Reproduzo artigo de Renata Mielli, direto do Paraguai, publicado no blog "Janela sobre a palavra":
Em Assunção, entidades do movimento social, redes de comunicação e representantes de governos se reuniram nos dias 09 e 10 de agosto para fazer “Um diálogo necessário para democratizar a comunicação e impulsionar a integração”.
Enfrentar os monopólios de comunicação, avançar na integração e aprofundar a soberania regional e dos países foi o eixo que orientou os debates do encontro.
Pela exposição dos participantes, que vieram de vários países (Argentina, Equador, Paraguai, Brasil, Chile, México, Venezuela, Cuba), foi possível ver que há uma sinergia muito grande entre as aspirações e metas da luta pela democratização da comunicação.
Apesar de estes países estarem em estágios diferenciados dessa luta e viverem situações políticas diversas, a ausência de espaços democráticos de comunicação é similar.
Entre os desafios apontados está o de fazer com que os movimentos sociais assumam essa pauta como estratégica e desenvolvam uma série de ações políticas para fazer com que o tema da comunicação se espraie para toda a sociedade. Sem mobilização popular para levantar a bandeira da comunicação como um direito humano será difícil alcançar vitórias nessa luta.
Por outro lado, somente a mobilização social não é suficiente. Para garantir a liberdade de expressão para todas as pessoas, assegurando a diversidade e a pluralidade, o Estado precisa agir no sentido de garantir espaços para que estas vozes sejam ouvidas. Ou seja, é imprescindível que os governos assumam a agenda da democratização da comunicação como parte indispensável das políticas para aprofundar a democratização da sociedade.
O que se pode ver é que em vários países – alguns mais, outros menos – há uma agenda pública de debates sobre a comunicação e conquistas estão sendo alcançadas. É o caso do Equador, da Venezuela, e da Argentina – este último muito debatido no encontro.
Em todos esses países, os debates e as mudanças estão sendo empreendidos com forte oposição dos oligopólios de comunicação. Daí, o alerta recorrente de que o grau de mudanças que vamos alcançar vai depender de como vamos enfrentar a correlação de forçar dentro de cada país.
A atividade foi organizada pela Alai – Agência Latina Americana de Informação, Aler – Associação latinoamericana de educação radiofônica, Minga Informativa e pela Rede Nacional de Emissoras do Paraguai, e contou com a participação de Argentina, Chile, Equador, Venezuela, Cuba, Brasil, México, Costa Rica.
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terça-feira, 10 de agosto de 2010
Globo tira a máscara no Jornal Nacional
Reproduzo artigo de Fábio Michel, publicado na Rede Brasil Atual:
Como era de se esperar, a repercussão da entrevista da candidata Dilma Rousseff ao Jornal Nacional ganhou espaço entre a blogosfera imediatamente após a transmissão, na noite da segunda-feira (9).
Para Luis Nassif, cujo blog saiu do ar (mais uma vez) em razão da quantidade de acessos simultâneos, "(a entrevista) foi laboratório amplo de como o jornalismo pode utilizar estereótipos vazios em uma campanha eleitoral", referindo-se ao fato de o 'Casal Nacional'", em especial o apresentador William Bonner, provocar Dilma, ao perguntar sobre seu suposto temperamento impulsivo, capaz de “maltratar” ministros.
Bonner pode ter causado um mal-estar nos círculos administrativos da TV Globo ao questionar a candidata sobre as alianças do PT com figuras conhecidas da política nacional, como José Sarney e Fernando Collor, ambos proprietários de emissoras de TV retransmissora do sinal da Globo em seus estados.
Luiz Carlos Azenha, em seu Vi o Mundo, escancarou a tentativa de desestabilizar Dilma, quando esta foi perguntada sobre a ligação de sua candidatura ao presidente Lula. "Sabe, Bonner, o pessoal precisa, tem de escolher o que é que eu sou. Uns dizem que sou 'mulher forte', outros, que eu tenho tutor", reproduziu.
O tom quase intimidatório do apresentador Bonner foi citado nas redes sociais e por praticamente todos os blogues, que notaram que o desempenho da dupla acabou sendo mais relevante que a boa performance da candidata petista.
Sem sucesso em sua tentativa de provar que Dilma se sairia mal ao ser pressionada, restou ao JN tentar mostrar ao público que o governo atual vai mal. Questionou-se sobre problemas de infraestrutura, mas a resposta veio na hora, com a exposição de obras básicas atualmente em execução no Rio. E Dilma finalizou a entrevista com muitos motivos para ser mostrada com um largo sorriso.
A questão que fica agora para ser respondida pelo Jornal Nacional é qual o teor das perguntas que serão feitas para o candidato tucano, José Serra, que deve ser o entrevistado da noite da quarta-feira (11).
Segundo o jornalista Rodrigo Vianna, do Escrevinhador, o JN agiu como se o governo Lula fosse mal avaliado, estratégia que, pelas regras do bom jornalismo, deverá ser repetida na hora de sabatinar o ex-governador.
"Ironicamente, qualquer crítica pertinente que se faça a Serra terá que ser ao seu governo do Estado de São Paulo, o qual foi solenemente poupado de críticas pela mídia durante seus três anos e pouco de duração", escreve, para concluir que "se o telejornal usar com Serra a mesma medida usada com Dilma, revelará podres desconhecidos do tucano, nem que sejam só os eminentemente administrativos."
Se o 'casal nacional' e a equipe do JN conseguirá achar uma solução inteligente para o problema em que se meteram, ou se o telejornal de maior audiência da TV brasileira passará recibo de preferência partidária, a resposta virá na quarta-feira. Boa noite.
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Como era de se esperar, a repercussão da entrevista da candidata Dilma Rousseff ao Jornal Nacional ganhou espaço entre a blogosfera imediatamente após a transmissão, na noite da segunda-feira (9).
Para Luis Nassif, cujo blog saiu do ar (mais uma vez) em razão da quantidade de acessos simultâneos, "(a entrevista) foi laboratório amplo de como o jornalismo pode utilizar estereótipos vazios em uma campanha eleitoral", referindo-se ao fato de o 'Casal Nacional'", em especial o apresentador William Bonner, provocar Dilma, ao perguntar sobre seu suposto temperamento impulsivo, capaz de “maltratar” ministros.
Bonner pode ter causado um mal-estar nos círculos administrativos da TV Globo ao questionar a candidata sobre as alianças do PT com figuras conhecidas da política nacional, como José Sarney e Fernando Collor, ambos proprietários de emissoras de TV retransmissora do sinal da Globo em seus estados.
Luiz Carlos Azenha, em seu Vi o Mundo, escancarou a tentativa de desestabilizar Dilma, quando esta foi perguntada sobre a ligação de sua candidatura ao presidente Lula. "Sabe, Bonner, o pessoal precisa, tem de escolher o que é que eu sou. Uns dizem que sou 'mulher forte', outros, que eu tenho tutor", reproduziu.
O tom quase intimidatório do apresentador Bonner foi citado nas redes sociais e por praticamente todos os blogues, que notaram que o desempenho da dupla acabou sendo mais relevante que a boa performance da candidata petista.
Sem sucesso em sua tentativa de provar que Dilma se sairia mal ao ser pressionada, restou ao JN tentar mostrar ao público que o governo atual vai mal. Questionou-se sobre problemas de infraestrutura, mas a resposta veio na hora, com a exposição de obras básicas atualmente em execução no Rio. E Dilma finalizou a entrevista com muitos motivos para ser mostrada com um largo sorriso.
A questão que fica agora para ser respondida pelo Jornal Nacional é qual o teor das perguntas que serão feitas para o candidato tucano, José Serra, que deve ser o entrevistado da noite da quarta-feira (11).
Segundo o jornalista Rodrigo Vianna, do Escrevinhador, o JN agiu como se o governo Lula fosse mal avaliado, estratégia que, pelas regras do bom jornalismo, deverá ser repetida na hora de sabatinar o ex-governador.
"Ironicamente, qualquer crítica pertinente que se faça a Serra terá que ser ao seu governo do Estado de São Paulo, o qual foi solenemente poupado de críticas pela mídia durante seus três anos e pouco de duração", escreve, para concluir que "se o telejornal usar com Serra a mesma medida usada com Dilma, revelará podres desconhecidos do tucano, nem que sejam só os eminentemente administrativos."
Se o 'casal nacional' e a equipe do JN conseguirá achar uma solução inteligente para o problema em que se meteram, ou se o telejornal de maior audiência da TV brasileira passará recibo de preferência partidária, a resposta virá na quarta-feira. Boa noite.
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Chico Anísio, Maitê e a tropa de choque
Por Altamiro Borges
Chico Anísio, o humorista da TV Globo que sempre manteve sólidos vínculos com as elites no poder – ele até foi casado com a ex-ministra de Collor de Mello que surrupiou a poupança dos brasileiros –, despejou mentiras contra a candidata Dilma Rousseff numa entrevista recente ao programa Cultura Geral, na rádio Guarani FM, de Belo Horizonte:
“Eu fico meio grilado porque a candidata Dilma, assim como o Gabeira, está proibida de entrar nos Estados Unidos e em mais 11 países. Se botar o pé em Miami vai presa e não sei como que um presidente do Brasil pode conviver com essa proibição de entrar em 11 países, na América e mais 11 países importantes tipo Alemanha, Inglaterra, França, Itália”.
A radialista ainda retrucou: “Mas isso são águas passadas”. Mas, em tom sério, o decadente humorista insistiu na mentira: “Não… não, americano não perdoa. Ela participou do seqüestro do embaixador americano. Americano não perdoa, não”.
Mentiras e machismo explícito
Duas mentiras repetidas na maior caradura. A ex-ministra, que nunca negou o seu engajamento na resistência à ditadura militar, não participou do seqüestro do embaixador dos EUA no Brasil, Charles Burke Elbrick. Dilma Rousseff também nunca foi proibida de entrar naquele país. Tanto que, poucos dias depois das falsidades de Chico Anísio, ela até visitou os Estados Unidos.
Já nesta segunda-feira, a atriz global Maitê Proença negou a sua história – ela que teve destacado papel na luta pela redemocratização do país – ao afirmar ao jornal Estadão que a discriminação das mulheres talvez “venha a calhar nesse momento de eleições, atiçando os machos selvagens e nos salvando da Dilma”. Maitê já declarou que está em dúvida entre Marina Silva e José Serra, mas participou do jantar oferecido por artistas globais ao demotucano no Rio de Janeiro.
Globais investem na tática do medo
As duas declarações – uma mentirosa e outra machista – possivelmente não foram orientadas por Ali Kamel, o “senhor das trevas” da TV Globo, mas indicam o clima predominante na poderosa emissora. No Jornal Nacional, Willian Bonner não disfarça sua rejeição à candidata do governo – o que gerou outra “briga no ninho tucano” durante a entrevista de Dilma Rousseff, com Fátima Bernardes solicitando “um minutinho” de calma ao seu marido agressivo. Nos outros telejornais, Merval Pereira, Cristiana Lobo e outros também não escondem as suas preferências eleitorais.
No seminário do Instituto Millenium, realizado em março passado, várias estrelas da TV Globo já tinham sinalizado qual seria a linha editorial da emissora na cobertura das eleições de 2010. Willian Waack, Arnaldo Jabor e Marcelo Madureira, entre outros, esculhambaram o presidente Lula e a sua candidata. O evento do Millenium, antro da direita brasileira, serviu para unificar o discurso da mídia em torno da “tática do medo”. Na ausência da atriz global Regina Duarte, que cumpriu este deprimente papel nas eleições de 2002, outros já se alistaram na tropa de choque.
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Chico Anísio, o humorista da TV Globo que sempre manteve sólidos vínculos com as elites no poder – ele até foi casado com a ex-ministra de Collor de Mello que surrupiou a poupança dos brasileiros –, despejou mentiras contra a candidata Dilma Rousseff numa entrevista recente ao programa Cultura Geral, na rádio Guarani FM, de Belo Horizonte:
“Eu fico meio grilado porque a candidata Dilma, assim como o Gabeira, está proibida de entrar nos Estados Unidos e em mais 11 países. Se botar o pé em Miami vai presa e não sei como que um presidente do Brasil pode conviver com essa proibição de entrar em 11 países, na América e mais 11 países importantes tipo Alemanha, Inglaterra, França, Itália”.
A radialista ainda retrucou: “Mas isso são águas passadas”. Mas, em tom sério, o decadente humorista insistiu na mentira: “Não… não, americano não perdoa. Ela participou do seqüestro do embaixador americano. Americano não perdoa, não”.
Mentiras e machismo explícito
Duas mentiras repetidas na maior caradura. A ex-ministra, que nunca negou o seu engajamento na resistência à ditadura militar, não participou do seqüestro do embaixador dos EUA no Brasil, Charles Burke Elbrick. Dilma Rousseff também nunca foi proibida de entrar naquele país. Tanto que, poucos dias depois das falsidades de Chico Anísio, ela até visitou os Estados Unidos.
Já nesta segunda-feira, a atriz global Maitê Proença negou a sua história – ela que teve destacado papel na luta pela redemocratização do país – ao afirmar ao jornal Estadão que a discriminação das mulheres talvez “venha a calhar nesse momento de eleições, atiçando os machos selvagens e nos salvando da Dilma”. Maitê já declarou que está em dúvida entre Marina Silva e José Serra, mas participou do jantar oferecido por artistas globais ao demotucano no Rio de Janeiro.
Globais investem na tática do medo
As duas declarações – uma mentirosa e outra machista – possivelmente não foram orientadas por Ali Kamel, o “senhor das trevas” da TV Globo, mas indicam o clima predominante na poderosa emissora. No Jornal Nacional, Willian Bonner não disfarça sua rejeição à candidata do governo – o que gerou outra “briga no ninho tucano” durante a entrevista de Dilma Rousseff, com Fátima Bernardes solicitando “um minutinho” de calma ao seu marido agressivo. Nos outros telejornais, Merval Pereira, Cristiana Lobo e outros também não escondem as suas preferências eleitorais.
No seminário do Instituto Millenium, realizado em março passado, várias estrelas da TV Globo já tinham sinalizado qual seria a linha editorial da emissora na cobertura das eleições de 2010. Willian Waack, Arnaldo Jabor e Marcelo Madureira, entre outros, esculhambaram o presidente Lula e a sua candidata. O evento do Millenium, antro da direita brasileira, serviu para unificar o discurso da mídia em torno da “tática do medo”. Na ausência da atriz global Regina Duarte, que cumpriu este deprimente papel nas eleições de 2002, outros já se alistaram na tropa de choque.
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Uma radiografia da eleição para o Senado
Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:
Há alguns dias, escrevi aqui um texto sobre a eleição para a Câmara, e prometi que em seguida faria uma radiografia da disputa para o Senado. É o que apresento agora.
O PT adotou, nessa eleição, a tática de abrir mão de candidaturas a governos estaduais, com o objetivo de fortalecer a bancada no Senado Federal. Tática inteligente, já que o Senado (muito mais do que a Câmara) foi o grande obstáculo a Lula – com uma oposição numerosa e barulhenta. A idéia é permitir que Dilma – num eventual governo – tenha correlação de forças mais favorável no Senado.
Será que isso pode acontecer?
Peço, como sempre, a colaboração dos leitores, para corrigir e acrescentar informações que nos ajudem a entender esse quadro. Peço, também, paciência, porque o levantamento é exaustivo – bancada por bancada. Quem tiver menos interesse pode seguir direto para as conclusões finais.
Primeiro, é importante lembrar: dos 81 senadores (3 por Estado), 27 têm mandato até 2015. Portanto, o que está em jogo agora são as outras 54 vagas.
A análise do quadro político em cada Estado aponta para as seguintes possibilidades:
1) Forças de centro-esquerda
PT
- tem 2 senadores com mandato até 2014 – Suplicy (SP) e Tião Viana (AC) - e pode ganhar mais 2 sem precisar de um voto (Alfredo Nascimento e Renato Casagrande, que são favoritos na eleição para governador no AM e no ES, têm suplentes do PT);
- na eleição de outubro, o PT tem chance de eleger entre 8 e 15 novos senadores; Marta (SP), Paim (RS), José Pimentel (CE), Geisi (PR), Wellington (PI), Jorge Vianna (AC), Delcidio (MS) e Humberto Costa (PE) estão entre os dois mais citados nas pesquisas em seus respectivos Estados; mas o PT tem mais sete candidatos fortes, com chances de atropelar no final se Lula e Dilma ajudarem - Fernando Pimentel (MG), Walter Pinheiro (BA), Portela (RR), Fatima Cleide (RO), Abicalil (MT), Paulo Rocha (PA) e Lindhberg (RJ);
- dependendo dos resultados, o PT pode ficar com uma bancada de 12 a 19 senadores.
PCdoB
- tem um 1 senador com mandato até 2014 – Inacio Arruda (CE) ;
- não tem nenhum candidato entre os favoritos nas pesquisas, mas possui 3 nomes em terceiro nos levantamentos, e com chances reais de atropelar no fim – Netinho (SP), Vanessa Graziottin (AM) e Edvaldo (AC); Netinho aparece embolado com Quércia e Tuma na disputa pela segunda vaga de senador em SP; Vanessa e Edvaldo também aparecem pouco abaixo dos candidatos que lideram nos respectivos Estados;
- PCdoB pode ficar com bancada de 1 a 4 senadores;
PSB
- não tem nenhum senador com mandato até 2014;
- pode eleger entre 4 e 6 senadores nas eleições de outubro; aparecem entre os dois possíveis mais votados em seus Estados Antonio Carlos Valadares (SE), Rodrigo Rolemberg (DF), Zé Reinaldo (MA), Lidice da Mata (BA); mas outros nomes do partido tem chances – Capiberibe (AP) e Vilma (RN), essa última eu havia deixado fora da lista, mas corrijo aqui por orientação de leitores atentos;
- portanto, PSB pode ficar com uma bancada de 4 a 6 senadores.
PDT
- tem 2 senadores – Acir Gurgacz (RO) e João Durval (BA) – com mandato até 2014;
- pode eleger mais 3 senadores em outubro; Cristovam Buarque (DF), Waldez Goes (AP) e Dagoberto Nogueira (MS) aparecem nas duas primeiras colocações nas pesquisas em seus respectivos Estados;
- o PDT pode ficar com uma bancada de 5 senadores.
Na hipótese mais otimista para a centro-esquerda, os 4 partidos teriam uma bancada total de 33 senadores. Seria algo inédito no Brasil. Importante lembrar: alguns nomes que podem se eleger por PSB e PDT não têm histórico de militância pela esquerda.
Outras ressalvas:
- nomes como Lidice da Mata (PSB) e Walter Pinheiro (PT), por exemplo, dificilmente estarão juntos nesse cômputo geral. Disputam a mesma vaga para o Senado pela Bahia, já que a outra parece destinada a Cesar Borges (PR);
- em alguns Estados, parece difícil que os petistas, socialistas ou comunistas hoje em terceiro lugar consigam superar pelo menos um dos adversários na disputa (casos de Paulo Rocha no Pará e Lindhberg no Rio, que terá um enfrentamento duríssimo com Cesar Maia pela segunda vaga no Estado).
Por isso, a previsão mais realista é que as legendas de centro-esquerda fiquem com uma bancada em torno de 28 senadores.
xxxxx
2) PMDB
- tem 3 senadores com mandato até 2014 – Pedro Simon (RS), Jarbas (PE) e Jose Sarney (AP);
- pode eleger em outubro de 14 e 19 senadores; estão entre os favoritos nas pesquisas Ferraço (ES), Rigotto (RS), Luiz Henrique (SC), Requião (PR), Jackson Barreto (SE), Renan Calheiros (AL), Garibaldi (RN), Lobão (MA), Marcelo Miranda (TO), Jader Barbalho (PA), Gilvan Borges (AP), Romero Jucá (RR), Eduardo Braga (AM) e Valdir Raupp (RO); mas outros 5 (sem ser favoritos) aparecem ainda com chance de ficar com uma das vagas em seus Estados – Moka (MS), João Alberto (MA), Vitalzinho (PB), Eunicio (CE) e Quércia (SP);
- portanto, o PMDB pode ficar com uma bancada total de 17 a 22 senadores.
Ressalva: dos 5 nomes ainda com chance, sem ser favoritos numericamente nas pesquisas, só Eunício e Moka parecem ter força política (incluindo a proximidade com Lula) para eventualmente ficar com a vaga.
Portanto, a previsão mais realista é que o PMDB fique com algo em torno de 18 senadores (vai disputar com PT – que deve eleger 17 ou 18 – o posto de maior bancada no Senado). Desses, pelo menos 4 não podem ser considerados aliados de Lula/Dilma (Jarbas, Simon, Rigotto e Luiz Henrique).
Ainda assim, 14 peemedebistas pró-governo somados a possíveis 28 senadores de um bloco de centro-esquerda já dariam 42 votos (maioria simples no Senado).
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3) Outras legendas aliadas de Lula/Dilma
PR
- não tem senadores com mandato até 2014;
- pode eleger 4 senadores em outubro; Blairo Maggi (MT), Magno Malta (ES), Cesar Borges (BA) e João Ribeiro (TO) são favoritos em seus Estados, de acordo com as últimas pesquisas;
- PR deve ficar com uma bancada de 4 senadores
PTB
- tem 5 senadores com mandato até 2014 – Mozarildo Cavalcanti (RR), Epitácio Cafeteira (MA), João Vicente Claudino (PI), Gim Argello (DF), Fernando Collor ou suplente (AL);
- pode eleger 1 ou 2 senadores; Tuma aparece em segundo em SP (mas pode acabar sem a vaga numa disputa que deve ser acirradíssima com Netinho, Quércia e Aloysio) e Armando Monteiro Neto (terceiro nas pesquisas em PE) pode surpreender o veterano Marco Maciel, se Lula e Eduardo Campos ajudarem;
- PTB pode ficar com bancada de 5 ou 6 senadores.
PRB
- não tem nenhum senador com mandato até 2014;
- em outubro deve eleger 1 senador - Crivella (RJ) está em primeiro nas pesquisas no Estado;
- PRB deve ficar com 1 senador.
PP
- tem 1 senador com mandato até 2014 – Dornelles (RJ);
- tinha chance clara de eleger mais 1 senador, mas Ivo Cassol (RO) teve seu registro cassado pelo TRE; no RS, Ana Amélia Lemos ainda pode surpreender os favoritos Rigotto e Paim.
- PP deve ficar com 1 ou 2 senadores.
As 4 legendas, somadas, devem ficar com algo em torno de 12 senadores. Desses, pelo menos 10 têm-se mantido próximos a Lula/Dilma.
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4) Legendas de oposição a Lula/Dilma no Senado
PSDB
- tem 5 senadores com mandato até 2014 – Mario Couto (PA), Marisa Serrano (MS), Marconi Perillo (GO), Alvaro Dias (PR) e Cícero Lucena (PB);
- pode eleger, em outubro, de 5 a 7 senadores que estão entre os dois primeiros nas pesquisas em seus Estados - Aécio (MG), Paulo Bauer (SC), Tasso (CE), Cassio Cunha Lima (PB), Lúcia Vania (GO) Marluce Pinto (RR) e Antero (MT) (os dois últimos correm algum risco, porque disputam a segunda vaga com candidatos do PT que podem crescer na reta final);
- PSDB deve ficar com uma bancada de 10 a 12 senadores.
DEM
- tem 5 senadores com mandato até 2014;
- pode eleger, de acordo com as pesquisas, até 6 senadores; estão entre os favoritos, até agora, Cesar Maia (RJ), Marco Maciel (PE), Agripino (RN), e Demóstenes Torres (GO); Heráclito Fortes (PI) aparece em terceiro nas pesquisas e pode perder a reeleição; Cesar Maia e Marco Maciel também devem ter dificuldades porque concorrem em Estados onde o eleitorado é francamente lulista, e um dos dois pode acabar derrotado por Armando Monteiro Neto (PE) ou Lindhberg (RJ);
- a previsão mais realista é que o DEM eleja 4 ou 5 senadores em outubro, e fique com uma bancada de até 10 senadores
PPS
- não tem senadores atualmente;
- pode eleger 1 senador em outubro – Itamar Franco (MG); mas a disputa será duríssima com Fernando Pimentel (PT);
- pode ficar com 1 senador.
PSC
- não tem senadores com mandato até 2014;
- pode eleger 1 senador – Mão Santa (PI) está entre os primeiros em seu Estado;
- PSC deve ficar com 1 senador a partir do ano que vem.
PMN
- não tem senadores;
- pode eleger 1 senador – Petecão no Acre está sem segundo, mas corre risco de ser derrotado por Edvaldo do PCdoB;
- PMN pode ficar com 1 senador a partir de 2011.
PSOL
- não tem senadores com mandato até 2014;
- deve eleger 1 senador – Heloisa Helena (AL) é favorita;
- PSOL deve ficar com 1 senador a partir de 2011.
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Vamos às conclusões finais…
- Na hipótese mais realista, a bancada PSDB/DEM/PSC/PPS/PMN deve somar algo em torno de 25 senadores a partir de 2011. Com mais 4 “dissidentes” do PMDB (Jarbas, Simon, Rigotto, Luiz Henrique), e 1 senador do PSOL, a oposição a um hipotético governo Dilma teria cerca de 29 senadores.
- Do outro lado, somados os votos das legendas de centro-esquerda (28 senadores) com o PMDB “lulista” (14 senadores) e mais 10 senadores de legendas “aliadas” (PP/PR/PRB/PTB) , um hipotético governo Dilma teria algo em torno de 52 votos no Senado. Dois terços do Plenário! Vida mais tranquila do que Lula.
- Tranquila entre aspas porque na turma pró-governo do PMDB haveria gente como Jáder Barbalho – que costuma trazer mais problema do que voto (a Ana Júlia que o diga, no Pará).
- De toda forma, a nota mais importante é o provável encolhimento do bloco DEM/PSDB. Difícil imaginar que Tasso Jereissati, Agripino e Demóstenes não consigam se eleger. Mas figuras como Heráclito Fortes, Artur Virgilio (e até Marco Maciel!) correm risco concreto de ficar fora do Congresso
- Os “demo-tucanos” não serão “varridos do mapa”, como chegam a dizer alguns de forma retumbante. Mas ficarão mais fracos. Se vencer, Dilma pode esperar menos dor-de-cabeça por parte dessa oposição barulhenta do Senado, e mais dor-de-cabeça pra negociar com os “neo-aliados” como Jáder, ou com os velhos “parceiros” (Renan/Sarney/Jucá).
- Na hipótese menos provável de Serra virar o jogo e ganhar, o PMDB cairá tranquilamente no colo dele. Sem traumas. E com muitos votos no Senado.
- Oito anos de Lula parecem ter sido insuficientes para esgotar o poder dos velhos caciques peemedebistas, que chegarão a Brasília mais fortes do que nunca. E – num hipotético governo Dilma – jogariam de tabelinha com um aliado poderoso a fazer sombra, na vice-presidência.
- Por isso, é fundamental que as legendas de centro-esquerda e o PT ofereçam um contra-peso ao poder do PMDB no Senado. Pelo quadro nos Estados, isso pode muito bem se concretizar. Lula, mais uma vez, demonstra uma capacidade impressionante de estrategista.
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Há alguns dias, escrevi aqui um texto sobre a eleição para a Câmara, e prometi que em seguida faria uma radiografia da disputa para o Senado. É o que apresento agora.
O PT adotou, nessa eleição, a tática de abrir mão de candidaturas a governos estaduais, com o objetivo de fortalecer a bancada no Senado Federal. Tática inteligente, já que o Senado (muito mais do que a Câmara) foi o grande obstáculo a Lula – com uma oposição numerosa e barulhenta. A idéia é permitir que Dilma – num eventual governo – tenha correlação de forças mais favorável no Senado.
Será que isso pode acontecer?
Peço, como sempre, a colaboração dos leitores, para corrigir e acrescentar informações que nos ajudem a entender esse quadro. Peço, também, paciência, porque o levantamento é exaustivo – bancada por bancada. Quem tiver menos interesse pode seguir direto para as conclusões finais.
Primeiro, é importante lembrar: dos 81 senadores (3 por Estado), 27 têm mandato até 2015. Portanto, o que está em jogo agora são as outras 54 vagas.
A análise do quadro político em cada Estado aponta para as seguintes possibilidades:
1) Forças de centro-esquerda
PT
- tem 2 senadores com mandato até 2014 – Suplicy (SP) e Tião Viana (AC) - e pode ganhar mais 2 sem precisar de um voto (Alfredo Nascimento e Renato Casagrande, que são favoritos na eleição para governador no AM e no ES, têm suplentes do PT);
- na eleição de outubro, o PT tem chance de eleger entre 8 e 15 novos senadores; Marta (SP), Paim (RS), José Pimentel (CE), Geisi (PR), Wellington (PI), Jorge Vianna (AC), Delcidio (MS) e Humberto Costa (PE) estão entre os dois mais citados nas pesquisas em seus respectivos Estados; mas o PT tem mais sete candidatos fortes, com chances de atropelar no final se Lula e Dilma ajudarem - Fernando Pimentel (MG), Walter Pinheiro (BA), Portela (RR), Fatima Cleide (RO), Abicalil (MT), Paulo Rocha (PA) e Lindhberg (RJ);
- dependendo dos resultados, o PT pode ficar com uma bancada de 12 a 19 senadores.
PCdoB
- tem um 1 senador com mandato até 2014 – Inacio Arruda (CE) ;
- não tem nenhum candidato entre os favoritos nas pesquisas, mas possui 3 nomes em terceiro nos levantamentos, e com chances reais de atropelar no fim – Netinho (SP), Vanessa Graziottin (AM) e Edvaldo (AC); Netinho aparece embolado com Quércia e Tuma na disputa pela segunda vaga de senador em SP; Vanessa e Edvaldo também aparecem pouco abaixo dos candidatos que lideram nos respectivos Estados;
- PCdoB pode ficar com bancada de 1 a 4 senadores;
PSB
- não tem nenhum senador com mandato até 2014;
- pode eleger entre 4 e 6 senadores nas eleições de outubro; aparecem entre os dois possíveis mais votados em seus Estados Antonio Carlos Valadares (SE), Rodrigo Rolemberg (DF), Zé Reinaldo (MA), Lidice da Mata (BA); mas outros nomes do partido tem chances – Capiberibe (AP) e Vilma (RN), essa última eu havia deixado fora da lista, mas corrijo aqui por orientação de leitores atentos;
- portanto, PSB pode ficar com uma bancada de 4 a 6 senadores.
PDT
- tem 2 senadores – Acir Gurgacz (RO) e João Durval (BA) – com mandato até 2014;
- pode eleger mais 3 senadores em outubro; Cristovam Buarque (DF), Waldez Goes (AP) e Dagoberto Nogueira (MS) aparecem nas duas primeiras colocações nas pesquisas em seus respectivos Estados;
- o PDT pode ficar com uma bancada de 5 senadores.
Na hipótese mais otimista para a centro-esquerda, os 4 partidos teriam uma bancada total de 33 senadores. Seria algo inédito no Brasil. Importante lembrar: alguns nomes que podem se eleger por PSB e PDT não têm histórico de militância pela esquerda.
Outras ressalvas:
- nomes como Lidice da Mata (PSB) e Walter Pinheiro (PT), por exemplo, dificilmente estarão juntos nesse cômputo geral. Disputam a mesma vaga para o Senado pela Bahia, já que a outra parece destinada a Cesar Borges (PR);
- em alguns Estados, parece difícil que os petistas, socialistas ou comunistas hoje em terceiro lugar consigam superar pelo menos um dos adversários na disputa (casos de Paulo Rocha no Pará e Lindhberg no Rio, que terá um enfrentamento duríssimo com Cesar Maia pela segunda vaga no Estado).
Por isso, a previsão mais realista é que as legendas de centro-esquerda fiquem com uma bancada em torno de 28 senadores.
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2) PMDB
- tem 3 senadores com mandato até 2014 – Pedro Simon (RS), Jarbas (PE) e Jose Sarney (AP);
- pode eleger em outubro de 14 e 19 senadores; estão entre os favoritos nas pesquisas Ferraço (ES), Rigotto (RS), Luiz Henrique (SC), Requião (PR), Jackson Barreto (SE), Renan Calheiros (AL), Garibaldi (RN), Lobão (MA), Marcelo Miranda (TO), Jader Barbalho (PA), Gilvan Borges (AP), Romero Jucá (RR), Eduardo Braga (AM) e Valdir Raupp (RO); mas outros 5 (sem ser favoritos) aparecem ainda com chance de ficar com uma das vagas em seus Estados – Moka (MS), João Alberto (MA), Vitalzinho (PB), Eunicio (CE) e Quércia (SP);
- portanto, o PMDB pode ficar com uma bancada total de 17 a 22 senadores.
Ressalva: dos 5 nomes ainda com chance, sem ser favoritos numericamente nas pesquisas, só Eunício e Moka parecem ter força política (incluindo a proximidade com Lula) para eventualmente ficar com a vaga.
Portanto, a previsão mais realista é que o PMDB fique com algo em torno de 18 senadores (vai disputar com PT – que deve eleger 17 ou 18 – o posto de maior bancada no Senado). Desses, pelo menos 4 não podem ser considerados aliados de Lula/Dilma (Jarbas, Simon, Rigotto e Luiz Henrique).
Ainda assim, 14 peemedebistas pró-governo somados a possíveis 28 senadores de um bloco de centro-esquerda já dariam 42 votos (maioria simples no Senado).
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3) Outras legendas aliadas de Lula/Dilma
PR
- não tem senadores com mandato até 2014;
- pode eleger 4 senadores em outubro; Blairo Maggi (MT), Magno Malta (ES), Cesar Borges (BA) e João Ribeiro (TO) são favoritos em seus Estados, de acordo com as últimas pesquisas;
- PR deve ficar com uma bancada de 4 senadores
PTB
- tem 5 senadores com mandato até 2014 – Mozarildo Cavalcanti (RR), Epitácio Cafeteira (MA), João Vicente Claudino (PI), Gim Argello (DF), Fernando Collor ou suplente (AL);
- pode eleger 1 ou 2 senadores; Tuma aparece em segundo em SP (mas pode acabar sem a vaga numa disputa que deve ser acirradíssima com Netinho, Quércia e Aloysio) e Armando Monteiro Neto (terceiro nas pesquisas em PE) pode surpreender o veterano Marco Maciel, se Lula e Eduardo Campos ajudarem;
- PTB pode ficar com bancada de 5 ou 6 senadores.
PRB
- não tem nenhum senador com mandato até 2014;
- em outubro deve eleger 1 senador - Crivella (RJ) está em primeiro nas pesquisas no Estado;
- PRB deve ficar com 1 senador.
PP
- tem 1 senador com mandato até 2014 – Dornelles (RJ);
- tinha chance clara de eleger mais 1 senador, mas Ivo Cassol (RO) teve seu registro cassado pelo TRE; no RS, Ana Amélia Lemos ainda pode surpreender os favoritos Rigotto e Paim.
- PP deve ficar com 1 ou 2 senadores.
As 4 legendas, somadas, devem ficar com algo em torno de 12 senadores. Desses, pelo menos 10 têm-se mantido próximos a Lula/Dilma.
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4) Legendas de oposição a Lula/Dilma no Senado
PSDB
- tem 5 senadores com mandato até 2014 – Mario Couto (PA), Marisa Serrano (MS), Marconi Perillo (GO), Alvaro Dias (PR) e Cícero Lucena (PB);
- pode eleger, em outubro, de 5 a 7 senadores que estão entre os dois primeiros nas pesquisas em seus Estados - Aécio (MG), Paulo Bauer (SC), Tasso (CE), Cassio Cunha Lima (PB), Lúcia Vania (GO) Marluce Pinto (RR) e Antero (MT) (os dois últimos correm algum risco, porque disputam a segunda vaga com candidatos do PT que podem crescer na reta final);
- PSDB deve ficar com uma bancada de 10 a 12 senadores.
DEM
- tem 5 senadores com mandato até 2014;
- pode eleger, de acordo com as pesquisas, até 6 senadores; estão entre os favoritos, até agora, Cesar Maia (RJ), Marco Maciel (PE), Agripino (RN), e Demóstenes Torres (GO); Heráclito Fortes (PI) aparece em terceiro nas pesquisas e pode perder a reeleição; Cesar Maia e Marco Maciel também devem ter dificuldades porque concorrem em Estados onde o eleitorado é francamente lulista, e um dos dois pode acabar derrotado por Armando Monteiro Neto (PE) ou Lindhberg (RJ);
- a previsão mais realista é que o DEM eleja 4 ou 5 senadores em outubro, e fique com uma bancada de até 10 senadores
PPS
- não tem senadores atualmente;
- pode eleger 1 senador em outubro – Itamar Franco (MG); mas a disputa será duríssima com Fernando Pimentel (PT);
- pode ficar com 1 senador.
PSC
- não tem senadores com mandato até 2014;
- pode eleger 1 senador – Mão Santa (PI) está entre os primeiros em seu Estado;
- PSC deve ficar com 1 senador a partir do ano que vem.
PMN
- não tem senadores;
- pode eleger 1 senador – Petecão no Acre está sem segundo, mas corre risco de ser derrotado por Edvaldo do PCdoB;
- PMN pode ficar com 1 senador a partir de 2011.
PSOL
- não tem senadores com mandato até 2014;
- deve eleger 1 senador – Heloisa Helena (AL) é favorita;
- PSOL deve ficar com 1 senador a partir de 2011.
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Vamos às conclusões finais…
- Na hipótese mais realista, a bancada PSDB/DEM/PSC/PPS/PMN deve somar algo em torno de 25 senadores a partir de 2011. Com mais 4 “dissidentes” do PMDB (Jarbas, Simon, Rigotto, Luiz Henrique), e 1 senador do PSOL, a oposição a um hipotético governo Dilma teria cerca de 29 senadores.
- Do outro lado, somados os votos das legendas de centro-esquerda (28 senadores) com o PMDB “lulista” (14 senadores) e mais 10 senadores de legendas “aliadas” (PP/PR/PRB/PTB) , um hipotético governo Dilma teria algo em torno de 52 votos no Senado. Dois terços do Plenário! Vida mais tranquila do que Lula.
- Tranquila entre aspas porque na turma pró-governo do PMDB haveria gente como Jáder Barbalho – que costuma trazer mais problema do que voto (a Ana Júlia que o diga, no Pará).
- De toda forma, a nota mais importante é o provável encolhimento do bloco DEM/PSDB. Difícil imaginar que Tasso Jereissati, Agripino e Demóstenes não consigam se eleger. Mas figuras como Heráclito Fortes, Artur Virgilio (e até Marco Maciel!) correm risco concreto de ficar fora do Congresso
- Os “demo-tucanos” não serão “varridos do mapa”, como chegam a dizer alguns de forma retumbante. Mas ficarão mais fracos. Se vencer, Dilma pode esperar menos dor-de-cabeça por parte dessa oposição barulhenta do Senado, e mais dor-de-cabeça pra negociar com os “neo-aliados” como Jáder, ou com os velhos “parceiros” (Renan/Sarney/Jucá).
- Na hipótese menos provável de Serra virar o jogo e ganhar, o PMDB cairá tranquilamente no colo dele. Sem traumas. E com muitos votos no Senado.
- Oito anos de Lula parecem ter sido insuficientes para esgotar o poder dos velhos caciques peemedebistas, que chegarão a Brasília mais fortes do que nunca. E – num hipotético governo Dilma – jogariam de tabelinha com um aliado poderoso a fazer sombra, na vice-presidência.
- Por isso, é fundamental que as legendas de centro-esquerda e o PT ofereçam um contra-peso ao poder do PMDB no Senado. Pelo quadro nos Estados, isso pode muito bem se concretizar. Lula, mais uma vez, demonstra uma capacidade impressionante de estrategista.
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O dilema do Jornal Nacional
Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no blog Cidadania:
A pressa de Willian Bonner em fazer o maior volume de acusações a Dilma Rousseff, ao PT e ao governo Lula no espaço dos 12 minutos da entrevista que a candidata concedeu ao Jornal Nacional na noite de ontem era tanta, que o jornalista acabou errando na dose.
A insistência do entrevistador no tom e no conteúdo acusatórios nas questões que fazia foi gerada pelo resvalar dos seus disparos retóricos na couraça paz e amor da entrevistada. Bonner ficou visivelmente irritado e se embolou com Fátima Bernardes no ataque.
Quem duvidava ou não sabia de que a Globo se opõe a Dilma, ao PT e até ao governo Lula tomou conhecimento disso ontem à noite.
Foi o que a entrevista mostrou, queiram os seus idealizadores ou não. Agiram como se o governo Lula fosse mal avaliado, e Bonner disparou críticas justamente ao ponto forte deste governo, a economia. Fizeram críticas, portanto, sem ressonância na sociedade.
Mas, enfim, o objetivo deste texto não é o de responder às acusações que Bonner e sua mulher fizeram a Dilma, ao PT e ao governo Lula, pois a candidata petista fez isso muito bem, com segurança e surpreendente serenidade.
Há que analisar o pós, o “day after”, que, ao contrário do que se pode pensar, não será no dia seguinte ao da entrevista e, sim, na quarta-feira, quando o entrevistado for José Serra e a Globo tiver que retirar a impressão que Bonner e Bernardes deixaram ao entrevistar Dilma.
Um fato inegável é o de que, se não quiserem dar de bandeja aos petistas a confirmação de suas queixas da mídia, Bonner e Bernardes terão que ser duros também com Serra.
Eis um dilema para o JN. As acusações a Dilma, ao governo Lula e ao PT usadas pelo “Casal Nacional” são amplamente conhecidas. São críticas que estão todos os dias na mídia há anos e anos, tanto na impressa quanto na eletrônica. Mas e a Serra, do que acusar?
Ironicamente, qualquer crítica pertinente que se faça a Serra terá que ser ao seu governo do Estado de São Paulo, o qual foi solenemente poupado de críticas pela mídia durante seus três anos e pouco de duração.
O JN não pode passar recibo de partidário, pois ele e toda a imprensa golpista negam isso até a morte. Mas se o telejornal usar com Serra a mesma medida usada com Dilma, revelará podres desconhecidos do tucano, nem que sejam só os eminentemente administrativos.
A julgar pela entrevista desastrada de ontem à noite, não acredito que terão competência para achar uma solução inteligente, artigo que tem lhes faltado há anos para derrubar a popularidade estratosférica do seu ex-maior desafeto.
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A pressa de Willian Bonner em fazer o maior volume de acusações a Dilma Rousseff, ao PT e ao governo Lula no espaço dos 12 minutos da entrevista que a candidata concedeu ao Jornal Nacional na noite de ontem era tanta, que o jornalista acabou errando na dose.
A insistência do entrevistador no tom e no conteúdo acusatórios nas questões que fazia foi gerada pelo resvalar dos seus disparos retóricos na couraça paz e amor da entrevistada. Bonner ficou visivelmente irritado e se embolou com Fátima Bernardes no ataque.
Quem duvidava ou não sabia de que a Globo se opõe a Dilma, ao PT e até ao governo Lula tomou conhecimento disso ontem à noite.
Foi o que a entrevista mostrou, queiram os seus idealizadores ou não. Agiram como se o governo Lula fosse mal avaliado, e Bonner disparou críticas justamente ao ponto forte deste governo, a economia. Fizeram críticas, portanto, sem ressonância na sociedade.
Mas, enfim, o objetivo deste texto não é o de responder às acusações que Bonner e sua mulher fizeram a Dilma, ao PT e ao governo Lula, pois a candidata petista fez isso muito bem, com segurança e surpreendente serenidade.
Há que analisar o pós, o “day after”, que, ao contrário do que se pode pensar, não será no dia seguinte ao da entrevista e, sim, na quarta-feira, quando o entrevistado for José Serra e a Globo tiver que retirar a impressão que Bonner e Bernardes deixaram ao entrevistar Dilma.
Um fato inegável é o de que, se não quiserem dar de bandeja aos petistas a confirmação de suas queixas da mídia, Bonner e Bernardes terão que ser duros também com Serra.
Eis um dilema para o JN. As acusações a Dilma, ao governo Lula e ao PT usadas pelo “Casal Nacional” são amplamente conhecidas. São críticas que estão todos os dias na mídia há anos e anos, tanto na impressa quanto na eletrônica. Mas e a Serra, do que acusar?
Ironicamente, qualquer crítica pertinente que se faça a Serra terá que ser ao seu governo do Estado de São Paulo, o qual foi solenemente poupado de críticas pela mídia durante seus três anos e pouco de duração.
O JN não pode passar recibo de partidário, pois ele e toda a imprensa golpista negam isso até a morte. Mas se o telejornal usar com Serra a mesma medida usada com Dilma, revelará podres desconhecidos do tucano, nem que sejam só os eminentemente administrativos.
A julgar pela entrevista desastrada de ontem à noite, não acredito que terão competência para achar uma solução inteligente, artigo que tem lhes faltado há anos para derrubar a popularidade estratosférica do seu ex-maior desafeto.
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segunda-feira, 9 de agosto de 2010
TSE ensina jornalismo à revista Veja
Reproduzo artigo de Luis Nassif, publicado em seu blog:
Foi necessário a Justiça Eleitoral atender a um pedido do maior partido político brasileiro, para o estado de direito e o jornalismo começarem a ganhar algum espaço na Veja.
Ao longo dos últimos anos, a revista praticou toda sorte de abusos, de acusações falsas ou não comprovadas, assassinou e fabricou reputações, de acordo com suas conveniências de ordem comercial e/ou política.
Há muito tempo deveria ter sido enquadrada. Não para impedir o exercício da liberdade de imprensa, mas para impor um mínimo de responsabilidade à máquina de assassinar reputações em que ela se converteu.
A facilidade de mentir, acusar, achincalhar, adquiriu níveis epidêmicos na revista. Especialmente devido à blindagem da Primeira Instância na Vara de Pinheiros, atrasando por anos a condenação da revista, impedindo o direito de resposta imediato - a rapidez do direito de resposta é diretamente proporcional à sua eficácia.
Agora, condenada a publicar o Direito de Resposta do PT, é evidente que os advogados passaram a ler as matérias, antes de sair, para evitar mais condenações.
Duas edições antes, a revista afirmava peremptoriamente que havia um grupo de inteligência da campanha de Dilma montando dossiês contra adversários. Esse grupo teria sido o responsável pelo suposto vazamento da declaração de Eduardo Jorge.
Nesta semana, depois da decisão do TSE, a matéria não fala mais em dossiês preparados pela campanha de Dilma, mas em "grupo do partido ligado à campanha de Dilma", suficientemente vago para impedir uma nova ação.
Mas adiante, diz que Eduardo Jorge "teve seu sigilo fiscal quebrado, mas até hoje não se sabe quem são os autores do crime". Eduardo Jorge "suspeita também que o sigilo de uma de suas contas no Banco do Brasil também foi quebrado". Tudo no condicional, sem afirmações peremptórias, sem acusações gratuitas, antes de dispor de provas.
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Foi necessário a Justiça Eleitoral atender a um pedido do maior partido político brasileiro, para o estado de direito e o jornalismo começarem a ganhar algum espaço na Veja.
Ao longo dos últimos anos, a revista praticou toda sorte de abusos, de acusações falsas ou não comprovadas, assassinou e fabricou reputações, de acordo com suas conveniências de ordem comercial e/ou política.
Há muito tempo deveria ter sido enquadrada. Não para impedir o exercício da liberdade de imprensa, mas para impor um mínimo de responsabilidade à máquina de assassinar reputações em que ela se converteu.
A facilidade de mentir, acusar, achincalhar, adquiriu níveis epidêmicos na revista. Especialmente devido à blindagem da Primeira Instância na Vara de Pinheiros, atrasando por anos a condenação da revista, impedindo o direito de resposta imediato - a rapidez do direito de resposta é diretamente proporcional à sua eficácia.
Agora, condenada a publicar o Direito de Resposta do PT, é evidente que os advogados passaram a ler as matérias, antes de sair, para evitar mais condenações.
Duas edições antes, a revista afirmava peremptoriamente que havia um grupo de inteligência da campanha de Dilma montando dossiês contra adversários. Esse grupo teria sido o responsável pelo suposto vazamento da declaração de Eduardo Jorge.
Nesta semana, depois da decisão do TSE, a matéria não fala mais em dossiês preparados pela campanha de Dilma, mas em "grupo do partido ligado à campanha de Dilma", suficientemente vago para impedir uma nova ação.
Mas adiante, diz que Eduardo Jorge "teve seu sigilo fiscal quebrado, mas até hoje não se sabe quem são os autores do crime". Eduardo Jorge "suspeita também que o sigilo de uma de suas contas no Banco do Brasil também foi quebrado". Tudo no condicional, sem afirmações peremptórias, sem acusações gratuitas, antes de dispor de provas.
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O último suspiro do DataSerra
Reproduzo artigo do deputado Brizola Neto, publicado no blog Tijolaço:
O blog de Lauro Jardim, na Veja, mostra qual será o caminho da mídia para sustentar o último suspiro de Serra antes do início da campanha eleitoral pela TV, quando a desvantagem do tucano tende a se acentuar. E a estratégia será, mais uma vez, com o dedicado empenho do Datafolha, cuja metodologia equivocada já apontamos por diversas vezes.
O colunista da Veja afirma com todas as letras: “Quem vai definir se Serra acordará no dia 17 em condições de boa disputa com Dilma é o Datafolha”. Pronto, está explícito o roteiro a ser seguido pela Veja e os grandes meios de comunicação. O Datafolha e sua “proporcionalização” mal intencionada garantirão sobrevida a Serra para que ele tenha, ao menos, disposição de enfrentar os dois meses até a votação.
E como o Datafolha explicará a manutenção de uma suposta competitividade de Serra, quando todos os demais institutos apontam para o crescimento de Dilma e a queda do tucano? Também está tudo explicadinho no blog do colunista da Veja. O instituto usará o debate da Bandeirantes, que pela versão midiática Serra “venceu por pontos”, como escreveu Jardim, e o somará às entrevistas desta semana no Jornal Nacional, que começam hoje, com Dilma.
Serra será o último entrevistado pelo principal telejornal da Rede Globo, na quarta-feira, o que poderá ser usado para justificar um suposto recall de memória em alguns entrevistados, já que o Datafolha irá a campo até o dia seguinte à fala do tucano. Coincidência, né?
Comenta-se à boca pequena que o compromisso do Datafolha com Serra foi o de levá-lo em condições de igualdade até o início da campanha eleitoral. A partir do dia 17, porém, vai ser difícil segurar a onda Dilma com o envolvimento total de Lula na campanha e a percepção definitiva de quem é a sua candidata.
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O blog de Lauro Jardim, na Veja, mostra qual será o caminho da mídia para sustentar o último suspiro de Serra antes do início da campanha eleitoral pela TV, quando a desvantagem do tucano tende a se acentuar. E a estratégia será, mais uma vez, com o dedicado empenho do Datafolha, cuja metodologia equivocada já apontamos por diversas vezes.
O colunista da Veja afirma com todas as letras: “Quem vai definir se Serra acordará no dia 17 em condições de boa disputa com Dilma é o Datafolha”. Pronto, está explícito o roteiro a ser seguido pela Veja e os grandes meios de comunicação. O Datafolha e sua “proporcionalização” mal intencionada garantirão sobrevida a Serra para que ele tenha, ao menos, disposição de enfrentar os dois meses até a votação.
E como o Datafolha explicará a manutenção de uma suposta competitividade de Serra, quando todos os demais institutos apontam para o crescimento de Dilma e a queda do tucano? Também está tudo explicadinho no blog do colunista da Veja. O instituto usará o debate da Bandeirantes, que pela versão midiática Serra “venceu por pontos”, como escreveu Jardim, e o somará às entrevistas desta semana no Jornal Nacional, que começam hoje, com Dilma.
Serra será o último entrevistado pelo principal telejornal da Rede Globo, na quarta-feira, o que poderá ser usado para justificar um suposto recall de memória em alguns entrevistados, já que o Datafolha irá a campo até o dia seguinte à fala do tucano. Coincidência, né?
Comenta-se à boca pequena que o compromisso do Datafolha com Serra foi o de levá-lo em condições de igualdade até o início da campanha eleitoral. A partir do dia 17, porém, vai ser difícil segurar a onda Dilma com o envolvimento total de Lula na campanha e a percepção definitiva de quem é a sua candidata.
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O plebiscito sobre a propriedade da terra
Por Altamiro Borges
De 1 a 7 de setembro, durante a “Semana da Pátria”, o Fórum Nacional pela Reforma Agrária e pela Justiça no Campo (FNRA) promoverá um plebiscito popular sobre o limite da propriedade da terra. O objetivo é envolver a sociedade neste debate estratégico. A concentração de terras é uma das principais causas dos nossos graves problemas sociais, como a exclusão do trabalhador do campo, a violência do latifúndio e o crescimento da miséria nos centros urbanos.
O FNRA é composto por 54 entidades que lutam pela reforma agrária e sua iniciativa conta com o apoio da Assembléia Popular, Grito dos Excluídos, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). Durante o plebiscito também haverá a coleta de assinaturas para o projeto de emenda constitucional (PEC) que visa inserir um quinto inciso no artigo 186 da Constituição, no que se refere à função social da propriedade rural.
Campanha da fraternidade de 2010
“Trata-se de uma questão que interessa a todos, pois estabelecer o limite da propriedade significa democratizar o acesso à terra e possibilitar a fixação do homem no campo, evitando os inúmeros problemas que a migração para as cidades causa”, explica Luis Bassegio, militante do Grito dos Excluídos e da Assembleia Popular. Segundo Dom Ladislau Biernarski, presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o plebiscito dialoga com o tema da campanha da fraternidade de 2010 – “Fraternidade e Economia – Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”.
A iniciativa se reveste de grande importância. A discussão sobre a limitação da propriedade rural está parada no parlamento há várias décadas. A bancada ruralista, sempre numerosa e estridente, impede que o tema avance. Enquanto isso, a concentração fundiária aumenta. Segundo o último censo do IBGE, 46 mil fazendeiros detêm quase metade das terras agricultáveis no país. O Brasil é o segundo país do mundo em concentração agrária. O simples limite à propriedade, já aplicado em vários países, liberaria uma área de 200 milhões de hectares para a reforma agrária.
Impacto do debate sucessório
“É vantajoso para um país que deixemos de ter quatro milhões de sem terra, enquanto 2% dos proprietários têm mais de metade das terras”, afirma Biernarski. O artigo 184 da Constituição se refere à função social da propriedade e impõe que o Estado promova a reforma agrária. Mas ele mesmo estabelece o sagrado direito à propriedade privada e fixa que a desapropriação não deve afetar a chamada “propriedade produtiva”, termo vago que dá brechas ao latifúndio improdutivo. A proposta do plebiscito objetiva exatamente inserir o limite da propriedade no artigo 186 da CF.
Nas vésperas da sucessão presidencial, o plebiscito se reveste ainda de forte caráter político. Visa forçar os candidatos a debaterem este tema estratégico e serve como justa pressão para viabilizar a reforma agrária. Este tema sempre esbarrou na feroz resistência dos latifundiários, que hoje se travestem de modernos empresários do agronegócio. O próprio presidente Lula, que teve o apoio dos movimentos ligados à luta pela reforma agrária, preferiu não enfrentar o poder dos ruralistas. O plebiscito serve para abalar este atraso secular, que tanta injustiça causa ao povo brasileiro.
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De 1 a 7 de setembro, durante a “Semana da Pátria”, o Fórum Nacional pela Reforma Agrária e pela Justiça no Campo (FNRA) promoverá um plebiscito popular sobre o limite da propriedade da terra. O objetivo é envolver a sociedade neste debate estratégico. A concentração de terras é uma das principais causas dos nossos graves problemas sociais, como a exclusão do trabalhador do campo, a violência do latifúndio e o crescimento da miséria nos centros urbanos.
O FNRA é composto por 54 entidades que lutam pela reforma agrária e sua iniciativa conta com o apoio da Assembléia Popular, Grito dos Excluídos, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). Durante o plebiscito também haverá a coleta de assinaturas para o projeto de emenda constitucional (PEC) que visa inserir um quinto inciso no artigo 186 da Constituição, no que se refere à função social da propriedade rural.
Campanha da fraternidade de 2010
“Trata-se de uma questão que interessa a todos, pois estabelecer o limite da propriedade significa democratizar o acesso à terra e possibilitar a fixação do homem no campo, evitando os inúmeros problemas que a migração para as cidades causa”, explica Luis Bassegio, militante do Grito dos Excluídos e da Assembleia Popular. Segundo Dom Ladislau Biernarski, presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o plebiscito dialoga com o tema da campanha da fraternidade de 2010 – “Fraternidade e Economia – Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”.
A iniciativa se reveste de grande importância. A discussão sobre a limitação da propriedade rural está parada no parlamento há várias décadas. A bancada ruralista, sempre numerosa e estridente, impede que o tema avance. Enquanto isso, a concentração fundiária aumenta. Segundo o último censo do IBGE, 46 mil fazendeiros detêm quase metade das terras agricultáveis no país. O Brasil é o segundo país do mundo em concentração agrária. O simples limite à propriedade, já aplicado em vários países, liberaria uma área de 200 milhões de hectares para a reforma agrária.
Impacto do debate sucessório
“É vantajoso para um país que deixemos de ter quatro milhões de sem terra, enquanto 2% dos proprietários têm mais de metade das terras”, afirma Biernarski. O artigo 184 da Constituição se refere à função social da propriedade e impõe que o Estado promova a reforma agrária. Mas ele mesmo estabelece o sagrado direito à propriedade privada e fixa que a desapropriação não deve afetar a chamada “propriedade produtiva”, termo vago que dá brechas ao latifúndio improdutivo. A proposta do plebiscito objetiva exatamente inserir o limite da propriedade no artigo 186 da CF.
Nas vésperas da sucessão presidencial, o plebiscito se reveste ainda de forte caráter político. Visa forçar os candidatos a debaterem este tema estratégico e serve como justa pressão para viabilizar a reforma agrária. Este tema sempre esbarrou na feroz resistência dos latifundiários, que hoje se travestem de modernos empresários do agronegócio. O próprio presidente Lula, que teve o apoio dos movimentos ligados à luta pela reforma agrária, preferiu não enfrentar o poder dos ruralistas. O plebiscito serve para abalar este atraso secular, que tanta injustiça causa ao povo brasileiro.
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Dilma: continuidade ou avanço?
Por Altamiro Borges
Com exceção do Datafraude, as três últimas pesquisas apontam que Dilma Rousseff ultrapassou o demotucano José Serra. Vox Populi, Sensus e até o Ibope já cogitam a hipótese da candidata vencer no primeiro turno. Esta possibilidade, que retrata a fase anterior à campanha na rádio e televisão, indica que o eleitorado brasileiro está satisfeito com os rumos do país e não deseja o retrocesso. Dilma é vista como a continuidade do governo Lula, que goza de alta popularidade; Serra lembra o triste reinado neoliberal de FHC, de desmonte do estado, da nação e do trabalho.
Mas será que a bandeira da “continuidade” é suficiente para garantir a vitória das atuais forças que governam a nação? Ela conseguirá contagiar amplas parcelas na campanha? Os brasileiros estão totalmente satisfeitos com a situação do Brasil? Vários indicadores econômicos e sociais confirmam que o país melhorou nos últimos oito anos. Mas ele ainda é extremamente injusto. A campanha de Dilma Rousseff ficaria muito limitada se propusesse apenas a mera continuidade. O Brasil necessita de reformas estruturais para promover avanços sociais mais consistentes.
Relatório alarmante da ONU
O relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgado no final de julho, revela que o país continua entre os mais injustos do planeta. Medindo essa realidade a partir da renda per capita, o índice de Gini para o Brasil é de 0,56. De acordo com a metodologia, quanto mais próximo de um, maior a desigualdade. No mundo, a base de dados do Pnud mostra que o Brasil ainda é o décimo no ranking da desigualdade. Na América Latina, ele só está melhor situado do que a Bolívia e o Haiti, o que comprova a incomoda situação de injustiça no país.
O recente estudo apresenta alguns problemas, que podem ter distorcido os resultados. Ele coletou dados em apenas 126 dos 195 países membros do ONU, e há defasagens no tempo de coleta das informações. Além disso, o próprio organismo reconhece os avanços ocorridos no país. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) melhorou na fase recente – de 0,71, em 1990, para 0,81 em 2007. Ela elogia, por exemplo, o programa Bolsa Família, “um importante esforço para melhorar a incidência do gasto social..., que por sua vez resultou numa melhor distribuição de renda”.
Milhões ainda vegetam na miséria
O relatório do Pnad inclusive foi criticado pelo presidente Lula. “A ONU tem que saber que não tem nenhum país que em tão pouco tempo fez como o Brasil, de tirar 34 milhões de pessoas das classes D e E e levar para a classe C, tirar 21 milhões de pessoas da miséria. Fora China e Índia, nenhum país criou 14,5 milhões de empregos em oito anos, como nós criamos. Eu não tenho dúvida nenhuma de que em 2015 o Brasil terá cumprido todas as metas do milênio que assinou”.
Apesar das ressalvas, não dá para se contentar em apenas propor a mera continuidade. O Brasil continua sendo um dos países mais injustos do mundo; os problemas sociais são gravíssimos; a desigualdade é abissal. Milhões vegetam com menos de 30 dólares por mês; 53% dos brasileiros sequer terminam o ensino fundamental; metade da riqueza nacional fica com os 10% mais ricos, enquanto 50% dos mais pobres dividem apenas 10% dela; 58% dos brasileiros mantêm o mesmo perfil de pobreza entre duas gerações; mais da metade dos agricultures detem menos de 3% das propriedades rurais, enquanto 46 mil fazendeiros são donos de metade das terras.
A urgência das reformas estruturais
Como alerta Frei Betto, o país avançou nos últimos anos, mas ainda não enfrentou os seus gargalos estruturais. “Para operar uma drástica redução na desigualdade é urgente promover a reforma agrária e multiplicar os mecanismos de transferência de renda... É uma falácia dizer que, ao promover transferência de renda, o governo está ‘sustentando vagabundos’. O governo sustenta vagabundos quando não pune os corruptos, o nepotismo, as licitações fajutas, a malversação de dinheiro público. Transferir renda aos mais pobres é dever, em especial num país em que o governo irriga o mercado financeiro engordando a fortuna dos especuladores que nada produzem”.
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Com exceção do Datafraude, as três últimas pesquisas apontam que Dilma Rousseff ultrapassou o demotucano José Serra. Vox Populi, Sensus e até o Ibope já cogitam a hipótese da candidata vencer no primeiro turno. Esta possibilidade, que retrata a fase anterior à campanha na rádio e televisão, indica que o eleitorado brasileiro está satisfeito com os rumos do país e não deseja o retrocesso. Dilma é vista como a continuidade do governo Lula, que goza de alta popularidade; Serra lembra o triste reinado neoliberal de FHC, de desmonte do estado, da nação e do trabalho.
Mas será que a bandeira da “continuidade” é suficiente para garantir a vitória das atuais forças que governam a nação? Ela conseguirá contagiar amplas parcelas na campanha? Os brasileiros estão totalmente satisfeitos com a situação do Brasil? Vários indicadores econômicos e sociais confirmam que o país melhorou nos últimos oito anos. Mas ele ainda é extremamente injusto. A campanha de Dilma Rousseff ficaria muito limitada se propusesse apenas a mera continuidade. O Brasil necessita de reformas estruturais para promover avanços sociais mais consistentes.
Relatório alarmante da ONU
O relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgado no final de julho, revela que o país continua entre os mais injustos do planeta. Medindo essa realidade a partir da renda per capita, o índice de Gini para o Brasil é de 0,56. De acordo com a metodologia, quanto mais próximo de um, maior a desigualdade. No mundo, a base de dados do Pnud mostra que o Brasil ainda é o décimo no ranking da desigualdade. Na América Latina, ele só está melhor situado do que a Bolívia e o Haiti, o que comprova a incomoda situação de injustiça no país.
O recente estudo apresenta alguns problemas, que podem ter distorcido os resultados. Ele coletou dados em apenas 126 dos 195 países membros do ONU, e há defasagens no tempo de coleta das informações. Além disso, o próprio organismo reconhece os avanços ocorridos no país. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) melhorou na fase recente – de 0,71, em 1990, para 0,81 em 2007. Ela elogia, por exemplo, o programa Bolsa Família, “um importante esforço para melhorar a incidência do gasto social..., que por sua vez resultou numa melhor distribuição de renda”.
Milhões ainda vegetam na miséria
O relatório do Pnad inclusive foi criticado pelo presidente Lula. “A ONU tem que saber que não tem nenhum país que em tão pouco tempo fez como o Brasil, de tirar 34 milhões de pessoas das classes D e E e levar para a classe C, tirar 21 milhões de pessoas da miséria. Fora China e Índia, nenhum país criou 14,5 milhões de empregos em oito anos, como nós criamos. Eu não tenho dúvida nenhuma de que em 2015 o Brasil terá cumprido todas as metas do milênio que assinou”.
Apesar das ressalvas, não dá para se contentar em apenas propor a mera continuidade. O Brasil continua sendo um dos países mais injustos do mundo; os problemas sociais são gravíssimos; a desigualdade é abissal. Milhões vegetam com menos de 30 dólares por mês; 53% dos brasileiros sequer terminam o ensino fundamental; metade da riqueza nacional fica com os 10% mais ricos, enquanto 50% dos mais pobres dividem apenas 10% dela; 58% dos brasileiros mantêm o mesmo perfil de pobreza entre duas gerações; mais da metade dos agricultures detem menos de 3% das propriedades rurais, enquanto 46 mil fazendeiros são donos de metade das terras.
A urgência das reformas estruturais
Como alerta Frei Betto, o país avançou nos últimos anos, mas ainda não enfrentou os seus gargalos estruturais. “Para operar uma drástica redução na desigualdade é urgente promover a reforma agrária e multiplicar os mecanismos de transferência de renda... É uma falácia dizer que, ao promover transferência de renda, o governo está ‘sustentando vagabundos’. O governo sustenta vagabundos quando não pune os corruptos, o nepotismo, as licitações fajutas, a malversação de dinheiro público. Transferir renda aos mais pobres é dever, em especial num país em que o governo irriga o mercado financeiro engordando a fortuna dos especuladores que nada produzem”.
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domingo, 8 de agosto de 2010
À espera do encontro dos blogueiros
Reproduzo artigo de Maurício Caleiro, publicado no blog “Cinema e outras artes”:
Ontem fiz minha inscrição para o I Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Alimento uma ansiedade boa em relação ao evento e estou com grande expectativa – creio que será mais do que uma oportunidade de conhecer e confraternizar com outros blogueiros e entusiastas das novas comunicações, mas um evento histórico.
Só o fato de se realizar tal encontro, com uma programação de três dias e reunindo centenas de pessoas, já merece ser saudado como uma prova a mais de que, definitivamente, há uma nova força a se contrapor aos jornalões e grandes corporações midiáticas, com suas manipulações a favor do capital e de seus próprios interesses empresariais.
Desafios e conquistas
É evidente, no entanto, que se trata de uma luta de Davi e Golias. Talvez não nos encontremos mais em uma fase meramente embrionária da comunicação alternativa via web, mas, sendo realista, ainda são incipientes as bases materiais, legais e institucionais que permitiriam a constituição de um sustentáculo à atividade blogueira a médio e longo prazo. Muito precisaremos caminhar para nos consolidar como força capaz de vencer a longa luta da blogosfera por viabilização profissional, segurança jurídica, capacidade de se manter infesa ao poder do grande capital e de resistir contra as tentativas de intimidação e censura, entre outros desafios.
Assim como muitos têm afirmado, tenho a impressão de que o Encontro será o primeiro passo concreto e abrangente para a concepção de ações articuladas para começar a enfrentar de forma objetiva tais demandas. O incansável jornalista Altamiro Borges, dono de um dos melhores blogs de política do pedaço, acrescenta, em entrevista ao site Vermeho, a oportunidade para atacar uma questão premente da blogosfera: “o blog produz muita opinião e pouco conteúdo informativo. Para Miro, trata-se de uma ótima oportunidade para a articulação de uma agência de notícias".
Festa e confraternização
Como se não bastasse a oportunidade de nos unirmos e agir para a melhoria da blogosfera, teremos uma festa de abertura ao som de chorinho, com um grupo comandado por ninguém menos do que Luís Nassif (ao bandolim), com canjas de quem entende do riscado (infelizmente, não é o meu caso...).
Quem está querendo ir e não sabe como fazer para se inscrever, arrumar hotel e passagens em conta, etc., é só clicar no banner grandão lá encima ou aqui, que a minha grande amiga @Maria_Fro (a.k.a. Conceição Oliveira) explica tudim procê, como se diz aqui em Minas!
Miro, Nassif e Frô fazem parte da comissão de organização do evento, que conta ainda com as presenças do prezado Diego Casaes, de Paulo Henrique Amorim, Rodrigo Vianna, Eduardo Guimarães e Luiz Carlos Azenha - todos, desnecessário dizer, de parabéns pela capacidade, persistência e raça para viabilizar o encontro.
Pauta variada
Azenha, aliás, em post sobre suas perspectivas quanto ao encontro, observou, de forma realista e na contramão de análises mais derramadas, que “a blogosfera é muito diversa e é difícil encontrar dois blogueiros que concordem absolutamente sobre um único tema. Por isso, quem imagina que os 200 blogueiros já inscritos vão se submeter a algum tipo de controle, de comando centralizado ou de “ordens superiores” decididamente não conhece a blogosfera”. Para ele, os pontos fundamentais seriam: interação entre blogueiros, troca de informações e de ensinamentos visando aprimorar os blogs, discussão sobre “a viabilidade comercial da blogosfera” e debate acerca das “as ameaças já existentes à blogosfera”.
De minha parte, insisto – pois já abordei o tema aqui - na importância da constituição de um sistema permanente de defesa jurídica para a blogosfera. Não se trata, a meu ver, de mais um tema entre outros de igual importância, mas de uma necessidade premente, pois têm sido recorrentes – e em intervalos cada vez menores - os processos contra blogueiros, uns poucos por descuido próprio (e aí faltou orientação legal sobre que cuidados tomar para exercer jornalismo sem infringir a lei), mas uma maioria como forma de intimidar e calar o escriba.
Que, um dia, tais estratégias venham a tomar a forma de uma ação articulada visando censurar e desarticular a blogosfera - através de uma enxurrada de processos e com as armas do poder econômico - é mera questão de tempo. Arrisco dizer que isso só não aconteceu nas eleições em curso porque, para os agentes do grande capital capazes de financiar tal empreitada, o naufrágio da candidatura da direita se evidenciou muito cedo – muito antes do que as pesquisas eleitorais o detectassem.
A hora é essa!
Essas e outras questões serão certamente debatidas nos três dias de encontro e, ainda que muita polêmica e até algumas discussões devam ocorrer, estou certo de que sairemos de São Paulo mais fortes e com projetos concretos para o aperfeiçoamento e fortalização da blogosfera, que nestas eleições têm mostrado seu tremendo potencial como força de comunicação interativa e livre de interesses corporativos.
Quem ainda não se decidiu, esta é a hora (inscrições só até dia 13/08)!
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Ontem fiz minha inscrição para o I Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Alimento uma ansiedade boa em relação ao evento e estou com grande expectativa – creio que será mais do que uma oportunidade de conhecer e confraternizar com outros blogueiros e entusiastas das novas comunicações, mas um evento histórico.
Só o fato de se realizar tal encontro, com uma programação de três dias e reunindo centenas de pessoas, já merece ser saudado como uma prova a mais de que, definitivamente, há uma nova força a se contrapor aos jornalões e grandes corporações midiáticas, com suas manipulações a favor do capital e de seus próprios interesses empresariais.
Desafios e conquistas
É evidente, no entanto, que se trata de uma luta de Davi e Golias. Talvez não nos encontremos mais em uma fase meramente embrionária da comunicação alternativa via web, mas, sendo realista, ainda são incipientes as bases materiais, legais e institucionais que permitiriam a constituição de um sustentáculo à atividade blogueira a médio e longo prazo. Muito precisaremos caminhar para nos consolidar como força capaz de vencer a longa luta da blogosfera por viabilização profissional, segurança jurídica, capacidade de se manter infesa ao poder do grande capital e de resistir contra as tentativas de intimidação e censura, entre outros desafios.
Assim como muitos têm afirmado, tenho a impressão de que o Encontro será o primeiro passo concreto e abrangente para a concepção de ações articuladas para começar a enfrentar de forma objetiva tais demandas. O incansável jornalista Altamiro Borges, dono de um dos melhores blogs de política do pedaço, acrescenta, em entrevista ao site Vermeho, a oportunidade para atacar uma questão premente da blogosfera: “o blog produz muita opinião e pouco conteúdo informativo. Para Miro, trata-se de uma ótima oportunidade para a articulação de uma agência de notícias".
Festa e confraternização
Como se não bastasse a oportunidade de nos unirmos e agir para a melhoria da blogosfera, teremos uma festa de abertura ao som de chorinho, com um grupo comandado por ninguém menos do que Luís Nassif (ao bandolim), com canjas de quem entende do riscado (infelizmente, não é o meu caso...).
Quem está querendo ir e não sabe como fazer para se inscrever, arrumar hotel e passagens em conta, etc., é só clicar no banner grandão lá encima ou aqui, que a minha grande amiga @Maria_Fro (a.k.a. Conceição Oliveira) explica tudim procê, como se diz aqui em Minas!
Miro, Nassif e Frô fazem parte da comissão de organização do evento, que conta ainda com as presenças do prezado Diego Casaes, de Paulo Henrique Amorim, Rodrigo Vianna, Eduardo Guimarães e Luiz Carlos Azenha - todos, desnecessário dizer, de parabéns pela capacidade, persistência e raça para viabilizar o encontro.
Pauta variada
Azenha, aliás, em post sobre suas perspectivas quanto ao encontro, observou, de forma realista e na contramão de análises mais derramadas, que “a blogosfera é muito diversa e é difícil encontrar dois blogueiros que concordem absolutamente sobre um único tema. Por isso, quem imagina que os 200 blogueiros já inscritos vão se submeter a algum tipo de controle, de comando centralizado ou de “ordens superiores” decididamente não conhece a blogosfera”. Para ele, os pontos fundamentais seriam: interação entre blogueiros, troca de informações e de ensinamentos visando aprimorar os blogs, discussão sobre “a viabilidade comercial da blogosfera” e debate acerca das “as ameaças já existentes à blogosfera”.
De minha parte, insisto – pois já abordei o tema aqui - na importância da constituição de um sistema permanente de defesa jurídica para a blogosfera. Não se trata, a meu ver, de mais um tema entre outros de igual importância, mas de uma necessidade premente, pois têm sido recorrentes – e em intervalos cada vez menores - os processos contra blogueiros, uns poucos por descuido próprio (e aí faltou orientação legal sobre que cuidados tomar para exercer jornalismo sem infringir a lei), mas uma maioria como forma de intimidar e calar o escriba.
Que, um dia, tais estratégias venham a tomar a forma de uma ação articulada visando censurar e desarticular a blogosfera - através de uma enxurrada de processos e com as armas do poder econômico - é mera questão de tempo. Arrisco dizer que isso só não aconteceu nas eleições em curso porque, para os agentes do grande capital capazes de financiar tal empreitada, o naufrágio da candidatura da direita se evidenciou muito cedo – muito antes do que as pesquisas eleitorais o detectassem.
A hora é essa!
Essas e outras questões serão certamente debatidas nos três dias de encontro e, ainda que muita polêmica e até algumas discussões devam ocorrer, estou certo de que sairemos de São Paulo mais fortes e com projetos concretos para o aperfeiçoamento e fortalização da blogosfera, que nestas eleições têm mostrado seu tremendo potencial como força de comunicação interativa e livre de interesses corporativos.
Quem ainda não se decidiu, esta é a hora (inscrições só até dia 13/08)!
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A mídia e o escândalo Lula
Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:
Quem olhasse para o Brasil através da imprensa, não conseguiria entender a popularidade do Lula. Foi o que constatou o ex-presidente português Mario Soares, que a essa dicotomia soma a projeção internacional extraordinária do Lula e do Brasil no governo atual e não conseguia entender como a imprensa brasileira não reflete, nem essa imagem internacional, nem o formidável e inédito apoio interno do Lula.
Acontece que Lula não se subordinou ao que as elites tradicionais acreditavam reservar para ele: que fosse eternamente um opositor denuncista, sem capacidade de agregar, de fazer alianças, se construir uma força hegemônica no país. Ficaria ali, isolado, rejeitado, até mesmo como prova da existência de uma oposição – incapaz de deixar de sê-lo.
Quando Lula contornou isso, constituiu um arco de alianças majoritário e triunfou, lhe reservavam o fracasso: ataque especulativo, fuga de capitais, onda de reivindicações, descontrole inflacionário, que levasse a população a suplicar pela volta dos tucanos-pefelistas, enterrando definitivamente a esquerda no Brasil por vinte anos.
Lula contornou esse problema. Aí o medo era de que permanecesse muito tempo, se consolidasse. Reservaram-lhe então o papel de “presidente corrupto”, vitima de campanhas orquestradas pela mídia privada – como em 1964 -, a partir de movimentos como o “Cansei”. Ou o derrubariam por impeachment ou supunham que ele pudesse capitular, não se candidatando de novo, ou que fosse, sangrado pela oposição, ser derrotado nas eleições de 2006. Tinham lhe reservado o destino do presidente solitário no poder, isolado do povo, rejeitado pelos “formadores de opinião”, vitima de mais um desses movimentos que escolhem cores para exibir repudio a governos antidemocráticos e antipopulares.
Lula superou esses obstáculos, conquistou popularidade que nenhum governante tinha conseguido, o povo o apóia. Mas nenhum espaço da mídia expressa esse sentimento popular – o mais difundido no país. O povo não ouve discursos do Lula na televisão, nem no rádio, nem os pode ler nos jornais. Lula não pode falar ao povo, sem a intermediação da mídia privada, que escolhe o que deseja fazer chegar à população. Nunca publica um discurso integral do presidente da republica mais popular que o Brasil já teve. Ao contrário, se opõem frenética e sistematicamente a ele, conquistando e expressando os 3% da população que o rejeita, contra os 82% que o apóiam.
Talvez nada reflita melhor a distância e a contraposição entre os dois países que convivem, um ao lado do outro. Revela como, apesar da moderação do seu governo, sua imagem, sua trajetória, o que ele representa para o povo brasileiro, é algo inassimilável para as elites tradicionais. Essa mesma elite que tinha uma imensa e variada equipe de apologetas de Collor e de FHC, não tolera o fracasso deles e o sucesso nacional e internacional, político e de massas, de um imigrante nordestino, que perdeu um dedo na máquina, como torneiro mecânico, dirigente sindical e um Partido dos Trabalhadores, que não aceitou a capitulação ou a derrota.
Lula é o melhor fenômeno para entender o que é o Brasil hoje, em todas as posições da estrutura social, em todas as dimensões da nossa história. Quase se pode dizer: diga-me o que você acha do Lula e eu te direi quem és.
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Quem olhasse para o Brasil através da imprensa, não conseguiria entender a popularidade do Lula. Foi o que constatou o ex-presidente português Mario Soares, que a essa dicotomia soma a projeção internacional extraordinária do Lula e do Brasil no governo atual e não conseguia entender como a imprensa brasileira não reflete, nem essa imagem internacional, nem o formidável e inédito apoio interno do Lula.
Acontece que Lula não se subordinou ao que as elites tradicionais acreditavam reservar para ele: que fosse eternamente um opositor denuncista, sem capacidade de agregar, de fazer alianças, se construir uma força hegemônica no país. Ficaria ali, isolado, rejeitado, até mesmo como prova da existência de uma oposição – incapaz de deixar de sê-lo.
Quando Lula contornou isso, constituiu um arco de alianças majoritário e triunfou, lhe reservavam o fracasso: ataque especulativo, fuga de capitais, onda de reivindicações, descontrole inflacionário, que levasse a população a suplicar pela volta dos tucanos-pefelistas, enterrando definitivamente a esquerda no Brasil por vinte anos.
Lula contornou esse problema. Aí o medo era de que permanecesse muito tempo, se consolidasse. Reservaram-lhe então o papel de “presidente corrupto”, vitima de campanhas orquestradas pela mídia privada – como em 1964 -, a partir de movimentos como o “Cansei”. Ou o derrubariam por impeachment ou supunham que ele pudesse capitular, não se candidatando de novo, ou que fosse, sangrado pela oposição, ser derrotado nas eleições de 2006. Tinham lhe reservado o destino do presidente solitário no poder, isolado do povo, rejeitado pelos “formadores de opinião”, vitima de mais um desses movimentos que escolhem cores para exibir repudio a governos antidemocráticos e antipopulares.
Lula superou esses obstáculos, conquistou popularidade que nenhum governante tinha conseguido, o povo o apóia. Mas nenhum espaço da mídia expressa esse sentimento popular – o mais difundido no país. O povo não ouve discursos do Lula na televisão, nem no rádio, nem os pode ler nos jornais. Lula não pode falar ao povo, sem a intermediação da mídia privada, que escolhe o que deseja fazer chegar à população. Nunca publica um discurso integral do presidente da republica mais popular que o Brasil já teve. Ao contrário, se opõem frenética e sistematicamente a ele, conquistando e expressando os 3% da população que o rejeita, contra os 82% que o apóiam.
Talvez nada reflita melhor a distância e a contraposição entre os dois países que convivem, um ao lado do outro. Revela como, apesar da moderação do seu governo, sua imagem, sua trajetória, o que ele representa para o povo brasileiro, é algo inassimilável para as elites tradicionais. Essa mesma elite que tinha uma imensa e variada equipe de apologetas de Collor e de FHC, não tolera o fracasso deles e o sucesso nacional e internacional, político e de massas, de um imigrante nordestino, que perdeu um dedo na máquina, como torneiro mecânico, dirigente sindical e um Partido dos Trabalhadores, que não aceitou a capitulação ou a derrota.
Lula é o melhor fenômeno para entender o que é o Brasil hoje, em todas as posições da estrutura social, em todas as dimensões da nossa história. Quase se pode dizer: diga-me o que você acha do Lula e eu te direi quem és.
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A revista Veja e a mídia neofascista
Reproduzo excelente artigo de Tulio Muniz, publicado no Observatório da Imprensa:
Saiu na sexta-feira (30/7) a última pesquisa do Ibope sobre as eleições presidenciais, demonstrando o óbvio: Dilma Rousseff já tem vantagem sobre José Serra para além da margem de erro. Entretanto, será o suficiente para desmontar a miragem que o Datafolha vem criando com seus resultados únicos e originais, contestando todos os demais institutos? Mas, além disso, será suficiente para barrar de vez algo de novo, e de preocupante, em gestação na chamada grande imprensa? Algo que não soa bem ao contexto democrático de um país que passou boa parte do último século sob regimes ditatoriais (de 1930 a 1945 e de 1964 a 1985).
Penso, notadamente, na última edição de Veja, com manchetes do tipo "Índio acerta o alvo", repercutindo a insistência dos candidatos do PSDB, José Serra e Índio da Costa, em centrar fogo na suposta "relação" do PT com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). A intenção explícita é tentar ligar o PT com o tráfico de drogas, notadamente no Rio de Janeiro. Índio chegou a dizer em entrevistas que "todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior. Não tenho dúvida nenhuma disso". Assim como tentaram antes, quando Serra "denunciou" que a relação entre governos de Brasil e Bolívia "facilitaria" o tráfico. Mirando em "alvos" como esses, não compreendem o porquê da queda nas pesquisas?
De fato, parece que os tucanos e a mídia a eles aliada (quase toda a "grande" mídia) estão a perder o senso de realidade. Mas, ainda pior é estarem a forjar um discurso de matiz claramente fascista, e é essa a novidade nefasta. Fascista porque, diferente de outras ocasiões passadas em que carregou contra o governo Lula ou contra Dilma (o "dossiê" da "guerrilheira" na Folha, por exemplo), Veja e afins conclamam uma recusa ao processo democrático ao legitimar miragens como o conluio Farc-PT. Pois ainda há quem acredite nesses veículos informativos, por mais que tenha decrescido sua credibilidade.
Mentalidade pode crescer após as eleições
Em eleições anteriores, o discurso do "medo" já foi adotado, mas por protagonistas da disputa eleitoral, como Regina Duarte, em 2002, ou o presidente da Fiesp, em 1989, que prenunciou o abandono do Brasil pelos empresários caso Lula vencesse. Agora quem irradia o discurso é um conjunto reunindo boa parte da mídia, e não só um veículo isolado, como fez a Veja em 1989 com o "Brizula", quando uma hipotética aliança Brizola-Lula teria potencial para vencer.
O fascismo enquanto discurso de massa adotado por meios de comunicação de circulação nacional jamais emergiu com tamanha recorrência como vemos agora acontecer. E isso quando partidos assumidamente fascistas ascendem aos governos de vários países europeus (Holanda, Hungria, Itália etc). E mesmo em países onde residem governos de centro-esquerda, como Portugal e Espanha, se passa o que Boaventura Santos chama de "fascismo social" que, resumidamente, é quando o próprio Estado despromove conquistas sociais importantes, como direito universal à saúde, educação, subsídios-desemprego etc.
Convém lembrar que, cá no Brasil, persiste uma certa mentalidade de classe média que se refere a programas sociais europeus como "conquistas históricas" (e são, por mais agonizantes que estejam), mas encara congêneres como o Bolsa Família como "assistencialismo", "demagogia". Essa "classe média" certamente é o que a mídia neofascista quer espoletar e jogar contra o governo e sua candidata. Uma coisa é reconhecer que, por ora, tal estratégia não surte efeito, mas outra é dizer que tal mentalidade não é latente e que não pode vir a crescer após as eleições, seja quem for o vencedor.
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Saiu na sexta-feira (30/7) a última pesquisa do Ibope sobre as eleições presidenciais, demonstrando o óbvio: Dilma Rousseff já tem vantagem sobre José Serra para além da margem de erro. Entretanto, será o suficiente para desmontar a miragem que o Datafolha vem criando com seus resultados únicos e originais, contestando todos os demais institutos? Mas, além disso, será suficiente para barrar de vez algo de novo, e de preocupante, em gestação na chamada grande imprensa? Algo que não soa bem ao contexto democrático de um país que passou boa parte do último século sob regimes ditatoriais (de 1930 a 1945 e de 1964 a 1985).
Penso, notadamente, na última edição de Veja, com manchetes do tipo "Índio acerta o alvo", repercutindo a insistência dos candidatos do PSDB, José Serra e Índio da Costa, em centrar fogo na suposta "relação" do PT com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). A intenção explícita é tentar ligar o PT com o tráfico de drogas, notadamente no Rio de Janeiro. Índio chegou a dizer em entrevistas que "todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior. Não tenho dúvida nenhuma disso". Assim como tentaram antes, quando Serra "denunciou" que a relação entre governos de Brasil e Bolívia "facilitaria" o tráfico. Mirando em "alvos" como esses, não compreendem o porquê da queda nas pesquisas?
De fato, parece que os tucanos e a mídia a eles aliada (quase toda a "grande" mídia) estão a perder o senso de realidade. Mas, ainda pior é estarem a forjar um discurso de matiz claramente fascista, e é essa a novidade nefasta. Fascista porque, diferente de outras ocasiões passadas em que carregou contra o governo Lula ou contra Dilma (o "dossiê" da "guerrilheira" na Folha, por exemplo), Veja e afins conclamam uma recusa ao processo democrático ao legitimar miragens como o conluio Farc-PT. Pois ainda há quem acredite nesses veículos informativos, por mais que tenha decrescido sua credibilidade.
Mentalidade pode crescer após as eleições
Em eleições anteriores, o discurso do "medo" já foi adotado, mas por protagonistas da disputa eleitoral, como Regina Duarte, em 2002, ou o presidente da Fiesp, em 1989, que prenunciou o abandono do Brasil pelos empresários caso Lula vencesse. Agora quem irradia o discurso é um conjunto reunindo boa parte da mídia, e não só um veículo isolado, como fez a Veja em 1989 com o "Brizula", quando uma hipotética aliança Brizola-Lula teria potencial para vencer.
O fascismo enquanto discurso de massa adotado por meios de comunicação de circulação nacional jamais emergiu com tamanha recorrência como vemos agora acontecer. E isso quando partidos assumidamente fascistas ascendem aos governos de vários países europeus (Holanda, Hungria, Itália etc). E mesmo em países onde residem governos de centro-esquerda, como Portugal e Espanha, se passa o que Boaventura Santos chama de "fascismo social" que, resumidamente, é quando o próprio Estado despromove conquistas sociais importantes, como direito universal à saúde, educação, subsídios-desemprego etc.
Convém lembrar que, cá no Brasil, persiste uma certa mentalidade de classe média que se refere a programas sociais europeus como "conquistas históricas" (e são, por mais agonizantes que estejam), mas encara congêneres como o Bolsa Família como "assistencialismo", "demagogia". Essa "classe média" certamente é o que a mídia neofascista quer espoletar e jogar contra o governo e sua candidata. Uma coisa é reconhecer que, por ora, tal estratégia não surte efeito, mas outra é dizer que tal mentalidade não é latente e que não pode vir a crescer após as eleições, seja quem for o vencedor.
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Serra e a geopolítica do crepúsculo
Reproduzo artigo de Gilson Caroni Filho, publicado no sítio Carta Maior:
Fala-se que a política externa de um país é a expressão de sua política interna, da dinâmica de forças sociais que expressam um projeto de inserção no cenário mundial. Se for assim, como devem ser vistas as críticas de setores neoliberais que, em sintonia com a retórica de britânicos e estadunidenses, classificam-na como desastrosa, “sem uma avaliação adequada de nossas possibilidades e reais interesses"? A questão é importante, pois revela que, em uma eventual vitória da oposição na eleição de outubro, o Brasil sofrerá um processo de continuidade nessa área. Um lamentável retorno a teses e conceitos de uma geopolítica de vice-reinado.
As declarações de ex-chanceleres do governo FHC denunciam, com toda a clareza possível, a natureza e orientação da subalternidade planejada. Seríamos reduzidos a uma máquina de segurança mercadológica dos produtos exportáveis, relegando a meras cerimônias aspectos substantivos que, nos últimos oito anos, passaram a refletir um país democrático e maduro.
A integração regional soberana daria lugar ao antigo alinhamento com o capitalismo central, recolocando o país no segundo plano do jogo internacional das nações. As diretrizes e os meios de ação desse retrocesso são esboçados no discurso de José Serra e na linha editorial das corporações midiáticas que lhe dão sustentação.
O objetivo é continuar silenciando inspirações e práticas brilhantes que têm origem no pensamento altivo de Araujo Castro e San Thiago Dantas, entre outros. O Itamaraty, como lugar ideal de formulação e execução de políticas soberanas não é compatível com o ideário mercantil dos velhos sedimentos estamentais.
Convém lembrar a história do Brasil, em particular, sua independência. A ruptura dos laços com a metrópole portuguesa, sob o bafejo do capital inglês, não redundou na criação de um Estado nacional de corte burguês. Antes, permitiu que uma oligarquia fundiária e escravocrata articulasse um tipo de dominação senhorial que impôs à emergente sociedade brasileira uma superestrutura política, liquidada apenas no século XX.
A estratégia das nossas elites, desde então, operou no sentido de frustrar a democratização social, realizando a exclusão do povo da cena pública. A construção do Estado Nacional, entre nós, realizou-se sistematicamente com o controle e a manipulação, pelo alto, da intervenção popular. Mesmo as mais notáveis inflexões no processo de constituição e desenvolvimento desse Estado não conseguiram reverter essa tendência. Aliás, todas as vezes em que a ameaça de reversão se fez sentir, como em 1964, as classes dominantes não hesitaram em recorrer à violência.
É por tudo isso que o discurso da direita deve merecer uma atenção especial. Mais do que nunca é preciso motivar a reflexão e a análise de todos. A integridade e a soberania nacional só se fundem em um Estado que expresse os interesses da maioria dos seus cidadãos. Ainda recente e inconclusa, a superação das mais sérias patologias de nossa formação histórica tem sido pedagógica. Aprendemos, em pouco tempo, que a independência de um país só pode se fundamentar na legitimidade do seu regime político e na participação social dos setores organizados.
A política externa multilateralista do governo Lula, por afirmar interesses nacionais, amplia áreas de atrito com grandes potências. Por isso mesmo é alvo da "retórica do medo", por parte dos que advogam o retorno do alinhamento incondicional com os Estados Unidos, Europa e Japão.
Como os caminhos da política externa são indissociáveis dos rumos das opções internas, ficam claras as marcas constitutivas das frações de classe que apóia a candidatura de José Serra: subalternidade nas relações internacionais e retomada, no âmbito interno, de políticas excludentes. Nas frestas de velhos pactos coloniais, o retrocesso sempre se apresenta como crepúsculo e destino.
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Fala-se que a política externa de um país é a expressão de sua política interna, da dinâmica de forças sociais que expressam um projeto de inserção no cenário mundial. Se for assim, como devem ser vistas as críticas de setores neoliberais que, em sintonia com a retórica de britânicos e estadunidenses, classificam-na como desastrosa, “sem uma avaliação adequada de nossas possibilidades e reais interesses"? A questão é importante, pois revela que, em uma eventual vitória da oposição na eleição de outubro, o Brasil sofrerá um processo de continuidade nessa área. Um lamentável retorno a teses e conceitos de uma geopolítica de vice-reinado.
As declarações de ex-chanceleres do governo FHC denunciam, com toda a clareza possível, a natureza e orientação da subalternidade planejada. Seríamos reduzidos a uma máquina de segurança mercadológica dos produtos exportáveis, relegando a meras cerimônias aspectos substantivos que, nos últimos oito anos, passaram a refletir um país democrático e maduro.
A integração regional soberana daria lugar ao antigo alinhamento com o capitalismo central, recolocando o país no segundo plano do jogo internacional das nações. As diretrizes e os meios de ação desse retrocesso são esboçados no discurso de José Serra e na linha editorial das corporações midiáticas que lhe dão sustentação.
O objetivo é continuar silenciando inspirações e práticas brilhantes que têm origem no pensamento altivo de Araujo Castro e San Thiago Dantas, entre outros. O Itamaraty, como lugar ideal de formulação e execução de políticas soberanas não é compatível com o ideário mercantil dos velhos sedimentos estamentais.
Convém lembrar a história do Brasil, em particular, sua independência. A ruptura dos laços com a metrópole portuguesa, sob o bafejo do capital inglês, não redundou na criação de um Estado nacional de corte burguês. Antes, permitiu que uma oligarquia fundiária e escravocrata articulasse um tipo de dominação senhorial que impôs à emergente sociedade brasileira uma superestrutura política, liquidada apenas no século XX.
A estratégia das nossas elites, desde então, operou no sentido de frustrar a democratização social, realizando a exclusão do povo da cena pública. A construção do Estado Nacional, entre nós, realizou-se sistematicamente com o controle e a manipulação, pelo alto, da intervenção popular. Mesmo as mais notáveis inflexões no processo de constituição e desenvolvimento desse Estado não conseguiram reverter essa tendência. Aliás, todas as vezes em que a ameaça de reversão se fez sentir, como em 1964, as classes dominantes não hesitaram em recorrer à violência.
É por tudo isso que o discurso da direita deve merecer uma atenção especial. Mais do que nunca é preciso motivar a reflexão e a análise de todos. A integridade e a soberania nacional só se fundem em um Estado que expresse os interesses da maioria dos seus cidadãos. Ainda recente e inconclusa, a superação das mais sérias patologias de nossa formação histórica tem sido pedagógica. Aprendemos, em pouco tempo, que a independência de um país só pode se fundamentar na legitimidade do seu regime político e na participação social dos setores organizados.
A política externa multilateralista do governo Lula, por afirmar interesses nacionais, amplia áreas de atrito com grandes potências. Por isso mesmo é alvo da "retórica do medo", por parte dos que advogam o retorno do alinhamento incondicional com os Estados Unidos, Europa e Japão.
Como os caminhos da política externa são indissociáveis dos rumos das opções internas, ficam claras as marcas constitutivas das frações de classe que apóia a candidatura de José Serra: subalternidade nas relações internacionais e retomada, no âmbito interno, de políticas excludentes. Nas frestas de velhos pactos coloniais, o retrocesso sempre se apresenta como crepúsculo e destino.
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O dia em que a ‘Veja’ sumiu
Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no blog Cidadania:
Sábado, 7 de agosto de 2010, 8h30m. Desjejuo e vou à banca de jornal da esquina para começar a cumprir promessa que fiz aos meus leitores de reproduzir para eles o direito de resposta que o PT conseguiu na Justiça Eleitoral contra a revista “Veja” por esta ter endossado acusação sem provas de Índio da Costa, candidato a vice-presidente na chapa de José Serra. Índio afirmou que o partido adversário é ligado ao “narcotráfico”.
Às nove horas da manhã, a Veja ainda não havia chegado à banca de jornal da “loja de conveniência” do posto de gasolina da esquina da rua em que resido. Vale anotar que resido na região urbana do país que concentra o maior coeficiente de leitores da Veja por quilômetro quadrado, pois minha residência fica a três quadras da avenida Paulista.
Como a banca de jornais e revistas que fica na tal “loja de conveniência” não é exatamente uma banca de jornal decidi andar uma quadra mais, até a banca de fato na próxima esquina. “A Veja ainda não chegou; está atrasada”, disse-me a senhora oriental de óculos.
Aqui embaixo, a algumas quadras da avenida Paulista, as revistas e jornais chegam mesmo mais tarde, mas na Avenida deveria conseguir um exemplar da Veja porque a região em que resido é onde as distribuidoras de jornais e revistas primeiro despejam publicações do mundo inteiro. Decido radicalizar, portanto. Irei a uma das bancas mais sortidas do país.
Fica na esquina da Alameda Santos com a Doutor Rafael de Barros, no bairro do Paraíso, onde resido. Pode-se comprar jornais e revistas do mundo inteiro, ali. Das publicações nacionais, então, nem se fala. Há de tudo. É uma particularidade desta região devido a ela receber intenso turismo de negócios oriundo dos quatro cantos da Terra. Trata-se da região mais cosmopolita do Brasil.
Já eram 10h45m de sábado e nada da Veja nas bancas. Já percorrera umas 14 bancas de jornal. Aquela mais sortida, que mencionei acima, informou-me que a revista costuma chegar às 9 horas, mas, neste sábado, recebera a visita de um motoqueiro dizendo que a entrega da revista iria “atrasar”.
Volto para casa porque a minha senhora me comunicara que desejava ir fazer compras comigo, para variar, de forma que decidi esperar um pouco mais para relatar a caça à Veja, que só acabou aportando a uma banca ao lado da estação Paraíso do metrô por volta das 12h17m. O vendedor da banca me informou que chegara havia “meia hora”, mas que não recebera visita nenhuma avisando do atraso.
Segundo informações do Portal Vermelho, “Por unanimidade, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou, na noite desta quinta-feira (5), o recurso da revista Veja contra decisão do próprio TSE que, na segunda-feira (2), assegurou direito de resposta para o PT e sua candidata a presidente da República, Dilma Rousseff. O TSE entendeu que a publicação extrapolou o limite da informação ao publicar a matéria ‘Indio acertou o alvo’”.
Folheei avidamente a revista em busca do direito de resposta do PT e do que a revista diria sobre o fato. Após uma avalanche de publicidade, fui encontrar a nota na página 80, duas páginas depois do centro da revista.
A redação da nota do PT que encontrei foi a aprovada pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral depois de este ter rejeitado redação inicial. Foi publicada no centro de uma página em branco, contendo uma margem delineada em traço preto e, no canto inferior esquerdo, a seguinte legenda: 80 / 11 de agosto, 2010 / VEJA
Abaixo, o teor da nota “Direito de Resposta” que o PT obrigou a Veja na Justiça a publicar em sua edição impressa de número 2177, duas semanas após a divulgação ilegal de acusação ao PT de ser um partido de traficantes.
Ao reproduzir declarações de candidato a vice-presidente, a revista endossa e amplifica ofensas ao PT que foram objeto de sanção da Justiça Eleitoral ao PSDB.
Em defesa de sua honra, de seus dirigentes, filiados e militantes, e em respeito à população brasileira, que tem o direito de ser cofrretamente informada, o Partido dos Trabalhadores vem desfazer inverdades publicadas pela revista Veja, na Edição 2.175.
O PT é um partido político democrático, registrado desde 1980 no Tribunal Superior Eleitoral, que defende a Constituição e cumpre rigorosamente a lei.
O PT condena o terrorismo, repudia a violência, pratica e defende a via democrática para a solução de conflitos.
As relações do PT com partidos políticos de diversos outros países são pautadas pela busca da cooperação entre os povos e pela construção da paz mundial.
O repúdio ao narcotráfico, que corrói a juventude, atemoriza a população e corrompe a sociedade, é parte constitutiva do ideário e da prática do PT desde a fundação do partido.
O PT combate com firmeza o narcotráfico e o crime organizado, por meio de sua representação no Poder Legislativo, de suas administrações municipais, estaduais e, especialmente, na Presidência da República.
Ao longo de sua existência, o PT demonstrou que não transige com o crime nem se relaciona com o narcotráfico. Afirmar o contrário, como fez a revista Veja, é transigir com a verdade.
Veja comenta a nota na página ao lado, de número 81, com foto do plenário do Tribunal Superior Eleitoral. A matéria vai até a página 82. O título é “A resposta do direito”. No texto, a revista tenta atribuir alguma inconstitucionalidade à decisão da Justiça Eleitoral, previsivelmente tentando caracterizar como censura o direito que o PT exerceu de dar a sua versão sobre uma acusação sem provas que lhe foi feita.
Em seguida, Veja enumera os membros do TSE que votaram desta ou daquela forma e reproduz o que chama de “repercussão”, que nada mais é do que uma seleção de juristas e advogados amigos escalados para sustentar o ponto de vista que a Justiça Eleitoral rejeitou ao dar razão à queixa do PT, como não poderia deixar de ser diante de ataque tão baixo.
O que resta dos fatos que relatei é que julgo que a Justiça Eleitoral deveria auditar a distribuição da edição de número 2.177 da revista Veja, datada previamente, na capa da publicação, como sendo de 11 de agosto, apesar de ter chegado às bancas quatro dias antes, o que é uma estratégia para tornar a revista “atual” fraudulentamente, pois as informações ali contidas já terão envelhecido na data anunciada.
Não deveria haver motivo para a distribuição da revista se atrasar, haja vista que a decisão do TSE sobre o recurso da Veja aconteceu na quinta-feira. Os vendedores das bancas de jornal com os quais conversei durante a via crúcis que fiz para encontrar publicação pela qual despendi exorbitantes R$ 8,90, disseram-me que não se lembravam de a entrega dessa revista ter se atrasado assim anteriormente…
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Sábado, 7 de agosto de 2010, 8h30m. Desjejuo e vou à banca de jornal da esquina para começar a cumprir promessa que fiz aos meus leitores de reproduzir para eles o direito de resposta que o PT conseguiu na Justiça Eleitoral contra a revista “Veja” por esta ter endossado acusação sem provas de Índio da Costa, candidato a vice-presidente na chapa de José Serra. Índio afirmou que o partido adversário é ligado ao “narcotráfico”.
Às nove horas da manhã, a Veja ainda não havia chegado à banca de jornal da “loja de conveniência” do posto de gasolina da esquina da rua em que resido. Vale anotar que resido na região urbana do país que concentra o maior coeficiente de leitores da Veja por quilômetro quadrado, pois minha residência fica a três quadras da avenida Paulista.
Como a banca de jornais e revistas que fica na tal “loja de conveniência” não é exatamente uma banca de jornal decidi andar uma quadra mais, até a banca de fato na próxima esquina. “A Veja ainda não chegou; está atrasada”, disse-me a senhora oriental de óculos.
Aqui embaixo, a algumas quadras da avenida Paulista, as revistas e jornais chegam mesmo mais tarde, mas na Avenida deveria conseguir um exemplar da Veja porque a região em que resido é onde as distribuidoras de jornais e revistas primeiro despejam publicações do mundo inteiro. Decido radicalizar, portanto. Irei a uma das bancas mais sortidas do país.
Fica na esquina da Alameda Santos com a Doutor Rafael de Barros, no bairro do Paraíso, onde resido. Pode-se comprar jornais e revistas do mundo inteiro, ali. Das publicações nacionais, então, nem se fala. Há de tudo. É uma particularidade desta região devido a ela receber intenso turismo de negócios oriundo dos quatro cantos da Terra. Trata-se da região mais cosmopolita do Brasil.
Já eram 10h45m de sábado e nada da Veja nas bancas. Já percorrera umas 14 bancas de jornal. Aquela mais sortida, que mencionei acima, informou-me que a revista costuma chegar às 9 horas, mas, neste sábado, recebera a visita de um motoqueiro dizendo que a entrega da revista iria “atrasar”.
Volto para casa porque a minha senhora me comunicara que desejava ir fazer compras comigo, para variar, de forma que decidi esperar um pouco mais para relatar a caça à Veja, que só acabou aportando a uma banca ao lado da estação Paraíso do metrô por volta das 12h17m. O vendedor da banca me informou que chegara havia “meia hora”, mas que não recebera visita nenhuma avisando do atraso.
Segundo informações do Portal Vermelho, “Por unanimidade, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou, na noite desta quinta-feira (5), o recurso da revista Veja contra decisão do próprio TSE que, na segunda-feira (2), assegurou direito de resposta para o PT e sua candidata a presidente da República, Dilma Rousseff. O TSE entendeu que a publicação extrapolou o limite da informação ao publicar a matéria ‘Indio acertou o alvo’”.
Folheei avidamente a revista em busca do direito de resposta do PT e do que a revista diria sobre o fato. Após uma avalanche de publicidade, fui encontrar a nota na página 80, duas páginas depois do centro da revista.
A redação da nota do PT que encontrei foi a aprovada pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral depois de este ter rejeitado redação inicial. Foi publicada no centro de uma página em branco, contendo uma margem delineada em traço preto e, no canto inferior esquerdo, a seguinte legenda: 80 / 11 de agosto, 2010 / VEJA
Abaixo, o teor da nota “Direito de Resposta” que o PT obrigou a Veja na Justiça a publicar em sua edição impressa de número 2177, duas semanas após a divulgação ilegal de acusação ao PT de ser um partido de traficantes.
Ao reproduzir declarações de candidato a vice-presidente, a revista endossa e amplifica ofensas ao PT que foram objeto de sanção da Justiça Eleitoral ao PSDB.
Em defesa de sua honra, de seus dirigentes, filiados e militantes, e em respeito à população brasileira, que tem o direito de ser cofrretamente informada, o Partido dos Trabalhadores vem desfazer inverdades publicadas pela revista Veja, na Edição 2.175.
O PT é um partido político democrático, registrado desde 1980 no Tribunal Superior Eleitoral, que defende a Constituição e cumpre rigorosamente a lei.
O PT condena o terrorismo, repudia a violência, pratica e defende a via democrática para a solução de conflitos.
As relações do PT com partidos políticos de diversos outros países são pautadas pela busca da cooperação entre os povos e pela construção da paz mundial.
O repúdio ao narcotráfico, que corrói a juventude, atemoriza a população e corrompe a sociedade, é parte constitutiva do ideário e da prática do PT desde a fundação do partido.
O PT combate com firmeza o narcotráfico e o crime organizado, por meio de sua representação no Poder Legislativo, de suas administrações municipais, estaduais e, especialmente, na Presidência da República.
Ao longo de sua existência, o PT demonstrou que não transige com o crime nem se relaciona com o narcotráfico. Afirmar o contrário, como fez a revista Veja, é transigir com a verdade.
Veja comenta a nota na página ao lado, de número 81, com foto do plenário do Tribunal Superior Eleitoral. A matéria vai até a página 82. O título é “A resposta do direito”. No texto, a revista tenta atribuir alguma inconstitucionalidade à decisão da Justiça Eleitoral, previsivelmente tentando caracterizar como censura o direito que o PT exerceu de dar a sua versão sobre uma acusação sem provas que lhe foi feita.
Em seguida, Veja enumera os membros do TSE que votaram desta ou daquela forma e reproduz o que chama de “repercussão”, que nada mais é do que uma seleção de juristas e advogados amigos escalados para sustentar o ponto de vista que a Justiça Eleitoral rejeitou ao dar razão à queixa do PT, como não poderia deixar de ser diante de ataque tão baixo.
O que resta dos fatos que relatei é que julgo que a Justiça Eleitoral deveria auditar a distribuição da edição de número 2.177 da revista Veja, datada previamente, na capa da publicação, como sendo de 11 de agosto, apesar de ter chegado às bancas quatro dias antes, o que é uma estratégia para tornar a revista “atual” fraudulentamente, pois as informações ali contidas já terão envelhecido na data anunciada.
Não deveria haver motivo para a distribuição da revista se atrasar, haja vista que a decisão do TSE sobre o recurso da Veja aconteceu na quinta-feira. Os vendedores das bancas de jornal com os quais conversei durante a via crúcis que fiz para encontrar publicação pela qual despendi exorbitantes R$ 8,90, disseram-me que não se lembravam de a entrega dessa revista ter se atrasado assim anteriormente…
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A FLIP consagra a cultura do espetáculo
Reproduzo artigo de Breno Altman, publicado no sítio Opera Mundi:
A Festa Literária Internacional de Paraty, que realiza sua oitava edição entre 4 e 8 de agosto, transformou-se em acontecimento marcante da vida cultural brasileira. Considerada um dos principais festivais mundiais do gênero, atrai milhares de participantes, atenção da imprensa e convidados ilustres. Nas devidas proporções, é um pequeno Woodstock das letras, que anualmente toma de assalto a aprazível cidade fluminense.
Apesar dos perrengues, pois a infraestrutura do município-sede costuma sucumbir ao excesso de visitantes, a diversão é garantida. Quem gosta de livros e ideias tem a chance de conviver com uma penca de bons autores e usufruir de opiniões sobre os mais diversos assuntos. Não é todo dia, afinal, que intelectuais renomados descem à planície e transitam entre o distinto público.
Mas há outras abordagens possíveis sobre a FLIP, além do entretenimento. Uma delas, quase irresistível, é comparar atividades nas quais essa intelectualidade antes se envolvia com seu papel atual, na era do avassalador predomínio da indústria cultural. A acareação talvez seja ilustrativa da reviravolta de sua função social após a crise dos projetos-mundo, no poente da Guerra Fria.
Escritores e artistas normalmente se reuniam, até então, para se posicionar diante de situações que alarmavam a sociedade e afetavam o mundo da cultura. Suas ferramentas eram congressos, simpósios e conferências que articulavam os intelectuais como agente coletivo. Os produtos dessas iniciativas - resoluções, manifestos ou declarações - buscavam a comunicação com outros setores sociais. O objetivo era utilizar talento e prestígio para construir vontades públicas.
Os exemplos brasileiros mais conhecidos, nesta lógica, foram o I Congresso Brasileiro de Escritores (1945) e as diversas reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência durante os anos 70. Mas são inúmeros os eventos que, durante décadas, expressavam o esforço autônomo da intelectualidade para forjar conexões com a sociedade, vertebrados por entidades representativas.
Marketing como ciência
Mesmo movimentos de ordem estética, como a Semana de Arte Moderna (1922), cuja estrutura era semelhante a um festival, faziam parte do reposicionamento político-cultural e procuravam um discurso criativo que se fundisse a determinados programas de país. Esse também foi o caso dos Centros Populares de Cultura, do Cinema Novo e do Tropicalismo, para falarmos de outras experiências notórias.
A intelectualidade e os artistas eram, como hoje, produtores de bens culturais, inseridos no mercado e concentrados em conseguir o ganha-pão através da comercialização de suas obras. Mas a esfera de cidadania, política ou estética, era razoavelmente protegida contra o assédio das razões mercantis, graças a uma rede de instituições estatais, partidárias e associativas que respaldava a cultura orgânica.
No entanto, o predomínio das ideias liberais, chancelado com o colapso do socialismo no Leste Europeu, foi limando essa blindagem e criando as condições para que o mercado estendesse seus tentáculos sobre espaços outrora salvaguardados. Apenas deveriam sobreviver criações que pudessem ser transformadas em mercadoria rentável, submetidas à lógica do espetáculo e regidas pelas normas do marketing, a principal ciência social dos novos tempos.
Darwinismo cultural
Ainda que diversas organizações, ligadas à arte e à ciência, continuem a promover encontros relevantes, essas realizações são cada vez menos divulgadas pela imprensa. O jornalismo cultural, aos poucos, também terminou capturado pelos interesses empresariais, que demandam aval midiático para acelerar a rotação de seus estoques.
O ímpeto dessa mudança mergulhou artistas e intelectuais em uma espécie de darwinismo cultural, marcado pelo medo de sucumbir em um ambiente no qual somente os escolhidos pelo mercado poderiam sobreviver. A competição e o individualismo derivados desse temor acomodatício acabaram por minar formas coletivas de organização e a própria integração da intelectualidade ao processo histórico.
Assim chegamos à FLIP. No lugar de entidades do ramo, o comando cabe a uma organização não-governamental alimentada com recursos de editoras e seus patrocinadores. Os escritores, de protagonistas, viraram atração. Cada autor ou cada patota em seu quadrado, opiniões e inspirações são exibidas à assistência, e acaba por aí a sinergia com os plebeus.
Casamata do liberalismo
Tudo é bem pensado. Não há estandes emporcalhando as ruas de Paraty. O festival é como um showroom a céu aberto: os produtores e suas obras podem ser vistos, ouvidos e tocados, mas não comprados. O mercado toma conta da cultura, porém preserva seu verniz de forma elegante, de tal sorte que os diletos visitantes não se sintam consumidores, mas personagens.
O simbólico dessa edição da FLIP talvez esteja no convite a Fernando Henrique Cardoso para fazer a palestra de abertura. Um dos maiores intelectuais da história brasileira, antigo cardeal do pensamento crítico, havia antes se convertido em presidente da República para fazer reformas pleiteadas por forças de mercado. Na feira de Paraty, colocou sua biografia e inteligência a serviço da indústria cultural.
O país vive mudanças econômicas, sociais e até políticas de relevância. A duras penas, a soberania pública tenta recuperar o terreno perdido ao espaço privado nos anos 90. Mas o mundo da cultura, cujo centro de gravidade deslocou-se para o eixo formado por empresas e mídia, aparece ironicamente como casamata de um liberalismo agonizante. Ainda que, nas calçadas paratienses, esse conservadorismo moderno transborde de charme, beleza e erudição.
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A Festa Literária Internacional de Paraty, que realiza sua oitava edição entre 4 e 8 de agosto, transformou-se em acontecimento marcante da vida cultural brasileira. Considerada um dos principais festivais mundiais do gênero, atrai milhares de participantes, atenção da imprensa e convidados ilustres. Nas devidas proporções, é um pequeno Woodstock das letras, que anualmente toma de assalto a aprazível cidade fluminense.
Apesar dos perrengues, pois a infraestrutura do município-sede costuma sucumbir ao excesso de visitantes, a diversão é garantida. Quem gosta de livros e ideias tem a chance de conviver com uma penca de bons autores e usufruir de opiniões sobre os mais diversos assuntos. Não é todo dia, afinal, que intelectuais renomados descem à planície e transitam entre o distinto público.
Mas há outras abordagens possíveis sobre a FLIP, além do entretenimento. Uma delas, quase irresistível, é comparar atividades nas quais essa intelectualidade antes se envolvia com seu papel atual, na era do avassalador predomínio da indústria cultural. A acareação talvez seja ilustrativa da reviravolta de sua função social após a crise dos projetos-mundo, no poente da Guerra Fria.
Escritores e artistas normalmente se reuniam, até então, para se posicionar diante de situações que alarmavam a sociedade e afetavam o mundo da cultura. Suas ferramentas eram congressos, simpósios e conferências que articulavam os intelectuais como agente coletivo. Os produtos dessas iniciativas - resoluções, manifestos ou declarações - buscavam a comunicação com outros setores sociais. O objetivo era utilizar talento e prestígio para construir vontades públicas.
Os exemplos brasileiros mais conhecidos, nesta lógica, foram o I Congresso Brasileiro de Escritores (1945) e as diversas reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência durante os anos 70. Mas são inúmeros os eventos que, durante décadas, expressavam o esforço autônomo da intelectualidade para forjar conexões com a sociedade, vertebrados por entidades representativas.
Marketing como ciência
Mesmo movimentos de ordem estética, como a Semana de Arte Moderna (1922), cuja estrutura era semelhante a um festival, faziam parte do reposicionamento político-cultural e procuravam um discurso criativo que se fundisse a determinados programas de país. Esse também foi o caso dos Centros Populares de Cultura, do Cinema Novo e do Tropicalismo, para falarmos de outras experiências notórias.
A intelectualidade e os artistas eram, como hoje, produtores de bens culturais, inseridos no mercado e concentrados em conseguir o ganha-pão através da comercialização de suas obras. Mas a esfera de cidadania, política ou estética, era razoavelmente protegida contra o assédio das razões mercantis, graças a uma rede de instituições estatais, partidárias e associativas que respaldava a cultura orgânica.
No entanto, o predomínio das ideias liberais, chancelado com o colapso do socialismo no Leste Europeu, foi limando essa blindagem e criando as condições para que o mercado estendesse seus tentáculos sobre espaços outrora salvaguardados. Apenas deveriam sobreviver criações que pudessem ser transformadas em mercadoria rentável, submetidas à lógica do espetáculo e regidas pelas normas do marketing, a principal ciência social dos novos tempos.
Darwinismo cultural
Ainda que diversas organizações, ligadas à arte e à ciência, continuem a promover encontros relevantes, essas realizações são cada vez menos divulgadas pela imprensa. O jornalismo cultural, aos poucos, também terminou capturado pelos interesses empresariais, que demandam aval midiático para acelerar a rotação de seus estoques.
O ímpeto dessa mudança mergulhou artistas e intelectuais em uma espécie de darwinismo cultural, marcado pelo medo de sucumbir em um ambiente no qual somente os escolhidos pelo mercado poderiam sobreviver. A competição e o individualismo derivados desse temor acomodatício acabaram por minar formas coletivas de organização e a própria integração da intelectualidade ao processo histórico.
Assim chegamos à FLIP. No lugar de entidades do ramo, o comando cabe a uma organização não-governamental alimentada com recursos de editoras e seus patrocinadores. Os escritores, de protagonistas, viraram atração. Cada autor ou cada patota em seu quadrado, opiniões e inspirações são exibidas à assistência, e acaba por aí a sinergia com os plebeus.
Casamata do liberalismo
Tudo é bem pensado. Não há estandes emporcalhando as ruas de Paraty. O festival é como um showroom a céu aberto: os produtores e suas obras podem ser vistos, ouvidos e tocados, mas não comprados. O mercado toma conta da cultura, porém preserva seu verniz de forma elegante, de tal sorte que os diletos visitantes não se sintam consumidores, mas personagens.
O simbólico dessa edição da FLIP talvez esteja no convite a Fernando Henrique Cardoso para fazer a palestra de abertura. Um dos maiores intelectuais da história brasileira, antigo cardeal do pensamento crítico, havia antes se convertido em presidente da República para fazer reformas pleiteadas por forças de mercado. Na feira de Paraty, colocou sua biografia e inteligência a serviço da indústria cultural.
O país vive mudanças econômicas, sociais e até políticas de relevância. A duras penas, a soberania pública tenta recuperar o terreno perdido ao espaço privado nos anos 90. Mas o mundo da cultura, cujo centro de gravidade deslocou-se para o eixo formado por empresas e mídia, aparece ironicamente como casamata de um liberalismo agonizante. Ainda que, nas calçadas paratienses, esse conservadorismo moderno transborde de charme, beleza e erudição.
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Serra: obscurantismo e hipocrisia
Reproduzo artigo do professor João Quartim de Moraes, publicado no sítio Vermelho:
Comparecendo no dia 1º de maio passado a uma reunião de evangélicos, José Serra exibiu a dimensão teológica de sua Cruzada contra a fumaça. “A pessoa que fuma sabe que o cigarro vai fazer mal, mas continua assim mesmo. Depois, adoece e mesmo assim continua fumando. Assim é uma pessoa sem Deus. Sabe que ele está ali, mas não o procura”. Não era muito conhecido esse pendor místico do candidato da direita à presidência. Seria sincero ou isso não passaria de mais uma de suas charlatanices reacionárias? Ele diz saber que Deus está ali. Ali onde? Nos lugares que freqüenta? Entre os ricaços que o apóiam? Na Bolsa de Valores? Na Daslu, tão ligada a seu parceiro Alquimim? Quem souber diga onde fica.
Mas o pior é a comparação do fumante ao ateu, que suscitou réplica indignada da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea): “Ou ele (Serra) não acredita nisso e estava jogando para a platéia, ou ele acredita, o que é pior ainda. Como você vai esperar uma declaração tão flagrantemente preconceituosa de um candidato? [...] Esse tipo de comportamento é inadmissível em qualquer cidadão civilizado, quanto mais de um pretendente ao cargo mais alto da nação. O contexto sugere que Serra teria feito esse tipo de declaração para satisfazer uma platéia que ele aparentemente imaginava ser tão preconceituosa quanto ele, o que é ainda mais embaraçoso”.
Os fundamentalistas mais fanáticos sustentam a mesma tese de Serra: quem não “vê” Deus é um doente. A diferença é que os fanáticos pensam o que dizem, ao passo que o candidato da direita diz o que pensa lhe render votos. Se imagina mesmo ver Deus em cada esquina, é assunto irrelevante: o foro íntimo e os delírios místicos são assuntos estritamente privados. Já a carência de cultura republicana do candidato da direita, que discrimina cidadãos por suas convicções, é uma tara política extremamente preocupante.
A caminhada dos “tucanos” rumo a Deus tem uma curiosa história, que remonta aos tempos em que eles ainda estavam no PMDB. Em 12 de dezembro de 1985, FH Cardoso, disputando a prefeitura de São Paulo, travou com o “comunicador” ultra-reacionário Bóris Casoy o seguinte diálogo na TV:
Casoy - Senador, o senhor acredita em Deus?
Cardoso - Essa pergunta o senhor disse que não me faria.
Casoy - Eu não disse nada.
Cardoso - Perdão, foi num almoço sobre este mesmo debate.
Casoy - Mas eu não disse se faria ou não.
Cardoso - É uma pergunta típica de alguém que quer levar uma questão íntima para o público...
Entende-se o embaraço do entrevistado. Festejado sociólogo, exibindo imagem de pensador avançado, FH Cardoso não queria nem perder prestígio diante dos intelectuais de espírito crítico, nem perder os votos dos fiéis a Deus. Daí sua cômica perplexidade diante da pergunta do jornalista provocador. Mas no ano e na campanha seguinte (para o Senado, dessa vez), tratou de abrir espaço para Deus em sua plataforma: “Ateísmo é coisa ultrapassada. Existe o infinito, o amor, o mistério. Não há nenhuma razão para ser contra a idéia de Deus”. Peregrinou ao santuário de Aparecida, onde rezou (em latim, segundo a imprensa) um padre-nosso, explicando que “crença é uma coisa que se guarda no coração, o que vale é a prática”. Como brinde ganhou uma imagem da Padroeira do Brasil benzida pelo arcebispo d. Geraldo Penido, um dos mais reacionários do clero brasileiro. A miraculosa conversão provavelmente ajudou-o a conquistar a segunda vaga para o Senado. Brasília vale bem uma missa!
Vimos que a religião de Serra é mais agressiva: está mais para Casoy do que para FHC. O ateu deve ser tratado como um fumante e reciprocamente o fumante deve ser tratado como um ateu. A Cruzada contra a fumaça empreendida pelo chefe da tucanagem quando governador de São Paulo deturpou um objetivo justo (impedir que o não fumante seja constrangido a engolir a fumaça alheia) com o carimbo da intolerância. A lei contra os fumantes que ele fez aprovar na Assembléia Legislativa de São Paulo pelo método do rolo compressor é digna das cruzadas fundamentalistas contra o álcool que conduziram à “lei seca” nos Estados Unidos. Ela leva a atos de estupidez pura e simples. Por exemplo, nos aeroportos paulistas os leões de chácara do governador proíbem os fumantes de ficarem embaixo da marquise que cobre parcialmente a calçada. Se chover, que fumem na chuva.
Não se vê isso em nenhum país europeu onde a segurança do cidadão é de fato levada a sério. Lá pode-se fumar não somente embaixo de toldos, mas também em terraços de bares e restaurantes. Grandes aeroportos, como os de Amsterdã, Frankfurt, Paris, etc. mantêm áreas para fumantes, em vez de empurrá-los para o meio-fio. Estariam menos preocupados com saúde pública do que a tucanagem? Se a preocupação de Serra e parceiros do consórcio PSDEMB fosse mesmo garantir a saúde e a vida, teriam mostrado algum empenho sério em proteger os pedestres dos atropelamentos, que voltaram a aumentar na cidade e no Estado de São Paulo. Cigarro pode provocar câncer ou infarto, ao longo de algumas décadas, mas atropelamento aleija ou mata instantaneamente. (Sem esquecer que a fumaça dos caminhões e automóveis que entopem a Marginal impermeabilizada por Serra também é muito cancerígena e agride mais os pulmões do que a fumaça dos cigarros).
Algumas cidades de nosso país, Brasília, por exemplo, tomaram medidas para impor respeito ao Código de Trânsito, coibir os motoristas mais truculentos e preservar a integridade física dos que andam a pé. O fato muito preocupante de que na megalópolis paulistana a barbárie motorizada siga prosperando mostra o fracasso da política de saúde pública do governo do PSDEMB, frente bicéfala da direita.
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Comparecendo no dia 1º de maio passado a uma reunião de evangélicos, José Serra exibiu a dimensão teológica de sua Cruzada contra a fumaça. “A pessoa que fuma sabe que o cigarro vai fazer mal, mas continua assim mesmo. Depois, adoece e mesmo assim continua fumando. Assim é uma pessoa sem Deus. Sabe que ele está ali, mas não o procura”. Não era muito conhecido esse pendor místico do candidato da direita à presidência. Seria sincero ou isso não passaria de mais uma de suas charlatanices reacionárias? Ele diz saber que Deus está ali. Ali onde? Nos lugares que freqüenta? Entre os ricaços que o apóiam? Na Bolsa de Valores? Na Daslu, tão ligada a seu parceiro Alquimim? Quem souber diga onde fica.
Mas o pior é a comparação do fumante ao ateu, que suscitou réplica indignada da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea): “Ou ele (Serra) não acredita nisso e estava jogando para a platéia, ou ele acredita, o que é pior ainda. Como você vai esperar uma declaração tão flagrantemente preconceituosa de um candidato? [...] Esse tipo de comportamento é inadmissível em qualquer cidadão civilizado, quanto mais de um pretendente ao cargo mais alto da nação. O contexto sugere que Serra teria feito esse tipo de declaração para satisfazer uma platéia que ele aparentemente imaginava ser tão preconceituosa quanto ele, o que é ainda mais embaraçoso”.
Os fundamentalistas mais fanáticos sustentam a mesma tese de Serra: quem não “vê” Deus é um doente. A diferença é que os fanáticos pensam o que dizem, ao passo que o candidato da direita diz o que pensa lhe render votos. Se imagina mesmo ver Deus em cada esquina, é assunto irrelevante: o foro íntimo e os delírios místicos são assuntos estritamente privados. Já a carência de cultura republicana do candidato da direita, que discrimina cidadãos por suas convicções, é uma tara política extremamente preocupante.
A caminhada dos “tucanos” rumo a Deus tem uma curiosa história, que remonta aos tempos em que eles ainda estavam no PMDB. Em 12 de dezembro de 1985, FH Cardoso, disputando a prefeitura de São Paulo, travou com o “comunicador” ultra-reacionário Bóris Casoy o seguinte diálogo na TV:
Casoy - Senador, o senhor acredita em Deus?
Cardoso - Essa pergunta o senhor disse que não me faria.
Casoy - Eu não disse nada.
Cardoso - Perdão, foi num almoço sobre este mesmo debate.
Casoy - Mas eu não disse se faria ou não.
Cardoso - É uma pergunta típica de alguém que quer levar uma questão íntima para o público...
Entende-se o embaraço do entrevistado. Festejado sociólogo, exibindo imagem de pensador avançado, FH Cardoso não queria nem perder prestígio diante dos intelectuais de espírito crítico, nem perder os votos dos fiéis a Deus. Daí sua cômica perplexidade diante da pergunta do jornalista provocador. Mas no ano e na campanha seguinte (para o Senado, dessa vez), tratou de abrir espaço para Deus em sua plataforma: “Ateísmo é coisa ultrapassada. Existe o infinito, o amor, o mistério. Não há nenhuma razão para ser contra a idéia de Deus”. Peregrinou ao santuário de Aparecida, onde rezou (em latim, segundo a imprensa) um padre-nosso, explicando que “crença é uma coisa que se guarda no coração, o que vale é a prática”. Como brinde ganhou uma imagem da Padroeira do Brasil benzida pelo arcebispo d. Geraldo Penido, um dos mais reacionários do clero brasileiro. A miraculosa conversão provavelmente ajudou-o a conquistar a segunda vaga para o Senado. Brasília vale bem uma missa!
Vimos que a religião de Serra é mais agressiva: está mais para Casoy do que para FHC. O ateu deve ser tratado como um fumante e reciprocamente o fumante deve ser tratado como um ateu. A Cruzada contra a fumaça empreendida pelo chefe da tucanagem quando governador de São Paulo deturpou um objetivo justo (impedir que o não fumante seja constrangido a engolir a fumaça alheia) com o carimbo da intolerância. A lei contra os fumantes que ele fez aprovar na Assembléia Legislativa de São Paulo pelo método do rolo compressor é digna das cruzadas fundamentalistas contra o álcool que conduziram à “lei seca” nos Estados Unidos. Ela leva a atos de estupidez pura e simples. Por exemplo, nos aeroportos paulistas os leões de chácara do governador proíbem os fumantes de ficarem embaixo da marquise que cobre parcialmente a calçada. Se chover, que fumem na chuva.
Não se vê isso em nenhum país europeu onde a segurança do cidadão é de fato levada a sério. Lá pode-se fumar não somente embaixo de toldos, mas também em terraços de bares e restaurantes. Grandes aeroportos, como os de Amsterdã, Frankfurt, Paris, etc. mantêm áreas para fumantes, em vez de empurrá-los para o meio-fio. Estariam menos preocupados com saúde pública do que a tucanagem? Se a preocupação de Serra e parceiros do consórcio PSDEMB fosse mesmo garantir a saúde e a vida, teriam mostrado algum empenho sério em proteger os pedestres dos atropelamentos, que voltaram a aumentar na cidade e no Estado de São Paulo. Cigarro pode provocar câncer ou infarto, ao longo de algumas décadas, mas atropelamento aleija ou mata instantaneamente. (Sem esquecer que a fumaça dos caminhões e automóveis que entopem a Marginal impermeabilizada por Serra também é muito cancerígena e agride mais os pulmões do que a fumaça dos cigarros).
Algumas cidades de nosso país, Brasília, por exemplo, tomaram medidas para impor respeito ao Código de Trânsito, coibir os motoristas mais truculentos e preservar a integridade física dos que andam a pé. O fato muito preocupante de que na megalópolis paulistana a barbárie motorizada siga prosperando mostra o fracasso da política de saúde pública do governo do PSDEMB, frente bicéfala da direita.
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sábado, 7 de agosto de 2010
Serra faz campanha em Washington?
Reproduzo excelente artigo de Mark Weisbrot, co-diretor do Centro para Pesquisa Política e Econômica e colunista do jornal britânico Guardian, publicado na Folha:
O que José Serra está tentando fazer? Em sua campanha pela Presidência do Brasil, ele acusou a Bolívia de cumplicidade no tráfico de drogas e criticou Lula por tentar mediar a disputa entre Washington e o Irã, e por recusar (em companhia da maioria dos demais países sul-americanos) reconhecimento ao governo de Honduras, “eleito” sob uma ditadura.
Por algum tempo ele optou por não aderir à campanha internacional de Washington contra a Venezuela, mas agora Serra e seu candidato a vice, Indio da Costa, também adentraram aquele pútrido pântano, alegando que a Venezuela “abriga” as Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas), o principal grupo guerrilheiro que combate o governo da Colômbia.
Que conste: a despeito de uma década de alegações, Washington ainda não conseguiu apresentar publicamente um traço de prova de que o governo de Chávez de fato apoie as Farc.
A única “prova” de que existe em domínio público vem de laptops e outros equipamentos de computação supostamente capturados pelas Forças Armadas colombianas em sua incursão ao território do Equador em março de 2008.
Blogueiros de direita como Reinaldo Azevedo repetem o mito de mídia de que a Interpol teria confirmado a autenticidade desses arquivos supostamente capturados, mas um relatório da Interpol nega enfaticamente essa possibilidade. Tudo que temos é a palavra das Forças Armadas colombianas -organização que sabidamente assassinou centenas de adolescentes inocentes e os vestiu como guerrilheiros.
Será que Serra realmente deseja que o Brasil compre brigas com todos os seus vizinhos a fim de se colocar desafiadoramente do lado errado da história? E isso apenas para se tornar o maior aliado direitista de Washington? Sim, caso Serra não tenha percebido, os Estados Unidos, sob o governo Obama como sob o governo Bush, só têm governos de direita como aliados no hemisfério: Canadá, Panamá, Colômbia, Chile, México. Existe um motivo para isso: a política norte-americana com relação à América Latina não mudou sob Obama.
Mesmo de um ponto de vista puramente maquiavélico - deixando de lado qualquer ideia de fazer da região ou do mundo um lugar melhor -, a estratégia “Serra Palin” faz pouco sentido. O Brasil tinha boas relações com Bush e pode ter boas relações com Obama sem incorrer nessa espécie desonrosa de servidão.
O Brasil não é El Salvador, país cujo governo vive sob chantagem por ameaças de enviar de volta ao seu território os milhares de emigrantes salvadorenhos que vivem nos Estados Unidos. E nem El Salvador tomou a estrada que Serra está percorrendo.
Não é apenas na Venezuela e na Bolívia que os Estados Unidos investem dezenas de milhões de dólares para adquirir influência política. Em 2005, como reportou este jornal, os Estados Unidos bancaram um esforço para mudar a lei brasileira de maneira a reforçar a oposição ao Partido dos Trabalhadores.
Washington tem grande interesse no resultado da eleição deste ano porque procura reverter as mudanças que tornaram a América Latina, no passado o “quintal” dos Estados Unidos, mais independente que nunca em sua história. José Serra está fazendo com que esse interesse cresça a cada dia.
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O que José Serra está tentando fazer? Em sua campanha pela Presidência do Brasil, ele acusou a Bolívia de cumplicidade no tráfico de drogas e criticou Lula por tentar mediar a disputa entre Washington e o Irã, e por recusar (em companhia da maioria dos demais países sul-americanos) reconhecimento ao governo de Honduras, “eleito” sob uma ditadura.
Por algum tempo ele optou por não aderir à campanha internacional de Washington contra a Venezuela, mas agora Serra e seu candidato a vice, Indio da Costa, também adentraram aquele pútrido pântano, alegando que a Venezuela “abriga” as Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas), o principal grupo guerrilheiro que combate o governo da Colômbia.
Que conste: a despeito de uma década de alegações, Washington ainda não conseguiu apresentar publicamente um traço de prova de que o governo de Chávez de fato apoie as Farc.
A única “prova” de que existe em domínio público vem de laptops e outros equipamentos de computação supostamente capturados pelas Forças Armadas colombianas em sua incursão ao território do Equador em março de 2008.
Blogueiros de direita como Reinaldo Azevedo repetem o mito de mídia de que a Interpol teria confirmado a autenticidade desses arquivos supostamente capturados, mas um relatório da Interpol nega enfaticamente essa possibilidade. Tudo que temos é a palavra das Forças Armadas colombianas -organização que sabidamente assassinou centenas de adolescentes inocentes e os vestiu como guerrilheiros.
Será que Serra realmente deseja que o Brasil compre brigas com todos os seus vizinhos a fim de se colocar desafiadoramente do lado errado da história? E isso apenas para se tornar o maior aliado direitista de Washington? Sim, caso Serra não tenha percebido, os Estados Unidos, sob o governo Obama como sob o governo Bush, só têm governos de direita como aliados no hemisfério: Canadá, Panamá, Colômbia, Chile, México. Existe um motivo para isso: a política norte-americana com relação à América Latina não mudou sob Obama.
Mesmo de um ponto de vista puramente maquiavélico - deixando de lado qualquer ideia de fazer da região ou do mundo um lugar melhor -, a estratégia “Serra Palin” faz pouco sentido. O Brasil tinha boas relações com Bush e pode ter boas relações com Obama sem incorrer nessa espécie desonrosa de servidão.
O Brasil não é El Salvador, país cujo governo vive sob chantagem por ameaças de enviar de volta ao seu território os milhares de emigrantes salvadorenhos que vivem nos Estados Unidos. E nem El Salvador tomou a estrada que Serra está percorrendo.
Não é apenas na Venezuela e na Bolívia que os Estados Unidos investem dezenas de milhões de dólares para adquirir influência política. Em 2005, como reportou este jornal, os Estados Unidos bancaram um esforço para mudar a lei brasileira de maneira a reforçar a oposição ao Partido dos Trabalhadores.
Washington tem grande interesse no resultado da eleição deste ano porque procura reverter as mudanças que tornaram a América Latina, no passado o “quintal” dos Estados Unidos, mais independente que nunca em sua história. José Serra está fazendo com que esse interesse cresça a cada dia.
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A necessidade de uma bancada de esquerda
Reproduzo artigo de Maria Cristina Fernandes, publicado no jornal no Valor Econômico:
Ao deixar o Planalto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desalojará do poder o movimento sindical. É muito pequena a chance de o sindicalismo manter com o eleito, seja qual for, a interlocução e o peso alcançados neste governo. Nas duas candidaturas de oposição o afastamento é explicitado pelas alianças partidárias e programáticas que os sustentam. Na campanha petista o estranhamento vai desde os desacertos em torno do programa de governo do partido à ausência de qualquer interlocutor do movimento entre seus estrategistas.
Ao longo de sua carreira no serviço público, Dilma Rousseff, apesar de egressa do trabalhismo, nunca se aproximou do movimento sindical. Como ministra da Casa Civil, foram encontros majoritariamente empresariais que pautaram sua agenda apesar da tentativa das centrais de marcar presença. Como candidata, trata com desenvoltura da abertura de capital de estatais como a Infraero e os Correios, tema que, nas campanhas presidenciais de Lula, os sindicatos fizeram de cavalo de batalha contra tucanos inertes à estratégia da mistificação.
Esse afastamento é uma sinalização de que, no próximo governo, a retomada de propostas como a desoneração da folha ou a reforma da Previdência encontrará menos resistências internas, ainda que seja cedo para supor que a divisão de cadeiras no Congresso lhe seja favorável.
Ao se iniciar, este governo tinha ambas as propostas entre suas prioridades. Chegou a propor, sem sucesso, o fim da multa de 40% do FGTS, mas conseguiu aprovar mudanças tão ou mais significativas que as do governo anterior na Previdência, como a cobrança dos inativos, a instituição do redutor do benefício e a elevação da idade mínima.
A pauta foi suspensa com o mensalão, cujo enfrentamento levou o governo a convocar as centrais sindicais para a comissão de frente. Só seria retomada em 2007 com a apresentação pelo Executivo do projeto que institui a previdência complementar para o funcionalismo.
Pela proposta, todo servidor que ingresse no setor público depois da aprovação da lei teria direito a um teto previdenciário equivalente ao da iniciativa privada (hoje R$ 3,4 mil). Quem quisesse ganhar mais que contribua com um fundo de pensão. O projeto parte do pressuposto de que o Estado não deve ser onerado pelas aposentadorias mais altas.
Em mesa de debates durante o 10º encontro da Associação Brasileira de Ciência Política que acontece esta semana no Recife a professora da USP Marta Arretche mostrou como as desigualdades no mercado de trabalho são a principal agenda social que este governo deixou inacabada.
Ao longo do governo Lula programas sociais como o Bolsa Família permitiram acesso milhões a conta bancária e a um mínimo de consumo. O crescimento da economia elevou o nível de emprego a patamares históricos. Mas na população em idade de trabalhar não são poucas as diferenças no acesso à cidadania.
Um fosso separa o trabalhador informal de um celetista com férias e repouso semanal remunerado, vale transporte, seguro desemprego e contribuição previdenciária do empregador e de um estatutário que tem estabilidade, licença, direito à greve paga pelo erário e aposentadoria acima do teto do INSS.
Marta Arretche reconheceu que a legislação é insuficiente para explicar disparidades aprofundadas ao longo de ciclos econômicos que sempre contaram com grandes exércitos de reserva de mão-de-obra. Da mesma forma, o pleno emprego na Europa tem que considerar as levas de imigrantes que deixaram o continente nos últimos séculos e as baixas ocorridas com a Segunda Guerra Mundial. Mas em lugar algum do mundo a redução das desigualdades foi alcançada sem mudanças legais.
Listou os três governos europeus mais bem sucedidos na promoção de reformas que diminuíram essas desigualdades nos anos 1990 e em todos identificou em comum uma coalizão parlamentar de esquerda. Na França de Lionel Jospin a coalizão reuniu socialistas, comunistas e verdes, na Itália de Dini a reforma aprovada pela aliança de esquerda foi a mesma que havia derrubado o primeiro governo Berlusconi e, na Holanda, a entrada do partido trabalhista no governo foi condicionada ao apoio às mudanças.
Marta credita a paralisia das reformas em parte às incertezas em relação à viabilidade eleitoral da bancada do PT na disputa pós-mensalão. Na eleição de 2006 as pesquisas indicavam que o grau de identificação com a legenda tinha sofrido um baque, mas isso não impediu que o partido fizesse uma bancada maior.
As mudanças ocorridas na bancada do PT em 2006 – a redução de parlamentares da região centro-sul ligados a bandeiras sindicais e o aumento na proporção de cadeiras do Norte e Nordeste conquistadas pela associação com programas sociais e emendas parlamentares – devem se intensificar na eleição de outubro.
O novo perfil da bancada do PT pode indicar uma maior permeabilidade às propostas de redução das desigualdades no mercado de trabalho. Além da previdência complementar dos servidores há uma infinidade de projetos que foram contidos no Congresso, como a criação das fundações estatais, a limitação do gasto com pessoal e a regulamentação do direito de greve.
Entre os sindicalistas, a aposta é outra. Como não haveria no mercado eleitoral proposta que afugente o de capitais, restaria ao partido radicalizar ao lado das bandeiras do movimento. De acordo com essa tese, isso não teria sido possível no governo Lula pelo compromisso com a Carta aos Brasileiros. O PT não poderia afugentar os mercados que o presidente, a muito custo, havia acalmado. Desta vez, não há fios desencapados na sucessão, o que liberaria o PT a agir em favor das teses que o movimento acredita serem de esquerda.
Se a tese parece razoável num cenário de vitória tucana, as chances de que vingue num eventual governo Dilma estão diretamente associadas à crença de que Lula continue bancando o movimento mesmo longe do Planalto. A pergunta que fica é por que Lula, se estivesse interessado na permanência da hegemonia sindical, teria escolhido uma candidata que não soma meia dúzia de horas de assembleia.
Sindicalistas e empresários passaram a travar uma batalha pela prioridade das reformas trabalhista e sindical. O mensalão jogou Lula no colo de sua base social e as centrais acabaram descolando seu reconhecimento legal. O crescimento acelerado da economia e a fartura do crédito aquietaram o patronato.
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Ao deixar o Planalto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desalojará do poder o movimento sindical. É muito pequena a chance de o sindicalismo manter com o eleito, seja qual for, a interlocução e o peso alcançados neste governo. Nas duas candidaturas de oposição o afastamento é explicitado pelas alianças partidárias e programáticas que os sustentam. Na campanha petista o estranhamento vai desde os desacertos em torno do programa de governo do partido à ausência de qualquer interlocutor do movimento entre seus estrategistas.
Ao longo de sua carreira no serviço público, Dilma Rousseff, apesar de egressa do trabalhismo, nunca se aproximou do movimento sindical. Como ministra da Casa Civil, foram encontros majoritariamente empresariais que pautaram sua agenda apesar da tentativa das centrais de marcar presença. Como candidata, trata com desenvoltura da abertura de capital de estatais como a Infraero e os Correios, tema que, nas campanhas presidenciais de Lula, os sindicatos fizeram de cavalo de batalha contra tucanos inertes à estratégia da mistificação.
Esse afastamento é uma sinalização de que, no próximo governo, a retomada de propostas como a desoneração da folha ou a reforma da Previdência encontrará menos resistências internas, ainda que seja cedo para supor que a divisão de cadeiras no Congresso lhe seja favorável.
Ao se iniciar, este governo tinha ambas as propostas entre suas prioridades. Chegou a propor, sem sucesso, o fim da multa de 40% do FGTS, mas conseguiu aprovar mudanças tão ou mais significativas que as do governo anterior na Previdência, como a cobrança dos inativos, a instituição do redutor do benefício e a elevação da idade mínima.
A pauta foi suspensa com o mensalão, cujo enfrentamento levou o governo a convocar as centrais sindicais para a comissão de frente. Só seria retomada em 2007 com a apresentação pelo Executivo do projeto que institui a previdência complementar para o funcionalismo.
Pela proposta, todo servidor que ingresse no setor público depois da aprovação da lei teria direito a um teto previdenciário equivalente ao da iniciativa privada (hoje R$ 3,4 mil). Quem quisesse ganhar mais que contribua com um fundo de pensão. O projeto parte do pressuposto de que o Estado não deve ser onerado pelas aposentadorias mais altas.
Em mesa de debates durante o 10º encontro da Associação Brasileira de Ciência Política que acontece esta semana no Recife a professora da USP Marta Arretche mostrou como as desigualdades no mercado de trabalho são a principal agenda social que este governo deixou inacabada.
Ao longo do governo Lula programas sociais como o Bolsa Família permitiram acesso milhões a conta bancária e a um mínimo de consumo. O crescimento da economia elevou o nível de emprego a patamares históricos. Mas na população em idade de trabalhar não são poucas as diferenças no acesso à cidadania.
Um fosso separa o trabalhador informal de um celetista com férias e repouso semanal remunerado, vale transporte, seguro desemprego e contribuição previdenciária do empregador e de um estatutário que tem estabilidade, licença, direito à greve paga pelo erário e aposentadoria acima do teto do INSS.
Marta Arretche reconheceu que a legislação é insuficiente para explicar disparidades aprofundadas ao longo de ciclos econômicos que sempre contaram com grandes exércitos de reserva de mão-de-obra. Da mesma forma, o pleno emprego na Europa tem que considerar as levas de imigrantes que deixaram o continente nos últimos séculos e as baixas ocorridas com a Segunda Guerra Mundial. Mas em lugar algum do mundo a redução das desigualdades foi alcançada sem mudanças legais.
Listou os três governos europeus mais bem sucedidos na promoção de reformas que diminuíram essas desigualdades nos anos 1990 e em todos identificou em comum uma coalizão parlamentar de esquerda. Na França de Lionel Jospin a coalizão reuniu socialistas, comunistas e verdes, na Itália de Dini a reforma aprovada pela aliança de esquerda foi a mesma que havia derrubado o primeiro governo Berlusconi e, na Holanda, a entrada do partido trabalhista no governo foi condicionada ao apoio às mudanças.
Marta credita a paralisia das reformas em parte às incertezas em relação à viabilidade eleitoral da bancada do PT na disputa pós-mensalão. Na eleição de 2006 as pesquisas indicavam que o grau de identificação com a legenda tinha sofrido um baque, mas isso não impediu que o partido fizesse uma bancada maior.
As mudanças ocorridas na bancada do PT em 2006 – a redução de parlamentares da região centro-sul ligados a bandeiras sindicais e o aumento na proporção de cadeiras do Norte e Nordeste conquistadas pela associação com programas sociais e emendas parlamentares – devem se intensificar na eleição de outubro.
O novo perfil da bancada do PT pode indicar uma maior permeabilidade às propostas de redução das desigualdades no mercado de trabalho. Além da previdência complementar dos servidores há uma infinidade de projetos que foram contidos no Congresso, como a criação das fundações estatais, a limitação do gasto com pessoal e a regulamentação do direito de greve.
Entre os sindicalistas, a aposta é outra. Como não haveria no mercado eleitoral proposta que afugente o de capitais, restaria ao partido radicalizar ao lado das bandeiras do movimento. De acordo com essa tese, isso não teria sido possível no governo Lula pelo compromisso com a Carta aos Brasileiros. O PT não poderia afugentar os mercados que o presidente, a muito custo, havia acalmado. Desta vez, não há fios desencapados na sucessão, o que liberaria o PT a agir em favor das teses que o movimento acredita serem de esquerda.
Se a tese parece razoável num cenário de vitória tucana, as chances de que vingue num eventual governo Dilma estão diretamente associadas à crença de que Lula continue bancando o movimento mesmo longe do Planalto. A pergunta que fica é por que Lula, se estivesse interessado na permanência da hegemonia sindical, teria escolhido uma candidata que não soma meia dúzia de horas de assembleia.
Sindicalistas e empresários passaram a travar uma batalha pela prioridade das reformas trabalhista e sindical. O mensalão jogou Lula no colo de sua base social e as centrais acabaram descolando seu reconhecimento legal. O crescimento acelerado da economia e a fartura do crédito aquietaram o patronato.
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O PT e a "blindagem" da mídia aos tucanos
Reproduzo matéria de Anselmo Massad, publicada na Rede Brasil Atual:
Ativistas e lideranças do PT de São Paulo defenderam, em encontro na noite de quinta-feira (5) no centro da capital, ações para acabar com o que chamaram de blindagem da mídia aos governos do PSDB. Para eles, os meios de comunicação do estado são os principais responsáveis pela continuidade tucana no Palácio dos Bandeirantes.
O encontro buscava detalhar propostas de políticas de comunicação para um eventual governo de Aloízio Mercadante, candidato da legenda em São Paulo. Para Aparecido Luiz da Silva, o Cidão, secretário de Comunicação do PT-SP, um dos caminhos seria adotar um modelo de distribuição de anúncios do setor público semelhante ao empregado na gestão federal. "Precisaríamos dividir o bloco publicitário com os veículos menores, do interior e democratizar a comunicação, para não passar quatro anos de raiva com a mídia falando mal da gente", sugeriu.
Para Paulo Salvador, diretor da Editora Atitude, que produz a Rede Brasil Atual, a Revista do Brasil, a Rádio e os jornais Brasil Atual, é preciso superar um patamar de ingenuidade. "A ideia de que uma boa assessoria de imprensa resolve já se mostrou equivocada, porque a mídia é destrutiva em relação às construções sociais. Não podemos acreditar que vamos mudar o país e o estado com essa mídia que não tem apreço sequer à verdade e aos fatos", criticou.
"É necessária uma tomada de consciência de que a comunicação é estratégica", insistiu. Salvador usou a articulação de 60 sindicatos em torno dos projetos de comunicação a que representa como um exemplo dessa prioridade.
"Após oito anos de governo Lula, deveríamos estar democratizando a comunicação", criticou Joaquim Palhares, diretor da agência Carta Maior. "Na América Latina, o que se vê (em termos de democracia nos meios de comunicação) é ainda pior, o que nos coloca em uma posição de fragilidade da soberania dos povos", avalia. Ele considera que sem avançar na pluralidade da mídia, "perde-se tudo em cinco anos de governo de direita", por não terem sido estabelecidas raízes das transformações junto à população.
Palhares mostrou que todos os veículos da mídia conservadora, os maiores grupos, dependem de verba publicitária do setor público. Por isso, ele defendeu que, em uma eventual gestão de Mercadante, 20% dos recursos publicitários do estado sejam destinados a criar um fundo para projetos de comunicação escolhidos por meio de editais públicos.
Essas e outras propostas colhidas no encontro, realizado instantes antes do início do primeiro debate entre os presidenciávies, poderão ser incorporadas ao programa de governo petista em São Paulo.
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Ativistas e lideranças do PT de São Paulo defenderam, em encontro na noite de quinta-feira (5) no centro da capital, ações para acabar com o que chamaram de blindagem da mídia aos governos do PSDB. Para eles, os meios de comunicação do estado são os principais responsáveis pela continuidade tucana no Palácio dos Bandeirantes.
O encontro buscava detalhar propostas de políticas de comunicação para um eventual governo de Aloízio Mercadante, candidato da legenda em São Paulo. Para Aparecido Luiz da Silva, o Cidão, secretário de Comunicação do PT-SP, um dos caminhos seria adotar um modelo de distribuição de anúncios do setor público semelhante ao empregado na gestão federal. "Precisaríamos dividir o bloco publicitário com os veículos menores, do interior e democratizar a comunicação, para não passar quatro anos de raiva com a mídia falando mal da gente", sugeriu.
Para Paulo Salvador, diretor da Editora Atitude, que produz a Rede Brasil Atual, a Revista do Brasil, a Rádio e os jornais Brasil Atual, é preciso superar um patamar de ingenuidade. "A ideia de que uma boa assessoria de imprensa resolve já se mostrou equivocada, porque a mídia é destrutiva em relação às construções sociais. Não podemos acreditar que vamos mudar o país e o estado com essa mídia que não tem apreço sequer à verdade e aos fatos", criticou.
"É necessária uma tomada de consciência de que a comunicação é estratégica", insistiu. Salvador usou a articulação de 60 sindicatos em torno dos projetos de comunicação a que representa como um exemplo dessa prioridade.
"Após oito anos de governo Lula, deveríamos estar democratizando a comunicação", criticou Joaquim Palhares, diretor da agência Carta Maior. "Na América Latina, o que se vê (em termos de democracia nos meios de comunicação) é ainda pior, o que nos coloca em uma posição de fragilidade da soberania dos povos", avalia. Ele considera que sem avançar na pluralidade da mídia, "perde-se tudo em cinco anos de governo de direita", por não terem sido estabelecidas raízes das transformações junto à população.
Palhares mostrou que todos os veículos da mídia conservadora, os maiores grupos, dependem de verba publicitária do setor público. Por isso, ele defendeu que, em uma eventual gestão de Mercadante, 20% dos recursos publicitários do estado sejam destinados a criar um fundo para projetos de comunicação escolhidos por meio de editais públicos.
Essas e outras propostas colhidas no encontro, realizado instantes antes do início do primeiro debate entre os presidenciávies, poderão ser incorporadas ao programa de governo petista em São Paulo.
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