domingo, 10 de janeiro de 2010

Chomsky e as estratégias de manipulação

O lingüista estadunidense Noam Chomsky, que se define politicamente como “companheiro de viagem” da tradição anarquista, é considerado um dos maiores intelectuais da atualidade. Entre outros estudos, ele elaborou excelentes livros e textos sobre o papel dos meios de comunicação no sistema capitalista. É dele a clássica frase de que “a propaganda representa para a democracia aquilo que o cassetete significa para o estado totalitário”. No didático artigo abaixo, Chomsky lista as “10 estratégias de manipulação” das elites. Vale a penar ler e reler:


1- A estratégica da distração.

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes.

A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

2- Crias problemas, depois oferecer soluções.

Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A estratégia da degradação.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, é suficiente aplicar progressivamente, em “degradado”, sobre uma duração de 10 anos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas têm sido impostas durante os anos de 1980 a 1990. Desemprego em massa, precariedade, flexibilidade, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haviam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de forma brusca.

4- A estratégica do deferido.

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública no momento para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, por que o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, por que o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por que?

“Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, uma resposta ou reação também desprovida de um sentido critico como a de uma pessoa de 12 anos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão.

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- Manter o público na ignorância e na mediocridade.

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada as classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre o possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

8- Promover ao público a ser complacente na mediocridade.

Promover ao público a achar "cool" pelo fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- Reforçar a revolta pela culpabilidade.

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E sem ação, não há revolução!

10- Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem.

No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o individuo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

O presente de Natal do Jornal Nacional

Reproduzo abaixo o excelente texto do professor Venício A. de Lima, publicado no Observatório de Imprensa. A TV Globo já afia as suas garras para a sucessão presidencial deste ano:


Qualquer lista séria dos principais jornais do mundo incluirá o Le Monde. Fundado pelo general Charles de Gaulle (1890-1970), em dezembro de 1944, era parte do programa maior de libertação da França que se seguiu ao fim da ocupação nazista na Segunda Grande Guerra.

Dirigido ao longo de 25 anos por um membro da Resistência e respeitado intelectual – Hubert Beuve-Méry (1902-1989) –, o Le Monde consolidou sua posição de "independência" com as denúncias de tortura perpetradas pelo exército francês na Argélia, convencendo seus leitores de que a guerra colonial "não era apenas uma questão política, mas era também moral". Tornou-se, desde então, uma referência na e da França.

Depois de 65 anos de existência, o Le Monde decidiu eleger, pela primeira vez, um personagem do ano em 2009. E essa escolha recaiu sobre o presidente Lula. O tema mereceu a primeira página do jornal francês na edição de 24 de dezembro, mais capa e longa matéria na sua revista semanal.

O que é notícia?

Serviria ao interesse público saber que um dos mais importantes jornais do mundo escolheu um presidente brasileiro – qualquer que seja o presidente brasileiro – como "Homem do Ano" e quais as razões que justificaram tal escolha? Constituiria esse fato uma "notícia" a ser divulgada no Brasil? Aparentemente, sim. O portal G1, das Organizações Globo, por exemplo, postou matéria às 10h46 do dia 24/12 com o título "Le Monde escolhe Lula com homem do ano 2009”.

Vejamos qual foi o julgamento dos editores dos nossos principais telejornais sobre a "noticiabilidade" da escolha do Le Monde.

O Repórter Brasil Noite, da TV Brasil, deu chamada...

“O jornal francês Le Monde elege o presidente Lula o homem do ano de 2009. É a primeira vez que o diário de Paris, com 65 anos de história, faz esse tipo de indicação”.

... e nota com o seguinte texto:

“Pela primeira vez o Le Monde escolhe o homem do ano: Lula”.

“Apresentadora Carla Ramos: Pela primeira vez, em seus 65 anos, o jornal francês Le Monde escolheu a personalidade do ano e o eleito foi o presidente Lula. Segundo o jornal, um dos mais tradicionais da França, a escolha levou em conta a projeção internacional que o presidente Lula ganhou com as iniciativas de diálogo entre os países pobres e ricos. O jornal diz que Lula mudou a cara da América Latina e transformou o Brasil em uma potência. Mas o Le Monde lembrou que o Brasil ainda tem problemas estruturais na educação, casos de corrupção e uma Justiça preguiçosa”.

O Jornal da Record não deu chamada, mas deu nota com o texto abaixo:

“Presidente Lula é eleito o homem do ano pelo Le Monde”.

“Apresentador Celso Freitas: O presidente Lula foi eleito personalidade do ano pelo jornal francês Le Monde. É a primeira vez, em 65 anos de história, que o jornal elege uma personalidade. Em uma reportagem de quatro páginas com o título ‘O homem do ano’, a revista semanal do veículo destacou a preocupação de Lula com o desenvolvimento econômico do Brasil, além dos esforços do presidente na luta contra a desigualdade social e na defesa do meio ambiente”.

O Jornal da Band deu chamada, nota e comentário:

“Jornal da maior prestígio da França elege Lula homem do ano”.

“Apresentador Ricardo Boechat: O presidente Lula foi eleito pela segunda vez o homem do ano. Depois do jornal espanhol El País, agora o título veio do francês Le Monde”.

“Apresentadora Ticiana Villas Boas: É a primeira vez, em 65 anos de história do jornal, que o Le Monde faz esse tipo de indicação. A publicação justificou a escolha de Lula como o homem do ano por sua trajetória de antigo sindicalista, por seu sucesso à frente de um país tão complexo como o Brasil, pela preocupação com o desenvolvimento econômico, com o combate à desigualdade e com a defesa do meio ambiente”.

“No começo do mês, o presidente já havia recebido a mesma homenagem do jornal espanhol El País. Em um artigo escrito pelo primeiro-ministro, José Luis Zapatero, Lula foi chamado de homem que assombra o mundo”.

“Comentário de Joelmir Beting: Para o Le Monde, francês, Lula é o homem do ano. Agora, para a revista Time americana, o cara do ano é Ben Bernanke, presidente do Banco Central dos Estados Unidos. Pararraios da crise global, ele usa e abusa. Para Lula, a crise não passou de ‘marolinha’, sua versão light aqui no Brasil. Para Bernanke, ela custou um desembolso em pronto-socorro, até agora, de US$ 2,7 trilhões, ou dois PIBs do Lula.

O SBT Brasil também deu chamada e nota:

“O presidente Lula é o homem do ano. É o que diz um dos jornais mais importantes do mundo”.

“Apresentador César Filho: O presidente Lula ganhou o prêmio de ‘homem do ano’ de um dos jornais mais importantes do mundo: o Le Monde, da França. Pela primeira vez, em 65 anos, o Le Monde escolheu a personalidade mais importante do ano. Lula foi eleito pela trajetória singular à frente de um país tão complexo como o Brasil. Esta é a segunda homenagem a Lula na imprensa internacional só neste mês. No dia 11, ele entrou na lista das 100 personalidades mais importantes de 2009 feita pelo jornal espanhol El País. Em um artigo assinado pelo próprio primeiro-ministro da Espanha, José Luis Zapatero, Lula foi classificado de ‘homem que assombra o mundo’”.

E o Jornal Nacional da Rede Globo, telejornal de maior audiência do país, editado e apresentado pelo jornalista que, segundo pesquisa do Datafolha, é a personalidade que recebe da nossa população a segunda maior nota na escala de "confiabilidade" entre todos os brasileiros? Para o JN, a escolha de um presidente brasileiro como "Homem do Ano" pelo Le Monde não é notícia. O assunto simplesmente não entrou na pauta do telejornal.

Direito a informação e censura

Qual seria a justificativa editorial do JN para, ao contrário dos outros telejornais brasileiros, sonegar de seus muitos milhões de telespectadores essa informação? Seria pedagógico conhecer essas razões, já que o JN considera – e anuncia, inclusive, nas universidades brasileiras – que pratica o paradigma do "bom jornalismo", a ser seguido por todos nós.

Seria, sobretudo, pedagógico discutir o critério jornalístico do JN à luz do direito à informação do telespectador. Esse direito tem sido veementemente evocado e defendido, não pelo seu sujeito, o cidadão, mas por grupos de mídia concessionários do serviço público de radiodifusão na permanente e incansável campanha que movem contra as "ameaças" de censura advindas do que consideram um Estado autoritário, incluindo decisões judiciais.

Seria a censura – partindo de onde? – uma possível justificativa para a omissão do JN, inexplicável do ponto de vista jornalístico? Até que as razões sejam tornadas públicas, o telespectador do JN terá que se contentar com esse "presente de Natal" às avessas, no 24 de dezembro de 2009: omitir e esconder uma informação à qual ele – o telespectador – tem direito.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Gilmar Mendes vai processar O Globo?

O corrosivo blog Cloaca News, que tem como missão “desmascarar a máfia midiática que infesta nosso país” e que vasculha a mídia privada para descobrir “as últimas do jornalismo do esgoto (e dos coliformes favoritos da imprensa golpista)”, foi quem alertou para a mais recente patifaria do jornal O Globo. No editorial “Ponto nevrálgico”, de 5 de janeiro, o jornalão da famíglia Marinho simplesmente deturpou as palavras do ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.

Dois dias antes, numa entrevista ao mesmo jornal, o ministro do STF abordou o grave problema da corrupção no país. Bastante direto e seco, já que conhece as manipulações da mídia, Barbosa demonstrou ceticismo diante do combate a esta chaga. Mesmo reconhecendo que hoje “há, sim, mais transparência na revelação dos atos de corrupção”, ele se disse descrente das instituições – principalmente do Judiciário. “As instituições concebidas para combatê-la são organizadas de forma que elas sejam impotentes, incapazes na prática de ter uma ação eficaz”.

Jornal deturpa palavras do ministro

A entrevista foi cautelosa, como deve ser a de um magistrado – bem diferente do exibicionismo de Gilmar Mendes, presidente do STF. Barbosa, que relatou as denúncias do “mensalão do PT” e batalhou para abrir o processo contra o senador Eduardo Azeredo no caso “mensalão do PSDB”, nem sequer tratou das denúncias contra o governador de José Roberto Arruda no “mensalão do DEM”. Ele criticou a impunidade existente e cobrou maior pressão da sociedade na fiscalização. Elogiou o engajamento dos estudantes e criticou a passividade de outros setores da sociedade. Nenhuma palavra sobre o governo Lula ou contra os movimentos sociais brasileiros.

De forma descarada, porém, o editorial d’O Globo deturpou totalmente suas palavras. Para este panfleto oposicionista, a entrevista seria mais uma peça de condenação do governo Lula e dos movimentos sociais. “[Barbosa] colocou o dedo em um ponto nevrálgico da atual conjuntura: como o governo Lula abriu os cofres do Tesouro para cooptar de vez sindicatos – aliados antigos – e organizações da sociedade civil tradicionalmente ativas na fiscalização do poder público, caso da UNE. Porque todos, ou quase todos, se converteram em correias de transmissão do lulismo, paira grande e conivente silêncio no meio sindical e em organizações ditas sociais”.

Crime previsto no Código Penal

Diante da manipulação grosseira, o blog Cloaca News alerta que o “editorial do jornalão carioca pode dar três anos de cadeia para a famíglia Marinho”. Ele cita o artigo 299 do Código Penal que tipifica o crime de falsidade ideológica: “Omitir, em documento púbico ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita”. As penas previstas no artigo 299 são de “reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular”.

“Em que trecho da entrevista o ministro diz que ‘o governo Lula abriu os cofres do Tesouro para cooptar de vez sindicatos’? Em que parte da entrevista, declara que as organizações da sociedade civil ‘se converteram em correias de transmissão do lulismo’? Quantas vezes Joaquim Barbosa enunciou o nome do presidente Lula e o substantivo ‘lulismo’ em sua fala ao jornalão carioca”? Diante destes crimes, o blog propõe que “a maior corporação máfio-midiática brasileira” seja processada. “Se houvesse penas, também, para os casos de lesa-jornalismo, lesa-verdade e lesa-inteligência, certamente os proprietários e editorialistas da corporação platinada pegariam prisão perpétua. Sem direito a sursis”.

Cadê o Heraldo Pereira da TV Globo?

Para apimentar a proposta do irreverente blog, fica a pergunta: quem irá processar O Globo pelo editorial? Será que o ministro Gilmar Mendes – ou “Gilmar Dantas”, como costuma chamá-lo o jornalista Paulo Henrique Amorim – tomará a iniciativa? Afinal, a rasteira deturpação prejudica diretamente a imagem do STF, que ele preside com tantos holofotes. Caso tope esta nobre tarefa, Gilmar Mendes poderia até acionar versátil Heraldo Pereira, repórter e âncora da TV Globo, para escrever uma reportagem sobre os padrões de manipulação do jornalismo brasileiro.

Afinal, segundo denúncia antiga da própria Cloaca News, o jornalista global costuma batalhar, nas suas horas vagas, alguns extras no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), a escola do ministro Gilmar Mendes. Mestrando em direito pela UnB, ele é responsável pelo modelo seis do curso de introdução ao direito para profissionais de comunicação da instituição. Quando a denúncia veio à tona, seu nome foi misteriosamente retirado da página do IDP na internet.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Boris Casoy e a revolta dos garis

O âncora Boris Casoy, do alto da sua arrogância, talvez não esperasse tamanha reação a sua frase preconceituosa no Jornal da Band da virada do ano. Na ocasião, vale sempre repisar, um vazamento do áudio permitiu ouvir o seu asqueroso ataque aos garis paulistas. “Que merda. Dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho”. Na sequencia, o apresentador até pediu desculpas – pelo vazamento, mas não pelas idéias elitistas.

Cadê o “independente” Hélio Costa?

Graças à guerrilha informativa na internet, que tanto atormenta os colunistas da mídia “privada”, o vídeo foi assistido por mais de 1,2 milhão de pessoas em apenas oito dias. Nos blogs e sítios progressistas, milhares de internautas registraram sua bronca diante do patético elitista. Alguns, mais irritados, exigiram a sua imediata demissão da TV Bandeirantes; outros, mais sarcásticos, sugeriram que os garis não recolhessem mais os seus detritos ou que Casoy fosse obrigado a varrer as ruas paulistanas como punição; muitos informaram que não assistirão mais o Jornal da Band.

O jornalista Paulo Henrique Amorim, incorporando sugestões de seus leitores do blog Conversa Afiada, fez uma proposta mais prática. Iniciar uma campanha nacional exigindo que o ministro das Comunicações, “o independente” Hélio Costa, e Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o incompetente órgão que deveria regular o setor, cobrem explicações do âncora e da própria emissora sobre o episódio criminoso. “O ministro da Justiça também pode fazer alguma coisa sobre o papel edificante da Band e do Boris Casoy”, acrescentou.

Ações na Justiça e protestos

A reação mais esperada, entretanto, era a dos próprios garis e o Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo (Siemaco) já decidiu entrar com ação civil e criminal contra o jornalista, exigindo sua retratação na Justiça. “O Casoy se esqueceu que limpeza significa saúde pública e, se os nossos ‘lixeiros no alto de suas vassouras’ não cuidassem da cidade, certamente viveríamos no caos. Podemos viver sem notícias, mas não sem limpeza pública”, protesta Moacyr Pereira, presidente do Siemaco.

O sindicato até tentou entregar uma carta de repúdio a Boris Casoy na sede da TV Bandeirantes, mas sequer foi recebido – numa segunda humilhação contra a categoria. A cada dia que passa, a cena deprimente gera maior revolta. A direção da empresa está emparedada, sofrendo desgaste, e não tem mais como fugir do assunto. Reproduzo abaixo duas notas do Siemaco. A primeira com críticas à falta de sensibilidade da TV Bandeirantes; a segunda, de repúdio ao deprimente âncora:

“Garis são humilhados duas vezes”

Não bastasse a frase desrespeitosa: “Que merda... Dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho”, captada pelo áudio aberto no encerramento da saudação de feliz 2010 de garis e varredores, hoje (4/01), ao tentar entregar uma carta a Boris Casoy e à TV Bandeirantes, os diretores do Siemaco foram mais uma vez humilhados.

Uma jornalista que se apresentou como Albertina e se disse chefe de redação não quis, sequer, assinar o protocolo de recebimento. Não autorizou, inclusive, que os diretores do Siemaco entrassem nas dependências da TV Bandeirantes. Atitude que confirma que a desculpa de Boris Casoy não passou de uma formalidade e que prevalece o preconceito e o tratamento desrespeitoso com a categoria, com os seus representantes legais e com os trabalhadores e trabalhadoras da limpeza urbana de São Paulo.

Por isso, publicamos esta “carta aberta à população” em busca de atitudes menos preconceituosas e para insistir na adoção de hábitos democráticos. Os garis e varredores de São Paulo queriam provar para a TV Bandeirantes e para Boris Casoy que não aceitam a classificação desrespeitosa: “O mais baixo na escala do trabalho”. O preconceito e afronta aos mínimos hábitos democráticos se confirmam pelas atitudes da TV Bandeirantes em não receber nossa carta de protesto e pelo tratamento desrespeitoso da jornalista Albertina, subordinada a Boris Casoy.


Carta aberta à população

Fazemos questão de registrar, formalmente, nossa indignação com a frase do apresentador Boris Casoy, da TV Bandeirantes, no dia 31 de dezembro de 2009, quando afirmou: “Que merda... dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho”.

Não aceitamos as desculpas do apresentador, que foram meramente formais ao ser pego ao manifestar o que pensa e que, infelizmente, reforça o preconceito de vários setores da sociedade contra os trabalhadores garis e varredores, responsáveis pela limpeza da nossa Capital.

O esforço que os trabalhadores e trabalhadoras fazem, apesar de enfrentarem atitudes preconceituosas como a expressa por Boris Casoy, muito nos orgulha, pois sabemos que somos parte integrante da preservação da saúde pública de nossa querida São Paulo.

Boris Casoy não cometeu uma “gafe”

O repórter Fábio Pannunzio, que já produziu algumas boas reportagens na TV Bandeirantes, saiu em defesa do âncora da emissora, Boris Casoy, que se desmascarou na virada do ano ao humilhar dois garis que desejaram feliz 2010. Sua frase repugnante – “Que merda. Dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho” – pegou muito mal. Milhares de internautas espalharam o vídeo e espinafraram o preconceituoso.

Em seu sitio, Fábio Pannunzio, que eventualmente substitui o âncora no Jornal da Noite, afirma que considera as reações exageradas. Após esclarecer que “conheço Boris Casoy há apenas dois anos”, ele ainda tenta justificar “a frase infeliz”. Seria apenas uma “gafe”, como tantas outras da televisão. “Outras dezenas de casos correlatos aconteceram sem que seus protagonistas fossem crucificados por seus credos, origem étnica, preferência sexual ou o quer que seja. Por isso, não é justo nem razoável que Boris Casoy continue sendo vítima desse massacrante cyberbullying”.

Direitismo e preconceitos de classe

No texto “Em defesa de Boris Casoy”, Fábio Pannunzio comete vários erros. As pessoas sensatas não “crucificam” o âncora “por seu credo, origem ética ou preferência sexual”. Não se combate preconceitos com preconceitos. Casoy, sim, é que nunca escondeu os seus piores preconceitos, principalmente os de classe. Com suas ironias, risadinhas e trejeitos, ele vive desqualificando os trabalhadores, principalmente os que lutam por seus direitos. Seu ódio aos ativistas do MST que lutam pela reforma agrária é visceral, escancarado; todas as greves são motivo de seu veneno.

A forma ácida como agride o presidente Lula também revela o seu “nojo de classe”. Não há nada de jornalismo, mas sim ranço ideológico. Ele não admite um operário, ex-sindicalista, no Palácio do Planalto. Trata o presidente como um analfabeto, ignorante, bronco. Não é para menos que ele se tornou um expoente da oposição de direita e foi cogitado pelo banqueiro Bornhausen, ex-presidente do PFL, atual Demo, para ingressar com o pedido de impeachment de Lula. Casoy, que prestou assessoria a políticos da ditadura, parece sentir saudades daquele período sombrio.

“O destino acerta suas contas”

O próprio Pannunzio afirma conhecer o apresentador há “apenas dois anos”. Pelas regras do bom jornalismo, ele deveria investigar melhor a longa trajetória de Boris Casoy. Isto ajudaria a entender porque ele humilhou os garis, ataca os grevistas, estigmatiza o MST e ironiza o presidente Lula. Não é verdade que o apresentador cometeu somente uma “gafe”. O vazamento do áudio permitiu ouvir o que ele realmente pensa, desnudou sua concepção elitista e direitista – de viés fascista.

Essa concepção está presente, agredindo os telespectadores da Band, todos os dias. Ela é antiga e somente ficou mais explícita na fase recente, talvez por ódio a um trabalhador no Palácio. Celso Lungaretti, veterano jornalista, conhece bem a trajetória desta figura escrota. Num texto didático, intitulado “O destino acerta suas contas”, ele conta um pouco da sua biografia, que confirma que não houve “gafe”, mas sim puro direitismo e preconceito de classe. Num dos trechos, ele relata:

“Um dos líderes da ala jovem do CCC”

“Casoy é elitista, racista, conservador e reacionário desde muito cedo. Um velho companheiro que com ele cursou Direito no Mackenzie me contou: aos 23 anos, Casoy era um dos líderes da ala jovem do Comando de Caça aos Comunistas, que tinha nessa faculdade um de seus focos principais. Mais: nos idos de 1964, Casoy chegou a ser citado em reportagem da revista Cruzeiro como membro destacado da juventude anticomunista. A quartelada o beneficiou, claro: ele foi homem de imprensa de um ministro do governo Médici e do secretário da Agricultura de São Paulo, Herbert Levy, outra figurinha da direita”. Sobre a sua projeção na imprensa, ele recorda:

“Isto aconteceu quando o comando do II Exército aproveitou uma frase imprudente do cronista Lourenço Diaféria (sobre mendigos urinarem na estátua de Caxias) para intervir na Folha. Os militares exigiram a destituição do diretor de redação Cláudio Abramo (trotskista histórico), o afastamento de profissionais (demitidos ou realocados) e o abrandamento da linha editorial. O proprietário Octávio Frias de Oliveira, que sempre se definiu como comerciante e não jornalista, negociou. Servil, aceitou substituir Abramo por um homem de absoluta confiança do regime militar: Casoy”. Como se observa, a humilhação dos garis não foi apenas uma “frase infeliz”.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Alexandre Garcia, porta-voz de golpistas

Não foi só o âncora Boris Casoy que revelou seus piores instintos na virada do ano. Outro pulha da mídia, o apresentador da TV Globo Alexandre Garcia, também cometeu suas atrocidades no final de 2009. Em artigo publicado em vários jornais, ele defendeu na maior caradura os golpes militares em Honduras e no Brasil. Intitulado “Zelaya e Goulart”, o texto tenta desqualificar a atuação soberana e altiva da diplomacia brasileira na crise deste sofrido país da América Central.

Para o “jornalista”, que mais se parece um porta-voz dos golpistas, a política externa do governo Lula seria equivoca. “O Brasil insiste em ficar na contramão, considerando Zelaya presidente de Honduras. Insiste em dizer que houve um golpe”. Na sua visão direitista, que serve para justiçar atentados à democracia e mesmo torturas, assassinatos e censura, não houve um golpe, mas um “contragolpe”. E ele ainda tenta justificar seu raciocínio tacanho, de viés fascista.

O fantasma da “revolução socialista”

Veja sua risível teoria conspirativa: “Ontem me caiu à ficha sobre que razões teriam levado o governo brasileiro a tão teimosa posição. E acho que as encontrei na História recente do Brasil. O presidente João Goulart, tal como Zelaya, estava influenciado por lideranças externas da esquerda revolucionária. Jango se deixava influenciar por Fidel Castro – que chegou a mandar milhões de dólares para a ‘revolução socialista’ brasileira... O mentor de Zelaya é o tenente-coronel pára-quedista Hugo Chávez, que quer implantar a ‘revolução bolivariana’ na América Latina”.

“Tal como Goulart, Zelaya promoveu movimentos populistas visando a permanecer no poder, a cancelar eleições e a fechar o Congresso. No Brasil, o povo saiu às ruas e os jornais publicaram editoriais de primeira página, exigindo um basta no governo Jango; exigindo corte na revolução socialista e populista que estava em marcha. Aqui, os militares deram o ‘coup-de-grâce’; em Honduras, o presidente golpista foi apeado do poder pelo Judiciário e pelo Legislativo... Lá como cá houve, na verdade, um contragolpe”.

As mentiras do serviçal da TV Globo

Apostando na desinformação, Alexandre Garcia, que envergonha a profissão de jornalista, ainda diz que o governo Lula converteu “a embaixada em palácio presidencial de mentirinha, de conto de fadas, em que só os governos do Brasil e dos bolivarianos acreditam”. Puro engodo, quando se sabe que a maioria das nações condenou os golpistas e sua eleição fraudulenta. O serviçal da TV Globo confirma que a mídia hegemônica aposta em golpes – seja em Honduras ou no Brasil!

Alexandre Garcia não esquece suas origens fascistas. Ele foi subsecretário de imprensa e porta-voz do general João Batista Figueiredo nos estertores da ditadura militar. Na época, ele já era metido a playboyzinho de luxo e foi exonerado após posar seminu numa revista masculina. Os generais não toleram suas aberrações. Imagine se ele fosse exonerado pelas besteiras que diz na TV Globo e em outros cantos. Não iria sobrar emprego para o porta-voz rastaqüera dos golpistas.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Boris Casoy será escrachado no CQC?

Alguns leitores do excelente blog Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, têm sugerido aos produtores do CQC, exibido pela TV Bandeirantes, que façam um programa para espinafrar o âncora Boris Casoy. Afinal, a sua frase humilhando os garis – “Que merda... Dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras. Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho” – ficou célebre. Mais de 1 milhão de pessoas já assistiram ao vídeo do vazamento do Jornal da Band no Youtube.

Muitos deles, porém, mostram-se incrédulos quanto ao CQC. E não é para menos. A mídia não fala da mídia. A sua independência é de fachada. Ela gosta mesmo é de escrachar os outros, de preferência os políticos, por motivos mercadológicos, de audiência, e por interesses de classe. Ela vive do chamado “escândalo político midiático”, como teorizou o sociólogo John Thompson. Ela aposta na negação da política, da ação coletiva, como a melhor forma para preservar o poder econômico e político das elites. Essa negação sempre serviu à direita, que o diga Adolf Hitler.

Marcelo Tas e a juventude demo

No caso do CQC, o ceticismo é ainda mais justificado. O programa “Custe o Que Custar” é cópia de uma experiência internacional, que teve início na Argentina, em 1995, e faz sucesso em vários países. Seu truque é ser invasivo e agressivo, escrachando a vida das chamadas “personalidades”. No Brasil, o CQC é dirigido por Marcelo Tas, que posa de “anarquista” e irreverente. Mas estas marcas também são de fachada, por razões puramente mercadológicas. Em novembro passado, Tas foi o convidado especial do segundo encontro da juventude do DEM, em Blumenau (SC).

Até o colunista Lauro Jardim, da revista Veja, registrou a cena ridícula: “Você já ouviu falar da juventude do DEM. Nem eu. Mas o partido crê firmemente que ela existe e quer motivá-la. Como? Está preparando um megaevento para a juventude do partido no feriado de... finados. Com o objetivo de reunir mais de 800 militantes, o partido, que está perdendo parlamentares ano após ano, convidou o âncora do CQC, Marcelo Tas, o cientista político Antonio Lavareda [ligado ao PSDB] e até um líder estudantil anti-chavista da Venezuela”.

Reacionarismo preconceituoso

O blogueiro Rodrigo Vianna também ironizou a participação: “O Marcelo Tas (aquele do CQC – programa de humor) estará lá. Vai animar a festinha em Blumenau. E isso não é piada, está no site do partido. O Tas virou palestrante demo. Ótimo programa pro Dia dos Mortos”. Diante das críticas, o sempre invasivo “anarquista” perdeu seu rebolado e partiu para a baixaria tipicamente direitista. Após relatar que dá muitas palestras – para os banqueiros da Febraban, Editora Abril, TV Globo, Telefônica, entre outras –, sempre regiamente pagas, Tas esculhambou os críticos:

Para ele, sua presença entre os demos “despertou do sono algumas bactérias que se alimentam de teorias da conspiração. Espalham por ai que eu estaria me candidatando ou apoiando candidatos do DEM, que eu teria me ‘vendido’ ao demônio, que eu seria nazista e até que eu pintaria meus cabelos de acaju para ficar parecido com o nobre senador José Agripino”. Após tecer elogios ao decrépito agrupamento da oligarquia – “sem falsa modéstia: o partido está investindo muito bem esse dinheiro para me ouvir” -, ele revela seu reacionarismo preconceituoso: “Aos esquerdóides babões que ficaram com ciuminho do DEM, sugiram ai aos ‘cumpanhero’ a minha palestra”.

Pauta para os “homens de preto”

Como se observa, o “palestrante demo” não é assim tão independente, critico e “livre”. Metido a engraçadinho, ele até parece bem ranzinza e mal-humorado, avesso às críticas e às ironias. Seria, de fato, muito engraçado um CQC sobre as intimidades e cacoetes de Boris Casoy, que o levasse para participar de uma assembléia de garis, que sugerisse que ele limpasse algumas ruas de São Paulo, que promovesse um reencontro com o banqueiro-amigo Jorge Bornhausen, também do DEM, para comentar a idéia golpista da abertura do processo de impeachment contra Lula. Mas os leitores do blog “Conversa Afiada” que duvidam desta possibilidade parecem ter toda razão.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Boris Casoy despreza garis e Lula

O preconceito de classe do “jornalista” Boris Casoy não se manifestou apenas contra os garis, que foram humilhados no Jornal da Band na virada do ano. Na ocasião, um vazamento de áudio permitiu ouvir a sua frase elitista: “Que merda. Dois lixeiros desejando felicidades... do alto das suas vassouras... Dois lixeiros. O mais baixo da escala do trabalho”. Na seqüencia, ele até pediu desculpas, com cara de sonso, pelo “vazamento”, mas não por suas idéias discriminatórias.

Direitista convicto, acusado de ter integrado o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) durante os anos de chumbo da ditadura militar, Boris Casoy sempre teve “nojo de povo” – como o ex-presidente João Batista Figueiredo. Ele sempre atacou os trabalhadores e suas lutas por direitos. Esse ódio de classe ficou ainda mais explícito na gestão do presidente Lula – não por seus erros e limitações, mas sim por seus méritos, como as políticas de inclusão social. Para este capacho das elites, era totalmente inadmissível um operário, ex-sindicalista, ocupar o Palácio do Planalto.

Serviçal dos demos no impeachment

Durante o chamado “escândalo do mensalão”, o banqueiro Jorge Bornhausen, presidente do ex-PFL, atual demo, chegou a cogitar que Boris Casoy liderasse o pedido de impeachment de Lula. A coluna “Painel” da Folha de S.Paulo registrou a tramóia em 9 de abril de 2006: “A oposição já busca na sociedade civil um nome para encabeçar o pedido de impeachment de Lula, assim como Barbosa Lima Sobrinho fez com Fernando Collor... Miguel Reale Jr., ex-ministro da Justiça de FHC, e o jornalista Boris Casoy estão cotados para subscrever a peça [do impeachment]”.

Dias antes, em 28 de março, no mesmo veículo golpista, Casoy já havia pregando a derrubada de Lula. O artigo parece ter sido encomendado por políticos mais sujos do que pau de galinheiro, como Bornhausen, o falecido ACM e o governador Arruda. Intitulado “É uma vergonha”, ele era raivoso e mentiroso: “Jamais o Brasil assistiu a tamanho descalabro de um governo... Há, desde o tempo do Brasil colônia, um sem número de episódios graves de corrupção e incompetência. Mas o nível alcançado pelo governo Lula é insuperável... Todos os limites foram ultrapassados; não há como o Congresso postergar um processo de impeachment contra Lula”.

Lula não caiu; e Casoy?

Metido a mentor da oposição de direita, Casoy ainda tentou pautar os políticos, exigindo pressa na ação golpista. “O argumento para não afastar Lula, de que sua gestão vive os últimos meses, é um auto-engano”. Serviçal dos barões da mídia, ele também explica uma das razões do seu ódio. “Lula passará à história como alguém que procurou amordaçar a imprensa”. E insistia: “Neste momento grave, o Congresso não pode abdicar de suas responsabilidades, sob o perigo de passar à história como cúmplice do comprometimento irreversível do futuro do país. As determinantes legais invocadas para o processo de impeachment encontram, todas elas, respaldo nos fatos”.

A escalada golpista não obteve sucesso. Lula foi reeleito e hoje goza de popularidade recorde. Já o “jornalista” Boris Casoy, que gritou pelo impeachment, corre o risco de ser defenestrado. Alguns setores da sociedade já exigem o “impeachment” do âncora do Jornal da Band! Outros propõem, com base nos artigos da Constituição que condenam qualquer tipo de discriminação, que ele seja obrigado a prestar serviços comunitários, varrendo ruas, como forma de se redimir pela agressão aos garis. O seu preconceito de classe não diminuiria. Mas, ao menos, seria muito divertido!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Vitórias da Confecom e próximos passos

Até os mais pessimistas ficaram surpresos com os resultados positivos da Conferência Nacional de Comunicação, ocorrida em Brasília de 14 a 17 de dezembro. Com garra, firmeza de princípios e extrema habilidade, os setores sociais que há muito lutam contra a ditadura midiática instalada no país emplacaram inúmeras vitórias. O processo em si já tinha sido surpreendente, envolvendo quase 30 mil pessoas em suas etapas preparatórias – a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) estima em cerca de 60 mil participantes –, num esforço pedagógico sem precedentes na história.

Mas a Confecom foi além do saldo político. Logo na abertura, ela ainda correu risco de implodir, em função de mais uma chantagem da bancada empresarial vinculada à Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra) – que reúne a TV Bandeirantes e a RedeTV!. Mas, em um novo gesto de flexibilidade para garantir a participação democrática deste setor e dar legitimidade ao evento, os obstáculos foram removidos e os debates de conteúdo contagiaram os 1.684 delegados dos três segmentos – 20% dos poderes públicos, 40% dos movimentos sociais e 40% dos empresários.

672 propostas aprovadas

Após quatro dias de acalorados embates, a 1ª Confecom aprovou 672 propostas – 601 nos grupos de trabalho e 71 mais polêmicas na plenária final. No seu conjunto, elas são bastante avançadas e sinalizam para importantes mudanças nos meios de comunicação do país. Elas servirão de baliza para iniciativas do Executivo e para projetos do Legislativo. No seu programa semanal de rádio, o presidente Lula se comprometeu em transformar várias propostas em projetos de lei. “Vamos trabalhar no Congresso Nacional para que a gente tenha o marco regulatório condizente com as necessidades de democratizar, cada vez mais, os meios de comunicação no Brasil”, prometeu.

Uma das propostas mais marcantes da Confecom é a que indica a criação do Conselho Nacional de Comunicação Social, vinculado ao Poder Executivo e composto de forma tripartite. Ele teria a finalidade de contribuir na regulamentação e regulação do setor e contaria, pela primeira vez na história do país, com a participação de representantes dos movimentos sociais. O governo Lula já sinalizou que deverá instituir o órgão ainda em 2010. Também foi aprovada a idéia do Conselho Federal de Jornalismo para disciplinar o exercício da profissão e barrar a sua desregulamentação. Uma nova lei de imprensa, que elimine a atual libertinagem no setor, passou quase por consenso.

Avanços das rádios comunitárias

Outro avanço histórico se deu com a assinatura de uma “carta de intenções” entre representantes do governo e a Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço), que sinaliza para o fim da odiosa criminalização do setor. Entre outros pontos, ela indica “a criação da subsecretaria de radiodifusão comunitária”, “agilização na tramitação dos processos” de outorga, “revogação da legislação que considera crime a operação de emissoras sem autorização”, “aumento do número de canais destinados às emissoras comunitárias” e “destinação de publicidade institucional”.

A Confecom ainda aprovou a criação de um programa nacional de banda larga, visando enfrentar a “exclusão digital”; a destinação de recursos da publicidade oficial para veículos “comunitários e alternativos”; maior rigor nas outorgas e concessões para redes privadas de rádio e TV; redução do capital estrangeiro nos meios de comunicação de 30% para 10%; proibição do controle por determinado grupo de mais de 25% da grade de programação em qualquer plataforma; criação de um “observatório de mídia e direitos humanos”, entre outras dezenas de propostas avançadas.

A gritaria dos barões da mídia

O caráter progressista da Confecom é evidente. Tanto que ela gerou violenta gritaria dos barões da mídia que se acovardaram e não participaram da conferência, revelando toda a hipocrisia do seu discurso em defesa da “liberdade de expressão e da democracia”. A prepotente Associação Brasileira de Emissoras de Rádio de Televisão (Abert), teleguiada pela TV Globo, considerou o resultado da conferência “preocupante”, “um retrocesso”. Até o Jornal Nacional foi acionado pela família Marinho para questionar a legitimidade do evento e para atacar suas resoluções.

No mesmo rumo, a decrépita Associação Nacional dos Jornais (ANJ), que reúne Folha, Estadão, O Globo e outros jornalões oligárquicos, também esperneou. Em editorial, o Estadão rotulou as propostas de “ideologicamente enviesadas que, se transformadas em lei, restringiriam a liberdade de informação e criariam obstáculos à ação da iniciativa privada no setor, a pretexto de promover o ‘controle público, social e popular’ das atividades jornalísticas”. Para o rancoroso Estadão, “as ominosas propostas aprovadas pela 1ª Confecom... expressam a vontade de grupelhos políticos, corporações profissionais e máquinas sindicais azeitadas à custa de dinheiro público”.

Organicidade e pressão social

A reação hidrófoba das máfias empresariais que sabotaram o evento comprova que a pressão será brutal para impedir que suas resoluções sejam aplicadas. Em tom de ameaça, típica de um jornal golpista que não tem compromisso com a democracia, o Estadão chega a sugerir que o presidente Lula “jogue na lata de lixo” as propostas aprovadas. Como argumenta Bia Barbosa, integrante do Coletivo Intervozes, a 1ª Confecom representou importante vitória dos movimentos sociais, mas de uma luta que promete ser dura e prolongada. Venceu-se uma batalha, mas não a guerra!

Será necessário reforçar a organicidade da militância que luta contra a ditadura midiática e elevar a pressão social para garantir que as propostas democraticamente aprovadas sejam, de fato e com o tempo, aplicadas – e não virem letra morta. As comissões pró-conferência criadas em todos os estados da federação demonstraram capacidade para aglutinar vários setores sociais, tornando-se um espaço de unidade na diversidade e garantindo amplitude ao movimento pela democratização da comunicação. O ideal é que elas sejam mantidas e tenham uma agenda permanente de ação.

Pautar a sucessão presidencial

Outras articulações que floresceram neste rico processo da Confecom– como a dos blogueiros e a dos “empresários progressistas” da imprensa alternativa – também podem e devem ganhar maior organicidade, somando-se aos movimentos já existentes, como o das rádios comunitários, Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Fórum de Mídia Livre e tantos outros. O fortalecimento destas organizações, respeitando-se a pluralidade de seus atores, será decisivo para garantir a aplicação das propostas aprovadas – inclusive a convocação da 2ª Confecom.

Este movimento unitário terá papel fundamental na nova realidade criada com a conferência de Brasília. Muitas propostas aprovadas não dependem de votações no Legislativo, o que seria uma temeridade num ano eleitoral. O governo Lula pode, de imediato, instituir o Conselho Nacional de Comunicação ou adotar medidas para descriminalizar as rádios comunitárias. Além disso, a batalha da sucessão presidencial permite que o tema estratégico da democratização dos meios de comunicação seja pautado para todos os candidatos. Ou seja: há muito que fazer no próximo período! Organicidade e pressão social são as palavras-chaves para a nova fase que se abre.