundial, um fenômeno tão impressionante quanto o “Cala Boca, Galvão” — que chegou a merecer, durante a Copa do Mundo, uma capa de Veja… Nesse mesmo período, começou, porém, uma reação. Diante da chacota que se seguiu à revelação de que uma bolinha de papel “ferira” José Serra, surgia – vinte e quatro horas depois do incidente de Campo Grande – um “novo” vídeo. Feito pelo repórter Ítalo Nogueira, num telefone celular, tem qualidade muito precária. Apareceu primeiro no site da Folha de S.Paulo, no meio da tarde de quinta. Embora tenha tomado a iniciativa de divulgá-lo, a sucursal carioca do jornal jamais chegou às conclusões que a Rede Globo sacaria (leia coluna de Jânio de Freitas a respeito).

À noite, poucas horas depois de difundidas, as novas imagens ganhavam o país por meio do Jornal Nacional. Eram uma espécie de revanche: por isso, precisavam ser tratadas como verdade absoluta. Ocuparam sete minutos do noticiário – um tempo só concedido, em condições normais, aos grandes acontecimentos nacionais ou internacionais. Zombavam de milhões de usuários do Twitter, e do próprio Lula. Ressuscitavam a foto dramática em que Serra leva as mãos a cabeça. “Explicavam” que, além da bolinha, o candidato havia sido atingido por outro objeto, “mais consistente”. Vinham com a suposta chancela do “perito” Ricardo Molina – um “especialista” cultivado pela Globo, cujo currículo inclui a tentativa de culpar o MST pelo massacre de Eldorado de Carajás; de “demonstrar” que PC Farias suicidou-se; e de inocentar o casal Nardoni pela morte da menina Isabela.

Tinham o poder da Rede Globo: sua audiência, sua capacidade de repercutir imediatamente e influenciar outras mídias. Tudo indica que teriam promovido um tufão. Em especial, porque supostamente desautorizavam os dois pilares essenciais à candidatura Dilma: a mobilização social e o apoio do presidente mais popular da história do país. Em outras condições, teriam permitido à emissora exercer o mesmo papel que desempenhou nas eleições de 1989 – e que tentou cumprir em 2006.

Agora, foi diferente. O professor José Antonio Meira Rocha foi o primeiro a contestar o Jornal Nacional e seu “perito”. A partir das primeiras horas da manhã de sexta, o Twitter deu publicidade intensa e rápida a seu esforço. Em algumas horas, desenhava-se um novo fenômeno na internet, mais consistente que o anterior. Agora, a “tag” #globomente substituía #serrarojas. Já não era apenas o desprezo às mistificações de um candidato – mas o protesto claro contra um sinal evidente de manipulação mediática, praticado pela maior emissora do Brasil.

A análise de Meira Rocha fora feita com equipamento amador, nas últimas horas de vigília após um dia de trabalho. Mas o Twitter deslanchou uma nova onda de esforço coletivo. Na trilha aberta pelo professor, e dispondo de mais tempo, outros estudos evidenciaram com clareza ainda maior os sinais de fraude imagética. Vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, o advogado Marcelo Zelic publicou no YouTube um estudo intitulado “Farsa em 6 partes”. Nele, além de destacar a ausência de trajetória na “fita crepe”, no vídeo exibido pela Globo, aponta os primeiros sinais de fusão deturpadora de imagens. Ao contrário do que ocorrera ao ser atingido por uma bolinha de papel, Serra permanecia inteiramente impassível, diante do choque com o que Molina chamara, na véspera, um “objeto maior e mais consistente”. Além disso, as cenas da “fita crepe” haviam sido fundidas com a foto em que o candidato leva as mãos à cabeça, em sinal de dor. Houvera um lapso de vinte minutos, entre os dois momentos. Juntá-los, como se fizessem parte de uma mesma sequência, era sinal evidente de má-fé.

Mas o estudo em que os sinais de falsificação são mais consistentes – e mais úteis, para uma investigação futura – é, provavelmente, “Bolinhagate”, postado também YouTube pelo cineasta Daniel Florêncio. Graças a sua experiência no tratamento de imagem, Florếncio aponta com clareza dois fatos eloquentes. O suposto rolo de fita crepe que teria “atingido” o candidato é, na verdade, distorção da cabeça de um correligionário, que está bem atrás de Serra. Ele permanece impassível simplesmente porque não pode sentir um impacto que não houve. O vídeo foi fundido com outra cena (Florêncio aponta o instante preciso da fusão, destacando objetos que surgem e desaparecem, em cada um dos trechos), para transmitir a falsa impressão de que, depois de “atingido”, Serra leva as mãos à cabeça.

A multiplicação das evidências de fraude, apontadas cada vez com mais detalhe, produz um novo fenômeno no Twitter. Na sexta-feira (22/10) à tarde, a “tag” #globomente está entre as três mais mencionadas, em todo o mundo. A Globo foi nocauteada no segundo round. O assunto desaparece por completo do Jornal Nacional, nesse dia e em todos os seguintes. Às 23h09, entra a nota do “perito” Molina, a tentativa de colocar uma pedra sobre o assunto.

No final da noite de sexta, o jornalista Paulo Cesar Rosa, diretor da Veraz Comunicação, de Porto Alegre, posta, via Twitter, uma hipótese perturbadora: “Se bobear, o Serra saiu, da entrevista que deu no dia anterior à Globo, com o roteiro da bolinha pronto”… Mais dois estudos – estes postados por Arcosta, no YouTube, dão força a esta possibilidade dramática. Eles (1 2) reúnem evidências de que a própria bolinha de papel que atingiu Serra tucano foi atirada não por “militantes petistas”, como a Globo fez questão de difundir desde o primeiro momento – mas por um guarda-costas do próprio candidato tucano…

Notas

1- Serra obteve 40,5% em São Paulo, 35,4% no Espírito Santo e 30,7% em Minas Gerais.

2- 120ª, 122ª, 242ª, 243ª, 244ª, 245ª e 246ª

3- Rua Mauá, 34

4- Jacob Klingerman foi diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer, na gestão de José Serra como ministro da Saúde e secretário da Saúde do prefeito César Maia, do Rio.

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Como tutelar o seu leitor (3)

Meu Deus, o JN tem acesso a isso http://bit.ly/cVNb0M e faz aquela matéria sobre vazamento de sigilos. Na tarde de sexta-feira (22/10), o jornalista Luís Nassif fez questão de republicar, no Twitter, mensagem que recebera de LuizKK, outro membro da rede. Pouco antes, os sites dos jornais paulistas haviam disponibilizado, sem alarde, a íntegra de algo que haviam explorado por dias, em suas edições anteriores: o depoimento prestado à Polícia Federal (PF), uma semana antes (15/10), pelo jornalista Amaury Ribeiro.

O espanto de LuizKK e Nassif era justificado. Amaury é o personagem central de um tema que acompanhou (e influenciou) toda a disputa eleitoral: a quebra dos sigilos fiscais de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB, e alguns expoentes do partido. A aparição do documento comprovou algo de que já se suspeitava: a parcialidade da velha mídia, ao atribuir, com insistência, o vazamento à campanha de Dilma. Mas revelou, também, algo novo. Na “semana em que as elites perderam a noção”, dois veículos – a Folha de S.Paulo e o Jornal Nacional (o JN, na mensagem de LuizKK) – levaram esta parcialidade a um ponto extremo, que um dia será tema de estudo nas escolas de Comunicação.

Numa evidente violação de seu compromisso com os leitores, eles triaram partidariamente o depoimento de Amaury. Os elementos que poderiam comprometer Dilma foram divulgados com espalhafato, “merecendo” por quatro edições da Folha (20 a 23/10) o status de principal assunto do dia (incluindo três manchetes). Enquanto isso, esconderam-se as afirmações do jornalista que comprometiam Serra em dois episódios. O primeiro é o processo de privatizações do governo FHC, durante o qual membros do PSDB – além de Verônica Serra – teriam se envolvido em corrupção e ou lavagem de dinheiro. O segundo, a disputa fratricida em que os tucanos se consumiram, para escolha de candidato à Presidência, com os dois lados (Serra e Aécio Neves) chegando a ponto de encomendar a preparação de dossiês sobre crimes cometidos pelo grupo adversário.


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Para desfazer o cipoal em que a cobertura da mídia transformou o assunto, e compreendê-lo, é preciso retroceder à última semana de agosto. Uma apuração da Receita Federal verificou que, em 8 de outubro de 2009, servidores da Receita Federal no ABC Paulista haviam acessado declarações de Imposto de Renda de quatro integrantes do PSDB: o ex-diretor do Banco do Brasil (no governo FHC) e arrecadador de recursos do partido, Ricardo Sérgio de Oliveira; o ex-ministro das Comunicações no governo FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros; o vice-presidente do partido, Eduardo Jorge; e o empresário Gregório Marin Preciado, casado com uma prima-irmã de José Serra. Dias mais tarde, apurou-se que o mesmo sucedera com Verônica Serra, filha do candidato à Presidência.

O assunto dominou a mídia durante ao menos quinze dias. Foi destacado, em manchetes seguidas, por Veja, O Globo, Folha e Estado, além do JN. O acesso indevido a dados fiscais de milhões de contribuintes não é incomum. Inúmeras matérias, nos jornais e TVs, já destacaram a venda em massa de CDs com tais informações, em pontos como a Rua Santa Ifigênia, em São Paulo. No entanto, o fato foi tratado como espionagem política, quando envolveu os cinco tucanos.

Insinuou-se largamente que o vazamento fora produzido a mando de um “setor de inteligência” na campanha Dilma, que prepararia um “dossiê” sobre os tucanos. Veja falou em “enfraquecimento das instituições”, num texto intitulado “O Estado a serviço do Partido”, em edição cuja capa trazia a imagem de um polvo apoderando-se, com seus tentáculos, do brasão da República. Um editorial do Estado atribuiu a Lula a responsabilidade pelo incidente. A presença de Verônica acrescentou um componente sentimental ao caso: o aparelhamento da máquina pública, pelos adversários de Serra, ia a ponto de acossar a família do candidato…

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A Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso. Ouviu 37 pessoas. Embora a investigação corra em sigilo de justiça, Eduardo Jorge – um dos que teve os dados fiscais vasculhados – valeu-se da condição de parte envolvida e requereu, por meio de liminar, acesso aos autos. É a fonte provável da retomada do tema, pela mídia. A partir de 20 de outubro, Folha e Jornal Nacional, depois secundados pelos outros jornais e por Veja, voltaram a tratar a quebra de sigilos como um assunto de relevância nacional.

Segundo a mídia, o jornalista Amaury Ribeiro é apontado no inquérito da PF como pivô do vazamento das informações fiscais dos tucanos. Amaury é um repórter experimentado, que passou pelos jornais de maior circulação do país e foi distinguido por três Prêmios Esso e quatro Vladimir Herzog. Nega que tenha encomendado a funcionários da Receita a consulta das declarações de Imposto de Renda dos tucanos. Admite que reúne, sobre o tema, um “dossiê”.

Porém, ao terem acesso a seu depoimento na PF, Folha e Jornal Nacional recolheram evidências que desmentem, por completo, a subordinação do trabalho de Amaury Ribeiro ao PT ou à campanha de Dilma. O jornalista premiado, que prepara um livro sobre as privatizações, relata, entre outros pontos, os seguintes.

1. Sua investigação teve início na virada da década passada, quando transitou entre a sucursal paulista de O Globo e a redação do Jornal do Brasil – e se interessou pela participação de Ricardo Sérgio do processo de privatizações.

2. Nessa época, teve acesso a uma primeira declaração de renda de Ricardo Sérgio (relativa a 1998), por meios totalmente legais. O documento constava dos autos de um processo movido pela Rhodia do Brasil contra a Calfat, de propriedade de Ricardo Sérgio.

3. Ao persistir na investigação, verificou, em 2003 – por meio de documentos públicos, obtidos pela CPI do Banestado – que Ricardo Sérgio movimentava “milhões de dólares” anualmente. Servia-se, para tanto, de rede de doleiros e operava inclusive em paraísos fiscais.

4. Chegou a publicar, já em 2003 (em IstoÉ), diversas matérias sobre esta movimentação. Foi processado por Ricardo Sérgio. Serviu-se do direito à “exceção da verdade” — que garante aos acusados de praticar calúnia o direito de demonstrar que suas alegações são verdadeiras. Ao fazê-lo, pôde requerer da CPI do Banestado novos documentos sobre movimentação de dinheiro no exterior, por seu antagonista.

5. O material recebido permitiu-lhe verificar que Gregório Marin Preciado (o marido da prima-irmã de José Serra), e outras pessoas de algum modo relacionadas ao processo de privatizações do governo FHC, também haviam feito ampla movimentação de recursos no exterior.

6. A partir de 2007, passou a trabalhar no Estado de Minas e Correio Braziliense (ambos do grupo Diários Associados). Nessa época, descobriu que um grupo clandestino de inteligência, espionava o governador Aécio Neves, a serviço de José Serra.

7. Suas fontes na “comunidade de informações” apuraram que este grupo, articulado pelo delegado da PF e deputado federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) trabalhava para José Serra – que então disputava com Aécio a indicação para candidato do partido à Presidência.

8. Ao apurar as atividades deste grupo, descobriu que Verônica Serra e seu esposo possuíam empresas operando em paraísos fiscais. Utilizadas para lavar dinheiro, elas dividiam escritório, nas Ilhas Virgens, com companhias de Ricardo Sérgio.

9. Concluiu, a partir do conjunto de informações levantadas, que Ricardo Sérgio, dirigente do Banco do Brasil, participou da articulação dos consórcios privados que assumiram o controle do Sistema Telebrás. E tesoureiro do PSDB cobrou propina e executou, a partir de sua base nas Ilhas Virgens, internação ilegal de valores no Brasil.

Nada assegura que este elenco de afirmações seja verdadeiro. É certo, porém, que são de imensa gravidade e relevância. Tendo acesso privilegiado ao material, a Folha, o JN e as publicações que os seguiram ocultaram-no de seus leitores. Não tinham como objetivo apurar e informar. Queriam comprovar uma hipótese pré-concebida – a de que a quebra de sigilos demonstrava a prática, por parte do PT, de espionagem e aparelhamento do Estado. Por isso, pinçaram do depoimento de Amaury Ribeiro outro conjunto de informações, a saber:

10. Afastado de O Estado de Minas em função da doença e morte de seu pai, o jornalista foi sondado, em abril de 2010, pela Lanza Comunicações, que cuidava à época das comuicações, na pré-campanha de Dilma. Por saberem de sua relação com a “comunidade de informações” os responsáveis pela empresa pediam indicação de um profissional capaz de investigar suspeita de espionagem, na “Casa do Lago Sul”, usada para prestar serviços à candidatura.

11. Onézimo Graça, o profissional indicado por Amaury, apresentou um orçamento (R$ 180 mil), considerado muito elevado. O próprio Amaury descartou a possibilidade de trabalhar para a campanha de Dilma, diante do risco de “infiltração” de espiões.

12. Durante os dias em que manteve contato com a campanha petista, Amaury hospedou-se no apart-hotel de “Jorge” o responsável pela administração da “Casa do Lago Sul”. Neste período, o conteúdo de suas investigações sobre corrupção e lavagem de dinheiro ligadas às privatizações da era FHC foi copiado, de seu notebook, por Rui Falcão, integrante da campanha de Dilma. Envolvido numa disputa interna com a Lanza, Falcão entregou o material ao jornalista Policarpo Júnior, de Veja.

Enquanto sonegavam, por completo, o primeiro grupo de informações, o Jornal Nacional e a Folha davam ao segundo máximo destaque. Durante os anos 1990, a Folha orgulhava-se de um slogan: “De rabo preso com leitor”…

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A demissão do editor do Diário do Nordeste

Reproduzo artigo de Izabela Vasconcelos, publicado no sítio Comunique-se:

O jornalista Dalwton Moura, editor do jornal cearense Diário do Nordeste, foi demitido na última semana, após publicar um caderno especial sobre as revoluções marxistas. O caderno, publicado no dia 17/10, trazia seis páginas com uma entrevista do sociólogo e filósofo Michael Löwi e artigos de Adelaide Gonçalves e José Arbex Jr. O jornalista foi pautado pela direção do veículo, mas após a publicação, o jornal considerou o caderno "panfletário" e "subversivo", além de "inoportuno ao momento atual".

O caderno foi encomendado porque Michael Löwi estaria em Fortaleza para lançar o livro Revoluções. A reportagem foi pautada pelo editor-chefe do jornal, Ildefonso Rodrigues, e sugerida pela historiadora e professora Adelaide Gonçalves, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Ao comunicar a demissão de Moura, o editor-chefe afirmou que "não sabia o conteúdo da reportagem até vê-la publicada". Segundo o jornalista, que trabalhava há quase nove anos no veículo, o editor informou que o caderno gerou problemas para a direção do jornal. "Disseram que gerou problemas, que não teria sido bem recebido pela direção da empresa", contou Moura.

O editor disse que "jamais imaginou" que poderia ser demitido dessa forma, e que a demissão abre espaço para várias interpretações. "Jamais imaginei que poderia gerar isso. O caso é complexo e dá margem para várias leituras". De acordo com Moura, nem ele, nem a repórter Síria Mapurunga, que fizeram a entrevista com o filósofo, emitiram opinião. A entrevista destacava no título a declaração de Löwi: "O marxismo tem de evoluir para uma maior radicalização".

O Sindicato dos Jornalistas do Ceará questionou a demissão e criticou o fato de a grande imprensa contestar a criação do Conselho de Comunicação no Estado, mas permitir que demissões como a de Moura aconteçam.

"A demissão do então editor do 'Caderno 3' expõe o abismo entre o discurso da grande mídia conservadora, que se diz ameaçada em sua liberdade de expressão - inclusive atacando com este falso argumento o projeto do Conselho de Comunicação do Estado -, e suas práticas cotidianas, restritivas ao exercício profissional dos jornalistas, bem como à livre opinião de colaboradores e leitores", diz a nota divulgada pelo sindicato.

Procurado pela reportagem, o editor-chefe do Diário do Nordeste informou que todos os esclarecimentos do caso já foram prestados a Moura.

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A herança de FHC no setor de petróleo

Reproduzo artigo de Emanuel Cancella, diretor do Sindipetro-RJ, publicado na Agência Petroleira de Notícias:

Se dependesse dos tucanos, festa do pré-sal seria no Texas. A tentativa de mudança do nome para Petrobrax para facilitar a privatização da empresa. A pulverização das ações da companhia negociando 40% delas na bolsa de Nova York. A destruição da indústria naval, transferindo a construção de navios, plataformas, sondas para fora do país, exportando emprego e investimento. O Brasil chegou a ser o maior construtor naval do continente na década de 80. O sucateamento da Petrobrás com esvaziamento dos quadros técnicos e corte de investimentos. Destruição da indústria petroquímica, a mais lucrativa na indústria do petróleo.

FHC quebrou o monopólio estatal do petróleo. Introduziu a lei 9748/97, criando a Agencia Nacional do Petróleo (ANP) e os leilões de petróleo. A categoria não se calou. Em 1994 e 1995 realizou uma greve nacional de 32 dias, a maior da história, para impedir a privatização da Petrobrás. Mais de cem sindicalistas foram demitidos. Em 1996, junto com o MST, os petroleiros ocuparam o salão verde do Congresso Nacional para tentar barrar a votação da lei que extinguiu o monopólio estatal do petróleo.

Essa é a herança de FHC na Petrobrás. Para não deixar dúvidas da ação predatória dos tucanos e democratas no setor, o primeiro diretor geral da ANP, David Zilberstain, ex-genro de FHC, anunciou à imprensa e aos representantes das multinacionais na primeira entrevista coletiva: "O petróleo é vosso", ironizando o maior movimento cívico do país "O petróleo é nosso".

O governo de Luís Inácio sepultou a proposta de privatização da Petrobrás, retomando os concursos públicos, investindo maciçamente na companhia que hoje é a quarta empresa de energia do planeta e financia 40% do PAC. Retoma o braço petroquímico, criando o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro - o COMPERJ.

Lula readmitiu milhares de trabalhadores do Sistema Petrobrás demitidos por governos anteriores. Nacionalizou a indústria naval, gerando emprego e investimentos no país. Aumentou a participação acionária da União na companhia no maior processo de capitalização da história. A oposição e a mídia chegaram a ironizar a operação e apostar em seu fracasso. Lula mudou o marco regulatório do petróleo para o pré-sal contrariando tucanos e democratas que votaram contra a lei, insistindo na manutenção dos leilões de FHC.

O petista não resolveu todos os problemas do setor petróleo, mas avançou muito. Os movimentos sociais e os sindicatos, entre eles o Sindipetro-RJ, vão insistir, por exemplo, na luta pela Petrobrás 100% estatal e na volta do monopólio prevista no projeto de lei dos movimentos sociais em tramitação no Senado Federal. Vários parlamentares se elegeram comprometidos com o nosso projeto. FHC, que chamou os aposentados de vagabundos, rasgou o contrato com os aposentados da Petrobrás. Lula, para nossa decepção, não mudou esse quadro de desrespeito com aqueles que fizeram da Petrobrás o que ela é hoje.

O Sindipetro-RJ não se calou e não vai se calar enquanto aqueles que construíram a maior parte dessa história de vitórias e conquistas não tiverem seus direitos garantidos.

Porém, no momento do debate eleitoral, o Sindipetro-RJ não pode se omitir diante da ameaça da volta do projeto que tentou privatizar a Petrobrás e entregar nosso petróleo às multinacionais. Os petroleiros não aceitam o retrocesso e a entrega das riquezas do povo brasileiro!

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TV Record escancara corrupção em SP



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Serra, Paulo Preto e negócios em família

Reproduzo reportagem de Alan Rodrigues, Claudio Dantas Sequeira e Sérgio Pardellas, publicada pela revista IstoÉ:

À medida que são esmiuçados os passos de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, nos subterrâneos do governo tucano, vão ficando cada vez mais claras as relações comprometedoras do ex-diretor do Dersa com as empreiteiras responsáveis pelas principais obras de São Paulo. Em agosto, quando trouxe a denúncia formulada por dirigentes do PSDB do sumiço de pelo menos R$ 4 milhões dos cofres da campanha de José Serra à Presidência, ISTOÉ revelou que a maior parte da dinheirama fora arrecadada junto a grandes empreiteiras responsáveis pela construção do rodoanel.

Agora é descoberto um elo ainda mais forte entre o engenheiro e as construtoras da obra, considerada uma das vitrines do governo tucano em São Paulo. A empresa Peso Positivo Transportes Comércio e Locações Ltda., de propriedade da mãe e do genro do ex-diretor do Dersa, prestou serviços para as obras do lote 1 do trecho sul do rodoanel por um período de, pelo menos, três meses no ano de 2009. A informação foi confirmada à ISTOÉ pela Andrade Gutierrez/Galvão, do consórcio de empreiteiras contratado pela obra. Os serviços consistiram no fornecimento de guindastes para o transporte e a elevação de cargas. “A empresa Peso Positivo, assim como outros fornecedores prestadores de serviços do consórcio, é contratada sempre de acordo com a legislação em vigor. A decisão de contratar prestadores de serviços é exclusivamente técnica”, alega a Andrade Gutierrez.

Arquivos da Junta Comercial de São Paulo mostram que a Peso Positivo foi criada em 30 de julho de 2003, com capital social de R$ 100 mil. Os sócios são Maria Orminda Vieira de Souza, mãe de Paulo Preto, 85 anos, e o empresário Fernando Cremonini, casado com Tatiana Arana Souza, filha do ex-diretor do Dersa, que trabalha no cerimonial do Palácio dos Bandeirantes, a sede do governo de São Paulo, e que já prestara serviços para a administração de José Serra à frente da Prefeitura de São Paulo.

Tantas coincidências fizeram o PT pedir à Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo que investigasse as relações da Peso Positivo com o rodoanel. “É uma relação incestuosa que existe entre Paulo Preto, sua filha e José Serra”, afirmou o líder do PT na Assembleia, Antônio Mentor.

A confirmação da ligação entre as empreiteiras do rodoanel e a Peso Positivo, obtida por ISTOÉ, mostra que as suspeitas tinham fundamento. E também derruba de maneira cabal a versão de Cremonini, apresentada na última semana em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”. Segundo ele, a empresa “nunca teve clientes” na construção civil. “Meus maiores clientes são a Petrobras e a Votorantim Metais”, afirmou o empresário. “A única coisa que o Paulo me deu nestes anos todos foi a mão da filha e uma bicicleta.”

O íntimo relacionamento de Paulo Preto com as empreiteiras do rodoanel não se restringe ao negócio envolvendo uma empresa de familiares. Na última semana, denúncia da “Folha de S.Paulo” revelou que Paulo Preto, um dia após assumir a diretoria do Dersa, assinou uma alteração contratual na obra. Essa mudança permitiu às empreiteiras fazer alterações no projeto do rodoanel e até utilizar materiais mais baratos. No acordo assinado por Paulo Preto em maio de 2007 ficou definido que, em vez de ganharem de acordo com a quantidade, tipo de serviço ou material usado na obra, as empreiteiras receberiam um “preço fechado” no valor de R$ 2,5 bilhões.

Para quem conhece os meandros do mundo da construção civil, a impressão que fica ao analisar as mudanças é de que o diretor do Dersa preferiu privilegiar as empreiteiras, em detrimento da qualidade do empreendimento e da boa gestão do dinheiro do contribuinte. A iniciativa de Paulo Preto também tinha outro propósito: o de adequar o andamento da obra ao timing eleitoral. É que o acordo teve como contrapartida das empreiteiras a garantia de acelerar a construção do trecho sul para entregá-lo até abril deste ano, quando José Serra (PSDB) saiu do governo para se candidatar.

O cronograma foi cumprido a contento. Agora, as empreiteiras apresentam um fatura extra de R$ 180 milhões. Essa espécie de taxa de urgência soma-se, portanto, aos adicionais de R$ 300 milhões já pagos em 2009.

As suspeitas sobre a maneira como Paulo Vieira de Souza atuava no Dersa extrapolam os limites geográficos da cidade de São Paulo. Recaem também sobre a fase III das obras de ligação das rodovias Carvalho Pinto e Presidente Dutra, no município de São José dos Campos. Desde que assumiu a diretoria de engenharia do Dersa, ele assinou dois aditivos sobre o convênio de R$ 84 milhões.

Um desses aditivos previu a “implantação da marginal Capuava”, que nunca foi entregue. Onde foi parar o R$ 1,1 milhão, relativo à execução desse trecho, ninguém sabe dizer. “O dinheiro simplesmente desapareceu”, acusa o vereador de São José dos Campos Wagner Balieiro (PT). “Tive uma reunião com os diretores do Dersa e ninguém conseguiu me explicar por que a marginal não foi executada, embora o dinheiro tenha sido pago”, afirma Balieiro.

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WikiLeaks desmascara o imperialismo

Reproduzo editorial publicado no sítio Vermelho:

Uma das lendas mais notórias das guerras contemporâneas do imperialismo é a alegação de que as ações bélicas são “cirúrgicas”, “pontuais”, e evitam ataques e sofrimentos para a população civil.

Só os iludidos acreditam nisso. A mídia partidária do imperialismo não consegue esconder em seus noticiários as graves violações cometidas contra os povos; mesmo quando não são ditas palavras, as imagens publicadas sugerem a barbárie que o imperialismo faz questão esconder.

Desde julho, quando a página eletrônica WikiLeaks começou a divulgar documentos secretos, elaborados pelos soldados da tropa de ocupação do Iraque e do Afeganistão, pode-se ver com mais precisão a extensão do “moinho satânico” que o imperialismo impõe aos povos. Naquela ocasião, os documentos divulgados relatavam agressões contra a população civil e ações militares à margem da legislação internacional (que configuram, portanto, crimes de guerra) cometidos pelas tropas de ocupação comandadas pelos EUA principalmente no Afeganistão.

Desta vez, o enorme volume de documentos secretos do Pentágono (92 mil páginas) divulgados na semana passada pela WikiLeaks relata atrocidades cometidas durante a ocupação do Iraque, desde 2004 a 31 de dezembro de 2009.

São relatos escritos por militares das tropas de ocupação que descrevem um roteiro selvagem e desumano, que inclui o assassinato de civis numa escala muito superior à admitida oficialmente pelo governo de Washington e torturas generalizadas contra prisioneiros, praticadas por todos os agressores: soldados do Exército dos EUA, mercenários contratados para “segurança” dos comandantes da guerra e também pelo exército iraquiano formado e treinado pelos ocupantes de seu país.

Um exemplo da barbárie dos invasores foi o massacre, cometido em 16 de agosto de 2007 contra um povoado; um grupo de soldados das tropas de ocupação resolveu vingar-se de um ataque e bombardeou a população indiscriminadamente. Explodindo uma casa onde ocorria uma festa de casamento; seis pessoas morreram (entre elas quatro mulheres e um bebê) e três ficaram feridas (todas mulheres, uma grávida de nove meses).

Os documentos revelam a pratica sistemática de torturas (surras, choques elétricos, metais incandescentes, afogamentos) contra os prisioneiros, inclusive mulheres, cometidas também pelos três pilares da ocupação – as tropas invasoras, os matadores profissionais contratados por empresas de segurança como a Blackwater, e o exército pró-EUA do governo do Iraque.

Ações desse tipo, segundo o editor Julian Assange, do WikiLeaks, recheiam os relatórios secretos do Pentágono, e há descrição detalhada do assassinato de 2.000 iraquianos.

O lote de documentos agora publicados revela também que os militares dos EUA tentaram esconder a morte de 15 mil civis iraquianos. Ele revela um número total de 109 mil mortes, entre as quais 15 mil que nunca haviam sido reveladas!

A condenação das guerras constitui um clamor civilizatório antigo. A repulsa a agressões imperialistas cresceu, ao longo do século 20, depois das barbáries que a máquina de guerra nazista cometeu contra os povos. No início do século 21, é inaceitável que ações agressivas dessa natureza continuem sendo impostas aos povos que não aceitam submeter-se aos desígnios do imperialismo. Hoje, as atrocidades são cometidas sob a bandeira listrada dos EUA, com os mesmos objetivos predatórios de sempre: a submissão dos povos, a pilhagem de suas riquezas e o alcance de um arranho geopolítico mundial favorável à manutenção do mando imperial.

E impõe, como lembra o responsável pela revelação da brutalidade imperialista no Oriente Médio, Julian Assange, a única saída para o início da reconstrução da vida naquelas nações: a retirada das tropas de ocupação, que foram enviadas para lá com base em argumentos mentirosos e continuam lá à base de alegações falsas. Depois das revelações dos documentos secretos da barbárie, não há mais nenhuma justificação aceitável para que aquelas tropas continuem lá.

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De céticos e cínicos

Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:

Algumas vozes espalham o ceticismo na imprensa, nas universidades, de repente passam do ceticismo ao cinismo, já não importa nada, tudo é ruim, cambalache, tudo é igual, o mundo vai para o pior dos mundos possíveis.

Foi uma atitude que foi amadurecendo ao longo das ultimas décadas, passou-se a achar que o século XX foi um século muito ruim para a humanidade, o pior dos séculos, etc. Uma atitude de melancolia, de desencanto, de desânimo, de abandono da luta, traduzida no ceticismo, na crítica, que se alastra para jovens gerações, precocemente envelhecidas.

Todos os governos, todos os partidos, todos os processos traem, decepcionam, se corrompem. O socialismo teria dado em totalitarismo – e se soma nisso à direita. Os sindicalistas só querem defender seus interesses. A esquerda e a direita são iguais, etc., etc.

Como as teorias parecem ser maravilhosas e as práticas concretas, não, preferem ficar com as teorias – se possível, misturando um pouco de Nietzsche, de Foucault, de Tocqueville. Pronto, o pessimismo está constituído como visão trágica do mundo.

Encontra-se lugar na velha imprensa para escrever, contanto que não se critique a própria velha imprensa, e se concentre em criticar a esquerda – a URSS, Cuba, a Venezuela, Lula, o PT. Terminam fortalecendo o desinteresse pela política, fortalecendo a direita e desalentando os jovens, enquanto ainda mantêm seu prestígio com eles. Depois de um certo momento já se confundem diretamente com a direita.

O ceticismo pode ser liberal, certamente não é marxista. O marxismo parte da realidade concreta, mas sempre na perspectiva da sua transformação. Esse pessimismo, somado ao catastrofismo, fortalece o mundo tal qual ele é, promove a impotência diante da realidade.

Uma análise dialética da realidade supõe a apreensão das contradições que articulam o concreto, desembocando em linhas de ações e não na perplexidade, na impotência, na passividade, na melancolia e no ceticismo.

No momento em que o povo brasileiro, no seu conjunto, pela primeira vez, começa a melhorar substancialmente suas condições de vida e o expressa em um apoio como nenhum governo teve, é triste ver uma parte da intelectualidade de costas para o povo, melancolicamente continuando a pregar que tudo está muito ruim, pior do que antes, brigando com a realidade, em um isolamento total em relação ao povo e ao pais realmente existente.

O otimismo, por si só, não é revolucionário, mas todos os grandes líderes revolucionários foram e são otimistas, porque acreditam sempre nas possibilidades de transformação revolucionária da realidade. Enquanto o ceticismo leva à inação e, muitas vezes, até mesmo ao cinismo.

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Nuvens preocupantes na América Latina

Reproduzo entrevista concedida a Sergio Ferrari, publicada no sítio da Adital:

Apesar de uma situação globalmente favorável dada a existência de alguns governos progressistas e dinâmicos movimentos sociais, percebe-se sinais que preocupam na atual conjuntura latinoamericana. Entrevista com o analista belga Eric Toussaint.

A tentativa golpista no Equador, no passado 30 de setembro, e os resultados eleitorais na Venezuela, quatro dias antes, constituem signos que devem ser corretamente interpretados, enfatiza Eric Toussaint, coordenador do Comitê para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM).

"A leitura a fundo da etapa vivida pela América Latina me causa uma grande inquietação, já que percebo que a situação está se degradando", afirma o politólogo belga em entrevista durante uma recente visita a Suíça. O especialista analisa os fatos que fundamentam sua argumentação.

Equador e Venezuela

O mais recente, a rebelião policial contra o presidente Rafael Correa, no Equador, no último dia de setembro passado. "Foi uma real tentativa de golpe de Estado promovida pela polícia, por um setor do Exército e com o apoio da primeira força de oposição aglutinada em torno ao ex-presidente Lucio Gutiérrez".

Apesar do fracasso, devido especialmente a baixíssimos níveis de planejamento e organização, a tentativa deixou a descoberto debilidades políticas significativas do governo.

A principal, segundo Toussaint, que foi assessor do Presidente Correa em temas referentes á dívida externa, "foi a escassa mobilização popular para opor-se ao golpe".

Houve uma mobilização durante as horas em que Correa esteve ‘sequestrado' pelos golpistas no hospital onde era atendido, porém, "a magnitude da mesma na capital, Quito, na qual participaram entre 5 e 10 mil pessoas foi muito menor que a resposta popular, por exemplo, quando aconteceu a tentativa de golpe contra Hugo Chávez, na Venezuela, em 2002, que reuniu a milhares de pessoas".

"Já havíamos avisado a Correa, não somente eu, mas também alguns de seus assessores e gente de esquerda que o apoia criticamente. Está cometendo um erro gravíssimo ao marginalizar movimentos populares importantes -incluindo fortes organizações indígenas- por considerá-los ‘corporativistas' e carentes de uma visão global de sociedade".

Essa distância entre o governo e os atores sociais tem sido também a consequência de mobilizações indígenas, de grêmio magisterial e da comunidade universitária -que defende o princípio da autonomia-, que aconteceram nos últimos três anos.

É verdade que logo após a tentativa do 30 de setembro, os índices de popularidade de Correa aumentaram, situando-se atualmente em mais de 70%; porém, essas pesquisas não medem necessariamente "a capacidade de mobilização ativa e popular para defender o processo em marcha".

O segundo sinal preocupante, segundo o analista belga, são as passadas eleições na Venezuela, que significam a segunda "derrota" (e "insisto em colocar isso entre aspas", enfatiza Toussaint) do ‘chavismo' nos dez enfrentamentos em que já participou.

Apesar de que a coalizão do presidente Hugo Chávez obteve 98 dos 165 deputados, "seu apoio real representa concretamente 49% dos votos, cifra muito inferior aos 60% que o presidente obteve em 2006" [1]. Os resultados da votação popular dão o que constitui praticamente um empate entre os votos obtidos pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e seu aliado, o Partido Comunista da Venezuela (PCV), por um lado, e os votos obtidos pela aliança da oposição, a Mesa de Unidade Democrática (MUD), pelo outro.

Na somatória global dos votos para a Assembleia Nacional, a aliança governamental ganhou 5.423.324 votos (48,87%) e a aliança opositora, 5.320.364 votos (47,94%), com o qual há uma diferença a favor do governo de somente 102.960 votos, menos de 1% do total dos votos válidos. O Partido Pátria para Todos, que é de esquerda e não fazia parte da aliança governamental obteve 353.709 votos (3,19%) e elegeu 2 deputados.

A partir da consulta eleitoral de setembro passado, a coalizão governante assegura a maioria simples apesar de que perde a maioria qualificada que mantinha desde 2005.

"A base mais firme e popular está entrando em uma fase de decepção. E acontece tanto um deslocamento de votos quanto um aumento do abstencionismo nesse país sulamericano", sentencia.

"Tempo precioso perdido"

Do fático às conclusões mais gerais, para o diretor do CADTM, existe um simples passo conceitual a percorrer. "Vimos avisando há dois anos. Na América Latina os governos progressistas da região estão perdendo um tempo precioso".

A Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América), que é uma proposta de integração dos povos, não avançou e, no momento, se restringe a fazer declarações e papeis. Não existe o Banco da Alba. Não há um programa concreto de integração das economias dos países que aderem a Alba, sublinha.

O que existe, explica, são acordos bilaterais importantes, como o de Cuba com a Venezuela para intercâmbio de petróleo, serviços de saúde e médicos. Ou o tratado da Venezuela com a Bolívia. Ou a política venezuelana de vender, por solidariedade, petróleo aos países que interam Petrocaribe a um preço menor que o do mercado internacional.

O Banco do Sul - que poderia ser um instrumento financeiro de grande transcendência para a região - "ficou só no papel desde 2007 e à espera da ratificação de pelo menos quatro parlamentos dos sete países participantes. Porém, não conseguem avançar.

As causas são várias. Fundamentalmente, a falta de interesse. "Como é o caso do Brasil, que conta com seu próprio Banco de Desenvolvimento (BNDES), com uma carteira de empréstimos muito forte, que serve para apoiar os investimentos e os contratos das grandes transnacionais brasileiras... O Brasil vê a proposta do Banco do Sul quase como uma competição à sua própria instituição e, por isso, não estimula seu avanço", avalia Toussaint.

A América Latina, uma primavera democrática opacada por crescentes nuvens. Mais precisamente, no dizer de Eric Toussaint, o risco de viver fracassos. "E que esses processos, experiências em marcha, programas estratégicos e alternativos não concretizados -como o Alba ou o Banco do Sul- possam levar a uma nova frustração".

"O caso do Equador e o das últimas eleições na Venezuela, enormes expectativas populares prorrogadas no Brasil dos últimos oito anos, o golpe de Estado em Honduras, em junho de 2009... são signos que não podem deixar de preocupar-nos", conclui.

Nota:

1- 7.300.000 pessoas haviam votado em dezembro de 2006, o que significava uma vantagem de 3 milhões de votos sobre seu principal adversário, Manuel Rosales. Ver Eric Toussaint: "Transformar el fracaso del 2 de diciembre de 2007 en una potente palanca para impulsar el proceso en curso en la Venezuela de Hugo Chávez".

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um tratado de demência dos tucanos

Reproduzo artigo de Leandro Fortes, intitulado "A última cruzada tucana", publicado no blog “Brasília, eu vi”:

O conteúdo abaixo caiu na minha caixa de spam, hoje de manhã, enviado por um certo Rodrigo Roni, certamente um dos muitos brucutus de internet a serviço da campanha de José Serra. Normalmente, apago da minha caixa de mensagem de e-mails correntes de quaisquer naturezas, pela óbvia razão de serem escritas e disseminadas por fanáticos religiosos, militantes políticos extremistas e idiotas em geral.

Esta, contudo, embora não fuja à regra, é bastante emblemática sobre o desespero de certa porção da classe média em relação à perspectiva da vitória de Dilma Rousseff e da continuidade dos programas sociais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se de um panfleto anti-petista por excelência, recheado de preconceitos e ofensas amarguradas, um último apelo à insensatez em nome da preservação dos piores e mais mesquinhos valores dessa parcela da sociedade brasileira que caminha, felizmente, para a extinção.

Para garantir votos ao tucano José Serra, a corrente estabelece uma fórmula baseada, explicitamente, nas relações da Casa Grande com a Senzala. Ensina ao patrão e à dona-de-casa de classe média como convencer empregadas domésticas, porteiros, motoristas, ascensoristas e empregados em geral do perigo que representará a eleição de Dilma.

Reparem que as recomendações são para os empregados de dentistas, advogados, clientes, nunca para os dentistas, advogados e clientes, desde já colocados como pessoas de primeira categoria, portanto, imunes ao discurso patético de persuasão apregoado pelo panfleto. Há, ainda, o risível apelo a ser feito “ao atendente da sauna, da academia, da escola de natação, da escola de inglês das crianças”.

Enfim, um texto altamente representativo do tipo de elite que temos no País, suas razões, seus preconceitos, seus medos e seu instinto de preservação baseado em conceitos primários. Uma elite que acha que pode convencer seus serviçais, a quem trata como escravos, a não votar na continuidade de um projeto político que lhes garantiu, pela primeira vez na vida, emprego formal, crédito, qualidade de vida, auto-estima e representação política real.

No auge do desespero, o autor do texto deixa transparecer seu caráter doentio ao se referir a Dilma como “perereca assassina e terrorista”. É essa gente que se coloca como alternativa a um governo popular que tirou o Brasil do buraco.

Vale a pena ler, portanto, esse tratado da demência de auto denominados “formadores de opinião”:

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Como ganhar votos para o Serra

Meus amigos,

Tenho recebido da maioria de vocês, quase que diariamente, emails de indignação contra PT e Dilma.Ficar falando entre nós não leva a nada. E o que a gente precisa fazer é ir atrás dos indecisos, dos que possam até gostar do Lula mas não necessariamente da Dilma, quem sabe ainda dá pra virar essa eleição. Mas eu pergunto – o que realmente estamos fazendo para que o José Serra ganhe esta eleição??? Por que não adianta nós, os denominados “formadores de opinião” ficarmos trocando emails de coisas que já sabemos. Assim, convoco a todos para um pacto que é: convensar com, no mínimo, duas pessoas por dia sobre a eleição presidencial e convencer esta pessoa a votar no Serra. Quem são as pessoas que temos que conversar e convencer:

· a sua assistente doméstica/sua diarista

· seus funcionários

· o guarda da escola das crianças, a tia da escola, a tia da cantina

· o porteiro da sua casa e do seu trabalho

· o manobrista do seu carro, para quem usa estacionamento

· o ascensorista do prédio do seu dentista, do seu advogado, do seu cliente

· o frentista do posto de gasolina

· a caixa do supermercado, da farmácia, do sacolão, …..

· a recepcionista da empresa do seu cliente

· a vendedora da loja de sapato, de roupa, ….

· o garçon do restaurante e do boteco

· o cabeleireiro, a manicure, a fisioterapeuta, a massagista,

· o atendente da sauna, da academia, da escola de natação, da escola de inglês das crianças, etc

Vejam que todos os dias, encontramos no mínimo 10 pessoas diferentes na nossa vida. Daqui até o dia 31 de outubro são somente 12 dias de trabalho, em prol da mudança de grupo político para governar nosso país.

Não queremos ver o PT mais 8 anos no governo se locupletando e explorando a boa fé dos incautos e/ou ignorantes.

Em vez de falar do tempo, vamos falar da eleição. Quando encontrar alguém no elevador, pergunte em quem ele vai votar. E se essa pessoa disser que vai votar no Serra, instigue ele a entrar nessa campanha.

Não envie apenas emails falando do passado da Dilma, que o Lula não estudou, que o governo do PT sabia do mensalão (isso nós já sabemos).

Vamos à luta!!!

Esse é o momento. Faça a sua parte!!! Ninguém vai saber se você fez a sua parte, somente você e Deus.

A hora de trabalhar é agora!!

Esta é uma corrente… do bem.

Funciona assim:

Se você passar este e-mail para pelo menos 10 outras pessoas e estas passarem para outras 10, e assim por diante, ao final de outubro um milagre irá acontecer e beneficiará você e sua família e a todas as famílias que repassaram esta corrente. Já, se você simplesmente ignorar esta corrente, não a repassando, ao final de outubro você será amaldiçoado com o pior de todos os pesadelos: aturar a perereca assassina e terrorista por quatro longos anos de sua vida!!!! Pense bem!!!

Não se esqueça!

Foi a Internet que ganhou o plebiscito do desarmamento.

Portanto, podemos vencer essa eleição também, se nos concentrarmos em um candidato melhor que o Lula. Com ela: pode ficar muito pior.


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Joelmir Beting compara FHC e Lula. Mortal!



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Ato em defesa da liberdade de expressão

Reproduzo reportagem de Suzana Vier, publicada na Rede Brasil Atual:

Em ato de solidariedade à Revista do Brasil, blogues, jornais e revistas independentes que têm sido vítimas de censura sobraram críticas à mídia e à falta de liberdade de expressão, na noite desta quarta-feira (27), na sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região.

Para o presidente da CUT, Artur Henrique, o pedido de suspensão da Revista do Brasil e do Jornal da CUT, pela coligação que reúne PSDB e DEM, encarna a tentativa de calar os movimentos sociais. Artur relembrou que o pedido de tucanos e democratas tinha mais ações que não foram atendidas, como o pedido de segredo de Justiça e a suspensão do blogue do Artur.

O dirigente sindical criticou a censura aos meios de comunicação que expressam a opinião dos trabalhadores, ao mesmo tempo em que publicações como Veja têm liberdade para estampar em sua capa e no conteúdo Aécio Neves. Artur fez referência à edição nº 2187, de 20 de outubro, da publicação, em que se aposta no poder do político mineiro. "Eles também tentaram a suspensão da edição número 1 da revista do Brasil, mas a Veja com Aécio pode, mostrar Dilma Rousseff com duas caras também pode", dispara.

Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, destacou a seriedade e os motivos que levaram ao lançamento da Revista do Brasil. "Quando criamos a revista não foi para contrapor a grande mídia. Foi para dar informação de qualidade para os trabalhadores", afirma. "Quando li a revista que depois foi suspensa, com um conteúdo que nenhuma outra revista tem, como a matéria sobre suicídio e assédio moral, eu tive certeza da decisão acertada de criar a Revista do Brasil para informar de verdade", afirmou Nobre. Para ele, a grande imprensa já caiu em descrédito.

No mesmo sentido, Juvandia Leite, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, avalia que há interesse de "calar o projeto" da revista, que chega a 360 mil pessoas, e que partidos e grandes empresas de comunicação "não podem controlar". "Os meios de comunicação têm dono. O problema não é o fato de terem interesses. O problema é que não dizem isso", criticou Juvandia.

O diretor da Gráfica e Editora Atitude, empresa responsável pela Revista do Brasil e pelo site Rede Brasil Atual, Paulo Salvador, elencou os veículos de comunicação e profissionais que nos últimos dez dias "sofreram atentados à liberdade de expressão".

Na lista estão, além da Revista do Brasi, do repórter João Peres da Rede Brasil Atual, que sofreu xingamentos por parte do senador eleito pelo PSDB-SP Aloysio Nunes, a TV Record, os blogues dos jornalistas Paulo Henrique Amorim, de Luiz Carlos Azenha e de Renato Rovai. Também lembrou da tentativa de suspensão do blogue do Artur e do processo contra os profissionais do blogue "Falha de S. Paulo". O diretor citou ainda as demissões arbitrárias de jornalistas e articulistas pelo grupo Abril, por O Estado de São Paulo, pelo Diário do Nordeste e o caso do apresentador de TV de Goiás que se demitiu ao vivo em consequência de censura.

"É um absurdo a censura que os veículos alternativos vêm sofrendo. Por que nós, do mundo do trabalho, não podemos apresentar nossa opinião?", indagou Paulo Salvador.

Processo

O jornalista Lino Bocchini e o designer Mario Bocchini, do blogue Falha de S. Paulo, suspenso por liminar obtida pela Folha de S.Paulo, contaram ao público sobre o processo que estão sofrendo pelo jornal que não compreendeu a crítica bem-humorada dos profissionais. "O processo da Folha contra nosso trabalho é uma loucura completa. Seria como cassar a Globo porque o Casseta & Planeta faz paródia do Lula", relaciona Lino. Além de suspender a veiculação do blogue, o jornal conseguiu liminar para cassar o endereço na internet e impedir a utilização de qualquer endereço parecido.

O processo de 88 páginas que o jornal move contra Lino e Mário alega uso indevido da marca e pede indenização por danos morais. "Não somos ligados a nenhum partido ou entidade. Só achamos a Folha um jornal ruim", explicaram às centenas de pessoas presentes ao ato por liberdade de expressão.

Com a suspensão do bloque, os profissionais criaram novo site para se defenderem das alegações da Folha. "Abrimos o desculpeanossafalha.com.br para mostrar tudo para as pessoas analisarem por si mesmas", indicam.

Descontrolados

Para a jornalista Renata Mielli, do Centro de Mídia Barão de Itararé, é preciso amplificar a rede de solidariedade e luta porque os veículos de comunicação da grande imprensa, aliados a grupos de poder da direita, estão descontrolados. "Esta semana, diversas matérias demonizaram a criação de Conselhos de Comunicação", lembra. "Eles estão descontrolados. Jogaram todas as cartas para ganhar as eleições", aponta a jornalista.

A deputada federal reeleita Luiz Erundina (PSB-SP) ressaltou seu sentimento de revolta pelos diversos casos de censura, mas também se disse satisfeita, porque "não se chuta cachorro morto". "Eles ficam enciumados da criatividade, do trabalho que vocês fazem", declarou. "Não conseguem sair da mediocridade", analisou a ex-prefeita de São Paulo.

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Com Dilma para democratizar a comunicação

Reproduzo manifesto pela democratização das comunicações:

Com disposição para a luta pela continuidade aperfeiçoamento das mudanças iniciadas pelo governo Lula, nós, jornalistas, radialistas, comunidades rurais e urbanas, movimentos sociais, sindicais e acadêmicos de luta pela democratização das comunicações no Brasil estamos com Dilma no segundo turno. Oriundos e atuantes na grande mídia ou não, em Blogs, nos veículos societários e estatais, redes sociais e em diversos meios, todos estamos comprometidos com a consolidação da democracia no Brasil, em suas várias dimensões.

Consideramos que Dilma representa no momento a única opção para avançarmos na construção de políticas públicas democráticas, normativas, inclusivas e participativas, nesta frente de luta, garantindo aplicação das resoluções consensuadas na primeira Conferência Nacional de Comunicação e possibilitando uma Segunda Conferência Nacional, heterogênea, aberta, mais ampla, inclusive com os setores que se recusaram a participar da primeira.

Diferentemente de outros campos da luta social - como saúde e educação -, onde é possível quantificar metas e indicadores sensíveis como mortalidade e analfabetismo, a luta da comunicação vai muito além de sua dimensão instrumental, articulando-se intimamente aos processos emancipatórios, libertários – ontem, hoje e sempre. Esta luta se insere na luta política dos povos deste continente pelo direito coletivo e difuso à comunicação na perspectiva da autodeterminação dos povos, de uma sociedade igualitária, possível e necessária e de novas práticas de democracia, onde os governos e as representações da sociedade, sobretudo as populares, pautam questões, discutem livremente e partilham de dissensos e consensos acerca das decisões locais, regionais e nacionais. Essas espelham novas experiências para novos rumos do desenvolvimento da sociedade, em lugares diversos do território brasileiro, na perspectiva de avançar à democratização do espectro radioelétrico e fortalecer a comunicação popular.

As práticas dos meios de comunicação de massa hegemônicos são demonstrações de que esses veículos do sistema privado, a exemplo da Veja, Folha, Estadão, Rede Globo e de outras redes espalhadas no Brasil e no continente, não respeitam a natureza pública da comunicação, os valores culturais e direitos sociais das classes subalternizadas. E, na esteira dos programas de entretenimento e nos espaços noticiosos fraudados, produzem e reproduzem a mídia do capital e a materialização do discurso das práticas de governos que sustentam a dominação do capital, o ideário neoliberal, o fundamentalismo religioso, as formas diversas de homofobia, a concentração da propriedade privada nos meios de produção, inclusive no campo da informação e comunicação.

O sistema privado de comunicação no país, com jornais, rádio, TVs e, hoje, a Internet, amparado constitucionalmente para exercer a liberdade de expressão, extrapola, em suas funções de modo irresponsável, certos de que podem mentir, distorcer, manipular, difundir preconceitos, partidarizar as informações, omitir fatos relevantes, porém, se suas vítimas reagem, são acusadas de querer controlar a imprensa. Em nome da liberdade de imprensa, as empresas querem suprimir a liberdade de expressão. A imprensa pode criticar, mas não aceita ser criticada. Entretanto, quem demite, persegue e censura jornalistas e radialistas são os mesmos que agora se dizem defensores da "liberdade de imprensa".

Os sistemas estatal e público comunitário, com características e funções sociais distintas, se desenvolveram nos últimos anos no país. Mas, tudo é novo e instável para as emissoras destes dois sistemas. As estatais, raras por longos anos desde Getúlio Vargas, absorvem as educativas em desvio de função e novas são criadas, entre os três poderes, durante o governo de Luis Inácio Lula da Silva. As públicas comunitárias, antes raras livres dos anos 80, regulamentadas por uma legislação frágil, confusa, reprimidas antes e mesmo depois de outorgadas para as comunidades, são, em grande número, ofertadas como moeda de troca para políticos e grupos religiosos. A ética na política de outorga e o marco regulatório, sobretudo nestes dois sistemas, inseridos numa Lei Geral das Comunicações – ou Estatuto da Comunicação Social – é o desafio para um Presidente de República que tenha compromisso com a sociedade brasileira

A internet de banda larga deste novo século, cada vez mais veloz, espaço das convergências de novos formatos de conteúdos e de recepção simultânea dos tradicionais veículos de difusão de mensagens massivas: rádio, jornal, cinema, televisão, revista, além do telefone, do livro, museu, biblioteca, correio, música, escola, entre outros, se configura neste momento como lugar privilegiado da mídia alternativa, representada por influentes blogs e uma rede de web rádios, apesar dos inúmeros sites e portais institucionais, de diferentes ideologias, e da tentativa de controle do acesso à informação a partir dos provedores, sob legislações a exemplo do AI-5 Digital.

É fundamental a garantia da liberdade de expressão, do direito à informação e à comunicação no ciberespaço, contudo, se materializa no acesso barato ou gratuito, não - privado, á rede de computadores nas comunidades, com provedores e espaços públicos. A internet já está emparelhada com a tv aberta em matéria de entretenimento. Isto resulta na transferência de publicidade da tv para a internet, que amplia a cada ano. Dilma representará: internet gratuita ou mais barata, mais veloz, com a democratização do acesso.

A comunicação constitui um desafio gigantesco, abrindo sempre novos horizontes na luta democrática pela construção permanente de uma outra sociabilidade e convivência humana, sem guerras, com justiça social, igualdade e solidariedade, para além do Capital alienante.

Esta eleição define o futuro do país e deveria ser pautada pelo debate dos grandes temas nacionais, pela busca de soluções para os graves problemas sociais. Os grupos que detém a concessão dos meios midiáticos pautam a mentira e o jogo sujo da política oligárquica de outrora na tentativa de confundir as mentes dos eleitores. Mas, estamos plenos de consciência e cheios de esperança que não haverá retrocesso, que Dilma vai ganhar no segundo turno para avançar na democratização da sociedade, do Estado e da comunicação nas esferas do Estado, do mercado e da sociedade, sem a adoção do AI-5 Digital e a criminalização das comunidades e dos movimentos sociais ao criarem seus próprios meios de difusão.

As Comunidades e os movimentos sociais têm sido reprimidos toda vez que tomam a iniciativa do uso livre e comunitário das ondas de rádio, de sons e imagens, ou de recursos digitais para TV, telefonia e internet banda larga na perspectiva da universalização do acesso às novas tecnologias da informação e comunicação. Com Dilma, abrem-se as possibilidades para avançar na definição de um novo marco das comunicações no Brasil, a partir das características, função social e complementaridade dos três sistemas (estatal, público e privado) de comunicação, previstos na Constituição brasileira de 1988.

AJOSP – Associação dos Jornalistas do Serviço Público

FNDC-BA – Comitê da Bahia do Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação

ABRAÇO-BA – ASSOCIAÇÃO BAIANA DE RADIODIFUSÃO COMUNITÁRIA

SOCIEDADE CIVIL ACAUÃ

JONICAEL CEDRAZ DE OLIVEIRA - UFBA

FÓRUM SINDICAL E SOCIAL/MG

JERRY DE OLIVEIRA-COORDENADOR ABRAÇO/SUDESTE

CLEMENTINO DOS SANTOS LOPES-COORDENADOR ABRAÇO/SUL

JOSUÉ FRANCO LOPES-COORD. COMUNICAÇÃO E CULTURA DA ABRAÇO

MARCELO FIORIU-TV CIDADE LIVRE/RIO CLARO

ALAN VINICIUS-RBC/MG

DIRCE KUCHLER/MG

JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA/MG

FRANCISCO FRANÇA ANDRADE- FAMEMG

RONALDO RODRIGUES BATATINHA- PT/Congonhas

BERENICE DE FREITAS DINIZ-COMUNICAÇÃO E SAÚDE/FIOCRUZ

ROGÉRIO AUGUSTO BARACHO-MILITANTE ABRAÇO/MG

JOSÉ GUILHERME CASTRO-MILITANTE ABRAÇO/MG

GERALDO VITOR ABREU-AMBIENTALISTA-BRASÍLIA

RILKE NOVATO PÚBLIO-FENAFAR

JACKSON DAVID DE OLIVEIRA SOUSA-MILITANTE PSOL/MG

VITO GINNOTTI-ESCRITOR E COMUNICADOR/RJ

ROGÉRIO HILÁRIO-JORNALISTA CUT/MG

MARCO AURÉLIO MOREIRA ROCHA-PT/BH

MARCOS VALÉRIO MENEZES MAIA-PT/BH

BRÁULIO QUIRINO SIFFERT-JORNALISTA SIND-SAÚDE/MG

VALDISNEI HONÓRIO ALVES DA SILVA-MILITANTE ABRAÇO/MG

EDMAR MIRANDA RODRIGUES(CAZUZA)-CUT/MG

TOMAZ DE JESUS SILVA-CUT/MG

LOURDES APARECIDA DE JESUS VASCONCELOS-SIND-UTE/MG

JUNINHO MENDES-MILITANTE ABRAÇO/MG

EDELVAIS QUEIRÓS GONÇALVES FERNANDES-FUND. ABRAÇO METRO/BH

IVAN LÚCIO DOS SANTOS-CUT/MG

MILTON PEREIRA LIMA-CC PRIMEIRO DE MAIO/BH

SINDGUARDA/BETIM

LUCIANA SILAMI CARVALHO-FARMACÊUTICA/MG

WILLIAM DE SOUZA LOPES-HISTORIADOR

SILVIA ANGÉLICA AMÂNCIO VASCONCELOS-JORNALISTA

SEBASTIÃO FORTUNATO-FARMACÊUTICO/MG

JORNAL A VERDADE

SIND-SAÚDE/MG

KELY SIDNEI DE ALMEIDA-CEBS/MONTES CLAROS

ÉLCIO PACHECO-ADVOGADO/RENAP

JOVINA GOMES PEREIRA-SIND-DAÚDE/MG

SIND.FARMACÊUTICOS/MG

MIC-MOVIMENTO INTER-REGIONAL DE CULTURA

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Uma eleição para não ser esquecida

Reproduzo artigo de Maria Inês Nassif, publicado no jornal Valor:

O novo presidente será conhecido já no domingo, tão logo contabilizados os votos das urnas eletrônicas. O novo Brasil político, no entanto, descortinou-se durante a campanha, é velho e conservador e merecerá certamente a atenção de especialistas depois do pleito. Os partidos, em especial os de oposição, conseguiram extrair da sociedade os seus mais primitivos preconceitos, por meio de uma agenda conservadora e religiosa. Qualquer que seja o resultado da eleição - e até esse momento não existem divergências entre as pesquisas dos institutos sobre o favoritismo da candidata Dilma Rousseff (PT) - o eleito terá de lidar com uma agenda de políticas públicas da qual foram eliminadas importantes conquistas para a sociedade como um todo, e na qual o elemento religioso passou a ser um limitador da ação do Estado.

A ação da igreja conservadora e de setores do pentecostalismo contra Dilma, por conta de sua posição sobre o aborto, é o exemplo mais gritante. No Brasil, a cada dois dias morre uma mulher em conseqüência de um aborto clandestino. A legislação brasileira ao menos conseguiu trazer mulheres que correm risco de vida em decorrência de um aborto que já foi malfeito para dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) e garante que a rede pública faça com segurança os abortos aceitos legalmente - os de vítimas de estupro ou quando a gravidez coloca em risco a vida da mulher. Como assunto de saúde pública, o aborto não poderia ter ocupado o centro dos debates. Isso é uma questão de Estado. Como convicção moral, a mudança na legislação está na órbita do Congresso - e esses setores elegeram seus representantes. O debate eleitoral sobre o aborto, numa eleição para a Presidência, foi a instrumentalização política de um dogma - pelo menos dos setores religiosos conservadores - e excluiu do debate a maior interessada, a mulher. A eleição conseguiu retroceder décadas esse debate. O movimento feminista não agradece.

O país que se redemocratizou há um quarto de século e há 22 anos conseguiu entender-se em torno de uma Constituinte cujo produto final foi avançado politicamente, manteve uma reverência envergonhada aos atores políticos mais importantes do regime anterior - dos militares à Igreja conservadora - e um medo subjetivo de se contrapor de fato ao passado. Sem lidar com os seus fantasmas, tem reincorporado vários deles à vida política. É inadmissível que num país que viveu 21 anos sob o tacão militar, por exemplo, setores da sociedade (e os próprios militares) tenham reagido de forma tão desproporcional ao III Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), ou rejeitem de forma tão violenta o acerto com esse passado. Ao longo dos anos de democracia, determinados setores sociais passaram a reincorporar valores que pareciam ter sido abolidos do manual de como fazer política. Ao longo desses 25 anos que nos separam do último ditador militar, a direita, que se envergonhara no final da ditadura, lentamente desenterrou os velhos fantasmas e refez os preconceitos. Aliás, não apenas a velha direita. Uma nova direita, que se formou com atores que vinham também da resistência democrática, aceitou o caminho do conservadorismo ideológico para reaglutinar uma elite que ficou sem norte, e para a qual a emergência de grandes parcelas da população que estavam na base da estrutura social à classe média assusta - até porque a elite brasileira não tem historicamente experiência com realidades onde a disparidade de renda é menor e onde o aumento da escolaridade transforma pobres em cidadãos, e não em votos a serem manipulados.

Dentre todos os setores que atravessaram da esquerda para a direita nessas últimas duas décadas, o PSDB foi o que perdeu mais. Formado com um ideário social-democrático, mas sem experiência de articulação de política partidária e sem vocação para liderança de massas, chegou ao poder junto com o neoliberalismo tardio brasileiro, assimilou valores conservadores, incorporou-os ao seu tecido orgânico e sobreviveu, enquanto mantinha o governo federal, com a ajuda da política tradicional (e conservadora). Na oposição, não conseguiu voltar ao leito social-democrata. Deixou-se empurrar para a direita pelo PT, quando o presidente Luis Inácio Lula da Silva assumiu o seu primeiro mandato, e se aproximou tanto do PFL que as divergências entre ambos se diluíram ao longo do tempo, ao ponto de canibalizarem votos uns dos outros. Incorporou o discurso neoudenista, transformou-se num partido de vida meramente parlamentar, não reorganizou o partido para formar militância. O PSDB, hoje, é um partido que aparece como tal para apenas disputar eleições.

Isso é péssimo. O primeiro turno já compôs o Legislativo federal. O PT saiu das eleições mais forte. O PMDB, que é o partido que todos falam mal, mas do qual nenhum governo consegue se livrar, continua forte com a sua fórmula de funcionar como uma federação de partidos regionais e tende a incorporar o DEM, ex-PFL, e ficará mais forte ainda. Os demais, inclusive o PSDB, serão partidos médios - com a diferença que o PSB, por exemplo, é um partido médio em crescimento, e o PSDB terá que se reinventar para voltar a crescer, se não voltar a ser governo. O PT se acomodou no espaço da social democracia e o PMDB permanece no centro, se é possível atribuir a esse partido uma posição ideológica que não seja a da fisiologia. O espaço que o PSDB tem para se reinventar fora da direita é mínimo. O DEM e o PSDB deram muito trabalho ao presidente Lula, em oito anos de governo, mas carregaram no jogo neoudenista e se desgastaram demais. Além disso, a hegemonia paulista no PSDB permanece, o que obstrui caminhos de líderes não paulistas que poderiam reduzir o desgaste neste momento, como Aécio Neves (MG).

Não é arriscado apostar na emergência de um novo partido de oposição. O PSDB precisaria de lideranças muito hábeis para se reinventar, e de uma solidariedade e organicidade que nunca cultivou. E precisaria enterrar de vez os preconceitos e preceitos conservadores que têm desenterrado a cada nova eleição. Enfim, empurrar-se de novo para uma posição de centro. O passado do partido, todavia, não recomenda que se trabalhe com essa hipótese.

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A história não tem rascunhos

Reproduzo editoral do jornal Brasil de Fato:

Estamos diante da maior eleição de nossa história. A quinta eleição presidencial consecutiva, 21 anos depois do inesquecível embate de 1989. Esse período é o maior da história política brasileira, com liberdades democráticas e votação direta para o executivo e legislativo; comparável apenas com o brevíssimo período entre as duas ditaduras do Estado Novo e da resultante do golpe militar entre 1964 e 1985.

Golpe militar e período ditatorial seguem sendo o grande trauma não superado em nossa história. Os embates, polêmicas, acusações e personagens, que reaparecem neste segundo turno, seguem nos lembrando que os fantasmas do passado continuam ativos e dispostos a impedir qualquer mudança, por menor que seja, e que afete seus interesses.

Assim como em 1989, na campanha de Collor contra Lula, retomam o tema do aborto e todo um arsenal de calúnias para semear o ódio e o medo. Neste momento, são chamados os velhos atores sinistros que cumprem o papel de apavorar. Ressurgem antigos personagens, como a turma da Tradição Família e Propriedade (TFP), Opus Dei e toda a gama de fundamentalistas, acompanhados de generais de pijama, ruralistas e analistas de plantão.

Novamente, a grande mídia atua como o verdadeiro partido político da direita e usa toda a sua força para propagar o medo. Nada mais simbólico do que a capa da revista Veja com o monstruoso polvo vermelho que vai nos engolir. Com isto, se esvai a pouca credibilidade desses veículos de comunicação.

A batalha ideológica faz parte da luta política. Embora numa correlação de forças distinta daquela histórica campanha de 1989, e empunhando um programa muito mais rebaixado, a candidatura Dilma enfrenta todas as baterias da grande mídia, especialmente das quatro grandes famílias que controlam os principais veículos de comunicação do país. Novamente, a polarização divide a sociedade. Lideranças religiosas se posicionam no campo conservador ou progressista; artistas, dirigentes populares, não escapam da polarização.

Novamente, constatamos que enquanto os primeiros turnos das eleições são frios, distantes dos grandes debates e resumidos a shows e disputa de espaço na grande mídia, os segundos turnos forçam o confronto de ideias, propostas, visões do Brasil e do mundo, e de projetos políticos. Assim como nas eleições presidenciais passadas, o tema das privatizações é retomado, obrigando a candidatura da direita a fazer todos os malabarismos para contorná-lo.

Vacilar neste momento é um grave equívoco. Abster-se ou esconder-se no voto nulo, para depois invocar a falta de responsabilidade quando os previsíveis limites de um governo Dilma surgirem, é um senso de oportunidade que não condiz com um lutador do povo. As forças políticas que sustentam a candidatura Serra - desde a bancada ruralista até os ávidos negociantes das privatizações - são as mesmas que protagonizaram o desmonte do Estado brasileiro e toda a ofensiva neoliberal durante o período Fernando Henrique Cardoso.

Recordemos que FHC saudou a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) como "bem-vinda" em seu discurso na II Cúpula das Américas em Quebec. E seu ministro Celso Lafer, notabilizado por tirar os sapatos quando visitava os EUA, demitiu o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães da diretoria do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) por criticar a Alca. Além disso, aceitou passivamente a destituição do embaixador José Mauricio Bustani da direção da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) para preparar os pretextos da invasão ao Iraque.

Logo após o atentado de 11 de setembro, Lafer convocou uma reunião do órgão de consulta da OEA, invocando o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar), manifestando que o Brasil poderia participar de ações militares contra o terrorismo. Também firmaram acordo para ceder a Base de Alcântara aos EUA, que fortaleceram os ataques e o boicote a Cuba. Tudo isso apenas para refletirmos sobre os impactos internacionais.

Não se trata de alimentar ilusões sobre as possibilidades de um governo Dilma. A provável conjuntura nacional e internacional dos próximos anos será muito mais complexa e exigirá muito mais, tanto do governo Dilma, quanto das forças populares. E a proposta política do PT já não é mais o seu histórico Programa Democrático Popular que empolgou a campanha de 1989. Sabemos que a construção de um projeto popular exige um programa de mudanças estruturais e que isso depende da organização de nosso povo e sua capacidade de construir a força social.

A questão colocada pela história é outra. Derrotar o inimigo é sempre uma tarefa central na luta popular. A luta de classes é um fator objetivo do processo. Do inimigo podemos esperar tudo, menos complacência. Basta ver a capacidade das forças reacionárias em aglutinar-se em torno da candidatura Serra para compreender porque a maioria da classe trabalhadora não vacila em posicionar-se.

Equivocar-se na identificação do inimigo é um erro que costuma custar muito caro, pois determina a capacidade de construir alianças e onde concentrar forças. Como ensina a velha sabedoria chinesa,“quem não sabe contra quem luta, jamais poderá vencer. Alguns poderão esconder-se no voto nulo, esperando ansiosos que os anunciados limites de um governo Dilma lhes massageie a consciência impoluta. Pouco importa o movimento dos representantes do latifúndio, grandes meios de comunicação, igrejas conservadoras e aparatos de “inteligência” estrangeiros. Pouco lhes importam a defesa dos países que constroem a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) e, principalmente, ignoram a consciência da classe trabalhadora que se posiciona de forma clara. Somente a história poderá nominar esta postura. E a história não admite rascunhos.

Nossa luta é pela construção de um projeto popular para o Brasil. Estamos apenas diante de mais um desafio. Sabemos que as eleições não são a batalha final. Por isso, seguiremos numa luta prolongada, apostando na unidade de todas as forças populares em torno de um programa que altere a estrutura de poder em nosso país. Viveremos junto com o povo esse processo e não tememos a cooptação. Acreditamos no povo brasileiro e enfrentaremos mais essa batalha, confiantes em derrotar nossos inimigos.

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Dilma, Cristina e a “falta de um homem”

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

A morte de Néstor Kirchner levanta uma série de questões relevantes para a política da Argentina e do nosso continente. O ex-presidente, responsável pela impressionante recuperação argentina depois do fundo do poço do “corralito”, era cotado para ser o candidato a presidente do peronismo na sucessão de Cristina. Mesmo fora da Casa Rosada, Néstor era o articulador desse bloco de centro-esquerda que, nas últimas eleições congressuais, obteve resultados abaixo do esperado. A oposição de direita, capitaneada por Macri (empresário e ex-presidente do Boca), tem o apoio da velha mídia e dos setores agrários conservadores descontentes com Cristina. Certamente, essa oposição terá muita força na sucessão em 2011.

Todas essas são questões importantes. Ok. Mas o que não dá pra aceitar é a pauta apresentada – por exemplo – pelo “Jornal da Globo”: será que Cristina dá conta de governar, sem o marido?

É de um machismo tão fora de época que a gente fica até com preguiça de discutir. Cristina não é “apenas” a “esposa” de Kirchner. Isabelita era “apenas” esposa de Peron nos anos 70. Os tempos eram outros. E deu no que deu – Isabelita (era a vice do marido e, com a morte de Perón, assumiu o poder) foi uma presidenta fraca, que abriu caminho pra ditadura.

Cristina, não! Ela militou ao lado de Nestor, contra a ditadura. Tem vida própria, luz própria. O marido tinha liderança e isso ninguém contesta, mas querer reduzir Cristina ao papel de “esposa”, ou agora “viúva”, é quase inacreditável.

Por que falo disso agora? Porque vários leitores relatam que, no telemarketing do mal aqui no Brasil, há um novo telefonema na praça. Uma voz – feminina - pergunta ao cidadão incauto: ”será que a Dilma dá conta, sem o Lula?”

O machismo é o mesmo – contra Dilma e Cristina. E eu me pergunto: em que século vivem os marqueteiros do mal e os editores do “Jornal da Globo”?

Dilma não precisou segurar na mão do Lula quando – aos 17 ou 18 anos – foi pra clandestinidade lutar contra a ditadura. Dilma não precisou do apoio de Lula quando esteve presa, nem quando resistiu aos toturadores.

Dilma tem trajetória própria. Os tucanos, por menosprezar essa verdade, acreditaram na balela vendida por mervais e jabores: “ela não resiste à campanha sem o Lula”. He, he. Machista, normalmente, leva um susto quando vê que a mulher não “precisa” de homem.

Uma coisa é reconhecer: Lula é um líder popular imensamente mais carismático que Dilma. Isso é fato. Ponto. Outra coisa é querer reduzir Dilma ao papel de “a mulher que Lula indicou”. Dilma foi secretária de Energia pelo PDT gaúcho. Lá, não havia Lula. Foi escolhida ministra por méritos próprios.

O machismo e a arrogância de Serra nos debates - ”a candidata não entende minha pergunta”, “acho que você não compreende bem” – lembram-me Maluf chamando Marta de “dona Marta”. É um machismo tosco, que se revela agora no telemarketing desesperado da reta final.

Eu – que como todo homem brasileiro – já fiz piadinha machista e já disse frases que certamente irritariam qualquer feminista, posso dizer com sinceridade: as mulheres lidam muito melhor com a ausência de um companheiro do que nós homens. É fato. Claro que há exceções. Claro que os homens estão aprendendo a - eventualmente – lidar com a solidão e com a necessidade de caminhar sozinhos.

Mas, sejamos honestos: há velhinhos que – ao perder a mulher - não resistem mais do que 1 ano. Preferem morrer. Não dão conta sozinhos. As mulheres, não. Víúvas ou divorciadas, seguem em frente. Podem até casar de novo. Mas não “precisam” de um homem na mesma medida em que o homem parece “precisar” de uma mulher.

Marqueteiros e jornalistas (homens) talvez projetem para mulheres poderosas (como Cristina e Dilma) a fragilidade e o medo que eles mesmos sentem diante da possibilidade de ficarem “sozinhos”. São marqueteiros e jornalistas que talvez tenham vontade de segurar na não da “mamãe-esposa” quando ficarem velhinhos. Nada de errado nisso. Todos nós temos nossas fragilidades – homens ou mulheres.

Cristina vai sofrer, vai sentir a falta de Néstor – como qualquer um que perde o companheiro da vida toda. Pode ganhar ou perder a sucessão. Mas isso não terá nada a ver com a ausência do “marido”.

Dilma - também – não é mulher que precise viver à sombra de homem nenhum. Não é à toa que teve como companheiro, durante tantos anos, alguém que é capaz de dar uma entrevista tão corajosa, firme – e ao mesmo tempo carinhosa – como a que podemos ler aqui.

Só um aperitivo do que disse Carlos Araújo a “O Globo”, sobre Dilma:

Quem mandava na casa?

Carlos: Nossos parâmetros não eram esses, de quem manda, não manda. Éramos companheiros.

Não era nosso estilo um mandar no outro. Foi uma bela convivência. Tivemos uma vida boa juntos, tenho recordação boa, não é saudade.

O resto – digo eu – é machismo jornalístico. E babaquice marqueteira.

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A hipocrisia da mídia grassa solta

Reproduzo artigo do jornalista Marcos Verlaine, assessor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), publicado no sítio Vermelho:

As campanhas eleitorais são importantes para um país como o Brasil, cujo povo, de modo geral dá de ombros para a política. Assim, as eleições têm o condão de incorporar milhões ao processo do debate político, que em períodos normais estão pouco se lixando para a política, os partidos e os políticos. Isto é ruim, mas o povo tem lá suas razões.

Num país como o Brasil, cujo presidencialismo de coalizão demanda forte intervenção política dos atores sociais, menosprezar a política, seu processo e, sobretudo, as eleições é um erro gravíssimo. Daí, em grande medida, decorrem as graves distorções do nosso sistema político-eleitoral.

Mas isto é um problema que pode ser tratado noutro momento, pois o que motivou-me a escrever este artigo foi uma densa e curta “Carta ao Noblat” enviada ao blog do Noblat por um aposentado de Além Paraíba (MG), que claro, o jornalista não publicou, nem vai publicar.

A referida foi publicada em vários blogs. Eu li nos blogs Escrivinhador, do Rodrigo Vianna, e do deputado Brizola Nelo (PDT-RJ), Tijolaço.

Visitei o blog do Noblat para ver se a carta havia sido publicada e nada encontrei.

Mas encontrei uma matéria do Fernando de Barros e Silva – Dilma no limite – que foi publicada na Folha de S.Paulo. O texto critica a Dilma, diz que ela “passa a impressão de estar no limite das suas capacidades, a um triz de um curto-circuito. Isso apesar da vantagem relativamente folgada que abriu sobre José Serra – 56% a 44%, segundo o Datafolha.”

E elogia o Lula e FHC. “Nem de longe reúne os recursos pessoais para o exercício da função de seus antecessores”, fuzila e decreta Barros e Silva.

Aí pensei, quem é esse cara pra dizer isto? Ele certamente encheu páginas e páginas de jornais para criticar o Lula, dizer que era analfabeto, despreparado para o cargo, que não freqüentou algum curso superior, que falava errado e coisas do gênero. Agora elogia. É muita hipocrisia.

Se prevalecesse o Brasil da Folha, d’O Globo, do Estadão, do Merval Pereira, da Miriam Leitão, da Lúcia Hipólito e tantos outros que pareciam torcer e escrevem como quem parece torcer contra o Brasil, para que se esfarele, com inflação, desemprego e salários rebaixados estaríamos hoje em outro ritmo e espírito.

Certamente se esse Brasil prevalecesse, o Serra estaria vencendo a disputa presidencial e não a “neófita” Dilma, como a chama o jornalista da Folha.

Os jornais estampam que os debates têm se expressado pelo baixo nível, mas o que vários veículos de imprensa fizeram e fazem para melhorar o nível desses debates? Nada, pelo contrário, até estimularam e estimulam o baixo nível, com temas laterais e enviesados, com o claro objetivo de prejudicar a Dilma.

Mas o povo não é bobo. Vive concretamente os resultados do atual governo no campo do emprego, do aumento da renda e do consumo, melhoria de vida, mais acesso aos meios culturais e educacionais e tem perspectivas alvissareiras quanto ao futuro.

Assim, a desconstrução da candidata do PT e o “elogio” ao Lula têm o mesmo objetivo – enganar para derrotar o projeto em curso, que ganha ares de concretude a cada pesquisa de intenção de voto que é divulgada nesta reta final de campanha.

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José Serra e a liberdade de expressão

Reproduzo levantamento feito pelo jornalista Antônio Biondi:

José Serra não lida bem com perguntas que questionem seus pontos de vista. Coloca-se como um defensor da liberdade de imprensa, mas desrespeita jornalistas que publiquem matérias desfavoráveis a seus interesses.

Em 27 de setembro de 2010, Marina Silva deu declarações que ajudam a entender o padrão de comportamento do presidenciável com a imprensa: “Tenho ouvido reclamações nos últimos dias que o ex-governador José Serra tem ficado nervoso quando fazem perguntas que ele não gosta. Ouço também relatos de que há uma tentativa de intimidação dele aos jornalistas. Existem duas formas de tentar intimidar a imprensa. Uma é aquela que vem a público e coloca de forma infeliz uma série de críticas. Outra é aquela que, de forma velada, tenta agredir jornalistas, pedir cabeça de jornalista, o que dá na mesma coisa, porque o respeito pela democracia e pela liberdade de imprensa é permitir que a informação circule. Serra constrange e tenta intimidar jornalistas” (Fonte: IG).

Se você é jornalista e trabalha em uma redação, já deve ter ouvido alguma história sobre telefonemas que ele teria dado a donos e diretores pedindo a demissão de repórteres “irresponsáveis”. Decidimos reunir apenas episódios concretos, públicos e comprováveis, para que o eleitor tenha ferramentas para ajustar sua percepção à realidade.

13 de outubro de 2010

Vítima: Valor Econômico (repórter Sérgio Bueno)

O repórter Sérgio Bueno fez pergunta sobre Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto. E ouviu do candidato: “Seu jornal faz manchete para o PT colocar no horário eleitoral. Eu sei que, no caso, vocês não têm interesse na Casa Civil, naquilo que foi desviado. Seu jornal, pelo menos, não tem. Agora, no nosso caso, nós temos.” Horas depois, a diretora de redação do Valor, Vera Brandimarte, ensinou: “O jornalista [Sérgio Bueno] só estava fazendo o trabalho dele, que é perguntar. Todos os candidatos devem estar dispostos a responder questões, mesmo sobre temas que não lhes agradem”.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1410201008.htm

28 de setembro de 2010

Vítima: Folha de S.Paulo (repórter Breno Costa)

Em Salvador, diálogo entre o repórter Breno Costa, da Folha, e o candidato do PSDB. “Candidato, nesses últimos dias de campanha, qual deve ser a [sua] estratégia?”. Resposta de Serra: “Certamente não é perder tempo com matéria mentirosa como a que você fez”. Sobre a matéria, explicação da Folha: “Serra referia-se à reportagem que mostrou ressalvas feitas por técnicos do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo no ano de 2009, quando ele era governador. As objeções técnicas do TCE-SP, que aprovou suas contas, referiam-se a ações que, hoje, fazem parte da lista de promessas do tucano”.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2909201010.htm

15 de setembro de 2010

Vítima: CNT/Gazeta (entrevistadores Márcia Peltier e Alon Feurwerker)

Serra irritou-se durante gravação e ameaçou deixar o programa “Jogo do Poder”, da CNT, comandado por Márcia Peltier e Alon Feurwerker. Ele não gostou de perguntas feitas e depois de dizer que estavam “perdendo tempo” com aqueles assuntos, passou a discutir com Márcia. Disse que, em vez de tratarem do programa de governo, estavam repetindo “os argumentos do PT”. Em seguida, levantou-se para deixar o estúdio. “Não vou dar essa entrevista, você me desculpa. Faz de conta que não vim”, disse Serra, reclamando que a entrevista não era um “troço sério”. Logo depois, pediu que os equipamentos fossem desligados e disparou: “Isso aqui está um programa montado.” A apresentadora negou com firmeza a acusação e teve uma conversa reservada com Serra. Só então o candidato aceitou voltar ao estúdio.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1609201022.htm

7 de agosto de 2010

Vítima: TV Cultura – Gabriel Priolli

No final da tarde, Fernando Vieira de Mello, vice-presidente de conteúdo, chamou Priolli à sua sala para comunicá-lo de seu afastamento da direção de jornalismo da emissora. O episódio aconteceu apenas 5 dias depois de Priolli assumir o cargo. Ele havia encomendado uma reportagem sobre pedágios. A Folha escreveu sobre o episódio: “Nos corredores da emissora e na blogosfera, circula a informação de que, por trás da saída de Priolli, está uma reportagem sobre problemas e aumento nos pedágios. A reportagem teria sido “derrubada” – jargão para o que não é veiculado – por Mello. “A reportagem não foi ao ar na quarta-feira por uma razão simples: não estava pronta”, diz Mello. “Eram ouvidos só [Geraldo] Alckmin e [Aloísio] Mercadante. Em período eleitoral, somos obrigados a ouvir todos os candidatos. Foi isso que fizemos”, acrescenta. Dias antes, outra dança de cadeiras originou rumores sobre a influência do governo estadual sobre a TV. Segundo estes, Heródoto Barbeiro teria sido substituído por Marília Gabriela no Roda Viva por ter feito uma pergunta incômoda a Serra.

Escreveu o Observatório da Imprensa: “Explicações complicadas terão que ser dadas pelo candidato à presidência José Serra – acusado de ter pedido a cabeça dos jornalistas”

Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=597IPB010

23 de agosto de 2010

Vítima: TV Brasil

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, se irritou com uma pergunta de uma jornalista da TV Brasil, emissora estatal, sobre o fato de a propaganda na TV completar uma semana hoje e a expectativa
do tucano de conseguir reagir nas pesquisas. “Pergunta lá pro seu pessoal na TV Brasil. Eles têm uma opinião”, disse Serra.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/787723-serra-se-irrita-com-pergunta-de-jornalista-da-tv-brasil.shtml

Julho de 2010

Vítima: Rádio Mirante AM, do Maranhão – repórter Mário Carvalho

Serra irritou-se quando foi perguntado sobre o que faria para diminuir sua rejeição no Nordeste. Respondeu: “Onde você viu essa informação? Você está fazendo campanha para Dilma”. “No Ibope e no Datafolha”, disse Carvalho. “De qual emissora você é?” “Da Mirante AM”. “Não é rádio do Sarney? Eu não sei aonde você viu isso. Vamos fazer uma coisa, você quer fazer propaganda pra Dilma? Eu acho legítimo que sua rádio e você faça campanha para Dilma. Não tenho nada a me opor. Agora não venha falar mentira. Tudo bem, faz a campanha direto”, disse, gritando, Serra.

16 de julho

Vítima: TV Globo – Fábio Turci

O repórter Fábio Turci dirige a Serra uma pergunta sobre juros. O perguntado não esconde sua irritação, e indaga com a devida veemência: “De onde você é?” Turci esclarece ser da Globo. E Serra, de pronto: “Ah, então desculpe”.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/pesos-e-medidas

22 de junho de 2010

Vítima: TV Cultura – Mediador Heródoto Barbeiro

“Como o estado poderia prestar serviço não cobrando pedágios tão caros como são cobrados no estado de São Paulo? A gente viaja por aí e as pessoas reclamam que para ir de uma localidade à outra custa R$ 8,80″, questionou o jornalista. “Você tá transmitindo o que o PT vive dizendo”, acusou. O candidato explicou que o modelo de privatização de rodovias de São Paulo passou por mudanças em seu governo. “Nós mudamos o modelo de concessões e os pedágios baixaram em relação aos elementos anteriores”. Ao final da discussão, Serra classificou as indagações do jornalista de “trololó petista” e condenou Barbeiro por não apresentar resultados do governo tucano em São Paulo. “Essas perguntas têm sempre de vir acompanhadas de resultados”, exigiu o tucano. Logo depois, Barbero deixou a bancada do programa, dando lugar a Marília Gabriela.

Assista ao bate-boca: http://www.cafenapolitica.com/wordpress/?p=1751

29 de maio de 2009

Vítima: Estadão – repórter Sandro Villar

Escreveu o Estadão: “A entrevista coletiva foi tumultuada. A segurança reprimiu os jornalistas com certa dose de truculência. O governador fugiu das perguntas políticas. Ao ser perguntado pelo repórter do Estado se faria dobradinha com Aécio Neves na eleição para a presidência, Serra se irritou. “Pensei que você veio para perguntar sobre o hospital”, respondeu (em referência a uma pauta publicada). Um segurança agarrou o repórter na frente do governador, que condenou a atitude do rapaz (do repórter!) e soltou um sonoro palavrão impublicável.Villar declarou, em correspondência a Luis Carlos Azenha: “Não faz muito tempo surgiram informações de que o Serra foi submetido a um cateterismo realizado secretamente na calada da noite. Eu queria perguntar isso ao governador para ele desmentir ou não. Mas, pela segunda vez, fui agredido pela segurança de Sua Excelência. Protestei e disse que nem na época da ditadura militar fui tratado com tanta truculência”

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,professores-chamam-serra-de-ditador-em-presidente-prudente,379226,0.htm

10 de maio de 2010

Vítima: Rádio CBN (Comentarista Miriam Leitão)

Em entrevista pela manhã, Miriam perguntou se o presidenciável respeitaria a autonomia do Banco Central ou se presidiria também a instituição, caso vencesse a eleição. Serra primeiro respondeu que a suposição da jornalista era “brincadeira”. Em seguida, disse, ríspido: “Você acha isso, sinceramente, que o Banco Central nunca erra? Tenha paciência!” Questionado se interviria na instituição ao se deparar com um erro, Serra interrompeu Miriam: “O que você está dizendo, vai me perdoar, é uma grande bobagem.”

10 de maio de 2010

Vítima: Rádio Nacional

Relato da Folha de S. Paulo: Um repórter da Rádio Nacional, emissora estatal, perguntou se o tucano acabaria com o Bolsa Família. Serra reagiu de forma ríspida. “Por que a pergunta? Porque disseram para você que eu vou acabar? Então eu gostaria de saber a fonte. Isso é uma mentira total”, afirmou. Em outro momento de irritação, Serra não quis detalhar sua posição referente à divisão dos royalties do pré-sal. “Não vou ficar repetindo.” Assessores de Serra procuraram repórteres para pedir desculpas pelo tom do tucano, que chegou ao evento com 40 minutos de atraso.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2005201009.htm

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A importância de uma mulher na presidência

Reproduzo artigo do teólogo Leonardo Boff, publicado no sítio da Adital:

Há duas formas principais de estarmos presentes no mundo: pelo trabalho e pelo cuidado. Como somos seres sem nenhum órgão especializado, à diferença dos animais, temos que trabalhar para sobreviver. Vale dizer, precisamos tirar da natureza tudo o que precisamos. Nessa diligência usamos a razão prática, a criatividade e a tecnologia. Aqui, precisamos ser objetivos e efetivos; caso contrário, sucumbimos às necessidades. Na história humana, pelo menos no Ocidente, instaurou-se a ditadura do trabalho. Este, mais do que obra, foi transformado num meio de produção, vendido na forma de salário, implicando concorrência e devastação atroz da natureza e perversa injustiça social. Representantes principais, mas não exclusivos, do modo de ser do trabalho são os homens.

A segunda forma é o cuidado. Ele tem como centralidade a vida e as relações interpessoais e sociais. Todos somos filhos e filhas do cuidado, porque se nossas mães não tivessem tido infinito cuidado quando nascemos, algumas horas depois teríamos morrido e não estaríamos aqui para escrever sobre estas coisas. O cuidado tem a ver mais com sujeitos que interagem entre si do que com objetos a serem gestionados. O cuidado é um gesto amoroso para com a realidade.

O cuidado não se opõe ao trabalho. Dá-lhe uma característica própria que é ser feito de tal forma que respeita as coisas e permite que se refaçam. Cuidar significa estar junto das coisas protegendo-as e não sobre elas, dominando-as. Elas nunca são meros meios. Representam valores e símbolos que nos evocam sentimentos de beleza, complexidade e força. Obviamente, ocorrem resistências e perplexidades. Mas elas são superadas pela paciência perseverante. A mulher, no lugar da agressividade, tende a colocar a convivência amorosa. Em vez da dominação, a companhia afetuosa. A cooperação substitui a concorrência. Portadoras privilegiadas, mas não exclusivas, do cuidado são as mulheres.

Desde a mais remota antiguidade, assistimos a um drama de consequências funestas: a ruptura entre o trabalho e o cuidado. Desde o neolítico se impôs o trabalho como busca frenética de eficácia e de riqueza. Esse modo de ser submete a mulher, mata o cuidado, liquida a ternura e tensiona as relações humanas. É o império do androcentrismo, do predomínio do homem sobre a natureza e a mulher. Chegamos, agora, a um impasse fundamental: ou impomos limites à voracidade produtivista e resgatamos o cuidado ou a Terra não aguentará mais.

Sentimos a urgência de feminilizar as relações; quer dizer, reintroduzir em todos os âmbitos o cuidado especialmente com referência às pessoas mais massacradas (dois terços da humanidade), à natureza devastada e ao mundo da política. A porta de entrada ao universo do cuidado é a razão cordial e sensível que nos permite sentir as feridas da natureza e das pessoas, deixar-se envolver e se mobilizar para a humanização das relações entre todos, sem descurar da colaboração fundamental da razão intrumental-analítica que nos permite sermos eficazes.

É aqui que vejo a importância de podermos ter providencialmente à frente do governo do Brasil uma mulher como Dilma Rousseff. Ela poderá unir as duas dimensões do trabalho que busca racionalidade e eficácia (a dimensão masculina) e do cuidado que acolhe o mais pobre e sofrido e projeta políticas de inclusão e de recuperação da dignidade (dimensão feminina). Ela possui o caráter de uma grande e eficiente gestora (seu lado de trabalho/masculino) e ao mesmo tempo a capacidade de levar avante com enternecimento e compaixão o projeto de Lula de cuidar dos pobres e dos oprimidos (seu lado de cuidado/feminino). Ela pode realizar o ideal de Gandhi: "política é um gesto amoroso para com o povo".

Neste momento dramático da história do Brasil e do mundo é importante que uma mulher exerça o poder como cuidado e serviço. Ela, Dilma, imbuída desta consciência, poderá impor limites ao trabalho devastador e poderá fazer com que o desenvolvimento ansiado se faça com a natureza e não contra ela, com sentido de justiça social, de solidariedade a partir de baixo e de uma fraternidade aberta que inclui todos os povos e a inteira a comunidade de vida.

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