terça-feira, 9 de março de 2010

Veja, Bancoop e panfletagem contra Dilma

A famíglia Civita saiu excitada do evento do Instituto Millenium, que unificou a pauta da direita midiática para a sucessão presidencial. Na mesma semana do convescote, a Veja deu a manchete garrafal: “Caiu a casa do tesoureiro do PT”. Numa típica panfletagem, também espalhou cartazes enormes nas bancas anunciando sua “descoberta”. Prova cabal de manipulação, a revista não deu capa para o “mensalão do DEM”, mas para atingir a candidatura Dilma Rousseff ela promoverá “um extermínio midiático”, como antecipou o novo presidente do PT, José Eduardo Dutra.

A reportagem parece uma peça acusatória de advogados fuleiros. Desrespeitando a Constituição, que prevê a “presunção de inocência”, a revista volta incorrer no crime da “presunção de culpa”. João Vaccari Neto, ex-dirigente da CUT, ex-diretor da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) e atual secretário de finanças do PT, é covardemente atacado, mas sequer foi ouvido. Sua foto na capa parece a de um criminoso. Na prática, a matéria não apresenta provas e apenas requenta velhas denúncias, que pipocam na mídia desde 2005 e já foram parar até no Wikipédia.

Jornalismo antiético e eleitoreiro

João Vaccari reagiu de imediato às agressões. Em nota, ele esclareceu: “1- Presidi a Bancoop de 2005 até a semana passada, quando me desliguei para assumir as minhas funções de secretário de Finanças e Planejamento do PT; 2- Nunca houve nenhum tipo de acusação contra mim e não respondo a nenhum processo, civil ou criminal; 3- Em relação à investigação da Bancoop, sempre nos colocamos à disposição das autoridades, agindo com total transparência; 4- Repudio o tipo de jornalismo antiético praticado por Veja, que diz ter passado seis meses ‘investigando’ o caso e em nenhum momento procurou ouvir a mim ou a Bancoop”.

A atual direção da cooperativa também divulgou nota. “A Bancoop não foi ouvida em momento algum pelos jornalistas responsáveis pela matéria da revista Veja, em clara violação ao princípio elementar da ética jornalística; a matéria tem nítida finalidade política, já que ela não agrega nenhuma novidade às acusações efetuadas no passado e devidamente rebatidas pela Bancoop”. A nota presta esclarecimentos sobre os processos movidos contra a cooperativa, que até hoje não resultaram em medidas judiciais, e relata os empreendimentos imobiliários da cooperativa.

O promotor Blat sob suspeita

As explicações do novo secretário de finanças do PT e da diretoria da Bancoop não mereceram espaço na revista. A Veja preferiu dar ouvidos ao sinistro promotor José Carlos Blat, que afirma de forma leviana: “A Bancoop é hoje uma organização criminosa cuja função principal é captar recursos para o caixa dois do PT e que ajudou a financiar a campanha de Lula à Presidência em 2002”. Na busca de holofotes, ele não comprova o que afirma e exacerba nas suas funções legais.

Para desgastar Dilma Rousseff, a revista até arquivou antigas denúncias contra o promotor. Blat respondeu a processo no Ministério Público, acusado de tentar se livrar de multas do Detran e de proteger corruptos do Grupo de Ação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). Em 2004, ele inclusive foi afastado de suas funções no Gaeco. Na ocasião, a própria Corregedoria do Ministério Público afirmou ter encontrado vários indícios de crimes graves contra Blat.

Pretensões políticas e jogo sujo

A principal fonte da Veja foi acusada de proteger o contrabandista chinês Law Kin Chong. Em 2002, quando atuou na força-tarefa antipirataria, ele teria focado as investigações nos pequenos contrabandistas, livrando o chefe da máfia. Uma advogada do contrabandista visitava Blat periodicamente no Gaeco. A Corregedoria descobriu ainda que Blat morou num apartamento de Alfredo Parisi, que já foi condenado por bancar o jogo do bicho. Antes de se tornar promotor, ele foi sócio do filho de Ivo Noal, outro banqueiro do bicho, numa loja de conveniência.

Sobre Blat ainda pesam as seguintes suspeitas: usar veículos e pessoal do Gaeco para interesses pessoais; negociar com um delegado a liberação de seu pai, que teria sido preso em flagrante por armazenar bens roubados; abuso de autoridade, truculência e suspeita de enriquecimento ilícito. Os bens do promotor também entraram na mira da Corregedoria. Segundo os depoimentos, Blat comprou numa só tacada dois carros importados e blindados. A Justiça de São Paulo arquivou várias destas denúncias, mas as suspeitas ainda recaem sobre o “inimigo público do PT”.

Como se nota, o promotor é uma figura muito estranha. Numa recente entrevista à revista Veja, ele revelou seus próximos passos, que confirmam suas aspirações políticas. “Eu me desiludi com o Ministério Público. Estou pensando em me candidatar a deputado”. Apesar das suspeitas que pesam sobre Blat, a revista deu destaque às suas insinuações contra o secretário do PT, mas sem ouvir o acusado. Pura covardia! A manipulação faz parte do jogo sujo para a batalha sucessória.

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segunda-feira, 8 de março de 2010

Lula critica golpistas do jornal O Globo



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Rede de apoio à reforma agrária

Nesta quinta-feira, 11 de março, às 19 horas, no sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (Rua Rego Freitas, 530, sobreloja, próximo ao Metrô República), ocorrerá importante reunião para montar uma “rede de comunicadores populares em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais”. João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST, e o jornalista Paulo Henrique Amorim farão as exposições de abertura.

O objetivo do evento é definir as formas de atuação para se contrapor à violenta ofensiva dos ruralistas e da sua mídia. Participe! Reproduzo abaixo o manifesto que convoca a reunião, intitulado “denuncie a ofensiva dos setores conservadores contra a reforma agrária”:



Está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária, e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para compreender o que está em jogo.

Uma campanha orquestrada foi iniciada por setores da chamada “grande imprensa brasileira” – associados a interesses de latifundiários, grileiros - e parcelas do Poder Judiciário. E chegou rapidamente ao Congresso Nacional, onde uma CPMI foi aberta com o objetivo de constranger aqueles que lutam pela reforma agrária.

A imagem de um trator a derrubar laranjais no interior paulista, numa fazenda grilada, roubada da União, correu o país no fim do ano passado, numa ofensiva organizada. Agricultores miseráveis foram presos, humilhados. Seriam os responsáveis pelo "grave atentado". A polícia trabalhou rápido, produzindo um espetáculo que foi parar nas telas da TV e nas páginas dos jornais. O recado parece ser: quem defende reforma agrária é "bandido", é "marginal". Exemplo claro de “criminalização” dos movimentos sociais.

Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.

Trata-se de grave distorção.

Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.

No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido...

A violência no campo tem um nome: latifúndio. Mas isso você dificilmente vai ver na TV. A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em números: mais de 1500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos. Detalhe: levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes (normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes.

Uma coisa é certa: a reforma agrária interessa ao Brasil. Interessa a todo o povo brasileiro, aos movimentos sociais do campo, aos trabalhadores rurais e ao MST. A reforma agrária interessa também aos que se envergonham com os acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras: ali, vive gente expulsa da terra, sem um canto para plantar - nesse país imenso e rico, mas ainda dominado pelo latifúndio.

A reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se explica – em parte – pelo deslocamento desorganizado de populações que são expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias das grandes cidades.

Por isso, repetimos: independente de concordarmos ou não com determinadas ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma agrária.

Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo.

Se você pensa assim, compareça ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, no próximo dia 11 de março, e venha refletir com a gente:

- por que tanto ódio contra quem pede, simplesmente, que a terra seja dividida?

- como reagir a essa campanha infame no Congresso e na mídia?

- como travar a batalha da comunicação, para defender a reforma agrária no Brasil?

É o convite que fazemos a você.

Assinam:

- Alcimir do Carmo.

- Altamiro Borges.

- Ana Facundes.

- André de Oliveira.

- André Freire.

- Antonio Biondi.

- Antonio Martins.

- Bia Barbosa.

- Breno Altman.

- Conceição Lemes.

- Cristina Charão.

- Cristovão Feil.

- Danilo Cerqueira César.

- Dênis de Moraes.

- Emiliano José.

- Emir Sader.

- Flávio Aguiar.

- Gilberto Maringoni.

- Giuseppe Cocco.

- Hamilton Octavio de Souza.

- Henrique Cortez.

- Igor Fuser.

- Jerry Alexandre de Oliveira.

- Joaquim Palhares.

- João Brant.

- João Franzin.

- Jonas Valente.

- Jorge Pereira Filho.

- José Arbex Jr.

- José Augusto Camargo.

- José Carlos Torves.

- José Reinaldo de Carvalho.

- Ladislau Dowbor.

- Laurindo Lalo Leal Filho.

- Leonardo Sakamoto.

- Lilian Parise.

- Lúcia Rodrigues.

- Luiz Carlos Azenha.

- Márcia Nestardo.

- Marcia Quintanilha.

- Maria Luisa Franco Busse.

- Mario Augusto Jacobskind.

- Miriyám Hess.

- Nilza Iraci.

- Otávio Nagoya.

- Paulo Lima.

- Paulo Zocchi.

- Pedro Pomar.

- Rachel Moreno.

- Raul Pont.

- Renata Mielli.

- Renato Rovai.

- Rita Casaro.

- Rita Freire.

- Rodrigo Savazoni.

- Rodrigo Vianna.

- Rose Nogueira.

- Rubens Corvetto.

- Sandra Mariano.

- Sérgio Caldieri.

- Sérgio Gomes.

- Sérgio Murilo de Andrade.

- Soraya Misleh.

- Tatiana Merlino.

- Terezinha Vicente.

- Vânia Alves.

- Venício A. de Lima.

- Verena Glass.

- Vito Giannotti.

- Wagner Nabuco.


Importante: A proposta é que a rede de comunicadores em apoio à reforma agrária tenha caráter nacional. Esse evento de São Paulo é apenas o início deste processo. Promova lançamentos também em seu estado, participe e convide outros comunicadores para aderirem à rede.

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O 8 de Março e a mídia “devassa”

A convocatória do protesto paulista do Dia Internacional da Mulher deu ênfase ao papel deletério dos meios privados de comunicação. Num dos trechos, o texto critica o “oligopólio da mídia, que colabora na criminalização dos movimentos sociais... Os grandes jornais e os programas de TV omitem as ações dos que lutam para melhorar as condições de vida da população pobre, omitem a participação das mulheres, jovens e negros, as suas formas de ver a vida e a política, ao mesmo tempo em que fazem a propaganda dos valores capitalistas e dos políticos que os defendem”.

A manipulação midiática é bastante sentida pelos movimentos feministas. Tanto que as mulheres se destacaram na preparação da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), elegendo o maior número de delegadas e liderando os debates nos estados. Elas sentem na carne e na alma o papel regressivo da mídia privada, que estigmatiza as mulheres, tratando-as como mercadorias. Nas vésperas da comemoração do Dia Internacional da Mulher, um anúncio publicitário da indústria de cerveja Schincariol confirmou esta visão distorcida. Coincidência ou provocação?

A mulher como mercadoria

Para divulgar seu novo produto, a cerveja “Devassa”, a empresa contratou a modelo Paris Hilton, socialite decadente, que recebeu US$ 800 mil para gravar uma peça de 60 segundos num estúdio de Los Angeles. A Schincariol investiu cerca de R$ 100 milhões no lançamento da mercadoria. A modelo virou, inclusive, a atração principal do camarote da empresa nos desfiles das escolas de samba na Sapucaí, numa estratégia ousada para dar visibilidade ao produto. Em poucos dias, a nova marca já deu lucros de R$ 10 milhões para a empresa, explorando a imagem da mulher.

O anúncio é um desrespeito às mulheres, que são exibidas como devassas. Pai de três meninas, o blogueiro Eduardo Guimarães se indignou. “Particularmente, sou contra o moralismo... Contudo, é escandalosamente claro que a propaganda da Schincariol é inaceitável”. Ele também criticou a mídia, que utilizou o episódio da proibição do anúncio para atacar o governo Lula. “Essa gritaria midiática contra uma medida correta de proteção à imagem da mulher e contrária ao estímulo de comportamentos degradantes como a devassidão pode até ser prestação de serviço à cervejaria que fez a propaganda... Convenhamos: se existe alguma devassa nessa história é essa mídia”.

A gritaria dos mercenários da mídia

O próprio Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária (Conar), sempre tão submisso aos abusos da mídia, considerou a propaganda abusiva. A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres também condenou o anúncio, criticando seu “conteúdo sexista e desrespeito à mulher”. Diante das ásperas críticas, o Conar vetou a publicidade. De imediato, os barões da mídia e seus colunistas de aluguel vieram à tona para denunciar a “censura”. O jornal O Estado de S.Paulo divulgou texto irônico, intitulado “Tempestade em lata de cerveja”, para desqualificar a decisão.

Para os barões da mídia, preocupados unicamente com seus lucros em publicidade, a proibição do anúncio da “Devassa” é um ato autoritário e anti-mercado. “A publicidade sempre trabalhou e continuará trabalhando com símbolos e estereótipos”, justifica o articulista do Estadão. Para os donos da mídia, a mulher é objeto vendável, uma mercadoria lucrativa, e assim deve continuar a ser exibida nas emissoras de televisão, nos jornalões e revistas. Para eles, a comemoração do Dia Internacional da Mulher deve ser um entrave aos seus lucrativos negócios. Viva o 8 de Março!

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8 de Março e as empregadas domésticas



Neste 8 de março, milhares de protestos ocorrem no planeta para comemorar o centenário do Dia Internacional da Mulher. Apesar das controvérsias históricas, a instituição desta homenagem foi aprovada na 2ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em agosto de 1910, proposta pelas comunistas Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo e Alessandra Kollontai. A partir de então, ela passou a ser celebrada em datas distintas em cada país. A greve das tecelãs de São Petersburgo, em 8 de março de 1917, no clima da revolução russa, acabou unificando a data da homenagem.

Neste ano, as manifestações reafirmarão as bandeiras históricas do movimento feminista, contra a exploração de classe e a opressão de gênero. Também denunciarão as guerras imperialistas. No Brasil, os protestos serão focados na defesa no Plano Nacional de Direitos Humanos, que previa o direito ao aborto e foi alvo de brutal campanha das forças direitistas. Também será denunciada a violência contra as mulheres. Apesar dos avanços da Lei Maria da Penha, nove mulheres foram assassinadas no ano passado após registrarem ameaças de violência sexual e doméstica.

Pela valorização do trabalho da mulher

Como afirma a convocatória do protesto unitário de São Paulo, “voltamos a ocupar as ruas para comemorar o já conquistado, mas também para mostrar que a luta por autonomia, igualdade e direitos segue atual... Bandeiras históricas, como a socialização do trabalho doméstico, salário igual para trabalho igual, combate à violência, creches para todas as crianças e direito ao aborto, continuam na ordem do dia do nosso movimento. Seguimos batalhando para mostrar, a cada 8 de março, o quanto nossa sociedade ainda precisa avançar em relação aos direitos das mulheres”.

Um dos eixos do protesto será a luta pela valorização do trabalho. “Ainda hoje é desconsiderado economicamente o trabalho na esfera privada, que ocorre nos lares. Em média, a mulher trabalha 16 horas por dia; a maior parte não remunerada, outra parte, sub-remunerada. Mesmo com maior escolaridade, ela recebe em média 71% do salário masculino... Na crise econômica, as mulheres foram as mais atingidas, pois estão inseridas da forma mais precária no mercado de trabalho, predominando em profissões como empregadas domesticas e operadoras de telemarketing”.

Jornada semanal de 59 horas

Recente pesquisa do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicas (Dieese) reforça este eixo central da luta das mulheres. Ele aponta que a jornada de trabalho das empregadas domésticas com carteira assinada atingiu até 54 horas semanais em 2009. Para as trabalhadoras informais, a jornada semanal média chega a 59 horas. O estudo também aponta que o serviço doméstico é a atividade com pior remuneração no país. A empregada doméstica recebe, em média, metade do valor pago às trabalhadoras do setor de serviços.

Segundo Patrícia Costa, economista do Dieese, houve tímido avanço neste setor nos últimos sete anos. O trabalho se formalizou, o que tem ajudado a melhorar as condições da profissão. A maior escolaridade e a abertura de vagas no comércio e serviços também fizeram com que o emprego doméstico deixasse de ser a porta de entrada no mundo do trabalho para as mulheres jovens. De acordo com a pesquisa, mais de 77% das mulheres que exercem a atividade têm de 25 a 49 anos.

Mesmo assim, a situação das empregadas domésticas continua sendo uma das mais degradantes, o que reafirma a importância dos combativos protestos em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Na luta contra a exploração de classe e a opressão de gênero reside a força e atualidade do movimento feminista. Como já ensinou Karl Marx, “a libertação da mulher é a condição para a libertação de toda a humanidade”. Viva o 8 de Março!

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domingo, 7 de março de 2010

Finalmente uma novidade no ar

Reproduzo artigo do professor Laurindo Lalo Leal Filho, publicado na Agência Carta Maior:


Há um ar de tragédia nas tardes de domingo no Brasil. Milhões de pessoas, sem nada mais o que fazer, são condenadas a ficar diante da TV sofrendo um massacre ideológico que dura décadas. Programas de auditório aparentemente ingênuos destilam uma carga poderosa de valores que vão moldando a sociedade. As peças de resistências são sempre as mesmas: individualismo através de disputas por prêmios, violência com a espetacularização de tragédias, apelo fácil ao sexo nas pobres letras musicais e exaltação daqueles que se tornaram celebridades graças à própria TV, fechando um círculo de ferro do qual não há saída.

No penúltimo domingo de janeiro o Domingão do Faustão gastou longos minutos com a entrevista de um astro do Vale Tudo, entremeada de cenas do suposto esporte. Assim como os participantes do Big Brother já foram chamados pelo apresentador de “heróis”, esse "AZ" da violência recebia tratamento semelhante. E assim vão se formando os padrões de sucesso em nossa sociedade.

À violência seguiu-se o sexo, encarnado por um paupérrimo conjunto musical. Cantavam uma letra referindo-se, sem qualquer refinamento, a possibilidade de atos sexuais perpetrados por seres ainda distantes da civilização. Completava-se mais uma vez a forma infalível de busca pela audiência: sexo e violência. Ou sobre a perpetuação da espécie e o medo de sua extinção. Algo que qualquer ser humano entende pelos sentidos, não necessitando maiores reflexões. E, com isso, a audiência do domingo está ganha e dominada.

Mas de vez em quando surge, ainda que muito raramente, alguma surpresa na TV brasileira. Em janeiro, entre os muitos programas em férias, estava o CQC, fórmula argentina trazida para o Brasil onde se especializou em ridicularizar parlamentares e contribuir para o descrédito da atividade política. Para substituí-lo temporariamente a Bandeirantes trouxe um conjunto de atores-humoristas inteligentes que já faziam sucesso em alguns teatros de São Paulo e colocou no ar o programa "É tudo improviso". Foi como se uma onda de ar puro sacudisse a empoeirada TV comercial brasileira.

A base do programa é o improviso, arte que pude constatar ao vivo num teatro da Vila Madalena em São Paulo. Lá o pequeno grupo de atores solicitava temas à platéia e a partir deles desenvolvia quase duas horas de espetáculo, chamado Caleidoscópio, sem deixar cair a peteca. Na TV o princípio é o mesmo, mas o programa é gravado e editado para não fugir ao ritmo do veículo adotado no Brasil e aos inefáveis intervalos comerciais.

Vale a pena saber quem são esses improvisadores. A condução do programa é de Márcio Ballas, com as presenças de atores e atrizes dos grupos Os Barbixas (Anderson Bizzocchi, Daniel Nascimento e Elidio Sanna), As Olívias (Cristiane Werson e Marianna Armellini) e Jogando no Quintal (Marco Gonçalves), este último fundado pelo próprio Ballas e dono de longas temporadas de sucesso no TUCA, em São Paulo. A direção de Tadeu Jungle deixa o espetáculo correr solto, com a platéia sempre em cena.

Fazer humor sem apelações baratas não é fácil. Por isso essa troupe merece ser saudada e estimulada. Como fez, com precisão, no Correio Braziliense o jornalista Mauro Trindade: “A despeito de qualquer problema de adaptação para a nova mídia, ‘É tudo improviso’ renova-se a cada quadro e não se repete nos bordões que marcam os humorísticos tradicionais da tevê. É um humor ingênuo, simpático e que não apela para os manjados personagens gays, maridos traídos ou para palavrões. Escorregar numa casca de banana é coisa para grandes mestres”.

Além do humor inteligente, o grupo já demonstrou competência para conduzir com sucesso um grande auditório. Talvez esteja aí a saída tão ansiada do beco para o qual foi empurrado o telespectador do domingo brasileiro. Tenho certeza de que soltos e ao vivo esses atores-humoristas segurariam com categoria uma tarde inteira de programa (de preferência numa TV pública, sem comerciais) e, com isso, ajudariam a elevar um pouco o grau de salubridade mental de nossa sociedade, ainda movida fundamentalmente pela televisão.

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O rosnar golpista do Instituto Millenium

Reproduzo o excelente artigo do jornalista Gilberto Maringoni publicado no sítio Opera Mundi:


Vale a pena refletir mais um pouco sobre os significados e conseqüências do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, realizado pelo Instituto Millenium em São Paulo, na segunda-feira, 1º de março.

A grande questão é: por que os barões da mídia resolveram convocar um evento público para discutir suas idéias? Ta bom, vamos combinar. A R$ 500 por cabeça não é bem um evento público. Mas era aberto a quem se dispusesse a pagar.

No subsolo do luxuoso hotel Golden Tulip estavam o que se poderia chamar de agregados da Casa Grande dos monopólios da informação, como intelectuais de programa e jornalistas de vida fácil. Todos expuseram suas vísceras, em um strip-tease político e moral inigualável. Um espetáculo digno de nota. Nauseabundo, mas revelador.

Uma observação preliminar: os donos, os patrões, os proprietários enfim, tiveram um comportamento discreto e comedido ao microfone. Não xingaram e não partiram para a baixaria. Quem desempenhou esse papel foram os seus funcionários.

Nisso seguem de perto um ensinamento de Nelson Rockfeller (1908-1979), relatado em suas memórias. Quando resolveu disputar as eleições para governador de Nova York, em 1958, falou de seus planos à mãe, Abby Aldrich Rockefeller. Na lata, ela lhe perguntou: “Meu filho, isso não é coisa para nossos empregados”?

Os patrões deixaram o serviço sujo para os serviçais. Estes cumpriram o papel com entusiasmo.

Objetivos do convescote

Os propósitos do Fórum não são claros. Formalmente é a defesa da liberdade de expressão, sob o ponto de vista empresarial. Quem assistiu aos debates não deixou de ficar preocupado. Aos arranques, os pitbulls da grande mídia atacaram toda e qualquer tentativa de se jogar luz no comportamento dos meios de comunicação.

Talvez o maior significado do encontro esteja em sua própria realização. Não é todo dia que os donos da Folha, da Globo e da Abril se juntam, deixando de lado arestas concorrenciais, para pensarem em táticas comuns na cena política nacional.

Um alerta sobre articulações desse tipo foi feita por Cláudio Abramo (1923-1987), em seu livro “A regra do jogo”, publicado em 1988. A certa altura, ele relata uma conversa mantida com Darcy Ribeiro (1922-1997), no início de março de 1964. “Alertei-o de que dias antes, o dr. Julinho [Mesquita, dono de O Estado de S. Paulo] havia visitado Assis Chateubriand [dos Diários Associados], e que aquilo era sinal seguro de que o golpe estava na rua. Porque a burguesia é muito atilada nessas coisas, não tem os preconceitos pueris da esquerda. Na hora H ela se une”.

Pois no Instituto Millenium estavam unidos Roberto Civita [Abril], Otávio Frias Filho [Folha] e Roberto Irineu Marinho [Globo]. Sem mais nem porquê.

Não se pode dizer que a turma resolveu botar o golpe na rua. Mas é sintomática a realização do evento quase no mesmo dia em que a candidatura de Dilma Roussef empatou com a de José Serra, de acordo com o Datafolha. Ou que ele aconteça quando os partidos conservadores – PSDB e DEM – estejam às voltas com crises sérias.

O que isso quer dizer? Quer dizer que as representações institucionais da direita brasileira estão se esfarelando. Seu candidato não sabe se vai ou se não vai. Apesar de o governo Lula garantir altos ganhos ao capital financeiro, deixando intocada a política econômica neoliberal, este não é o governo dos sonhos da plutocracia pátria. Elas não suportam conviver com a ala popular, minoritária na gestão do ex-metalúrgico. Deploram a política externa, a não criminalização dos movimentos sociais e a possibilidade de um governo Dilma acatar indicações das várias conferências temáticas realizadas nos últimos anos, como a de Direitos Humanos e a de Comunicação (Confecom).

Incômodo com a Confecom

Falar nisso, há um nítido incômodo com os resultados da Confecom. A grande mídia não tolera que o tema da democratização das comunicações tenha entrado na agenda nacional.

A reação a tais movimentações sociais tem mudado substancialmente a imprensa brasileira. Para pior, vale sublinhar. Para perceber isso, vale a pena fazer uma brevíssima recuperação histórica.

Nos anos anteriores a 1964, a grande mídia – O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Folha de S. Paulo e Diários Associados, entre outros – tornou-se propagandista e operadora do golpe militar. Colheu desgaste e sofreu censura, anos depois.

O primeiro órgão a notar que, para viabilizar seus propósitos empresariais, necessitava mudar de comportamento foi a Folha de S. Paulo. Com um jornal sem importância antes até o inícios dos anos 1970 e acusado de auxiliar o aparato repressivo da ditadura, seus proprietários perceberam que para mudar sua inserção no mercado valeria a pena abrir páginas para a oposição democrática.

Apostando na democratização

O projeto editorial de 1984 do jornal dizia o seguinte: “A Folha é o meio de comunicação menos conservador de toda a grande imprensa brasileira... É com certeza o que encontra maior repercussão entre os jovens. Foi o que primeiro compreendeu as possibilidades da abertura política e o que mais se beneficiou com ela, beneficiando a democratização. É o jornal pelo que a maioria dos intelectuais optou. É o mais discutido nas escolas de comunicação e nos debates sobre a imprensa brasileira”.

Ou seja, percebendo que a democratização lhe granjeava dividendos comerciais, o jornal deu espaço para lideranças, intelectuais e temas identificados com a mudança, em tempos finais da ditadura.

Topo da pirâmide

Vinte e três anos depois, em 11 de novembro de 2007, a Folha publicaria uma pesquisa sobre seu público, intitulada “Leitor da Folha está no topo da pirâmide social brasileira”. Logo na abertura, a matéria destaca:

“O leitor da Folha está no topo da pirâmide da população brasileira: 68% têm nível superior (no país, só 11% passaram pela universidade) e 90% pertencem às classes A e B (contra 18% dos brasileiros). A maioria é branca, católica, casada, tem filhos e um bicho de estimação”.

Saem de cena os “os intelectuais”, “os debates sobre imprensa brasileira” e entram os endinheirados. Do ponto de vista empresarial é isso mesmo. Jornal tem de vender e veicular anúncios a quem tem alta capacidade de consumo.

Mas para atender a essa lógica, movimentações editoriais são feitas. Ao invés de se priorizar um limitado pluralismo anterior, passam-se a criar cadernos e atrações voltados para os novos desígnios do público. E a linha editorial e os colunistas passam a ser cada vez mais conservadores.

A Folha beneficiou-se e soube utilizar em proveito próprio do formidável impulso democrático da sociedade brasileira dos anos 1980. Quase três décadas depois, percebe que a continuidade desse movimento não lhe interessa. E se insurge contra ele, com seus pares empresariais, entrando de cabeça nos fóruns do Instituto Millenium.

Golpe em marcha?

Articulações desse tipo são geralmente danosas à democracia. Sempre que ficam carentes de representações, as classes dominantes (chamemos as “elites” por seu nome real) entram no jogo institucional de forma truculenta e atabalhoada. Buscam impor sua vontade a ferro e fogo, uma vez que as regras do convívio político não lhes interessam mais. Seus impulsos são sempre pela ruptura dessas regras. Pelo golpe.

Foi o que aconteceu na Venezuela, em 2002. Com a falência dos partidos de direita e com a avassaladora legitimidade do governo Hugo Chávez, as oligarquias locais – em associação com a Casa Branca, com a cúpula das forças armadas e com a grande mídia – partiram para a ignorância. E se deram mal.

Não é pouca coisa a afirmação do ex-filósofo Roberto Romano, durante o Fórum do Instituto Millenium: “O aspecto ditatorial do Plano Nacional dos Direitos Humanos passaria em branco, não fosse o descontentamento manifestado pelos militares”. Logo quem o professor de Ética (!) invoca como paladinos da democracia...

A tática golpista vingará por aqui? Pouco provável, pois seus defensores encontram-se isolados. O destempero exibido por alguns palestrantes durante o evento – notadamente Romano, Jabor, Reinaldo Azevedo, Marcelo Madureira, Sidnei Basile, Denis Rosenfield e Demetrio Magnoli – é uma patente demonstração de seu reduzido apoio social.

No entanto, não se pode subestimar essa turma. Como interpretar a delirante intervenção de Arnaldo Jabor, ao dizer que “A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”? Como chegar a tal objetivo se não pela quebra da democracia?

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Mídia defende direitos humanos… em Cuba

Reproduzo artigo do internacionalista Max Altman, publicado no sítio Opera Mundi com o título “quanta hipocrísia dessa gente dos direitos humanos seletivos. Atacam Cuba para atingir Lula”:


A greve de fome de pessoa que cumpre pena em presídio é uma arma de desobediência e um desafio às determinações do Estado que pode assumir caráter político ou de reivindicação por melhores condições carcerárias. Manifestação de vontade individual ou coletiva deve ser respeitada e criteriosamente avaliada. Ao tomar, conscientemente, a grave decisão de iniciar a greve de fome o preso sabe - e é informado - que a conseqüência pode ser fatal.

Alguns entregam sua vida por um ideal mais nobre. Esses contam com defensores de fora da prisão que pressionam as autoridades a fim de que o objetivo da greve de fome seja alcançado. Outros priorizam sua própria vida e ainda assim esperam ver acatadas suas exigências. Quando ocorre a morte, os verdadeiros humanistas se condoem.

Zapata é exibido como troféu coletivo

Contudo, a reação que se leu, viu e ouviu nesses dias a respeito do caso do cubano Orlando Zapata Tamayo passa longe da natural comiseração. O cadáver de Zapata é agora exibido como um troféu coletivo. Os grandes meios de comunicação já vinham antecipando o desenlace com intenções pouco dissimuladas de utilização com premeditados fins políticos.

Zapata não fazia parte dos chamados dissidentes que foram julgados em março de 2003, não era um dos 75. Tinha um longo histórico delitivo comum, nada vinculado à política. Transformado depois de muitas idas e vindas à prisão em ativista político, era um homem prescindível para os opositores da Revolução. Cumpria uma sentença de privação de liberdade de 25 anos depois de ter sido inicialmente sentenciado em 2004 a três anos por desordem pública, desacato e resistência. Vinculou-se aos dissidentes após contactos com Oswaldo Payá e Marta Beatriz Roque. Declarou-se em greve de fome em 18 de dezembro.

Apesar de se negar a tanto, recebeu, de acordo com o que estabelece o Tratado de Malta, a assistência médica necessária, inclusive terapia intermédia e intensiva e alimentação voluntária por via parenteral endovenosa e enteral. Transferido para um hospital geral foi-lhe diagnosticado pneumonia, tratada com os procedimentos mais avançados. Ao ter comprometido ambos os pulmões, foi assistido com respiração artificial até que ocorreu o óbito.

Como a mídia cobre as greves de fome

Vou à história, curioso em saber como a grande imprensa cobriu greves de fome de presos que terminaram ou não em morte e como selecionam os direitos humanos.

Ao assumir o governo inglês em 1979, Margareth Thatcher deflagrou uma ofensiva militar e política contra os movimentos pela libertação da Irlanda do Norte. A virulenta tentativa de criminalização do republicanismo irlandês passava pela supressão de qualquer diferença entre o tratamento dispensado, nos cárceres, aos soldados do Exército Republicano Irlandês (IRA), do Exército de Libertação Nacional Irlandês (INLA) e a criminosos comuns. Em resposta, combatentes irlandeses encerrados nos blocos H da prisão de Maze, deflagram em 1º de março de 81 uma greve de fome. Suas reivindicações: não usar uniformes de presidiário; não realizar trabalhos forçados; liberdade de associação e organização de atividades culturais e educativas; direito a uma carta, uma visita e um pacote por semana; e que os dias de protesto não fossem descontados quando do cômputo do cumprimento da pena.

Recusando-se a ser tratados como criminosos, defendiam, a um só tempo, sua dignidade pessoal e a legitimidade da luta pela libertação de seu país. A um custo inimaginavelmente alto - onze homens morreram de inanição após longa agonia de 63 dias - os grevistas conseguiram uma vitória moral, ao fazer com que os ingleses retrocedessem quanto ao regime carcerário poucos meses após o fim do movimento; e uma vitória política, ao frustrar os planos de Thatcher de expor os que lutavam pela liberdade da Irlanda como criminosos aos olhos do mundo. O funeral de Bobby Sands, o líder do movimento, foi assistido por mais de 100 mil pessoas.

Thatcher, insensível, fez ouvidos moucos aos apelos. Teria o Estadão, a Folha ou o Globo ou El Pais, The New York Times, Die Welt, Le Fígaro, Clarin, estampado em sua manchete principal acusando Thatcher de homicida? Evidentemente, não!

Carcereiros do Pentágono em Guantanamo

Em meio século, nada mudou na Turquia, onde os presos políticos continuam fazendo greve de fome, não pela liberdade, como Nazim Hikmet, mas para recuperar a dignidade. Nazim Hikmet, o grande poeta turco, a quem a escritora Charlotte Kan chamou de “o comunista romântico”, condenado a uma pena pesada, estava preso em Bursa há doze anos quando começou uma greve de fome para recuperar a liberdade condenado a uma pena pesada, em um longo processo construído nos mínimos detalhes, estava preso em Bursa, fazia doze anos, quando começou uma greve de fome para recuperar a liberdade. E ainda teve forças suficientes para escrever o poema “O quinto dia de uma greve de fome”, dedicado a seus amigos franceses que lutavam por sua libertação. Acaso os editoriais da nossa imprensa acusaram os governantes turcos de perpetradores de um crime continuado? Nem pensar.

Na base militar de Guantanamo, aqueles que as autoridades norte-americanas chamam de “combatentes inimigos” fizeram, entre fevereiro de 2002 e fim de setembro de 2005, seis tentativas conhecidas - e talvez centenas ignoradas - de desafiar seus carcereiros do Pentágono com greves de fome. Alguém leu ou ouviu acusações a Obama de violador dos direitos humanos elementares por não ter cumprido a promessa de encerrar esse centro de tortura e humilhação?

Recentemente, a aviação norte-americana dizimou, no espaço de dias, famílias de cidadãos afegãos, a maioria mulheres e crianças. A mídia abriu espaço para o pedido de desculpas dos generais e nem um milímetro para acusá-los e a Washington de estar perpetrando uma política de terrorismo de Estado e de violação da Convenção de Genebra.

Passaportes britânicos de cidadãos israelenses de dupla nacionalidade foram utilizados pelo serviço secreto do Mossad para executar extrajudicialmente em Dubai o líder do Hamas, Mahmoud AL-Mabhouh. Por acaso, a mídia abriu suas colunas para acusar o governo Netanyhau de criminoso e fora-de-lei?

Terrorismo contra a revolução cubana

Na confrontação dos Estados Unidos e Cuba, ao largo de mais de meio século, milhares de cubanos foram vítimas de atos de terrorismo arquitetados em solo norte-americano com pleno conhecimento da Casa Branca, incluindo diplomatas assassinados no exterior. Quando Havana se dispôs a tomar medidas de inteligência para prevenir esses ataques, cinco de seus concidadãos foram presos e condenados, em processo totalmente viciado levado a cabo em Miami, a penas draconianas que chegaram a duas prisões perpétuas mais 15 anos para um deles. Jamais a mídia internacional e a nossa mídia trataram do assunto.

Os ataques virulentos a Cuba por parte da direita, das oligarquias, dos setores reacionários e dos segmentos conservadores e seus porta-vozes não são novidade. Não se conformam de a Revolução Cubana ter resistido sozinha, graças à firmeza de sua liderança e apoio valente de seu povo, à opressão e aos desígnios do Império. Nenhum outro governo da região a apoiou. Hoje diversos governos da região a apóiam. A solidariedade, simpatia e defesa da gente simples e dos progressistas em todo o mundo nunca faltaram.

A visita de Lula a Havana coincidiu com a morte de Zapata. Nossa mídia rebaixou a assinatura de 10 acordos de cooperação entre os quais se destaca a modernização do porto de Mariel. No entanto, o criticou furiosamente pretendendo vinculá-lo ao desrespeito a direitos humanos. No fundo querem destruir sua imagem de grande líder nacional e internacional em proveito de seus interesses ideológicos permanentes e eleitorais de agora.

Lula soube se comportar como chefe de Estado. E pessoalmente foi leal aqueles que ao longo de décadas se constituiram numa referência de soberania, independência, auto-determinação mas também de dignidade, heroismo e solidariedade.

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sábado, 6 de março de 2010

Donos da mídia rejeitam regras para setor

Reproduzo a segunda reportagem de Bia Barbosa sobre o encontro da direita midiática organizado pelo Instituto Millenium. O texto foi publicado na Agência Carta Maior:


Depois de sete horas de discurso sobre o que seriam os principais riscos para a democracia e a liberdade de expressão no Brasil de hoje, foram apresentadas as conclusões do evento promovido pelo Instituto Millenium na última segunda-feira (1). Entre elas, afirmações categóricas de uma linha de pensamento que a imprensa brasileira já não tem mais vergonha de defender:

- o setor de comunicação no país não precisa de mais leis, e sim de auto-regulação;

- as Conferências Nacionais representam a estatização da opinião de minorias e são promovidas por entidades da sociedade civil cujo teor é decisivamente determinado por interesses partidários, governamentais ou ambos;

- é urgente fazer um debate forte contra o Programa Nacional de Direitos Humanos para impedir que ele seja implementado.

Tamanho espírito democrático foi propagado por figuras como Denis Rosenfield e Alberto Di Franco, articulistas do jornal O Estado de S.Paulo; Roberto Civita e Sidnei Basile, do Grupo Abril; Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja; e William Waack, editor da Rede Globo, todos palestrantes convidados do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, apoiado por entidades como a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANER (Associação Nacional de Editores de Revista), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) e realizado num hotel de luxo esta semana em São Paulo.

Alvo favorito da grande imprensa desde o final de 2009, a terceira edição do Programa Nacional de Direito Humanos foi duramente atacada durante o seminário como um "ambicioso plano de implantação de um regime autoritário no Brasil".

"O Plano (sic) agride gravemente o direito de propriedade e sugere o controle dos meios de comunicação. Será um autoritarismo cuidando da história de outro autoritarismo. E o Brasil autoritário e intolerante que o governo quer construir é sustentado nesses dois pilares: o exercício da democracia direta e o controle dos meios de comunicação", acredita Di Franco. "Você lê que o governo se dá ao direito de criar uma classificação dos programas de acordo com os direitos humanos e que o invasor de terras passa a decidir junto com o juiz se vai sair dali ou não e deixa barato? Será que ninguém tinha lido isso?", esbravejou Reinaldo Azevedo, que fez questão de assumir a paternidade das "denúncias" contra o PNDH-3 para além da polêmica da criação da Comissão da Verdade, que já ocupava as páginas dos jornais.

Para os convidados e membros do Instituto Millenium, o PNDH-3, documento construído num processo amplo de participação popular, que envolveu mais de 14 mil pessoas em todo o país - "organizações de fachada", segundo William Waack -, é uma clara escalada da intervenção do Estado na vida da população. Num texto publicado na página da organização no internet, intitulado "Panfleto contra o PNDH-3", afirma-se que "os verdadeiros direitos humanos são garantir a propriedade privada e as liberdades individuais básicas".

Tanta fúria contra o Programa surge de pouquíssimas de suas mais de 500 propostas de ação, como a que propõe um "projeto de lei para tornar obrigatória a presença no local, do juiz ou do representante do Ministério Público, à ocasião do cumprimento de mandado de manutenção ou reintegração de posse de terras, quando houver pluralidade de réus, para prevenir conflitos violentos no campo"; a que sugere "elaborar critérios de acompanhamento editorial a fim de criar um ranking naciona de veículos de comunicação comprometidos com os princípios de Direitos Humanos, assim como os que cometem violações" – algo implementado há vários anos pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados – e "garantir a possibilidade de fiscalização da programação das emissoras de rádio e televisão, com vistas a assegurar o controle social sobre os meios de comunicação e a penalizar, na forma da lei, as empresas de telecomunicação que veicularem programação ou publicidade atentatória aos direitos humanos".

Em síntese, criar mecanismos para que os meios de comunicação cumpram o que já prevê a Constituição brasileira, que segue periodicamente ignorada por grande parte das emissoras de rádio e TV, concessionárias públicas. Para seguir nesta toada e convencer a opinião pública de que sua teoria está correta, a estratégia das grandes empresas de comunicação é travestir tais iniciativas de violadoras da liberdade de expressão.

"Vivemos um debate democrático no Brasil e o PT, por intermédio da liberdade de imprensa, propõe subverter a democracia pelos processos democráticos", afirma Denis Rosenfield. "A tendência é de implementação do PNDH-3, mas isso depende de como a sociedade vai reagir. Houve reação dos militares e da Igreja, e os dois setores foram contemplados. Então não há muito convencimento do governo em relação ao plano. Mas as entidades empresariais estão contemporizando. Se fizerem isso, serão as vítimas", sentencia.

A dificuldade fica maior quando vozes do próprio Partido dos Trabalhadores embarcam neste discurso. "Vira e mexe aparece uma vontade no governo de controlar a mídia. O Brasil tem caminhado num sistema democrático, embora apareça fatos como o PNDH (...) Não vejo necessidade de uma ação governamental para ver se o jornal tal está respeitando os Direitos Humanos", disse o deputado federal Antonio Palocci, também presente ao evento do Instituto Millenium.

O "autoritarismo" da participação popular

Como pano de fundo da crítica ao Programa Nacional de Direitos Humanos 3 está a aversão das grandes empresas de comunicação a quaisquer mecanismos de participação popular na definição das políticas públicas no país. As conferências nacionais, realizadas há décadas no país e potencializadas nas últimas gestões do governo federal, seriam controladas, como apontou a conclusão do Fórum do Instituto Millenium, por interesses partidários e governamentais.

“Em termos éticos, 90% dessas organizações são totalitárias e querem impor um modelo e padrão da vida pública”, afirmou Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp, fonte favorita da grande imprensa quando se trata de criticar a esquerda. Não se concebe compreendê-las como espaços abertos e plurais, onde qualquer cidadão e cidadã pode manifestar sua opinião. Nem mesmo os mecanismos de democracia direta previstos no artigo 14 da Constituição Federal – que a grande mídia afirma defender – são respeitados. Para Carlos Alberto Di Franco, do Estadão, por exemplo, plebiscitos e referendos devem ser vistos como “formas excepcionalíssimas de consulta”.

Para Denis Rosenfield, as conferências são “meios de participação política de movimentos sociais e sindicatos que têm objetivos específicos contra os meios de comunicação, apresentando isso de forma palatável como o controle social e a defesa dos direitos humanos, quando o alvo evidente é cercear a liberdade de expressão”.

No bojo das críticas à democracia participativa, tais grupos econômicos desqualificaram, mais uma vez, a 1ª Conferência Nacional d e Comunicação (Confecom), da qual as mesmas entidades que organizaram o evento em São Paulo se recusaram a participar. “As entidades empresariais colocaram premissas para sua participação, já que a pauta da Confecom era revisão do marco regulatório e o controle social. Nós dissemos que não poderiam ficar de fora a liberdade de expressão, a livre iniciativa, o combate à pirataria. Insistimos para que isso viesse à pauta e isso não sobreviveu à agenda das demais entidades que lá estavam”, tentou explicar Sidnei Basile, do Grupo Abril, ignorando que todos esses temas foram de fato debatidos na Confecom. “Então nos retiramos. Foi bom, foi correto marcar nossos princípios. E o conto do vigário que estava sendo vendido não vigorou”, afirmou o jornalista, que minutos antes taxou de cínica e hipócrita tal iniciativa do governo.

Um dos temas mais criticados pela grande imprensa nos debates da Confecom foi justamente o controle social da mídia, que voltou ao centro do alvo no Fórum do Instituto Millenium. Os dardos vieram de todos os lados. "Estranho que, justamente quando vivemos uma democracia plena, se esteja falando em maior controle dos meios de comunicação. Mais estranho ainda é falar isso quando mais de 60 milhões de brasileiros já têm acesso à internet, onde o fluxo de idéias e opiniões é totalmente livre e felizmente impossível de censurar e controlar", avaliou Roberto Civita, para quem, talvez, baste o fluxo de idéias e opiniões na rede mundial de computadores.

"Não pode haver controles além da própria constituição de um país (...) Não se pode fazer lei a torto e a direito. E a Constituição de 88, no que diz respeito a concessões, publicidade e meios de comunicação, é muito explicita. E o que se vê hoje são tentativas cada vez mais frequentes de se inibir a publicidade ou a notícia. (...) Tem muita gente querendo uma nova lei de imprensa. Da vontade de dizer: ‘faz’. Não existe boa lei de imprensa em nenhum lugar", sentenciou o deputado federal pelo PDT Miro Teixeira, ex-ministro das Comunicações.

Já o atual ministro, num rompante de seu espírito democrático, deixou claro: "Em hipótese alguma o governo aceitaria uma discussão sobre o controle social da mídia. Não será permitido discutir isso do ponto de vista governamental; é algo que consideramos absolutamente intocável", afirmou Hélio Costa, para quem a Confecom - que, diga-se de passagem, aprovou resolução em defesa do controle social e da participação popular nos meios de comunicação - não determina o que o governo deve fazer, levantando apenas sugestões "que não necessariamente devem ser colocadas em prática".

A lei do mercado

O recado, em suma, é o seguinte: nada de povo e nada de lei nas comunicações brasileiras. "Quanto menos legislação melhor", disse Civita. "No estágio atual, é melhor deixar tudo como está. O mercado tem conseguido resolver isso", garante Rosenfield. Para não parecer que o que se defendia ali era a lei da selva, Sidnei Basile, do Grupo Abril, sacou da cartola a palavra mágica: auto-regulação. "O que se pode fazer conosco só nós é que podemos definir (...) Faço o convite para uma cultura da auto-regulação e da prevalência da boa fé", disse. Alguém consegue acreditar? Di Franco emendou: "Não é o Estado que tem que ser o tutor da sociedade. O mercado e a auto-regulação f azem isso extremamente bem".

"Vejam a última resolução da Anvisa, que diz que os medicamentos não podem ficar ao alcance do consumidor. Agora o Estado deve dizer tudo o que devemos fazer e como nos comportar? Liberdade de consumo, cinto de segurança, etc. Somos idiotas? O capitalismo também se caracteriza pela liberdade de escolha em todos os seus sentidos", teorizou Denis Rosenfiled.

Com a auto-regulação concordaram até Hélio Costa e o deputado federal Antonio Palocci: "Os códigos de conduta das empresas, que educam sua equipe e organizam o trabalho da maneira adequada para tratar temas sensíveis, têm funcionado de forma eficiente. Não será o Estado que dirá como fazer", disse o petista.

Mas nem esta linha redutora do dever do Estado em promover a pluralidade, a diversidade e a participação popular e combater as violações de direitos humanos nos meios de comunicação foi suficiente para que os pensadores do Instituto Millenium abrissem mão da tese de que a liberdade de expressão está mesmo ameaçada no Brasil por iniciativas do governo federal e o autoritarismo dos movimentos sociais.

"Os grandes grupos empresariais estão satisfeitos com este governo. Se preocupam apenas com seus interesses materiais imediatos e se esquecem do espírito do capitalismo: a afirmação da liberdade de escolha e de expressão. Será que não estão colocando a corda no pescoço a médio e longo prazo?", questionou Rosenfield. Quem dera...

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