Nesta sexta-feira, 7 de agosto, ocorrerá o lançamento dos livros “Comunicação pública no Brasil: uma exigência democrática” e “A ditadura da mídia”, ambos publicados pela Coleção Vermelho em parceria com a Editora Anita Garibaldi. Antes do coquetel, haverá o debate “Como enfrentar o PIG?”, com os jornalistas Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada, e Laurindo Lalo Leal Filho, ouvidor da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), responsável pela produção da TV Brasil. Todos estão convidados para tomar um vinho e participar das atividades. O evento acontece na Rua Rego Freitas, 192, no centro da capital paulista (próximo ao Metrô República).
Na semana do lançamento, o jornalista Flávio Aguiar deu uma baita força ao publicar, na Carta Maior, a resenha do livro “A ditadura da mídia”. Um dos mais talentosos escritores brasileiros, ele já ganhou três vezes o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. No sombrio período da ditadura, Flávio militou na imprensa alternativa, sendo editor de cultura do jornal Movimento, e foi professor de literatura brasileira na USP de 1973 a 2006. Atualmente, ele é correspondente internacional em Berlim, Alemanha, da Revista do Brasil e colaborador da Carta Maior, na qual já foi editor-chefe. Agradeço sua generosa resenha e reproduzo-a abaixo:
O fetichismo da midiocracia
Lançado alguns meses antes da I Conferência Nacional de Comunicação, o livro "A ditadura da mídia" (São Paulo, Editora Anita Garibaldi/Associação Vermelho, 2009) traz várias reflexões e propostas que vão desembocar na necessidade e na oportunidade daquele evento. Depois de fazer um levantamento histórico sobre a concentração da mídia voltada para os interesses e o mundo de valores das classes dominantes, e de seu poder de fogo na mão de poucas empresas e/ou oligarquias familiares (caso particular do Brasil), e de muitas de suas intervenções sempre desfavoráveis às causas populares, o autor, Altamiro Borges, apresenta e detalha uma lista de propostas a serem consideradas pela Conferência:
1) Fortalecer a radiodifusão pública;
2) Revisar os critérios das concessões;
3) Rever os critérios da publicidade oficial;
4) Estimular (ao invés de reprimir) a radiodifusão comunitária;
5) Investir na inclusão digital.
6) Definir um novo marco regulatório para as comunicações, coibindo a monopolização, a desnacionalização e fixando “políticas públicas que garantam o acesso da população aos avanços tecnológicos”.
O autor assinala que a última “iniciativa mais ousada neste campo [da radiodifusão pública] ocorreu no governo de Getúlio Vargas com a criação da Rádio Nacional, que teve expressiva audiência”. Sublinha também que a criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), “que gerencia a TV Brasil, oito emissoras de rádio e uma agência noticiosa, sinalizou uma mudança de postura do governo [Lula]”. Saindo de sua timidez anterior em enfrentar a mídia oligárquica, depois do bombardeio que sofreu para impedir a reeleição do presidente em 2006, o governo estaria querendo se distanciar desses “aliados” de antanho que ficam permanentemente querendo fazer furos no casco do seu barco.
Mídia se disfarça como “transparente”
Um dos capítulos mais interessantes do livro é o IV, “De Getúlio a Lula, histórias da manipulação da imprensa”, em que se vê o poder da mídia oligárquica ir ampliando seu alcance e sua possibilidade de manipulação política através das novas tecnologias que vão surgindo, até o ápice da tentativa concertada em diferentes veículos de reverter a esperada reeleição do presidente em 2006, em manobra denunciada, como aponta o professor Venício A. de Lima no livro "A mídia nas eleições de 2006" (São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2007. Pág. 17), primeiro nesta Carta Maior, com as reportagens de Bia Barbosa, e na seqüência pelas matérias de Raimundo Pereira em Carta Capital.
No prefácio de "A ditadura da mídia" diz o professor Lima que “um dos principais obstáculos à democratização da mídia tem sido a dificuldade histórica que grande parte da população experimenta para compreender a mídia como um poder e a comunicação como um direito... O poder da grande mídia no mundo contemporâneo tem se caracterizado exatamente por ela estar de tal maneira imbricada no ambiente social que consegue ‘passar desapercebida’, naturalizada, como se não existisse”. Ou seja, a grande mídia se disfarça como “transparente”, seja no sentido de pretender reportar informações de modo “objetivo”, “neutro”, seja no sentido de pretender representar o “interesse público”.
O caráter camaleônico da informação
A esse caráter camaleônico eu acrescento outro, que é a contumaz incapacidade de se ver a informação como uma mercadoria produzida, capaz de agregar outras, através da publicidade, de induzir ao consumo de ainda outras, e de agregar serviços e/ou favores sob a forma de benesses do Estado para si mesma. O público em geral, e as esquerdas não se diferenciam nesse particular, pode chegar a ter uma percepção dos veículos da mídia – o jornal ou revista individualizado em papel, o aparato televisivo ou eletrônico (a aparelhagem de produção, transmissão e recepção), etc., como mercadorias, mas não a própria informação. É claro que é muito difícil, porque a informação não é um “objeto”, ela é antes um fluxo contido em pequenas partículas, sejam as letras ou formas da impressão, as palavras e cores digitalizadas da transmissão áudio-visual, etc. Mas sua produção, circulação e consumo prendem-se às regras de um mercado peculiar, mas ainda assim mercado, onde os produtores querem aparentar estar sempre a serviço dos interesses dos consumidores, e não dos próprios. Mais ou menos como na produção de carros, sabonetes ou chicletes.
Cria-se assim um fetichismo peculiar da mercadoria-informação, em que ela brilha como se tivesse vida própria, fosse um valor-em-si e não de troca, a tal ponto que a ausência do objeto-jornal, por exemplo, pode provocar uma crise de abstinência (seja o jornal prezado, detestado, desprezado ou tudo ao mesmo tempo) tão grave no leitor quanto a falta de uma droga para o nela viciado. A mercadoria-informação oculta assim a sua própria natureza de mercadoria, passando a idéia de que ela tem apenas um valor-de-uso, por ser uma “reprodução” fidedigna de uma “realidade”, mesmo quando esta é apenas a opinião de articulistas particulares, pois na grande mídia estes sempre se apresentam falando em nome de vetores semânticos (mais simplesmente sujeitos/objetos) abstratos, como “o eleitor”, “o consumidor”, “o leitor”, e cada vez mais raramente “o cidadão”, palavra que foi remetida para o fundo da gaveta.
Uma leitura interessante e interessada
O livro de Altamiro é de leitura interessante e obviamente interessada. Tenho apenas uma observação de natureza crítica (afinal, esta também é do ofício do resenhista): com freqüência ele se refere aos Estados Unidos como “o império do mal”. É claro que a expressão tem o sentido irônico de glosar a expressão “eixo do mal”, consagrada pelo governo Bush em relação à Coréia do Norte, Irã e Iraque. Mas sua reiterada repetição lhe dá foro de conceito, e assim deixa ambiguamente no ar a sugestão (certamente involuntária) de que possa haver um “império do bem”.
Por fim, ele também deixa no ar uma pergunta. A união estratégica de interesses da mídia oligárquica no Brasil, por sobre sua concorrência no dia a dia, é cada vez mais sólida, estreita e manifesta. Entretanto, apesar dos inúmeros fóruns, encontros, declarações, as esquerdas e suas mídias alternativas estão ainda longe – como sempre estiveram historicamente – de se articular em frentes comuns de atuação e sinergia. Este é uma outra questão que, mesmo não estando na pauta explícita da I Conferência, vai determinar seus resultados conforme nela se avançar ou estagnar.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Confecom sofre pressão dos barões da mídia
A realização da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) continua encalacrada. Num visível jogo de chantagem, os barões da mídia ameaçam deixar este fórum democrático de debate – o que só confirma que eles não têm qualquer compromisso com a tal “liberdade de expressão” – para impor suas propostas de temário e delegados. Na semana passada, eles se reuniram com os ministros Hélio Costa (Comunicação), Franklin Martins (Secretaria de Comunicação Social) e Luis Dulci (Secretaria Geral da Presidência). Mas a reunião novamente não deu em nada e o regimento da Confecom continua engavetado, o que prejudica o próprio calendário do evento.
Segundo a jornalista Mariana Mazza, a agência Tela Viva, “a falta de um desfecho conclusivo na reunião se deu ponta de um apelo feito pelo governo. A maior parte das associações empresariais estava disposta a deixar a comissão organizadora da conferência, mas os ministros pediram mais uma semana para que elas repensassem a sua decisão. A contraproposta do governo para tentar manter as empresas é a possibilidade da criação de um ‘quórum qualificado’ para a deliberação dos assuntos mais polêmicos”. Outra exigência, a da garantia de 40% dos delegados do evento para os barões da mídia, também parece ter sido acolhida nestas negociações de bastidores.
Risco de atentado à democracia
Esta cedência do governo, se confirmada, seria um atentado à democracia na Confecom. Afinal, os empresários não representam 40% da sociedade brasileira. Se assim fosse, não haveria motivo para lutar contra a concentração monopolista do setor, na qual meia-dúzia de famílias controla a quase totalidade dos meios de comunicação no país. Já o “quórum qualificado”, com a exigência de 60% dos votos, dificultaria a aprovação de qualquer proposta mais avançada de mudanças no setor e inviabilizaria a adoção de políticas públicas para a democratização da mídia. Na prática, ao impor estas “exigências mínimas”, os barões da mídia querem sabotar e implodir a Confecom.
Ainda segundo Mariana Mazza, tamanha cedência ainda não garantiria a participação dos barões da mídia. “O aceno do governo não atende exatamente as demandas empresariais, que queriam ter algum tipo de veto sobre os temas que lhe são mais sensíveis”. Das oito entidades patronais representadas na comissão nacional organizadora da Confecom, seis estariam decididas a deixar o evento para não abonar suas resoluções. O interessante no seu relato é que cresce a divisão no meio empresarial e também no próprio governo, o que indica que o jogo ainda não está decidido.
Contradições entre os empresários
A contradição entre os empresários não é nova. Algumas redes de televisão há muito questionam o descomunal poder da Rede Globo, que comanda com mão-de-ferro Associação Brasileira das Rádios e Televisões (Abert). Encabeçadas pela Rede Bandeirantes, estes “dissidentes” criaram a ABRA (Associação Brasileira de Radiodifusores) e não têm se comportado como apêndices da TV Globo nas discussões da Confecom. Junto com a Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), ela inclusive apresentou uma “pauta mínima” para participar do evento. “ABRA e Telebrasil estariam unidas para continuar negociando as demandas encaminhas ao governo por meio de uma carta entregue ao ministro Hélio Costa”, informa Mariana Mazza.
No interior do governo, o ministro Hélio Costa é o mais afoito em ceder às pressões da Abert – o que não é surpresa. Já o ministro Luis Dulci, numa entrevista à revista Caros Amigos, garantiu que a Confecom ocorrerá com ou sem a presença dos barões da mídia. “Se o setor empresarial se afastar, ela será feita com quem quiser, mas acho que isso não é bom para a conferência, nem para o próprio setor empresarial”. Para ele, a Confecom não perderá legitimidade com a possível sabotagem das empresas. Já o ministro Franklin Martins tenta fazer o meio de campo. Ele afirma que aceita mudanças no regimento “desde que não implique em direito de veto para ninguém”.
Segundo a jornalista Mariana Mazza, a agência Tela Viva, “a falta de um desfecho conclusivo na reunião se deu ponta de um apelo feito pelo governo. A maior parte das associações empresariais estava disposta a deixar a comissão organizadora da conferência, mas os ministros pediram mais uma semana para que elas repensassem a sua decisão. A contraproposta do governo para tentar manter as empresas é a possibilidade da criação de um ‘quórum qualificado’ para a deliberação dos assuntos mais polêmicos”. Outra exigência, a da garantia de 40% dos delegados do evento para os barões da mídia, também parece ter sido acolhida nestas negociações de bastidores.
Risco de atentado à democracia
Esta cedência do governo, se confirmada, seria um atentado à democracia na Confecom. Afinal, os empresários não representam 40% da sociedade brasileira. Se assim fosse, não haveria motivo para lutar contra a concentração monopolista do setor, na qual meia-dúzia de famílias controla a quase totalidade dos meios de comunicação no país. Já o “quórum qualificado”, com a exigência de 60% dos votos, dificultaria a aprovação de qualquer proposta mais avançada de mudanças no setor e inviabilizaria a adoção de políticas públicas para a democratização da mídia. Na prática, ao impor estas “exigências mínimas”, os barões da mídia querem sabotar e implodir a Confecom.
Ainda segundo Mariana Mazza, tamanha cedência ainda não garantiria a participação dos barões da mídia. “O aceno do governo não atende exatamente as demandas empresariais, que queriam ter algum tipo de veto sobre os temas que lhe são mais sensíveis”. Das oito entidades patronais representadas na comissão nacional organizadora da Confecom, seis estariam decididas a deixar o evento para não abonar suas resoluções. O interessante no seu relato é que cresce a divisão no meio empresarial e também no próprio governo, o que indica que o jogo ainda não está decidido.
Contradições entre os empresários
A contradição entre os empresários não é nova. Algumas redes de televisão há muito questionam o descomunal poder da Rede Globo, que comanda com mão-de-ferro Associação Brasileira das Rádios e Televisões (Abert). Encabeçadas pela Rede Bandeirantes, estes “dissidentes” criaram a ABRA (Associação Brasileira de Radiodifusores) e não têm se comportado como apêndices da TV Globo nas discussões da Confecom. Junto com a Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), ela inclusive apresentou uma “pauta mínima” para participar do evento. “ABRA e Telebrasil estariam unidas para continuar negociando as demandas encaminhas ao governo por meio de uma carta entregue ao ministro Hélio Costa”, informa Mariana Mazza.
No interior do governo, o ministro Hélio Costa é o mais afoito em ceder às pressões da Abert – o que não é surpresa. Já o ministro Luis Dulci, numa entrevista à revista Caros Amigos, garantiu que a Confecom ocorrerá com ou sem a presença dos barões da mídia. “Se o setor empresarial se afastar, ela será feita com quem quiser, mas acho que isso não é bom para a conferência, nem para o próprio setor empresarial”. Para ele, a Confecom não perderá legitimidade com a possível sabotagem das empresas. Já o ministro Franklin Martins tenta fazer o meio de campo. Ele afirma que aceita mudanças no regimento “desde que não implique em direito de veto para ninguém”.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Imprensa golpista: como enfrentar o PIG?
O jornalista Rodrigo Vianna, do blog Escrevinhador, publicou hoje um convite aos seus leitores para participarem do debate “Como enfrentar o PIG”, promovido pelo Portal Vermelho. Como sempre, seu texto é instigante e serve de alerta aos internautas. Reproduzo abaixo o convite:
O editorial de O Globo em 1964
Pretendo acompanhar, nesta sexta-feira (7 de agosto), o debate que o Portal Vermelho (ligado ao PCdoB) promove em São Paulo, a partir de 19 horas [Rua Rego Freitas, 192, próximo ao Metrô República]. O tema: “Como enfrentar o PIG - o Partido da Imprensa Golpista?”.
Os debatedores: os jornalistas Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada, e Laurindo Lalo Leal Filho, ouvidor da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) - além de Altamiro Borges, que dirige o Portal Vermelho. Na sequência, haverá o coquetel de lançamento dos livros “A ditadura da mídia”, escrito por Altamiro, e “Comunicação pública no Brasil: uma exigência democrática”, organizado por Renata Mielli.
Você acha exagero falar em “Imprensa Golpista?”. Então releia o que os jornais escreveram em 64, quando os militares derrubaram o presidente constitucional do Brasil, João Goulart. Só um aperitivo, de O Globo: “Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações políticas simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é de essencial: a democracia, a lei e a ordem”.
A confissão do jornal Estadão
Outros textos da Imprensa Golpista em 64 você podem ler aqui: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15896
Mas não é preciso ir tão longe: lembremos também a tentativa de fraudar a eleição de Brizola em 82, o ativismo da Globo para eleger Collor em 89, a tentativa de derrubar Lula em 2005... Num editorial recente, o Estadão reconheceu que ali (em 2005) a “oposição desperdiçou sua melhor oportunidade” (http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/o-aturdimento-do-psdb-estadao-jogou-a-toalha).
Raimundo Pereira, na histórica reportagem de CartaCapital em 2006, mostrou como a imprensa golpista atuou na última eleição para presidente. De forma mais discreta do que em 64, ou 89 - certamente. Mas as digitais são as mesmas de sempre. Por isso, é importante debater: como enfrentar o PIG?
O editorial de O Globo em 1964
Pretendo acompanhar, nesta sexta-feira (7 de agosto), o debate que o Portal Vermelho (ligado ao PCdoB) promove em São Paulo, a partir de 19 horas [Rua Rego Freitas, 192, próximo ao Metrô República]. O tema: “Como enfrentar o PIG - o Partido da Imprensa Golpista?”.
Os debatedores: os jornalistas Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada, e Laurindo Lalo Leal Filho, ouvidor da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) - além de Altamiro Borges, que dirige o Portal Vermelho. Na sequência, haverá o coquetel de lançamento dos livros “A ditadura da mídia”, escrito por Altamiro, e “Comunicação pública no Brasil: uma exigência democrática”, organizado por Renata Mielli.
Você acha exagero falar em “Imprensa Golpista?”. Então releia o que os jornais escreveram em 64, quando os militares derrubaram o presidente constitucional do Brasil, João Goulart. Só um aperitivo, de O Globo: “Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações políticas simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é de essencial: a democracia, a lei e a ordem”.
A confissão do jornal Estadão
Outros textos da Imprensa Golpista em 64 você podem ler aqui: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15896
Mas não é preciso ir tão longe: lembremos também a tentativa de fraudar a eleição de Brizola em 82, o ativismo da Globo para eleger Collor em 89, a tentativa de derrubar Lula em 2005... Num editorial recente, o Estadão reconheceu que ali (em 2005) a “oposição desperdiçou sua melhor oportunidade” (http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/o-aturdimento-do-psdb-estadao-jogou-a-toalha).
Raimundo Pereira, na histórica reportagem de CartaCapital em 2006, mostrou como a imprensa golpista atuou na última eleição para presidente. De forma mais discreta do que em 64, ou 89 - certamente. Mas as digitais são as mesmas de sempre. Por isso, é importante debater: como enfrentar o PIG?
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
A Sociedade de Amigas (os) da TV Brasil
Há algum tempo, o jornalista Beto Almeida, membro do conselho diretivo da Telesur, presidente da TV Cidade Livre de Brasília e ativo militante pela democratização da comunicação, insiste na original idéia da criação da “Sociedade dos Amigos da TV Brasil”. Para ele, o fortalecimento da rede pública é uma condição indispensável para se contrapor ao poder ditatorial da mídia privada concentrada e manipuladora. Mesmo com críticas à forma de gestão e ao conteúdo da TV Brasil, Beto Almeida não vacila em afirmar que os movimentos sociais e as forças progressistas devem se unir na defesa desta conquista da sociedade brasileira.
A sua proposta ganha caráter de urgência-urgentíssima com os recentes ataques desferidos pelos barões da mídia à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que administra a TV Brasil. Entre as “premissas” apresentadas pela poderosa Abert (Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão) para participar da Conferência Nacional de Comunicação está a arrogante proposta da “mínima interferência estatal” – num nítido recado contra os investimentos na rede pública. Os latifundiários da mídia, que se fantasiam de defensores da “liberdade de expressão”, não aceitam qualquer tipo de concorrência não-comercial. Exigem o monopólio da palavra e das imagens.
Censura da “ditabranda” da Folha
Esta ofensiva contra a rede pública ficou ainda mais explícita com o recente editorial da Folha de S.Paulo. O jornal da “ditabranda” e da falsa “ficha policial” da ministra Dilma Rousseff deu mais um tiro no pé e confirmou a total falsidade da sua recente peça publicitária, que fala em “pluralidade e diversidade”. O editorial, raivosamente intitulado “Tela Fria”, defende descaradamente o fim da TV Brasil. “Os vícios de origem e o retumbante fracasso de audiência recomendam que a TV seja fechada - antes que desperdice mais dinheiro do contribuinte”, esbraveja a famíglia Frias.
“Desperdício do dinheiro do contribuinte” ocorre quando o governo federal repassa milhões de reais em anúncios publicitários para veículos privados que desrespeitam a Constituição, pregam golpes, abusam da “presunção de culpa” para destruir reputações, manipulam as informações e deformam comportamentos. Quanto ao “retumbante fracasso de audiência”, a famíglia Frias deveria estar mais preocupada com a credibilidade do seu jornal, que despenca em tiragem – caiu de quase 1 milhão de exemplares nos anos 1980 para menos de 300 mil na atualidade.
Oportunidade para crescer
Como argumenta Renata Mielli, num elucidativo artigo no seu blog Janela sobre a Palavra, o editorial da Folha revela os temores dos barões da mídia. “Desde que setores do governo e da sociedade começaram a se movimentar pela criação de uma rede pública de televisão, os empresários do setor da radiodifusão e de toda a mídia hegemônica torceram o nariz. Afinal, criar um veículo de comunicação que não esteja ancorado nos valores e interesses do mercado e que poderia se constituir num contraponto ao que é veiculado nas emissoras comerciais seria abrir uma brecha no monopólio midiático que impera no país”.
A raivosa campanha contra a TV Brasil confirma a justeza política da proposta de Beto Almeida. É urgente que os movimentos sociais e as forças progressistas se unam para defender o reforço e o aperfeiçoamento da rede pública, que dá seus primeiros passos e ainda tem várias limitações. Além de exigir maiores recursos para a EBC, inclusive com a taxação dos anúncios publicitários, é hora de garantir que a emissora seja transmitida em canal aberto para todo o país, o que poderá alavancar a sua audiência. Esta também é a oportunidade para se reivindicar maior participação dos movimentos sociais na programação e conteúdo da TV Brasil, garantindo a aplicação do seu projeto original – que fixava autonomia de gestão e financiamento e protagonismo da sociedade.
O futuro da TV Brasil, ameaçado pela ofensiva ditatorial dos barões da mídia, depende agora, mais do que antes, do engajamento das forças progressistas da sociedade. É preciso “cair a ficha” tanto destas forças como do próprio governo Lula e da administração da EBC.
A sua proposta ganha caráter de urgência-urgentíssima com os recentes ataques desferidos pelos barões da mídia à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que administra a TV Brasil. Entre as “premissas” apresentadas pela poderosa Abert (Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão) para participar da Conferência Nacional de Comunicação está a arrogante proposta da “mínima interferência estatal” – num nítido recado contra os investimentos na rede pública. Os latifundiários da mídia, que se fantasiam de defensores da “liberdade de expressão”, não aceitam qualquer tipo de concorrência não-comercial. Exigem o monopólio da palavra e das imagens.
Censura da “ditabranda” da Folha
Esta ofensiva contra a rede pública ficou ainda mais explícita com o recente editorial da Folha de S.Paulo. O jornal da “ditabranda” e da falsa “ficha policial” da ministra Dilma Rousseff deu mais um tiro no pé e confirmou a total falsidade da sua recente peça publicitária, que fala em “pluralidade e diversidade”. O editorial, raivosamente intitulado “Tela Fria”, defende descaradamente o fim da TV Brasil. “Os vícios de origem e o retumbante fracasso de audiência recomendam que a TV seja fechada - antes que desperdice mais dinheiro do contribuinte”, esbraveja a famíglia Frias.
“Desperdício do dinheiro do contribuinte” ocorre quando o governo federal repassa milhões de reais em anúncios publicitários para veículos privados que desrespeitam a Constituição, pregam golpes, abusam da “presunção de culpa” para destruir reputações, manipulam as informações e deformam comportamentos. Quanto ao “retumbante fracasso de audiência”, a famíglia Frias deveria estar mais preocupada com a credibilidade do seu jornal, que despenca em tiragem – caiu de quase 1 milhão de exemplares nos anos 1980 para menos de 300 mil na atualidade.
Oportunidade para crescer
Como argumenta Renata Mielli, num elucidativo artigo no seu blog Janela sobre a Palavra, o editorial da Folha revela os temores dos barões da mídia. “Desde que setores do governo e da sociedade começaram a se movimentar pela criação de uma rede pública de televisão, os empresários do setor da radiodifusão e de toda a mídia hegemônica torceram o nariz. Afinal, criar um veículo de comunicação que não esteja ancorado nos valores e interesses do mercado e que poderia se constituir num contraponto ao que é veiculado nas emissoras comerciais seria abrir uma brecha no monopólio midiático que impera no país”.
A raivosa campanha contra a TV Brasil confirma a justeza política da proposta de Beto Almeida. É urgente que os movimentos sociais e as forças progressistas se unam para defender o reforço e o aperfeiçoamento da rede pública, que dá seus primeiros passos e ainda tem várias limitações. Além de exigir maiores recursos para a EBC, inclusive com a taxação dos anúncios publicitários, é hora de garantir que a emissora seja transmitida em canal aberto para todo o país, o que poderá alavancar a sua audiência. Esta também é a oportunidade para se reivindicar maior participação dos movimentos sociais na programação e conteúdo da TV Brasil, garantindo a aplicação do seu projeto original – que fixava autonomia de gestão e financiamento e protagonismo da sociedade.
O futuro da TV Brasil, ameaçado pela ofensiva ditatorial dos barões da mídia, depende agora, mais do que antes, do engajamento das forças progressistas da sociedade. É preciso “cair a ficha” tanto destas forças como do próprio governo Lula e da administração da EBC.
domingo, 2 de agosto de 2009
José Dirceu e “A ditadura da mídia”
Um dos principais alvos dos constantes ataques da chamada grande imprensa, o ex-ministro José Dirceu publicou no seu blog uma generosa resenha do livro A ditadura da mídia. Sua página na internet é hoje reconhecida por distintos setores como obrigatória para se acompanhar o que rola na política nacional e mundial. Sempre bem informado, polêmico e com visão estratégica, o líder petista sempre dá pistas para se navegar no tumultuado cenário político, contrapondo-se às manipulações midiáticas. Daí meu agradecimento por ele ter “recomendado” a leitura deste modesto livro. Publico abaixo a sua resenha:
“Bom livro para esquentar o debate”
Neste ano em que se programa a primeira Conferência Nacional de Comunicação no país (em princípio, para dezembro próximo, em Brasília) nada como um bom livro para esquentar o debate.
A todos recomendo, portanto, A ditadura da mídia do jornalista Altamiro Borges, prefaciado pelo professor Venício A. de Lima e com comentários de Laurindo Lalo Leal Filho, ambos já entrevistados neste blog.
Em seu texto de apresentação, Altamiro aponta o paradoxo da mídia hegemônica: “Ela nunca foi tão poderosa no mundo e no Brasil”, porém “também nunca esteve tão vulnerável e sofreu tantos questionamentos da sociedade”.
Sobre o caso brasileiro, o jornalista afirma que “a mídia controlada por meia-dúzia de famílias também esbanja poder, mas dá vários sinais de fragilidade”. E conclui lembrando que “na acirrada disputa sucessória de 2006, o bombardeio midiático não conseguiu induzir o povo ao retrocesso político”.
“Uma peça de denúncia política”
Como o próprio autor define, seu livro não é uma obra acadêmica, mas “uma peça de denúncia política”. E mais: “não é neutra, nem imparcial, mas visa desmascarar o nefasto poder da mídia hegemônica e formular propostas para a democratização dos meios de comunicação”.
Daí sua importância e dos capítulos propostos: “Poder mundial a serviço do capital e das guerras”; “A mídia na berlinda na América Latina rebelde”; “Concentração sui generis e os donos da mídia no Brasil”; “De Getúlio a Lula, histórias da manipulação da imprensa”; e “Outra mídia é urgente: as brechas da democratização”.
Altamiro também ressalta que “o governo Lula, com todas suas vacilações, adota medidas para se contrapor à ditadura midiática, como a criação da TV Brasil e a convocação da primeira Conferência Nacional de Comunicação”. Leia o texto de apresentação do livro de Altamiro Borges no seu blog e compre o seu exemplar.
“Bom livro para esquentar o debate”
Neste ano em que se programa a primeira Conferência Nacional de Comunicação no país (em princípio, para dezembro próximo, em Brasília) nada como um bom livro para esquentar o debate.
A todos recomendo, portanto, A ditadura da mídia do jornalista Altamiro Borges, prefaciado pelo professor Venício A. de Lima e com comentários de Laurindo Lalo Leal Filho, ambos já entrevistados neste blog.
Em seu texto de apresentação, Altamiro aponta o paradoxo da mídia hegemônica: “Ela nunca foi tão poderosa no mundo e no Brasil”, porém “também nunca esteve tão vulnerável e sofreu tantos questionamentos da sociedade”.
Sobre o caso brasileiro, o jornalista afirma que “a mídia controlada por meia-dúzia de famílias também esbanja poder, mas dá vários sinais de fragilidade”. E conclui lembrando que “na acirrada disputa sucessória de 2006, o bombardeio midiático não conseguiu induzir o povo ao retrocesso político”.
“Uma peça de denúncia política”
Como o próprio autor define, seu livro não é uma obra acadêmica, mas “uma peça de denúncia política”. E mais: “não é neutra, nem imparcial, mas visa desmascarar o nefasto poder da mídia hegemônica e formular propostas para a democratização dos meios de comunicação”.
Daí sua importância e dos capítulos propostos: “Poder mundial a serviço do capital e das guerras”; “A mídia na berlinda na América Latina rebelde”; “Concentração sui generis e os donos da mídia no Brasil”; “De Getúlio a Lula, histórias da manipulação da imprensa”; e “Outra mídia é urgente: as brechas da democratização”.
Altamiro também ressalta que “o governo Lula, com todas suas vacilações, adota medidas para se contrapor à ditadura midiática, como a criação da TV Brasil e a convocação da primeira Conferência Nacional de Comunicação”. Leia o texto de apresentação do livro de Altamiro Borges no seu blog e compre o seu exemplar.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Tucanos, demos e o “mensalão” da mídia
Por razões econômicas e ideológicas, a mídia hegemônica adora explorar os escândalos políticos. A crise mais recente é que a atinge o Senado Federal, no qual as denúncias das graves distorções se fundem com objetivos eleitoreiros marotos – que só os ingênuos não percebem. Ela só não faz sensacionalismo com os seus próprios negócios sinistros. Evita falar dela mesma, de seus pobres. Entre uma e outra denúncia de corrupção, ela deveria averiguar dois casos graves que envolvem poderosas corporações midiáticas. Ambos podem confirmar a exigência de um estranho “mensalão”, no qual governos demos-tucanos compram o apoio dos veículos de comunicação.
Os demos e o Correio Braziliense
O caso mais recente ocorreu no Distrito Federal, onde o governador José Roberto Arruda garfou R$ 442,4 mil do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) para comprar assinaturas da revista Veja. Mais grave ainda, o demo desembolsou quase R$ 3 milhões na compra de 7.562 assinaturas do Correio Braziliense. O Sindicato dos Professores do Distrito Federal, um dos principais alvos dos ataques raivosos e recorrentes deste jornal, criticou o uso dos recursos públicos e a forma irregular e suspeita como foi firmado este convênio:
“O convênio foi feito sem licitação, sem um projeto pedagógico definido, sem discussão com os professores e sem transparência. Enquanto isso, as bibliotecas de nossas escolas estão em petição de miséria, sem livros e estrutura de funcionamento... Esses recursos poderiam ser utilizados para equipá-las com clássicos da nossa literatura, para dotá-las de banda larga na internet, o que garantiria a diversidade e a pluralidade das informações... É no mínimo uma contradição que o Correio, tão veemente ao atacar o Senado por causa dos atos secretos, anuncie este convênio sem dizer os valores envolvidos e sem especificar o embasamento legal para que ele ocorra”.
Relações promíscuas com o poder
O professor Venício de Lima, um atento crítico das relações promíscuas entre os barões da mídia e os poderes públicos, foi um dos primeiros a denunciar este acordo. Ele lembra que, em março passado, o jornal Correio Braziliense, “principal jornal do Distrito Federal, dedicou duas páginas (uma delas a capa) do seu caderno ‘Cidades’ a ampla matéria na qual encampava publicamente a posição de porta-voz do governo contrária à anunciada greve dos professores da rede pública de ensino”. Com os títulos “greve sem causa” e “crime de lesa-futuro”, o jornal compôs a tropa de choque do demo José Roberto Arruda contra a reivindicação de reajuste salarial dos docentes.
“O leitor certamente terá notado, à época, que contrariamente às regras elementares e básicas do jornalismo, a longa matéria opinativa do Correio Braziliense, além de defender um dos lados, isto é, não ser isenta, omitia inteiramente o ‘outro lado’ envolvido na disputa: os professores não foram ouvidos, simplesmente não aparecem na matéria para explicar e defender sua posição”. De forma curiosa, quatro meses depois, em 22 de junho, o governo retribuiu com a compra de 7.562 assinaturas do jornal, que chegarão às 199 escolas da rede pública. Para Venício de Lima, esta suspeita aquisição representa 16% da tiragem média do jornal e retira R$ 2,9 milhões do Fundeb.
“Em tempos de crise da mídia impressa (salvo dos jornais populares e gratuitos), que coloca em risco a própria sobrevivência no mercado de alguns jornalões, não seria ético e salutar que jornais como o Correio Braziliense – além de zelar pela credibilidade fazendo jornalismo de notícias e não de matérias opinativas – praticassem, para si mesmos, aquilo que corretamente têm exigido de outras esferas do poder? Ou o critério da transparência na destinação do dinheiro público não se aplica quando beneficia a própria grande mídia?”, questiona Venício de Lima.
Serra e as relações perigosas com a Abril
Antes desta estranha negociata, outro caso bem suspeito já tinha vindo a púbico através dos sítios alternativos da internet e não da “grande mídia”. Em abril passado, o Ministério Público acolheu representação do deputado federal Ivan Valente (PSOL) e abriu inquérito civil para apurar as irregularidades no contrato firmado entre o governo paulista e a Editora Abril na compra de 220 mil assinaturas da revista Nova Escola. O valor desta obscura transação foi de R$ 3,7 milhões e confirmou as perigosas relações entre o tucano José Serra e a Grupo Civita, que também publica a revista Veja, o principal palanque de oposição ao governo Lula.
A compra das 220 mil assinaturas representa quase 25% da tiragem total da Nova Escola. Mas este não é o único caso de privilégio a este ao grupo direitista. O governo José Serra apresentou recentemente proposta curricular que obriga a inclusão no ensino médio de aulas baseadas em edições encalhadas do Guia do Estudante, outra publicação da Editora Abril. Como observa do deputado Ivan Valente, “cada vez mais, a editora ocupa espaço nas escolas de São Paulo, tendo até mesmo publicações adotadas como material didático. Isso totaliza, hoje, cerca de R$ 10 milhões de recursos públicos destinados a esta instituição privada, considerado apenas o segundo semestre de 2008”.
Os demos e o Correio Braziliense
O caso mais recente ocorreu no Distrito Federal, onde o governador José Roberto Arruda garfou R$ 442,4 mil do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) para comprar assinaturas da revista Veja. Mais grave ainda, o demo desembolsou quase R$ 3 milhões na compra de 7.562 assinaturas do Correio Braziliense. O Sindicato dos Professores do Distrito Federal, um dos principais alvos dos ataques raivosos e recorrentes deste jornal, criticou o uso dos recursos públicos e a forma irregular e suspeita como foi firmado este convênio:
“O convênio foi feito sem licitação, sem um projeto pedagógico definido, sem discussão com os professores e sem transparência. Enquanto isso, as bibliotecas de nossas escolas estão em petição de miséria, sem livros e estrutura de funcionamento... Esses recursos poderiam ser utilizados para equipá-las com clássicos da nossa literatura, para dotá-las de banda larga na internet, o que garantiria a diversidade e a pluralidade das informações... É no mínimo uma contradição que o Correio, tão veemente ao atacar o Senado por causa dos atos secretos, anuncie este convênio sem dizer os valores envolvidos e sem especificar o embasamento legal para que ele ocorra”.
Relações promíscuas com o poder
O professor Venício de Lima, um atento crítico das relações promíscuas entre os barões da mídia e os poderes públicos, foi um dos primeiros a denunciar este acordo. Ele lembra que, em março passado, o jornal Correio Braziliense, “principal jornal do Distrito Federal, dedicou duas páginas (uma delas a capa) do seu caderno ‘Cidades’ a ampla matéria na qual encampava publicamente a posição de porta-voz do governo contrária à anunciada greve dos professores da rede pública de ensino”. Com os títulos “greve sem causa” e “crime de lesa-futuro”, o jornal compôs a tropa de choque do demo José Roberto Arruda contra a reivindicação de reajuste salarial dos docentes.
“O leitor certamente terá notado, à época, que contrariamente às regras elementares e básicas do jornalismo, a longa matéria opinativa do Correio Braziliense, além de defender um dos lados, isto é, não ser isenta, omitia inteiramente o ‘outro lado’ envolvido na disputa: os professores não foram ouvidos, simplesmente não aparecem na matéria para explicar e defender sua posição”. De forma curiosa, quatro meses depois, em 22 de junho, o governo retribuiu com a compra de 7.562 assinaturas do jornal, que chegarão às 199 escolas da rede pública. Para Venício de Lima, esta suspeita aquisição representa 16% da tiragem média do jornal e retira R$ 2,9 milhões do Fundeb.
“Em tempos de crise da mídia impressa (salvo dos jornais populares e gratuitos), que coloca em risco a própria sobrevivência no mercado de alguns jornalões, não seria ético e salutar que jornais como o Correio Braziliense – além de zelar pela credibilidade fazendo jornalismo de notícias e não de matérias opinativas – praticassem, para si mesmos, aquilo que corretamente têm exigido de outras esferas do poder? Ou o critério da transparência na destinação do dinheiro público não se aplica quando beneficia a própria grande mídia?”, questiona Venício de Lima.
Serra e as relações perigosas com a Abril
Antes desta estranha negociata, outro caso bem suspeito já tinha vindo a púbico através dos sítios alternativos da internet e não da “grande mídia”. Em abril passado, o Ministério Público acolheu representação do deputado federal Ivan Valente (PSOL) e abriu inquérito civil para apurar as irregularidades no contrato firmado entre o governo paulista e a Editora Abril na compra de 220 mil assinaturas da revista Nova Escola. O valor desta obscura transação foi de R$ 3,7 milhões e confirmou as perigosas relações entre o tucano José Serra e a Grupo Civita, que também publica a revista Veja, o principal palanque de oposição ao governo Lula.
A compra das 220 mil assinaturas representa quase 25% da tiragem total da Nova Escola. Mas este não é o único caso de privilégio a este ao grupo direitista. O governo José Serra apresentou recentemente proposta curricular que obriga a inclusão no ensino médio de aulas baseadas em edições encalhadas do Guia do Estudante, outra publicação da Editora Abril. Como observa do deputado Ivan Valente, “cada vez mais, a editora ocupa espaço nas escolas de São Paulo, tendo até mesmo publicações adotadas como material didático. Isso totaliza, hoje, cerca de R$ 10 milhões de recursos públicos destinados a esta instituição privada, considerado apenas o segundo semestre de 2008”.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Porta-vozes nativos do golpe em Honduras
A mídia hegemônica brasileira tem adotado um comportamento esquizofrênico na cobertura do golpe militar de Honduras. Diante da deposição do presidente democraticamente eleito do país, Manuel Zelaya, ela até criticou os métodos truculentos utilizados e condenados pela comunidade mundial. Nas primeiras semanas do trágico atentado à democracia neste sofrido país da América Central, os jornalões e emissoras de televisão até se referiram aos golpistas como “golpistas”, o que poderia indicar certo apego da mídia hegemônica à democracia.
Com o passar do tempo, porém, ela suavizou as críticas ao golpe. O governo ilegal passou a ser chamado de “interino”. Os ataques ao presidente deposto, à vítima, aumentaram. Já os protestos diários contra os golpistas, inclusive a recente greve geral organizada pelas três centrais sindicais do país, desapareceram dos jornais e telejornais. A violência dos “gorilas”, que já resultou várias mortes, também foi ofuscada. Já as minguadas marchas da “elite racista” favoráveis aos militares estão estampadas nas capas dos jornalões e nas telinhas da TV. É como se a mídia hegemônica torcesse pelo sucesso do golpe de Estado, mas sem poder confessar o seu crime.
Colunistas escancaram o instinto golpista
O apoio mais desavergonhado ao golpe fica por conta dos colunistas bem pagos destes veículos. Eles escancaram o instinto golpista dos seus patrões e são até mais realistas do que o rei. Alguns são deprimentes, como a dupla de fascistóides da revista Veja, que desde o início defende de forma apaixonada os “gorilas” de Honduras. Outros ainda não são tão desgastados e risíveis. É o caso de Igor Gielow, articulista da Folha de S.Paulo, que na sua coluna de opinião desta semana afirmou que os culpados pelo golpe em Honduras são... Hugo Chávez e a diplomacia brasileira.
O “complexo” colunista chega a relativizar o fato de que houve um golpe militar em Honduras. Afinal, alega, “os ‘golpistas’, como são chamados os que estão no poder em tese até a realização de novas eleições, têm respaldo da Justiça e do Legislativo”. Ele também elogia os EUA, “que começam a desembarcar da manada por Zelaya. Se isso ocorrer, o Itamaraty perderá o argumento do consenso”. Para o advogado dos golpistas, “a cooptação de Zelaya por Chávez” é que gerou o impasse e a diplomacia brasileira contribuiu neste desfecho ao fazer “vista grossa ao chavismo”.
Os “amigos” de Augusto Nunes
Outro colunista que forja argumentos para defender os “gorilas de Honduras” é Augusto Nunes, que recentemente deixou a diretoria-executiva do Jornal do Brasil para trabalhar no setor digital da Veja. No seu blog, ele deixa explícito que apóia os golpistas por discordar dos que defendem o retorno do presidente deposto. Direitista convicto, ele mente e ataca de forma grotesca todos os movimentos sociais e partidos de esquerda que se opõem ao golpe em Honduras:
“A UNE, fábrica de carteirinhas que dão direito à meia-entrada, é monitorada por militantes do PCdoB, que prega a instauração da ditadura do proletariado... ‘Em nome da democracia’, que sempre menosprezou por ser coisa de burguês, a UNE exige a volta de Zelaya à presidência de Honduras. O MST faz de conta que luta pela reforma agrária para declarar guerra ao sistema capitalista... ‘Em nome da liberdade’ que sempre menosprezou por ser coisa de reacionário, a sigla fora-da-lei exige a volta de Zelaya ao emprego que perdeu... O PT está sob o controle de remanescentes dos grupos extremistas que embarcaram na luta armada contra o regime militar... Hoje no PT, os nostálgicos dos anos de chumbo também exigem a volta de Zelaya. “Em nome da democracia”, claro. A soma dessas más companhias não permite afirmar que o novo chefe de governo de Honduras é o homem certo. Mas é mais que suficiente para convencer até um bebê de colo de que Manuel Zelaya é o homem errado”.
Noutro texto hidrófobo, ele critica o governo Lula por liderar a reação latino-americana ao golpe. Para o porta-voz nativo dos “gorilas” hondurenhos, o presidente é “amigo” dos esquerdistas. “Ele solta a voz em palanques na Venezuela como cabo eleitoral do farsante Hugo Chávez, que vai progressivamente exterminando a imprensa independente e os governos de oposição. Promove a guerreiros da selva os narcoterroristas das Farc. Faz concessões pusilânimes para manter nas alcovas do palácio o paraguaio Fernando Lugo, um laureado reprodutor de batina. Aumenta a ração de alpiste do pintassilgo amestrado Celso Amorim para que o Itamaraty afague a Coréia atômica... Finge enxergar uma Cuba livre na ilha reduzida pelos irmãos Castro a filme de época sobre a Guerra Fria, produzido, dirigido e protagonizado por napoleões de hospício. Para Lula, todo regime liberticida, visto de perto, é democrático. Só não há democracia em Honduras”.
Haja reacionarismo. Com colunistas deste tipo, os barões da mídia podem até fingir neutralidade diante do violento golpe em Honduras. Basta dar alguns trocados e um pouco de status! O escritor Victor Hugo costumava se dirigir a estas figuras deprimentes de forma apropriada: "Calma, calma, você vai ganhar o seu osso".
Com o passar do tempo, porém, ela suavizou as críticas ao golpe. O governo ilegal passou a ser chamado de “interino”. Os ataques ao presidente deposto, à vítima, aumentaram. Já os protestos diários contra os golpistas, inclusive a recente greve geral organizada pelas três centrais sindicais do país, desapareceram dos jornais e telejornais. A violência dos “gorilas”, que já resultou várias mortes, também foi ofuscada. Já as minguadas marchas da “elite racista” favoráveis aos militares estão estampadas nas capas dos jornalões e nas telinhas da TV. É como se a mídia hegemônica torcesse pelo sucesso do golpe de Estado, mas sem poder confessar o seu crime.
Colunistas escancaram o instinto golpista
O apoio mais desavergonhado ao golpe fica por conta dos colunistas bem pagos destes veículos. Eles escancaram o instinto golpista dos seus patrões e são até mais realistas do que o rei. Alguns são deprimentes, como a dupla de fascistóides da revista Veja, que desde o início defende de forma apaixonada os “gorilas” de Honduras. Outros ainda não são tão desgastados e risíveis. É o caso de Igor Gielow, articulista da Folha de S.Paulo, que na sua coluna de opinião desta semana afirmou que os culpados pelo golpe em Honduras são... Hugo Chávez e a diplomacia brasileira.
O “complexo” colunista chega a relativizar o fato de que houve um golpe militar em Honduras. Afinal, alega, “os ‘golpistas’, como são chamados os que estão no poder em tese até a realização de novas eleições, têm respaldo da Justiça e do Legislativo”. Ele também elogia os EUA, “que começam a desembarcar da manada por Zelaya. Se isso ocorrer, o Itamaraty perderá o argumento do consenso”. Para o advogado dos golpistas, “a cooptação de Zelaya por Chávez” é que gerou o impasse e a diplomacia brasileira contribuiu neste desfecho ao fazer “vista grossa ao chavismo”.
Os “amigos” de Augusto Nunes
Outro colunista que forja argumentos para defender os “gorilas de Honduras” é Augusto Nunes, que recentemente deixou a diretoria-executiva do Jornal do Brasil para trabalhar no setor digital da Veja. No seu blog, ele deixa explícito que apóia os golpistas por discordar dos que defendem o retorno do presidente deposto. Direitista convicto, ele mente e ataca de forma grotesca todos os movimentos sociais e partidos de esquerda que se opõem ao golpe em Honduras:
“A UNE, fábrica de carteirinhas que dão direito à meia-entrada, é monitorada por militantes do PCdoB, que prega a instauração da ditadura do proletariado... ‘Em nome da democracia’, que sempre menosprezou por ser coisa de burguês, a UNE exige a volta de Zelaya à presidência de Honduras. O MST faz de conta que luta pela reforma agrária para declarar guerra ao sistema capitalista... ‘Em nome da liberdade’ que sempre menosprezou por ser coisa de reacionário, a sigla fora-da-lei exige a volta de Zelaya ao emprego que perdeu... O PT está sob o controle de remanescentes dos grupos extremistas que embarcaram na luta armada contra o regime militar... Hoje no PT, os nostálgicos dos anos de chumbo também exigem a volta de Zelaya. “Em nome da democracia”, claro. A soma dessas más companhias não permite afirmar que o novo chefe de governo de Honduras é o homem certo. Mas é mais que suficiente para convencer até um bebê de colo de que Manuel Zelaya é o homem errado”.
Noutro texto hidrófobo, ele critica o governo Lula por liderar a reação latino-americana ao golpe. Para o porta-voz nativo dos “gorilas” hondurenhos, o presidente é “amigo” dos esquerdistas. “Ele solta a voz em palanques na Venezuela como cabo eleitoral do farsante Hugo Chávez, que vai progressivamente exterminando a imprensa independente e os governos de oposição. Promove a guerreiros da selva os narcoterroristas das Farc. Faz concessões pusilânimes para manter nas alcovas do palácio o paraguaio Fernando Lugo, um laureado reprodutor de batina. Aumenta a ração de alpiste do pintassilgo amestrado Celso Amorim para que o Itamaraty afague a Coréia atômica... Finge enxergar uma Cuba livre na ilha reduzida pelos irmãos Castro a filme de época sobre a Guerra Fria, produzido, dirigido e protagonizado por napoleões de hospício. Para Lula, todo regime liberticida, visto de perto, é democrático. Só não há democracia em Honduras”.
Haja reacionarismo. Com colunistas deste tipo, os barões da mídia podem até fingir neutralidade diante do violento golpe em Honduras. Basta dar alguns trocados e um pouco de status! O escritor Victor Hugo costumava se dirigir a estas figuras deprimentes de forma apropriada: "Calma, calma, você vai ganhar o seu osso".
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Rovai resenha “A ditadura da mídia”
O jornalista Renato Rovai, editor da revista Fórum, é um ativo militante pela democratização dos meios de comunicação. Integrante do grupo executivo do Fórum de Mídia Livre, ele percorre o país estimulando a construção de veículos contra-hegemônicos e denunciando o papel nefasto da chamada “grande imprensa”. Autor do livro “Midiático poder: o caso Venezuela e a guerrilha informativa”, ele conhece este poder e suas vulnerabilidades. Rovai publicou no seu blog uma carinhosa resenha do livro A ditadura da mídia. Agradeço seus comentários e reproduzo-os:
“Seja duro e não ligue para a ternura”
O escritor português António Lobo Antunes esteve na última Feira Literária de Paraty e disse que quando recebe livros de amigos, treme. É sempre difícil avaliar o trabalho de alguém com quem se tem uma relação pessoal amistosa. Até porque ninguém publica algo que considera ruim. Sendo assim, espera elogios e louvores quando apresenta a obra à avaliação.
Altamiro Borges me enviou A Ditadura da Mídia (editado pela Anita Garibaldi na Coleção Vermelho) quando ainda o preparava. Seu email começava assim: “Estou concluindo um modesto livrete sobre A ditadura da mídia”. E finalizava: “envio para sua leitura (...), lembrando Che Guevara: seja duro e não ligue para a ternura”.
Em meio à correria, liguei para o Miro (assim o chamo) quando o prazo expirou. Desculpei-me por não poder colaborar. Recentemente recebi o livro pronto e mesmo sabendo da capacidade de Miro, tremi. Segui o conselho de António Lobo Antunes, abri o livro devagar, olhei o índice, folheei umas páginas e só depois engatei a leitura. E o fiz de uma vez só. Quase 70% enquanto voava de Brasília a São Paulo. E o resto no taxi de Congonhas à minha residência.
“O rinoceronte e o batalhão de marimbondos”
Desconheço no Brasil um trabalho com o fôlego de pesquisa deste A Ditadura da Mídia que organize de maneira tão sintética o problema da disputa midiática atual. Até por isso, disse ao Miro que acho o título da obra um tanto enganador.
Ele trata de uma batalha, de uma disputa, de uma luta entre aqueles que têm construído um novo patamar na democratização das comunicações e, ao mesmo tempo, denuncia as corporações midiáticas e suas mazelas. Ou seja, não fala de uma ditadura, mas de um conflito.
Até acho que é um conflito assimétrico. Algo como um exército tradicional e um bando meio desorganizado, mas ao mesmo tempo relativamente eficiente de guerrilheiros. Ou como prefiro, entre alguns rinocerontes e um batalhão de marimbondos.
No primeiro capítulo, “Poder mundial a serviço do capital e das guerras”, ele nos compila uma série de dados sobre a estrutura midiática global destacando alguns países como Estados Unidos, Itália e Espanha. Sem exagerar, diria que é um curso sobre a forma como atualmente funcionam e se organizam as corporações midiáticas.
Descobre-se, entre muitas outras importantes revelações, que no país de Carla Bruni os donos da mídia estão ligados à indústria bélica. E que “nos últimos três anos os jornais americanos perderam 42% do valor de mercado” e “menos de 20% dos estadunidenses acreditam no noticiário jornalístico — número que despencou 27% em cinco anos”. Curiosamente para confirmar o meu questionamento sobre o título da obra, o último parágrafo deste capítulo começa com o seguinte tópico frasal: “A ditadura da mídia como se vê não é inabalável.”
Os golpismos dos veículos midiáticos
“A mídia na Berlinda na América Latina Rebelde” e “A concentração sui generis e os donos da mídia no Brasil”, capítulos 2 e 3, fazem um balanço bastante interessante de como os grupos midiáticas tradicionais e decadentes contribuíram para a construção de ditaduras no continente e depois “se travestiram de democratas e passaram a pregar o receituário neoliberal”. Mas ao final deles, Miro também faz um balanço dos avanços obtidos. Diz, por exemplo, no segundo capítulo, que a eleição de “governantes progressistas (...) tem impulsionado a luta pela democratização da comunicação e o florescimento dos meios alternativos.” E apresenta o cenário atual nessa área em vários desses países vizinhos.
Além de artigos escritos pelo autor e publicados principalmente no site Vermelho, há ainda outros dois capítulos “De Getúlio a Lula, histórias da manipulação da imprensa” e “Outra mídia é urgente: as brechas da democratização”. O primeiro é um registro notável de casos vergonhosos de golpismos envolvendo veículos midiáticos brazucas. Se ainda fosse professor universitário, indicaria a leitura deste livro para os meus alunos, mas se fosse professor de história da imprensa ou algo semelhante, os “obrigaria” a lerem este capítulo. É excelente. As “peripécias” desses veículos nunca foram contadas, que me recorde, com tamanha independência.
A luta pela democratização da mídia
No último capítulo são abordadas questões que estarão em jogo e em debate na Conferência Nacional da Comunicação. É importante porque também é uma proposta a partir da visão do autor do que deveria ser priorizado pelo movimento social neste momento.
Fico feliz por poder dizer sem titubear que o livro do colunista da Fórum e meu amigo Miro é muito bom. Recomendo a leitura tanto para iniciados como para iniciantes no tema. E digo mais, é um livro que tem potencial para fazer história. Como outro livro lançado como “livrete” e que virou best-seller: O Brasil Privatizado.
Antes de lançá-lo, Aloysio Biondi me enviou os originais e falou algo parecido, “não é um livro, é um livreto”. São dois trabalho com estilos diferentes, mas toques semelhantes.
Além do que no momento atual é tão ou mais importante para a democracia brasileira discutir a democratização da mídia quanto naquele período foi debater e denunciar as privatizações.
“Seja duro e não ligue para a ternura”
O escritor português António Lobo Antunes esteve na última Feira Literária de Paraty e disse que quando recebe livros de amigos, treme. É sempre difícil avaliar o trabalho de alguém com quem se tem uma relação pessoal amistosa. Até porque ninguém publica algo que considera ruim. Sendo assim, espera elogios e louvores quando apresenta a obra à avaliação.
Altamiro Borges me enviou A Ditadura da Mídia (editado pela Anita Garibaldi na Coleção Vermelho) quando ainda o preparava. Seu email começava assim: “Estou concluindo um modesto livrete sobre A ditadura da mídia”. E finalizava: “envio para sua leitura (...), lembrando Che Guevara: seja duro e não ligue para a ternura”.
Em meio à correria, liguei para o Miro (assim o chamo) quando o prazo expirou. Desculpei-me por não poder colaborar. Recentemente recebi o livro pronto e mesmo sabendo da capacidade de Miro, tremi. Segui o conselho de António Lobo Antunes, abri o livro devagar, olhei o índice, folheei umas páginas e só depois engatei a leitura. E o fiz de uma vez só. Quase 70% enquanto voava de Brasília a São Paulo. E o resto no taxi de Congonhas à minha residência.
“O rinoceronte e o batalhão de marimbondos”
Desconheço no Brasil um trabalho com o fôlego de pesquisa deste A Ditadura da Mídia que organize de maneira tão sintética o problema da disputa midiática atual. Até por isso, disse ao Miro que acho o título da obra um tanto enganador.
Ele trata de uma batalha, de uma disputa, de uma luta entre aqueles que têm construído um novo patamar na democratização das comunicações e, ao mesmo tempo, denuncia as corporações midiáticas e suas mazelas. Ou seja, não fala de uma ditadura, mas de um conflito.
Até acho que é um conflito assimétrico. Algo como um exército tradicional e um bando meio desorganizado, mas ao mesmo tempo relativamente eficiente de guerrilheiros. Ou como prefiro, entre alguns rinocerontes e um batalhão de marimbondos.
No primeiro capítulo, “Poder mundial a serviço do capital e das guerras”, ele nos compila uma série de dados sobre a estrutura midiática global destacando alguns países como Estados Unidos, Itália e Espanha. Sem exagerar, diria que é um curso sobre a forma como atualmente funcionam e se organizam as corporações midiáticas.
Descobre-se, entre muitas outras importantes revelações, que no país de Carla Bruni os donos da mídia estão ligados à indústria bélica. E que “nos últimos três anos os jornais americanos perderam 42% do valor de mercado” e “menos de 20% dos estadunidenses acreditam no noticiário jornalístico — número que despencou 27% em cinco anos”. Curiosamente para confirmar o meu questionamento sobre o título da obra, o último parágrafo deste capítulo começa com o seguinte tópico frasal: “A ditadura da mídia como se vê não é inabalável.”
Os golpismos dos veículos midiáticos
“A mídia na Berlinda na América Latina Rebelde” e “A concentração sui generis e os donos da mídia no Brasil”, capítulos 2 e 3, fazem um balanço bastante interessante de como os grupos midiáticas tradicionais e decadentes contribuíram para a construção de ditaduras no continente e depois “se travestiram de democratas e passaram a pregar o receituário neoliberal”. Mas ao final deles, Miro também faz um balanço dos avanços obtidos. Diz, por exemplo, no segundo capítulo, que a eleição de “governantes progressistas (...) tem impulsionado a luta pela democratização da comunicação e o florescimento dos meios alternativos.” E apresenta o cenário atual nessa área em vários desses países vizinhos.
Além de artigos escritos pelo autor e publicados principalmente no site Vermelho, há ainda outros dois capítulos “De Getúlio a Lula, histórias da manipulação da imprensa” e “Outra mídia é urgente: as brechas da democratização”. O primeiro é um registro notável de casos vergonhosos de golpismos envolvendo veículos midiáticos brazucas. Se ainda fosse professor universitário, indicaria a leitura deste livro para os meus alunos, mas se fosse professor de história da imprensa ou algo semelhante, os “obrigaria” a lerem este capítulo. É excelente. As “peripécias” desses veículos nunca foram contadas, que me recorde, com tamanha independência.
A luta pela democratização da mídia
No último capítulo são abordadas questões que estarão em jogo e em debate na Conferência Nacional da Comunicação. É importante porque também é uma proposta a partir da visão do autor do que deveria ser priorizado pelo movimento social neste momento.
Fico feliz por poder dizer sem titubear que o livro do colunista da Fórum e meu amigo Miro é muito bom. Recomendo a leitura tanto para iniciados como para iniciantes no tema. E digo mais, é um livro que tem potencial para fazer história. Como outro livro lançado como “livrete” e que virou best-seller: O Brasil Privatizado.
Antes de lançá-lo, Aloysio Biondi me enviou os originais e falou algo parecido, “não é um livro, é um livreto”. São dois trabalho com estilos diferentes, mas toques semelhantes.
Além do que no momento atual é tão ou mais importante para a democracia brasileira discutir a democratização da mídia quanto naquele período foi debater e denunciar as privatizações.
terça-feira, 28 de julho de 2009
A UNE e os hitleristas da revista Veja
A revista Veja, inimiga hidrófoba dos movimentos sociais brasileiros, não perde mesmo a pose. Como publicação semanal, ela teve que esperar o restante da mídia atacar o 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes – a TV Globo levou um sociólogo medíocre para bater na UNE; a Folha publicou várias matérias agressivas e mentirosas; e o Estadão deu até editorial contra a entidade dos universitários. Quando foi editada, a publicação da famíglia Civita exagerou nos adjetivos reacionários e rancorosos para superar o atraso diante dos seus concorrentes.
A “reportagem” da Veja não tem sequer uma informação. É só opinião, e das mais venenosas. O repórter Gustavo Ribeiro foi mais realista do que o rei para puxar o saco dos Civita. Patético, ele afirma que a UNE “transformou-se em uma repartição financiada pelo governo para apoiar suas causas”. Ignorante, ele parece desconhecer as lutas travadas pela entidade por cortes drásticos na taxa de juros, pela exoneração de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central, em apoio ao MST e à reforma agrária, ou em defesa do “petróleo é nosso”. Sem qualquer espírito crítico, o melancólico “jornalista” repete servilmente as teses de seus patrões. É um escravo domesticado!
Bajulador do presidenciável Serra
Noutro trecho, ele parece disputar o prêmio de “funcionário padrão” e bajulador-mor dos Civita. Afirma que “a UNE de hoje lembra o fervor patriótico da Juventude Hitlerista. Lembra também a squadristi, a tropa de choque infanto-juvenil do regime fascista italiano de Benito Mussolini. A UNE, a Juventude Hitlerista e os squadristi têm em comum a força da ausência da razão e o desejo de servir cegamente a um líder”. O hitlerista da Veja desconhece que os ativistas da UNE estão nas ruas e nas escolas lutando por um Brasil melhor e por mais verbas para a educação, enquanto ele tenta manipular e seduzir as camadas médias com seus artigos a serviço dos ricaços.
A bronca do “jornalista” é que a UNE não aderiu à CPI da Petrobras, criação dos demos-tucanos com objetivos eleitoreiros e entreguistas. Confessando suas opções políticas, ele elogia a gestão da UNE “quando foi presidida por José Serra, atual governador de São Paulo” e afirma que hoje a entidade “inova em sua servidão ao poder em troca de dinheiro”. Na verdade, Gustavo Ribeiro é que exagera no servilismo em troca de status e migalhas. Quem sabe, ele queira agradecer ao presidenciável tucano pela compra de assinaturas de revistas da Abril num contrato sinistro, que está sob investigação do Ministério Público Federal. É um puxa-saco pragmático, oportunista!
Desqualificação dos movimentos sociais
Na única “informação” sobre o 51º Congresso da UNE, a revista Veja desqualifica este fórum dos universitários – um dos representativos da sua história. Afirma que os presentes ao evento “deixaram a sua marca de rebeldia apenas depredando salas, destruindo mesas e abandonando garrafas de bebidas alcoólicas vazias e preservativos nas salas”. O deprimente “repórter” não se dignou a participar de um dos 25 grupos de trabalho que debateram vários temas de interesse da sociedade brasileira; não acompanhou as plenárias que aprovaram os planos de luta da entidade; não participou das passeatas e protestos organizados durante o congresso em Brasília.
Elitista e venal, a revista Veja preferiu criminalizar, mais uma vez, este combativo movimento da juventude – a exemplo do que faz recorrentemente contra o MST e as centrais sindicais. Para isso, a famíglia Civita acionou seu hitlerista de plantão, que envergonha a história do jornalismo e comprova que a mídia hegemônica não tem qualquer compromisso com a democracia.
A “reportagem” da Veja não tem sequer uma informação. É só opinião, e das mais venenosas. O repórter Gustavo Ribeiro foi mais realista do que o rei para puxar o saco dos Civita. Patético, ele afirma que a UNE “transformou-se em uma repartição financiada pelo governo para apoiar suas causas”. Ignorante, ele parece desconhecer as lutas travadas pela entidade por cortes drásticos na taxa de juros, pela exoneração de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central, em apoio ao MST e à reforma agrária, ou em defesa do “petróleo é nosso”. Sem qualquer espírito crítico, o melancólico “jornalista” repete servilmente as teses de seus patrões. É um escravo domesticado!
Bajulador do presidenciável Serra
Noutro trecho, ele parece disputar o prêmio de “funcionário padrão” e bajulador-mor dos Civita. Afirma que “a UNE de hoje lembra o fervor patriótico da Juventude Hitlerista. Lembra também a squadristi, a tropa de choque infanto-juvenil do regime fascista italiano de Benito Mussolini. A UNE, a Juventude Hitlerista e os squadristi têm em comum a força da ausência da razão e o desejo de servir cegamente a um líder”. O hitlerista da Veja desconhece que os ativistas da UNE estão nas ruas e nas escolas lutando por um Brasil melhor e por mais verbas para a educação, enquanto ele tenta manipular e seduzir as camadas médias com seus artigos a serviço dos ricaços.
A bronca do “jornalista” é que a UNE não aderiu à CPI da Petrobras, criação dos demos-tucanos com objetivos eleitoreiros e entreguistas. Confessando suas opções políticas, ele elogia a gestão da UNE “quando foi presidida por José Serra, atual governador de São Paulo” e afirma que hoje a entidade “inova em sua servidão ao poder em troca de dinheiro”. Na verdade, Gustavo Ribeiro é que exagera no servilismo em troca de status e migalhas. Quem sabe, ele queira agradecer ao presidenciável tucano pela compra de assinaturas de revistas da Abril num contrato sinistro, que está sob investigação do Ministério Público Federal. É um puxa-saco pragmático, oportunista!
Desqualificação dos movimentos sociais
Na única “informação” sobre o 51º Congresso da UNE, a revista Veja desqualifica este fórum dos universitários – um dos representativos da sua história. Afirma que os presentes ao evento “deixaram a sua marca de rebeldia apenas depredando salas, destruindo mesas e abandonando garrafas de bebidas alcoólicas vazias e preservativos nas salas”. O deprimente “repórter” não se dignou a participar de um dos 25 grupos de trabalho que debateram vários temas de interesse da sociedade brasileira; não acompanhou as plenárias que aprovaram os planos de luta da entidade; não participou das passeatas e protestos organizados durante o congresso em Brasília.
Elitista e venal, a revista Veja preferiu criminalizar, mais uma vez, este combativo movimento da juventude – a exemplo do que faz recorrentemente contra o MST e as centrais sindicais. Para isso, a famíglia Civita acionou seu hitlerista de plantão, que envergonha a história do jornalismo e comprova que a mídia hegemônica não tem qualquer compromisso com a democracia.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Presidente da UNE desafia a mídia venal
Em artigo publicado no sítio da revista CartaCapital, o novo presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Augusto Chagas, deixou explícito que a aguerrida entidade dos universitários está disposta a enfrentar a briga contra a ditadura midiática, que insiste em manipular a sociedade e satanizar os movimentos sociais. No ano da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, marcada para dezembro, esta postura combativa sinaliza para um ativo engajamento da juventude na luta pela democratização dos meios de comunicação no país. Concluído o 51º Congresso da UNE, esta batalha passa a ser encarada como estratégica pela entidade máxima dos estudantes.
Diante dos ataques “maldosos e inescrupulosos” de boa parte da mídia à UNE, Augusto Chagas partiu para a ofensiva. Com argumentos sólidos, ele rechaçou todas as mentiras divulgadas pelos jornais e telejornais e desafiou os barões da mídia, que atacam a entidade por receber patrocínio das empresas estatais. “Declarem que de hoje em diante não aceitam um centavo de dinheiro público e faremos o mesmo. Da nossa parte, temos a certeza que seguiremos a nossa trajetória”. Será que os difamadores da mídia topam o desafio da UNE, que levaria à falência boa parte dos monopólios midiáticos do país? Abaixo, os principais trechos deste excelente artigo:
“Fidelidade aos ensinamentos de Goebbels”
A UNE acaba de sair do seu 51º Congresso, um dos mais importantes e o mais representativo da sua história. Mais de 2.300 instituições de ensino superior elegeram representantes a este fórum, contabilizando as impressionantes marcas de 92% das instituições envolvidas, mais de 2 milhões de votos nas eleições de base e de 4,5 milhões de universitários representados. Nosso congresso mobilizou estudantes de todo o país, que por cinco dias debateram o futuro do Brasil – popularização da universidade, reforma política, democratização da mídia, defesa do pré-sal, etc.
Se a imprensa brasileira trabalhasse a favor da democracia, esses assuntos seriam manchete em todos os jornais, rádios e canais de televisão e a disposição da juventude em lutar por um país melhor seria divulgada. No entanto, estes veículos nos dedicaram tratamento bem diferente nas duas últimas semanas. Cumprindo com fidelidade o ensinamento de Goebbels – uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade – a mídia escandalosamente busca subterfúgios para atacar a UNE, taxando-a de governista, vendida, aparelhada e desvirtuada de seus objetivos. Com isso, tenta impor a todos os seus pontos de vista, sem qualquer mediação ou abertura para apresentar o outro lado da notícia.
E os milhões da publicidade oficial?
Uma destas grosserias tem a ver com o recebimento de patrocínios de empresas públicas por parte da entidade. A UNE nunca recebeu recurso público para aplicá-lo no que bem entendesse. Recebe sim, e isto não se configura em nenhuma irregularidade, apoio para a construção de nossos encontros. Tampouco, estas parcerias comprometeram as posições políticas da entidade. Não nos impediu, por exemplo, de desenvolver uma ampla campanha – com cartazes, debates, passeatas e pronunciamentos – exigindo a demissão de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central, que foi indicado por este mesmo governo. Não nos furtamos de apresentar nossas críticas ao MEC por sua conivência ao setor privado da educação, como no caso do boicote que convocamos ao ENADE por dois anos consecutivos.
Mas, onde estavam os jornais, as TVs, rádios e revistas para noticiar essas manifestações? Reunimos, em julho de 2007, mais de 20 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios para pedir mudanças na política econômica do governo Lula e nenhuma nota foi publicada ou divulgada sobre isso. Os mesmos jornais que se horrorizam com o fato de termos recebido recursos para reunir 10 mil estudantes de todo o Brasil não parecem incomodados em receberem, eles próprios, um montante considerável de verbas publicitárias do governo federal. Em 2008, as verbas públicas destinadas para as emissoras de televisão foram de R$ 641 milhões, já os jornais receberam quase R$ 135 milhões.
Ora, por qual razão os patrocínios recebidos pela UNE corrompem nossas idéias enquanto todo este recurso em nada arranha a independência destes veículos? A UNE desafia cada um deles: declarem que de hoje em diante não aceitam um centavo em dinheiro público e faremos o mesmo! De nossa parte temos a certeza que seguiremos nossa trajetória! Com certeza não teremos resposta. Pois não é esta a questão principal. O que os incomoda e o que eles querem ocultar é a discussão sobre o futuro do Brasil e a opinião dos estudantes.
“Por uma comunicação mais justa e equilibrada”
Não querem lembrar que durante a década de 90 os estudantes brasileiros – em jornadas ao lado das centrais sindicais, do MST e de outros movimentos sociais - saíram às ruas para denunciar as privatizações, o ataque ao direito dos trabalhadores e a ausência de políticas sociais. Que foram essas manifestações que impediram o governo Fernando Henrique Cardoso de privatizar as universidades públicas através da cobrança de mensalidades.
Não reconhecem que após a eleição do presidente Lula, a UNE manteve e ampliou suas reivindicações. Resultado delas, nós conquistamos a duplicação das vagas nas universidades públicas, o PROUNI e a inédita rubrica nacional para assistência estudantil, iniciando o enfrentamento ao modelo elitista de universidade predominante no Brasil. Insinuam que a UNE abriu mão de suas bandeiras históricas, mas esquecem que não há bandeira mais importante para a tradição da UNE do que a defesa de uma universidade que esteja a serviço do Brasil e da maioria do nosso povo! Não se conformam com a democracia, com o fato de termos um governo oriundo dos movimentos sociais e que, por esta trajetória, está aberto a ouvir as reivindicações da sociedade.
A UNE não mudou de postura, o que mudou foi o governo e o Brasil e é isso que os conservadores e a mídia que está a serviço desses setores não admitem. Insistem em dizer que a UNE nasceu para ser ‘do contra’. Rude mentira que em nada nos desviará de nossa missão! Saibam que estamos preparados para mais editoriais, artigos, comentários e tendenciosas ‘notícias’. Contra suas pretensões de uma sociedade apática, acrítica e sem poder de contestar os rumos que querem impor ao nosso país, eles enfrentarão a iniciativa criativa e mobilizadora dos estudantes na defesa de um novo Brasil. Há de chegar o dia em que teremos uma comunicação mais justa e equilibrada. A UNE e sua nova diretoria estão aqui, firmes e à disposição do verdadeiro debate de rumos para o Brasil!
Diante dos ataques “maldosos e inescrupulosos” de boa parte da mídia à UNE, Augusto Chagas partiu para a ofensiva. Com argumentos sólidos, ele rechaçou todas as mentiras divulgadas pelos jornais e telejornais e desafiou os barões da mídia, que atacam a entidade por receber patrocínio das empresas estatais. “Declarem que de hoje em diante não aceitam um centavo de dinheiro público e faremos o mesmo. Da nossa parte, temos a certeza que seguiremos a nossa trajetória”. Será que os difamadores da mídia topam o desafio da UNE, que levaria à falência boa parte dos monopólios midiáticos do país? Abaixo, os principais trechos deste excelente artigo:
“Fidelidade aos ensinamentos de Goebbels”
A UNE acaba de sair do seu 51º Congresso, um dos mais importantes e o mais representativo da sua história. Mais de 2.300 instituições de ensino superior elegeram representantes a este fórum, contabilizando as impressionantes marcas de 92% das instituições envolvidas, mais de 2 milhões de votos nas eleições de base e de 4,5 milhões de universitários representados. Nosso congresso mobilizou estudantes de todo o país, que por cinco dias debateram o futuro do Brasil – popularização da universidade, reforma política, democratização da mídia, defesa do pré-sal, etc.
Se a imprensa brasileira trabalhasse a favor da democracia, esses assuntos seriam manchete em todos os jornais, rádios e canais de televisão e a disposição da juventude em lutar por um país melhor seria divulgada. No entanto, estes veículos nos dedicaram tratamento bem diferente nas duas últimas semanas. Cumprindo com fidelidade o ensinamento de Goebbels – uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade – a mídia escandalosamente busca subterfúgios para atacar a UNE, taxando-a de governista, vendida, aparelhada e desvirtuada de seus objetivos. Com isso, tenta impor a todos os seus pontos de vista, sem qualquer mediação ou abertura para apresentar o outro lado da notícia.
E os milhões da publicidade oficial?
Uma destas grosserias tem a ver com o recebimento de patrocínios de empresas públicas por parte da entidade. A UNE nunca recebeu recurso público para aplicá-lo no que bem entendesse. Recebe sim, e isto não se configura em nenhuma irregularidade, apoio para a construção de nossos encontros. Tampouco, estas parcerias comprometeram as posições políticas da entidade. Não nos impediu, por exemplo, de desenvolver uma ampla campanha – com cartazes, debates, passeatas e pronunciamentos – exigindo a demissão de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central, que foi indicado por este mesmo governo. Não nos furtamos de apresentar nossas críticas ao MEC por sua conivência ao setor privado da educação, como no caso do boicote que convocamos ao ENADE por dois anos consecutivos.
Mas, onde estavam os jornais, as TVs, rádios e revistas para noticiar essas manifestações? Reunimos, em julho de 2007, mais de 20 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios para pedir mudanças na política econômica do governo Lula e nenhuma nota foi publicada ou divulgada sobre isso. Os mesmos jornais que se horrorizam com o fato de termos recebido recursos para reunir 10 mil estudantes de todo o Brasil não parecem incomodados em receberem, eles próprios, um montante considerável de verbas publicitárias do governo federal. Em 2008, as verbas públicas destinadas para as emissoras de televisão foram de R$ 641 milhões, já os jornais receberam quase R$ 135 milhões.
Ora, por qual razão os patrocínios recebidos pela UNE corrompem nossas idéias enquanto todo este recurso em nada arranha a independência destes veículos? A UNE desafia cada um deles: declarem que de hoje em diante não aceitam um centavo em dinheiro público e faremos o mesmo! De nossa parte temos a certeza que seguiremos nossa trajetória! Com certeza não teremos resposta. Pois não é esta a questão principal. O que os incomoda e o que eles querem ocultar é a discussão sobre o futuro do Brasil e a opinião dos estudantes.
“Por uma comunicação mais justa e equilibrada”
Não querem lembrar que durante a década de 90 os estudantes brasileiros – em jornadas ao lado das centrais sindicais, do MST e de outros movimentos sociais - saíram às ruas para denunciar as privatizações, o ataque ao direito dos trabalhadores e a ausência de políticas sociais. Que foram essas manifestações que impediram o governo Fernando Henrique Cardoso de privatizar as universidades públicas através da cobrança de mensalidades.
Não reconhecem que após a eleição do presidente Lula, a UNE manteve e ampliou suas reivindicações. Resultado delas, nós conquistamos a duplicação das vagas nas universidades públicas, o PROUNI e a inédita rubrica nacional para assistência estudantil, iniciando o enfrentamento ao modelo elitista de universidade predominante no Brasil. Insinuam que a UNE abriu mão de suas bandeiras históricas, mas esquecem que não há bandeira mais importante para a tradição da UNE do que a defesa de uma universidade que esteja a serviço do Brasil e da maioria do nosso povo! Não se conformam com a democracia, com o fato de termos um governo oriundo dos movimentos sociais e que, por esta trajetória, está aberto a ouvir as reivindicações da sociedade.
A UNE não mudou de postura, o que mudou foi o governo e o Brasil e é isso que os conservadores e a mídia que está a serviço desses setores não admitem. Insistem em dizer que a UNE nasceu para ser ‘do contra’. Rude mentira que em nada nos desviará de nossa missão! Saibam que estamos preparados para mais editoriais, artigos, comentários e tendenciosas ‘notícias’. Contra suas pretensões de uma sociedade apática, acrítica e sem poder de contestar os rumos que querem impor ao nosso país, eles enfrentarão a iniciativa criativa e mobilizadora dos estudantes na defesa de um novo Brasil. Há de chegar o dia em que teremos uma comunicação mais justa e equilibrada. A UNE e sua nova diretoria estão aqui, firmes e à disposição do verdadeiro debate de rumos para o Brasil!
sábado, 25 de julho de 2009
Pressão e propostas para a 1ª Confecom
No próximo sábado, 1º de agosto, na sede do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, ocorrerá a Primeira Pré-Conferência Paulista de Comunicação. O evento reunirá ativistas dos movimentos sociais e comunicadores populares de todo o Estado e tem quatro objetivos básicos: intensificar a pressão da sociedade pela realização da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que está sob séria ameaça dos barões da mídia; mobilizar amplos setores para interferir neste debate de caráter estratégico; contribuir na elaboração de propostas concretas de políticas públicas para a democratização da comunicação; e unificar o campo progressista na luta por mudanças no setor.
Com o título “Da comunicação que temos à comunicação que queremos”, o encontro discutirá a diversidade e pluralidade de conteúdo; controle social e instrumentos de regulação; publicidade e mecanismos de financiamento; concessão pública e propriedade; rede pública de comunicação; radiodifusão comunitária; e inclusão digital e internet, entre outros temas decisivos. Na parte da manhã, uma plenária debaterá a luta contra a ditadura midiática e os desafios da Confecom; já no período da tarde, vários grupos de trabalho discutirão propostas concretas para a democratização dos meios de comunicação. Uma plenária final aprovará a plataforma dos movimentos sociais e definirá um plano de ação para garantir as etapas municipais e estadual da conferência nacional.
Agenda obrigatória dos lutadores sociais
A Pré-Conferência Paulista é uma agenda obrigatória de todos os lutadores conscientes de que a comunicação é uma questão estratégica, que deve ser encarada como direito humano e requisito básico para o avanço da democracia. Ela foi convocada por 58 entidades, movimentos sociais e redes, que desde abril passado criaram o comitê paulista pró-conferência. Além de envolver os setores organizados da sociedade, o comitê paulista visa alertar os usuários inorgânicos para as deformações difundidas pela mídia. A convocação do evento expressa esta preocupação:
“Você está satisfeito ou satisfeita com a programação da sua TV? Sabia que as concessões de rádio e TV são públicas e que você poderia interferir na distribuição e no conteúdo delas? Você sabia que estão querendo controlar o uso da internet no Brasil? Acha justo e democrático que a liberdade de expressão seja um direito de oito famílias e que o povo brasileiro só tenha direito a trocar de canal? Quase 60% das verbas publicitárias são destinadas a uma emissora de televisão (TV Globo). E como ficam os sites, blogs, jornais e rádios comunitárias? A comunicação, assim como educação, saúde, moradia, é um direito humano que deve ser garantido a toda sociedade”.
Participe da Pré-Conferência Paulista em 1º de agosto! Ajude a organizar uma delegação da sua entidade sindical, comunitária, estudantil; monte uma caravana da sua cidade no interior; discuta o tema na sua igreja, bairro, escola. Não se omita neste importante debate. A mídia hegemônica, altamente concentrada, criminaliza as lutas dos trabalhadores e interfere diretamente nas nossas vidas, manipulando informações e deformando comportamentos, fazendo “corações e mentes”. A 1ª Confecom, uma conquista dos movimentos sociais, será uma oportunidade impar para discutir os mecanismos para a construção de uma comunicação mais democrática no Brasil.
Com o título “Da comunicação que temos à comunicação que queremos”, o encontro discutirá a diversidade e pluralidade de conteúdo; controle social e instrumentos de regulação; publicidade e mecanismos de financiamento; concessão pública e propriedade; rede pública de comunicação; radiodifusão comunitária; e inclusão digital e internet, entre outros temas decisivos. Na parte da manhã, uma plenária debaterá a luta contra a ditadura midiática e os desafios da Confecom; já no período da tarde, vários grupos de trabalho discutirão propostas concretas para a democratização dos meios de comunicação. Uma plenária final aprovará a plataforma dos movimentos sociais e definirá um plano de ação para garantir as etapas municipais e estadual da conferência nacional.
Agenda obrigatória dos lutadores sociais
A Pré-Conferência Paulista é uma agenda obrigatória de todos os lutadores conscientes de que a comunicação é uma questão estratégica, que deve ser encarada como direito humano e requisito básico para o avanço da democracia. Ela foi convocada por 58 entidades, movimentos sociais e redes, que desde abril passado criaram o comitê paulista pró-conferência. Além de envolver os setores organizados da sociedade, o comitê paulista visa alertar os usuários inorgânicos para as deformações difundidas pela mídia. A convocação do evento expressa esta preocupação:
“Você está satisfeito ou satisfeita com a programação da sua TV? Sabia que as concessões de rádio e TV são públicas e que você poderia interferir na distribuição e no conteúdo delas? Você sabia que estão querendo controlar o uso da internet no Brasil? Acha justo e democrático que a liberdade de expressão seja um direito de oito famílias e que o povo brasileiro só tenha direito a trocar de canal? Quase 60% das verbas publicitárias são destinadas a uma emissora de televisão (TV Globo). E como ficam os sites, blogs, jornais e rádios comunitárias? A comunicação, assim como educação, saúde, moradia, é um direito humano que deve ser garantido a toda sociedade”.
Participe da Pré-Conferência Paulista em 1º de agosto! Ajude a organizar uma delegação da sua entidade sindical, comunitária, estudantil; monte uma caravana da sua cidade no interior; discuta o tema na sua igreja, bairro, escola. Não se omita neste importante debate. A mídia hegemônica, altamente concentrada, criminaliza as lutas dos trabalhadores e interfere diretamente nas nossas vidas, manipulando informações e deformando comportamentos, fazendo “corações e mentes”. A 1ª Confecom, uma conquista dos movimentos sociais, será uma oportunidade impar para discutir os mecanismos para a construção de uma comunicação mais democrática no Brasil.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Conferência de Comunicação corre perigo?
Os barões da mídia estão fazendo de tudo para implodir a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), fixada em decreto presidencial para o início de dezembro. Na reunião desta quarta-feira (22) da sua comissão de organização, formada por dez representantes do poder público, oito das entidades empresariais e oito da chamada “sociedade civil”, eles nem sequer compareceram, numa nítida postura de desrespeito e arrogância. Além de esconder totalmente a convocação da Confecom nos jornais e telejornais, eles parecem apostar no seu esvaziamento e cancelamento.
Num primeiro momento, os donos da mídia se aproveitaram do corte no orçamento da Confecom - de R$ 8,2 milhões para R$ 1,6 milhão – para alegar dificuldades operacionais. O representante do Ministério das Comunicações, o assessor jurídico Marcelo Bechara, chegou a antecipar que o contingenciamento da verba “inviabiliza a conferência”, o que deve ter agradado os empresários. Como o recurso foi reposto por decisão do presidente Lula, que enviou projeto-lei ao Congresso, os empresários voltaram à carga para impor o temário e os critérios de participação no evento.
Visão excludente dos barões da mídia
Quanto ao temário, os barões da mídia, teleguiados pela Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão (Abert), defendem que a Confecom discuta exclusivamente o futuro da “era digital”. Eles rejeitam qualquer debate sobre monopolização do setor, desrespeito aos preceitos constitucionais sobre produção regional e diversidade informativa, inexistência de normas sobre o controle social, entre outros itens decisivos para a efetiva democratização das comunicações. Numa jogada inteligente, que parte do risco real de invasão estrangeira na produção de conteúdo, a Abert também se fantasia de nacionalista para exigir medidas de proteção à cultura nacional.
Já no que se refere aos critérios de participação, os empresários exigem uma composição que não representa a sociedade brasileira. Eles reivindicam uma reserva de 40% das vagas dos delegados e defendem uma conferência bastante restritiva, com apenas 300 participantes. No início, eles até propuseram 1/3 dos delegados, o que já gerou forte reação. “Será que os donos dos veículos de comunicação e das empresas de telefonia e internet representam 1/3 da população brasileira? Se isso fosse verdade, poderíamos comemorar a quebra da concentração de propriedade que marca a mídia no país, já que contaríamos com 60 milhões de operadores diferentes”, ironizaram Jonas Valente e Carolina Ribeiro, integrantes do Intervozes.
Governo rejeitará as chantagens?
Na reunião desta quarta-feira, sem a presença das oito entidades empresariais, o governo não se mostrou disposto a aceitar a chantagem dos barões da mídia na definição do regimento. Deixou implícito que realizará a Confecom mesmo com o boicote das corporações midiáticas. Também rejeitou qualquer limitação ao temário do evento e demonstrou simpatias com uma nova proposta de composição: 20% do poder público, 50% do setor de comunicação (na qual se daria a disputa aberta na eleição dos delegados entre os empresários e os meios alternativos) e 30% dos usuários da comunicação. Uma última rodada para fechar o regimento está agendada para 28 de julho.
Apesar da disposição manifesta de negociar com os empresários, não será nada fácil garantir sua participação na Confecom. Todas as reuniões da comissão organizadora têm sido tensas e longas, com os barões da mídia fazendo chantagens e ameaças. Evandro Guimarães, dirigente da Abert e funcionário da TV Globo, é o mais inflexível nas negociações. Da parte dos movimentos sociais, não se tolera qualquer recuo que descaracterize o objetivo do evento de apontar políticas públicas para democratizar os meios de comunicação. A batalha, como se previa, tem caráter estratégico.
Aumentar a pressão da sociedade
Segundo reportagem do TeleTime, agência especializada no setor, os barões da mídia temem que o evento reduza o seu descomunal poder econômico e político. “A Confecom deverá sair sem a presença dos empresários do setor. Essa posição, ainda tratada com reserva, mas confirmada informalmente por setores empresariais, parece ser o ponto final de uma série de acontecimentos cada vez mais complexos que cercam a organização dos trabalhos. Em essência, as empresas perceberam que, se continuarem a apoiar a organização da Confecom, endossarão um evento que será, inevitavelmente, de caráter crítico aos seus interesses”.
Nos próximos dias, a batalha de bastidores se acirrará. O lobby dos barões da mídia é poderoso. Conta com expressiva bancada no parlamento, atemoriza os mais vacilantes com o seu poder de manipular a “opinião pública” e tem seus agentes no Planalto. É preciso ver até onde o governo Lula está disposto a comprar a briga com este nefasto setor. Daí a urgência de reforçar a pressão social. Fóruns massivos, como o encontro paulista pela democratização da comunicação, em 1º de agosto, no Sindicato dos Engenheiros, ganham ainda maior relevância. A convocação da 1ª Confecom foi uma vitória dos movimentos sociais; não podemos deixá-la escapar pelos dedos.
Num primeiro momento, os donos da mídia se aproveitaram do corte no orçamento da Confecom - de R$ 8,2 milhões para R$ 1,6 milhão – para alegar dificuldades operacionais. O representante do Ministério das Comunicações, o assessor jurídico Marcelo Bechara, chegou a antecipar que o contingenciamento da verba “inviabiliza a conferência”, o que deve ter agradado os empresários. Como o recurso foi reposto por decisão do presidente Lula, que enviou projeto-lei ao Congresso, os empresários voltaram à carga para impor o temário e os critérios de participação no evento.
Visão excludente dos barões da mídia
Quanto ao temário, os barões da mídia, teleguiados pela Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão (Abert), defendem que a Confecom discuta exclusivamente o futuro da “era digital”. Eles rejeitam qualquer debate sobre monopolização do setor, desrespeito aos preceitos constitucionais sobre produção regional e diversidade informativa, inexistência de normas sobre o controle social, entre outros itens decisivos para a efetiva democratização das comunicações. Numa jogada inteligente, que parte do risco real de invasão estrangeira na produção de conteúdo, a Abert também se fantasia de nacionalista para exigir medidas de proteção à cultura nacional.
Já no que se refere aos critérios de participação, os empresários exigem uma composição que não representa a sociedade brasileira. Eles reivindicam uma reserva de 40% das vagas dos delegados e defendem uma conferência bastante restritiva, com apenas 300 participantes. No início, eles até propuseram 1/3 dos delegados, o que já gerou forte reação. “Será que os donos dos veículos de comunicação e das empresas de telefonia e internet representam 1/3 da população brasileira? Se isso fosse verdade, poderíamos comemorar a quebra da concentração de propriedade que marca a mídia no país, já que contaríamos com 60 milhões de operadores diferentes”, ironizaram Jonas Valente e Carolina Ribeiro, integrantes do Intervozes.
Governo rejeitará as chantagens?
Na reunião desta quarta-feira, sem a presença das oito entidades empresariais, o governo não se mostrou disposto a aceitar a chantagem dos barões da mídia na definição do regimento. Deixou implícito que realizará a Confecom mesmo com o boicote das corporações midiáticas. Também rejeitou qualquer limitação ao temário do evento e demonstrou simpatias com uma nova proposta de composição: 20% do poder público, 50% do setor de comunicação (na qual se daria a disputa aberta na eleição dos delegados entre os empresários e os meios alternativos) e 30% dos usuários da comunicação. Uma última rodada para fechar o regimento está agendada para 28 de julho.
Apesar da disposição manifesta de negociar com os empresários, não será nada fácil garantir sua participação na Confecom. Todas as reuniões da comissão organizadora têm sido tensas e longas, com os barões da mídia fazendo chantagens e ameaças. Evandro Guimarães, dirigente da Abert e funcionário da TV Globo, é o mais inflexível nas negociações. Da parte dos movimentos sociais, não se tolera qualquer recuo que descaracterize o objetivo do evento de apontar políticas públicas para democratizar os meios de comunicação. A batalha, como se previa, tem caráter estratégico.
Aumentar a pressão da sociedade
Segundo reportagem do TeleTime, agência especializada no setor, os barões da mídia temem que o evento reduza o seu descomunal poder econômico e político. “A Confecom deverá sair sem a presença dos empresários do setor. Essa posição, ainda tratada com reserva, mas confirmada informalmente por setores empresariais, parece ser o ponto final de uma série de acontecimentos cada vez mais complexos que cercam a organização dos trabalhos. Em essência, as empresas perceberam que, se continuarem a apoiar a organização da Confecom, endossarão um evento que será, inevitavelmente, de caráter crítico aos seus interesses”.
Nos próximos dias, a batalha de bastidores se acirrará. O lobby dos barões da mídia é poderoso. Conta com expressiva bancada no parlamento, atemoriza os mais vacilantes com o seu poder de manipular a “opinião pública” e tem seus agentes no Planalto. É preciso ver até onde o governo Lula está disposto a comprar a briga com este nefasto setor. Daí a urgência de reforçar a pressão social. Fóruns massivos, como o encontro paulista pela democratização da comunicação, em 1º de agosto, no Sindicato dos Engenheiros, ganham ainda maior relevância. A convocação da 1ª Confecom foi uma vitória dos movimentos sociais; não podemos deixá-la escapar pelos dedos.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
O vergonhoso papel da Igreja em Honduras
O golpe militar em Honduras relembra o triste papel da Igreja Católica na defesa dos privilégios dos ricaços na América Latina. Nas décadas de 1960/1970, a sua alta hierarquia organizou as marchas com “Deus, pela família e pela propriedade”, preparando o clima para a derrubada de presidentes nacionalistas. Com seu discurso anticomunista, ela deu apoio ostensivo a sanguinárias ditaduras. No Chile, ela abençoou o fascista Pinochet; na Argentina, alguns “religiosos” participaram até de sessões de tortura. Esta ligação carnal com os poderosos rachou a Igreja, com o florescimento da Teologia de Libertação e das Comunidades Eclesiais de Base, ligadas aos anseios populares.
Este setor progressista cresceu e jogou papel de destaque na luta pela democracia e por reformas profundas no continente. Mas com a ascensão do cardeal polonês Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, houve nova guinada direitista no Vaticano, que investiu para dizimar os religiosos mais engajados nas lutas dos povos “pelo reino de Deus na Terra”. A hierarquia ligada aos poderosos retomou a ofensiva e voltou a cometer atrocidades, como no frustrado golpe na Venezuela de abril de 2002, no apoio aos separatistas da Bolívia ou nas ações de desestabilização do governo de Cristina Kirchner na Argentina. Agora, ela novamente mostra sua fase horrenda em Honduras.
Papável com as mãos sujas de sangue
Logo após o golpe de 28 de junho, a Conferência Episcopal de Honduras divulgou nota de apoio aos militares e condenou o presidente Manuel Zelaya por “traição à pátria, abuso de autoridade e usurpação de funções”. Já o cardeal Oscar Rodrigues Maradiaga, que chegou a ser cotado para substituir o reacionário Wojtyla no Vaticano, implorou na TV que Zelaya não retornasse ao país. Agora, num habilidoso jogo de poder, a Igreja Católica tenta se cacifar politicamente. “Depois da clara aprovação do golpe, a máxima hierarquia eclesiástica reproduz, numa linguagem melosa e hipócrita, os convites ao diálogo, ao consenso e a reconciliação”, critica o filósofo Rubén Dri.
A alta hierarquia católica está temerosa com a onda de revolta da população. “O nosso país vive um caos. Não sabemos o que vai acontecer. Nas ruas, as manifestações ocorrem num ambiente de grande incerteza. As manifestações a favor do ex-presidente são muito agressivas, no sentido de que sujam tudo, e ocorreram vários atos de vandalismo em defesa de Zelaya”, apavora-se o elitista Carlos Nuñez, secretário particular do cardeal Maradiaga. A Igreja Católica de Honduras, bastante distanciada do povo, tem perdido prestígio no país. Em 2006, por exemplo, 15 paróquias foram assaltadas e 35 imagens sacras sumiram. No começo deste ano, ela solicitou proteção para os seus templos. Com o apoio ao truculento golpe militar, a tendência é a descrença aumente.
Rejeição nas bases católicas
A ação golpista do papável Oscar Rodrigues não foi consensual nas bases da igreja hondurenha. O bispo Luis Affonso, da Diocese de Copán, repudiou “a substância, a forma e o estilo com que se impôs ao povo um novo chefe do Poder Executivo”. Já a Rádio Progresso, ligada aos jesuítas e que se opôs ao golpe, foi invadida por 25 militares, que ordenaram o cancelamento “de maneira absoluta da programação” e agrediram os trabalhadores. Ela também gerou críticas do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), que condenou o golpe, e causou mal-estar até no Vaticano.
Segundo o correspondente do jornal Clarín em Roma, caiu a máscara do cardeal. “Considerado um papável no conclave de abril de 2005, que elegeu Bento 16, com seu gesto lamentável ele perdeu todas as chances que ainda tinha de ser o eventual sucessor do atual pontífice. Maradiaga, um dos mais conhecidos cardeais latino-americanos, com vastos contatos em todos os níveis da Cúria de Roma, fez mais do que apoiar o golpe. Sua Eminência é um inspirador dos golpistas. Ele os brindou com uma cobertura que os reforça e contribui ainda mais para ferir a causa democrática na America Latina, onde os golpes de Estado pareciam um anacronismo superado”.
O golpismo da Conferência Episcopal de Honduras confirma as opiniões do escritor uruguaio Jorge Majfud. “Na América Latina, o papel da Igreja Católica quase sempre foi o dos fariseus e dos mestres da lei que condenaram Jesus na defesa das classes dominantes. Não houve ditadura militar, de origem oligárquica, que não recebesse a benção de bispos e de sacerdotes influentes, legitimando a censura, a opressão e o assassinato em massa dos supostos pecadores... Agora, no século XXI, o método e os discursos se repetem em Honduras como uma chibatada no passado”.
Este setor progressista cresceu e jogou papel de destaque na luta pela democracia e por reformas profundas no continente. Mas com a ascensão do cardeal polonês Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, houve nova guinada direitista no Vaticano, que investiu para dizimar os religiosos mais engajados nas lutas dos povos “pelo reino de Deus na Terra”. A hierarquia ligada aos poderosos retomou a ofensiva e voltou a cometer atrocidades, como no frustrado golpe na Venezuela de abril de 2002, no apoio aos separatistas da Bolívia ou nas ações de desestabilização do governo de Cristina Kirchner na Argentina. Agora, ela novamente mostra sua fase horrenda em Honduras.
Papável com as mãos sujas de sangue
Logo após o golpe de 28 de junho, a Conferência Episcopal de Honduras divulgou nota de apoio aos militares e condenou o presidente Manuel Zelaya por “traição à pátria, abuso de autoridade e usurpação de funções”. Já o cardeal Oscar Rodrigues Maradiaga, que chegou a ser cotado para substituir o reacionário Wojtyla no Vaticano, implorou na TV que Zelaya não retornasse ao país. Agora, num habilidoso jogo de poder, a Igreja Católica tenta se cacifar politicamente. “Depois da clara aprovação do golpe, a máxima hierarquia eclesiástica reproduz, numa linguagem melosa e hipócrita, os convites ao diálogo, ao consenso e a reconciliação”, critica o filósofo Rubén Dri.
A alta hierarquia católica está temerosa com a onda de revolta da população. “O nosso país vive um caos. Não sabemos o que vai acontecer. Nas ruas, as manifestações ocorrem num ambiente de grande incerteza. As manifestações a favor do ex-presidente são muito agressivas, no sentido de que sujam tudo, e ocorreram vários atos de vandalismo em defesa de Zelaya”, apavora-se o elitista Carlos Nuñez, secretário particular do cardeal Maradiaga. A Igreja Católica de Honduras, bastante distanciada do povo, tem perdido prestígio no país. Em 2006, por exemplo, 15 paróquias foram assaltadas e 35 imagens sacras sumiram. No começo deste ano, ela solicitou proteção para os seus templos. Com o apoio ao truculento golpe militar, a tendência é a descrença aumente.
Rejeição nas bases católicas
A ação golpista do papável Oscar Rodrigues não foi consensual nas bases da igreja hondurenha. O bispo Luis Affonso, da Diocese de Copán, repudiou “a substância, a forma e o estilo com que se impôs ao povo um novo chefe do Poder Executivo”. Já a Rádio Progresso, ligada aos jesuítas e que se opôs ao golpe, foi invadida por 25 militares, que ordenaram o cancelamento “de maneira absoluta da programação” e agrediram os trabalhadores. Ela também gerou críticas do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), que condenou o golpe, e causou mal-estar até no Vaticano.
Segundo o correspondente do jornal Clarín em Roma, caiu a máscara do cardeal. “Considerado um papável no conclave de abril de 2005, que elegeu Bento 16, com seu gesto lamentável ele perdeu todas as chances que ainda tinha de ser o eventual sucessor do atual pontífice. Maradiaga, um dos mais conhecidos cardeais latino-americanos, com vastos contatos em todos os níveis da Cúria de Roma, fez mais do que apoiar o golpe. Sua Eminência é um inspirador dos golpistas. Ele os brindou com uma cobertura que os reforça e contribui ainda mais para ferir a causa democrática na America Latina, onde os golpes de Estado pareciam um anacronismo superado”.
O golpismo da Conferência Episcopal de Honduras confirma as opiniões do escritor uruguaio Jorge Majfud. “Na América Latina, o papel da Igreja Católica quase sempre foi o dos fariseus e dos mestres da lei que condenaram Jesus na defesa das classes dominantes. Não houve ditadura militar, de origem oligárquica, que não recebesse a benção de bispos e de sacerdotes influentes, legitimando a censura, a opressão e o assassinato em massa dos supostos pecadores... Agora, no século XXI, o método e os discursos se repetem em Honduras como uma chibatada no passado”.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Ministro-racista de Israel está no Brasil
Sem alardes ou críticas da mídia, já se encontra em visita oficial ao Brasil o ministro de Relações Exteriores de Israel, o racista assumido Avigdor Liberman. Segundo a nota da embaixada do país em Brasília, o objetivo da viagem de dez dias à América Latina, que também inclui a Argentina, Peru e Colômbia, “é desenvolver contato em novas direções, além das relações especiais com os Estados Unidos e os laços estreitos com a Europa”. Na prática, Israel procura sair do isolamento, decorrente da sua política agressiva, e evitar a crescente influência do Irã no continente.
Liberman já teve um encontro “cordial” com o governador José Serra, um almoço com a elite da Fiesp e participará de audiência com o presidente Lula. Temendo protestos públicos, foi montado enorme aparato de segurança para proteger o ministro-racista. Sua comitiva circulou pela capital paulista puxada por oito batedores da PM, além de dois veículos blindados. Contrariando a praxe diplomática, o carro que transportou Liberman foi dirigido por um membro da Shabak, a agência de “inteligência” de Israel. A Polícia Federal forneceu 15 agentes armados à comitiva, contra uma média de três para autoridades estrangeiras do mesmo nível.
Mídia blinda o terrorista
Como era de se esperar, a mídia hegemônica tem evitado críticas ao chanceler-racista. Inclusive, ela tentou desqualificar as corajosas declarações do secretário de relações internacionais do PT, Valter Pomar, que acusou Liberman de ser “fascista e racista”. O oligárquico Estadão, que nunca escondeu as suas simpatias pelo sionismo, estampou o título maldoso “Funcionário do PT chama chanceler de Israel de fascista”, negando sua condição de dirigente petista. Numa jogada rasteira, o jornal ainda tentou estimular a cizânia entre Valter Pomar e o governo Lula. Sem citar a fonte, o texto afirma que um porta-voz do presidente considerou suas declarações “bastante grosseiras”.
Se fosse mais séria e pluralista, a mídia hegemônica deixaria de lado as fofocas maldosas e daria uma breve biografia do carrasco Avigdor Liberman. Bastaria reproduzir as declarações públicas do atual chanceler israelense, como fez recentemente o jornal Água Verde, publicado no Paraná. Seu dossiê lembra que Lieberman responde a processos na Justiça por envolvimento com o crime organizado (Máfia Russa), incluindo tráfico de drogas, e que fundou o partido de extrema direita Yisrael Beitenu, que apoiou o atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em troca de cargos no governo. Entre as suas declarações racistas e criminosas, o jornal destaca algumas:
“Transformar o Irã num aterro”
- Em 1998, ele defendeu a inundação do Egito através do bombardeio da Represa de Assuã;
- Em 2001, como ministro da Infraestrutura Nacional de Israel, propôs que a Cisjordânia fosse dividida em quatro cantões sem governo palestino central e sem a possibilidade dos palestinos transitarem na região;
- Em 2002 o jornal israelense Yedioth Ahronoth publicou a seguinte declaração de Liberman: “As 8 da manhã nós vamos bombardear todos os seus centros comerciais, à meia-noite as estações de gás, e às duas horas vamos bombardear seus bancos”.
- Em 2003 o diário israelense Haaretz informou que Liberman defendeu que os milhares de prisioneiros palestinos detidos em Israel fossem afogados no Mar Morto, oferecendo, cinicamente, ônibus para o transporte;
- Em maio de 2004, ele propôs um plano de transferência de territórios palestinos, anexando os territórios palestinos e expulsando a população nativa;
- Em maio de 2004, afirmou que 90% dos 1,2 milhão de cidadãos palestinos de Israel “tinham de encontrar uma nova entidade árabe para viver”, fora das fronteiras de Israel. “Aqui não é o lugar deles. Eles podem pegar suas trouxas e dar no pé!”
- Em maio de 2006, ele defendeu o assassinato dos membros árabes do Knesset (Parlamento israelense) que haviam se encontrado com os membros do Hamas integrantes da Autoridade Palestina para discutir acordos de paz na região;
- Em dezembro de 2008, defendeu o uso de armas químicas e nucleares contra a Faixa de Gaza, afirmando que seria “perda de tempo usar armas convencionais. Devemos jogar uma bomba atômica em Gaza para reduzir o tempo de conflito, assim como os EUA atacaram em Hiroshima na Segunda Guerra”, afirmou em entrevista em jornal israelense Haaretz;
- Em junho de 2009, discursou no Knesset israelense ameaçando “transformar o Irã num aterro”, através do bombardeio do país com armas nucleares.
Liberman já teve um encontro “cordial” com o governador José Serra, um almoço com a elite da Fiesp e participará de audiência com o presidente Lula. Temendo protestos públicos, foi montado enorme aparato de segurança para proteger o ministro-racista. Sua comitiva circulou pela capital paulista puxada por oito batedores da PM, além de dois veículos blindados. Contrariando a praxe diplomática, o carro que transportou Liberman foi dirigido por um membro da Shabak, a agência de “inteligência” de Israel. A Polícia Federal forneceu 15 agentes armados à comitiva, contra uma média de três para autoridades estrangeiras do mesmo nível.
Mídia blinda o terrorista
Como era de se esperar, a mídia hegemônica tem evitado críticas ao chanceler-racista. Inclusive, ela tentou desqualificar as corajosas declarações do secretário de relações internacionais do PT, Valter Pomar, que acusou Liberman de ser “fascista e racista”. O oligárquico Estadão, que nunca escondeu as suas simpatias pelo sionismo, estampou o título maldoso “Funcionário do PT chama chanceler de Israel de fascista”, negando sua condição de dirigente petista. Numa jogada rasteira, o jornal ainda tentou estimular a cizânia entre Valter Pomar e o governo Lula. Sem citar a fonte, o texto afirma que um porta-voz do presidente considerou suas declarações “bastante grosseiras”.
Se fosse mais séria e pluralista, a mídia hegemônica deixaria de lado as fofocas maldosas e daria uma breve biografia do carrasco Avigdor Liberman. Bastaria reproduzir as declarações públicas do atual chanceler israelense, como fez recentemente o jornal Água Verde, publicado no Paraná. Seu dossiê lembra que Lieberman responde a processos na Justiça por envolvimento com o crime organizado (Máfia Russa), incluindo tráfico de drogas, e que fundou o partido de extrema direita Yisrael Beitenu, que apoiou o atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em troca de cargos no governo. Entre as suas declarações racistas e criminosas, o jornal destaca algumas:
“Transformar o Irã num aterro”
- Em 1998, ele defendeu a inundação do Egito através do bombardeio da Represa de Assuã;
- Em 2001, como ministro da Infraestrutura Nacional de Israel, propôs que a Cisjordânia fosse dividida em quatro cantões sem governo palestino central e sem a possibilidade dos palestinos transitarem na região;
- Em 2002 o jornal israelense Yedioth Ahronoth publicou a seguinte declaração de Liberman: “As 8 da manhã nós vamos bombardear todos os seus centros comerciais, à meia-noite as estações de gás, e às duas horas vamos bombardear seus bancos”.
- Em 2003 o diário israelense Haaretz informou que Liberman defendeu que os milhares de prisioneiros palestinos detidos em Israel fossem afogados no Mar Morto, oferecendo, cinicamente, ônibus para o transporte;
- Em maio de 2004, ele propôs um plano de transferência de territórios palestinos, anexando os territórios palestinos e expulsando a população nativa;
- Em maio de 2004, afirmou que 90% dos 1,2 milhão de cidadãos palestinos de Israel “tinham de encontrar uma nova entidade árabe para viver”, fora das fronteiras de Israel. “Aqui não é o lugar deles. Eles podem pegar suas trouxas e dar no pé!”
- Em maio de 2006, ele defendeu o assassinato dos membros árabes do Knesset (Parlamento israelense) que haviam se encontrado com os membros do Hamas integrantes da Autoridade Palestina para discutir acordos de paz na região;
- Em dezembro de 2008, defendeu o uso de armas químicas e nucleares contra a Faixa de Gaza, afirmando que seria “perda de tempo usar armas convencionais. Devemos jogar uma bomba atômica em Gaza para reduzir o tempo de conflito, assim como os EUA atacaram em Hiroshima na Segunda Guerra”, afirmou em entrevista em jornal israelense Haaretz;
- Em junho de 2009, discursou no Knesset israelense ameaçando “transformar o Irã num aterro”, através do bombardeio do país com armas nucleares.
terça-feira, 21 de julho de 2009
E a “liberdade de imprensa” em Honduras?
O golpe militar em Honduras comprova, até para os mais tapados, que a tal “liberdade de imprensa” pregada pelos barões da mídia representa, na verdade, a “liberdade dos monopólios”. O discurso das corporações midiáticas é pura hipocrisia. Um jornalista hondurenho já foi assassinado em condições misteriosas; toda a equipe da Telesur, que dava um show na cobertura do trágico episódio, foi presa e expulsa do país pelos gangsteres golpistas; inúmeras rádios comunitárias foram atacadas; a Rede Globo de Tegucigalpa, que nada tem a ver com a Vênus enlameada brasileira, também foi fechada; até a CNN em espanhol foi proibida de exibir as cenas de violência nas ruas, que já causaram dezenas de mortes.
Apesar de toda esta brutalidade fascista, nenhum dos colunistas bem pagos da mídia hegemônica fez declarações inflamadas em defesa da “liberdade de imprensa”; nenhum meio privado criticou a brutal censura e as agressões aos jornalistas; nenhum editorial da “grande imprensa” questionou o fato de que a mídia hondurenha está nas mãos de meia dúzia de oligarcas reacionários, que clamaram pelo golpe e dão total respaldo à ditadura sanguinária. A máfia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que recentemente criticou o presidente Lula por suas “criticas descabidas ao enfoque do noticiário”, não se pronunciou contra os atentados à liberdade de expressão. A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), bancada pelo CIA na sua campanha permanente contra a revolução cubana, também está quieta.
Defesa das atrocidades dos golpistas
Segundo relatos da própria Cruz Vermelha, os “gorilas” hondurenhos promovem as piores atrocidades, como invasões de casas, torturas, estupros e assassinatos, e a mídia hegemônica ainda tenta relativizar o papel dos ditadores. A Folha agora passou a qualificar o governo golpista de “interino”. A TV Globo critica o presidente deposto, Manuel Zelaya, por ele rejeitar um acordo de “conciliação nacional” com os bandidos. O Correio Braziliense chegou a justificar o golpe num texto repugnante. Alguns doentes mentais da revista Veja, travestidos de blogueiros, argumentam que a violenta deposição de Zelaya foi para “salvar a democracia”. São todos falsários quando pregam a “liberdade de imprensa”.
Para acompanhar o que de fato ocorre em Honduras é preciso furar o bloqueio dos barões da mídia. A Telesur, retransmitida pela TV Educativa do Paraná e por algumas emissoras comunitárias, continua exibindo cenas da violência dos golpistas e da crescente resistência dos hondurenhos. Pela internet, os sítios da Agência Boliviana de Notícias e o Aporrea, entre outros, trazem informações exclusivas dos movimentos sociais deste país. Na prática, estes veículos alternativos realizam a autêntica defesa da “liberdade de expressão”, enquanto a mídia hegemônica comprova que serve apenas aos interesses dos poderosos e às ambições do império. Seu discurso da “liberdade de imprensa” é puro cinismo!
Apesar de toda esta brutalidade fascista, nenhum dos colunistas bem pagos da mídia hegemônica fez declarações inflamadas em defesa da “liberdade de imprensa”; nenhum meio privado criticou a brutal censura e as agressões aos jornalistas; nenhum editorial da “grande imprensa” questionou o fato de que a mídia hondurenha está nas mãos de meia dúzia de oligarcas reacionários, que clamaram pelo golpe e dão total respaldo à ditadura sanguinária. A máfia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que recentemente criticou o presidente Lula por suas “criticas descabidas ao enfoque do noticiário”, não se pronunciou contra os atentados à liberdade de expressão. A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), bancada pelo CIA na sua campanha permanente contra a revolução cubana, também está quieta.
Defesa das atrocidades dos golpistas
Segundo relatos da própria Cruz Vermelha, os “gorilas” hondurenhos promovem as piores atrocidades, como invasões de casas, torturas, estupros e assassinatos, e a mídia hegemônica ainda tenta relativizar o papel dos ditadores. A Folha agora passou a qualificar o governo golpista de “interino”. A TV Globo critica o presidente deposto, Manuel Zelaya, por ele rejeitar um acordo de “conciliação nacional” com os bandidos. O Correio Braziliense chegou a justificar o golpe num texto repugnante. Alguns doentes mentais da revista Veja, travestidos de blogueiros, argumentam que a violenta deposição de Zelaya foi para “salvar a democracia”. São todos falsários quando pregam a “liberdade de imprensa”.
Para acompanhar o que de fato ocorre em Honduras é preciso furar o bloqueio dos barões da mídia. A Telesur, retransmitida pela TV Educativa do Paraná e por algumas emissoras comunitárias, continua exibindo cenas da violência dos golpistas e da crescente resistência dos hondurenhos. Pela internet, os sítios da Agência Boliviana de Notícias e o Aporrea, entre outros, trazem informações exclusivas dos movimentos sociais deste país. Na prática, estes veículos alternativos realizam a autêntica defesa da “liberdade de expressão”, enquanto a mídia hegemônica comprova que serve apenas aos interesses dos poderosos e às ambições do império. Seu discurso da “liberdade de imprensa” é puro cinismo!
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Massacre em Honduras não existe nas TVs
Em junho passado, a mídia mundial deu enorme destaque para os protestos contra as eleições no Irã, que garantiram 64% dos votos para Mahmoud Ahmadinejad. Mesmo criticando a “censura”, as redes de TV inundaram o planeta com cenas das “explosões espontâneas contrárias à ditadura islâmica”. A morte de uma jovem em Teerã teve overdose de exposição nas telinhas. O curioso é que o mesmo empenho na cobertura jornalística não se observa em Honduras, palco de um golpe militar que já causou dezenas de mortes. Dados oficiais da Cruz Vermelha contabilizam mais de 50 hondurenhos assassinados e cerca de mil lideranças oposicionistas presas e desaparecidas.
O repórter Laerte Braga, que mantém contatos com a resistência hondurenha, está indignado com o silêncio da mídia. Ele garante que já são mais de 150 executados no país. “Pessoas são mortas nas ruas de Tegucigalpa, muitas são conduzidas às prisões e os postos de saúde controlados pelos golpistas negam atendimento aos feridos”. Militares e esquadrões da morte invadem residências, saqueiam, estupram as mulheres e torturam. “Setores da resistência falam em banho de sangue, tamanha a selvageria dos militares. Porta-vozes da Cruz Vermelha se mostram horrorizados com a violência... Traficantes de drogas e quadrilhas com base em Miami estão em Honduras dando respaldo ao golpe e ocupam o Ministério da Justiça através de membros do esquadrão da morte”.
Mídia servil aos interesses do império
Para Laerte Braga, “há uma ação concentrada dos embaixadores dos EUA na região, em conluio com o governo paralelo dos EUA, para desestabilizar toda a área, provocar uma guerra e, assim, derrubar governos contrários aos interesses norte-americanos. Obama é um boneco, um objeto de decoração envolvido nas tramas golpistas... O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, acusou os golpistas de tentarem forçar uma situação de guerra para justificar uma intervenção militar norte-americana, mesmo que disfarçada com a presença de tropas de outros países, como já ocorre no Haiti”. O seu governo e o de El Salvador já reforçaram a presença de tropas nas fronteiras.
Com a mesma convicção, o jornalista Juan Gelman, do diário argentino Página 12, afirma que “a Casa Branca conhecia há meses o golpe que se preparava em Honduras, embora seus porta-vozes finjam agora sua inocência”. Ele lembra que o atual embaixador em Tegucigalpa, Hugo Llorens, privilegiou as relações com o general golpista Romero Vásquez desde a sua chegada ao país, em setembro passado. Cita ainda as declarações de Hillary Clinton contra o referendo convocado por Manuel Zelaya. “É difícil supor que os chefes militares de Honduras, armados pelo Pentágono e formados na Escola das Américas, tenham se movido sem a autorização de seus mentores”.
Golpistas corruptos e assassinos
Diante dos interesses imperiais dos EUA e do temor das elites locais com o avanço dos governos progressistas no continente, a mídia hegemônica evita mostrar as cenas de violência. Ela também ofusca os protestos diários e crescentes contra o golpe. As televisões privadas sequer denunciam que os “gorilas” são fascistas assumidos e corruptos processados. O general Romero Vásquez, autor do seqüestro do presidente Zelaya, foi preso em 1993, acusado de roubar 200 automóveis de luxo. Já o “ministro” Billy Joya foi chefe da divisão tática do Batalhão B3-16, o esquadrão da morte hondurenho que torturou e seqüestrou inúmeras pessoas nos anos 1980.
Nada disto aparece nas telinhas da televisão. O tratamento da mídia venal é totalmente diferente do exibido durante as “explosões espontâneas” no Irã. Manuel Zelaya era um obstáculo para os interesses do império na região. Ele rompeu o tratado de “livre comércio” com os EUA, firmou o acordo com a Alba (Alternativa Bolivariana das Américas) e aliou-se a Hugo Chávez, tão odiado e estigmatizado pela mídia imperial. Daí a cobertura tendenciosa. Sua linha editorial é evidente. Seguindo as ordens da Casa Branca, ela aposta na solução “negociada”, que inviabilize o retorno de Zelaya ao poder e legitime um “governo de conciliação nacional”. Tanto que vários veículos de comunicação já têm tratado o governo golpista como “interino”.
O repórter Laerte Braga, que mantém contatos com a resistência hondurenha, está indignado com o silêncio da mídia. Ele garante que já são mais de 150 executados no país. “Pessoas são mortas nas ruas de Tegucigalpa, muitas são conduzidas às prisões e os postos de saúde controlados pelos golpistas negam atendimento aos feridos”. Militares e esquadrões da morte invadem residências, saqueiam, estupram as mulheres e torturam. “Setores da resistência falam em banho de sangue, tamanha a selvageria dos militares. Porta-vozes da Cruz Vermelha se mostram horrorizados com a violência... Traficantes de drogas e quadrilhas com base em Miami estão em Honduras dando respaldo ao golpe e ocupam o Ministério da Justiça através de membros do esquadrão da morte”.
Mídia servil aos interesses do império
Para Laerte Braga, “há uma ação concentrada dos embaixadores dos EUA na região, em conluio com o governo paralelo dos EUA, para desestabilizar toda a área, provocar uma guerra e, assim, derrubar governos contrários aos interesses norte-americanos. Obama é um boneco, um objeto de decoração envolvido nas tramas golpistas... O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, acusou os golpistas de tentarem forçar uma situação de guerra para justificar uma intervenção militar norte-americana, mesmo que disfarçada com a presença de tropas de outros países, como já ocorre no Haiti”. O seu governo e o de El Salvador já reforçaram a presença de tropas nas fronteiras.
Com a mesma convicção, o jornalista Juan Gelman, do diário argentino Página 12, afirma que “a Casa Branca conhecia há meses o golpe que se preparava em Honduras, embora seus porta-vozes finjam agora sua inocência”. Ele lembra que o atual embaixador em Tegucigalpa, Hugo Llorens, privilegiou as relações com o general golpista Romero Vásquez desde a sua chegada ao país, em setembro passado. Cita ainda as declarações de Hillary Clinton contra o referendo convocado por Manuel Zelaya. “É difícil supor que os chefes militares de Honduras, armados pelo Pentágono e formados na Escola das Américas, tenham se movido sem a autorização de seus mentores”.
Golpistas corruptos e assassinos
Diante dos interesses imperiais dos EUA e do temor das elites locais com o avanço dos governos progressistas no continente, a mídia hegemônica evita mostrar as cenas de violência. Ela também ofusca os protestos diários e crescentes contra o golpe. As televisões privadas sequer denunciam que os “gorilas” são fascistas assumidos e corruptos processados. O general Romero Vásquez, autor do seqüestro do presidente Zelaya, foi preso em 1993, acusado de roubar 200 automóveis de luxo. Já o “ministro” Billy Joya foi chefe da divisão tática do Batalhão B3-16, o esquadrão da morte hondurenho que torturou e seqüestrou inúmeras pessoas nos anos 1980.
Nada disto aparece nas telinhas da televisão. O tratamento da mídia venal é totalmente diferente do exibido durante as “explosões espontâneas” no Irã. Manuel Zelaya era um obstáculo para os interesses do império na região. Ele rompeu o tratado de “livre comércio” com os EUA, firmou o acordo com a Alba (Alternativa Bolivariana das Américas) e aliou-se a Hugo Chávez, tão odiado e estigmatizado pela mídia imperial. Daí a cobertura tendenciosa. Sua linha editorial é evidente. Seguindo as ordens da Casa Branca, ela aposta na solução “negociada”, que inviabilize o retorno de Zelaya ao poder e legitime um “governo de conciliação nacional”. Tanto que vários veículos de comunicação já têm tratado o governo golpista como “interino”.
domingo, 19 de julho de 2009
A mídia patrocinou o golpe em Honduras
O jornalista Ernesto Carmona, numa minuciosa pesquisa publicada no sitio Rebelión, confirmou o que muitos já imaginavam. A maior parte da mídia hondurenha ajudou a preparar o clima para o golpe militar que depôs o presidente democraticamente eleito Manuel Zelaya no final de junho. Ela tem dado total apoio à sangrenta ditadura, que já matou dezenas de pessoas, decretou toque de recolher, censurou rádios comunitárias e jornais alternativos e transformou este pequeno país da América Central num campo de concentração. A mídia mundial nada fala sobre estas ligações macabras, até porque já apoiou outros golpes e ditaduras fascistas – como no caso do Brasil.
Segundo o estudo, a mídia hondurenha, a exemplo da brasileira, é altamente concentrada. Três famílias controlam os quatro jornais diários de circulação nacional e uma única família domina as redes de televisão e rádio. “Um reduzido grupo de empresários, que se apropriou do direito de informar, monopoliza a ‘liberdade de expressão’, posta a serviço dos seus próprios interesses políticos e econômicos, uma vez que explora um rentável negócio”. Conforme aponta, a mídia segue “uma orientação ideológica de direita e pertence a empresários que mantêm os diários como uma empresa mercantil. Seus vínculos com os grupos de poder político são muito estreitos, porque eles mesmos pertencem também a estes grupos de poder”.
Oligarcas dominam os jornais impressos
Dos quatro jornais, dois são editados na capital, Tegucigalpa (El Heraldo e Tiempo), e dois são impressos em San Pedro Sula, a segunda maior cidade do país (La Tribuna e La Prensa). Todos são comandados por velhos oligarcas, que controlam os dois partidos que se revezam no poder há décadas. La Tribuna tem como maior acionista o ex-presidente de Honduras, Roberto Flores Facussé (1998-2002), do Partido Liberal (PLH), um agrupamento de centro-direita, fundado em 1891, a qual pertence o presidente deposto. O seu setor mais à direita, comandado por Roberto Micheleti, orquestrou o golpe com aos generais corruptos, alinhados e adestrados nos EUA.
Já o jornal La Prensa pertence à família de Jorge Larach, que também é dona de El Heraldo. Sua linha editorial defende “a necessidade de que o país se abra aos conceitos modernos da economia de mercado” e atacou ferozmente à decisão de Zelaya de romper com o tratado de livre comércio (TLC) com os EUA. O diário El Heraldo, um dos mais raivosos no apoio ao golpe, é dirigido pelo filho de Jorge Larach, “membro das comissões de notáveis, sempre próximo ao presidente de turno e provedor da indústria de armas e de medicamentos do Estado”. Por último, o Tiempo pertence a Jaime Rosenthal, um poderoso banqueiro que também é secretário-geral do PLH e já disputou várias vezes a presidência de Honduras e sempre foi rechaçado nas urnas.
Um oligarca domina a TV
Já a televisão é controlada por uma única pessoa, José Rafael Ferrari, que também possui enorme presença nas rádios e é presidente da Fundação Teletón. Ele é dono de uma rede nacional e dirige canais com distintos nomes e afiliadas – canais 5, 13, 7. Suas emissoras omitem as manifestações contra os golpistas e as condenações internacionais ao golpe e dão amplo respaldo à ditadura de Micheleti. Nos seus telejornais diários, Honduras parece que foi salva da “ditadura chavista” de Zelaya e hoje vive no paraíso da democracia liberal e numa autêntica paz – a paz dos cemitérios.
As emissoras de rádio de alcance nacional também são dominadas por velhos oligarcas e existem somente duas revistas semanais – Hablemos claro e Honduras this week (nome em inglês, numa prova cabal de subserviência). “Todos estes personagens são defensores acirrados da ‘liberdade de imprensa’, tal como prega a Sociedade Interamericana de Imprensa (SID), os diários mais reacionários do continente, as cadeias internacionais de notícias, como a CNN, e todas as caixas de ressonância do golpe em Honduras”, ironiza Ernesto Carmona.
Segundo o estudo, a mídia hondurenha, a exemplo da brasileira, é altamente concentrada. Três famílias controlam os quatro jornais diários de circulação nacional e uma única família domina as redes de televisão e rádio. “Um reduzido grupo de empresários, que se apropriou do direito de informar, monopoliza a ‘liberdade de expressão’, posta a serviço dos seus próprios interesses políticos e econômicos, uma vez que explora um rentável negócio”. Conforme aponta, a mídia segue “uma orientação ideológica de direita e pertence a empresários que mantêm os diários como uma empresa mercantil. Seus vínculos com os grupos de poder político são muito estreitos, porque eles mesmos pertencem também a estes grupos de poder”.
Oligarcas dominam os jornais impressos
Dos quatro jornais, dois são editados na capital, Tegucigalpa (El Heraldo e Tiempo), e dois são impressos em San Pedro Sula, a segunda maior cidade do país (La Tribuna e La Prensa). Todos são comandados por velhos oligarcas, que controlam os dois partidos que se revezam no poder há décadas. La Tribuna tem como maior acionista o ex-presidente de Honduras, Roberto Flores Facussé (1998-2002), do Partido Liberal (PLH), um agrupamento de centro-direita, fundado em 1891, a qual pertence o presidente deposto. O seu setor mais à direita, comandado por Roberto Micheleti, orquestrou o golpe com aos generais corruptos, alinhados e adestrados nos EUA.
Já o jornal La Prensa pertence à família de Jorge Larach, que também é dona de El Heraldo. Sua linha editorial defende “a necessidade de que o país se abra aos conceitos modernos da economia de mercado” e atacou ferozmente à decisão de Zelaya de romper com o tratado de livre comércio (TLC) com os EUA. O diário El Heraldo, um dos mais raivosos no apoio ao golpe, é dirigido pelo filho de Jorge Larach, “membro das comissões de notáveis, sempre próximo ao presidente de turno e provedor da indústria de armas e de medicamentos do Estado”. Por último, o Tiempo pertence a Jaime Rosenthal, um poderoso banqueiro que também é secretário-geral do PLH e já disputou várias vezes a presidência de Honduras e sempre foi rechaçado nas urnas.
Um oligarca domina a TV
Já a televisão é controlada por uma única pessoa, José Rafael Ferrari, que também possui enorme presença nas rádios e é presidente da Fundação Teletón. Ele é dono de uma rede nacional e dirige canais com distintos nomes e afiliadas – canais 5, 13, 7. Suas emissoras omitem as manifestações contra os golpistas e as condenações internacionais ao golpe e dão amplo respaldo à ditadura de Micheleti. Nos seus telejornais diários, Honduras parece que foi salva da “ditadura chavista” de Zelaya e hoje vive no paraíso da democracia liberal e numa autêntica paz – a paz dos cemitérios.
As emissoras de rádio de alcance nacional também são dominadas por velhos oligarcas e existem somente duas revistas semanais – Hablemos claro e Honduras this week (nome em inglês, numa prova cabal de subserviência). “Todos estes personagens são defensores acirrados da ‘liberdade de imprensa’, tal como prega a Sociedade Interamericana de Imprensa (SID), os diários mais reacionários do continente, as cadeias internacionais de notícias, como a CNN, e todas as caixas de ressonância do golpe em Honduras”, ironiza Ernesto Carmona.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Congresso da UNE e manipulação da mídia
Após viajarem milhares de quilômetros em centenas de ônibus fretados, mais de 15 mil jovens de todos os recantos do país estarão reunidos em Brasília para participar do 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Durante cinco dias, eles esbanjarão energia, criatividade e garra em várias passeatas, em acirradas polêmicas nos 25 grupos de debate sobre temas candentes e em plenárias infindáveis. Não haverá cansaço ou desanimo, mas uma baita disposição para lutar por melhorias na educação e por mudanças profundas no país. Caso a mídia tupiniquim respeitasse a nossa juventude, o congresso seria manchete em todos os jornais e nas emissoras de TV e rádio.
Mas a mídia hegemônica prefere evitar qualquer engajamento dos jovens. Ela aposta sempre na alienação e ceticismo. Rejeita qualquer ação coletiva. Prefere estimular o consumismo doentio e o individualismo exacerbado. Por isso, o evento da UNE surge, no máximo, no pé de página dos jornalões tradicionais ou em rápidos flashes na TV. Quando ela trata do evento, é para atacar a organização juvenil e criminalizar suas lutas. Ela omite ou emite opiniões raivosas. Como nos ensina Perseu Abramo, no livro “Padrões de manipulação na grande imprensa”, a ocultação e a inversão da opinião pela informação são duas técnicas muito utilizadas pelos barões da mídia.
Padrões de manipulação da imprensa
“O padrão da ocultação se refere à ausência e presença dos fatos reais na produção da imprensa. Não se trata, evidentemente, de fruto do desconhecimento e nem mesmo de mera omissão diante do real. É, ao contrário, um deliberado silêncio militante sobre determinados fatos da realidade. Esse é um padrão que opera nos antecedentes, nas preliminares da busca da informação, isto é, no ‘momento’ das decisões de planejamento da edição, naquilo que na imprensa geralmente se chama de pauta... O padrão da ocultação é decisivo e definitivo na manipulação da realidade: tomada a decisão de que um fato ‘não é jornalístico’, não há a menor chance de que o leitor tome conhecimento de sua existência por meio da imprensa. O fato real é eliminado da realidade, ele não existe”, ensina o mestre na obra reeditada pela Fundação Perseu Abramo.
Já o segundo truque visa “substituir, inteira ou parcialmente, a informação pela opinião. O órgão de imprensa apresenta a opinião no lugar da informação, e com o agravante de fazer passar a opinião pela informação. O juízo de valor é inescrupulosamente usado como se fosse a própria mera exposição narrativa/descritiva da realidade. O leitor/espectador já não tem mais diante de si a coisa tal como existe ou acontece, mas sim uma determinada valorização que órgão quer que ele tenha de uma coisa que ele desconhece, porque o seu conhecimento lhe foi oculto, negado e escamoteado pelo órgão... Ao leitor/espectador não é dada qualquer oportunidade que não a de consumir, introjetar e adotar como critério de ação a opinião que lhe é autoritariamente imposta”.
O zumbido irritante da Folha
Estes e outros truques da manipulação estão presentes na cobertura do cativante evento da UNE. As emissoras de televisão, que falam para milhões de brasileiros, preferem ocultar o congresso; é como se ele não existisse. Já os jornalões tradicionais, que atingem pequenas faixas entorpecidas das camadas médias, optam por desqualificar os militantes estudantis e suas bandeiras. A opinião substitui a informação. Um caso emblemático é o da cobertura da Folha de S.Paulo, que ainda ilude os ingênuos com o seu falso ecletismo. Com o título “Patrocinada pela Petrobras, UNE faz manifestação contra a CPI”, um texto de pé de página investiu raivosamente contra o congresso.
Não há qualquer informação sobre a pauta do congresso, sobre os participantes ou sobre as lutas estudantis. O artigo hidrófobo destaca apenas que a Petrobras “direcionou R$ 100 mil ao evento” e que os universitários programaram uma manifestação contra a CPI do Senado. A exemplo dos ataques desferidos contra o MST e as centrais sindicais, que recebem verbas públicas para vários projetos culturais e educacionais, a Folha tenta caracterizar a UNE como “governista”. Também critica o fato dos líderes estudantis ocuparem postos no governo Lula. O cinismo é descarado.
Quem está de rabo preso?
Um simples anúncio publicitário da Petrobras na Folha custa muito mais do que o patrocínio ao congresso da UNE. Nem por isso, ela é governista. Pelo contrário. O jornal é um dos principais porta-vozes da oposição demo-tucana. Para ser coerente nas críticas ao uso das verbas oficiais, a Folha deveria rejeitar os milionários anúncios em suas páginas. O governo Lula também poderia ser mais ousado, evitando alimentar cobra. Quanto a tal CPI do Senado, o jornal não informa que ela foi instalada por imposição da própria mídia e serve aos propósitos da oposição demo-tucana. Já no que se refere aos líderes estudantis em postos do governo, a Folha confirma que tem nojo do povo. Para ela, trabalhador é para trabalhar; estudante é para estudar; e a elite é para governar.
No livro citado, Perseu Abramo desmascara a frase publicitária do jornal. “A Folha está de rabo preso com o leitor só tem seu verdadeiro significado desvendado quando recolocada de pé sobre o chão e lida com a re-inversão dos seus termos: o leitor é que está de rabo preso com a Folha, e por extensão com todos os grandes órgãos de comunicação. Recriando a realidade à sua maneira e de acordo com seus interesses político-partidários, os órgãos de comunicação aprisionam seus leitores nesse círculo de ferro da realidade irreal e sobre ele exercem todo o seu poder. O Jornal Nacional faz plim-plim e milhões de brasileiros salivam no ato. Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil e Veja dizem alguma coisa e centenas de milhares de brasileiros abanam o rabo em sinal de assentimento e obediência”.
Mas a mídia hegemônica prefere evitar qualquer engajamento dos jovens. Ela aposta sempre na alienação e ceticismo. Rejeita qualquer ação coletiva. Prefere estimular o consumismo doentio e o individualismo exacerbado. Por isso, o evento da UNE surge, no máximo, no pé de página dos jornalões tradicionais ou em rápidos flashes na TV. Quando ela trata do evento, é para atacar a organização juvenil e criminalizar suas lutas. Ela omite ou emite opiniões raivosas. Como nos ensina Perseu Abramo, no livro “Padrões de manipulação na grande imprensa”, a ocultação e a inversão da opinião pela informação são duas técnicas muito utilizadas pelos barões da mídia.
Padrões de manipulação da imprensa
“O padrão da ocultação se refere à ausência e presença dos fatos reais na produção da imprensa. Não se trata, evidentemente, de fruto do desconhecimento e nem mesmo de mera omissão diante do real. É, ao contrário, um deliberado silêncio militante sobre determinados fatos da realidade. Esse é um padrão que opera nos antecedentes, nas preliminares da busca da informação, isto é, no ‘momento’ das decisões de planejamento da edição, naquilo que na imprensa geralmente se chama de pauta... O padrão da ocultação é decisivo e definitivo na manipulação da realidade: tomada a decisão de que um fato ‘não é jornalístico’, não há a menor chance de que o leitor tome conhecimento de sua existência por meio da imprensa. O fato real é eliminado da realidade, ele não existe”, ensina o mestre na obra reeditada pela Fundação Perseu Abramo.
Já o segundo truque visa “substituir, inteira ou parcialmente, a informação pela opinião. O órgão de imprensa apresenta a opinião no lugar da informação, e com o agravante de fazer passar a opinião pela informação. O juízo de valor é inescrupulosamente usado como se fosse a própria mera exposição narrativa/descritiva da realidade. O leitor/espectador já não tem mais diante de si a coisa tal como existe ou acontece, mas sim uma determinada valorização que órgão quer que ele tenha de uma coisa que ele desconhece, porque o seu conhecimento lhe foi oculto, negado e escamoteado pelo órgão... Ao leitor/espectador não é dada qualquer oportunidade que não a de consumir, introjetar e adotar como critério de ação a opinião que lhe é autoritariamente imposta”.
O zumbido irritante da Folha
Estes e outros truques da manipulação estão presentes na cobertura do cativante evento da UNE. As emissoras de televisão, que falam para milhões de brasileiros, preferem ocultar o congresso; é como se ele não existisse. Já os jornalões tradicionais, que atingem pequenas faixas entorpecidas das camadas médias, optam por desqualificar os militantes estudantis e suas bandeiras. A opinião substitui a informação. Um caso emblemático é o da cobertura da Folha de S.Paulo, que ainda ilude os ingênuos com o seu falso ecletismo. Com o título “Patrocinada pela Petrobras, UNE faz manifestação contra a CPI”, um texto de pé de página investiu raivosamente contra o congresso.
Não há qualquer informação sobre a pauta do congresso, sobre os participantes ou sobre as lutas estudantis. O artigo hidrófobo destaca apenas que a Petrobras “direcionou R$ 100 mil ao evento” e que os universitários programaram uma manifestação contra a CPI do Senado. A exemplo dos ataques desferidos contra o MST e as centrais sindicais, que recebem verbas públicas para vários projetos culturais e educacionais, a Folha tenta caracterizar a UNE como “governista”. Também critica o fato dos líderes estudantis ocuparem postos no governo Lula. O cinismo é descarado.
Quem está de rabo preso?
Um simples anúncio publicitário da Petrobras na Folha custa muito mais do que o patrocínio ao congresso da UNE. Nem por isso, ela é governista. Pelo contrário. O jornal é um dos principais porta-vozes da oposição demo-tucana. Para ser coerente nas críticas ao uso das verbas oficiais, a Folha deveria rejeitar os milionários anúncios em suas páginas. O governo Lula também poderia ser mais ousado, evitando alimentar cobra. Quanto a tal CPI do Senado, o jornal não informa que ela foi instalada por imposição da própria mídia e serve aos propósitos da oposição demo-tucana. Já no que se refere aos líderes estudantis em postos do governo, a Folha confirma que tem nojo do povo. Para ela, trabalhador é para trabalhar; estudante é para estudar; e a elite é para governar.
No livro citado, Perseu Abramo desmascara a frase publicitária do jornal. “A Folha está de rabo preso com o leitor só tem seu verdadeiro significado desvendado quando recolocada de pé sobre o chão e lida com a re-inversão dos seus termos: o leitor é que está de rabo preso com a Folha, e por extensão com todos os grandes órgãos de comunicação. Recriando a realidade à sua maneira e de acordo com seus interesses político-partidários, os órgãos de comunicação aprisionam seus leitores nesse círculo de ferro da realidade irreal e sobre ele exercem todo o seu poder. O Jornal Nacional faz plim-plim e milhões de brasileiros salivam no ato. Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil e Veja dizem alguma coisa e centenas de milhares de brasileiros abanam o rabo em sinal de assentimento e obediência”.
Jô Soares e o “caçador de marajás”
Nos momentos mais deprimentes das “baixarias na política”, como na atual crise do Senado, Jô Soares sempre leva ao seu programa da TV Globo várias comentaristas globais para espinafrar os políticos e desqualificar a política. São as tais “meninas do Jô”, sempre tão venenosas e cheias de certezas. No programa desta quarta-feira, as jornalistas Cristiana Lobo, Lúcio Hippolito, Lilian Witte Fibe, Flávia Oliveira e Ana Maria Tahan concentraram seus ataques no recente aperto de mão do presidente Lula ao senador Collor de Mello, numa solenidade pública em Alagoas. Para elas, travestidas de vestais da ética, este gesto seria a prova definitiva de que política não presta.
As “meninas do Jô” só deixaram da lembrar aos telespectadores sem memória que a candidatura de Collor de Mello, em 1989, foi fabricada nos sinistros laboratórios da própria TV Globo. Elas inclusive evitaram utilizar a expressão “caçador de marajás”, cunhada na época para alavancar o político alagoano e evitar a vitória de Lula, o temido líder grevista daquele período. Elas também nada falaram sobre a manipulação grosseira feita pelo Jornal Nacional da edição do debate entre os dois candidatos, nas vésperas daquele pleito. E ainda omitiram a informação de que a família de Collor de Mello ainda é proprietária da empresa afiliada da TV Globo em Alagoas.
Anarquista ao gosto do patrão
Diante das baixarias da famíglia Marinho, o recente aperto de mão é apenas um gesto protocolar! Com seu humor tendencioso, Jô Soares nunca cobrou qualquer autocrítica de seus patrões. Além das “meninas do Jô”, ele poderia ouvir o professor Venício de Lima, que no livro “Mídia: crise política e poder no Brasil” desmascara as manipulações da TV Globo na eleição do “caçador de marajás” e em outros episódios lamentáveis da nossa história recente. Também poderia convidar o professor Bernardo Kucinski, que no livro “A síndrome da antena parabólica” denuncia o total colapso da ética na mídia brasileira e o papel nefasto da famíglia Marinho na política nacional.
Até algum tempo atrás, Jô Soares ainda seduzia muita gente. Na época da ditadura, que contou com o apoio ativo da TV Globo até a reta final da campanha das “Diretas-Já”, ele fez um humor corajoso de denúncia da censura e dos militares. Após a conquista da democracia liberal, ele se deu por satisfeito e nunca mais incomodou os poderosos e os barões da mídia. Maroto, ele vestiu a oportuna fantasia do “anarquista”. O falecido professor Maurício Tragtemberg, um intelectual anarquista autêntico, costumava zombar destes anarquistas “riquinhos”, que fazem suas críticas comportamentais, mas não tem qualquer compromisso com a justiça social.
As “meninas do Jô” só deixaram da lembrar aos telespectadores sem memória que a candidatura de Collor de Mello, em 1989, foi fabricada nos sinistros laboratórios da própria TV Globo. Elas inclusive evitaram utilizar a expressão “caçador de marajás”, cunhada na época para alavancar o político alagoano e evitar a vitória de Lula, o temido líder grevista daquele período. Elas também nada falaram sobre a manipulação grosseira feita pelo Jornal Nacional da edição do debate entre os dois candidatos, nas vésperas daquele pleito. E ainda omitiram a informação de que a família de Collor de Mello ainda é proprietária da empresa afiliada da TV Globo em Alagoas.
Anarquista ao gosto do patrão
Diante das baixarias da famíglia Marinho, o recente aperto de mão é apenas um gesto protocolar! Com seu humor tendencioso, Jô Soares nunca cobrou qualquer autocrítica de seus patrões. Além das “meninas do Jô”, ele poderia ouvir o professor Venício de Lima, que no livro “Mídia: crise política e poder no Brasil” desmascara as manipulações da TV Globo na eleição do “caçador de marajás” e em outros episódios lamentáveis da nossa história recente. Também poderia convidar o professor Bernardo Kucinski, que no livro “A síndrome da antena parabólica” denuncia o total colapso da ética na mídia brasileira e o papel nefasto da famíglia Marinho na política nacional.
Até algum tempo atrás, Jô Soares ainda seduzia muita gente. Na época da ditadura, que contou com o apoio ativo da TV Globo até a reta final da campanha das “Diretas-Já”, ele fez um humor corajoso de denúncia da censura e dos militares. Após a conquista da democracia liberal, ele se deu por satisfeito e nunca mais incomodou os poderosos e os barões da mídia. Maroto, ele vestiu a oportuna fantasia do “anarquista”. O falecido professor Maurício Tragtemberg, um intelectual anarquista autêntico, costumava zombar destes anarquistas “riquinhos”, que fazem suas críticas comportamentais, mas não tem qualquer compromisso com a justiça social.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Congresso da UNE e desemprego dos jovens
A União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade unitária dos universitários que sempre teve papel de destaque nas lutas democráticas e populares do Brasil, inicia hoje o seu 51º congresso. O evento reunirá mais de 15 mil jovens, cheios de energia e combatividade, em Brasília. Durante cinco dias, eles participarão de 25 mesas de debates plurais, discutindo os temas de maior relevo para a juventude. Ao final, aprovarão seu plano de lutas e elegerão a nova direção da entidade. A mídia hegemônica, que prefere noticiar fofocas e desfiles, possivelmente fará uma cobertura pífia deste evento de porte e destilará seu veneno, na linha da criminalização dos movimentos sociais.
Entre os temas que angustiam estes jovens conscientes e aguerridos, o da perspectiva de trabalho da juventude obrigatoriamente estará em pauta. A grave crise estrutural do capitalismo, acelerada pelo colapso da economia dos EUA, agrava um cenário que já era negativo e coloca em dúvida o futuro. Recente estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revela que o mercado de trabalho para os jovens brasileiros é marcado pelos altos índices de desemprego e informalidade. De acordo com o relatório “Trabalho decente e juventude no Brasil”, 67,5% dos jovens entre 15 e 24 anos estavam desempregados ou no mercado informal em 2006.
Falta de perspectiva dos jovens
O detalhado estudo, que tem como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 1992 a 2006, comprova que o déficit era maior entre as mulheres jovens (70,1%) do que entre os homens jovens (65,6%). O índice também era mais dramático entre os jovens negros (74,7%) do que entre os jovens brancos (59,6%). Já as jovens mulheres negras vivem, segundo a própria OIT, “uma situação de dupla discriminação”, de gênero e etnia. O desemprego e a informalidade afetavam 77,9% das jovens mulheres negras. Se o quadro já era grave antes da eclosão da crise capitalista, ele deve ter piorado na fase atual, segundo Laís Abramo, diretora da OIT no Brasil.
Apesar de reconhecer os avanços nas políticas públicas de geração de emprego para juventude do governo Lula, a diretora da OIT avalia que eles ainda são insuficientes. Para ela, o desafio maior consiste “em melhorar a qualidade da educação”. A pesquisa indica que 7% dos jovens brancos tinham baixa escolaridade e que o número mais do que dobrava (16%) entre os jovens negros. Também aponta que dos 22 milhões de jovens economicamente ativos, 30% trabalhavam mais de 20 horas semanais, o que prejudica o seu desempenho escolar. “Há uma espécie de círculo vicioso: o jovem não entra no mercado porque não tem experiência, mas para ter experiência ele precisa estar dentro do mercado”, alerta Laís Abramo.
Políticas públicas mais ativas
Com as mesmas preocupações, o atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Marcio Pochmann, propõe medidas de maior impacto para encarar o drama da falta de perspectiva da juventude, principal vítima do desemprego, da precariedade e da informalidade. No livro “A batalha pelo primeiro emprego”, reeditado pela Publisher, ele afirma que é urgente a adoção de políticas públicas mais ativas. Ele não trata a educação como panacéia, já que muitos jovens saídos da universidade hoje estão desempregados. “No Brasil, o avanço da escolaridade do jovem não tem sido acompanhado da melhor inserção e trajetória no mercado do trabalho”. O problema, portanto, não reside unicamente na educação, como difundem a mídia e os neoliberais.
Entre outras propostas, Pochmann defende que o ingresso do jovem no mercado de trabalho seja adiado, dando-lhe mais tempo para o estudo. Os avanços tecnológicos, que impulsionaram ainda mais a produtividade, justificariam e tornariam viável esta medida. Ele lembra que nos chamados países desenvolvidos, a cada 10 jovens, seis se encontram em situação de inatividade; no Brasil, sete a cada 10 já trabalham. “A ampliação da idade para ingresso no trabalho decorre da maior ocupação do tempo livre das faixas etárias inferiores da população com educação e programas de treinamento profissional de iniciação ao trabalho”. Ele também defende “a obrigação legal por parte das empresas com mais de nove empregados de conceder tempo e condições de formação prática ao trabalhador jovem” e a drástica redução das horas-extras.
Pochmann destaca a urgência da luta contra os entraves neoliberais. “Uma estratégia nacional pelo primeiro emprego do jovem deve levar em consideração, em primeiro lugar, a necessidade do crescimento econômico sustentado por um período relativamente longo de tempo, em especial no Brasil que tem cerca de 1,5 milhão de pessoas que ingressam anualmente no trabalho... Sem isso, as medidas direcionadas ao ingresso da juventude no trabalho tornam-se insuficientes, parcialmente compensatórias e relativamente parciais”. A leitura do seu livro é obrigatória para os conscientes e combativos militantes da UNE, que lutam por mudanças profundas no Brasil.
Entre os temas que angustiam estes jovens conscientes e aguerridos, o da perspectiva de trabalho da juventude obrigatoriamente estará em pauta. A grave crise estrutural do capitalismo, acelerada pelo colapso da economia dos EUA, agrava um cenário que já era negativo e coloca em dúvida o futuro. Recente estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revela que o mercado de trabalho para os jovens brasileiros é marcado pelos altos índices de desemprego e informalidade. De acordo com o relatório “Trabalho decente e juventude no Brasil”, 67,5% dos jovens entre 15 e 24 anos estavam desempregados ou no mercado informal em 2006.
Falta de perspectiva dos jovens
O detalhado estudo, que tem como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 1992 a 2006, comprova que o déficit era maior entre as mulheres jovens (70,1%) do que entre os homens jovens (65,6%). O índice também era mais dramático entre os jovens negros (74,7%) do que entre os jovens brancos (59,6%). Já as jovens mulheres negras vivem, segundo a própria OIT, “uma situação de dupla discriminação”, de gênero e etnia. O desemprego e a informalidade afetavam 77,9% das jovens mulheres negras. Se o quadro já era grave antes da eclosão da crise capitalista, ele deve ter piorado na fase atual, segundo Laís Abramo, diretora da OIT no Brasil.
Apesar de reconhecer os avanços nas políticas públicas de geração de emprego para juventude do governo Lula, a diretora da OIT avalia que eles ainda são insuficientes. Para ela, o desafio maior consiste “em melhorar a qualidade da educação”. A pesquisa indica que 7% dos jovens brancos tinham baixa escolaridade e que o número mais do que dobrava (16%) entre os jovens negros. Também aponta que dos 22 milhões de jovens economicamente ativos, 30% trabalhavam mais de 20 horas semanais, o que prejudica o seu desempenho escolar. “Há uma espécie de círculo vicioso: o jovem não entra no mercado porque não tem experiência, mas para ter experiência ele precisa estar dentro do mercado”, alerta Laís Abramo.
Políticas públicas mais ativas
Com as mesmas preocupações, o atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Marcio Pochmann, propõe medidas de maior impacto para encarar o drama da falta de perspectiva da juventude, principal vítima do desemprego, da precariedade e da informalidade. No livro “A batalha pelo primeiro emprego”, reeditado pela Publisher, ele afirma que é urgente a adoção de políticas públicas mais ativas. Ele não trata a educação como panacéia, já que muitos jovens saídos da universidade hoje estão desempregados. “No Brasil, o avanço da escolaridade do jovem não tem sido acompanhado da melhor inserção e trajetória no mercado do trabalho”. O problema, portanto, não reside unicamente na educação, como difundem a mídia e os neoliberais.
Entre outras propostas, Pochmann defende que o ingresso do jovem no mercado de trabalho seja adiado, dando-lhe mais tempo para o estudo. Os avanços tecnológicos, que impulsionaram ainda mais a produtividade, justificariam e tornariam viável esta medida. Ele lembra que nos chamados países desenvolvidos, a cada 10 jovens, seis se encontram em situação de inatividade; no Brasil, sete a cada 10 já trabalham. “A ampliação da idade para ingresso no trabalho decorre da maior ocupação do tempo livre das faixas etárias inferiores da população com educação e programas de treinamento profissional de iniciação ao trabalho”. Ele também defende “a obrigação legal por parte das empresas com mais de nove empregados de conceder tempo e condições de formação prática ao trabalhador jovem” e a drástica redução das horas-extras.
Pochmann destaca a urgência da luta contra os entraves neoliberais. “Uma estratégia nacional pelo primeiro emprego do jovem deve levar em consideração, em primeiro lugar, a necessidade do crescimento econômico sustentado por um período relativamente longo de tempo, em especial no Brasil que tem cerca de 1,5 milhão de pessoas que ingressam anualmente no trabalho... Sem isso, as medidas direcionadas ao ingresso da juventude no trabalho tornam-se insuficientes, parcialmente compensatórias e relativamente parciais”. A leitura do seu livro é obrigatória para os conscientes e combativos militantes da UNE, que lutam por mudanças profundas no Brasil.
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