Luis Fernando Verissimo |
Norberto Bobbio, no seu maravilhoso “Elogio da Serenidade”, diz que os dois acontecimento mais recentes que mais provocaram discussões sobre o tema do “mal” foram Auschwitz e a “queda do Muro de Berlim”. O primeiro representando “um desafio para o homem de fé”, o segundo um desafio, “sobretudo para o homem de razão”. E conclui, perante tais catástrofes – a primeira representando o mal em estado puro e a segunda a transfiguração da revolução em seu contrário, que tornou a utopia uma prisão –, conclui, repito: que os homens de razão “ficaram tentados a falar em derrota de Deus” e os “homens da fé”, em “suicídio da revolução”. Bobbio aponta, portanto, uma inversão: um argumento crítico-religioso por parte da razão iluminista e um argumento político-moral – baseado na força da ação política leiga – por parte dos crentes.