segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Eleições e dilemas das classes médias

Reproduzo artigo de Juarez Guimarães, publicado no sítio Carta Maior:

À Maria Rita Kehl

Em seu poema mais terno, comovente e terrível, o maior poeta negro brasileiro, Cruz e Souza, versa sobre o berço do recém nascido:

“Meu filho que eu adoro e cubro de carinhos,/ que do mundo vilão ternamente defendo,/ Há de mais tarde errar por tremendais e espinhos/ Sem que o possa acudir no suplício tremendo.”

E mais adiante:

“Tu não sabes, jamais, tu nada sabes, filho,/ Do tormentoso Horror, tu nada sabes, nada.../ O teu caminho é claro, é matinal de brilho,/ Não conheces a sombra e os golpes da emboscada.”

Postado assim no livro “Faróis”, um pouco antes do belíssimo “Litania dos pobres” (“As sombras das sombras mortas,/Cegos, a tatear nas portas./ Procurando o céu, aflitos/ E varando o céu de gritos./ Faróis à noite apagados/ Por ventos desesperados/ Inúteis, cansados braços/ Pedindo amor aos Espaços./ Mãos inquietas, estendidas/ Ao vão deserto das vidas.” e mais adiante : “Bandeiras rotas, sem nome,/ Das barricadas da fome.”), o poema “Meu filho” de Cruz e Souza parece-se como uma oração desesperada de todos os pobres do Brasil aos recém nascidos de seu amor.

A consciência mais alta dos abolicionistas brasileiros, no fim do século XIX, chegou à conclusão de que a abolição não era principalmente um imperativo de modernização econômica nem apenas uma dádiva humanitária para com os negros. O que estava em jogo ali era um princípio de civilização: enquanto houvesse escravidão, não seria possível formar uma moralidade do cidadão, toda cultura cívica seria cínica, a própria dignidade do trabalho seria negada. Hoje, nestes inícios do século XXI, o que está em jogo mais do que a força econômica autônoma do Brasil, muito além da comiseração com a vida de humilhações e carências dos pobres, é também um princípio de civilização.

Ou retornamos ao princípio de civilização dos anos noventa, da era Fernando Henrique Cardoso, o qual, pela apologia do mercado, se legitimava a exposição ostensiva da riqueza em meio à legião dos pobres e o cultivo da diferença social como sinal de status, ou vamos formar a casa comum da democracia brasileira, vamos aparar os extremos em direção ao predomínio das “classes médias”, vamos formar, enfim, o cidadão e a cidadã de direitos e deveres simétricos. O que está em jogo é a nossa moralidade, a possibilidade de nossa cultura cívica republicana, o destino democrático que formamos na crítica ao nosso passado de violenta exclusão.

As engenharias mercantis da produção da miséria em massa produzem a morte física: pela fome ou subnutrição, pelas epidemias evitáveis ou pela vida subtraída pelo cuidado sanitário precário, pelas genocídios de jovens pobres nas periferias. Ao final dos anos noventa, pela primeira vez na história brasileira no século XX, a esperança média de vida dos brasileiros parou de crescer. Mas a injustiça – legitimada ou cinicamente absorvida – produz um aleijão na alma do cidadão: as nossas crianças e jovens – mesmo as mais protegidas – não ficam imunes à legião dos pobres nas ruas mais suntuosas, pessoas a cata dos restos nos lixos dos bairros mais ricos, o pobre suspeito de ser criminoso e o rico absolvido de todos os crimes.

Não se trata de dividir o mundo pequeno dos privilegiados ou socializar os privilégios para todos. “A felicidade ou é compartilhada ou não vigora”, escreveu o presidente Lula como dedicatória ao livro de sua biografia presenteado a Dom Luciano Mendes, como este mesmo próprio revelou a uma platéia de ouvintes comovidos. O que se trata exatamente é a meta de por fim aos privilégios: expandir o espaço da vida de cada um pela expansão da riqueza da vida social, prosperar o nosso quinhão de afetos pela amizade e amorosidade da vida em comum, modular em aquarela as cores de nossa vida subjetiva ao sentimento do mundo, como versou o poeta maior.

Desterrados na própria terra?

Talvez a mais fina leitura do livro “Raízes do Brasil”, do mestre Sérgio Buarque de Holanda, revelou que em sua primeira edição ele escrevia na abertura uma contradição: ao modo de Gilberto Freyre, ele trazia o reconhecimento de que havia se enraizado aqui uma civilização nos trópicos ; mas, ao mesmo tempo, ao modo de Euclides da Cunha, éramos desterrados na própria terra. Nas edições seguintes, esta tensão criativa teria se apagado, ficando soberana a noção do desterro. O fino leitor, porém, preferia a tensão, ao modo da obra que cresce na sua abertura de sentidos.

O fato é que esta tensão veio hoje ao centro da democracia brasileira. Continuaremos a ser desterrados na nossa própria terra, como uma nação que não se fez, ou construiremos aqui a mais bela e generosa civilização democrática e interracial dos trópicos, na utopia mesma de Darcy Ribeiro?

O tema do desterro ou do exílio estrutura a cultura brasileira desde o século XIX, quando ela começou a procurar nossa identidade, entre a cópia do centro ou a busca da originalidade. Origem, identidade e destino, amarrados na mesma imaginação: de onde viemos, o que somos e para onde vamos ? Na clareira da dúvida, emergiu o tema do sertão: dentro de nós, ao redor de nós, presença do mal ou ausência do bem, o lugar onde vige a violência na ausência da lei, nossas veredas. Como numa comédia farsesca, o “bem” e o “mal” voltaram hoje a terçar armas em busca da consciência dos brasileiros. Mas nem Hermógenes (o princípio do mal no sertão) nem o fero belo Diadorim (o princípio do bem absoluto no sertão) : mas Riobaldo e sua fala sábia, humanizando o imperfeito do vivido, repropondo para nós o caminho do livre e do justo.

No desterro, os ricos abandonam a noção de nação e migram para seus oligárquicos céus do cosmopolitanismo: os de tradição, para a Europa, os “novos ricos” para Miami, erguem fossos e pontes levadiças em seus condomínios de luxo. Os pobres, ah! Os pobres, estes migram para os infernos: para o anonimato do desemprego ou os sem nome do emprego precário, para as drogas e seus circuitos, para o sobre humano esforço pela sobrevida de cada dia.

E as classes médias o que fazem: elas vão ao limbo, sem identidade de Nação, sem futuro para os filhos, com a universidade cada vez mais restrita ou mais cara e os planos de saúde que faltam na hora mais crítica, com a humilhação de ser brasileiro, fugindo da bala perdida e evitando as zonas do “no man´s land” das cidades perigosas.

No governo Lula, o sertão não virou mar mas recomeçamos a construção interrompida da Nação. A nação democrática e republicana é, por sua própria natureza, a identidade e futuro das classes médias brasileiras. Vamos retornar ao limbo?

Estado do Bem-Estar Social

Na hora mais grave de sua história, os ingleses, na linguagem de seus liberais cívicos e trabalhistas, cunharam o lema do “Estado do Bem-Estar Social”. Este grito de civilização contrastava com o outro, da barbárie, vindo da Alemanha de Hitler, o Estado da guerra, da máquina de guerra nazista. “Sangue, suor e lágrimas”, os ingleses uniram a Nação e resistiram. Hoje, decerto, não há nenhum Hitler às portas do Brasil, mas quem ousaria negar que a barbárie da violência social ainda ronda o nosso cotidiano e, pode, se a linha vitoriosa nestas eleições for neoliberal, voltar a crescer?

Coube a Maria Lúcia Werneck Vianna falar, pela primeira vez entre nós, ainda no final dos anos oitenta, da americanização perversa de nossa vida social. “Escolas para ricos” segregadas de “escolas para pobres”; “saúde para ricos” e “saúde para pobres”; previdência privada e imprevidência para todos. Mas como dizia o Relatório Beveridge, fundador do sistema de Bem-Estar inglês, uma medicina só para pobres será sempre uma pobre medicina. No final dos anos noventa, já se falava entre nós das dinâmicas de apartação social, isto é, estávamos reproduzindo aqui no Brasil o sistema do apartheid vigente na África do Sul, só que com o estigma social da riqueza e da pobreza.

O Estado do Bem-Estar é, por natureza, o lugar do interesse público, do encontro necessário e possível entre trabalhadores e classes médias, entre os direitos do trabalho e os direitos da mulher, da educação pública e do SUS pleno, do emprego garantido e da previdência firmada, da economia do setor público e dos avanços da democracia.

Em um regime do Bem-Estar, as classes médias podem realizar, de modo universalista, seus interesses: a inclusão de miseráveis e pobres, que no Brasil quase equivalem a uma França inteira, gera uma plataforma de milhões de novos empregos para engenheiros, médicos, dentistas, psicólogos, advogados, comunicadores e economistas. A expansão das funções públicas do Estado gera uma profusão de concursos públicos. A recuperação dos bancos públicos produz uma pressão de baixa nos juros e o crédito para a compra de casas torna-se acessível; a retomada dos investimentos em ciência e tecnologia alenta as carreiras universitárias. Crescem as receitas do Estado, diminuem as dívidas públicas e as políticas sociais podem almejar metas de universalização. A violência social diminui claramente e os jovens de periferia entram, com passos firmes, no circuito da civilização, das artes e da educação, com suas próprias identidades. A reforma agrária e a agricultura familiar expandem e barateiam a produção de alimentos. A força da economia do setor público permite planejar e evitar a predação da natureza que nos ameaça.

Com uma dinâmica de Bem-Estar, cria-se uma infra-estrutura econômica propícia à retomada da moralidade pública, de desprivatização do Estado e de suas cadeias alentadoras de privilégios ou de rentismos. O interesse público passa se a base de uma vida política pública virtuosa.

O governo Lula deve ser reconhecido como o que mais fez até hoje na luta contra a corrupção: através do fortalecimento da Controladoria Geral da União (CGU), da multiplicação das operações da Polícia Federal, da criação de Corregedorias em todos os ministérios, da auditagem das verbas federais que vão para os municípios e estados, da garantia da independência do Ministério Público Federal, da punição aos corruptores, da transparência dos gastos públicos e do envio ao Congresso Nacional de novas leis de punição exemplares aos corruptos. Mas é evidente que, por seu caráter histórico e sistêmico, a corrupção exige medidas mais profundas, como a Reforma Política, e uma postura mais intransigente.

A voz da república

Com os ricos e grandes capitalistas e banqueiros e agro-business alinhados com Serra e pobres, sindicatos e sem-terra mais alinhados com Dilma, o segundo turno destas eleições presidenciais de 2010 será decidido pelo voto das classes médias.

Serra oferece a elas uma apologia virulenta de um sentimento contra a esquerda, contra as morais emancipatórias da mulher e um ressentimento de quem vê seus privilégios ameaçados, ao mesmo tempo, que satura os seus programas de televisão de pobres, tentando fugir à identidade de ser o candidato dos “bem... ricos”, como diz o refrão da campanha de Dilma.

O argumento moral que solda liberdade e justiça, o sentimento da identidade e orgulho de ser brasileiro e o rico mundo dos interesses públicos do Estado Bem-Estar Social constituem três grandes argumentos para o seu voto em Dilma.

Se Vinícius de Moraes estivesse presente entre nós, ele apenas aconselharia as classes médias brasileiras a ouvir a bela canção de Orfeu, que ele figurou como um menino negro no alto de uma favela brasileira.

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Debate RedeTV: Serra não cansa de mentir?

Reproduzo artigo de Alfredo Bessow, publicado no blog Passe Livre:

1º bloco

Logo de cara, o Serra atacou com duas mentiras. O FAT não é dele. Depois, veio o anúncio dos cursos do FAT – que aqui no DF enriqueceram pessoas como o Vigão. Os cursos do FAT nunca capacitaram ninguém. Sempre foram desviados recursos. Fez bem o Lula em reduzir os recursos destinados a este verdadeiro roubódromo. Se o Serra não fosse tão imbecil ele se daria conta do quanto é mentiroso.

Oba: os ladrões que se deram bem com o FAT estão todos com o Serra. O Serra volta. A roubalheira volta.

Privatização: o Serra é muito tolinho…

Avaliação: Serra não sabe a porcaria que eram os cursos de capacitação do FAT. Se soubesse, ficava calado.

2º bloco

Dilma segue buscando o rim e o fígado dele: nada dele responder na questão da privatização. Em lugar de responder, continua fugindo. E lá foi a marca: Petrobrax.

Ué.. quer dizer que para o Serra ter um celular é mais importante do que todas as políticas de inclusão social implantadas pelo governo Lula. Este Serra é de uma das coisas mais ignóbeis que já vivenciei em termos de política nacional. Eu fico pensando como alguém que se pensa ‘inteligente’ é capaz de falar tanta asneira.

Em 16 anos em SP, os tucanos criaram 300 clínicas para dependentes. Para mim, o ponto alto deste bloco: o Serra faz pouco para poucos; nós do governo Lula fazemos muito, para muitos.

Será que o Serra pensa que o povo do Brasil não conhece bem a história da Cracolândia. O verdadeiro cartão de visita do governo paulista é a Cracolândia! E segue o Serra a fugir das privatizações. E lá está o Serra bem carimbado. Bingo Dilma: Cracolândia!

Ah, meu amigo Serra: e vais recolocar as empresas de eletricidade no rol das privatizáveis ou não? Ou vais fazer de novo um novo apagão?

Eu estou aqui pensando: o Serra realmente sabe do que está falando? Porque ele vai de um assunto para outro e só vai apanhando, numa orelha, depois naquela sua cara de boi lambido…

Resumo do bloco: Dilma fustiga o Serra, que apenas é trololó. Putz: 16 anos no comando de SP e nada foi feito. Este é o modo tucano de administrar… Ainda bem que o Serra, depois desta eleição, volta para a latrina…

3º bloco

O que fico pensando, imaginando e questionando: será que vou ter estômago para escutar/acompanhar mais um bloco. Por falar nisso: o Roberto Freire é de um conselho de administração do governo Serra…

Vamos lá… respirar fundo…

Mais uma sessão com show da Dilma e o trololó do Serra. Antes que volte o debate: o que vale mais: um celular pré-pago ou ascensão social? Ah… e o celular pré-pago do Brasil é até 9 vezes mais caro do que em outros países. Mesmo em fase de desenvolvimento…

Voltando…

Paulo Preto – e quem doa para Caixa 2 reclama, cara pálida?

Que coisa micha… as duas perguntaram a mesma coisa… Coleguinhas.. burrinhas… O Serra querendo posar de indignado por conta do apelido de seu melhor amigo ladrão. Ora… Paulo Preto deixou de ser acintoso, faz parte do nome dele.

4º bloco

Questiono-me: Ou muito me engano ou o Serra tá se esvaindo pelo ralo… Não tem consistência para nada. É enojante naquele seu sotaque… naquele seu jeito de débil mental posando de inteligente. Cadê o diploma dele? Como ele fugiu do Chile para os EUA casado com uma Allende?

A Dilma, para meu gosto, está sendo cruel demais para com o Serra. Ela desmonta cada um dos argmentos dele, cada uma das basófias serristas com uma tranquilidade que chega a ser irritante.

O bloco chegou ao fim. Serra não consegue funcionar. Ele, o experiente e abnegado, fissurado em ser presidente, não consegue sair das cordas. Insiste num trololó sem cabimento.

5º bloco

Vamos lá. Último bloco. A fala da Dilma é cerebral.

Uma boa notícia: no governo dela, professor não vai ser tratado com cassetete.

Família pobre? E a filha maravilhosa comprou uma mansão com seu salárinho?

Avaliação final

Verdade, honestidade… O Serra delira… a gente percebe que ele mente, mente e depois torna a mentir. De modo sistemático, continuado e reiterado.

Ele quer paz disseminando o ódio? Massacrando os movimentos sociais. Valorizar o aluno e a educação com mentiras?

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Debate morno na RedeTV, alívio no PT

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

O debate na “RedeTV”, na noite desse domingo, foi talvez o mais morno desde o início da campanha eleitoral. Nada parecido com o que se viu na “Band” semana passada. Dilma e Serra pareciam cansados, esgotados depois de tantas viagens pelo país, e depois de tanta tensão desde o primeiro turno.

Avaliação feita pela “RedeTV” com um grupo de 27 indecisos mostrou que Serra foi avaliado ligeiramente melhor do que Dilma. José Roberto de Toledo, analista responsável por organizar essa avaliação, fez questão de ressaltar que era um grupo muito limitado, e restrito à cidade de São Paulo. Segundo ele, numa escala de 0 a 100, nenhum dos dois candidatos teve avaliação abaixo de 40 nem acima de 75 pontos. Ou seja, “tiveram desempenho medíocre”, segundo ele.

De minha parte, achei que o melhor trecho foi quando jornalistas puderam perguntar – fórmula parecida com a adotada pela Record no primeiro turno. Foram perguntas duras, diretas, bem formuladas. Para Dilma, sobre Erenice. Para Serra, sobre Paulo Preto. Foi o pior momento para Serra no debate, avaliou Toledo.

Diria que isso ocorre porque Serra não está acostumado a ser apertado pelos jornalistas, nem a ser confrontado. A imprensa amiga – especialmente em São Paulo – permite a Serra passar anos e anos sem ser incomodado. Dilma, apesar de menos experiente nesses embates, está mais acostumada a apanhar da imprensa.

O mais curioso foi a fórmula encontrada por Serra para explicar porque disse num dia que não conhecia Paulo Preto, e no dia seguinte saiu em defesa do ex-assessor (entre uma e outra declaração, lembremos, Paulo Preto deu uma entrevista fazendo ameaças veladas aos tucanos): “Eu disse que não conhecia Paulo Preto, porque eu o conhecia como Paulo Souza, aliás pra mim Paulo Preto é até um tratamento racista”.

Todos no PSDB chamam o ex-diretor da DERSA (estatal paulista que administra milhões de reais na construção de rodovias) de Paulo Preto. E Serra não sabia. Curioso. Pelo jeito, não colou com o eleitorado.

Do lado de Dilma, achei que ela passou muito tempo (no início do debate) martelando a questão das privatizações – de forma um pouco confusa. Permitiu sempre que Serra desse os contra-ataques – acusando PT de não apoiar privatização da telefonia. É um assunto que incomoda muito Serra. Mas Dilma não conseguiu nocauteá-lo em nenhum momento.

Em suma, um debate que não trouxe pautas novas para a campanha (ao contrário do que Dilma conseguiu fazer na “Band”, quando trouxe a discussão sobre Paulo Preto), nem teve momentos constrangedores ou espetaculares a ponto de mudar o quadro. Para Dilma, isso basta a essa altura.

As informações que chegam do PT são de que pesquisas internas mostram a distância entre os dois um pouco maior do que no início da semana, chegando perto dos 10 pontos.

Informações que devem ser tomadas com reserva, naturalmente. Mas se a primeira semana do segundo turno foi de pânico entre os dilmistas, a segunda termina com decepção para os serristas: eles, que chegaram a falar em vitória lá por terça ou quarta (quando até trackings do PT mostraram diferença de apenas 5 pontos entre os dois), viram a diferença se alargar de novo.

Os tucanos parece que comemoraram cedo demais. Dilma lidera por uma margem que não chega a ser confortável, a ponto de permitir relaxamento para os petistas. O que talvez seja bom para eles, já que nessa eleição quem relaxa se dá mal.

Serra mostrou – no debate da “RedeTV” – que o embate cara-a-cara com Dilma (ao contrário do que diziam alguns pretensiosos tucanos) não lhe permite vitórias arrasadoras, a ponto de encurtar a diferença.

Resta a baixaria e o boato. Não tenham dúvidas, esse será o caminho. Os tucanos vão usar um movimento duplo, em pinça: denúncias nos jornais, para manter a classe média raivosa contra o PT; e boatos religiosos nas periferias e no Nordeste, incluindo até baixarias de ordem sexual (que, segundo alguns leitores, já começam a circular na forma de panfletos contra Dilma, distribuídos de casa em casa). É uma tentativa desesperada de reduzir a popularidade de Dilma entre os mais pobres – trunfo da candidatura petista.

Os marqueteiros e o comando da campanha petista (hum…) parecem confiante a ponto de não achar necessárias novas vacinas contra a boataria – no horário político. Tenho minhas dúvidas. E sei que mais gente na cúpula do PT (com quem falei hoje) também segue moderadamente preocupada.

Serão quinze dias quentes. A eleição segue indefinida – com leve favoritismo para Dilma.

Ao contrário do primeiro turno, quando achei que os 55% de Dilma (obtidos em agosto) eram enganosos, minha avaliação agora é que – apesar da distância mais curta – Dilma parece ter um eleitorado sólido. Dificilmente baixará de 52 milhões de votos (o que garante vitória). Serra só conseguirá mudar esse quadro se algo de muito grave (ou sórdido) acontecer. E se o PT não estiver preparado para contra-atacar (e, aparentemente, isso mudou).

Dilma enfrenta a maior máquina de propaganda conservadora no país, desde 1964. O susto no fim do primeiro turno colocou em alerta os militantes e a liderança lulista mais combativa: não se pode mesmo menosprezar as forças que estão do outro lado. Eles vão tentar de tudo, e ainda vão aprontar muito até o dia 31.

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Sem surpresas, debate favorece Dilma

Reproduzo análise de André Cintra, publicada no sítio Vermelho:


Quem esperava pelo “confronto duro” anunciado pela grande mídia se frustrou. De bloco a bloco, o segundo debate televisivo entre Dilma Rousseff e José Serra, neste segundo turno das eleições presidenciais, lembrou mais o poema de Mário de Andrade e, sem surpresas, foi “sempre um cauteloso pouco-a-pouco”.

Promovido pela Rede TV! e pelo jornal Folha de S.Paulo, na noite deste domingo (17), em Osasco (SP), o encontro acabou por beneficiar Dilma – sobretudo por ter acrescentado pouco à campanha. A candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando não foi tão contundente como no debate anterior, na TV Bandeirantes, uma semana atrás – mas tampouco Serra brilhou.

Por insistência de Dilma, o tema que dominou o embate deste domingo foi o das privatizações. A candidata lembrou o legado privatista dos oito anos de governo FHC (1995-2002) e da gestão de Serra como governador de São Paulo (2007-2010). Quando, por exemplo, a estatal paulista Gás Brasiliano estava prestes a ser vendida para a Petrobras, Serra interveio para privilegiar concorrentes estrangeiras.

“Fala-se de um jeito. Agora, age-se de outro”, disse Dilma sobre um Serra que tentou encarnar a persona de defensor histórico da Petrobras, desde quando “a empresa era adolescente”. O tucano chegou a afirmar que “o governo Lula a Dilma fizeram mais concessões a empresas privadas do que o Fernando Henrique”, mas Serra não justificou tamanho despautério. Teve de justificar, sim, a acusação de Dilma segundo a qual o governo FHC queria rebatizar a Petrobras “no intuito de agradar o mercado internacional para captar dinheiro”.

Serra variou os temas, ainda que suas perguntas partissem invariavelmente da falsa premissa de que o Brasil está abandonado pelo governo federal. Suas perguntas a Dilma questionaram a atuação do governo Lula em saúde, educação, segurança, infraestrutura e combate às drogas, entre outros temas. Nas respostas, réplicas e tréplicas foi que a tática serrista não se alterou. O presidenciável tucano, sob orientação do marqueteito Luiz Gonzales, formatou suas intervenções de olho na propaganda eleitoral – o que colaborou, e muito, para a monotonia do debate.

Calculando até demais certas palavras, Serra não se cansou de repetir slogans, mantras e promessas de sua campanha no rádio e na televisão. Soou como mais do mesmo – um saldo desfavorável para quem está atrás nas pesquisas de intenções de voto. Serra também reclamou que Dilma “só fala de São Paulo”, como se fosse “candidata a governadora”.

Foi a forma de o tucano dizer que evitaria discutir a aprovação automática, a Cracolândia, o PCC e outros cânceres alastrados nos sucessivos governos do PSDB no estado. “O esporte preferido do PT é falar mal de São Paulo”, dissimulou o Serra. “Não, eu tenho admiração pelo povo paulista, que é um povo trabalhador”, respondeu Dilma. “Não confunda a inteligência do povo paulista com as falhas do seu governo.”

Projetos distintos

Já Dilma, com dados a mão, empenhou-se em demarcar diferenças entre os governos de Lula e de FHC. Foi assim quando abordou assuntos mais específicos, como construção de escolas técnicas, investimentos em segurança pública (sobretudo na Polícia Federal) e tratamento a viciados em drogas.

Neste último ponto, coube uma ironia: ao recordar que a política de Serra para tratar usuários de crack atendia a, no máximo, 300 pessoas por vez, Dilma estimou que “vai levar um século” para o PSDB “resolver o problema”. E emendou: “A característica principal do candidato Serra é fazer programa piloto – poucos para poucos”.

Com as perguntas de jornalista para candidato, Serra teve seu momento mais constrangedor no debate. No mesmo bloco em que Dilma manifestou sua “indignação” com as contratações de parentes efetuadas pela ex-ministra Erenice Guerra na Casa Civil, o candidato do PSDB à Presidência teve de encarar o fantasma do engenheiro Paulo Vieira Souza, ex-diretor de engenharia da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) em São Paulo. Conhecido como Paulo Preto, Vieira é acusado de ter sumido com R$ 4 milhões de dinheiro arrecadado para a campanha presidencial tucana.

“Seu partido critica o governo Lula por não saber do mensalão. Agora surge no noticiário um personagem chamado Paulo Preto. O senhor disse que não conhecia ele e depois disse que o conhecia”, recordou a jornalista Renata Lo Prete, da Folha. “Hoje foi publicado que o senhor empregou uma filha dele em seu governo. Candidato, o senhor sabia disso?”

Serra, engasgado, nada falou sobre a contratação da filha e negou a acusação de no caixa 2 da campanha. O candidato, porém, admitiu não ter controle sobre seus comandados: “Eu não soube (de reclamações sobre Paulo Preto), nunca vieram reclamar”, declarou. Denúncias contra o ex-diretor da Dersa, no entanto, são públicas e notórias desde maio, com as revelações da Operação Castelo de Areia, deflagrada pela Polícia Federal.

Nas considerações finais, Serra, autoproclamando-se “um servidor público”, enalteceu suas origens pobres e a “escola pública”, entre outros clichês. Dilma aproveitou para enfatizar o principal trunfo de sua candidatura. “Tenho a honra de ser apoiada e estar no mesmo do projeto que o maior presidente que este país já teve, que foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, finalizou a candidata.

Segundo dados preliminares do Ibope, o debate na Rede TV! chegou a registrar sete pontos de audiência na Grande São Paulo – ou cerca de 392 mil domicílios. Mas a audiência média foi de modestos 4,3 pontos. Até a realização do segundo turno, haverá pelo menos mais um tête-à-tête entre os candidatos. Será no dia 29 deste mês, a dois dias da eleição, na sempre suspeita TV Globo.

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domingo, 17 de outubro de 2010

Ciro: Serra é privatista, é o "FHC-boy"



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Privatizações: um tema que incomoda Serra

Reproduzo artigo de Marco Aurélio Garcia, publicado na Folha de S.Paulo:

No primeiro debate televisivo do segundo turno desta campanha eleitoral, José Serra mostrou-se incomodado quando o tema das privatizações foi colocado por Dilma Rousseff. Serra quis dar ao debate da questão um significado eleitoreiro, talvez pensando que seja mais um "trololó" da esquerda, como gosta tanto de dizer.

Não é assim. Quando a sociedade brasileira é convocada para decidir os destinos do país nos próximos anos, nada mais natural que o papel do Estado em nosso projeto nacional de desenvolvimento seja devidamente debatido.

A questão das privatizações emergiu no governo Collor de Mello, dormitou no interregno Itamar Franco e ganhou força durante o período FHC.

Correspondeu a período marcado não só pela "débâcle" dos regimes comunistas europeus e pela deriva social-democrata como pelo aparente êxito da proposta neoliberal que vicejava na Inglaterra de Thatcher e no Chile de Pinochet.

As teses sobre a diminuição do papel do Estado - quando não da necessidade do Estado mínimo - que acabaram por bater, ainda que tardiamente, nas costas brasileiras refletiam um otimismo desenfreado sobre o papel dos mercados na regulação econômica e financeira. Elas espelhavam também o grande fascínio exercido pela "globalização" produtiva, mas sobretudo financeira, em curso.

Ao considerar, de certa forma, irrelevantes a produção e os mercados nacionais, elas acabavam por minimizar o papel desempenhado pelos Estados nacionais.

Os governantes teriam de ser apenas gerentes de políticas mundialmente acordadas pelos grandes centros econômicos. Ficariam relegados a replicar orientações macroeconômicas de fora, que viabilizassem novo desenho geoeconômico e, evidentemente, geopolítico.

FHC não hesitou em proclamar o advento de um "novo Renascimento" mundial, ainda que fosse obrigado a reconhecer que alguns milhões de brasileiros iriam ficar obrigatoriamente fora deste suposto ciclo de prosperidade.

Complementando o ajuste que aqui e lá fora foi praticado, trataram de liberar o Estado de pesados fardos - as estatais -, que supostamente o impediam de cumprir suas funções. Ficava a dúvida sobre quais seriam essas "funções".

Não por acaso usou-se na propaganda a favor das privatizações a imagem de um elefante em um local fechado. As estatais não passavam de um trambolho que impedia o desenvolvimento do país.

No altar dessas crenças foram sacrificadas importantes empresas nacionais. Os cerca de US$ 100 bilhões conseguidos no processo de privatização comandado pelo ministro José Serra se esfumaram.

O país aumentou consideravelmente sua dívida interna e se tornou muito mais vulnerável internacionalmente, como ficou claro quando as crises mexicana, asiática e russa levaram o Brasil sucessivamente à beira do abismo.

Perversidade maior desse processo foi o uso de vultuosos recursos do BNDES para financiar as empresas estrangeiras que entraram nas privatizações. Resumindo a originalidade brasileira: privatizou-se com dinheiro do Estado brasileiro.

Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em 2008, no início da grande crise econômica mundial, o presidente Lula afirmou ter chegado a "hora da política", a hora do Estado. Os meses que se seguiram deram a essa fala toda a sua significação.

Por ter barrado as privatizações, fortalecido as estatais e dado a elas um papel estratégico no desenvolvimento nacional, o Brasil pôde enfrentar, como poucos países, a tempestade financeira que se abateu sobre o mundo.

Os bancos públicos, a Petrobras e as estatais do setor elétrico foram fundamentais nesse processo.

Portanto, não estamos diante de um debate que opõe dinossauros a modernos. O que está em jogo é o interesse nacional.

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ANJ e os riscos à liberdade de expressão

Reproduzo artigo de Carolina Ribeiro e Oona Castro, publicado no Observatório do Direito à Comunicação:

"A Associação Nacional de Jornais (ANJ) acompanha, investiga, denuncia, pede providências e se manifesta em defesa da liberdade de expressão." Retirada do site da ANJ, a frase abre o "Programa pela Liberdade de Imprensa" da associação. É curioso que a principal entidade representativa dos jornais comerciais brasileiros ainda não tenha denunciado alguns episódios recentes que colocaram em xeque a liberdade de expressão no país.

O manifesto pela liberdade de expressão da ANJ é repetido incisivamente por todos os donos de jornais brasileiros, em frequentes editoriais e até mesmo reportagens, alertando ainda para a ameaça de censura que ronda o país. Articulados no Brasil com a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) e com a Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner) eles se empenharam numa forte campanha para desqualificar as conferências setoriais de direitos humanos, cultura e comunicação, espaços de escuta à sociedade para formulação de políticas públicas.

Produziram um filme que alertava a população para o monstro da censura que poderia acordar. Na América Latina, estão associados a outras entidades empresariais do setor e combatem, com a Sociedade Interamericana de Prensa (SIP), toda e qualquer política dos governos que apoiam e buscam promover iniciativas de comunicação não comerciais, como a Ley dos Medios na Argentina.

Diante de tanta dedicação à defesa da liberdade de expressão, era de se esperar que a ANJ fosse a público contestar e denunciar um dos casos mais escancarados de silenciamento público da história recente do país. Maria Rita Kehl, que escrevia semanalmente para o Estadão, foi demitida depois de um "delito de opinião ". Teria incorrido em um erro ao pensar diferente do jornal, dizer o que pensa, expressar um ponto de vista por meio do artigo "Dois Pesos... ", publicado em 02 de outubro.

O jornal, que ocupa a vice-presidência da ANJ, alega que Kehl havia sido contratada para escrever sobre psicanálise, e não política. Como a diversidade temática já era característica de sua coluna, fica difícil acreditar que sua demissão não tenha sido um gesto desesperado para afastar uma formadora de opinião que divergia do jornal. Pior que isso, diante do desespero, calaram uma articulista lúcida e questionadora, restringindo a liberdade de expressão no veículo.

No encerramento do IV Workshop de Inovação da Aner, o representante da Editora Abril afirmou, categórico, que "os dois pilares da convivência democrática se baseiam, em nosso ramo, na energia da livre iniciativa e no vigor da liberdade de expressão". Mas como explicar a demissão, em maio, do jornalista Felipe Milanez, editor da revista National Geographic Brasil, da empresa dos Civitá? Milanez publicou no Twitter comentários críticos a respeito da reportagem "A farsa da nação indígena", veiculada na revista Veja.

Outro caso recente foi protagonizado pela Folha de S.Paulo, que ocupa a presidência da ANJ. O jornal pediu a retirada do ar do blog Falha de S. Paulo, uma divertida sátira sobre a cobertura da publicação. Processou ainda os irmãos Bocchini, criadores do site, alegando uso indevido da marca, mas evidentemente buscando impedir o contraditório do discurso criado pela Folha. O episódio é agora explorado no novo blog Desculpe a Nossa Falha.

Ora, os guardiões da liberdade de imprensa atuando como censores? Alguma coisa está fora da ordem.

Democracia x monopólio da mídia

Os três episódios revelam que, na verdade, a pior ameaça à liberdade de expressão no Brasil vem justamente dos grandes veículos de comunicação. Ao invés de promover a pluralidade de opiniões de seus profissionais e da sociedade, em vez de respeitar a diversidade de informações que circulam na internet, essa mídia quer garantir o monopólio de sua versão dos fatos. Defende interesses próprios e de seus anunciantes e reproduz um país desigual e sem acesso à informação plural no Brasil.

Não há democracia sem pluralidade de visões, sem espaços para que toda diversidade possível se manifeste. Enquanto formos reféns das nove famílias que controlam os meios de comunicação continuaremos sendo silenciados por uma única versão do modo de experimentar a cultura, a religião, a política, a história, a vida. Os três lamentáveis episódios somente confirmam quem realmente põe em risco a liberdade de expressão no país.

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Comunidade no Orkut repudia Madureira

Reproduzo nota de repúdio ao "humorista" Marcelo Madureira, publicada no blog do Nassif e assinada por Dante Raglione, dono da comunidade no Orkut "Eu Amo Casseta e Planeta", que tem 30.006 membros:

Marcelo Madureira:

Eu, como dono da maior comunidade no Orkut de seu programa humorístico e como aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, repudio sua posição reacionária e ofensiva ao nosso Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva.

Entendo que, independentemente de sua posição política a favor de Dilma ou de Serra, os comentários de que Lula é burro, analfabeto, cachaceiro, ignorante e que o povo que vota nele é igual ao Presidente são inaceitáveis.

Gostaria de lembrá-lo de que Lula não teve as mesmas oportunidades de estudo que você e que eu, Marcelo, mas, mesmo assim, tornou-se Presidente, fazendo um governo considerado bom ou ótimo por 80% da população, sendo mais aprovado que o governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso, sociólogo doutorado, poliglota e renomado.

Assim sendo, além de ofender o Presidente com seus comentários, você ofende a 80% do povo brasileiro e a mim. Por isso, estou promovendo um boicote ao Casseta e Planeta e ao programa Manhattan Connection até que você se retrate publicamente.

Sinceramente, Dante Raglione.

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"Educação: O Brasil no rumo certo"

Reproduzo o Manifesto de Reitores das Universidades Federais à Nação Brasileira:

Da pré-escola ao pós-doutoramento - ciclo completo educacional e acadêmico de formação das pessoas na busca pelo crescimento pessoal e profissional - consideramos que o Brasil encontrou o rumo nos últimos anos, graças a políticas, aumento orçamentário, ações e programas implementados pelo Governo Lula com a participação decisiva e direta de seus ministros, os quais reconhecemos, destacando o nome do Ministro Fernando Haddad.

Aliás, de forma mais ampla, assistimos a um crescimento muito significativo do País em vários domínios ocorreu a redução marcante da miséria e da pobreza; promoveu-se a inclusão social de milhões de brasileiros, com a geração de empregos e renda; cresceu a autoestima d a população, a confiança e a credibilidade internacional, num claro reconhecimento de que este é um País sério, solidário, de paz e de povo trabalhador.

Caminhamos a passos largos para alcançar patamares mais elevados no cenário global, como uma Nação livre e soberana que não se submete aos ditames e aos interesses de países ou organizações estrangeiras.

Este período do governo Lula ficará registrado na História como aquele em que mais se investiu em educação pública: foram criadas e consolidadas 14 novas universidades federais; institui-se a Universidade Aberta do Brasil; foram construídos mais de 100 campi universitários pelo interior do País; e ocorreu a criação e a ampliação, sem precedentes históricos, de Escolas Técnicas e Institutos Federais.

Através do PROUNI, possibilitou-se o acesso ao ensino superior a mais de 700.000 jovens. Com a implantação do REUNI, estamos recuperando nossas Universidades Federais, de norte a sul e de leste a oeste. No geral, estamos dobrando de tamanho nossas Instituições e criando milhares de novos cursos, com investimentos crescentes em infraestrutura e contratação, por concurso público, de profissionais qualificados. Essas políticas devem continuar para consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano Federal, exigindo-se que os Estados e Municípios também cumpram com as suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação como uma prioridade central de seus governos.

Por tudo isso e na dimensão de nossas responsabilidades enquanto educadores, dirigentes universitários e cidadãos que desejam ver o País continuar avançando sem retrocessos, dirigimo-nos à sociedade brasileira para afirmar, com convicção, que estamos no rumo certo e que devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações.

Finalizamos este manifesto prestando o nosso reconhecimento e a nossa gratidão ao Presidente Lula por tudo que fez pelo País, em especial, no que se refere às políticas para educação, ciência e tecnologia. Ele também foi incansável em afirmar, sempre, que recurso aplicado em educação não é gasto, mas sim investimento no futuro do País. Foi exemplo, ainda, ao receber em reunião anual, durante os seus 8 anos de mandato, os Reitores das Universidades Federais para debater políticas e ações para o setor, encaminhando soluções concretas, inclusive, relativas à Autonomia Universitária.

- Alan Barbiero - Universidade Federal do Tocantins (UFT)

- José Weber Freire Macedo – Univ. Fed. do Vale do São Francisco (UNIVASF)

- Aloisio Teixeira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

- Josivan Barbosa Menezes - Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)

- Amaro Henrique Pessoa Lins - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

- Malvina Tânia Tuttman – Univ. Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

- Ana Dayse Rezende Dórea - Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

- Maria Beatriz Luce – Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)

- Antonio César Gonçalves Borges - Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

- Maria Lúcia Cavalli Neder - Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

- Carlos Alexandre Netto - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

- Miguel Badenes P. Filho – Centro Fed. de Ed. Tec. (CEFET RJ)

- Carlos Eduardo Cantarelli – Univ. Tec. Federal do Paraná (UTFPR)

- Miriam da Costa Oliveira – Univ.. Fed. de Ciênc. da Saúde de POA (UFCSPA)

- Célia Maria da Silva Oliveira – Univ. Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

- Natalino Salgado Filho - Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

- Damião Duque de Farias - Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)

- Paulo Gabriel S. Nacif – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)

- Felipe .Martins Müller - Universidade Federal da Santa Maria (UFSM).

- Pedro Angelo A. Abreu – Univ. Fed. do Vale do Jequetinhonha e Mucuri (UFVJM)

- Hélgio Trindade – Univ. Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

- Ricardo Motta Miranda – Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

- Hélio Waldman – Universidade Federal do ABC (UFABC)

- Roberto de Souza Salles - Universidade Federal Fluminense (UFF)

- Henrique Duque Chaves Filho – Univ. Federal de Juiz de Fora (UFJF)

- Romulo Soares Polari - Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

- Jesualdo Pereira Farias - Universidade Federal do Ceará - UFC

- Sueo Numazawa - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)

- João Carlos Brahm Cousin - Universidade Federal do Rio Grande – (FURG)

- Targino de Araújo Filho – Univ. Federal de São Carlos (UFSCar)
- José Carlos Tavares Carvalho - Universidade Federal do Amapá (
UNIFAP)

- Thompson F. Mariz - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

- José Geraldo de Sousa Júnior - Universidade Federal de Brasília (UNB)

- Valmar C. de Andrade - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

- José Seixas Lourenço – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)

- Virmondes Rodrigues Júnior – Univ. Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)

- Walter Manna Albertoni - Universidade Federal de São Paulo ( UNIFESP)

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O deus-mercado e as minas chilenas

Reproduzo artigo do jornalista Mario Augusto Jakobskind:

E, finalmente, acabou o drama dos 33 mineiros chilenos, um acidente que poderia ter sido evitado se os legisladores tivessem aprovado normas mais severas de segurança nas minas. Mas aí os defensores do mercado, entre os quais o atual presidente Sebastián Piñera, que aproveitou o show midiático que representou o resgate dos mineiros, não quis, por achar que seria prejudicial ao mercado.

Mas poucas vozes lembraram o fato mencionado. Um dos que não esqueceu foi o escritor chileno Luis Sepúlveda. Segundo ele, se tivesse sido aprovado pelo Parlamento um código de trabalho com regras mínimas de segurança, nada disso teria acontecido. Empresas como as responsáveis pela mina San José, onde ocorreu o desmoronamento, teriam sido obrigadas a gastar mais um pouco dos seus lucros para dar segurança aos trabalhadores.

Quando houve a proposta sobre as normas mínimas, um dos ferrenhos opositores foi o então líder da oposição ao governo da Concertación. E sabem quem era ele? Sebastián Piñera, que considerava a medida proposta “burocrática e contrária à liberdade de mercado”. Ele sempre integrou a turma do deus mercado, além de ter apoiado a ditadura de Augusto Pinochet.

O mesmo sorridente Piñera agora é apresentado pela mídia de mercado como “executivo eficiente”. Jornalões e telejornalões mostraram a “festa” e os dias posteriores sem lembrar de um passado recente em que os apologistas do “mercado tudo resolve” tiveram algum tipo de culpa no cartório.

O mundo dá voltas. Um dos mineiros resgatados, o líder do grupo, Luis Urzúa, teve o pai, dirigente sindical do Partido Comunista, desaparecido desde 11 de setembro de 1973, quando da derrubada do presidente Salvador Allende. O padrasto, Benito Tapia, dirigente sindical dos mineiros, foi uma das vítimas da Caravana da Morte, um esquadrão de extermínio formado em Santiago a mando de um general assassino de nome Sergio Arellano Stark, segundo informa o jornalista argentino Martin Granovsky.

Da mesma forma que se omite a questão da influência do deus-mercado na mineração, praticamente há um silêncio absoluto sobre as condições de vida dos indígenas mapuches, cujas lideranças estão sendo submetidas a uma legislação da época da hedionda ditadura de Augusto Pinochet e os protestos pouco aparecem.

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Derrotar a conspiração obscurantista

Reproduzo artigo do professor Bernardo Kucinski, intitulado "Os envergonhados e os desavergonhados", publicado no sítio Carta Maior:

Rompo meu silêncio de três anos na Carta Maior por causa da minha mulher. Ela perguntou: você não vai fazer nada? Não vai participar da campanha? Eu não sou mais jornalista, respondi, sou ficcionista; não quero mais saber de política, chega, cinqüenta anos sendo usado, agora chega. Ela acabara de ler a história do bispo que mandou imprimir dois milhões de folhetos contra a Dilma. Eu lembrei ter dito a ela que a Igreja Católica estava traindo, já naquele dia em que soltaram o manifesto acusando Lula da fascista, com a assinatura do Dom Paulo. O pobre homem em estado avançado de Alzheimer, e arrancam dele essa assinatura.

A Igreja não está traindo, está fazendo o que sempre fez, ela respondeu. Nós acabávamos de voltar de uma viagem à Cartagena, na Colômbia, onde visitamos o museu da Inquisição. Os instrumentos de tortura ali exibidos, de fazer o DOI-CODI sentir vergonha, ficaram gravados fundo na nossa imaginação.

Está traindo sim, eu falei, está traindo em primeiro lugar porque usou um método traiçoeiro, o método das mentiras, da difamação, em segundo lugar porque está usando o dinheiro que arranca dos pobres para combater o governo dos pobres, e em terceiro lugar porque está usando uma eleição universal, republicana, para emplacar um dogma religioso, dogma dos mais nefastos, que só prejudica as mulheres pobres.

Um Papa decidiu lá em Roma que o aborto é a linha divisória entre uma sociedade moderna, laica, regida pelo saber científico, e a sociedade atrasada, na qual os padres mandam na vida das pessoas e a Igreja por isso mantém seu poder. E veio a ordem, lancem a campanha contra o aborto bem no meio da campanha eleitoral. Eles são profissionais. Fazem isso há dois mil anos, desavergonhados. Os evangélicos, amadores, entraram de carona.

Agora vou falar dos envergonhados, esses que passaram oito anos disseminando mentiras sobre a transposição do São Francisco, acusando Lula de só beneficiar o agronegócio, demonizando as novas hidroelétricas, tumultuando audiências públicas em nome de índios e caboclos desprovidos de luz elétrica, obstruindo a construção de pontes e estradas que integrariam o continente, combatendo os transgênicos em nome de uma visão pré-darwiniana da natureza, esses que se condoem com gatinhos e pererecas, mas não com os meninos de rua ou os moradores de palafitas. Esses que agora estão lançando manifestos dizendo envergonhadamente para votar contra o Serra. Por que não dizem bem alto, votem na Dilma.

E também essas todas, amigas minhas, da Vila Madalena, de Pinheiros, da USP, mulheres esclarecidas, emancipadas, que votaram na Marina apesar de evangélica e anti-aborto e agora descobriram que todo o seu estado maior é formado por tucanos. Ou ainda não descobriram? A vocês todas eu digo: não se trata agora de derrotar o Serra ou o neoliberalismo. Tudo isso é transitório, efêmero. Trata-se de derrotar a grande conspiração obscurantista. Trata-se da luta milenar da razão contra a superstição, da tolerância contra o fanatismo, da modernidade contra o atraso.

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Serra contratou a filha de Paulo Preto

Reproduzo duas matérias de Brizola Neto, publicadas no blog Tijolaço:

José Serra, que não conhecia e agora conhece e defende o engenheiro Paulo Preto, ex-diretor do Dersa, contratou a filha do colaborador, Tatiana Arana Souza Cremonini, logo em seu primeiro mês como governador de São Paulo, na função de assistente técnica de gabinete, com salário de R$ 4.595, com gratificações. A informação estará na Folha de S.Paulo de domingo e foi adiantada pelo Terra.

Consultado pelo jornal, José Serra, por meio de sua assessoria, afirmou que “os processos de nomeação de servidores de confiança ‘são instruídos pelas secretarias responsáveis pela indicação, chegando às mãos do governador após processo de avaliação criterioso, como ocorreu nesse caso”. Serra também não respondeu à pergunta do jornal se conhecia o parentesco de Tatiana com o ex-diretor da Dersa na ocasião da nomeação.

A Secretaria de Comunicação do governo do Estado de São Paulo, por sua vez, “informou que Tatiana foi contratada por sua formação profissional e pela fluência em inglês e espanhol”. O advogado José Luís Oliveira Lima, que defende Paulo Preto, disse à Folha de S.Paulo que seu cliente comentaria a contratação da filha pelo governo do Estado, mas não retornou o contato até o fechamento da edição.

Primeiro, Serra disse que não conhecia Paulo Preto e que a história de que teria levado R$ 4 milhões de sua campanha era factóide. Depois, voltou atrás e defendeu a integridade do engenheiro. Agora, sabe-se que nomeou a filha de Paulo Preto para um cargo no governo de São Paulo. E a Isto É revelou que Paulo Preto contratou outra filha, Priscila Arana, para defender a Dersa, embora atuasse como advogada das empreiteiras contratadas pelo órgão público de São Paulo. Pelo visto, Paulo Preto é bem mais próximo a José Serra do que parecia a princípio.

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Emprego era numa maratona

Segundo publica hoje o jornal Folha de S.Paulo, a filha do polêmico Paulo Preto – o engenheiro Paulo Vieira de Souza – que José Serra desconhecia domingo mas passou, na terça-feira, a avalizador de sua honradez, foi nomeada para um cargo de gabinete em janeiro de 2007 pelo esquecido tucano, como Governador de São Paulo.

Cinco meses depois, ainda sem direito a férias, Taitiana Arana de Souza Cremonini foi participar de uma ultramaratona. No Ibirapuera? Não, na África do Sul, a corrida de 89 km entre Durban e Pietermaritzburg. Não fez – na corrida – feio: chegou em 48º lugar entre as 183 mulheres da sua categoria – 20 a 29 anos – que participaram da prova.

Um resultado melhor do que o do pai, que também foi lá correr e ficou em 420º lugar entre os 1477 corredores da faixa de 50 a 59 anos.

O servidor público paulista, agora, sabe que pode, quando quiser participar de um evento esportivo, tirar uns dias de folga, para dar um pulinho ali, na África do Sul. Pelo tipo de evento, acho que é coisa de uma semaninha, só.

Distraído como é, o Serra que não sabe quem era o seu diretor das obras do Rodoanel e que contratou a moça por seu “inglês e espanhol fluentes” nem vai perceber.

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Agripino e Guerra no mensalão do Arruda?

Reproduzo reportagem de Leandro Fortes, intitulada "Pandora inesgotável", publicada na revista CartaCapital:

Em 27 de novembro de 2009, o delegado Wellington Soares Gonçalves, da Diretoria de Inteligência da Polícia Federal, deu uma batida no gabinete de Fábio Simão, então chefe de gabinete do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do DEM. A ação, autorizada pelo ministro Fernando Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), fazia parte da Operação Caixa de Pandora, realizada em conjunto com o Ministério Público Federal, responsável pela desarticulação de uma quadrilha montada no governo local movida a corrupção pesada e farta distribuição de propinas.

Na sala de Simão, a equipe de policiais federais encontrou um CD com a seguinte inscrição: “Dist. De Dinh. Da Qualy, 8/10/2005”. Levado à perícia, o disco se revelaria um indício comprometedor contra dois dos principais líderes da oposição no Congresso Nacional, os senadores Agripino Maia, do DEM do Rio Grande do Norte, e Sérgio Guerra, do PSDB de Pernambuco. Guerra ocupa também a presidência nacional do partido e coordena a campanha de José Serra à Presidência.

Feita a análise pela Divisão de Contra-inteligência da PF, descobriu-se que o CD possuía um único e extenso arquivo de áudio e vídeo, de 42,4 megabytes, com 46 minutos e dois segundos de duração. Nele estava registrada a conversa entre um homem não identificado e uma mulher identificada apenas como Dominga.

A investigação dos federais revelou que Dominga era auxiliar de serviço-geral de uma companhia chamada Inteco, depois contratada pela Qualix Serviços Ambientais, empresa de coleta de lixo do Distrito Federal apontada como um dos sorvedouros de dinheiro público do esquema de corrupção do DEM em Brasília e parte de uma disputa política na qual se contrapõem Arruda e o também ex-governador Joaquim Roriz, do PSC. O chefe de Dominga era Eduardo Badra, então diretor da Qualix, para quem ela organizava a agenda, fazia depósitos bancários e “serviços particulares”. Na conversa com o amigo desconhecido, Dominga explicou que serviços eram esses.

O trabalho da secretária era o de, basicamente, telefonar para os beneficiários de um esquema de propinas montado na casa de Badra e, em seguida, organizar a distribuição do dinheiro. De acordo com as informações retiradas do CD apreendido no gabinete de Simão, as pessoas para quem Dominga mais ligava eram, justamente, Agripino Maia, Sérgio Guerra e Joaquim Roriz.

Também recebiam ligações da secretária Valério Neves, ex-chefe de gabinete de Roriz, e dois dirigentes da Belacap, estatal responsável pelo serviço de ajardinamento e limpeza urbana do Distrito Federal: Luís Flores, diretor-geral da empresa, e Divino Barbosa, diretor operacional. Flores é primo de Weslian, mulher de Joaquim Roriz, alçada pelo marido candidata do PSC ao governo do DF depois que ele desistiu da disputa, temeroso de ver sua candidatura cassada por ficha suja.

Segundo Dominga, quando a Qualix estava para receber valores de contrato da Belacap, Badra a obrigava a dar telefonemas “dia e noite”, não sem antes entrar em contato com um doleiro identificado como Faied, para saber quando ele poderia entregar o dinheiro, tanto em dólar quanto em real. De acordo com as informações da secretária, as propinas eram acomodadas em caixas de arquivos de papelão com montantes de 50 mil reais a serem distribuídos entre quadras de Brasília ou no estacionamento do restaurante Piantella, um dos mais tradicionais da capital federal, frequentado por políticos e jornalistas, de propriedade do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Lá, entre acepipes e vinhos caros, os interessados jantavam e decidiam como e quando seriam feitas as partilhas.

Procurados por CartaCapital, os senadores Maia e Guerra responderam por meio de assessores de imprensa. Guerra, ponta de lança da ofensiva udenista montada pelo PSDB para atacar a candidata do PT, Dilma Rousseff, foi eleito deputado federal pelo PSDB de Pernambuco em 3 de outubro. Ele admite ser amigo de Badra há 30 anos, desde que se conheceram em uma exposição agropecuária. Segundo ele, o vídeo apreendido pela PF cir-cula por Brasília desde 2006 e, garante, trata-se de uma armação contra ele e outros políticos. “Entre mim e o Eduardo nunca houve outro relacionamento senão o de amizade, que vai continuar”, avisa.

Maia foi ainda mais econômico com as palavras. Garante não ter nenhuma relação com Badra, de quem só se lembra de ter encontrado, “anos atrás”, para tratar de uma proposta da Qualix para se instalar no Rio Grande do Norte. O senador do DEM afirma ter sido procurado por outros órgãos de imprensa para falar sobre o mesmo assunto, mas que estes teriam se desinteressado logo depois de confrontados com a versão apresentada por ele.

Nas redações de Brasília, a história é outra: nada foi publicado por pressão da campanha de Serra, em abril deste ano, para que a candidatura do tucano não se iniciasse com um escândalo envolvendo o presidente do partido e um líder do principal partido aliado, o DEM. Temiam, os tucanos, uma sinistra repetição da circunstância que, em 2005, derrubou do mesmo cargo o senador Eduardo Azeredo, mentor do “mensalão” do PSDB de Minas Gerais, ao lado do publicitário Marcos Valério de Souza, mais tarde flagrado no mesmo serviço de alimentação de caixa 2 para o PT.

O esquema denunciado pela secretária Dominga é cheio de detalhes e, ainda hoje, surpreende a PF pelo grau de ousadia. As caixas eram colocadas em porta-malas de carros da quadrilha e, em seguida, repassadas pessoalmente por Badra a quem de direito. Nessa empreitada, revelou Dominga, ajudavam outros dois diretores da Qualix, Pedro Gonzales Campoamor, de Brasília, e Roberto Medeiros, de São Paulo. A secretária cita como origem dos recursos duas agências bancárias situadas no Setor Comercial Sul de Brasília, uma do Bradesco, outra do Banco de Brasília (BRB).

De acordo com a investigação da PF, o dinheiro distribuído aos personagens citados no CD, entre os quais brilham Guerra e Maia, apelidados por Dominga de “pessoal da Belacap”, chegou a mais de 300 mil reais. Parte dos pagamentos, segundo a gravação obtida no GDF, ia para personagens identificados como criadores de cavalos registrados na conversa, alguns, como a própria secretária, sem registro de sobrenome. Entre eles, Mário de Andrade, Ana Lúcia Fontes, Ana Lúcia Junqueira e Alberto. Também aparecem nomes sem especificação como Marci Bagarolli, Carlos Junqueira, Gilda, Ana Jatobá, Antonio Clareti Zandonait e Daniel.

A ação da Polícia Federal foi feita de surpresa na residência oficial de Águas Claras, onde Simão mantinha um gabinete pessoal. Ao chegar ao lugar, os agentes verificaram que todas as portas estavam abertas,- inclusive a de acesso ao prédio principal, com exceção daquela do gabinete de Simão. Por volta das 6h30, a PF acionou o serviço de um chaveiro para abrir a porta do auxiliar de Arruda, mas um funcionário anunciou que iria pegar as chaves. Em vão. Nenhuma delas abria a porta do chefe de gabinete. Foi preciso arrombar uma janela para que, então, os federais pudessem entrar no local, por volta das 7 horas.

Às 7h15, segundo relato da PF, a mulher do governador, Flávia Arruda, chegou ao local para tomar conhecimento do mandado de busca e apreensão, mas em seguida foi embora, após informar que não tinha interesse em acompanhar a ação policial. A primeira coisa encontrada pelos agentes foi uma bolsa preta, escondida atrás de uma mesa, com cédulas de reais e dólares. Às 8h50, chegou José Gerardo Grossi, advogado de Arruda, também para verificar os termos do mandado e acompanhar a busca.

A PF decidiu investigar a vida de Simão porque ele foi denunciado pelo ex-secretário distrital de Relações Institucionais Durval Barbosa, delator do chamado “mensalão do DEM”. Em um vídeo entregue ao Ministério Público Federal por Barbosa, ele mantém uma conversa com o representante de empresas de informática Agenor Damasceno Beserra. Os dois tratam de detalhes de uma licitação, estabelecem quem deve ganhar a disputa e como deve ser feito um aditivo de 4 milhões de reais. No diálogo, Beserra confirma ser Simão, chefe de gabinete de Arruda, o principal interessado na liberação do contrato e no aditivo.

De acordo com o relatório da PF, o exe-cutivo Badra mora em São Paulo. Em Brasília, costumava se hospedar em um hotel no Setor Hoteleiro Sul. Mas, por causa da conversa gravada entre Dominga e o amigo, descobriu-se que ele chegou a alugar uma casa no Lago Sul de Brasília para promover “reuniões mais privadas”. Era lá que Dominga trabalhava. Badra também utilizava um apartamento do diretor da Qualix Pedro Campoamor, no bairro do Sudoeste. Em abril de 2009, relata a PF, a casa de Campoamor foi assaltada, os ladrões levaram 100 mil reais, mas nenhuma ocorrência foi feita na polícia.

CartaCapital teve acesso aos documentos produzidos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal na semana passada, quando os envolvidos acreditavam que o assunto estava enterrado pela burocracia. A Operação Caixa de Pandora, responsável pela prisão de Arruda e pela exposição do mais explícito espetáculo de corrupção da história do País, graças aos vídeos do delator Durval Barbosa, segue a todo vapor. Desde novembro de 2009, quando o CD de Dominga foi apreendido, um grupo de investigadores da Divisão de Inteligência da PF trabalha nos desdobramentos da operação. Os federais estão de olho, sobretudo, na guerra iniciada, há dez anos, em torno dos contratos de coleta de lixo no Distrito Federal.

A Qualix faz parte desse pacote de investigações. A empresa, terceirizada a partir do governo Roriz, deteve praticamente o monopólio da coleta de lixo do DF entre 2000 e 2006, embora “quarteirizasse” serviços a outras duas empresas, a Nely Transportes e a Construtora Artec, de propriedade de César Lacerda, ex-deputado -distrital do PSDB, ligado à ex-governadora tucana Maria de Lourdes Abadia. Candidata derrotada ao Senado nas últimas eleições, Abadia assumiu o governo do DF em junho de 2006, quando Roriz renunciou para se candidatar à mesma Casa. Acabou eleito, mas foi obrigado a renunciar ao mandato para não ser cassado por corrupção.

A rápida passagem de Abadia pelo governo distrital serviu para iniciar a guerra pelo controle dos contratos de lixo na capital federal e nas cidades-satélites. Não é por menos. Na última década, os cofres públicos distritais despejaram mais de 2 bilhões de reais nesses contratos, quase todos suspeitos e cheios de vícios. Abadia, aliada a Roriz, conseguiu quebrar o monopólio da Qualix, defendida pela turma de Arruda e do ex-secretário de Saúde Augusto Carvalho, deputado federal pelo PPS. Assim, dividiu o bolo do lixo com a Artec e mais duas outras empresas, ambas de Brasília, a Caenge Engenharia e a Valor Ambiental.

Essa partilha contou com a participação de dois representantes do Ministério Público Distrital, os promotores Leonardo Bandarra, então procurador-geral de Justiça, nomeado por José Roberto Arruda, e Deborah Guerner, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Em depoimento ao Ministério Público Federal, Barbosa acusou a dupla de ter facilitado a vida das empresas de lixo, além de ter recebido 1,6 milhão de reais para vazar informações, em 2008, sobre ações de busca e apreensão da Operação Megabyte, da Polícia Federal, realizada contra empresas de informática contratadas pelo governo. Em 7 de junho deste ano, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) instaurou, por unanimidade, um processo administrativo disciplinar contra Bandarra e Deborah Guerner para investigar o envolvimento de ambos no esquema.

Uma semana depois da decisão do CNPM, a Polícia Federal foi à casa da promotora e descobriu, enterrado no quintal, um cofre com cerca de 300 mil reais. Os agentes saíram ainda com várias caixas com documentos da Caenge Engenharia e da Valor Ambiental, justamente as duas empresas colocadas no esquema por pressão da dupla Abadia-Roriz. Há duas semanas, a PF voltou ao jardim de Deborah Guerner e achou outro cofre enterrado, este recheado de mídias de informática e, para desespero de muita gente, mais CDs com gravações de áudio e vídeo.

À Corregedoria do Ministério Público, Barbosa afirmou ter participado de uma reunião na casa da procuradora, onde estiveram presentes Arruda, o ex-vice-governador Paulo Octavio Pereira e Bandarra para, justamente, acertar os termos da divisão do contrato do lixo. Embora ainda estejam sob investigação, Bandarra e Deborah Guerner continuam no Ministério Público. A promotora entrou com um pedido de aposentadoria, ainda não deferido, por conta da sindicância aberta pelo órgão.

A partir de 2006, na transição do governo do PSDB de Abadia para o DEM de Arruda, os contratos do lixo passaram a ser renovados emergencialmente, sem licitação a cada seis meses. Somente em junho de 2010 o governo conseguiu finalizar uma nova concorrência. Além da Qualix, participaram os suspeitos de sempre: Construtora Artec, Valor Ambiental, Caenge Engenharia, Nely Transportes e, novata no esquema, a Delta Construções.

De acordo com informações do Siggo, o sistema de acompanhamento de gastos feito pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, a vencedora do primeiro lote da licitação realizada neste ano foi a Delta Construções, com o preço de 368,9 milhões de reais. A Qualix ficou em segundo, com 383,1 milhões de reais. A empresa Valor Ambiental foi a ganhadora do segundo lote, com o preço de 210 milhões reais, sete milhões de reais a menos que a segunda colocada, novamente a Qualix, com 217,1 -milhões de reais. No terceiro lote, a vencedora foi a Construtora Artec, com 173 milhões de reais. Em segundo, ficou a Delta, com 174 milhões de reais. Por meio de liminares, a Qualix tem conseguido suspender as contratações do primeiro e terceiro lotes.

De acordo com a assessoria de imprensa da Qualix, a empresa mudou de dono, em junho passado, quando foi comprada pelo fundo privado Arion Capital. No fim de setembro, a empresa se colocou à disposição da Polícia Federal para abrir suas contas e a contabilidade para qualquer investigação. O assessor Paulo Figueiredo informa que a empresa realizou uma ampla auditoria nas contas da gestão passada da Qualix, iniciada em 1998, e não identificou nenhum pagamento ou saída de recursos feita de forma irregular. A decisão de colaborar com a PF veio, justamente, depois de parte da história sobre pagamentos de propinas revelados pela secretária Dominga vazar para a imprensa. Até junho de 2010, a Qualix pertencia ao grupo argentino Macri, quando entrou em situação pré-falimentar por conta de muitas dívidas.

O Macri chegou a comprometer um terço do faturamento anual da empresa, calculado em 1 bilhão de reais, para pagamentos de faturas de curto prazo a diversos credores. A empresa tem sede em São Paulo e mais 11 filiais em várias capitais brasileiras, algumas com problemas graves. Em agosto, o prefeito de Cuiabá, Francisco Galindo (PTB), encerrou o contrato local com a Qualix pelo fato de a empresa não ter mais condição de colocar a frota de caminhões na rua. O ex-dono da Qualix, Franco Macri, está sob investigação da PF, acusado de enviar dinheiro para o exterior de forma ilegal.

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A cruzada fundamentalista de José Serra

Reproduzo artigo de Breno Altman, publicado no sítio Opera Mundi:

O atraso na agenda de direitos civis no Brasil encontra fonte de alimentação na atual campanha presidencial. Os estragos são notáveis. A defesa do Estado laico, da saúde pública e da liberdade individual sucumbiu diante da ofensiva religiosa.

A opção talibã de José Serra está na origem desse enredo. O cálculo político da oposição, ao apostar na discussão do aborto, remete à sua fragilidade junto às camadas populares e os setores médios mais pobres. O bloco conservador, praticamente ilhado na classe média alta e entre os ricos, procurou nas trevas a porta de entrada para andares de baixo. A contraposição de “valores cristãos” à esquerda, velho recurso da guerra fria, funciona para estimular medo e estressar vínculos com as frações mais crentes da população.

Mas não se trata apenas de uma manobra tática isolada. A fusão entre direita laica e correntes reacionárias do cristianismo é fenômeno antigo. Essa aliança, neutralizada durante o apogeu da Teologia da Libertação, renasceu com a nova ordem no Vaticano e o crescimento de grupos evangélicos extremistas. Sobre os pilares desse acordo, ressurge o imaginário das marchas com deus e a família pela liberdade e a moralidade, base orgânica do golpe de 1964.

O PSDB, outrora partido 'moderninho' da classe média paulistana, agora abençoa a fundação do Tea Party à brasileira. Seu programa eleitoral de rádio e televisão pouco fala de projeto para o país, a pretexto de priorizar a “comparação de biografias”. De forma subliminar, mas constante, busca amalgamar Dilma Rousseff como o anti-Cristo da política nacional. A contra-revolução cultural, moral e de direitos civis passou a ser o aspecto mais evidente da narrativa tucana.

A truculência dessa cruzada parece ter surpreendido os petistas. A primeira reação foi natural, talvez um pouco tardia: desmascarar publicamente a operação clandestina levado a cabo pela internet e nos templos. Os riscos começaram nos passos seguintes, quando foi dada a partida em movimentos de negociação com a agenda tradicionalista, repletos de encontros e imagens confessionais que subitamente apareceram na campanha. Durante dias o PT pareceu ter aceitado a dinâmica do debate confessional.

A esquerda poderia ter dado maior e melhor combate às idéias retrógradas, explicitando a descriminalização do aborto como problema de saúde pública, informando sobre mulheres que morrem aos milhares todos os anos. Dilma, ainda assim, teria espaço para afirmar que jamais sua alternativa individual seria por interromper uma gravidez e que, como presidente, não apresentaria projeto de lei que alterasse as normas atuais, pois tem consciência que são decisões que necessitam de amadurecimento e debate em clima de tolerância. Mudanças eventuais estariam a cargo somente do Congresso, eventualmente através de plebiscito. Não seriam alvo de deliberação do seu governo.

Mas foi irresistível a tentação de acalmar angústias do eleitorado cristão, ou parte dele, fora dos pressupostos laicos. Em reunião com lideranças evangélicas, na quarta-feira (13/10), Dilma sentiu na pele a armadilha que está montada. Praticamente lhe tentaram impor uma moratória religiosa, pela qual a eventual chefe de um Estado laico aceitaria o compromisso de não autorizar proposições governamentais e vetar resoluções parlamentares acerca do direito de aborto, da união civil entre homossexuais e da proibição da homofobia, entre outros quesitos.

Ao término do encontro, ficou pendente uma “carta à nação” que satisfizesse as reivindicações desses agrupamentos cristãos, cujo objetivo parece ser o bloqueio do processo constitucional em função de suas crenças e valores particulares. Muitos setores e personalidades se manifestaram contra o documento. Há quem diga que seria um termo de renúncia aos princípios republicanos.

Essa iniciativa, mesmo na lógica eleitoral, poderia provocar sérios inconvenientes. A cada passo da campanha petista para aplacar a ira dos templos, maior o espaço para a discussão que interessa à direita e menor relevância para o enfrentamento entre modelos e programas de governo. Como gostam de dizer os espanhóis: crie corvos, que te comerão os olhos.

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Exclusivo: dona da gráfica é do PSDB!

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Já passava das 2 da manhã desse domingo. Na porta da gráfica Pana, no Cambuci, um grupo de 50 a 60 pessoas seguia de plantão – para evitar a distribuição dos panfletos (supostamente encomendados pelo bispo católico de Guarulhos) recheados de mistificação religiosa e de ataques contra a candidata Dilma Rousseff. Mais um capítulo da guerra suja travada nessa que já é a mais imunda eleição presidencial, desde a redemocratização do Brasil.

Na internet, durante a madrugada, outro plantão rolava: tuiteiros, blogueiros e leitores de todo o Brasil buscavam informações sobre os donos da gráfica, e sobre as possíveis conexões deles com o mundo político.

Stanley Burburinho (ele mesmo!) e Carlos Teixeira fizeram o trabalho. Troquei com eles algumas dezenas de mensagens. E essa apuração colaborativa levou à descoberta: uma das sócias da gráfica Pana é filiada ao PSDB, desde 1991!

Trata-se de Arlety Satiko Kobayashi, vinculada ao diretório da Bela Vista - região central de São Paulo. Nenhum problema com a filiação de Arlety ao partido que bem entender. O problema é que a gráfica dela foi usada para imprimir panfletos aparentemente encomendados por um bispo, mas que “coincidentemente”, favorecem ao candidato do partido dela.

Aqui, o contrato social da empresa – onde Arlety Kobayashi aparece como uma das sócias: contrato_social_grafica_pana[1]

E aqui a lista de filados do PSDB, onde ela aparece no diretório zonal da Bela Vista.

Mais um detalhe: Arlety é também funcionária pública, tem cargo na Assembléia Legislativa de São Paulo. E tem um sobrenome com história entre os tucanos: Kobayashi. Paulo Kobayashi ajudou a fundar o partido, ao lado de Covas, foi vereador e deputado por São Paulo.

Arlety aparece como doadora da campanha de Victor Kobayashi ao cargo de vereador, em 2008. Victor concorreu pelo PSDB.

A conexão está clara. Os tucanos precisam explicar:

- por que o panfleto com calúnias contra Dilma foi impresso na gráfica de uma militante do PSDB?

- quem pagou: o bispo de Guarulhos, algum partido, ou a Igreja?

- onde seriam distribuídos os panfletos?

- onde estão os outros milhares de panfletos?

Os panfletos do Cambuci são mais uma prova da conexão nefasta que, nessa eleição, aproximou os tucanos da direita religiosa – jogando no lixo a história de Covas, Montoro e tantos outros que lutaram para criar um partido “moderno”, que renovasse os costumes políticos do país. Serra lançou esse passado no esgoto – e promoveu uma campanha movida a furor religioso.

Mas não é só isso!

Se Arlety Kobayashi (uma tucana) é a responsável pela impressão dos panfletos, na outra ponta quem é o sujeito que encomendou tudo?

O Blog “NaMaria” traz a investigação completa, que aponta Kelmon Luis da S. Souza como o autor da “encomenda”. Ele teria ligações com movimentos integralistas e monarquistas!

O Blog do Nassif , por sua vez, mostra que as conexões poderiam chegar até bem perto de Índio da Costa (DEM), o vice de Serra. Ele, em algum momento, também teve proximidade com monarquistas. Mas esse detalhe ainda não está bem esclarecido.

De toda forma, o círculo se fecha: tucanos, demos e a extrema-direita (católica, integralista ou monarquista). Todos unificados numa barafunda eleitoral que arrastou nomes de bispos para a delegacia, e nomes de políticos para o rol daqueles que apostam na guerra de religiões como arma eleitoral.

Há mais mistérios entre o céu e o Serra do que supõe nossa vã filosofia. Paulo Preto é um deles. A gráfica do Cambuci parece ser outro. Mistérios que não serão decifrados por teólogos, mas por delegados e agentes federais.

É caso de polícia. E não de religião.

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Crime eleitoral e a resposta da CNBB

Reproduzo a "carta aberta à CNBB", publicada no blog Viomundo e redigida por Marcelo Zelic, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e coordenador do Projeto Armazém Memória:

Carta Aberta à CNBB.

São Paulo 17 de outubro de 2010.

Como membro da CJP-SP fui chamado pelo Deputado Estadual Adriano Diogo a registrar o flagrante de crime eleitoral na Editora Gráfica Pana LTDA, que foi contratada pelo Bispo Diocesano de Guarulhos para reproduzir 2,1 milhões de panfletos falsos da CNBB e estava para distribuir, ontem, pelo país 1,1 milhão de cópias do material e fiz estes registros, por ter ciência da orientação de nossa Comissão Brasileira de Justiça e Paz a partir do documento que li, recebido dias atrás sobre a falsificação de panfleto em nome da CNBB.

A encomenda foi realizada a pedido Mitra Diocesana de Guarulhos conforme imagens abaixo, a saber: email de encomenda, cópia do boleto bancário e carta de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini ao Pe. Jean Rogers Rodrigo de Souza, solicitando distribuição, que encaminho também anexo para divulgação, uma vez que constituem a documentação probatória da encomenda e do crime eleitoral praticado.

A gráfica iria entregar 2,1 milhões de panfletos, cuja informação fornecida pelo gerente da empresa pego em flagrante, pode variar em sua tiragem de 20 a 50 milhões. Foram apreendidos somente 1 milhão dos panfletos falsos, cuja liminar de apreensão já foi expedida pelo juiz responsável. Isso significa que muitos panfletos podem ter sido feitos em outras gráficas e continuarão a ser distribuído pelo país, caso não haja uma ação efetiva da CNBB.

Penso que nossos Bispos devam considerar, dada a gravidade dos fatos, encaminhar a Nota de Esclarecimento elaborada no encontro de Itaici, para ser lida em todas as paróquias, em todas as missas do próximo domingo, sua publicação no Jornal O São Paulo e demais revistas e jornais católicos, bem como a leitura nas Tvs e rádios da igreja, buscando por fim ao assunto.

Recomendo esta atitude para nossos pastores reunidos em Itaici, entendendo ser este um gesto que favorecerá a distensão dos mal-entendidos provocados, visando o amplo esclarecimento dos fiéis que receberam tal documento apócrifo e criminoso, sobre a real posição de nossos bispos do Regional 1 e da CNBB, contribuindo desta forma para serenarmos os conflitos gerados entre os católicos, reafirmando a integridade da CNBB e reforçando a cidadania, a democracia e a livre escolha de todos os brasileiros, tão atingidas com esta manifestação difamatória, que desvirtua o foco do debate que interessa à nação e o sentido das eleições de 2010.

A cizânia que a calúnia, as ofensas e as mentiras imputadas geram entre aos cristãos, por ações como está promovida pelo Bispo Diocesano de Guarulhos, estão explicitadas de forma dramática nos fatos que ocorreram hoje em Canindé, no Ceará, onde a missa acabou em tumulto, uma vez que o padre corretamente informou aos presentes que o documento que estava sendo distribuído na missa era falso e acabou sendo atacado por um político, durante a celebração. Pergunto aos nossos Bispos da CNBB; quando na igreja uma missa tão tradicional como a de Canindé, acabou desta maneira? Os fatos demonstram a gravidade do momento e a tentativa de aparelhamento do sentimento religioso em nosso país, conforme nota publicada pela CNBB.

Faz-nos refletir a justeza das palavras da candidata Dilma Rousseff, divulgadas na imprensa recentemente, sobre a campanha de ódio que estas ações subterrâneas estão gerando nos corações e mentes dos brasileiros por todo nosso país. Isso pode ficar mais grave ainda, se não for feita uma ampla campanha de esclarecimento junto aos fiéis. A CNBB e o país tem muito a perder com isso. É preciso por um basta a esta campanha baseada na mentira, na calúnia, na difamação!

Só a Verdade nos libertará.

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Panfletos da CNBB e suas relações obscuras

Reproduzo grave denúncia publicada no blog NaMariaNews:

A desgraça dos panfletos contra a Dilma, que "supostamente" bispos da CNBB mandaram imprimir na Gráfica Pana, no Cambuci, tem em documento de encomenda/fatura o e-mail de um senhor chamado "kelmon.luis@theotokianos.org.br" (Kelmon Luis da S. Souza).

Ora, trata-se do e-mail da Associação Theotokos, da qual o Sr. Kelmon é o presidente.

Pelo RegistroBR sabe-se que o site está em nome da Casa de Plínio Salgado, que por sua vez é isto (credo!).

Será o benedito que a santa madre igreja tá nesse terror de mandar essa gente mandar uma gráfica fazer e entregar panfleto mentiroso, descarado, sórdido e podre no Paraíso, Barra Funda e Rua do Bosque? E quem paga é a Mitra Diocesana de Guarulhos?

Que relações são essas?

Desculpe, sou alma ingênua.

Atualizações

O dono da Editora Gráfica Pana LTDA é Alexandre Takeshi Ogawa. O pai, Paulo Ogawa, que aparece no vídeo é o "contador". Sócia da gráfica é Arlety Satiko Kobayashi, funcionária pública da Assembleia Legislativa de SP (ver DO: matrícula 5057); filiada do PSDB do bairro da Bela Vista; décima maior doadora da campanha de Victor Kobayashi (vereador suplente PSDB, 2008; em 2010 candidato a deputado estadual, não eleito), que por sua vez é filho do também político Paulo Kobayashi, falecido, e que solta belezas difamatórias no Twitter.

2.100.000 panfletos, por R$33 mil - Quem paga?

Atualizações

Por que os panfletos teriam de ser entregues na Barra Funda, na Rua do Bosque (que também é Barra Funda) e no bairro do Paraíso? O que a Mitra Diocesana teria a ver nesses lugares? Qual é a rede nessa história?

A Associação Theotokos fica exatamente na Rua do Bosque, 1903 - Barra Funda - São Paulo - CEP 11360-001 - essa casa abaixo. Para onde iriam os panfletos depois daí?

Ler mais: http://namarianews.blogspot.com/2010/10/os-panfletos-mentirosos-da-cnbb-e-suas.html#ixzz12d7aTHYI

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José Serra, o exterminador do futuro

Reproduzo artigo do jornalista e economista José Carlos de Assis, publicado no sítio Carta Maior:

Em 1987, ano da Constituinte, encontrei com José Serra no plenário da Câmara dos Deputados aonde fui discutir com alguns parlamentares temas da Seguridade Social. Vi-o muito atarefado com um monte de papel na mão recolhendo assinaturas de deputados. Como o conhecia desde a campanha das diretas, sendo um admirador de suas posições econômicas, me aproximei e perguntei-lhe do que se tratava. É uma emenda para bloquear os recursos propostos por Sarney para a construção da Ferrovia Norte-Sul, esclareceu. Como?, perguntei surpreso; a Norte-Sul é uma obra importante para o Centro-Oeste e para o país, Serra! “Mas que não seja para desequilibrar as contas públicas”, justificou ele, indiferente ao fato de que a Norte-Sul era, de fato, a única grande obra de infra-estrutura tentada por Sarney.

No ano seguinte, o Brasil vivia uma das piores crises inflacionárias de sua história depois do fracasso do Plano Cruzado. Num movimento desesperado para tentar recuperar a estabilidade econômica e relançar o desenvolvimento, tive autorização do presidente da Confederação Nacional da Indústria, Senador Albano Franco, de quem era assessor, para tentar articular um pacto social liderado por empresários e trabalhadores a fim de propor uma alternativa viável, porém não convencional, para a dívida externa, articulada a um programa de relançamento dos investimentos de infra-estrutura. Em síntese, como estávamos em moratória externa, tratava-se de pagar dívida, sim, mas em moeda interna, orientando os recursos forçosamente para investimentos novos na infra-estrutura.

O documento central do Pacto Social chegou a ser assinado por representantes dos trabalhadores e do patronato, a despeito de uma resistência feroz do então ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, empenhado em fazer um acordo convencional com os banqueiros, que se revelou preliminar de uma nova moratória. No curso dessas discussões, levamos o tema do pacto a alguns líderes no Congresso, com outras sugestões. Entre elas, a de reduzir o imposto de renda na base da pirâmide e ter como compensação o acréscimo de uma alíquota marginal para os ricos. No momento em que se discutia isso Serra apareceu na sala e fulminou a proposta, sob a alegação de que não se podia aumentar impostos, mesmo que isso fosse para aliviar os menos favorecidos.

Não me encontrei com Serra no Governo Fernando Henrique. Encontrei-me com Malan, outro dos principais auxiliares de FHC, que me afirmou peremptoriamente que um crescimento de 3,5% do PIB seria perfeitamente satisfatório para o Brasil porque, na década de 90, a taxa de crescimento populacional havia caído! A propósito, um amigo comum me afirmou que, em 1995, assustado com a crise mexicana, Serra advogou decisivamente por uma freada do crescimento brasileiro, que vinha se recuperando com o Plano Real, sob o argumento do risco inflacionário. Como conseqüência, a mediocridade de crescimento iria imperar ao longo de todo o Governo FHC, em especial em função de uma política cambial irresponsável, sem que Serra movesse uma única palha contra.

Portanto, caveant, brasileiros: a República está em risco. Uma distração apenas e elegeremos um contador fiscalista como Presidente, obcecado pela idéia de cortar gastos públicos a qualquer custo, capaz de enterrar a curto prazo com as grandes potencialidades de crescimento que temos, sobretudo depois do segundo mandato do Governo Lula: o mandato efetivamente coordenado por Dilma na Casa Civil. O que está em jogo não é a cadeira presidencial. É o futuro do Brasil. Fala-se em educação, fala-se em saúde, fala-se em aumento de salário mínimo... mas de onde virá o dinheiro para tudo isso, senão do crescimento da economia? Foi o crescimento que permitiu a Lula fazer os programas sociais que fez e reduzir drasticamente o desemprego. Sem ele, perderemos mais uma vez o trem da história.

Sim, porque estamos quase em pleno emprego. Para atingi-lo, será necessário ampliar, e não reduzir gastos públicos. E isso é perfeitamente possível sem gerar inflação. Temos uma dívida pública de pouco mais de 40% do PIB, uma das mais baixas do mundo. Há folga fiscal para crescer. E as pressões inflacionárias, aqui como em todo o mundo, estão longe de representar qualquer risco. Caveat, eleitor! Depois de anos de paralisação quase total do investimento público, sobretudo no período Fernando Henrique/Serra, temos grandes obras em andamento, de aeroportos a hidrelétricas, gerando dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos. E o risco que se corre não é de um deputado isolado, mesmo que influente, correndo pelo plenário da Câmara para bloquear um investimento público essencial. Seria de ter no Planalto um presidente que simplesmente não proporá ao Congresso os investimentos necessários. Nessa perspectiva, não seria eleito um presidente da República. Seria eleito o exterminador do futuro. O nosso!

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Por que Paulo Preto apavora Serra?



Reproduzo reportagem de Sérgio Pardellas e Claudio Dantas Sequeira, intitulada "O poderoso Paulo Preto", publicada na revista IstoÉ desta semana:

Como candidato à Presidência da República, José Serra deve explicações mais detalhadas à sociedade brasileira. Elas se referem a um nome umbilicalmente ligado à cúpula do PSDB, mas de pouca exposição pública até dois meses atrás: Paulo Vieira de Souza, conhecido dentro das hostes tucanas como Paulo Preto. Desde que a candidata do PT, Dilma Rousseff, pronunciou o nome de Paulo Preto no debate realizado pela Rede Bandeirantes no domingo 10, Serra se viu envolvido em um enredo de contradições e mistério do qual vinha se esquivando desde agosto passado, quando ISTOÉ publicou denúncia segundo a qual o engenheiro Paulo Souza, ex-diretor da estatal Dersa na gestão tucana em São Paulo, era acusado por líderes do seu próprio partido de desaparecer com pelo menos R$ 4 milhões arrecadados de forma ilegal para a campanha eleitoral do PSDB.

Na época, a reportagem baseou-se em entrevistas, várias delas gravadas, com 13 dos principais dirigentes tucanos, que apontavam o dedo na direção de Souza para explicar a minguada arrecadação que a candidatura de Serra obtivera até então. Depois de publicada a denúncia, o engenheiro disparou telefonemas para vários líderes, dois deles com cargos no comando da campanha presidencial, e, apesar da gravidade das acusações, os tucanos não se manifestaram, numa clara opção por abafar o assunto. O próprio presidenciável Serra optou pelo silêncio. Então, mesmo com problemas de caixa e reclamações de falta de recursos se espalhando pelos diretórios regionais, o PSDB preferiu jogar o assunto para debaixo do tapete.

No debate da Rede Bandeirantes, Serra mais uma vez silenciou. Instado por Dilma a falar sobre o envolvimento de Paulo Preto no escândalo do sumiço da dinheirama, não respondeu. Mas o pavio de um tema explosivo estava aceso e Serra passou a ser questionado pela imprensa em cada evento que participou. E, quando ele falou, se contradisse, apresentando versões diametralmente diferentes em um período de 24 horas. Na segunda-feira 11, em Goiânia (GO), em sua primeira manifestação sobre o caso, o candidato do PSDB negou conhecer o engenheiro. “Não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês (jornalistas) fiquem perguntando.” A declaração provocou uma reação imediata. Na terça-feira 12, a “Folha de S.Paulo” publicou uma entrevista em que o engenheiro, oficialmente um desconhecido para Serra, fazia ameaças ao candidato tucano. “Ele (Serra) me conhece muito bem. Até por uma questão de satisfação ao País, ele tem que responder. Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam este erro”, disparou Paulo Preto. Serra demonstrou ter acusado o golpe. Horas depois da publicação da entrevista, em evento em Aparecida (SP), o candidato recuou. Com memória renovada, saiu em defesa do ex-diretor do Dersa.

Como se jamais tivesse tratado deste assunto antes, Serra afirmou: “Evidente que eu sabia do trabalho do Paulo Souza, que é considerado uma pessoa muito competente e ganhou até o prêmio de engenheiro do ano. A acusação contra ele é injusta. Ele é totalmente inocente. Nunca recebi nenhuma acusação a respeito dele durante sua atuação no governo”. Aos eleitores, restou uma dúvida: em qual Serra o eleitor deve acreditar? Naquele que diz não conhecer o engenheiro ou naquele que elogia o profissional acusado pelo próprio PSDB de desviar R$ 4 mihões da campanha? As idas e vindas de Serra suscitam outras questões relevantes às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais: por que o tema lhe causou tanto constrangimento? O que Serra teria a temer para, em menos de 24 horas, se expor publicamente emitindo opiniões tão distintas sobre o mesmo tema?

Ainda está envolto em mistério o que Paulo Preto teria na manga para emparedar Serra. A movimentação do engenheiro nas horas que sucederam o debate da Rede Bandeirantes mostra claramente como ele é influente, poderoso e temido nas hostes tucanas. Conforme apurou ISTOÉ, logo depois do programa, Paulo Preto, bastante irritado por não ter sido defendido pelo candidato do PSDB, começou a telefonar para integrantes do partido. Um deles, seu padrinho político, o ex-chefe da Casa Civil de São Paulo, senador eleito Aloysio Nunes Ferreira, que deixou o debate logo que o nome do engenheiro foi mencionado. Outras duas chamadas, ainda de madrugada, foram para as residências de um secretário do governo paulista e de um dos coordenadores da campanha de Serra em São Paulo.

Nas conversas, Paulo Preto disse que não ia admitir ser abandonado pelo partido. E que iria “abrir o verbo”, caso continuasse apanhando sozinho. Com a defesa de Serra, alcançou o que queria. Para os dirigentes do partido restou o enorme desconforto de passarem o resto da semana promovendo contorcionismos verbais para defender as ações de um personagem que acusavam dois meses antes. Em agosto, o PSDB vivia outro momento político, vários líderes tucanos reclamavam do estilo “centralizador e arrogante” de Serra, tinham dificuldades para arrecadar recursos e vislumbravam uma iminente derrota nas urnas. Agora, disputando o segundo turno e sob a ameaça de Paulo Preto, promovem uma ação orquestrada para procurar desqualificar as denúncias que eles próprios fizeram. “Às vésperas da eleição podemos ganhar o jogo. Portanto, não vou dizer nada a respeito do Paulo Preto”, disse uma das principais lideranças do partido na noite da quarta-feira 13. Esse mesmo tucano, em agosto, revelara detalhes sobre a atuação do engenheiro na obra do trecho sul do rodoanel.

“Não é hora de remexer com o Paulo Preto. Isso poderá colocar em risco nossa vitória”, afirmou na manhã da quinta-feira 14 um membro da Executiva Nacional do partido, que em agosto acusara o engenheiro de desviar R$ 4 milhões da campanha. “Em agosto, depois da reportagem de ISTOÉ, procuramos empresários e eles negaram que Paulo Preto tenha pedido contribuições”, disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Se fez de fato esse movimento, Guerra não teve pressa em revelá-lo. Só foi fazê-lo agora, pressionado pelas declarações do engenheiro.

Diferentemente do que alegou Serra em sua primeira declaração, Paulo Preto está longe de ser um desconhecido, principalmente nas altas esferas do PSDB. Ele já havia sido alvo de reportagens de veículos como “Veja” (que o chamou de “o homem-bomba do PSDB”) e “Folha de S.Paulo” . Para um político que se apresenta como um gestor atento a todos os movimentos de seus comandados, é difícil crer que o então governador Serra estivesse alheio a notícias envolvendo um dirigente da estatal que executa as principais obras do governo paulista. Além disso, Serra não pode afirmar não ter sido alertado sobre os métodos do engenheiro.

Em novembro do ano passado, em e-mail enviado ao então governador Serra, o vice Alberto Goldman já dizia que o ex-diretor do Dersa era “incontrolável”. “Ele (Paulo Preto) é vaidoso e arrogante. Fala mais do que deve, sempre. Parece que ninguém consegue controlá-lo. Julga-se o super-homem.” A mensagem eletrônica também foi remetida ao secretário de Transportes, Mauro Arce, a quem o Dersa é subordinado. “Não tenho qualquer poder de barrar ações. Mas tenho o direito, e a obrigação, de opinar e tentar evitar desgastes desnecessários”, ponderou Goldman. Os e-mails deixam claro que não estava se falando sobre um funcionário qualquer do governo. Afinal, não é corriqueiro um vice-governador perder tempo discutindo com o governador do maior Estado do País a atuação do funcionário de uma estatal.

Além dos e-mails de Goldman a Serra, as atividades do engenheiro já haviam espantado o tesoureiro-adjunto e ex-secretário-geral do partido, Evandro Losacco. Na reportagem de ISTOÉ, publicada em agosto, Losacco reconheceu que o engenheiro tinha “poder” para arrecadar e confirmou o sumiço dos R$ 4 milhões. “Todo mundo já sabia disso há muito tempo. Essa arrecadação foi puramente pessoal, mas só faz isso quem tem poder de interferir em alguma coisa. Poder infelizmente ele tinha.” O “empresariado”, segundo Losacco, entendia que Paulo Preto “tem a caneta”. “No governo às vezes você não consegue fazer tudo o que você quer. Você tem contingências que o obrigam a engolir sapo. E eu acho que esse deve ter sido o caso”, disse Losacco na ocasião.

Apesar dos alertas de Goldman, Paulo Preto ficou no cargo até abril deste ano, tocando a principal obra de São Paulo, o rodoanel. Só foi exonerado quando o próprio Goldman assumiu o governo. Se Serra não explica o porquê da permanência de Paulo Preto à frente da estatal, o próprio ex-diretor do Dersa, na entrevista à “Folha”, fornece alguns dados importantes. Paulo Preto disse que sempre criou as melhores condições para que houvesse aporte de recursos em campanhas, por ter feito os pagamentos em dia às empreiteiras terceirizadas que atuaram nas grandes obras de São Paulo, como o rodoanel, a avenida Jacu-Pêssego e a ampliação da Marginal. “Ninguém nesse governo deu condições de as empresas apoiarem mais recursos politicamente do que eu”, afirmou Paulo Preto. De fato, Paulo Preto teve um peso enorme na gestão tucana em São Paulo. Os contratos administrados pelo engenheiro estavam entre as principais obras do País, somando R$ 6,5 bilhões. De acordo com relatório do TCU, obtido por ISTOÉ, o ex-diretor chegou a pagar às empreiteiras não apenas no prazo, mas também de maneira antecipada. Os auditores do tribunal recomendaram ajustes ao que consideram uma conduta indevida de Paulo Preto, pois sempre há o risco de as empresas receberem todo o pagamento sem garantias de cumprimento das obras.

Nesse enredo nebuloso também chama a atenção o patrimônio milionário do engenheiro. Na declaração de bens de 2009, Paulo Vieira de Souza diz possuir um patrimônio avaliado em R$ 3,4 milhões, sendo R$ 560 mil referentes a imóveis. Dois anos antes, declarou em seu nome um apartamento, três casas e mais três terrenos localizados em áreas nobres das cidades de Campos do Jordão e Ubatuba, num total de R$ 2 milhões, além de um hotel-fazenda. Os valores não estão atualizados, como permite a legislação do Imposto de Renda. Só o apartamento de Paulo Vieira, com 550 metros quadrados, no edifício Conde de Oxford, situado à rua Domingos Fernandes, na Vila Nova Conceição, vale pelo menos R$ 5 milhões, de acordo com corretores. O jeito esbanjador de Paulo Vieira de Souza é apontado por amigos e ex-colegas de trabalho como seu calcanhar de aquiles. Na comemoração de seu aniversário, em 7 de março do ano passado, ele deu uma megafesta na Casa das Caldeiras, uma exclusiva área de eventos em São Paulo. Com motivos árabes, os convidados, inclusive vários tucanos de alta plumagem, se deliciaram com danças de odaliscas e passeios de camelo. A quem quisesse ouvir, Paulo dizia que desembolsou nada menos que R$ 1 milhão com a recepção.

A gestão do orçamento milionário que estava a cargo de Paulo Preto levanta ainda outras suspeitas. Preocupada com o destino desse dinheiro, a bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo entrou com uma representação no Ministério Público paulista, na tarde da quinta-feira 14, pedindo uma investigação completa. Embora não conste da representação entregue pelo deputado José Mentor ao Ministério Público, uma equipe técnica do PT está debruçada em duas frentes principais de investigação. A primeira busca checar se houve desvio de verbas no rodoanel, com o suposto uso de material de baixa qualidade a preços superfaturados. “Não é possível que uma obra inaugurada há seis meses já precise de reparos, como os que vemos ao longo do trecho sul. Além disso, quando se anda a 80 quilômetros por hora o carro trepida como se estivéssemos numa estrada de terra”, questiona um petista. A desconfiança também recai sobre o processo de desapropriação de imóveis ao longo do anel viário. “Temos informação de que muitas propriedades e terrenos foram renegociados várias vezes”, acrescenta o mesmo parlamentar. Confirmados os indícios que pesam contra Paulo Preto, o PT paulista trabalhará para instalar uma CPI a fim de apurar o caso ainda mais a fundo.

Seguindo o espírito dos correligionários, que se calaram, Serra argumentou que Dilma, ao trazer o episódio à tona, está se preocupando com uma questão interna das finanças do PSDB, enquanto o caso da Casa Civil envolvia dinheiro público. Isto não é verdade. As arrecadações feitas por Paulo Preto e denunciadas pelo próprio PSDB só se realizaram em razão de obras públicas, financiadas com dinheiro do contribuinte. Além disso, o desvio, se comprovado, caracterizaria a prática criminosa de caixa 2 eleitoral. Por isso, o silêncio, nesses casos, é conveniente tanto para quem arrecadou quanto para as empresas que contribuíram. Há, ainda, indícios de que ele praticava tráfico de influência, já que contratou o escritório Edgard Leite Advogados Associados, banca em que trabalha a sua filha, Priscila Arana. “Paulo Preto contratou a própria filha para defender o Dersa, ao mesmo tempo que advogava para as construtoras. É um aberração, já que era o engenheiro que liberava o dinheiro paras as empresas clientes da filha e do governo”, denuncia o deputado Mentor (PT).

Parte das empresas que supostamente fizeram as doações para a campanha do PSDB é representada pelo escritório onde a filha do engenheiro trabalha. “O escritório presta serviço, há mais de dez anos, a praticamente todas as empresas privadas que compõem os consórcios contratados para a execução do trecho sul do rodoanel”, afirma Edgard Leite Advogados em e-mail enviado à ISTOÉ. Mesmo assim, ele alega que são “inconsistentes e maldosas as tentativas de vincular o nome do escritório com qualquer ilicitude”. Os advogados confirmam ainda que a filha de Paulo Preto é funcionária da empresa desde 2006, ano em que o engenheiro assumiu o cargo de direção do Dersa. Sobre a defesa da empresa pública, o escritório diz que “jamais foi contratado pelo Dersa”. Não é, entretanto, o que mostra o processo judicial TC-011868/2007-6 sobre uma disputa jurídica entre o DNIT e o Dersa. Na peça, o nome de Priscila Arana aparece como advogada constituída para defender a estatal.

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