quarta-feira, 28 de abril de 2010

Mano Brown fala de Lula e do "coisa"



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Ministério da Segurança é bravata de Serra



Em entrevista nesta semana a José Luis Datena, na TV Bandeirantes, o demotucano José Serra só apresentou uma idéia “original”: afirmou que, se eleito, criará o Ministério da Segurança Pública. Na maior caradura, no mesmo mês em que mais de 23 pessoas foram assassinadas na Baixada Santista, o candidato fez demagogia com um tema tão grave e sensível à população. Ele só não explicou porque a situação da segurança pública em São Paulo, estado dominado pelos tucanos há quase 20 anos, é uma das mais caóticas do país, com crescentes índices de homicídios.

A recente onda de violência na Baixada Santista só confirma a gravidade da situação. Em apenas quatro dias, de 20 a 23 de abril, cinco pessoas foram executadas em São Vicente, seis morreram no Guarujá; e outras duas foram mortas em Santos e Praia Grande. Desesperados, os jovens não foram às aulas e os comerciantes fecharam as portas. Até o Conselho Assessor de Segurança no Exterior (Osac), ligado ao Departamento de Defesa dos EUA, aconselhou os turistas a “evitarem viajar” para o litoral paulista, prejudicando a imagem do Brasil no exterior.

A barbárie imposta pelos tucanos

Diante desta nova onda violência, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo declarou que a situação no litoral “está sob controle”. A mesma resposta foi dada quando da onda de ataques do PCC, em 2006, que resultou em dezenas de mortos em várias cidades paulistas. A mesma atitude passiva e incompetente ocorreu diante dos 53 homicídios no Guarujá em 2009 – quase cinco por mês. Na prática, o governo tucano de São Paulo não tem política para a segurança pública – os policiais ganham salários de fome, não há serviço de inteligência e predomina a dura repressão.

A juventude é a principal vítima desta barbárie. O Cemitério São Luiz, na periferia sul da capital paulista, é hoje o local com maior número de jovens sepultados por metro quadrado no planeta. Eles são alvos das quadrilhas de criminosos e da própria ação violenta da polícia. Tanto que ela é vista com medo pelas populações carentes. E não é para menos. Os tucanos acionam a PM para reprimi-la e humilhá-la. Basta um exemplo. No ano passado, a polícia promoveu uma operação “saturação” na favela Paraisópolis, zona sul da capital, invadindo casas sem mandatos judiciais, prendendo e torturando moradores, inclusive crianças e idosos, segundo o insuspeito Estadão.

Manipulação das ocorrências

Sob comando tucano, a polícia coleciona péssimas estatísticas. Em 2007, ela foi responsável por 438 mortes; em 2008, outras 431; em 2009, com base nos registros até setembro, por mais 400 mortos. E estes dados chocantes são subestimados, segundo a própria Ouvidoria, que afirma que as ocorrências são manipuladas para esconder a selvageria. Os homicídios são ocultados como “resistência seguida de morte” ou “encontro de cadáver”. Há inclusive grupos de extermínio no interior da PM, como o dos “highlanders” – o esquadrão da morte integrado por policiais do 37º Batalhão da PM, cuja marca é cortar cabeças e mãos das vítimas para impedir a identificação.

Desgovernada, desmotivada e arrochada, a polícia paulista não consegue cumprir a contento seu papel de garantir a segurança pública. Os 40 mil agentes da Polícia Civil operam em péssimas condições, sem os equipamentos indispensáveis para o esclarecimento dos crimes. A carência de recursos e os baixos salários já resultaram em vários protestos e greves, como a do ano passado que terminou com cenas de guerra perto do Palácio dos Bandeirantes. Já os 90 mil soldados da PM, responsáveis pelo policiamento ostensivo, recebem míseros salários para enfrentar o perigo.

Datena pegou leve contra o tucano

O sistema penitenciário é outra calamidade. Ao invés de reeducar o preso para reinseri-lo na sociedade, ele serve como escola do crime. As 147 unidades prisionais do estado abrigam cerca de 150 mil presos, quando teriam capacidade para 96 mil detentos. Como relata um acalentado estudo da assessoria técnica do PT na Assembléia Legislativa, “celas superlotadas e sem asseio obrigam os presos a fazer rodízio para que todos possam dormir. Faltam funcionários, colchões, remédios e até água... Os Centros de Detenção Provisória, construídos para abrigar apenas os que aguardam julgamento, foram transformados em penitenciárias e estão com superlotação”.

Estes dados revelam a demagogia de José Serra quando fala em criar o Ministério da Segurança. Como não consegue dar resposta efetiva a um problema real, ele promete criar mais um cabide. Sua bravata nem sequer foi retrucada por Datena, que vive do espetáculo com o crime e posa de durão diante de seus entrevistados. Dias antes, o jornalista não poupou a petista Dilma Rousseff, fazendo perguntas até sobre o “mensalão do PT”. Já com o queridinho da mídia, ele pegou leve. Não perguntou, por exemplo, sobre a onda de violência no litoral paulista. O vídeo do Fantástico ao menos registrou o caos da segurança – mesmo que se esforçando para mostrar viaturas da polícia.

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terça-feira, 27 de abril de 2010

Cartazes de Stálin nas ruas de Moscou?

Reproduzo instigante artigo de Breno Altman, jornalista e diretor do sítio Opera Mundi:

O prefeito da capital russa, Iuri Luzhkov, tomou uma decisão que está dividindo o país, às vésperas das comemorações, no dia 9 de maio, do 65º. aniversário da vitória sobre o exército nazista. O administrador, integrante do partido situacionista Rússia Unida, resolveu colocar, como parte das ilustrações da marcha que celebrará a data histórica, dez grandes painéis com imagens de Stálin, dirigente do país quando os alemães foram batidos.

Ao atender, com sua polêmica iniciativa, à insistente reivindicação da associação dos veteranos de guerra, provocou duras reações. Tanto setores políticos hostis à experiência soviética quanto organizações de direitos humanos protestaram, denunciando desrespeito às vítimas do período staliniano. Luzhkov, ele próprio ácido em suas opiniões sobre o antigo líder comunista, rechaçou as críticas: “Pretende-se livrar a história de um importante nome, ligado à etapa que foi, provavelmente, a mais dramática na história do país. Estou contra isso.”

O tema é delicado por vários motivos. Talvez a mais destacada dessas razões seja porque o papel de Stálin na 2ª. Guerra Mundial (ou Grande Guerra Patriótica, como a chamam os russos, preservando denominação reinante na velha URSS) se constitua no calcanhar de Aquiles da longa política de demonização do chefe soviético. Afinal, se continuasse a receber votos de respeito e admiração pelo protagonismo no combate ao nazismo, seu retrato como vilão dos povos não ficaria de pé. No mínimo, as apreciações acerca de sua trajetória teriam que ser mais equilibradas e contextualizadas.

Seu enorme prestígio no imediato pós-guerra, dentro e fora da União Soviética, irradiava-se até pelos meios de comunicação dos países capitalistas. Naquele então, era patente que as forças hitleristas tinham sido derrotadas fundamentalmente pelo Exército Vermelho, sob o comando estrito do georgiano que sucedera a Lênin. A deflagração da Guerra Fria, porém, exigia que esse registro no imaginário social fosse destruído, transformando o herói comunista em um bandido sórdido, cuja participação no conflito mundial teria sido errática e coadjuvante.

Ao campo norte-americano e suas agências diretas ou disfarçadas interessava alimentar a teoria dos dois demônios. O sinal de equivalência entre o dirigente soviético e o ditador alemão, afinal de contas, favorecia a falsificação destinada a apresentar as nações sob democracia liberal como o esteio da vitória contra o nazismo e, portanto, legitimadas para continuar o combate contra o autoritarismo de esquerda.

O indispensável livro “Stálin, a construção de um mito negro”, do italiano Domenico Losurdo, que deverá ser publicado pela Editora Revan nos próximos meses, apresenta uma preciosa pesquisa de como se articulou a máquina propagandística destinada a reescrever páginas da guerra na lógica do combate ao “império do mal” e seu líder máximo. E de como amplos setores de esquerda, às voltas com disputas internas ou intimidados pela ofensiva conservadora, também acabaram intoxicados pelo mesmo revisionismo histórico e viraram seus co-patrocinadores.

O problema orgânico desse discurso, no entanto, nunca foi solucionado. Como seria possível, de forma consistente, apresentar Stálin como um tirano que a tudo e a todos controlava, mas que no momento mais decisivo teria se transformado em um joguete dos militares? Aliás, dos mesmo oficiais que são descritos em inúmeros livros não-comunistas como eternamente amedrontados pelas atitudes do secretário-geral comunista, que teria liquidado fisicamente o núcleo duro do Exército Vermelho, às vésperas da guerra, para poder exercer a regência inconteste sobre as forças armadas soviéticas.

Faz tanto sentido essa argumentação, que defende a submissão de Stálin aseus oficiais, quanto qualquer abordagem sobre as guerras napoleônicas que anulasse a participação de seu patronímico. Ou sobre as batalhas de independência da América hispânica que eludisse o papel de Bolívar. Ou sobre as guerras púnicas que escapasse de dar devida importância à intervenção de Scipião na destruição de Cartago.

As memórias de Roosevelt e Churchill, além das investigações realizadas nos arquivos russos após o colapso soviético, para ficarmos apenas em algumas fontes, são claras ao afirmar que Stálin exercia a liderança absoluta, tirânica, sobre os movimentos de suas tropas, muitas vezes contra a opinião dos generais de seu estado-maior.

O ex-presidente norte-americano chegou a revelar sua estupefação com o fato do líder comunista participar das conferências mundiais durante a guerra ao lado de apenas dois ou três assessores, com controle irreparável dos dados de combate, enquanto a delegação dos Estados Unidos e a inglesa eram compostas por dezenas de integrantes, de sorte a permitir que seus chefes políticos tivessem informações competitivas sobre o teatro de operações.

O mais importante, porém, é a memória social dos acontecimentos – também resgatada em numerosos documentos e estudos. Os guerrilheiros e soldados aprisionados pelos nazistas, às vésperas de seu fuzilamento, escreviam cartas às famílias brindando seu próprio sacrifício e enaltecendo a liderança de Stálin. Milhares e milhares de depoimentos relembram o efeito moral do chefe soviético ter decidido manter, em 1941, o tradicional desfile do 7 de novembro, aniversário da revolução bolchevique, mesmo em meio ao bombardeio da artilharia alemã às portas de Moscou. São registros de uma guerra de caráter popular, que mobilizou todas as energias, civis e militares, sob uma clara voz de comando.

A onda revisionista, no entanto, chegou ao ponto de trocar o nome da cidade na qual se travou a mais importante e heróica batalha contra o nazismo: Stalingrado, ainda nos anos 60, passou a se chamar Volgogrado. No curso da restauração capitalista dos anos 90, os últimos símbolos e homenagens também foram eliminados. Mas a pressão dos veteranos e outras camadas sociais sobre a administração moscovita, nesses último meses, parece revelar o relativo fracassso de se combater Stalin através de métodos outrora classificados como... stalinistas.

Não é o caso de se contrapor a violação da verdade histórica com uma imagem cândida e igualmente falsa sobre o homem que governou o primeiro Estado socialista durante trinta anos. Seria tão absurdo como aceitar que o contraponto ao culto à personalidade pudesse ser a vilanização de um líder dessa envergadura.

Stálin foi ator em uma época de extrema polarização. Seu período de liderança foi exercido praticamente o tempo todo em situação de guerra, civil ou externa, quando a violência era instrumento inalienável de todas as forças políticas, que se jogavam em batalhas de vida ou morte, triunfo ou aniquilamento. No curso de sua estratégia para modernizar o país, derrotar as antigas classes dirigentes, consolidar a hegemonia interna e romper o cerco montado pelos governos capitalistas, muitos crimes foram cometidos e vítimas inocentes, incluindo provados dirigentes bolcheviques, perderam sua vida e honra.

Representava o projeto de uma ditadura revolucionária, com seus feitos e inegáveis deformações. Seu grande legado, porém, segundo o insuspeito historiador trotsquista Isaac Deutscher, foi ter herdado um país que vivia na era do arado de madeira e tê-lo entregue às gerações futuras, em menos de trinta anos, como uma potência atômica. Seu sistema autocrático de governo, que tampouco foi sempre o mesmo e passou por tentativas aberturistas, construiu também o doloroso caminho para gerar e controlar os recursos que permitiram a mais rápida e ampla expansão de direitos sociais da qual se tem notícia.

Esse artigo, de toda forma, não se presta a um balanço do que foi a trajetória do controvertido líder soviético. A questão é repor um fato histórico, apenas isso. Se a algum dirigente em particular a humanidade deve a liquidação do nazismo, esse homem atende pelo nome de Josef Stálin. A ele coube, a despeito de seus erros e sangrentos delitos, o comando do exército e da pátria que quebraram a coluna vertebral das tropas de Hitler.

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Serra distribuirá as terras da Kátia Abreu?



Em recente entrevista ao Jornal do SBT, o demotucano José Serra falou mais duas besteiras. No figurino “Serrinha paz e amor”, ele prometeu: “Eu quero a reforma agrária pra valer, com gente produzindo melhor, cada vez mais e com terra”. Na sequência, tirando a máscara e assumindo o seu estilo brucutu, ele rosnou: “O MST vive de dinheiro governamental. Eu acho que a reforma agrária para o MST é pretexto. Trata-se de um movimento político, com finalidades políticas”.

Quanto à “reforma agrária pra valer”, o seu cinismo é de arrepiar. Afinal, o ex-governador nunca fez nada para distribuir terras em São Paulo. Pelo contrário: sempre apoiou os latifundiários e os grileiros, como o ricaço Sr. Cutrale que surrupiou terras públicas no interior paulista. A marca do seu lamentável reinado foi a da pura repressão aos movimentos que lutam pela reforma agrária. Tanto que ele é o presidenciável dos sonhos dos barões do agronegócio e das entidades ruralistas.

Rodeado de direitistas fanáticos

Além disso, José Serra se cercou de renomados direitistas, que negam a importância da reforma agrária e odeiam os movimentos sociais do campo. O coordenador de programa da sua campanha presidencial será Xico Graziano, que foi assessor do ex-presidente FHC e presidiu o Incra. Ele ficou famoso por afirmar, em alto e bom som, que “a reforma agrária é um atraso”, e por atacar sem piedade o MST. Para Graziano, as lideranças deste movimento praticam “banditismo rural”, “botam medo no Estado” e são “justiceiros, que invocam cânones divinos e arrebentam cercas”.

Outro reacionário convicto que terá papel de destaque na campanha presidencial do demotucano é Marcelo Garcia. Ele é um quadro do DEM e deixou sua agência de publicidade para cuidar da imagem do tucano. “Estou deslocado pelos Democratas para trabalhar no programa de governo do candidato José Serra”, informou. Antes de sair, o publicitário ajudou a criar uma campanha na internet da ONG fascista “Vamos tirar o Brasil do Vermelho”, em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA). O sítio ainda não foi ao ar, talvez para evitar constrangimentos.

A grileira como vice-presidente

Prova maior do cinismo de José Serra, porém, é que sua candidata a vice-presidente poderá ser a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), atual presidente da CNA. Se o demotucano quisesse, de fato, realizar a “reforma agrária pra valer”, ele poderia começar propondo a desapropriação das terras griladas pela “musa da extrema-direita”. Segundo reportagem da CartaCapital, ela teria integrado a quadrilha que tomou 105 mil hectares de terras de 80 famílias de camponeses no município de Campos Lindos (TO). Ela e o irmão grilaram 2,4 mil hectares, desembolsando R$ 8 por hectare.

Ainda segundo a denúncia, as suas duas fazendas são improdutivas. Kátia Abreu também é alvo de ação civil do Ministério Público na Justiça de Tocantins por descumprir o Código Florestal e desrespeitar os povos indígenas. Ela ainda é acusada de desviar R$ 650 mil dos cofres da CNA para financiar a sua campanha ao Senado – o que é ilegal. Por estes e outros crimes, nada mais justo do que José Serra propor a desapropriação de suas terras. Será que o candidato demotucano está disposto a cumprir a sua promessa de fazer a “reforma agrária pra valer?”.

Criminalização dos movimentos sociais

Já no que se refere aos ataques ao MST, José Serra revelou mais uma vez a sua brutal conversão direitista. Até hoje a Justiça não comprovou o uso de “dinheiro governamental” pelo movimento. O candidato deveria ficar mais preocupado com as apurações sobre desvio de recursos públicos da CNA, que podem demolir sua sondada candidata à vice. Quanto ao MST ser um “movimento político”, qual o problema? Vai acionar a repressão? Ou só a CNA e outras entidades de direita podem fazer política? Na prática, o presidenciável tucano revela a sua aversão à democracia.

Para Gilmar Mauro, membro da direção nacional do MST, a entrevista de José Serra ao Jornal do SBT só revelou todo o seu reacionarismo. “Como é que um governador que perseguiu e mandou a polícia bater nos professores, que se recusou a recebê-los para negociar, pode se considerar um democrata?”. Ele lembra que durante sua gestão, Serra sempre agiu com violência contra o MST. “O que ele fez foi fechar escolas em assentamentos. Esse é o tratamento que o democrata Serra destinou à questão agrária e à educação das crianças, dos filhos dos trabalhadores rurais”.

Ainda segundo o líder do MST, o ex-governador também não tem moral para falar em reforma agrária. “Antes de falar, Serra deveria fazer. Enquanto esteve à frente do governo de São Paulo, ele não realizou um único assentamento. E olhe que o estado tem mais de um milhão de hectares de terras que poderiam ser destinadas a este fim”. Para Gilmar Mauro, o candidato demotucano é a expressão maior do autoritarismo, que visa criminaliza os movimentos sociais do campo para defender os interesses dos barões do agronegócio.

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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Domenico Losurdo faz debate na Unicamp



O professor italiano Domenico Losurdo, um dos intelectuais mais renomados da atualidade, participará de um debate na Unicamp no dia 5 de maio. Divulgo o release deste importante evento:

Debate: A linguagem do império

Expositor: Domenico Losurdo (Universidade de Urbino, Itália)

Debatedor: João Quartim de Moraes (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp)

Dia 5 de maio, às 14 horas

Local: Auditório do IFCH

Promoção: Centro de Estudos Marxistas (Cemarx)

Apoio: Secretaria de Eventos, IFCH

Após o debate, será lançado o mais recente livro de Domenico Losurdo: "A linguagem do Império – Léxico da ideologia americana", Boitempo Editorial.

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“Imprensa livre” e os eventos no Memorial

Reproduzo artigo do professor Laurindo Lalo Leal Filho, publicado no sítio Carta Maior:

Entre o final de março e o começo de abril, o Memorial da América Latina, em São Paulo, abrigou três eventos onde a comunicação era o tema central. Todos com algum tipo de participação de docentes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. De longe, um fato a ser saudado. Afinal, são poucos os espaços que ainda restam para discussão desse tema. De perto, no entanto, a visão é mais melancólica.

Dos três debates, dois receberam cobertura seletiva dos grandes jornais. Outro passou em branco. Adivinhem porque. É simples, basta ver o tom do conteúdo de cada um deles. O primeiro, denominado “Liberdade de Expressão e Direito à Informação nas Sociedades Contemporâneas” foi aberto por um articulista do jornal “O Estado de S.Paulo” especializado em negar os direitos dos negros à reparação pelos crimes sofridos ao longo e depois da escravidão. Sobraram críticas ao governo brasileiro, às políticas de comunicação de vários países da América Latina e até a recém-criada Empresa Brasil de Comunicação, gestora da TV Brasil. Tudo devidamente coberto pelo jornalismo dito independente.

O outro chamado “Liberdade de Imprensa e Democracia na América Latina” teve como figura central o ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Brito. Para quem já esqueceu trata-se do magistrado que acabou com a Lei de Imprensa impondo sobre o jornalismo a lei da selva. Deu seu voto também para acabar com a exigência do diploma para o exercício da profissão dizendo que ela pode ser exercida por aqueles que apenas têm "intimidade com a palavra" ou "olho clínico". Definições profundas, sem dúvida.

No debate do Memorial o ministro foi ainda mais além nas suas demonstrações de completa alienação em relação ao mundo em que vive. Disse, por exemplo, que a liberdade de imprensa é um direito absoluto, não limitado por outros direitos. E disse mais, mas, por aqui, pouparei o leitor. Ficarei na constatação – boquiaberto – de que um ministro do Supremo não conhece a estrutura econômica dentro da qual operam, como empresas capitalistas, os meios de comunicação. Seguindo sua orientação, empresários de um setor específico da economia têm total liberdade para impor seus interesses à sociedade sem nenhum tipo de controle. Como fazem os donos da mídia.

Isso é tudo que eles querem e, por conta disso, o seminário foi generosamente acompanhado pelos jornalões. Restou o terceiro, vítima de um silencioso ensurdecedor. Sabem porque? Porque nele não se tergiversava. Ia-se à raiz dos problemas e discutiam-se os novos, modernos e generosos rumos que a comunicação começa a traçar na América Latina.

Basta ver o título para entender a razão do boicote imposto pela “imprensa livre”: “A América Latina hoje: perspectivas de integração para além do mercado”. Os dois eventos antes citados tiveram acolhida nos jornalões por, obsequiosamente, respeitarem os limites do mercado. Este, por sua vez, mostrou que há vida – e de melhor qualidade – além desse limite.

E não foi uma reunião rápida, essa organizada pelo Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação na América Latina (CELACC) da ECA. Foram três dias de trabalho, com apresentações de resultados de pesquisas realizadas em diferentes países do continente, acompanhadas de mesas redondas. Entre os participantes, estava a professora argentina Suzana Sel, organizadora do livro “La Comunicacion Mediatizada” e estudiosa do processo de reestruturação da mídia argentina.

Disse ela em sua exposição que a nova lei do audiovisual vigente em seu país “implica num forte golpe” aos grupos que concentram a comunicação e abre espaço para que novos atores possam entrar na cena midiática. Isso porque, diz ela, a lei busca “reverter as políticas neoliberais” fixando limites à “concentração que se expressam tanto na distribuição de um espectro (eletromagnético) reconhecendo novos sujeitos, como na fixação de níveis de produção nacional” e também ao reverter “o grau de centralização existente, entre outras medidas que ferem interesses monopolistas”.

Claro que a “imprensa livre”, elevada esdruxulamente à categoria de um direito absoluto, jamais cobriria esse tipo de evento. Que, de comum com os outros dois, teve apenas o Memorial como abrigo.

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Eliane Cantanhêde “apanha” dos blogs



Reproduzo artigo do jornalista Rodrigo Vianna, do excelente blog Escrevinhador:

O leitor menos habituado com o mundo jornalístico talvez nem saiba: todas as redações de jornal, TV ou rádio possuem um departamento de "rádio-escuta".

São profissionais que passam o dia escutando o que as emissoras de rádio e TV publicam sobre todos os assuntos; e fazem relatórios para os chefes: "A Jovem Pan deu entrevista com o delegado do 36º DP"; "o SBT conseguiu ouvir o traficante do morro do Borel"; "a Dilma deu entrevista para o Datena".

É um serviço importante para orientar os chefes de redação. Pra saber de onde virão os furos. E para correr atrás da bola antes que seja tarde demais.

O curioso é que na internet a rádio-escuta é feita pelos leitores. É um serviço gratuito e eficiente.

Por exemplo: o leitor Mirabeu Leal (um ágil rádio-escuta) informa que a jornalista Eliane Cantanhêde (aquela da "massa cheirosa" na convenção do PSDB) fez, na rádio CBN, uma grave denúncia contra blogueiros (que ela esqueceu de nominar): "Eu apanho deles. Então, a gente fica apanhando, apanhando...”.

É tanta surra (segundo a jornalista) que Mirabeau chega a perguntar se a "cheirosa" não vai procesar os blogueiros com base na Lei Maria da Penha.

O comentário da jornalista "cheirosa" - como diz o Mirabeu - foi feito durante um programa da CBN para discutir a campanha eleitoral na internet.

A CBN (do Sistema Globo de Rádio), como se sabe, é uma rádio imparcial e independente. Sem qualquer ligação com o Serra!

E a Eliane, também, como se sabe, não tem qualquer ligação com marqueteiros tucanos.

Quanto à jornalista, acho que ela se leva muito a sério. Na verdade, no episódio da "massa cheirosa" ela não "apanhou". Foi tratada como piada. Só isso.

Pelo relato que Mirabeu nos faz (confesso que não tive tempo de ouvir todo o programa), a CBN e seus cheirosos passaram um recibo danado: estão preocupados com o contraponto oferecido pela internet.

Como comentei outro dia: eles têm o exército convencional, nós fazemos guerrilha.

Não devemos subestimar o poder de fogo (ainda imenso) do PIG. Mas podemos registrar: eles estão incomodados. Isso estão. Com certeza.

E vão continuar apanhando, apanhando, apanhando...

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As eleições e o jogo sujo na rede

Reproduzo artigo de Leandro Fortes, publicado na revista CartaCapital:

Na manhã da segunda feira, 19, o publicitário Marcelo Branco, contratado para coordenar a campanha de Dilma Rousseff na internet, não sabia, mas estava prestes a encarnar o papel de Davi. Na noite do mesmo dia, menos de 24 horas depois de colocar no ar um jingle para comemorar 45 anos de existência muito semelhante ao slogan de campanha do PSDB, a Globo iria capitular a um movimento iniciado justamente por uma mensagem postada por Branco no Twitter, o microblog que se tornou febre no mundo. “Jingle de comemoração dos 45 anos da TV Globo embute, de forma disfarçada, propaganda pró-José Serra”, avisou o tuiteiro, antes das 10 da manhã. Poucas horas depois, o comercial estava fora do ar.

“O Golias piscou”, comemorou, em seu blog pessoal, o Tijolaço.com, o deputado Brizola Neto (PDT-RJ), herdeiro político do avô, o ex-governador do Rio Leonel Brizola, que lutou até morrer, em 2004, contra o poder da família Marinho. O pedetista fez mais barulho, inexplicavelmente, do que o PT. Isso porque, com o Twitter de Branco, os petistas venceram a primeira batalha da guerra que se anuncia, sem quartel e sem trégua, na internet durante a campanha eleitoral. Até o departamento jurídico da emissora entrou em campo para precipitar o fim da campanha publicitária. Segundo Ricardo Noblat, jornalista da casa, advogados da empresa consultaram o futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ricardo Lewandowski, e chegaram à conclusão de que o melhor era interromper a exibição do comercial.

O desfecho da histórica ilustra bem como vão funcionar estratégias montadas por todos os partidos, mas, sobretudo, entre petistas e tucanos, cujo alvos são as chamadas redes sociais da internet (Twitter, Orkut, Facebook e YouTube), que acumulam cerca de 60 milhões de usuários. Com o auxílio de especialistas, a rede tem sido mapeada de forma a estabelecer modelos de comportamento e de perfil dos usuários. Isso inclui análise permanente dos blogs, a partir de referências positivas, negativas e neutras. Tudo organizado e transformado em relatórios quase diários para os comandos das campanhas.

No caso do PT, os assessores dizem pretender usar a web para disseminar o verdadeiro currículo de Dilma Rousseff, em contraposição à famosa ficha falsa do Dops, veiculada primeiramente pela Folha de São Paulo, depois de circular por sites de extrema-direita e imundar, em forma de spam, e-mail por todo o país. A ideia é mostrar, por exemplo, que a ex-ministra nunca participou diretamente da luta armada, nunca foi terrorista e foi condenada pelos tribunais da ditadura por crime de “subversão”, a dois anos de cadeia — embora tenha sido esquecida na prisão, onde ficou por três anos. De resto, suberversivos eram considerados todos que contestatavam a legitimidade do regime ditatorial, entre eles José Serra e o ex-presidente Fernando Henrrique Cardoso.

Quem cuida do contúdo de internet para o PSDB é Arnon de Mello, filho do ex-presidente, atual senador e aliado recente de Lula, Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Arnon é um dos donos da Loops Mobilização Social e se apresenta como economista formado pela Universidade de Chicago e mestrado em Harvard, diretor do jornal Gazeta de Alagoas e funcionário do banco americano Lehman Brothers, epicentro da mais grave crise econômica mundial desde o crack de 1929. Um de seus sócios é João Falcão, ex-secretário de cultura de Olinda (PE), filho de Joaquim Falcão, ex-diretor da fundação Roberto Marinho e ex-integrante do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Falcão pai também é um dos autores do livro DR. Roberto, de 2005, uma biografia autorizada do falecido dono das Organizações Globo.

A Loops foi a responsável, na internet, pela campanha do deputado Fernando Gabeira (PV) à prefeitura do Rio de Janeiro, em 2008. Gabeira acabou derrotado pelo atual prefeito, Eduardo Paes, do PMDB. O parlamentar verde, contudo, deverá contratá-la outra vez, desta feita para a campanha ao governo estadual. Por enquanto, a Loops se dedicará à captação de doações e ao monitoramento de informações divulgadas na internet sobre Serra, sobretudo, às que circulam no ambiente das redes sociais. A empresa não terá plena autonomia na campanha tucana. Estará subordinada à agência de publicidade digital Sinc, do empresário paulista Sérgio Caruso, ligado ao publicitário José Roberto Vieira da Costa, o Bob, homem de confiança do ex-governador. O nome de Caruso foi avalizado pelo ex-deputado do PSDB e atual presidente da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), Márcio Fortes, um dos responsáveis pela arrecadação de fundos no comitê serrista.

O PSDB ainda mantém outras frentes na internet. Participam da tropa virtual as empresas Knowtec e Talk Interactive. A primeira, com sede em Florianópolis, tem uma longa lista de serviços prestados ao antigo PFL, atual DEM, por meio de uma ligação histórica com o ex-senador Jorge Bornhausen. Em Brasília, tem como cliente a Confederação Nacional de Agricultura, presidida pela senadora Kátia Abreu. Quando o PFL mudou de nome em 2007, o novo portal do partido na internet foi montado pela Knowtec.

As duas empresas são administradas pelo mesmo executivo, o engenheiro Luiz Alberto Ferla. Jovem e atual conselheiro político da Juventude DEM, Ferla está à frente do Instituto de Estudos Avançados (IEA) de Florianópolis, ONG dona de um contrato de 4,6 milhões de reais com a prefeitura de São Paulo assinado sem licitação. O contrato prevê uma consultoria voltada à reformulação do portal de notícias da prefeitura paulistana, obra que, no fim das contas, saiu por cerca de 500 mil reais. Após o contrato vir a público, o prefeito Gilberto Kassab decidiu cancelá-lo.

A Knowtec foi a primeira empresa brasileira a ir aos Estados Unidos, no ano passado, em nome dos tucanos, para tentar contratar os marqueteiros virtuais que fizeram sucesso na campanha do presidente democrata Barack Obama. Joe Rospars, da Blue State Digital, e Scott Goodstein, da Revolution Messaging, acabaram, porém, por fazer uma opção ideológica. Preferiram negociar com a Pepper, de Brasília, para então fechar um contrato de consultoria para o PT. Alegaram não trabalhar em campanhas de partidos conservadores. Desde então, a dupla tem aparecido na capital federal para opinar na estrutura de internet da candidatura petista. Em 2008, Rospars e Goodstein conseguiram que Obama arrecadasse, via internet, 750 milhões de dólares, por meio de 31 milhões de doadores (93% doaram até cem dólares).

Tudo indica que os marqueteiros de Obama se livraram de uma fria. A Knowtec está entre as companhias de tecnologia de informática investigadas pelo Ministério Público Federal no escândalo de corrupção do Distrito Federal. Em 1° de outubro de 2008, quando ainda era o orgulho do DEM e cotado para vice na chapa de Serra, o ex-governador José Roberto Arruda assinou com a Knowtec, via Secretaria de Comunicação Social, um contrato de 8,7 milhões de reais. A função da empresa era cuidar do portal de notícias do governo.

Os responsáveis pelo contrato foram os jornalistas Weligton Moraes e Omésio Pontes, assessores diretos de Arruda na área de Comunicação. A dupla foi flagrada alegremente no festival de propinas filmado pelo delator Durval Barbosa. Moraes, chefe do esquema de publicidade do governo distrital, foi preso por participar da tentativa de suborno de uma testemunha do caso. Ficou 60 dias no presidio da Papuda, até ser solto recentemente. Pode ser o próximo a fechar acordo de delação premiada com a Polícia Federal.

De acordo com documentos levantados por CartaCapital no sistema de acompanhamento de gastos do Distrito Federal, apesar de o contrato ter sido de 8,7 milhões de reais, a Knowtec já embolsou 12,6 milhões. Como o prazo final do contrato é somente em 1° de outubro de 2010, é possível que a empresa ainda receba mais dinheiro nos próximos seis meses. Segundo dados do Siggo, há ao menos uma nota de empenho ainda pendente, no valor de 700 mil reais.

Loops, Sinc, Knowtec e Talk Interactive formam a parte visível da estratégia de campanha virtual do PSDB, mas há um fator invisível que, antes mesmo de ter se tornado efetivo, virou um problema. E atende pelo nome de Eduardo Graeff. Atual tesoureiro nacional do PSDB, Graeff é um tucano intimamente ligado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem foi secretário-geral no Palácio do Planalto e para quem, até hoje, redige discursos e artigos. Também é muito ligado a Eduardo Jorge, a quem sucedeu na Secretaria-Geral da Presidência. Os dois estão na origem da desastrosa reunião de apoio político, realizada no apartamento de FHC, em março, entre o ex-presidente e o ex-governador Joaquim Roriz, causa de grande constrangimento na campanha de Serra.

No ano passado, Graeff ficou responsável pela montagem de um núcleo interno com vistas a elaborar um projeto de campanha virtual para as eleições de 2010. O tesoureiro foi escolhido por ser espécie de guru da web no ninho tucano, graças a um site mantido por ele, desde 2003, o “eagora”, que tanto pode ser interpretado como “Ágora eletrônica” como pelo sentido da pergunta “e agora?”, segundo informações da página na internet.

Graeff organizou um grupo de tuiteiros e blogueiros para inserir mensagens na rede social da internet, inicialmente com conteúdo partidário a favor da candidatura de Serra. A realidade, no entanto, tem sido outra. Em vez de militantes tucanos formais, a rede de Graeff virou um ninho de brucutus que preferem palavrões, baixarias e frases feitas a qualquer tipo de debate civilizado. O objetivo dessa turma é espalhar insultos ou replicar mentiras na rede mundial de computadores. Não que do lado petista não prolifere um pessoal do mesmo nível a inundar a área de comentários de portais e blogs com a mesma falta de criatividade e torpeza. Termos como “tucanalha” ou absurdas teses conspiratórias fazem sucesso entre essa esquerda demente. Mas nada se compara, até agora, à ação orquestrada do lado da oposição.

Em consequência dessa estratégia, a assessoria jurídica de Serra o teria aconselhado a se afastar de Graeff e impedir que o nome do ex-secretário seja associado, organicamente, à campanha presidencial.

Ao menos um site ligado ao PSDB, replicado no Twitter, é assumidamente voltado para desqualificar o PT, o governo do presidente Lula e a candidatura de Dilma Rousseff. Trata-se do “Gente que mente” , mantido, segundo a direção do PSDB, por “simpatizantes” do partido. Na verdade, o site é criação de Cila Schulman, ex-secretária de Comunicação Social do governo do Paraná durante as gestões Jaime Lerner (DEM), entre 1994 e 2002. Cila trabalhou ainda na campanha de Kassab e presta serviços à presidência nacional do DEM. É filha de Maurício Schulman, ex-presidente do extinto Banco Nacional de Habitação (BNH) durante o governo do general Ernesto Geisel (1974-1979), e último presidente do Bamerindus, banco falido em 1994 e incorporado ao HSBC.

Na equipe do PT, coube a Branco elaborar uma rede de comunicação virtual tanto para controlar conteúdo como para neutralizar a ação de trogloditas e hackers. Para se ter uma ideia, apenas nos três primeiros dias de funcionamento do site da presidenciável petista, lançado na rede na segunda-feira 19, foram registrados 7 mil ataques de hackers, sem sucesso, baseados em um servidor registrado na Alemanha — expediente clássico da guerrilha virtual. Por enquanto, ainda não é possível identificá-los, mas os petistas registraram os IPs (identificadores dos computadores usados).

Uma semana antes, o site do PT havia sido invadido, “pichado” com mensagens pró-Serra e reprogramado de modo a direcionar os usuários para o site do PSDB. Em seguida, foi a vez da página do PMDB. Acusados pelos petistas de terrorismo virtual, os tucanos contra-atacaram com um pedido à Polícia Federal para investigar o caso e deixar o assunto em pratos limpos. Os tucanos atribuem aos petistas a estratégia de se fazerem de vítimas e colocar a culpa nos adversários.

Um dos sites clássicos utilizados contra a pré-candidata do PT é o “Porra Petralhas”, repleto de baixarias, mas focado, em comum a outras páginas do gênero, em colocar em Dilma Rousseff a pecha de “terrorista” e “inexperiente”, coincidentemente, duas teclas sistematicamente repetidas pela mídia nacional. O site não tem autor conhecido. Também no Twitter, o “Porra Petralhas” atua de forma massiva, sempre com xingamentos e acusações. A foto utilizada no perfil insinua um beijo na boca entre Dilma e Hugo Chávez, presidente da Venezuela, dentro de uma moldura de coração. Dois outros perfis de microblog, “Dilma Hussein” e o conhecido “Gente que Mente”, ajudam a desqualificar a candidata nas redes sociais. Um “retuíta” o outro, como se diz no jargão da internet.

Procurado por CartaCapital, Graeff mandou dizer que não vai se manifestar sobre o assunto. De acordo com Carlos Iberê, assessor de imprensa do PSDB, o ex-secretário participou apenas da formação do núcleo interno que discutiu a questão da campanha da internet e agora se dedica exclusivamente à função de tesoureiro. Cila Schulman não foi encontrada. A assessoria de Luiz Alberto Ferla informou não saber de “nada oficial” a respeito dos contratos ou do papel da empresa na campanha.

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domingo, 25 de abril de 2010

Inserção do Brasil e da América do Sul

No momento em que o demotucano José Serra ataca o Mercosul e a integração latino-americana, reproduzo artigo do professor José Luis Fiori, publicado no sítio Carta Maior com o título “notas para uma reflexão sobre a inserção internacional do Brasil e da América do Sul na segunda década do século XXI”:

1. Brasil e América do Sul: história e conjuntura

i. As guerras e disputas políticas e territoriais, durante a formação dos estados sul-americanos, no século XIX, não produziram as mesmas conseqüências sistêmicas - políticas e econômicas - das guerras de centralização do poder e de formação dos estados e das economias nacionais européias. E mesmo no século XX, não se consolidou no continente sul-americano um sistema integrado e competitivo, de estados e economias nacionais, como ocorreu na Ásia, depois da sua descolonização. Por isto, nunca existiu na América do Sul uma disputa hegemônica, entre os seus próprios estados e economias nacionais, e nenhum dos seus estados jamais disputou a hegemonia continental com as grandes potências.

De fato, desde sua independência, o continente sul-americano viveu sob a tutela anglo-saxônica: primeiro, da Grã Bretanha, até o fim do século XIX, e depois, dos Estados Unidos, até o início do século XXI. Como conseqüência, os estados latino-americanos nunca ocuparam posição importante nas grandes disputas geopolíticas do sistema mundial, e funcionaram, durante todo o século XIX, como zona de experimentação do "imperialismo de livre comércio" da Grã Bretanha. No século XX, e em particular depois da 2ª. Guerra Mundial, quase todos os estados sul-americanos alinharam sua política externa com os Estados Unidos, durante a Guerra Fria, e aderiram com graus diferentes de sucesso, às políticas econômicas desenvolvimentistas, apoiada pelos Estados Unidos, até a década de 1970. Depois do fim da Guerra Fria, durante a década de 1990, de novo, a maioria dos governos da região voltaram a se alinhar ao lado da política externa e da política econômica preconizada pelos EUA e seu projeto de "globalização liberal".

ii. No início do século XXI, entretanto, a situação política do continente mudou, com a vitória - em quase todos os países da América do Sul – de partidos e coalizões políticas nacionalistas, desenvolvimentistas e socialistas, que mudaram o rumo político-ideológico do continente durante a primeira década do século. No início do período, quase todos os novos governos de esquerda mantiveram a política macroeconômica ortodoxa dos neoliberais da década de 90, e só aos poucos foram mudando, em alguns casos, o rumo mais amplo de sua política econômica, sem conseguir alterar a estrutura e o modelo tradicional de inserção internacional da economia continental.

Assim mesmo, todos estes novos governos se posicionaram ideologicamente contra o neoliberalismo da década anterior, e mudaram sua política externa, apoiando a integração político-econômica da América do Sul, e criticando intervencionismo norte-americano no continente. Este giro político à esquerda ocorreu de forma simultânea, em quase todo o continente, e coincidiu com a mudança do governo e da política externa americana, com a nova administração republicana de George Bush, que engavetou, na prática, o globalismo econômico liberal da administração Clinton e o seu projeto da ALCA, para as Américas.

Este giro à esquerda coincidiu também com um novo ciclo de expansão da economia mundial, que se prolongou até 2008, e permitiu a retomada do crescimento, alto e generalizado, de todas as economias nacionais da região. A grande novidade foi a participação da China, que se transformou na grande compradora das exportações sul-americanas de minérios, energia e grãos. Neste período também, os altos preços das commodities fortaleceram a capacidade fiscal dos estados e ajudaram a financiar várias iniciativas do projeto de integração da infra-estrutura energética e de transportes do continente. Além disto, permitiram a acumulação de reservas e a diminuição da fragilidade externa do continente, aumentando o poder de resistência e negociação da região.

iii. Durante esta primeira década do século, destacou-se dentro do continente a rápida mudança da posição política e econômica do Brasil, que retomou – aos poucos e de forma ainda irregular - a trilha do crescimento e aumentou sua participação no produto e no comércio dentro e fora da América do Sul. Ao mesmo tempo, o Brasil assumiu a liderança do processo de integração do continente e expandiu suas relações comerciais e financeiras com outras regiões do mundo, projetando sua presença diplomática em várias instâncias e fóruns multinacionais de negociação, dentro e fora das Nações Unidas. E hoje o Brasil já tem praticamente assegurada, até o fim da próxima década, uma posição entre as cinco maiores economias do mundo, quando deverá ser provavelmente o maior produtor mundial de alimentos e um dos maiores produtores e exportadores mundiais de petróleo, além de seguir controlando a maior parte dos recursos hídricos e da biodiversidade da Amazônia.

Neste movimento duplo, em direção à América do Sul e aos demais continentes, em zonas de expansão e conflito internacional, o Brasil tem se apoiado, aliado e competido, a um só tempo, com outros estados e economias nacionais que também estão se expandindo rapidamente e reivindicando uma maior participação nas decisões do núcleo central de poder do sistema mundial, entre os quais se destacam, sobretudo, a China e a Índia.

iv. Agora bem, depois de quase uma década convergente, a crise financeira de 2008 provocou uma queda abrupta do crescimento regional e uma desaceleração do projeto integração econômica do continente sul-americano. E quase ao mesmo tempo, ainda na administração George Bush, os Estados Unidos abandonaram sua passividade no continente, e decidiram reativar sua IVª Frota Naval responsável pelo controle marítimo do Atlântico Sul. E logo em seguida, já na administração democrata do presidente Barack Obama, os Estados Unidos assinaram o acordo militar com a Colômbia que lhe deu acesso a sete bases militares dentro do território colombiano, e com isto fragilizou o processo de integração política, e os planos de defesa conjunta e autônoma do continente.

Logo em seguida, os EUA tiveram uma participação ativa na crise política de Honduras, e unilateral no terremoto que destruiu o Haiti, demonstrando vontade e decisão de retomar ou reafirmar sua presença e sua supremacia dentro do "hemisfério ocidental". Por outro lado, no início de 2010, o Chile interrompeu a sucessão de vitórias eleitorais da esquerda, e elegeu um presidente de centro-direita, que reforçará a aliança estratégica com os Estados Unidos do "eixo anti-bolivariano", na Região Andina. E, com isto, deverá aumentar as divisões que sempre facilitaram – através da história - a tutela externa do continente. De qualquer maneira, a configuração completa deste novo cenário político ainda dependerá das eleições presidenciais no Brasil e Colômbia, em 2010, e na Argentina e Peru, em 2011.

v. Neste momento de incerteza política, uma discussão sobre a inserção do Brasil e da América do Sul, no cenário internacional, na segunda década do século XXI, tem que partir de uma definição do que seja uma "inserção soberana". Com relação ao que seja uma política externa soberana, nosso ponto de partida é muito simples: um estado e um governo que se proponham expandir o seu poder internacional, inevitavelmente, terão que questionar e lutar contra a distribuição prévia do poder, dentro do próprio sistema. Como condição preliminar, eles terão que ter sua própria teoria e sua própria leitura dos fatos, dos conflitos, e das assimetrias e disputas globais, e de cada um dos "tabuleiros" geopolíticos regionais ao redor do mundo.

Para poder estabelecer de forma sustentada e autônoma, os seus próprios objetivos estratégicos, diferentes das potencias dominantes, e conseqüentes com sua intenção de mudar a distribuição do poder e da hierarquia mundial. Por isto, não é possível conceber uma política externa soberana e inovadora, que não questione e enfrente os consensos éticos e estratégicos das potencias que controlam o núcleo central do poder mundial. Neste campo, não estão excluídas as convergências e as alianças táticas, e temporárias, com uma ou várias das antigas potencias dominantes. Mas toda política externa soberana e inovadora, sabe que está e estará em permanente competição com estas potencias, e que terá que assumir as suas divergências, com a visão de mundo, com os diagnósticos e com as estratégias defendidas por elas, seja no espaço regional, seja a escala global. Isto não é uma veleidade irrelevante, nem é o fruto de uma animosidade ideológica, é uma conseqüência de uma "lei" essencial do sistema inter-estatal, e de uma determinação que é em grande medida geográfica, porque o objetivo do "estado questionador", é ampliar sempre e cada vez mais, a sua capacidade de decisão e iniciativa estratégica autônoma, no campo político, econômico e militar, para poder difundir melhor e aumentar a eficácia de suas idéias e propostas de mudança do sistema mundial.

vi. Do lado oposto, fica mais fácil de definir e identificar as características essenciais de uma política externa conservadora ou subalterna. Em primeiro lugar, os conservadores não se propõem mudar a distribuição do poder internacional, nem questionam a hierarquia do sistema mundial. Sua reação frente aos desafios colocados pela agenda internacional, é quase sempre empírica, isolada, e moralista. Os conservadores não têm uma teoria nem uma visão histórica própria do sistema internacional e dos seus acontecimentos conjunturais, e são partidários, em geral, de uma política externa de baixo teor, sem grandes iniciativas estratégicas nacionais, e com uma alta taxa de submissão aos valores, juízos, e decisões estratégicas das potencias dominantes. Por isto, consciente ou inconscientemente, os conservadores delegam a terceiros, uma parte da soberania decisória de sua política externa, e acabam assumindo, invariavelmente, uma posição subalterna dentro da política internacional.

2. Um balanço no final da primeira década do século XXI

Ao terminar a primeira década do século XXI, entre crise e guerras, é possível fazer um balanço preliminar da estratégia imperial americana, que nasceu da crise dos 70 e se aprofundou depois do fim da Guerra Fria:

i. O poder militar americano cresceu de forma contínua e se projetou sobre todo o mundo, mas a própria dinâmica contraditória da sua expansão, fortaleceu politicamente e "ressuscitou" militarmente, a Alemanha, a Rússia e o Japão, e contribuiu para o fortalecimento da China, Índia, Irã, Turquia, Brasil, países que disputam zonas de influência com os EUA, e participam da "corrida imperialista" que se explicitou nesta primeira década, e que deve se intensificar nos próximos anos. Os revezes políticos e militares dos EUA, na primeira década do século XXI desaceleraram o projeto imperial americano, mas ele não foi abandonado. Mas apesar disto, estes revezes criaram novas fraturas e divisões dentro dos EUA. E depois da Guerra do Iraque, está em curso um realinhamento interno de forças e posições, como ocorreu também na década de 70, e não é improvável que surja daí uma nova estratégia internacional. Mas estes processos de realinhamento interno do establishment americano costumam ser lentos, e os seus resultados finais dependerão ainda da própria luta interna e da evolução dos conflitos dos EUA com os seus principais concorrentes nas várias regiões do mundo. Porque apesar dos seus revezes recentes, e de suas dificuldades econômicas, os EUA seguem sendo o único player global, que está presente e disputa posições em cada uma, e em todas as regiões do mundo.

De qualquer forma, do nosso ponto de vista, não há possibilidade que os EUA abdiquem do seu poder, ou renunciem à expandi-lo permanentemente. Pelo contrário, deverão seguir aumentando sua capacidade militar em escala geométrica, numa velocidade que aumentará na medida em que se aproxime a sua ultrapassagem econômica pela China. Qualquer mudança mais substantiva, nesta correlação de forças, só ocorrerá com o aumento da capacidade e do poder regional e global das novas potências que estão se projetando neste início do século XXI.

ii. Por outro lado, do ponto de vista econômico, também se pode dizer que a resposta americana à crise de Bretton Woods acabou se transformando numa estratégia, que levou à recuperação e à expansão contínua da economia americana, cada vez mais associada ao crescimento da economia chinesa, sobretudo a partir de 1990. Este novo eixo dinâmico da economia mundial, por sua vez, provocou uma mudança estrutural da economia mundial, com o deslocamento para a Ásia, do seu principal centro de produção e acumulação de capital, e com o surgimento de uma economia nacional – a chinesa - com um poder gravitacional, sobre o conjunto da economia capitalista, equivalente ao dos Estados Unidos. Esta nova configuração estrutural, e sua expansão contínua, explica o aumento da "pressão competitiva", dentro da economia mundial, na primeira década do século XXI.

iii. Por isto, do nosso ponto de vista, esta pressão econômica, somada à competição geopolítica, e à corrida imperialista que está em curso, são manifestações essenciais, e são ao mesmo tempo o anuncio de que o "sistema inter-estatal capitalista" está atravessando uma grande "explosão expansiva". Nestes momentos, é impossível prever com precisão o futuro. O o único que se pode dizer, é que são transformações seculares dentro de um mesmo universo, que seguirá se expandindo, enquanto for constituído e liderado por "estados-economias nacionais" capitalistas, complementares e competitivas.

iv. Assim mesmo, no horizonte de curto prazo, entretanto, o "núcleo duro" da competição geopolítica mundial deverá estar composto velos Estados Unidos, China e Rússia. Três "estados continentais", que detém um quarto da superfície da terra, e mais de um terço da população mundial. Nesta nova "geopolítica das nações", a União Européia terá um papel secundário, ao lado dos Estados Unidos, enquanto não dispuser de um poder unificado, com capacidade de iniciativa estratégica autônoma. E a Índia, Irã, Brasil, Turquia, África do Sul, e talvez a Indonésia, deverão aumentar o seu poder regional, em escalas diferentes, mas não serão poderes globais, ainda por muito tempo. Na segunda década do século XXI, a nova "corrida imperialista" provocará um aumento dos conflitos localizados, entre os principais estados e economias do sistema, mas ainda não está no horizonte uma nova "guerra hegemônica".

Por outro lado, do ponto de vista econômico, as novas crises financeiras que seguirão não deverão interromper o processo em curso de deslocamento do centro da acumulação capitalista, para a Ásia, e para algumas outras economias nacionais, dispersas pelo mundo, entre as quais, o Brasil e a Rússia, e em menor escala, a África do Sul, a Turquia, a Indonésia e o próprio Irã. Ou seja, no médio prazo, deverá ocorrer uma convergência assintótica, envolvendo numa mesma competição geopolítica e econômica, quase os mesmos estados e economias que deverão alcançar as primeiras posições na hierarquia internacional do poder e da riqueza mundial, ao lado dos Estados Unidos e da velha Europa.

v. Por último, para avaliar a importância das próximas crises financeiras e políticas que deverão se manifestar e ocorrer na próxima década, é importante compreender que: em primeiro lugar, quase todas as grandes crises do sistema mundial foram provocadas até hoje pela própria potência hegemônica; em segundo lugar, que estas crises são provocadas quase sempre pela expansão vitoriosa (e não pelo declínio) das potências capazes de atropelar as regras e instituições que eles mesmos criaram, num momento anterior, e que depois se transformam num obstáculo no caminho da sua própria expansão; e em terceiro lugar, que o sucesso econômico e a expansão da potência líder é sempre uma força e um impulso fundamental para o fortalecimento de todos os demais estados e economias que se proponham concorrer ou "substituir" a potência hegemônica. Mas o que é mais esdrúxulo é que, as crises provocadas pela "exuberância expansiva" da potência líder, quase sempre afetam, de forma mais perversa e destrutiva, aos "concorrentes" mais do que ao próprio líder ou hegemon, que costuma se recuperar de forma mais rápida e poderosa do que os demais.

Seja como for, é dentro deste contexto geopolítico e econômico, que se pode e deve pensar as alternativas de mais longo prazo, de inserção internacional soberana da América do Sul e do Brasil, na segunda década do Século XXI.

3. Brasil: possibilidades e escolhas

i. Brasil é - hoje - o segundo player mais importante, dentro do tabuleiro geopolítico da América do Sul ,e já tem tido uma importância maior nos desdobramentos político-ideológicos da América Central e do Caribe. Depois de assumir a liderança militar da missão de paz das Nações Unidas no Haiti, o Brasil tomou uma posição decidida a favor da reintegração de Cuba na comunidade americana e tem defendido, em todos os foros internacionais, o fim do bloqueio econômico norte-americano à Cuba. Ao mesmo tempo, tem assumido sua influência políitico-ideológica sobre alguns novos governos de esquerda da América Central, e tomou uma posição rápida e dura frente ao golpe de estado militar de Honduras, em junho de 2009, e frente à crise provocada pelo terremoto do Haiti, no início de 2010.

Mas apesar do seu maior ativismo diplomático, o Brasil ainda não tem capacidade de projetar seu poder afirmativo ou de veto, à região centro-americana, nem tem nenhuma disposição de competir ou questionar o poder americano no seu "mar interior caribenho". Mais ao sul, entretanto, o Brasil tem exercido uma política cada vez mais ativa, mesmo quando conviva com uma desaceleração temporário do processo de integração econômica do continente. Com a criação da Unasul e do Conselho Sulamericano de Defesa, o Brasil se distanciou e esvaziou o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca e a Junta Interamericana de Defesa que sempre contaram com o aval norte-americano. Além disto, nesta últimos dois anos, o Brasil teve uma participação ativa e pacificadora nos conflitos entre Equador e Colômbia e entre Colômbia e Venezuela, na conflito interno da Bolívia, quando se transformou numa ameaça de guerra civil e de secessão territorial.

ii. De qualquer forma, uma coisa é certa: o futuro do projeto sul-americano dependerá cada vez mais das escolhas brasileiras e da forma que o Brasil desenvolva suas relações com os Estados Unidos. Do ponto de vista econômico, a pressão dos mercados internacionais e as novas descobertas do petróleo da camada do pré-sal também estão oferecendo para o Brasil a possibilidade de se transformar numa economia exportadora de alta intensidade, uma espécie de "periferia de luxo" dos grandes potências compradoras do mundo, como foram no seu devido tempo, a Austrália e a Argentina, entre outros. Mas existe a possibilidade do Brasil escolher outro caminho que combine seu potencial exportador, com uma estrutura produtiva industrial associada e liderada por uma economia mais dinâmica, como é o caso contemporâneo do Canadá, por exemplo.

Além disto, neste momento, o Brasil também dispõe de uma terceira alternativa, absolutamente nova para o país, e que aponta de certa maneira, para a reprodução da estrutura produtiva da economia norte-americana: com uma indústria de alto valor agregado, e uma enorme capacidade de produção e exportação de alimentos e outras commodities de alta produtividade, incluindo o petróleo, no caso brasileiro. Por outro lado, no campo político, depois da hegemonia das idéias neoliberais e privatistas, e de uma coalizão de poder partidária do "cosmopolitismo subserviente", no campo internacional, está se consolidando no Brasil um novo consenso desenvolvimentista, democrático e popular que transcende cada vez mais as siglas partidárias. As perspectivas futuras desta nova coalizão, entretanto, dependerão da estratégia internacional dos próximos governos brasileiros.

O Brasil pode se transformar num "aliado estratégico" dos Estados Unidos, da Grã Bretanha e da França, com direito de acesso à uma parte de sua tecnologia de ponta, como no caso do Japão ou mesmo de Israel, que construiu seu arsenal atômico com a ajuda da França. Mas o Brasil também pode escolher um caminho próprio de afirmação internacional. Mas, se o Brasil quiser mudar de posição e de estratégia, dentro das "regras" do sistema mundial, terá que desenvolver um trabalho extremamente complexo de administração contínua das relações de complementaridade e competição com os Estados Unidos, e com as outras grandes potências, a partir dos seus próprios interesses econômicos e geopolíticos. Numa disputa prolongada pela hegemonia da América do Sul, como se fosse uma "luta oriental" com os Estados Unidos. Caminhando através de uma trilha muito estreita e durante um tempo que pode se prolongar por várias décadas. Além isto, para liderar a integração sul-americana no mundo, o Brasil terá que inventar uma nova forma de expansão econômica e política continental e mundial, sem "destino manifesto" nem missão missionária, e sem o imperialismo bélico das duas grandes potências anglo-saxônicas.

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