Reproduzo artigo de Mauricio Dias, publicado no síto da CartaCapital:
Os três mais importantes institutos de pesquisa do País acertaram os ponteiros: Dilma Rousseff está à frente na corrida presidencial e, mais que isso, projeta a possibilidade de resolver a eleição já no primeiro turno.
Nas últimas duas semanas, a intenção de voto projetada pelo Vox Populi, Ibope e Sensus indica o crescimento da candidata do PT e, por outro lado, mostra a estagnação ou queda nos índices do candidato do PSDB.
A pergunta, então, irrompe contra as vontades estabelecidas: a eleição pode mesmo terminar no primeiro turno com a vitória de Dilma?
O colunista conversou com João Francisco Meira, do Vox Populi, Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, e Ricardo Guedes, do Sensus. Todos responderam “sim”, com maior ou menor ênfase.
Em março, durante reunião da Associação Brasileira de Pesquisas, Meira abalou a estabilidade bem comportada da reunião e anunciou que vários fatores projetavam a possibilidade de a candidata do PT se eleger no primeiro turno.
Ele agora consolida a posição: “Dilma pode ganhar no primeiro turno. Os fatores que informam a decisão do eleitor a favorecem amplamente. Eles existem há longo tempo e estão se consolidando de tal maneira que somente uma mudança radical alteraria isso. São cinco esses fatores: a satisfação da sociedade com a situação econômica; a satisfação com o governo; a admiração pelo presidente da República; a identidade partidária; e o tempo de antena, ou seja, a influência do rádio e da televisão na campanha eleitoral.
Para ele, o favoritismo de Dilma tirou até mesmo a competitividade da eleição.
Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, fala abertamente, pela primeira vez, sobre a possibilidade de a eleição ser decidida em um turno só e a favor de Dilma.
“A eleição pode terminar no primeiro turno. Mas essa resposta só pode ser dada com mais segurança duas semanas após o início do horário eleitoral. Os programas de rádio e televisão, além dos debates, com a repercussão que geram, podem provocar mudanças.
A possibilidade de Dilma vencer no primeiro turno existe. Ela está com todos os indicadores em alta e os resultados de intenção de voto nela no Sudeste são fundamentais para isso.
A virada em Minas, onde ela passou a ter 10 pontos de frente; a diferença de 19 pontos que abriu no Rio e, finalmente, a redução da vantagem que Serra tinha em São Paulo, que já foi de 25 pontos e hoje é de 11 pontos. “Isso pode determinar a vitória dela já no primeiro turno”, afirma Montenegro.
Ricardo Guedes, que divulgou nova pesquisa com Dilma 10 pontos à frente de Serra, diz que a hipótese de a petista vencer no primeiro turno “não pode mais ser desconsiderada”.
Guedes aponta um número fortíssimo da pesquisa nessa direção: ela tem 48,5% dos votos válidos. Muito próximo dos 50% (mais 1 voto) que decretariam a vitória no primeiro turno.
O representante do Sensus não acredita que o rádio e a televisão possam alterar essa tendência. Ao contrário, considera que o horário eleitoral aumentará a possibilidade de Dilma. E explica a razão: “O que hoje os eleitores do Sul e do Norte, do Leste, Oeste e Centro-Oeste conhecem em parte eles conhecerão na totalidade. Eu me refiro aos feitos de uma administração com aprovação extremamente elevada”.
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sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Quem venceu o debate da Band?
Reproduzo análise de Cláudio Gonzalez, publicada no sítio Vermelho:
O primeiro debate entre os candidatos às eleições presidenciais de 2010, ocorrido na noite desta quinta-feira (5) na TV Bandeirantes, confirmou um prognóstico feito pelo presidente Lula: o de que a oposição perderia seu último trunfo ao apostar num desempenho ruim da candidata petista Dilma Rousseff. Ao contrário do que previam a oposição e setores da mídia, Dilma, apesar do nervosismo típico de estreante, foi bem, e, assim, ajudou a desmontar mais uma lenda criada pelos oposicionistas.
Primeiro debate entre os quatro principais presidenciáveis teve pouca audiência e não abordou grandes polêmicas, mas serviu para testar cada um dos candidatos. Antes da campanha começar, os adversários da ex-ministra espalhavam, sobretudo em blogs na internet, que Serra iria “estralhaçar” Dilma nos debates. Definitivamente, o tucano não chegou nem perto desse objetivo.
Baixa audiência
O debate da Band é o primeiro de uma série de quatro eventos do mesmo gênero que devem ocorrer na TV aberta. Os outros três debates do primeiro turno devem ser os da RedeTV (12 de setembro), Record (28 de agosto) e Globo (30 de agosto).
Concorrendo com a semifinal da Copa Libertadores, o debate da Bandeirantes patinou na audiência. Durante as mais de duas horas de transmissão do confronto entre os candidatos, a emissora alcançou, no máximo, 5,5 pontos de audiência, empatando em quarto lugar com a Rede TV!. Na média, a audiência do debate ficou bem abaixo disso: 1,8 a 1,9 pontos. A Globo, que transmitiu o jogo entre São Paulo e Inter teve uma média de 36,9 pontos. A média da Record foi de 7,4, segundo levantamento Ibope. Os números consolidados devem ser divulgados na manhã de hoje.
O debate foi mediado pelo jornalista Ricardo Boechat. No total, 210 jornalistas compareceram para cobrir o evento, que também foi transmitido ao vivo pela Rádio Bandeirantes e teve cobertura online em vários portais e redes sociais.
Acompanharam os presidenciáveis no primeiro debate: Indio da Costa (DEM), candidato a vice na chapa de José Serra, Michel Temer (PMDB), vice de Dilma Rousseff, Guilherme Leal (PV), vice de Marina Silva, José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT, Sérgio Guerra, presidente do PSDB; a primeira-dama Marisa Letícia, esposa do presidente Lula; os candidatos paulistas Geraldo Alckmin, Aloísio Mercadante, Aloysio Nunes, Orestes Quércia, Netinho de Paula, Marta Suplicy, e o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, entre outros.
Oportunidade perdida para Serra
Serra entrou no debate com a missão de vencer e comprovar que sua "experiência" faria a diferença. Mas não deu muito certo. Pelo contrário, o tucano mostrou-se perdido em vários momentos, fugiu de polêmicas, não teve coragem de repetir os ataques à sua principal adversária como vinha fazendo dias antes e mostrou menos “conteúdo” do que seus aliados esperavam. A comprovação de que as coisas não foram muito felizes para a oposição pode ser medida pela reação do marqueteiro de Serra, Luiz Gonzalez, que saiu dos estúdios da Band com cara de poucos amigos.
Por mais que seus apoiadores entupam a internet com “avaliações” que tentam desqualificar a oratória de Dilma e enaltecer o “preparo” de Serra, foi o tucano quem protagonizou mais momentos constrangedores durante o debate. Por duas vezes, Serra teve que pedir que repetissem a pergunta para ele, pois não estava prestando atenção. Ficou circulando de um lado para outro (as câmeras não mostraram, mas na internet a informação foi muito enfatizada), esqueceu o que estava dizendo em dois momentos e ao elencar três órgãos do corpo humano que representariam os temas educação, saúde e segurança, escolheu o “intestino” para representar um deles.
Tanto Dilma quanto Serra extrapolaram no tempo de algumas respostas e tiveram o áudio de seus microfones cortados.
Treinamentos melhoraram desempenho de Dilma
Elegante, com uma blusa branca rendada, Dilma chegou sorridente aos estúdios da Band e saiu um pouco apreensiva, mas revelando confiança no próprio desempenho.
A candidata petista entrou no primeiro debate eleitoral de sua vida sem o compromisso de “vencer” o confronto. O comando da campanha esperava dela, apenas, que não cometesse erros graves. E ela cumpriu este objetivo. Não brilhou, como gostariam alguns de seus apoiadores. Atrapalhou-se em algumas respostas, mas certamente saiu do debate maior do que entrou.
Dilma dedicou-se, nos últimos dias, a se preparar para o evento. Revisou informações e números do governo, teve aulas de oratória e, com isso, conseguiu superar sua conhecida dificuldade de falar em público. Quem já teve a oportunidade de ver a performance sofrível de Dilma em eventos públicos pré-campanha sabe que no debate desta quinta-feira a ex-ministra se superou e melhorou bastante. Apesar do nervosismo visível, não deixou pergunta sem resposta, apresentou dados concretos, foi feliz na defesa das conquistas do governo Lula e na demonstração de que continuará sua obra. Transmitiu confiança na determinação de combater a pobreza e fomentar o progresso do Brasil. E, o mais importante, soube explorar bandeiras e temas que são do interesse da maioria dos brasileiros como emprego, direitos sociais, Luz para Todos, defesa do SUS, agricultura familiar.
Nas declarações finais, Dilma fez um discurso bem construído, enfático e levemente emocional, como recomendam os especialistas em marketing político. Lembrou de mencionar o protagonismo das mulheres na política e enalteceu as mudanças promovidas pelo governo Lula.
Plínio acende, Marina apaga
Os outros participantes do debate, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Marina Silva (PV) cumpriram o papel que parece estar destinado a eles nestas eleições: o de coadjuvantes numa disputa plebiscitária entre o campo progressista representado por Dilma e pelo atual governo e o campo da direita, representado por Serra e pela aliança demo-tucana que governou o país durante os dois mandatos de FHC.
Sem ter nada a perder, o candidato do PSOL soltou-se. Logo no início, questionou o isolamento que a mídia promove contra os candidatos de pequenos partidos. Com uma postura despojada e tiradas irônicas, Plínio conseguiu aparecer, agradou ao público jovem que acompanhava o debate pela internet e seu nome acabou alçado ao Trending Topics do Twitter. Plínio foi responsável pelos poucos momentos divertidos do debate, como quando chamou Marina de “ecocapitalista” e José Serra de “hipocondríaco”. Mas se o despojamento trazido por Plínio neste primeiro debate soou como novidade e trouxe alguma graça ao tom morno do encontro, não se pode garantir que nos próximos debates, esta postura continuará agradando. Ela não será mais novidade e se exagerar no tom seu comportamento pode acabar sendo interpretado como grosseiro e arrogante, traços de personalidade que os eleitores rejeitam fortemente. Seja como for, o radicalismo de sua plataforma de governo deve barrar qualquer chance do candidato do PSOL deslanchar nas pesquisas ou mesmo alcançar o patamar conquistado por Heloisa Helena em 2006.
Marina Silva, por sua vez, manteve uma postura acanhada, conciliadora demais –tentando agradar governo e oposição-- o que não permitiu que ela se destacasse no debate. Em alguns momentos, a candidata do PV serviu apenas de ponte para uma tabelinha amistosa com Dilma e Serra e, para surpresa de muitos, Marina acabou travando embate mais ríspido com Plínio, do PSOL, partido que, no início da corrida eleitoral cogitou apoiar a senadora acriana.
Utilizando um discurso muito protocolar, cansativo, e abordando temas de pouco interesse geral, a ex-ministra do Meio Ambiente não empolgou e caso mantenha essa toada será muito difícil para ela alcançar o objetivo de se transformar numa “terceira via” competitiva nestas eleições.
Grandes temas ficaram de fora
A primeira pergunta feita aos candidatos envolvia temas sugeridos pelos eleitores através da internet e versava sobre educação, saúde e segurança. Acabaram sendo os temas principais de todo o debate. Outros pontos agregados a estes e que ganharam algum destaque foram emprego, desenvolvimento industrial e reforma agrária.
“Foi um debate morno que versou sobre temas corriqueiros. As regras engessadas não favoreciam a luta de ideias. Parecia um debate de candidatos a prefeitos. As grandes questões nacionais não apareceram, não houve polêmicas sobre as questões de fundo da sociedade brasileira, não ficaram nitidamente demarcadas as ideais-força da campanha”, opinou José Reinaldo Carvalho, secretário nacional de Comunicação do PCdoB, após o debate.
SUS x mutirões / APAE x professores / Latifúndio x agricultura familiar
O que mais se aproximou de uma grande polêmica durante o debate foi a discussão travada entre Serra e Dilma a respeito da saúde. Enquanto Dilma reafirmou diversas vezes que irá fortalecer o SUS –bandeira primordial do movimento de Saúde—Serra ficou insistindo na questão dos mutirões de saúde.
O tucano também insistiu bastante no suposto abandono das Apaes pelo governo federal, um tema de interesse restrito. Dilma rebateu o argumento do tucano e ao falar de educação deu ênfase à necessidade de investir nos professores, abrangendo um público bem mais amplo.
A petista também conseguiu encostar o adversário na parede ao tratar da geração de empregos. Mas Dilma perdeu uma ótima oportunidade de desancar Serra quando surgiram no debate os temas privatizações e o legado de FHC. Neste quesito, Serra conseguiu tirar uma casquinha dolorida da campanha adversária ao lembrar que o petista Antonio Palocci, quando foi ministro da Fazenda, “não se cansava de elogiar a política econômica do governo Fernando Henrique”.
Por outro lado, o tucano se embananou ao responder sobre indústria naval e o programa Luz para Todos. Dilma incluiu estes dois assuntos no debate numa tentativa de arrancar de Serra a admissão de que o governo Lula avançou nestes temas. E conseguiu.
Dilma também conseguiu responder bem ao candidato do PSOL e a Serra quando enfatizou a importância da agricultura familiar ao abordar o tema da reforma agrária. Mas, por outro lado, não foi muito feliz ao responder as acusações de Serra sobre aparelhamento do governo e crise nos Correios. A petista poderia, neste momento, ter sido mais objetiva, mais incisiva e mostrar a hipocrisia dos tucanos que nunca deixaram de aparelhar as estruturas governamentais que administraram, além de terem sucateado empresas estratégicas para depois privatizá-las.
Nesta sexta-feira (6), haverá ampla repercussão do debate, com cada opinante tentando puxar a sardinha pro lado de seu candidato. Mas numa avaliação todos terão que concordar: Dilma revelou que não é o poste que a mídia e a oposição pintavam e Serra perdeu a oportunidade de se mostrar como “o mais preparado”.
Além disso, a partir de agora, cai por terra a acusação recorrente de que a candidata de Lula foge do debate. Dilma não fugiu deste, saiu maior do que entrou no primeiro confronto e espera-se que nos próximos debates os temas de maior relevância e polêmica deixem claro para os brasileiros quem é a representante do avanço e quem representa o atraso.
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O primeiro debate entre os candidatos às eleições presidenciais de 2010, ocorrido na noite desta quinta-feira (5) na TV Bandeirantes, confirmou um prognóstico feito pelo presidente Lula: o de que a oposição perderia seu último trunfo ao apostar num desempenho ruim da candidata petista Dilma Rousseff. Ao contrário do que previam a oposição e setores da mídia, Dilma, apesar do nervosismo típico de estreante, foi bem, e, assim, ajudou a desmontar mais uma lenda criada pelos oposicionistas.
Primeiro debate entre os quatro principais presidenciáveis teve pouca audiência e não abordou grandes polêmicas, mas serviu para testar cada um dos candidatos. Antes da campanha começar, os adversários da ex-ministra espalhavam, sobretudo em blogs na internet, que Serra iria “estralhaçar” Dilma nos debates. Definitivamente, o tucano não chegou nem perto desse objetivo.
Baixa audiência
O debate da Band é o primeiro de uma série de quatro eventos do mesmo gênero que devem ocorrer na TV aberta. Os outros três debates do primeiro turno devem ser os da RedeTV (12 de setembro), Record (28 de agosto) e Globo (30 de agosto).
Concorrendo com a semifinal da Copa Libertadores, o debate da Bandeirantes patinou na audiência. Durante as mais de duas horas de transmissão do confronto entre os candidatos, a emissora alcançou, no máximo, 5,5 pontos de audiência, empatando em quarto lugar com a Rede TV!. Na média, a audiência do debate ficou bem abaixo disso: 1,8 a 1,9 pontos. A Globo, que transmitiu o jogo entre São Paulo e Inter teve uma média de 36,9 pontos. A média da Record foi de 7,4, segundo levantamento Ibope. Os números consolidados devem ser divulgados na manhã de hoje.
O debate foi mediado pelo jornalista Ricardo Boechat. No total, 210 jornalistas compareceram para cobrir o evento, que também foi transmitido ao vivo pela Rádio Bandeirantes e teve cobertura online em vários portais e redes sociais.
Acompanharam os presidenciáveis no primeiro debate: Indio da Costa (DEM), candidato a vice na chapa de José Serra, Michel Temer (PMDB), vice de Dilma Rousseff, Guilherme Leal (PV), vice de Marina Silva, José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT, Sérgio Guerra, presidente do PSDB; a primeira-dama Marisa Letícia, esposa do presidente Lula; os candidatos paulistas Geraldo Alckmin, Aloísio Mercadante, Aloysio Nunes, Orestes Quércia, Netinho de Paula, Marta Suplicy, e o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, entre outros.
Oportunidade perdida para Serra
Serra entrou no debate com a missão de vencer e comprovar que sua "experiência" faria a diferença. Mas não deu muito certo. Pelo contrário, o tucano mostrou-se perdido em vários momentos, fugiu de polêmicas, não teve coragem de repetir os ataques à sua principal adversária como vinha fazendo dias antes e mostrou menos “conteúdo” do que seus aliados esperavam. A comprovação de que as coisas não foram muito felizes para a oposição pode ser medida pela reação do marqueteiro de Serra, Luiz Gonzalez, que saiu dos estúdios da Band com cara de poucos amigos.
Por mais que seus apoiadores entupam a internet com “avaliações” que tentam desqualificar a oratória de Dilma e enaltecer o “preparo” de Serra, foi o tucano quem protagonizou mais momentos constrangedores durante o debate. Por duas vezes, Serra teve que pedir que repetissem a pergunta para ele, pois não estava prestando atenção. Ficou circulando de um lado para outro (as câmeras não mostraram, mas na internet a informação foi muito enfatizada), esqueceu o que estava dizendo em dois momentos e ao elencar três órgãos do corpo humano que representariam os temas educação, saúde e segurança, escolheu o “intestino” para representar um deles.
Tanto Dilma quanto Serra extrapolaram no tempo de algumas respostas e tiveram o áudio de seus microfones cortados.
Treinamentos melhoraram desempenho de Dilma
Elegante, com uma blusa branca rendada, Dilma chegou sorridente aos estúdios da Band e saiu um pouco apreensiva, mas revelando confiança no próprio desempenho.
A candidata petista entrou no primeiro debate eleitoral de sua vida sem o compromisso de “vencer” o confronto. O comando da campanha esperava dela, apenas, que não cometesse erros graves. E ela cumpriu este objetivo. Não brilhou, como gostariam alguns de seus apoiadores. Atrapalhou-se em algumas respostas, mas certamente saiu do debate maior do que entrou.
Dilma dedicou-se, nos últimos dias, a se preparar para o evento. Revisou informações e números do governo, teve aulas de oratória e, com isso, conseguiu superar sua conhecida dificuldade de falar em público. Quem já teve a oportunidade de ver a performance sofrível de Dilma em eventos públicos pré-campanha sabe que no debate desta quinta-feira a ex-ministra se superou e melhorou bastante. Apesar do nervosismo visível, não deixou pergunta sem resposta, apresentou dados concretos, foi feliz na defesa das conquistas do governo Lula e na demonstração de que continuará sua obra. Transmitiu confiança na determinação de combater a pobreza e fomentar o progresso do Brasil. E, o mais importante, soube explorar bandeiras e temas que são do interesse da maioria dos brasileiros como emprego, direitos sociais, Luz para Todos, defesa do SUS, agricultura familiar.
Nas declarações finais, Dilma fez um discurso bem construído, enfático e levemente emocional, como recomendam os especialistas em marketing político. Lembrou de mencionar o protagonismo das mulheres na política e enalteceu as mudanças promovidas pelo governo Lula.
Plínio acende, Marina apaga
Os outros participantes do debate, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Marina Silva (PV) cumpriram o papel que parece estar destinado a eles nestas eleições: o de coadjuvantes numa disputa plebiscitária entre o campo progressista representado por Dilma e pelo atual governo e o campo da direita, representado por Serra e pela aliança demo-tucana que governou o país durante os dois mandatos de FHC.
Sem ter nada a perder, o candidato do PSOL soltou-se. Logo no início, questionou o isolamento que a mídia promove contra os candidatos de pequenos partidos. Com uma postura despojada e tiradas irônicas, Plínio conseguiu aparecer, agradou ao público jovem que acompanhava o debate pela internet e seu nome acabou alçado ao Trending Topics do Twitter. Plínio foi responsável pelos poucos momentos divertidos do debate, como quando chamou Marina de “ecocapitalista” e José Serra de “hipocondríaco”. Mas se o despojamento trazido por Plínio neste primeiro debate soou como novidade e trouxe alguma graça ao tom morno do encontro, não se pode garantir que nos próximos debates, esta postura continuará agradando. Ela não será mais novidade e se exagerar no tom seu comportamento pode acabar sendo interpretado como grosseiro e arrogante, traços de personalidade que os eleitores rejeitam fortemente. Seja como for, o radicalismo de sua plataforma de governo deve barrar qualquer chance do candidato do PSOL deslanchar nas pesquisas ou mesmo alcançar o patamar conquistado por Heloisa Helena em 2006.
Marina Silva, por sua vez, manteve uma postura acanhada, conciliadora demais –tentando agradar governo e oposição-- o que não permitiu que ela se destacasse no debate. Em alguns momentos, a candidata do PV serviu apenas de ponte para uma tabelinha amistosa com Dilma e Serra e, para surpresa de muitos, Marina acabou travando embate mais ríspido com Plínio, do PSOL, partido que, no início da corrida eleitoral cogitou apoiar a senadora acriana.
Utilizando um discurso muito protocolar, cansativo, e abordando temas de pouco interesse geral, a ex-ministra do Meio Ambiente não empolgou e caso mantenha essa toada será muito difícil para ela alcançar o objetivo de se transformar numa “terceira via” competitiva nestas eleições.
Grandes temas ficaram de fora
A primeira pergunta feita aos candidatos envolvia temas sugeridos pelos eleitores através da internet e versava sobre educação, saúde e segurança. Acabaram sendo os temas principais de todo o debate. Outros pontos agregados a estes e que ganharam algum destaque foram emprego, desenvolvimento industrial e reforma agrária.
“Foi um debate morno que versou sobre temas corriqueiros. As regras engessadas não favoreciam a luta de ideias. Parecia um debate de candidatos a prefeitos. As grandes questões nacionais não apareceram, não houve polêmicas sobre as questões de fundo da sociedade brasileira, não ficaram nitidamente demarcadas as ideais-força da campanha”, opinou José Reinaldo Carvalho, secretário nacional de Comunicação do PCdoB, após o debate.
SUS x mutirões / APAE x professores / Latifúndio x agricultura familiar
O que mais se aproximou de uma grande polêmica durante o debate foi a discussão travada entre Serra e Dilma a respeito da saúde. Enquanto Dilma reafirmou diversas vezes que irá fortalecer o SUS –bandeira primordial do movimento de Saúde—Serra ficou insistindo na questão dos mutirões de saúde.
O tucano também insistiu bastante no suposto abandono das Apaes pelo governo federal, um tema de interesse restrito. Dilma rebateu o argumento do tucano e ao falar de educação deu ênfase à necessidade de investir nos professores, abrangendo um público bem mais amplo.
A petista também conseguiu encostar o adversário na parede ao tratar da geração de empregos. Mas Dilma perdeu uma ótima oportunidade de desancar Serra quando surgiram no debate os temas privatizações e o legado de FHC. Neste quesito, Serra conseguiu tirar uma casquinha dolorida da campanha adversária ao lembrar que o petista Antonio Palocci, quando foi ministro da Fazenda, “não se cansava de elogiar a política econômica do governo Fernando Henrique”.
Por outro lado, o tucano se embananou ao responder sobre indústria naval e o programa Luz para Todos. Dilma incluiu estes dois assuntos no debate numa tentativa de arrancar de Serra a admissão de que o governo Lula avançou nestes temas. E conseguiu.
Dilma também conseguiu responder bem ao candidato do PSOL e a Serra quando enfatizou a importância da agricultura familiar ao abordar o tema da reforma agrária. Mas, por outro lado, não foi muito feliz ao responder as acusações de Serra sobre aparelhamento do governo e crise nos Correios. A petista poderia, neste momento, ter sido mais objetiva, mais incisiva e mostrar a hipocrisia dos tucanos que nunca deixaram de aparelhar as estruturas governamentais que administraram, além de terem sucateado empresas estratégicas para depois privatizá-las.
Nesta sexta-feira (6), haverá ampla repercussão do debate, com cada opinante tentando puxar a sardinha pro lado de seu candidato. Mas numa avaliação todos terão que concordar: Dilma revelou que não é o poste que a mídia e a oposição pintavam e Serra perdeu a oportunidade de se mostrar como “o mais preparado”.
Além disso, a partir de agora, cai por terra a acusação recorrente de que a candidata de Lula foge do debate. Dilma não fugiu deste, saiu maior do que entrou no primeiro confronto e espera-se que nos próximos debates os temas de maior relevância e polêmica deixem claro para os brasileiros quem é a representante do avanço e quem representa o atraso.
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Governo financia as serpentes da mídia
Reproduzo entrevista concedida ao jornalista André Cintra e publicada no sítio Vermelho:
Na segunda parte de sua entrevista ao Vermelho, o jornalista Altamiro Borges, o Miro, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, critica o boicote do Poder Público ao 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. “Da mesma forma como financia a Veja e a Globo - e geralmente se financiam serpentes -, o governo deve financiar um encontro de blogueiros”, cobra Miro, que é membro da Comissão Organizadora do Encontro.
“Esperamos que o próximo governo seja mais corajoso e resolva ajudar essa mídia que está sendo construída”, afirma. “Na campanha, todos os candidatos falam e investem em mídias sociais. Na hora de contribuir, fogem de medo.”
Qual é a expectativa de público para o encontro?
As inscrições estão crescendo. Até a manhã desta segunda-feira (2), já eram 210 inscritos. Trabalhávamos com a ideia de 300 participantes, mas pode ocorrer um bom problema - que é estourar essa estimativa. Até agora, a notícia do encontro saiu nos blogs, e nós nem demos prazos de inscrição. Só agora fechamos uma data-limite, que é 13 de agosto, e brasileiro adora se inscrever no final do prazo.
Segunda coisa: a ideia é atingir a juventude, e só agora é que estão saindo os materiais de divulgação para as faculdades de jornalismo. A UJS (União da Juventude Socialista) se comprometeu a ajudar na panfletagem. O Barão de Itararé também tem o contato de sete faculdades de jornalismo de São Paulo. A Ivana Bentes, diretora de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), deu um toque hoje de que vai fazer esse agito por lá. Aqui em São Paulo, o Dennis Oliveira faz o agito na USP, e o Igor Fuser, na Cásper Líbero.
Além disso tudo, o estudante de jornalismo não precisa pagar nem meia-entrada - só a quinta. O valor da inscrição é de R$ 100, mas a turma foi muito boazinha com os estudantes, que pagam só R$ 20. Como as aulas estão retomando agora, ao mesmo tempo em que saem os banners e o hotsite do Encontro, acho que o público pode passar dos 300 participantes - e aí teremos um bom problema: o local previsto, o Sindicato dos Engenheiros, não comporta 300. Por isso é que já reservamos um outro local.
Por que o foco na juventude, nos estudantes?
É obrigação nossa levar essa discussão para as faculdades — que talvez não estejam muito antenadas com esse debate sobre a democratização das comunicações. A maior parte dos alunos quer se formar para ser William Bonner e Fátima Bernardes. Só que não há espaço para formar mil “Willians” e “Fátimas” por ano - a família Marinho já tem os dois.
Comunicação não é qualquer mercadoria. O jornalismo tem um compromisso ético, com a sociedade, e essa juventude é que vai fazer o jornalismo no futuro. Ou a gente chega às faculdades, ou a Globo vai chegar lá - ela até já tem cursos para isso. É preciso trabalhar com essa moçada, com a formação delas. Muita gente tem vontade e espírito positivo, quer contribuir com a informação, com o bom jornalismo. Precisamos acompanhá-las desde o início.
Quem financia o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas? Como funciona a promoção “Amigos da Blogosfera”?
Como esse encontro não tem o apoio institucional de nenhum governo, tivemos de ir atrás do apoio das entidades da sociedade civil. Criamos a cota de patrocínio - de R$ 3 mil por entidade. Até agora, estamos com 14 cotas — nosso objetivo é atingir 20. O que já temos de apoiadores são entidades sindicais e veículos de comunicação alternativa.
Entre os veículos, temos, por exemplo, Conversa Afiada, Vi o Mundo, Carta Maior, Revista Fórum e Revista do Brasil. Da área sindical, procuramos as seis centrais. Três já compraram cotas - CUT, CTB e CGTB. As outras ficaram de dar resposta. Outras entidades também entraram, como o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que é ligado à CUT, e a Federação dos Químicos de São Paulo, filiada à Força. Está bastante plural.
Saindo o hotsite do encontro, a ideia é abrir o “Amigos da Blogosfera”, para permitir contribuições individuais. Tem gente que já se inscreveu no Encontro e disse: “Além da minha inscrição, quero dar um a mais, um plus”.
A Comissão Organizadora pretende bancar todos os custos dos participantes?
Temos de garantir uma estrutura para essa turma participar. O objetivo do patrocínio é garantir hospedagem para todo mundo — ninguém vai dormir na sarjeta da Ipiranga com a São João. Queremos garantir também a refeição e, em caso excepcionais, a viagem do blogueiro para São Paulo - caso ele realmente não tenha como bancar essa despesa. Sabemos das dificuldades desse movimento.
Qual é a realidade da maioria dos blogueiros hoje?
A situação do blogueiro é muito complicada. Contam-se nos dedos de uma mão os blogs que já conseguiram uma estrutura de autossustentação. O blogueiro, o grosso deles, é um militante virtual. Mesmo estando com outro emprego ou não estando com emprego nenhum, ele faz desse espaço de expressão uma militância - e não recebe nada.
Pegue o caso do Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania. É um pequeno empresário que se preocupou com a manipulação da mídia e resolveu produzir textos. Além de não ganhar dinheiro com o blog, ele acaba é perdendo. Com o tempo que se dedica para fazer seus belos artigos, ele deixa de fazer negócios. É um ato de heroísmo e coragem. Ele é um puta militante, um baita militante.
Isso é um pouco da realidade. Tem blogueiro que está morando na casa de mãe, porque não tem grana. Tem blogueiro que está cheio de processo nas costas, como o menino de Santa Catarina que denunciou o filho do Sérgio Sirotsky, do grupo RBS, de ter cometido estupro.
Vocês ainda esperam alguma algum apoio do poder público para bancar o encontro?
Esperamos que, na próxima edição - no 2º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas -, o governo federal tome vergonha e veja que a blogosfera é uma forma de mídia. Da mesma forma como financia a Veja e a Globo - e geralmente se financiam serpentes -, o governo deve financiar um encontro de blogueiros.
Houve o encontro do Instituto Millenium (o reacionário Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, em São Paulo, no dia 1º de março). É uma entidade que só reúne empresários - o Basile, da Abril; os Marinho, da Globo; a Judith Brito, da Folha... Só estão lá os grandes, e eles têm apoio público. Por que os blogueiros - que também são cidadãos e pagam seus impostos - não podem ter apoio? É um absurdo.
Esperamos que o próximo governo seja mais corajoso e resolva ajudar essa mídia que está sendo construída. Mas é que todos eles têm medo desse poder. Na campanha, todos os candidatos falam e investem em mídias sociais. Na hora de contribuir, fogem de medo.
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Na segunda parte de sua entrevista ao Vermelho, o jornalista Altamiro Borges, o Miro, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, critica o boicote do Poder Público ao 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. “Da mesma forma como financia a Veja e a Globo - e geralmente se financiam serpentes -, o governo deve financiar um encontro de blogueiros”, cobra Miro, que é membro da Comissão Organizadora do Encontro.
“Esperamos que o próximo governo seja mais corajoso e resolva ajudar essa mídia que está sendo construída”, afirma. “Na campanha, todos os candidatos falam e investem em mídias sociais. Na hora de contribuir, fogem de medo.”
Qual é a expectativa de público para o encontro?
As inscrições estão crescendo. Até a manhã desta segunda-feira (2), já eram 210 inscritos. Trabalhávamos com a ideia de 300 participantes, mas pode ocorrer um bom problema - que é estourar essa estimativa. Até agora, a notícia do encontro saiu nos blogs, e nós nem demos prazos de inscrição. Só agora fechamos uma data-limite, que é 13 de agosto, e brasileiro adora se inscrever no final do prazo.
Segunda coisa: a ideia é atingir a juventude, e só agora é que estão saindo os materiais de divulgação para as faculdades de jornalismo. A UJS (União da Juventude Socialista) se comprometeu a ajudar na panfletagem. O Barão de Itararé também tem o contato de sete faculdades de jornalismo de São Paulo. A Ivana Bentes, diretora de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), deu um toque hoje de que vai fazer esse agito por lá. Aqui em São Paulo, o Dennis Oliveira faz o agito na USP, e o Igor Fuser, na Cásper Líbero.
Além disso tudo, o estudante de jornalismo não precisa pagar nem meia-entrada - só a quinta. O valor da inscrição é de R$ 100, mas a turma foi muito boazinha com os estudantes, que pagam só R$ 20. Como as aulas estão retomando agora, ao mesmo tempo em que saem os banners e o hotsite do Encontro, acho que o público pode passar dos 300 participantes - e aí teremos um bom problema: o local previsto, o Sindicato dos Engenheiros, não comporta 300. Por isso é que já reservamos um outro local.
Por que o foco na juventude, nos estudantes?
É obrigação nossa levar essa discussão para as faculdades — que talvez não estejam muito antenadas com esse debate sobre a democratização das comunicações. A maior parte dos alunos quer se formar para ser William Bonner e Fátima Bernardes. Só que não há espaço para formar mil “Willians” e “Fátimas” por ano - a família Marinho já tem os dois.
Comunicação não é qualquer mercadoria. O jornalismo tem um compromisso ético, com a sociedade, e essa juventude é que vai fazer o jornalismo no futuro. Ou a gente chega às faculdades, ou a Globo vai chegar lá - ela até já tem cursos para isso. É preciso trabalhar com essa moçada, com a formação delas. Muita gente tem vontade e espírito positivo, quer contribuir com a informação, com o bom jornalismo. Precisamos acompanhá-las desde o início.
Quem financia o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas? Como funciona a promoção “Amigos da Blogosfera”?
Como esse encontro não tem o apoio institucional de nenhum governo, tivemos de ir atrás do apoio das entidades da sociedade civil. Criamos a cota de patrocínio - de R$ 3 mil por entidade. Até agora, estamos com 14 cotas — nosso objetivo é atingir 20. O que já temos de apoiadores são entidades sindicais e veículos de comunicação alternativa.
Entre os veículos, temos, por exemplo, Conversa Afiada, Vi o Mundo, Carta Maior, Revista Fórum e Revista do Brasil. Da área sindical, procuramos as seis centrais. Três já compraram cotas - CUT, CTB e CGTB. As outras ficaram de dar resposta. Outras entidades também entraram, como o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que é ligado à CUT, e a Federação dos Químicos de São Paulo, filiada à Força. Está bastante plural.
Saindo o hotsite do encontro, a ideia é abrir o “Amigos da Blogosfera”, para permitir contribuições individuais. Tem gente que já se inscreveu no Encontro e disse: “Além da minha inscrição, quero dar um a mais, um plus”.
A Comissão Organizadora pretende bancar todos os custos dos participantes?
Temos de garantir uma estrutura para essa turma participar. O objetivo do patrocínio é garantir hospedagem para todo mundo — ninguém vai dormir na sarjeta da Ipiranga com a São João. Queremos garantir também a refeição e, em caso excepcionais, a viagem do blogueiro para São Paulo - caso ele realmente não tenha como bancar essa despesa. Sabemos das dificuldades desse movimento.
Qual é a realidade da maioria dos blogueiros hoje?
A situação do blogueiro é muito complicada. Contam-se nos dedos de uma mão os blogs que já conseguiram uma estrutura de autossustentação. O blogueiro, o grosso deles, é um militante virtual. Mesmo estando com outro emprego ou não estando com emprego nenhum, ele faz desse espaço de expressão uma militância - e não recebe nada.
Pegue o caso do Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania. É um pequeno empresário que se preocupou com a manipulação da mídia e resolveu produzir textos. Além de não ganhar dinheiro com o blog, ele acaba é perdendo. Com o tempo que se dedica para fazer seus belos artigos, ele deixa de fazer negócios. É um ato de heroísmo e coragem. Ele é um puta militante, um baita militante.
Isso é um pouco da realidade. Tem blogueiro que está morando na casa de mãe, porque não tem grana. Tem blogueiro que está cheio de processo nas costas, como o menino de Santa Catarina que denunciou o filho do Sérgio Sirotsky, do grupo RBS, de ter cometido estupro.
Vocês ainda esperam alguma algum apoio do poder público para bancar o encontro?
Esperamos que, na próxima edição - no 2º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas -, o governo federal tome vergonha e veja que a blogosfera é uma forma de mídia. Da mesma forma como financia a Veja e a Globo - e geralmente se financiam serpentes -, o governo deve financiar um encontro de blogueiros.
Houve o encontro do Instituto Millenium (o reacionário Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, em São Paulo, no dia 1º de março). É uma entidade que só reúne empresários - o Basile, da Abril; os Marinho, da Globo; a Judith Brito, da Folha... Só estão lá os grandes, e eles têm apoio público. Por que os blogueiros - que também são cidadãos e pagam seus impostos - não podem ter apoio? É um absurdo.
Esperamos que o próximo governo seja mais corajoso e resolva ajudar essa mídia que está sendo construída. Mas é que todos eles têm medo desse poder. Na campanha, todos os candidatos falam e investem em mídias sociais. Na hora de contribuir, fogem de medo.
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quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Blogueiros: inscrições até 13 de agosto
Reproduzo importante matéria de Conceição Lemes, integrante da comissão organizadora do encontro de blogueiros (*):
Desde que começaram as inscrições para o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, a pergunta que a Danielle Penha, do Centro de Estudos Barão de Itararé, mais responde é esta: “Não sou blogueiro, posso participar?”
Evidentemente que sim. Blogueiros consagrados, iniciantes ou aspirantes, leitores, comentaristas, tuiteiros. Todos serão muito bem-vindos. Afinal, o objetivo de todos nós é o mesmo: contribuir para a democratização dos meios de comunicação e fortalecer as mídias alternativas.
“Já temos 230 inscritos de 18 unidades da federação”, informa Danielle. “Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.”
O Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, a Altercom e o MSM (Movimento dos Sem Mídia) são as entidades que apóiam institucionalmente o evento.
Importante. As inscrições vão até dia 13 de agosto devido à logística necessária para receber participantes de outros estados do Brasil e do interior de São Paulo.
Elas custam 100 reais. Estudantes de Comunicação pagam 20. Basta enviar e-mail para este endereço: contato@baraodeitarare.org.br Ou telefonar para (011)3054-1829 .
Conta para depósito de inscrições e cotas
O depósito do valor referente às inscrições e às cotas dos Amigos da Blogosfera deve ser feito na seguinte conta:
Banco do Brasil
Ag. 4300-1
C/C. 50141-7
Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
CNPJ. 12.250.292/0001-08 (é necessário, caso a transferência seja eletrônica)
Por favor, envie o comprovante por e-mail para contato@baraodeitarare.org.br ou via fax para (011) 3054-1848. Escreva no documento o nome do inscrito.
Já são 19 os Amigos da Blogosfera
Continua a todo o vapor a campanha Amigos da Blogosfera, para ajudará a custear parte das despesas de blogueiros que virão de outros estados.
As cotas custam 3 mil reais. Estas 19 estão confirmadas:
Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo)
CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil)
CUT (Central Única dos Trabalhadores) nacional
CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
Federação Nacional dos Urbanitários (FNU)
Federação dos Químicos de São Paulo
Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo
Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo)
Agência T1
Café Azul
Carta Capital
Carta Maior
Conversa Afiada
Revista do Brasil
Revista Fórum
Seja Dita a Verdade
Viomundo
* Comissão Organizadora: Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, Luis Nassif, Altamiro Borges, Conceição Lemes, Eduardo Guimarães, Conceição Oliveira, Rodrigo Vianna, Renato Rovai e Diego Casaes.
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Desde que começaram as inscrições para o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, a pergunta que a Danielle Penha, do Centro de Estudos Barão de Itararé, mais responde é esta: “Não sou blogueiro, posso participar?”
Evidentemente que sim. Blogueiros consagrados, iniciantes ou aspirantes, leitores, comentaristas, tuiteiros. Todos serão muito bem-vindos. Afinal, o objetivo de todos nós é o mesmo: contribuir para a democratização dos meios de comunicação e fortalecer as mídias alternativas.
“Já temos 230 inscritos de 18 unidades da federação”, informa Danielle. “Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.”
O Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, a Altercom e o MSM (Movimento dos Sem Mídia) são as entidades que apóiam institucionalmente o evento.
Importante. As inscrições vão até dia 13 de agosto devido à logística necessária para receber participantes de outros estados do Brasil e do interior de São Paulo.
Elas custam 100 reais. Estudantes de Comunicação pagam 20. Basta enviar e-mail para este endereço: contato@baraodeitarare.org.br Ou telefonar para (011)3054-1829 .
Conta para depósito de inscrições e cotas
O depósito do valor referente às inscrições e às cotas dos Amigos da Blogosfera deve ser feito na seguinte conta:
Banco do Brasil
Ag. 4300-1
C/C. 50141-7
Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
CNPJ. 12.250.292/0001-08 (é necessário, caso a transferência seja eletrônica)
Por favor, envie o comprovante por e-mail para contato@baraodeitarare.org.br ou via fax para (011) 3054-1848. Escreva no documento o nome do inscrito.
Já são 19 os Amigos da Blogosfera
Continua a todo o vapor a campanha Amigos da Blogosfera, para ajudará a custear parte das despesas de blogueiros que virão de outros estados.
As cotas custam 3 mil reais. Estas 19 estão confirmadas:
Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo)
CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil)
CUT (Central Única dos Trabalhadores) nacional
CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
Federação Nacional dos Urbanitários (FNU)
Federação dos Químicos de São Paulo
Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo
Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo)
Agência T1
Café Azul
Carta Capital
Carta Maior
Conversa Afiada
Revista do Brasil
Revista Fórum
Seja Dita a Verdade
Viomundo
* Comissão Organizadora: Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, Luis Nassif, Altamiro Borges, Conceição Lemes, Eduardo Guimarães, Conceição Oliveira, Rodrigo Vianna, Renato Rovai e Diego Casaes.
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O que espero do encontro de blogueiros?
Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:
A nossa é uma organização declaradamente mambembe. Nossa sede provisória é o Sujinho, restaurante na Consolação, em São Paulo. Quando decidimos vender cotas de patrocínio, com o objetivo de bancar parcialmente a hospedagem, os descontos em passagens e outros pequenos gastos do evento, cada um foi atrás dos contatos que tinha à mão. Até agora tem sido um esforço abertamente colaborativo, bem com a cara da rede: cada um ajuda do jeito que pode. Nada teria sido possível sem a capacidade do Altamiro Borges de agregar pessoas tão diversas e a tenacidade da Conceição Lemes, a nos cobrar prazos e tarefas.
Escrevo em meu nome e é importante que isso fique claro: a blogosfera é muito diversa e é difícil encontrar dois blogueiros que concordem absolutamente sobre um único tema. Por isso, quem imagina que os 200 blogueiros já inscritos vão se submeter a algum tipo de controle, de comando centralizado ou de “ordens superiores” decididamente não conhece a blogosfera.
Como um dos idealizadores do encontro, digo que defendemos mais democracia (não menos) e mais mídia (nunca menos).
Acho importante que os blogueiros se conheçam pessoalmente, para trocar telefones, e-mails, ideias e experiencias.
Acho importante que se discuta a viabilidade comercial da blogosfera, que será tema de uma das mesas (no encontro, pretendo propor que se forme um consórcio de blogs para vender “páginas vistas” conjuntamente às agências).
Acho importante que aqueles que sabem como fazê-lo ajudem os demais a aumentar a audìência de seus espaços, a aproveitar melhor as redes sociais, a fazer vídeos (temas que serão tratados de forma específica).
Acho importante que a gente debata as ameaças já existentes à blogosfera (como a possibilidade de que sejam criados “pedágios” na rede, privilegiando certos conteúdos em detrimento de outros).
Não é muito, mas já é alguma coisa.
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A nossa é uma organização declaradamente mambembe. Nossa sede provisória é o Sujinho, restaurante na Consolação, em São Paulo. Quando decidimos vender cotas de patrocínio, com o objetivo de bancar parcialmente a hospedagem, os descontos em passagens e outros pequenos gastos do evento, cada um foi atrás dos contatos que tinha à mão. Até agora tem sido um esforço abertamente colaborativo, bem com a cara da rede: cada um ajuda do jeito que pode. Nada teria sido possível sem a capacidade do Altamiro Borges de agregar pessoas tão diversas e a tenacidade da Conceição Lemes, a nos cobrar prazos e tarefas.
Escrevo em meu nome e é importante que isso fique claro: a blogosfera é muito diversa e é difícil encontrar dois blogueiros que concordem absolutamente sobre um único tema. Por isso, quem imagina que os 200 blogueiros já inscritos vão se submeter a algum tipo de controle, de comando centralizado ou de “ordens superiores” decididamente não conhece a blogosfera.
Como um dos idealizadores do encontro, digo que defendemos mais democracia (não menos) e mais mídia (nunca menos).
Acho importante que os blogueiros se conheçam pessoalmente, para trocar telefones, e-mails, ideias e experiencias.
Acho importante que se discuta a viabilidade comercial da blogosfera, que será tema de uma das mesas (no encontro, pretendo propor que se forme um consórcio de blogs para vender “páginas vistas” conjuntamente às agências).
Acho importante que aqueles que sabem como fazê-lo ajudem os demais a aumentar a audìência de seus espaços, a aproveitar melhor as redes sociais, a fazer vídeos (temas que serão tratados de forma específica).
Acho importante que a gente debata as ameaças já existentes à blogosfera (como a possibilidade de que sejam criados “pedágios” na rede, privilegiando certos conteúdos em detrimento de outros).
Não é muito, mas já é alguma coisa.
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A crise existencial do Instituto Millenium
Por Altamiro Borges
O jornalista Luis Nassif, sempre bem informado e com trânsito no meio empresarial, informou no final de julho que o Instituto Millenium, que agrega poderosas empresas e o que há de mais conservador na política brasileira, atravessa uma grave “crise de identidade”. Ela teria eclodido após a realização do seminário sobre “liberdade de expressão”, ocorrido em março passado, que foi protagonizado por famosos colunistas da mídia golpista e muitos artistas globais.
O evento teria explicitado a ligação do instituto com a oposição de direita. Entre os convidados, “Roberto Romano, Jabor, Demétrio Magnoli, Reinaldo Azevedo, Eurípedes Alcântara, Otávio Frias Filho e Roberto Civita. Só. Começa o seminário, a ultradireita fez a festa... Conclamaram à guerra, sem direito de resposta aos inimigos (adversários é termo brando)... Só faltou saírem em passeata com grandes bandeiras medievais, daquelas que a TFP gostava de desfraldar”.
“Saia justa com seus patrocinadores”
Mas a reação ao evento foi imediata, principalmente na blogosfera. “O mínimo que se falou do Millenium é que ele seria o novo IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), uma das organizações que conspirou em 1964. Explodiu uma crise entre os patrocinadores... Depois de botar fogo no terreiro, cada artista voltou para seu canto, deixando o Instituto Millenium numa enorme saia justa com seus patrocinadores e com uma enorme crise de identidade”, relata.
Diplomático, Nassif até tenta relativizar os intentos do sinistro instituto. “Bancado por grandes empresários, com um fundo gerido pelo Armínio Fraga, destinava-se a propagar as virtudes da livre iniciativa - ponto importante no debate nacional. Aí foram na conversa de uns espertos e decidiram montar o seminário”. Ao final, ele inclusive faz um alerta. “Espero que o Millenium recupere sua proposta original. E um pouquinho de pluralidade não lhe faria mal algum”.
Golpismo está no seu DNA
Discordo do amigo Nassif. Não acredito na reversão deste instituto, que já nasceu com o projeto de ser um centro do pensamento conservador e um organismo aglutinador do que há de mais reacionário no Brasil. O golpismo está no seu DNA. Criado em 2006, ele é presidido por Patrícia Andrade, filha do falecido jornalista Evandro Carlos de Andrade, um dos mentores da Central Globo de Jornalismo, ex-analista dos bancos Icatu e JPMorgan e uma das signatárias do risível “manifesto contra a ditadura esquerdista na mídia”, escrito pelo fascistóide Olavo de Carvalho.
O Millenium não tem nada de neutro ou plural. É controlado pelas corporações empresariais. Entre os mantenedores estão Jorge Gerdau, o barão da siderurgia, Sergio Foguel, da Odebrecht, Pedro Henrique Mariani, do Banco BBM, Salim Mattar, do grupo Localiza, e Marcos Amaro, da TAM. O gestor do seu fundo patrimonial é Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco Central no reinado neoliberal de FHC. Os barões da mídia comandam a entidade. Entre os dez principais mantenedores estão João Roberto Marinho, das Organizações Globo, e Roberto Civita, do Abril.
Sucessão presidencial e pragmatismo
A “crise de identidade” do Instituto Millenium reflete as dificuldades da oposição de direita na sucessão presidencial. No seminário de março, o objetivo maior foi unificar o discurso da mídia hegemônica contra a candidatura Dilma Rousseff. Mas, até agora, a mídia demotucana não está conseguindo abalar a popularidade do presidente Lula nem impedir a sua transferência de votos. Pragmáticos, alguns empresários já temem o futuro e repensam seus “patrocínios”. Talvez seja melhor para os seus negócios se afastarem de um instituto abertamente golpista e de oposição.
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O jornalista Luis Nassif, sempre bem informado e com trânsito no meio empresarial, informou no final de julho que o Instituto Millenium, que agrega poderosas empresas e o que há de mais conservador na política brasileira, atravessa uma grave “crise de identidade”. Ela teria eclodido após a realização do seminário sobre “liberdade de expressão”, ocorrido em março passado, que foi protagonizado por famosos colunistas da mídia golpista e muitos artistas globais.
O evento teria explicitado a ligação do instituto com a oposição de direita. Entre os convidados, “Roberto Romano, Jabor, Demétrio Magnoli, Reinaldo Azevedo, Eurípedes Alcântara, Otávio Frias Filho e Roberto Civita. Só. Começa o seminário, a ultradireita fez a festa... Conclamaram à guerra, sem direito de resposta aos inimigos (adversários é termo brando)... Só faltou saírem em passeata com grandes bandeiras medievais, daquelas que a TFP gostava de desfraldar”.
“Saia justa com seus patrocinadores”
Mas a reação ao evento foi imediata, principalmente na blogosfera. “O mínimo que se falou do Millenium é que ele seria o novo IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), uma das organizações que conspirou em 1964. Explodiu uma crise entre os patrocinadores... Depois de botar fogo no terreiro, cada artista voltou para seu canto, deixando o Instituto Millenium numa enorme saia justa com seus patrocinadores e com uma enorme crise de identidade”, relata.
Diplomático, Nassif até tenta relativizar os intentos do sinistro instituto. “Bancado por grandes empresários, com um fundo gerido pelo Armínio Fraga, destinava-se a propagar as virtudes da livre iniciativa - ponto importante no debate nacional. Aí foram na conversa de uns espertos e decidiram montar o seminário”. Ao final, ele inclusive faz um alerta. “Espero que o Millenium recupere sua proposta original. E um pouquinho de pluralidade não lhe faria mal algum”.
Golpismo está no seu DNA
Discordo do amigo Nassif. Não acredito na reversão deste instituto, que já nasceu com o projeto de ser um centro do pensamento conservador e um organismo aglutinador do que há de mais reacionário no Brasil. O golpismo está no seu DNA. Criado em 2006, ele é presidido por Patrícia Andrade, filha do falecido jornalista Evandro Carlos de Andrade, um dos mentores da Central Globo de Jornalismo, ex-analista dos bancos Icatu e JPMorgan e uma das signatárias do risível “manifesto contra a ditadura esquerdista na mídia”, escrito pelo fascistóide Olavo de Carvalho.
O Millenium não tem nada de neutro ou plural. É controlado pelas corporações empresariais. Entre os mantenedores estão Jorge Gerdau, o barão da siderurgia, Sergio Foguel, da Odebrecht, Pedro Henrique Mariani, do Banco BBM, Salim Mattar, do grupo Localiza, e Marcos Amaro, da TAM. O gestor do seu fundo patrimonial é Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco Central no reinado neoliberal de FHC. Os barões da mídia comandam a entidade. Entre os dez principais mantenedores estão João Roberto Marinho, das Organizações Globo, e Roberto Civita, do Abril.
Sucessão presidencial e pragmatismo
A “crise de identidade” do Instituto Millenium reflete as dificuldades da oposição de direita na sucessão presidencial. No seminário de março, o objetivo maior foi unificar o discurso da mídia hegemônica contra a candidatura Dilma Rousseff. Mas, até agora, a mídia demotucana não está conseguindo abalar a popularidade do presidente Lula nem impedir a sua transferência de votos. Pragmáticos, alguns empresários já temem o futuro e repensam seus “patrocínios”. Talvez seja melhor para os seus negócios se afastarem de um instituto abertamente golpista e de oposição.
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Prazo final para o encontro dos blogueiros
Reproduzo matéria publicada no sítio do Barão de Itararé:
Já estão abertas as inscrições para o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Marcado para os dias 21 e 22 de agosto, em São Paulo, o encontro deve reunir cerca de 300 pessoas — entre blogueiros, tuiteiros, jornalistas, estudantes de comunicação e outros segmentos interessados na luta pela democratização da mídia.
A taxa de inscrição - de R$ 100 - garante participação em todas as atividades da programação e no show de abertura, em 20 de agosto, com o grupo de chorinho do jornalista Luis Nassif. Estudantes universitários têm desconto promocional e pagam apenas R$ 20. As inscrições vão até 13 de agosto.
Para se inscrever, siga os procedimentos abaixo
– Efetue o depósito de R$ 100 (R$ 20 para estudantes), referente à taxa de inscrição, na conta do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé (Banco do Brasil, Agência 4300-1, Conta Corrente 50141-7);
– Encaminhe o comprovante do depósito para o e-mail contato@baraodeitarare.org.br ou para o fax (11) 3054-1848, aos cuidados de Danielle Penha. Informe também seus dados (nome ou nicknane, e-mail, endereço de blog, Twitter ou outra rede social, telefone, cidade e estado);
– Se o seu pedido de inscrição não for confirmado em até dois dias, entre em contato com Danielle Penha no telefone (11) 3054-1829;
– Caso precise de transporte aéreo, aproveite a promoção especial da Gol, que oferece 20% de desconto na compra da passagem (ida e volta) para o encontro. A compra pode ser feita por telefone, no número (11) 5508-4201, ou via internet, através do link http://gol.directtalk.com.br/clientes/custom/voegol/eventos_pax/init_pax.htm. O código da promoção é E10840SP. Preencha todas as informações e clique em entrar. Você será redirecionado para um chat, que é por onde comprará sua passagem. Antes de entrar no chat, consulte as opções disponíveis de horários de voo e de aeroportos;
– Acompanhe as novidades do encontro no site do Barão de Itararé (www.baraodeitarare.org.br).
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Já estão abertas as inscrições para o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Marcado para os dias 21 e 22 de agosto, em São Paulo, o encontro deve reunir cerca de 300 pessoas — entre blogueiros, tuiteiros, jornalistas, estudantes de comunicação e outros segmentos interessados na luta pela democratização da mídia.
A taxa de inscrição - de R$ 100 - garante participação em todas as atividades da programação e no show de abertura, em 20 de agosto, com o grupo de chorinho do jornalista Luis Nassif. Estudantes universitários têm desconto promocional e pagam apenas R$ 20. As inscrições vão até 13 de agosto.
Para se inscrever, siga os procedimentos abaixo
– Efetue o depósito de R$ 100 (R$ 20 para estudantes), referente à taxa de inscrição, na conta do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé (Banco do Brasil, Agência 4300-1, Conta Corrente 50141-7);
– Encaminhe o comprovante do depósito para o e-mail contato@baraodeitarare.org.br ou para o fax (11) 3054-1848, aos cuidados de Danielle Penha. Informe também seus dados (nome ou nicknane, e-mail, endereço de blog, Twitter ou outra rede social, telefone, cidade e estado);
– Se o seu pedido de inscrição não for confirmado em até dois dias, entre em contato com Danielle Penha no telefone (11) 3054-1829;
– Caso precise de transporte aéreo, aproveite a promoção especial da Gol, que oferece 20% de desconto na compra da passagem (ida e volta) para o encontro. A compra pode ser feita por telefone, no número (11) 5508-4201, ou via internet, através do link http://gol.directtalk.com.br/clientes/custom/voegol/eventos_pax/init_pax.htm. O código da promoção é E10840SP. Preencha todas as informações e clique em entrar. Você será redirecionado para um chat, que é por onde comprará sua passagem. Antes de entrar no chat, consulte as opções disponíveis de horários de voo e de aeroportos;
– Acompanhe as novidades do encontro no site do Barão de Itararé (www.baraodeitarare.org.br).
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O fortalecimento da mídia progressista
Reproduzo editorial do sítio Carta Maior:
O 1° Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que será realizado de 20 a 22 de agosto, em São Paulo, representa mais um passo importante na luta pela construção de um sistema democrático de comunicação no Brasil. Até o dia 2 de agosto, mais de 200 pessoas já tinham se inscrito para participar do encontro que conta com o apoio do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom) e do Movimento dos Sem Mídia (MSM).
A Carta Maior saúda e apóia a iniciativa do evento e destaca o acúmulo que vem sendo construído nos últimos anos na direção do fortalecimento das mídias alternativas no Brasil. Vale a pena fazer uma rápida retrospectiva desse processo.
Em março de 2008, um encontro realizado em São Paulo reuniu 42 jornalistas, estudantes, professores e outras pessoas que atuam na área da comunicação, de diferentes regiões do país. Entre outras questões, discutiu-se o avanço do movimento de comunicação da mídia alternativa em todo o país. Nascia ali a idéia de realizar um encontro nacional para aprofundar esse debate. Após uma série de reuniões e articulações regionais, em junho do mesmo ano foi realizado no Rio de Janeiro o 1° Fórum de Mídia Livre. O encontro que teve lugar no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro reuniu cerca de 500 ativistas de vários estados, confirmando a crescente rejeição à ditadura dos grandes meios de comunicação e a existência de ricas experiências alternativas e independentes em todo o país.
De lá para cá, essa articulação só se fortaleceu. No final de 2009, a realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) deu concretude e forma política às articulações que vinham sendo construídas no setor. Entendendo que seus interesses não são representados ou defendidos pelas associações atualmente existentes, pequenos e médios empresários e empreendedores de mídia (revistas, jornais, livros, sites e blogs) começaram a debater a idéia de criar sua própria entidade. Após uma série de encontros e reuniões preparatórias, um seminário realizado dia 27 de fevereiro de 2010, em São Paulo, definiu a criação da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom).
A nova entidade nasceu com o objetivo de defender interesses políticos e econômicos das empresas e empreendedores de comunicação comprometidos com os princípios da democratização do acesso à comunicação, da pluralidade e da liberdade de expressão. Quanto mais proprietários e empreendimentos de comunicação houver no país, maior será a liberdade de expressão: essa é uma das idéias centrais que animou a criação da Altercom, que propõe também a adoção de critérios mais transparentes e democráticos na aplicação de verbas públicas em publicidade.
As agendas de todas essas iniciativas se cruzam e são articuladas por um fio condutor comum: a compreensão de que a maioria da população brasileira não tem respeitado hoje o direito à uma informação de qualidade. O 1° Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas será mais uma oportunidade para fazer essa luta avançar.
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O 1° Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que será realizado de 20 a 22 de agosto, em São Paulo, representa mais um passo importante na luta pela construção de um sistema democrático de comunicação no Brasil. Até o dia 2 de agosto, mais de 200 pessoas já tinham se inscrito para participar do encontro que conta com o apoio do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom) e do Movimento dos Sem Mídia (MSM).
A Carta Maior saúda e apóia a iniciativa do evento e destaca o acúmulo que vem sendo construído nos últimos anos na direção do fortalecimento das mídias alternativas no Brasil. Vale a pena fazer uma rápida retrospectiva desse processo.
Em março de 2008, um encontro realizado em São Paulo reuniu 42 jornalistas, estudantes, professores e outras pessoas que atuam na área da comunicação, de diferentes regiões do país. Entre outras questões, discutiu-se o avanço do movimento de comunicação da mídia alternativa em todo o país. Nascia ali a idéia de realizar um encontro nacional para aprofundar esse debate. Após uma série de reuniões e articulações regionais, em junho do mesmo ano foi realizado no Rio de Janeiro o 1° Fórum de Mídia Livre. O encontro que teve lugar no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro reuniu cerca de 500 ativistas de vários estados, confirmando a crescente rejeição à ditadura dos grandes meios de comunicação e a existência de ricas experiências alternativas e independentes em todo o país.
De lá para cá, essa articulação só se fortaleceu. No final de 2009, a realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) deu concretude e forma política às articulações que vinham sendo construídas no setor. Entendendo que seus interesses não são representados ou defendidos pelas associações atualmente existentes, pequenos e médios empresários e empreendedores de mídia (revistas, jornais, livros, sites e blogs) começaram a debater a idéia de criar sua própria entidade. Após uma série de encontros e reuniões preparatórias, um seminário realizado dia 27 de fevereiro de 2010, em São Paulo, definiu a criação da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom).
A nova entidade nasceu com o objetivo de defender interesses políticos e econômicos das empresas e empreendedores de comunicação comprometidos com os princípios da democratização do acesso à comunicação, da pluralidade e da liberdade de expressão. Quanto mais proprietários e empreendimentos de comunicação houver no país, maior será a liberdade de expressão: essa é uma das idéias centrais que animou a criação da Altercom, que propõe também a adoção de critérios mais transparentes e democráticos na aplicação de verbas públicas em publicidade.
As agendas de todas essas iniciativas se cruzam e são articuladas por um fio condutor comum: a compreensão de que a maioria da população brasileira não tem respeitado hoje o direito à uma informação de qualidade. O 1° Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas será mais uma oportunidade para fazer essa luta avançar.
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Perguntas ao Serra no debate da Band
Reproduzo texto irreverente de Paulo Henrique Amorim, publicado no blog Conversa Afiada:
Os debates na Band são – como os outros – muito chatos.
As regras são ininteligíveis.
Prefiro quando o Galvão começa a analisar as chances do Brasil na Copa, o que o José Simão chamava de “Data-Galvão”.
Duvido que o Garrincha entendesse como a coisa funciona.
Mas, o PiG elegeu este o momento da virada.
Depois do “zero a zero” da Eliane Catanhêde, hoje à noite o Serra vai recuperar a dianteira que ele manteve no Globope e no Datafalha desde tempos imemoriais.
O Conversa Afiada defende a tese de que debate não decide eleição.
A literatura americana sobre a matéria é mais extensa do que a obra do Fernando Henrique.
Essa eleição é entre o Lula e o FHC.
Entre a sucessora do Lula e o sucessor do FHC.
Não há debate que reverta isso.
Mas, já que o PiG insiste, o Conversa Afiada resolveu participar do debate da Band e formular algumas perguntas ao candidato José Serra.
Por exemplo:
- Ricardo Sergio de Oliveira foi chefe da parte financeira de qual campanha eleitoral de que o senhor participou?
- Por que o senhor não deixou o Juiz Wálter Maierovitch seguir com a ação de Flavio Bierrembach que o acusava de ser corrupto?
- Qual o seu papel na venda do Banespa?
- Qual o seu papel na venda da Vale a preço de banana?
- O Ministro Jorge Hage, da Corregedoria da União, apurou que, sob sua responsabilidade, o Ministério da Saúde super-faturava a compra de ambulâncias. Onde foi parar o dinheiro?
- Quando o senhor foi Ministro da Saúde tinha um serviço de inteligência liderado pelo hoje deputado Marcelo Itagiba. Fazia o que esse serviço?
- Qual a sua responsabilidade na operação que desmanchou a candidatura de Roseana Sarney à presidência em 2002? O Marcelo Itagiba teve nela papel proeminente.
- O senhor é o responsável pelo dossiê contra Paulo Renato de Souza e a mulher de Tasso Jereissati?
- De quem é a casa em que o senhor mora, já que o senhor não declara possuí-la?
- Por que o senhor não fechou o Denarc como sugeriu o Abadia?
- Por que o senhor não acabou com o PCC?
- Por que o senhor passou cinco minutos e não mais no Jardim Romano enquanto esteve alagado?
- Por que o senhor só construiu um quilômetro de metrô?
- Por que o senhor bate em policial e professor?
- Quais são as suas relações com Daniel Dantas? O senhor concordou em que sua filha se associasse à irmã de Dantas em Miami? O senhor contribuiu para que ela fechasse a firma em Miami?
- O senhor poderia mostrar um diploma que lhe desse o direito de dizer, no Brasil e à Justiça Eleitoral, que é engenheiro e economista?
Como diria o Zé Simão, “só estou querendo ajudar”.
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Os debates na Band são – como os outros – muito chatos.
As regras são ininteligíveis.
Prefiro quando o Galvão começa a analisar as chances do Brasil na Copa, o que o José Simão chamava de “Data-Galvão”.
Duvido que o Garrincha entendesse como a coisa funciona.
Mas, o PiG elegeu este o momento da virada.
Depois do “zero a zero” da Eliane Catanhêde, hoje à noite o Serra vai recuperar a dianteira que ele manteve no Globope e no Datafalha desde tempos imemoriais.
O Conversa Afiada defende a tese de que debate não decide eleição.
A literatura americana sobre a matéria é mais extensa do que a obra do Fernando Henrique.
Essa eleição é entre o Lula e o FHC.
Entre a sucessora do Lula e o sucessor do FHC.
Não há debate que reverta isso.
Mas, já que o PiG insiste, o Conversa Afiada resolveu participar do debate da Band e formular algumas perguntas ao candidato José Serra.
Por exemplo:
- Ricardo Sergio de Oliveira foi chefe da parte financeira de qual campanha eleitoral de que o senhor participou?
- Por que o senhor não deixou o Juiz Wálter Maierovitch seguir com a ação de Flavio Bierrembach que o acusava de ser corrupto?
- Qual o seu papel na venda do Banespa?
- Qual o seu papel na venda da Vale a preço de banana?
- O Ministro Jorge Hage, da Corregedoria da União, apurou que, sob sua responsabilidade, o Ministério da Saúde super-faturava a compra de ambulâncias. Onde foi parar o dinheiro?
- Quando o senhor foi Ministro da Saúde tinha um serviço de inteligência liderado pelo hoje deputado Marcelo Itagiba. Fazia o que esse serviço?
- Qual a sua responsabilidade na operação que desmanchou a candidatura de Roseana Sarney à presidência em 2002? O Marcelo Itagiba teve nela papel proeminente.
- O senhor é o responsável pelo dossiê contra Paulo Renato de Souza e a mulher de Tasso Jereissati?
- De quem é a casa em que o senhor mora, já que o senhor não declara possuí-la?
- Por que o senhor não fechou o Denarc como sugeriu o Abadia?
- Por que o senhor não acabou com o PCC?
- Por que o senhor passou cinco minutos e não mais no Jardim Romano enquanto esteve alagado?
- Por que o senhor só construiu um quilômetro de metrô?
- Por que o senhor bate em policial e professor?
- Quais são as suas relações com Daniel Dantas? O senhor concordou em que sua filha se associasse à irmã de Dantas em Miami? O senhor contribuiu para que ela fechasse a firma em Miami?
- O senhor poderia mostrar um diploma que lhe desse o direito de dizer, no Brasil e à Justiça Eleitoral, que é engenheiro e economista?
Como diria o Zé Simão, “só estou querendo ajudar”.
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Jornal Nacional retira Lula do noticiário
Reproduzo artigo de Emerson Luis, publicado no blog “Nas retinas”:
É evidente o esforço do Jornal Nacional para evitar que a candidata Dilma Roussef seja reconhecida pelo público como a candidata do presidente Lula. À medida que Lula aparece ao lado de Dilma, sua popularidade se cola a candidata. Um presidente com mais de 80% de aprovação popular pode sim impulsionar seu sucessor, apesar da mídia brasileira não querer e agora cobrar do presidente imparcialidade nas eleições.
Para atacar o presidente, espalhando preconceitos, a mídia não o trata como o titular do mais alto cargo público do país. Basta lembrar o bando de cachorros loucos que o entrevistou no Roda Viva em 2005, durante a mais grave crise de seu governo.
Recebi de profissionais de mídia, especializados em clipping e acompanhamento de telejornais, tabelas comparativas que mostram como o Jornal Nacional está limando Lula do noticiário em 2010 enquanto em outros jornais, a média de aparições do presidente muda pouco. Isso não é falta de pauta relevante, pois os outros jornais continuam com cobertura frequente dos atos da Presidência.
Em junho de 2010 Lula teve quatro citações no JN Nacional contra nove em 2009. Em julho foram três em 2010 contra 13 em 2009. Aqui você pode baixar a planilhas de visibilidade do PR nos telejornais. E aqui baixe a tabela padrão de discordância do JN. Veja explicação mais detalhada dos dois arquivos:
De janeiro a julho de 2009, o presidente Lula apareceu falando no JN 57 vezes. No mesmo período deste ano, foram 44. Uma redução acima de 20%. No entanto, se descontarmos as sonoras relacionadas ao Irã, que foram 12 no período, aqueda seria de 44%, perto da metade. Na comparação apenas dos dois meses mais recentes, a diferença é impressionante:
– junho de 2009, nove sonoras do Lula no JN (mais de duas por semana);
– junho de 2010, quatro sonoras (uma por semana);
– julho de 2009, 13 sonoras (mais de três por semana);
– julho de 2010, apenas três sonoras (menos de uma por semana).
Na comparação com os principais telejornais das emissoras concorrrentes (Planilha 2) o JN está sempre abaixo da média, mas a divergência mais grosseira ocorre nos últimos quatro meses, tirando maio, quando o assunto Irã distrorceu a curva. Em abril, as sonoras do presidente no JN estão 60% abaixo da média (0,40), em junho, cai para 64% abaixo da média (0,36) e em julho para 77% abaixo da média (0,23).
Dito de outra forma, tirando os meses com distorção do noticiário sobre Irã (março e maio), o JN vinha dando uma sonora do presidente a cada quatro ou cinco edições do telejornal. Em abril e junho, vai para uma a cada 6,5 edições. Em julho, vai para uma a cada nove edições. No mesmo período, os demais telejornais analisados fizeram praticamente o caminho inverso, aumentando a frequência das sonoras do presidente: Repórter Brasil – de uma sonora a cada 2,5 edições em janeiro para uma a cada dois em julho; Jornal da Record – de uma a cada cinco em janeiro para uma a cada 1,6 em julho; Band – de 3,1 para 1,7 e SBT de 4,2 para 1,8.
Na Planilha 1 tem um estudo comparado de mais de 600 matérias ou notas noticiadas pelos telejornais analisados. A cor vermelha indica uma matéria com sonora do presidente, a amarela uma matéria ou nota em que ele é mencionado como protagonista, mas não há sonora, a azul é quando a nota ou matéria só faz referência a ele e a cinza indica que o telejornal não deu nenhuma informação sobre o assunto noticiado nos demais.
Em 24 ocasiões entre janeiro e julho, o JN usou um critério jornalístico que subavaliou o assunto em relação a todos os demais. Destes 24 casos, destacamos 15 exemplos berrantes, que estão na tabela de padrão de discordância e falam por si mesmos.
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É evidente o esforço do Jornal Nacional para evitar que a candidata Dilma Roussef seja reconhecida pelo público como a candidata do presidente Lula. À medida que Lula aparece ao lado de Dilma, sua popularidade se cola a candidata. Um presidente com mais de 80% de aprovação popular pode sim impulsionar seu sucessor, apesar da mídia brasileira não querer e agora cobrar do presidente imparcialidade nas eleições.
Para atacar o presidente, espalhando preconceitos, a mídia não o trata como o titular do mais alto cargo público do país. Basta lembrar o bando de cachorros loucos que o entrevistou no Roda Viva em 2005, durante a mais grave crise de seu governo.
Recebi de profissionais de mídia, especializados em clipping e acompanhamento de telejornais, tabelas comparativas que mostram como o Jornal Nacional está limando Lula do noticiário em 2010 enquanto em outros jornais, a média de aparições do presidente muda pouco. Isso não é falta de pauta relevante, pois os outros jornais continuam com cobertura frequente dos atos da Presidência.
Em junho de 2010 Lula teve quatro citações no JN Nacional contra nove em 2009. Em julho foram três em 2010 contra 13 em 2009. Aqui você pode baixar a planilhas de visibilidade do PR nos telejornais. E aqui baixe a tabela padrão de discordância do JN. Veja explicação mais detalhada dos dois arquivos:
De janeiro a julho de 2009, o presidente Lula apareceu falando no JN 57 vezes. No mesmo período deste ano, foram 44. Uma redução acima de 20%. No entanto, se descontarmos as sonoras relacionadas ao Irã, que foram 12 no período, aqueda seria de 44%, perto da metade. Na comparação apenas dos dois meses mais recentes, a diferença é impressionante:
– junho de 2009, nove sonoras do Lula no JN (mais de duas por semana);
– junho de 2010, quatro sonoras (uma por semana);
– julho de 2009, 13 sonoras (mais de três por semana);
– julho de 2010, apenas três sonoras (menos de uma por semana).
Na comparação com os principais telejornais das emissoras concorrrentes (Planilha 2) o JN está sempre abaixo da média, mas a divergência mais grosseira ocorre nos últimos quatro meses, tirando maio, quando o assunto Irã distrorceu a curva. Em abril, as sonoras do presidente no JN estão 60% abaixo da média (0,40), em junho, cai para 64% abaixo da média (0,36) e em julho para 77% abaixo da média (0,23).
Dito de outra forma, tirando os meses com distorção do noticiário sobre Irã (março e maio), o JN vinha dando uma sonora do presidente a cada quatro ou cinco edições do telejornal. Em abril e junho, vai para uma a cada 6,5 edições. Em julho, vai para uma a cada nove edições. No mesmo período, os demais telejornais analisados fizeram praticamente o caminho inverso, aumentando a frequência das sonoras do presidente: Repórter Brasil – de uma sonora a cada 2,5 edições em janeiro para uma a cada dois em julho; Jornal da Record – de uma a cada cinco em janeiro para uma a cada 1,6 em julho; Band – de 3,1 para 1,7 e SBT de 4,2 para 1,8.
Na Planilha 1 tem um estudo comparado de mais de 600 matérias ou notas noticiadas pelos telejornais analisados. A cor vermelha indica uma matéria com sonora do presidente, a amarela uma matéria ou nota em que ele é mencionado como protagonista, mas não há sonora, a azul é quando a nota ou matéria só faz referência a ele e a cinza indica que o telejornal não deu nenhuma informação sobre o assunto noticiado nos demais.
Em 24 ocasiões entre janeiro e julho, o JN usou um critério jornalístico que subavaliou o assunto em relação a todos os demais. Destes 24 casos, destacamos 15 exemplos berrantes, que estão na tabela de padrão de discordância e falam por si mesmos.
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O direito de criticar a mídia
Reproduzo artigo de Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa:
A pergunta da hora é... Como conciliar crítica dos meios de comunicação com liberdade de expressão? É que no debate forjado nos últimos meses pelos grandes jornais e revistas do país não vemos espaço para a crítica ao seu modelo de fazer jornalismo.
Não demora muito e ficará estabelecida a percepção de que somente a grande imprensa pode chamar a si o direito de julgar entre o que é crítica legítima aos meios de comunicação e o que não passa de ataque à liberdade de expressão e, no extremo, de disfarçada defesa do controle social da mídia. Ou seja, a liberdade de imprensa passa a ser tutelada exclusivamente por aqueles que defendem a sua "não tutela", seja pelo Estado, seja por outros atores sociais.
Seguindo esta linha de pensamento, podemos inferir que, mesmo sem ser explicitada, a grande imprensa passa a ser de fato a única dona desta preciosa liberdade. E é aqui que o perigo mora. Isto porque a crítica à imprensa, ou a qualquer outra instituição, atividade profissional ou o que seja, encontra amplo respaldo em nosso ordenamento democrático.
A quem interessa interditar o debate?
Por que podemos criticar o sistema educacional do país, e não os meios de comunicação?
Por que podemos criticar o sistema de saúde, e não a imprensa?
Por que podemos criticar os governantes, os parlamentares e os que operam o sistema judiciário, mas não os veículos de comunicação?
Por que nos é permitido debater os modelos econômicos mais adequados ao desenvolvimento do Brasil e devemos nos fechar em copas ante qualquer debate sobre os modelos informativos vigentes no país?
Questionar nosso sistema de comunicação, analisar criteriosamente suas propostas, criticar o tipo de entretenimento que nos é oferecido e, ainda mais, propor mudanças saudáveis para sua gestão, está muito longe de configurar cerceamento à liberdade de qualquer pessoa ou de qualquer instituição. Precisamos admitir que a liberdade de opinar é de todos e a ninguém é concedido o direito de se apropriar deste direito em detrimento dos demais. Menos ainda deveriam se considerar privilegiados enquanto se autodefinem como guardiães profissionais do direito de expressão.
Por que não debatemos a questão do monopólio dos meios midiáticos no Brasil? A quem interessa interditar o debate? Não sabemos, então, que quanto maior a concentração da propriedade dos meios de comunicação, menor é a possibilidade de que se veiculem expressões múltiplas e plurais nos meios de comunicação?
Poucos falam, muitos se calam
Na medida em que as universidades, as organizações não-governamentais, os sindicatos e outros atores sociais tenham acesso a frequências de rádio e de televisão, será dado o passo inicial para se combater de forma eficiente a formação de novos monopólios no negócio chamado comunicação.
Outro tema que merece ser debatido é o que trata da publicidade governamental. Há que se buscar critérios claros e transparentes sobre o que merece constar como atividade oficial, paga com dinheiro de nossos impostos. É óbvio que é necessário que o governo divulgue suas ações. Mas existe uma distância abissal entre divulgar uma campanha de vacinação infantil e divulgar números favoráveis da economia em período eleitoral. A publicidade governamental não pode ser simplesmente guiada por critérios de êxito comercial, pois isto aprofunda ainda mais as assimetrias ora existentes e que favorecem amplamente os grandes anunciantes em detrimento da utilização de outros meios.
Como o leitor pode ver, não faltam temas para azeitar uma pauta de debates que envolva a sociedade como um todo e que tem tudo a ver com a presente questão de liberdade de expressão, onde uns poucos dizem o que isso significa e outros tantos não
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A pergunta da hora é... Como conciliar crítica dos meios de comunicação com liberdade de expressão? É que no debate forjado nos últimos meses pelos grandes jornais e revistas do país não vemos espaço para a crítica ao seu modelo de fazer jornalismo.
Não demora muito e ficará estabelecida a percepção de que somente a grande imprensa pode chamar a si o direito de julgar entre o que é crítica legítima aos meios de comunicação e o que não passa de ataque à liberdade de expressão e, no extremo, de disfarçada defesa do controle social da mídia. Ou seja, a liberdade de imprensa passa a ser tutelada exclusivamente por aqueles que defendem a sua "não tutela", seja pelo Estado, seja por outros atores sociais.
Seguindo esta linha de pensamento, podemos inferir que, mesmo sem ser explicitada, a grande imprensa passa a ser de fato a única dona desta preciosa liberdade. E é aqui que o perigo mora. Isto porque a crítica à imprensa, ou a qualquer outra instituição, atividade profissional ou o que seja, encontra amplo respaldo em nosso ordenamento democrático.
A quem interessa interditar o debate?
Por que podemos criticar o sistema educacional do país, e não os meios de comunicação?
Por que podemos criticar o sistema de saúde, e não a imprensa?
Por que podemos criticar os governantes, os parlamentares e os que operam o sistema judiciário, mas não os veículos de comunicação?
Por que nos é permitido debater os modelos econômicos mais adequados ao desenvolvimento do Brasil e devemos nos fechar em copas ante qualquer debate sobre os modelos informativos vigentes no país?
Questionar nosso sistema de comunicação, analisar criteriosamente suas propostas, criticar o tipo de entretenimento que nos é oferecido e, ainda mais, propor mudanças saudáveis para sua gestão, está muito longe de configurar cerceamento à liberdade de qualquer pessoa ou de qualquer instituição. Precisamos admitir que a liberdade de opinar é de todos e a ninguém é concedido o direito de se apropriar deste direito em detrimento dos demais. Menos ainda deveriam se considerar privilegiados enquanto se autodefinem como guardiães profissionais do direito de expressão.
Por que não debatemos a questão do monopólio dos meios midiáticos no Brasil? A quem interessa interditar o debate? Não sabemos, então, que quanto maior a concentração da propriedade dos meios de comunicação, menor é a possibilidade de que se veiculem expressões múltiplas e plurais nos meios de comunicação?
Poucos falam, muitos se calam
Na medida em que as universidades, as organizações não-governamentais, os sindicatos e outros atores sociais tenham acesso a frequências de rádio e de televisão, será dado o passo inicial para se combater de forma eficiente a formação de novos monopólios no negócio chamado comunicação.
Outro tema que merece ser debatido é o que trata da publicidade governamental. Há que se buscar critérios claros e transparentes sobre o que merece constar como atividade oficial, paga com dinheiro de nossos impostos. É óbvio que é necessário que o governo divulgue suas ações. Mas existe uma distância abissal entre divulgar uma campanha de vacinação infantil e divulgar números favoráveis da economia em período eleitoral. A publicidade governamental não pode ser simplesmente guiada por critérios de êxito comercial, pois isto aprofunda ainda mais as assimetrias ora existentes e que favorecem amplamente os grandes anunciantes em detrimento da utilização de outros meios.
Como o leitor pode ver, não faltam temas para azeitar uma pauta de debates que envolva a sociedade como um todo e que tem tudo a ver com a presente questão de liberdade de expressão, onde uns poucos dizem o que isso significa e outros tantos não
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A volta da Telebrás e o sorriso de Biondi
Reproduzo artigo de Antonio Lassance, publicado no sítio Carta Maior:
A Telebrás está de volta. Desde o dia 3 de agosto, ela retornou às operações. Seus antigos funcionários foram reconvocados e têm pela frente o desafio de reerguer a empresa, demonstrar a excelência do serviço público e, mais especificamente, implementar o Plano Nacional de Banda Larga.
Quando se informou que a Telebrás seria reativada, houve uma grita geral de algumas empresas telefonia e um ataque feroz da mídia tradicional. Ressuscitar a estatal foi tratado como verdadeira heresia. Na crítica mais amena, um disparate.
A volta da Telebrás não apenas provocou a ira do liberalismo como representou uma derrota amarga, pois incidiu no setor que até hoje é apresentado como modelo do processo de privatização e das benesses dele decorrentes. O tratamento dado ao tema mais uma vez foi acometido de uma patologia crônica, apontada por diversos estudiosos da mídia: a falta de contextualização ou mesmo a descontextualização de um assunto.
Uma falta de contextualização primária esteve na ausência de um diagnóstico sobre o setor, que sabidamente oferece serviços caros e de péssima qualidade. Suas empresas são campeãs de reclamações de usuários e de ações junto aos órgãos de defesa do consumidor.
Outra falta de contextualização, ainda mais importante, está em que poucos se deram ao trabalho de trazer à tona a história da Telebrás e de seu processo de privatização. Lacuna curiosa, pois, afinal, a quem interessaria relembrar tal passado? Resposta: interessaria à maioria das pessoas, aos que têm e aos que não têm acesso aos serviços de telecomunicação.
Até hoje, a melhor forma de contar essa história e travar a batalha da memória contra o esquecimento é revisitar o livro de Aloysio Biondi, “O Brasil privatizado: um balanço do desmonte do Estado”. O livro teve sua primeira edição em 1999. Sua 11ª edição se encontra disponível, gentil e gratuitamente, no site da Editora Fundação Perseu Abramo.
Biondi, como se sabe, foi um monstro sagrado do jornalismo brasileiro, grande mestre do jornalismo econômico. Faleceu há 10 anos (em julho de 2000). “O Brasil privatizado” abria seu capítulo “As estatais: sacos sem fundo?” justamente falando da Telebrás. Biondi relembrava que, entre 1996 e 1997, a empresa teve um salto de 250% em seu lucro, desmentindo categoricamente a mensagem fabricada de que as estatais só davam prejuízo. No livro que tornou-se um clássico para a compreensão sobre o que fizeram com o Brasil nos anos 90, Biondi contextualizava que tanto os prejuízos quanto os lucros das estatais tinham sido fabricados para atender a interesses muito bem identificados.
Dizia ele: “Os prejuízos que o achatamento de tarifas e preços trouxe para as estatais teve efeitos que o consumidor conhece bem: nesses períodos, elas ficaram sem dinheiro para investir e ampliar serviços. Explicam-se, assim, as filas de espera para os telefones, ou as constantes ameaças de ‘apagões’ no sistema de eletricidade. Ou, dito de outra forma: não é verdade que os serviços das estatais tenham se deteriorado por ‘incompetência’. Como também é mentira que ‘o Estado perdeu sua capacidade de investir’, como diz a campanha dos privatizantes. O que houve foi uma política econômica absurda, que sacrificou as estatais”.
Lembrava ainda de uma decisão incrível: em 1989, um decreto do presidente da República proibia o BNDE (hoje BNDES) de realizar empréstimos a empresas estatais.
Biondi era um “antifukuyama”. Só para lembrar, Fukuyama foi um dos garotos propagandas do neoliberalismo, muito badalado durante o governo Reagan, autor de uma tese espalhafatosa sobre o “fim da história” e da vitória do capitalismo sobre tudo e sobre todos. Hoje, se alguém fizer um Google sobre os “francis” existentes na face da Terra, Fukuyama sequer aparece nas sugestões do motor de busca. Fica atrás de Francis Bacon, Francis Ford Copola, Francisco Cuoco e Francisco Alves. Indício de que quem corre o risco de desaparecer é o próprio Fukuyama.
Enfim, Biondi desmentia a tese do fim da história, mostrando que a moda era tentar “cancelar” a história. Contextualizava a esdrúxula decisão que proibia o BNDES de financiar empresas estatais lembrando ter sido ele criado, no governo Juscelino Kubitschek, “exatamente com o objetivo de fornecer recursos para a execução de projetos de infra-estrutura, que exigem desembolso de bilhões e bilhões – e precisam de alguns anos para sua execução”.
A memória do texto de Biondi é mais uma vez útil a um momento em que o BNDES também se tornou alvo de ataques violentos e virulentos à gestão de Luciano Coutinho, veja só, por fazer exatamente aquilo para o qual o banco existe: levantar investimentos e fazer financiamentos.
Biondi também usou o exemplo da Telebrás para relembrar uma diferença básica do setor público em relação ao privado: além de prestar serviços, as estatais deveriam ser utilizadas com o objetivo de justiça social. Tais empresas não têm como objetivo fundamental o lucro, nem têm como sina acumular prejuízos. Seu objetivo fundamental é garantir o atendimento à população em serviços essenciais. O fato de que muitas vezes acumularam prejuízos, além das malversações que acompanharam algumas de suas gestões, decorria das condições de desigualdade do país. A pobreza criava um obstáculo sério ao modelo de negócio de muitas estatais. Milhões de brasileiros excluídos do mercado interno de massas por um modelo de desenvolvimento excludente não tinham como contratar serviços em níveis que garantissem a rentabilidade de certas empresas estatais.
Por isso, na atual situação do país, de expansão acelerada do mercado interno de massas, de ascensão de um contingente expressivo de pessoas à classe média e da tendência de crescimento da economia, do emprego e da renda dos brasileiros, o discurso contra as estatais está obsoleto. É como o relógio quebrado que homenageia a nostalgia e a ostentação, mas é incapaz de fornecer uma informação correta.
As estatais, diante do novo quadro econômico, já podem se dar ao luxo de serem extremamente lucrativas. Mas estão longe de constituir uma ameaça ao setor privado. Elas podem atuar em atividades nas quais empresas privadas têm demonstrado dificuldades crônicas em dar conta do recado ou, como no caso da Petrobrás, podem funcionar como grandes alavancas do crescimento econômico, responsáveis por irrigar inúmeras cadeias produtivas que sequer existiam, ou que haviam sido desativadas.
Passados dez anos desde que perdemos Aloysio Biondi, tem-se a exata dimensão da importância daquilo que ele nos mostrou e de sua contribuição para reverter a cegueira que tomava conta do País. Me arrisco a dizer que, se vivo estivesse, o autor daquele texto célebre e indignado estaria tomado por um sorriso satisfeito com a volta dos elefantes. Até porque, “três elefantes incomodam, incomodam…. incomodam muito mais”.
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A Telebrás está de volta. Desde o dia 3 de agosto, ela retornou às operações. Seus antigos funcionários foram reconvocados e têm pela frente o desafio de reerguer a empresa, demonstrar a excelência do serviço público e, mais especificamente, implementar o Plano Nacional de Banda Larga.
Quando se informou que a Telebrás seria reativada, houve uma grita geral de algumas empresas telefonia e um ataque feroz da mídia tradicional. Ressuscitar a estatal foi tratado como verdadeira heresia. Na crítica mais amena, um disparate.
A volta da Telebrás não apenas provocou a ira do liberalismo como representou uma derrota amarga, pois incidiu no setor que até hoje é apresentado como modelo do processo de privatização e das benesses dele decorrentes. O tratamento dado ao tema mais uma vez foi acometido de uma patologia crônica, apontada por diversos estudiosos da mídia: a falta de contextualização ou mesmo a descontextualização de um assunto.
Uma falta de contextualização primária esteve na ausência de um diagnóstico sobre o setor, que sabidamente oferece serviços caros e de péssima qualidade. Suas empresas são campeãs de reclamações de usuários e de ações junto aos órgãos de defesa do consumidor.
Outra falta de contextualização, ainda mais importante, está em que poucos se deram ao trabalho de trazer à tona a história da Telebrás e de seu processo de privatização. Lacuna curiosa, pois, afinal, a quem interessaria relembrar tal passado? Resposta: interessaria à maioria das pessoas, aos que têm e aos que não têm acesso aos serviços de telecomunicação.
Até hoje, a melhor forma de contar essa história e travar a batalha da memória contra o esquecimento é revisitar o livro de Aloysio Biondi, “O Brasil privatizado: um balanço do desmonte do Estado”. O livro teve sua primeira edição em 1999. Sua 11ª edição se encontra disponível, gentil e gratuitamente, no site da Editora Fundação Perseu Abramo.
Biondi, como se sabe, foi um monstro sagrado do jornalismo brasileiro, grande mestre do jornalismo econômico. Faleceu há 10 anos (em julho de 2000). “O Brasil privatizado” abria seu capítulo “As estatais: sacos sem fundo?” justamente falando da Telebrás. Biondi relembrava que, entre 1996 e 1997, a empresa teve um salto de 250% em seu lucro, desmentindo categoricamente a mensagem fabricada de que as estatais só davam prejuízo. No livro que tornou-se um clássico para a compreensão sobre o que fizeram com o Brasil nos anos 90, Biondi contextualizava que tanto os prejuízos quanto os lucros das estatais tinham sido fabricados para atender a interesses muito bem identificados.
Dizia ele: “Os prejuízos que o achatamento de tarifas e preços trouxe para as estatais teve efeitos que o consumidor conhece bem: nesses períodos, elas ficaram sem dinheiro para investir e ampliar serviços. Explicam-se, assim, as filas de espera para os telefones, ou as constantes ameaças de ‘apagões’ no sistema de eletricidade. Ou, dito de outra forma: não é verdade que os serviços das estatais tenham se deteriorado por ‘incompetência’. Como também é mentira que ‘o Estado perdeu sua capacidade de investir’, como diz a campanha dos privatizantes. O que houve foi uma política econômica absurda, que sacrificou as estatais”.
Lembrava ainda de uma decisão incrível: em 1989, um decreto do presidente da República proibia o BNDE (hoje BNDES) de realizar empréstimos a empresas estatais.
Biondi era um “antifukuyama”. Só para lembrar, Fukuyama foi um dos garotos propagandas do neoliberalismo, muito badalado durante o governo Reagan, autor de uma tese espalhafatosa sobre o “fim da história” e da vitória do capitalismo sobre tudo e sobre todos. Hoje, se alguém fizer um Google sobre os “francis” existentes na face da Terra, Fukuyama sequer aparece nas sugestões do motor de busca. Fica atrás de Francis Bacon, Francis Ford Copola, Francisco Cuoco e Francisco Alves. Indício de que quem corre o risco de desaparecer é o próprio Fukuyama.
Enfim, Biondi desmentia a tese do fim da história, mostrando que a moda era tentar “cancelar” a história. Contextualizava a esdrúxula decisão que proibia o BNDES de financiar empresas estatais lembrando ter sido ele criado, no governo Juscelino Kubitschek, “exatamente com o objetivo de fornecer recursos para a execução de projetos de infra-estrutura, que exigem desembolso de bilhões e bilhões – e precisam de alguns anos para sua execução”.
A memória do texto de Biondi é mais uma vez útil a um momento em que o BNDES também se tornou alvo de ataques violentos e virulentos à gestão de Luciano Coutinho, veja só, por fazer exatamente aquilo para o qual o banco existe: levantar investimentos e fazer financiamentos.
Biondi também usou o exemplo da Telebrás para relembrar uma diferença básica do setor público em relação ao privado: além de prestar serviços, as estatais deveriam ser utilizadas com o objetivo de justiça social. Tais empresas não têm como objetivo fundamental o lucro, nem têm como sina acumular prejuízos. Seu objetivo fundamental é garantir o atendimento à população em serviços essenciais. O fato de que muitas vezes acumularam prejuízos, além das malversações que acompanharam algumas de suas gestões, decorria das condições de desigualdade do país. A pobreza criava um obstáculo sério ao modelo de negócio de muitas estatais. Milhões de brasileiros excluídos do mercado interno de massas por um modelo de desenvolvimento excludente não tinham como contratar serviços em níveis que garantissem a rentabilidade de certas empresas estatais.
Por isso, na atual situação do país, de expansão acelerada do mercado interno de massas, de ascensão de um contingente expressivo de pessoas à classe média e da tendência de crescimento da economia, do emprego e da renda dos brasileiros, o discurso contra as estatais está obsoleto. É como o relógio quebrado que homenageia a nostalgia e a ostentação, mas é incapaz de fornecer uma informação correta.
As estatais, diante do novo quadro econômico, já podem se dar ao luxo de serem extremamente lucrativas. Mas estão longe de constituir uma ameaça ao setor privado. Elas podem atuar em atividades nas quais empresas privadas têm demonstrado dificuldades crônicas em dar conta do recado ou, como no caso da Petrobrás, podem funcionar como grandes alavancas do crescimento econômico, responsáveis por irrigar inúmeras cadeias produtivas que sequer existiam, ou que haviam sido desativadas.
Passados dez anos desde que perdemos Aloysio Biondi, tem-se a exata dimensão da importância daquilo que ele nos mostrou e de sua contribuição para reverter a cegueira que tomava conta do País. Me arrisco a dizer que, se vivo estivesse, o autor daquele texto célebre e indignado estaria tomado por um sorriso satisfeito com a volta dos elefantes. Até porque, “três elefantes incomodam, incomodam…. incomodam muito mais”.
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Crianças irritam Serra: "Lula, Lula"
Serra e Alckmin visitam colégio em Heliópolis, na capital paulista, mas esbarram na sinceridade das criancinhas. O professor ainda dá um pito, mas o vexame já havia se consumado. O demotucano ainda vai cortar o pulso!
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Movimento Salve a TV Cultura
Reproduzo importante conclamação do jornalista Luis Nassif, publicado em seu blog:
Não tenho por hábito estimular movimentos de mobilização pela Internet. Mas esse caso da TV Cultura não pode ficar assim.
Não é possível que o trabalho de gerações de paulistas, que a tradição criada por Roberto Muylaert seja destruída pela postura imperial de um presidente indicado pelo governo do Estado. Não se pode deixar João Sayad promover esse desmonte.
Montou-se um Conselho supostamente representativo da sociedade civil paulista, mas que só tem servido para sancionar decisões que partem do governo do Estado.
Nos últimos anos, a TV Cultura foi uma caixa preta. Apesar de indícios veementes de irregularidades, o conselho passou ao largo da gestão Marcos Mendonça. A blindagem proporcionada pela mídia a todos os atos de governo garantiu esse silêncio atroz, um pacto de cumplicidade naquele que deveria ser o Estado por excelência da afirmação da sociedade civil.
Há diversas funções das mais relevantes a serem cumpridas pela TV Cultura. Há uma cultura paulista espalhada por todo o Estado à espera de divulgação, há novas gerações de músicos aguardando espaço, há uma discussão ampla sobre os rumos do estado e do país. Como emissora pública, a TV Cultura teria espaço para prestar serviços a órgãos públicos – como já faz -, tem facilidade para captar recursos pela Lei Rouanet. Poderia se montar um trabalho amplo de mobilização junto às empresas paulistas.
Poderia ser o veículo por excelência das Secretarias da Educação, da Cultura, da Gestão. Mas nas vezes em que se ensaiou essa parceria, foi apenas para validar negócios de ONGs controladas por aliados políticos.
Todo esse potencial é deixado de lado pela postura fácil do desmonte.
Fica aqui a sugestão para a criação de um Movimento Salve a TV Cultura. O Blog ficará à disposição dos que tiverem propostas, ideias e mobilização para essa empreitada que é questão de honra para São Paulo.
Coloque no seu Twitter o hashtag #salveaTVCultura
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Não tenho por hábito estimular movimentos de mobilização pela Internet. Mas esse caso da TV Cultura não pode ficar assim.
Não é possível que o trabalho de gerações de paulistas, que a tradição criada por Roberto Muylaert seja destruída pela postura imperial de um presidente indicado pelo governo do Estado. Não se pode deixar João Sayad promover esse desmonte.
Montou-se um Conselho supostamente representativo da sociedade civil paulista, mas que só tem servido para sancionar decisões que partem do governo do Estado.
Nos últimos anos, a TV Cultura foi uma caixa preta. Apesar de indícios veementes de irregularidades, o conselho passou ao largo da gestão Marcos Mendonça. A blindagem proporcionada pela mídia a todos os atos de governo garantiu esse silêncio atroz, um pacto de cumplicidade naquele que deveria ser o Estado por excelência da afirmação da sociedade civil.
Há diversas funções das mais relevantes a serem cumpridas pela TV Cultura. Há uma cultura paulista espalhada por todo o Estado à espera de divulgação, há novas gerações de músicos aguardando espaço, há uma discussão ampla sobre os rumos do estado e do país. Como emissora pública, a TV Cultura teria espaço para prestar serviços a órgãos públicos – como já faz -, tem facilidade para captar recursos pela Lei Rouanet. Poderia se montar um trabalho amplo de mobilização junto às empresas paulistas.
Poderia ser o veículo por excelência das Secretarias da Educação, da Cultura, da Gestão. Mas nas vezes em que se ensaiou essa parceria, foi apenas para validar negócios de ONGs controladas por aliados políticos.
Todo esse potencial é deixado de lado pela postura fácil do desmonte.
Fica aqui a sugestão para a criação de um Movimento Salve a TV Cultura. O Blog ficará à disposição dos que tiverem propostas, ideias e mobilização para essa empreitada que é questão de honra para São Paulo.
Coloque no seu Twitter o hashtag #salveaTVCultura
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Tucanos querem destruir a TV Cultura
Por Altamiro Borges
Atento observador dos bastidores da mídia, o jornalista Daniel Castrou informou hoje (dia 4), no seu blog no Portal R-7, que a TV Cultura pretende demitir 1.400 funcionários e cortar vários dos seus programas. Esta notícia bombástica confirma que o tucanato quer destruir uma das melhores experiências de TV pública do país, reconhecida mundialmente por seus programas educativos e culturais de qualidade. Desta forma, os serviçais de José Serra prestam mais um serviço sujo para as redes privadas de televisão e “pagam” por seu apoio escancarado ao candidato demotucano.
Segundo a denúncia, “com o aval do ex-governador José Serra e do atual governador, Alberto Goldman, João Sayad [que assumiu a presidência da TV Cultura em junho passado] pretende reduzir ao máximo a produção de programas e cortar o número de funcionários em quase 80%, dos atuais 1.800 para 400. Ele pensa até em vender o patrimônio da TV Cultura. Já encomendou aos advogados da emissora um estudo sobre a viabilidade de a Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV, se desfazer de seus estúdios e edifícios na Água Branca, em São Paulo”.
Processo mascarado de privatização
A grave denúncia, que não foi desmentida pela direção da emissora, confirma as suspeitas do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. A entidade já havia criticado o clima de incerteza e de perseguição que impera na TV Cultura. Na semana passada, ela divulgou nota pública em que denunciava que o governo tucano pretende alterar a função e o papel social da Fundação Padre Anchieta, num processo mascarado de privatização. A “venda” gradual da emissora pública teve início na administração de Geraldo Alckmin e foi aprofundada na gestão de José Serra.
A indicação do economista João Sayad acelerou o processo de mutação da emissora educativa numa emissora com caráter comercial. “No momento em que o Brasil busca construir uma rede pública de comunicação de qualidade, o governo de São Paulo nomeia alguém sem qualquer vínculo com a área, cuja missão parece ser dar nova cara administrativa à Fundação. Há algum tempo, já observamos que a marca de qualidade da programação vem sendo desconstruída, especialmente no jornalismo”, afirma o presidente do sindicato, José Augusto Camargo, o Guto.
Demissões, assédio moral e censura
Guto cita casos recentes para ilustrar essa desconstrução. “O Roda Viva – que era uma referência no debate político em rede nacional – sofreu um grave ataque com a demissão mal explicada do Heródoto Barbeiro. Também não entendemos o afastamento do Gabriel Priolli (ex-diretor de jornalismo da Cultura) e o fato do jornalista Paulo Markun (ex-presidente da Fundação Padre Anchieta) não ter tido apoio do governo para continuar a gestão”, acrescenta. Barbeiro e Priolli foram afastados porque se referiram aos preços abusivos dos pedágios em São Paulo.
A “privatização mascarada” estaria ocorrendo com a transferência da gestão da emissora para as falsas Organizações Sociais (OSs), entidades não governamentais ligadas aos grupos comerciais que recebem do estado para administrar os equipamentos públicos. Além disso, a TV Cultura, a exemplo das emissoras privadas, frauda a legislação trabalhista ao contratar os famosos PJs (pessoas jurídicas), que emitem notas fiscais, não possuem vinculo empregatício e nem direitos. A destruição da TV Cultura apenas confirma os intentos privatistas do demotucano José Serra.
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Atento observador dos bastidores da mídia, o jornalista Daniel Castrou informou hoje (dia 4), no seu blog no Portal R-7, que a TV Cultura pretende demitir 1.400 funcionários e cortar vários dos seus programas. Esta notícia bombástica confirma que o tucanato quer destruir uma das melhores experiências de TV pública do país, reconhecida mundialmente por seus programas educativos e culturais de qualidade. Desta forma, os serviçais de José Serra prestam mais um serviço sujo para as redes privadas de televisão e “pagam” por seu apoio escancarado ao candidato demotucano.
Segundo a denúncia, “com o aval do ex-governador José Serra e do atual governador, Alberto Goldman, João Sayad [que assumiu a presidência da TV Cultura em junho passado] pretende reduzir ao máximo a produção de programas e cortar o número de funcionários em quase 80%, dos atuais 1.800 para 400. Ele pensa até em vender o patrimônio da TV Cultura. Já encomendou aos advogados da emissora um estudo sobre a viabilidade de a Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV, se desfazer de seus estúdios e edifícios na Água Branca, em São Paulo”.
Processo mascarado de privatização
A grave denúncia, que não foi desmentida pela direção da emissora, confirma as suspeitas do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. A entidade já havia criticado o clima de incerteza e de perseguição que impera na TV Cultura. Na semana passada, ela divulgou nota pública em que denunciava que o governo tucano pretende alterar a função e o papel social da Fundação Padre Anchieta, num processo mascarado de privatização. A “venda” gradual da emissora pública teve início na administração de Geraldo Alckmin e foi aprofundada na gestão de José Serra.
A indicação do economista João Sayad acelerou o processo de mutação da emissora educativa numa emissora com caráter comercial. “No momento em que o Brasil busca construir uma rede pública de comunicação de qualidade, o governo de São Paulo nomeia alguém sem qualquer vínculo com a área, cuja missão parece ser dar nova cara administrativa à Fundação. Há algum tempo, já observamos que a marca de qualidade da programação vem sendo desconstruída, especialmente no jornalismo”, afirma o presidente do sindicato, José Augusto Camargo, o Guto.
Demissões, assédio moral e censura
Guto cita casos recentes para ilustrar essa desconstrução. “O Roda Viva – que era uma referência no debate político em rede nacional – sofreu um grave ataque com a demissão mal explicada do Heródoto Barbeiro. Também não entendemos o afastamento do Gabriel Priolli (ex-diretor de jornalismo da Cultura) e o fato do jornalista Paulo Markun (ex-presidente da Fundação Padre Anchieta) não ter tido apoio do governo para continuar a gestão”, acrescenta. Barbeiro e Priolli foram afastados porque se referiram aos preços abusivos dos pedágios em São Paulo.
A “privatização mascarada” estaria ocorrendo com a transferência da gestão da emissora para as falsas Organizações Sociais (OSs), entidades não governamentais ligadas aos grupos comerciais que recebem do estado para administrar os equipamentos públicos. Além disso, a TV Cultura, a exemplo das emissoras privadas, frauda a legislação trabalhista ao contratar os famosos PJs (pessoas jurídicas), que emitem notas fiscais, não possuem vinculo empregatício e nem direitos. A destruição da TV Cultura apenas confirma os intentos privatistas do demotucano José Serra.
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Qual o rumo das reformas em Cuba?
Reproduzo artigo de Breno Altman, publicado no sítio Opera Mundi:
As medidas anunciadas pelo presidente cubano, em seu discurso de ontem (1/8) diante da Assembléia Nacional do Poder Popular, abrem nova fase na vida do país. Desde sua posse, em 2008, Raúl vinha adotando reformas lentas e graduais, nos marcos do regime socialista. O enunciado de providências mais amplas e detalhadas, porém, parece indicar que esse processo será acelerado.
O núcleo principal do programa apresentado aos deputados é marcado pelo estímulo ao empreendedorismo. Várias atividades comerciais e de serviços, estatizadas desde os anos 60, poderão ser exploradas em caráter privado. O governo já tinha revogado, há alguns meses, o monopólio estatal de cabeleireiros e barbeiros. Dezenas de outros setores deverão ser contemplados pela abertura.
Os dirigentes cubanos rechaçam comparações, mas muitos analistas identificam inspiração das experiências chinesa e, particularmente, vietnamita. O Estado continuará a controlar a maior parte da economia e a regular seu funcionamento, mas novas formas de propriedade serão permitidas e até incentivadas.
Não se trata de uma novidade absoluta. Desde os anos 90, quando a União Soviética desapareceu, o governo cubano adotou legislação para facilitar o investimento internacional, a formação de empresas mistas e até o funcionamento de companhias sob controle estrangeiro. Sem o fluxo de recursos provenientes do antigo campo socialista, a sobrevivência de Cuba passou a depender de seu acesso à poupança externa.
O turismo foi o principal segmento alavancado por essa alteração. Mas a mineração, a biotecnologia e a produção de tabaco e bebidas, entre outros ramos, também puderam se reerguer a partir da associação com o capital além-fronteiras. Depois de ter perdido mais de 30% de seu PIB entre 1990 e 1993, Cuba atravessou os últimos quinze anos com um crescimento médio anual em torno de 5%.
A recuperação econômica permitiu ao país resolver os problemas mais dramáticos de escassez e manter razoavelmente intactos os serviços públicos de educação e saúde, reconhecidos por sua universalidade e qualidade. A vida cotidiana dos cubanos, no entanto, continuou ditada pelo sacrifício pós-soviético: os recursos gerados pela sociedade, em especial as divisas com exportações, pagam as contas da rede social montada pela revolução, mas são insuficientes para a prosperidade dos indivíduos.
Esse cenário conduziu a uma situação de baixa produtividade, salários defasados, informalidade da economia e aumento da corrupção. As relações com Venezuela e Brasil, a partir da conquista de seus governos por partidos de esquerda, ampliaram as oportunidades da ilha caribenha. As enfermidades da economia local, contudo, continuaram praticamente intocadas. O programa reformista de Raúl Castro busca um caminho para enfrentá-las.
Logo que assumiu a presidência convocou a população a discutir nos bairros as deficiências e erros do modelo econômico. Também levantou uma série de proibições, como a de adquirir celulares e eletrodomésticos. Seu feito mais notável, até agora, talvez tenha sido a nova política agrária, permitindo aos camponeses o usufruto das terras, a liberdade comercial e o acesso a equipamentos. A emergência dessa agricultura privada melhorou de forma significativa o abastecimento das cidades.
Aparentemente são dois os objetivos principais de sua estratégia: reduzir fortemente os gastos do Estado e desenvolver um mercado interno através da iniciativa empresarial dos cidadãos. Quase 80% dos cinco milhões de trabalhadores cubanos são servidores públicos. Calcula-se que um milhão não tem função específica ou produtiva. Raúl pretende dispensá-los, oferecendo a contrapartida de emprego em uma empresa autônoma ou de abrir seu próprio negócio.
O enxugamento do Estado, nessa lógica, permitiria a ampliação dos investimentos públicos, hoje consumidos pela própria máquina administrativa. O empreendedorismo impulsionaria tanto o fornecimento de bens e serviços quanto o crescimento do mercado interno e uma maior arrecadação tributária. Medidas mais arrojadas de associação com o capital internacional garantiriam oferta de insumos, além de aumento das exportações e dos investimentos estrangeiros.
Outra questão é o bloqueio imposto pelos Estados Unidos. As reformas buscam atenuar os estragos provocados pelo embargo estabelecido desde 1962. Mas também preparam Cuba para o dia em que findar essa anomalia. Uma economia raquítica e sem perspectiva seria presa fácil dos dólares e valores norte-americanos, com o risco do bloqueio ser trocado por práticas neocoloniais. A revitalização produtiva, aliada à integração com a América Latina, pode vir a ser um escudo indispensável contra esse perigo.
Raúl Castro não parece ver, nessas decisões, contradição de fundo com o socialismo. O presidente dá sinais, cada vez mais claros, de que está convencido da necessidade de modernizar o país para manter os direitos sociais e o próprio sistema. Mesmo reafirmando que a cautela continuará a orientar seu método, lançou um formidável pacote de desafios para a revolução cubana.
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As medidas anunciadas pelo presidente cubano, em seu discurso de ontem (1/8) diante da Assembléia Nacional do Poder Popular, abrem nova fase na vida do país. Desde sua posse, em 2008, Raúl vinha adotando reformas lentas e graduais, nos marcos do regime socialista. O enunciado de providências mais amplas e detalhadas, porém, parece indicar que esse processo será acelerado.
O núcleo principal do programa apresentado aos deputados é marcado pelo estímulo ao empreendedorismo. Várias atividades comerciais e de serviços, estatizadas desde os anos 60, poderão ser exploradas em caráter privado. O governo já tinha revogado, há alguns meses, o monopólio estatal de cabeleireiros e barbeiros. Dezenas de outros setores deverão ser contemplados pela abertura.
Os dirigentes cubanos rechaçam comparações, mas muitos analistas identificam inspiração das experiências chinesa e, particularmente, vietnamita. O Estado continuará a controlar a maior parte da economia e a regular seu funcionamento, mas novas formas de propriedade serão permitidas e até incentivadas.
Não se trata de uma novidade absoluta. Desde os anos 90, quando a União Soviética desapareceu, o governo cubano adotou legislação para facilitar o investimento internacional, a formação de empresas mistas e até o funcionamento de companhias sob controle estrangeiro. Sem o fluxo de recursos provenientes do antigo campo socialista, a sobrevivência de Cuba passou a depender de seu acesso à poupança externa.
O turismo foi o principal segmento alavancado por essa alteração. Mas a mineração, a biotecnologia e a produção de tabaco e bebidas, entre outros ramos, também puderam se reerguer a partir da associação com o capital além-fronteiras. Depois de ter perdido mais de 30% de seu PIB entre 1990 e 1993, Cuba atravessou os últimos quinze anos com um crescimento médio anual em torno de 5%.
A recuperação econômica permitiu ao país resolver os problemas mais dramáticos de escassez e manter razoavelmente intactos os serviços públicos de educação e saúde, reconhecidos por sua universalidade e qualidade. A vida cotidiana dos cubanos, no entanto, continuou ditada pelo sacrifício pós-soviético: os recursos gerados pela sociedade, em especial as divisas com exportações, pagam as contas da rede social montada pela revolução, mas são insuficientes para a prosperidade dos indivíduos.
Esse cenário conduziu a uma situação de baixa produtividade, salários defasados, informalidade da economia e aumento da corrupção. As relações com Venezuela e Brasil, a partir da conquista de seus governos por partidos de esquerda, ampliaram as oportunidades da ilha caribenha. As enfermidades da economia local, contudo, continuaram praticamente intocadas. O programa reformista de Raúl Castro busca um caminho para enfrentá-las.
Logo que assumiu a presidência convocou a população a discutir nos bairros as deficiências e erros do modelo econômico. Também levantou uma série de proibições, como a de adquirir celulares e eletrodomésticos. Seu feito mais notável, até agora, talvez tenha sido a nova política agrária, permitindo aos camponeses o usufruto das terras, a liberdade comercial e o acesso a equipamentos. A emergência dessa agricultura privada melhorou de forma significativa o abastecimento das cidades.
Aparentemente são dois os objetivos principais de sua estratégia: reduzir fortemente os gastos do Estado e desenvolver um mercado interno através da iniciativa empresarial dos cidadãos. Quase 80% dos cinco milhões de trabalhadores cubanos são servidores públicos. Calcula-se que um milhão não tem função específica ou produtiva. Raúl pretende dispensá-los, oferecendo a contrapartida de emprego em uma empresa autônoma ou de abrir seu próprio negócio.
O enxugamento do Estado, nessa lógica, permitiria a ampliação dos investimentos públicos, hoje consumidos pela própria máquina administrativa. O empreendedorismo impulsionaria tanto o fornecimento de bens e serviços quanto o crescimento do mercado interno e uma maior arrecadação tributária. Medidas mais arrojadas de associação com o capital internacional garantiriam oferta de insumos, além de aumento das exportações e dos investimentos estrangeiros.
Outra questão é o bloqueio imposto pelos Estados Unidos. As reformas buscam atenuar os estragos provocados pelo embargo estabelecido desde 1962. Mas também preparam Cuba para o dia em que findar essa anomalia. Uma economia raquítica e sem perspectiva seria presa fácil dos dólares e valores norte-americanos, com o risco do bloqueio ser trocado por práticas neocoloniais. A revitalização produtiva, aliada à integração com a América Latina, pode vir a ser um escudo indispensável contra esse perigo.
Raúl Castro não parece ver, nessas decisões, contradição de fundo com o socialismo. O presidente dá sinais, cada vez mais claros, de que está convencido da necessidade de modernizar o país para manter os direitos sociais e o próprio sistema. Mesmo reafirmando que a cautela continuará a orientar seu método, lançou um formidável pacote de desafios para a revolução cubana.
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O pretenso poder do chamado quarto poder
Reproduzo artigo do escritor Luís Carlos Lopes, publicado no sítio Carta Maior:
Desde há muito, veio dos EUA, salvo engano, a idéia de que a imprensa seria o quarto poder da República, ao lado do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Os maiores entusiastas deste ponto de vista chegaram a dizer que o quarto poder seria no tempo presente, o maior dos poderes republicanos. Há décadas, a própria imprensa repete, por toda parte, este mesmo conceito. Vários filmes abordaram esta temática acreditando, nem sempre do mesmo modo, neste modo de ver as coisas.
Apesar do inegável poder da imprensa, compará-lo aos demais poderes da República é como achar que a água é a mesma coisa do que o azeite, porque ambos são líquidos. Os governos continuam a governar, a partir da fórmula inventada por Montesquieu na França do século XVIII. Logicamente, que o formalismo do autor iluminista é adaptado às circunstâncias.
Nas repúblicas conhecidas, jamais houve o verdadeiro e ideal equilíbrio entre os três poderes. A tendência foi a de que restasse algo de tirânico e absolutista nas autodenominadas democracias contemporâneas. O epicentro do poder político continuou sendo o executivo. Este, não raro, se sobrepõe sobre aos demais poderes da república. Em várias situações, este fato é, inusitadamente, o que garante algum nível de práticas realmente democráticas, dependendo dos significados verdadeiros acreditados pelos demais poderes. Estes podem ser igualmente tirânicos e tutelarem qualquer possibilidade de convivência democrática.
O Estado contemporâneo de qualquer lugar continua sendo monstruoso, um ogro com mil faces, fruto da complexidade histórica de cada país e dos contextos internacionais onde ele se desenvolve. A imprensa jamais foi uma das faces oficiais do Estado. Entretanto, ela pode representá-lo cabalmente, não somente quando se trata da imprensa oficial. Isto ocorre, quando empresas privadas são aliadas, financiadas e/ou policiadas para agirem de acordo com o que o Estado deseja. Foi assim na época da ditadura militar brasileira, até meados da década de 1980.
No mundo do capital e das democracias formais, a mediação entre o Estado e a imprensa empresarial perpassa a rede de relações políticas e econômicas do governo com os diversos setores das classes empresariais. Inúmeros interesses precisam ser atendidos. Como se vê no Brasil atual, a chamada grande imprensa costuma ser de oposição a tudo que foi e é progressista da era Lula e laudatória ou silenciosa sobre o que o capital local e internacional considera como correto na mesma administração. Vive em paradoxo, mesmo que isto talvez lhe custe sérios prejuízos.
Se a imprensa tem algum poder é porque ela veicula os poderes de Estado e da Sociedade. Ela tem esse primeiro papel quando se trata de periódicos oficiais. Os jornais e revistas sob o domínio da iniciativa privada ou estão vinculados a governos que os sustentam, e/ou aos anunciantes que injetam as verbas da publicidade. Ao se comunicar com o grande público e, sobretudo, ao vender seus artefatos para as massas, a imprensa precisa dizer algo que possa parecer interessar aos seus consumidores.
A necessidade de vender jornais e revistas diretamente às pessoas, faz que a imprensa escrita e publicada seja bastante diversa dos demais meios de comunicação disponíveis hoje e ontem. Isto gera um outro paradoxo vivido por qualquer periódico vendido em banca ou adquirido por assinatura. Se o que ele recebe para existir é fundamentalmente o que vem da compra direta, o veículo não pode desagradar demais aos seus leitores. Estes podem simplesmente deixar de comprá-los.
A solução que as empresas jornalísticas desenvolveram foi a de combinar a venda direta com o lucro obtido pela propaganda governamental e pela publicidade privada. Tem sido cada vez maior o espaço, nestes meios de comunicação, destinado a simplesmente sustentá-los e fazê-los lucrar. Ao vender-se, em primeiro lugar, aos seus anunciantes, a imprensa perdeu em cada vez maior escala qualquer independência.
Os interesses comerciais de seus donos ditam as opiniões que veiculam, por vezes, até mesmo contra seus interesses específicos enquanto membros das classes empresariais. No passado, os editoriais e alguns artigos eram de propriedade exclusiva da opinião dos donos. Hoje, isso ficou mais difícil, porque a imprensa escrita em estado de crise tem que se adequar ao mosaico de interesses dominantes na sociedade em que está inserida.
Hoje, fala-se mais em mídias do que propriamente da imprensa, isto é, juntou-se o enorme feixe dos meios de comunicação de massa em uma só denominação. O poder midiático empresarial atual, com suas várias faces e arestas, sendo formado por uma dualidade básica: a difusão da informação e a veiculação do entretenimento (diversão). Este modelo norte-americano de organização das mídias fechou as portas para uma divulgação científica mais séria e não sensacionalista, dificultou a publicização das artes não-comerciais e a veiculação da opinião política, social, crítica e independente. As janelas disto, que ainda funcionam, são cada vez mais diminutas.
A imprensa escrita que competia somente com o rádio (no Brasil) até a década de 1950 teve de dividir seu reinado com cada vez maiores e diversificados meios técnicos de comunicar. O ato de noticiar e de comentar passou a chegar ao grande público através da palavra falada e das imagens. A televisão e hoje a Internet assombram o antigo poder dos grandes jornais e das revistas. Eles têm emagrecido e alguns desses veículos desapareceram.
Nos EUA, existem calendários com datas prováveis para alguns jornais bastante tradicionais deixarem de ser impressos. Revistas desaparecem e ressurgem todos os dias pelo mundo afora. Vive-se um terreno de instabilidade e de falta de rumo possível. O jornalismo sem tinta parece que pouco a pouco se firmará no local desse antigo, centenário, meio técnico de comunicação.
A imprensa continuará a existir, porque não se pode imaginar o mundo sem informação, mesmo que ela seja manipulada, pouco ou não-comentada de modo sério e judicioso. As sociedades atuais estão embriagadas pelo fenômeno de estar ciente dos fatos eleitos pelas mídias, mesmo que isto nem sempre signifique muito. Sabe-se de muita coisa, compreendendo-se muito pouco do que se lê, se ouve e se vê na profusão cibernética de dados que afogam seus consumidores sem trégua.
Tudo leva a crer que o livro, no seu formato variável desenvolvido em séculos, continuará a existir, concorrendo com suas versões eletrônicas. Não há nenhum sinal de que esteja ameaçado pelos artefatos digitais. O prazer de lê-los e de colecioná-los é algo ainda difícil de destruir. A palavra escrita, fonte da ciência, da arte e da razão esclarecida continuará funcionando mesmo que transmitida por velhos e novos artefatos.
A luta não é contra os meios técnicos de comunicação recentes. Não são neles que o problema se aloja. A batalha é contra a ignorância e a manipulação seja ela feita pela imagem, pelo som (inclusive da voz humana) e pela palavra escrita gravada ou transmitida em algum suporte legível. Não existe um quarto poder. Entretanto, existe o poder da palavra que pode servir para mudar o mundo ou deixar tudo como está. Nela, concentra-se a verdadeira disputa que poderá ter algum resultado. Quando se menciona o vocábulo ‘palavra’ se está falando de todas formas e meios que a humanidade dispõe para se comunicar. Em última análise, em uma imagem ou em um som, a palavra humana está sempre presente na conformação do ato criativo.
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Desde há muito, veio dos EUA, salvo engano, a idéia de que a imprensa seria o quarto poder da República, ao lado do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Os maiores entusiastas deste ponto de vista chegaram a dizer que o quarto poder seria no tempo presente, o maior dos poderes republicanos. Há décadas, a própria imprensa repete, por toda parte, este mesmo conceito. Vários filmes abordaram esta temática acreditando, nem sempre do mesmo modo, neste modo de ver as coisas.
Apesar do inegável poder da imprensa, compará-lo aos demais poderes da República é como achar que a água é a mesma coisa do que o azeite, porque ambos são líquidos. Os governos continuam a governar, a partir da fórmula inventada por Montesquieu na França do século XVIII. Logicamente, que o formalismo do autor iluminista é adaptado às circunstâncias.
Nas repúblicas conhecidas, jamais houve o verdadeiro e ideal equilíbrio entre os três poderes. A tendência foi a de que restasse algo de tirânico e absolutista nas autodenominadas democracias contemporâneas. O epicentro do poder político continuou sendo o executivo. Este, não raro, se sobrepõe sobre aos demais poderes da república. Em várias situações, este fato é, inusitadamente, o que garante algum nível de práticas realmente democráticas, dependendo dos significados verdadeiros acreditados pelos demais poderes. Estes podem ser igualmente tirânicos e tutelarem qualquer possibilidade de convivência democrática.
O Estado contemporâneo de qualquer lugar continua sendo monstruoso, um ogro com mil faces, fruto da complexidade histórica de cada país e dos contextos internacionais onde ele se desenvolve. A imprensa jamais foi uma das faces oficiais do Estado. Entretanto, ela pode representá-lo cabalmente, não somente quando se trata da imprensa oficial. Isto ocorre, quando empresas privadas são aliadas, financiadas e/ou policiadas para agirem de acordo com o que o Estado deseja. Foi assim na época da ditadura militar brasileira, até meados da década de 1980.
No mundo do capital e das democracias formais, a mediação entre o Estado e a imprensa empresarial perpassa a rede de relações políticas e econômicas do governo com os diversos setores das classes empresariais. Inúmeros interesses precisam ser atendidos. Como se vê no Brasil atual, a chamada grande imprensa costuma ser de oposição a tudo que foi e é progressista da era Lula e laudatória ou silenciosa sobre o que o capital local e internacional considera como correto na mesma administração. Vive em paradoxo, mesmo que isto talvez lhe custe sérios prejuízos.
Se a imprensa tem algum poder é porque ela veicula os poderes de Estado e da Sociedade. Ela tem esse primeiro papel quando se trata de periódicos oficiais. Os jornais e revistas sob o domínio da iniciativa privada ou estão vinculados a governos que os sustentam, e/ou aos anunciantes que injetam as verbas da publicidade. Ao se comunicar com o grande público e, sobretudo, ao vender seus artefatos para as massas, a imprensa precisa dizer algo que possa parecer interessar aos seus consumidores.
A necessidade de vender jornais e revistas diretamente às pessoas, faz que a imprensa escrita e publicada seja bastante diversa dos demais meios de comunicação disponíveis hoje e ontem. Isto gera um outro paradoxo vivido por qualquer periódico vendido em banca ou adquirido por assinatura. Se o que ele recebe para existir é fundamentalmente o que vem da compra direta, o veículo não pode desagradar demais aos seus leitores. Estes podem simplesmente deixar de comprá-los.
A solução que as empresas jornalísticas desenvolveram foi a de combinar a venda direta com o lucro obtido pela propaganda governamental e pela publicidade privada. Tem sido cada vez maior o espaço, nestes meios de comunicação, destinado a simplesmente sustentá-los e fazê-los lucrar. Ao vender-se, em primeiro lugar, aos seus anunciantes, a imprensa perdeu em cada vez maior escala qualquer independência.
Os interesses comerciais de seus donos ditam as opiniões que veiculam, por vezes, até mesmo contra seus interesses específicos enquanto membros das classes empresariais. No passado, os editoriais e alguns artigos eram de propriedade exclusiva da opinião dos donos. Hoje, isso ficou mais difícil, porque a imprensa escrita em estado de crise tem que se adequar ao mosaico de interesses dominantes na sociedade em que está inserida.
Hoje, fala-se mais em mídias do que propriamente da imprensa, isto é, juntou-se o enorme feixe dos meios de comunicação de massa em uma só denominação. O poder midiático empresarial atual, com suas várias faces e arestas, sendo formado por uma dualidade básica: a difusão da informação e a veiculação do entretenimento (diversão). Este modelo norte-americano de organização das mídias fechou as portas para uma divulgação científica mais séria e não sensacionalista, dificultou a publicização das artes não-comerciais e a veiculação da opinião política, social, crítica e independente. As janelas disto, que ainda funcionam, são cada vez mais diminutas.
A imprensa escrita que competia somente com o rádio (no Brasil) até a década de 1950 teve de dividir seu reinado com cada vez maiores e diversificados meios técnicos de comunicar. O ato de noticiar e de comentar passou a chegar ao grande público através da palavra falada e das imagens. A televisão e hoje a Internet assombram o antigo poder dos grandes jornais e das revistas. Eles têm emagrecido e alguns desses veículos desapareceram.
Nos EUA, existem calendários com datas prováveis para alguns jornais bastante tradicionais deixarem de ser impressos. Revistas desaparecem e ressurgem todos os dias pelo mundo afora. Vive-se um terreno de instabilidade e de falta de rumo possível. O jornalismo sem tinta parece que pouco a pouco se firmará no local desse antigo, centenário, meio técnico de comunicação.
A imprensa continuará a existir, porque não se pode imaginar o mundo sem informação, mesmo que ela seja manipulada, pouco ou não-comentada de modo sério e judicioso. As sociedades atuais estão embriagadas pelo fenômeno de estar ciente dos fatos eleitos pelas mídias, mesmo que isto nem sempre signifique muito. Sabe-se de muita coisa, compreendendo-se muito pouco do que se lê, se ouve e se vê na profusão cibernética de dados que afogam seus consumidores sem trégua.
Tudo leva a crer que o livro, no seu formato variável desenvolvido em séculos, continuará a existir, concorrendo com suas versões eletrônicas. Não há nenhum sinal de que esteja ameaçado pelos artefatos digitais. O prazer de lê-los e de colecioná-los é algo ainda difícil de destruir. A palavra escrita, fonte da ciência, da arte e da razão esclarecida continuará funcionando mesmo que transmitida por velhos e novos artefatos.
A luta não é contra os meios técnicos de comunicação recentes. Não são neles que o problema se aloja. A batalha é contra a ignorância e a manipulação seja ela feita pela imagem, pelo som (inclusive da voz humana) e pela palavra escrita gravada ou transmitida em algum suporte legível. Não existe um quarto poder. Entretanto, existe o poder da palavra que pode servir para mudar o mundo ou deixar tudo como está. Nela, concentra-se a verdadeira disputa que poderá ter algum resultado. Quando se menciona o vocábulo ‘palavra’ se está falando de todas formas e meios que a humanidade dispõe para se comunicar. Em última análise, em uma imagem ou em um som, a palavra humana está sempre presente na conformação do ato criativo.
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terça-feira, 3 de agosto de 2010
Os desafios do encontro dos blogueiros
Reproduzo entrevista concedida ao jornalista André Cintra, publicada no sítio Vermelho:
Pelo menos três centenas de blogueiros, tuiteitos, jovens jornalistas e estudantes de comunicação devem participar, de 20 a 22 de agosto, em São Paulo, do 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. O evento — um marco histórico para todos aqueles que usam a internet como arma contra a ditadura da mídia — já tinha 210 inscritos até a tarde desta segunda-feira (2).
Segundo Altamiro Borges, o Miro — presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro da Comissão Organizadora —, o encontro tem três grandes objetivos: a troca de experiência entre os blogueiros, a construção de um movimento de blogs no Brasil e um debate sobre a viabilidade de uma agência de notícias própria. É o que Miro revela na primeira parte desta entrevista ao Vermelho — a segunda será publicada nesta quarta-feira (4).
Quem são os blogueiros progressistas? De onde veio a ideia de fazer um encontro especificamente com esse público?
Há todo tipo de blog, o que inviabilizaria um encontro mais aberto. A ideia é realmente reunir blogueiros que falam mais de política, de cultura, e que estejam fazendo hoje a luta contra-hegemônica à mídia que está aí. É um encontro para quem acha que essa mídia manipula — e para quem faz do blog um instrumento de luta contra-hegemônica.
O encontro também é aberto a quem participa de qualquer outra rede social?
Na verdade, até mesmo quem não tem blog ou Twitter pode participar. Se a pessoa é ligada nisso, pode participar sem problema nenhum.
Quais são os objetivos do encontro?
Um primeiro grande objetivo é se relacionar, trocar experiências. Essa turma toda só se conhece no mundo virtual e vai se conhecer agora no mundo presencial. Outro objetivo é construir um movimento de blogs no Brasil, a exemplo do que já tem em alguns países — com destaque para a iniciativa estadunidense da Coalizão de Blogueiros. Essa experiência já existe há alguns anos e tem tido capacidade de fazer a luta contra-hegemônica.
O encontro não vai mexer com os blogs, não vai interferir em blog nenhum. O que se quer é preservar como questões sagradas a autonomia e a diversidade de cada blog — mas criando uma sinergia, vendo como se relacionar. Já pintaram algumas ideias. Uma delas é constituir um certo amparo jurídico para os blogueiros mais débeis financeiramente, já que hoje há muito processos contra blogueiros.
Outra ideia: como há diversos blogs espalhados pelo Brasil, por que não potencializá-los para produzir reportagens e matérias locais? Uma constatação que tem é que o blog produz muita opinião e pouco conteúdo informativo. Por que não aproveitar essa extensa rede para fazer uma espécie de agência de blogueiros?
Quais entidades estão por trás do encontro?
Formalmente, são três entidades — o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, onde nasceu a ideia; a Altercom (Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação), uma entidade nova que junta a mídia alternativa; e o Movimento dos Sem-Mídia, que é encabeçada pelo Eduardo Guimarães e procura, como seu nome já diz, dar voz aos que não têm voz na mídia hegemônica.
Também existe uma comissão organizadora, composta por pessoas que você já conhece — Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, Luis Nassif, Altamiro Borges, Conceição Lemes, Eduardo Guimarães, Conceição Oliveira, Rodrigo Vianna e Diego Casaes.
Por que a ideia de abrir o encontro com um show de chorinho do Luis Nassif?
Normalmente, atividades desse tipo são encerradas com um show — mas vamos fazer diferente. Como a gente sabe que essa turma não se conhece, vamos começar com esse momento lúdico, mais informal, para todos conversarem, se conhecerem, se relacionarem.
Os blogueiros praticamente não se conhecem. Eu próprio conheço muitos pela internet, mas, se os vir na rua, nem saberei quem são. Tive o prazer de conhecer, outro dia, o Marco Aurélio Weissheimer, do RS Urgente — mas não conheço pessoalmente, por exemplo, o Antônio Mello, do Rio de Janeiro. Também não conheço essa moçada da Bahia que está fazendo um blog interessante na região de Ilhéus.
Então o encontro abre na sexta-feira, 20 de agosto, com o show do grupo do Luis Nassif na subsede do Sindicato dos Bacários, que fica na Rua Carlos Sampaio. O Paulo Henrique Amorim até brincou: “O blog eu conheço e apoio. O show... a gente vai ver” (risos). O próprio Nassif abriu para que as pessoas colaborassem com o repertório — e abriu também para quem quer dar uma canjinha. Ele me disse que uns três ou quatro já se inscreveram. Será quase um encontro de músicos progressistas também (risos).
O encontro vai levar algum documento comum à votação?
No final do encontro, em 22 de agosto, haverá uma plenária com o relato dos grupos de discussão, que vão se reunir pela manhã. No fim da plenária, a gente parte para a aprovação de uma “Carta dos Blogueiros”. O Eduardo Guimarães e eu é que estamos escrevendo o texto, que estará disponível na internet já na semana que vem, para a turma ir opinando, acrescentando, cortando.
A carta terá dois blocos. No primeiro — que já teve consenso —, estarão as demandas mais gerais da comunicação, como a luta pela Banda Larga, a regulamentação dos pontos sobre a comunicação na Constituição, o Conselho Nacional de Comunicação, a democratização da publicidade oficial e a neutralidade da rede.
O segundo bloco é sobre a organização do movimento blogueiro. Já existe um consenso progressivo sobre alguns temas, como fazer do Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas um evento anual e criar uma assistência jurídica para os blogs. A partir daí, surgem diferenças de opinião. Vamos fazer uma agência de notícia — de produção de conteúdo — de blogueiros? Qual é a forma organizativa dos blogueiros? Há várias opiniões a respeito. Vamos debater essas diferenças no encontro.
Para o último dia do encontro, está prevista também a apresentação de uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade), com a presença do jurista Fábio Konder Comparato. Qual será o objetivo dessa iniciativa?
Fechamos na segunda-feira a participação do professor Fábio Konder Comparato, que é um dos juristas mais respeitados do Brasil. No encerramento do encontro, ele vai apresentar a ideia — que já está ganhando corpo — de uma Adin por omissão do Congresso Nacional na regulamentação dos artigos da Constituição sobre comunicação. Não é uma ação contra este ou aquele deputado. O Congresso é que deve ser responsabilizado por não ter cumprindo seus deveres mesmo 22 anos depois da Constituição de 1988.
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Pelo menos três centenas de blogueiros, tuiteitos, jovens jornalistas e estudantes de comunicação devem participar, de 20 a 22 de agosto, em São Paulo, do 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. O evento — um marco histórico para todos aqueles que usam a internet como arma contra a ditadura da mídia — já tinha 210 inscritos até a tarde desta segunda-feira (2).
Segundo Altamiro Borges, o Miro — presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro da Comissão Organizadora —, o encontro tem três grandes objetivos: a troca de experiência entre os blogueiros, a construção de um movimento de blogs no Brasil e um debate sobre a viabilidade de uma agência de notícias própria. É o que Miro revela na primeira parte desta entrevista ao Vermelho — a segunda será publicada nesta quarta-feira (4).
Quem são os blogueiros progressistas? De onde veio a ideia de fazer um encontro especificamente com esse público?
Há todo tipo de blog, o que inviabilizaria um encontro mais aberto. A ideia é realmente reunir blogueiros que falam mais de política, de cultura, e que estejam fazendo hoje a luta contra-hegemônica à mídia que está aí. É um encontro para quem acha que essa mídia manipula — e para quem faz do blog um instrumento de luta contra-hegemônica.
O encontro também é aberto a quem participa de qualquer outra rede social?
Na verdade, até mesmo quem não tem blog ou Twitter pode participar. Se a pessoa é ligada nisso, pode participar sem problema nenhum.
Quais são os objetivos do encontro?
Um primeiro grande objetivo é se relacionar, trocar experiências. Essa turma toda só se conhece no mundo virtual e vai se conhecer agora no mundo presencial. Outro objetivo é construir um movimento de blogs no Brasil, a exemplo do que já tem em alguns países — com destaque para a iniciativa estadunidense da Coalizão de Blogueiros. Essa experiência já existe há alguns anos e tem tido capacidade de fazer a luta contra-hegemônica.
O encontro não vai mexer com os blogs, não vai interferir em blog nenhum. O que se quer é preservar como questões sagradas a autonomia e a diversidade de cada blog — mas criando uma sinergia, vendo como se relacionar. Já pintaram algumas ideias. Uma delas é constituir um certo amparo jurídico para os blogueiros mais débeis financeiramente, já que hoje há muito processos contra blogueiros.
Outra ideia: como há diversos blogs espalhados pelo Brasil, por que não potencializá-los para produzir reportagens e matérias locais? Uma constatação que tem é que o blog produz muita opinião e pouco conteúdo informativo. Por que não aproveitar essa extensa rede para fazer uma espécie de agência de blogueiros?
Quais entidades estão por trás do encontro?
Formalmente, são três entidades — o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, onde nasceu a ideia; a Altercom (Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação), uma entidade nova que junta a mídia alternativa; e o Movimento dos Sem-Mídia, que é encabeçada pelo Eduardo Guimarães e procura, como seu nome já diz, dar voz aos que não têm voz na mídia hegemônica.
Também existe uma comissão organizadora, composta por pessoas que você já conhece — Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, Luis Nassif, Altamiro Borges, Conceição Lemes, Eduardo Guimarães, Conceição Oliveira, Rodrigo Vianna e Diego Casaes.
Por que a ideia de abrir o encontro com um show de chorinho do Luis Nassif?
Normalmente, atividades desse tipo são encerradas com um show — mas vamos fazer diferente. Como a gente sabe que essa turma não se conhece, vamos começar com esse momento lúdico, mais informal, para todos conversarem, se conhecerem, se relacionarem.
Os blogueiros praticamente não se conhecem. Eu próprio conheço muitos pela internet, mas, se os vir na rua, nem saberei quem são. Tive o prazer de conhecer, outro dia, o Marco Aurélio Weissheimer, do RS Urgente — mas não conheço pessoalmente, por exemplo, o Antônio Mello, do Rio de Janeiro. Também não conheço essa moçada da Bahia que está fazendo um blog interessante na região de Ilhéus.
Então o encontro abre na sexta-feira, 20 de agosto, com o show do grupo do Luis Nassif na subsede do Sindicato dos Bacários, que fica na Rua Carlos Sampaio. O Paulo Henrique Amorim até brincou: “O blog eu conheço e apoio. O show... a gente vai ver” (risos). O próprio Nassif abriu para que as pessoas colaborassem com o repertório — e abriu também para quem quer dar uma canjinha. Ele me disse que uns três ou quatro já se inscreveram. Será quase um encontro de músicos progressistas também (risos).
O encontro vai levar algum documento comum à votação?
No final do encontro, em 22 de agosto, haverá uma plenária com o relato dos grupos de discussão, que vão se reunir pela manhã. No fim da plenária, a gente parte para a aprovação de uma “Carta dos Blogueiros”. O Eduardo Guimarães e eu é que estamos escrevendo o texto, que estará disponível na internet já na semana que vem, para a turma ir opinando, acrescentando, cortando.
A carta terá dois blocos. No primeiro — que já teve consenso —, estarão as demandas mais gerais da comunicação, como a luta pela Banda Larga, a regulamentação dos pontos sobre a comunicação na Constituição, o Conselho Nacional de Comunicação, a democratização da publicidade oficial e a neutralidade da rede.
O segundo bloco é sobre a organização do movimento blogueiro. Já existe um consenso progressivo sobre alguns temas, como fazer do Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas um evento anual e criar uma assistência jurídica para os blogs. A partir daí, surgem diferenças de opinião. Vamos fazer uma agência de notícia — de produção de conteúdo — de blogueiros? Qual é a forma organizativa dos blogueiros? Há várias opiniões a respeito. Vamos debater essas diferenças no encontro.
Para o último dia do encontro, está prevista também a apresentação de uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade), com a presença do jurista Fábio Konder Comparato. Qual será o objetivo dessa iniciativa?
Fechamos na segunda-feira a participação do professor Fábio Konder Comparato, que é um dos juristas mais respeitados do Brasil. No encerramento do encontro, ele vai apresentar a ideia — que já está ganhando corpo — de uma Adin por omissão do Congresso Nacional na regulamentação dos artigos da Constituição sobre comunicação. Não é uma ação contra este ou aquele deputado. O Congresso é que deve ser responsabilizado por não ter cumprindo seus deveres mesmo 22 anos depois da Constituição de 1988.
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EUA financiam 150 jornalistas anti-chavistas
Reproduzo artigo publicado no sítio Diário Liberdade, editado na Galícia:
Documentos recentemente desclassificados do Departamento de Estado dos Estados Unidos através da Lei de Acesso à Informação (FOIA, por suas siglas em inglês) evidenciam mais de US$ 4 milhões em financiamento a meios e jornalistas venezuelanos durante os últimos anos.
O financiamento tem sido canalizado diretamente do Departamento de Estado através de três entidades públicas estadunidenses: a Fundação Panamericana para o Desenvolvimento (PADF, por suas siglas em inglês), Freedom House e pela Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid).
Em uma tosca tentativa de esconder suas ações, o Departamento de Estado censurou a maioria dos nomes das organizações e dos jornalistas recebendo esses fundos multimilionários. No entanto, um documento datado de julho de 2008 deixou sem censura os nomes das principais organizações venezuelanas recebendo os fundos: Espaço Público e Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS).
Espaço Público e IPYS são as entidades que figuram como as encarregadas de coordenar a distribuição dos fundos e os projetos do Departamento de Estado com os meios de comunicação privados e jornalistas venezuelanos.
Os documentos evidenciam que a PADF, o FUPAD, em espanhol, implementou programas na Venezuela dedicados à "promoção da liberdade dos meios e das instituições democráticas", além de cursos de formação para jornalistas e o desenvolvimento de novos meios na Internet devido ao que considera as "constantes ameaças contra a liberdade de expressão" e "o clima de intimidação e censura contra os jornalistas e meios".
Financiamento a páginas na web
Um dos programas da Fupad, pelo qual recebeu US$ 699.996 do Departamento de Estado, em 2007, foi dedicado ao "desenvolvimento dos meios independentes na Venezuela" e para o jornalismo "via tecnologias inovadoras". Os documentos evidenciam que mais de 150 jornalistas foram capacitados e treinados pelas agências estadunidenses e 25 páginas web foram financiadas na Venezuela com dinheiro estrangeiro. Espaço Público e IPYS foram os principais executores desse projeto em âmbito nacional, que também incluiu a outorga de "prêmios" de 25 mil dólares a vários jornalistas.
Durante os últimos dois anos, aconteceu uma verdadeira proliferação de páginas web, blogs e membros do Twitter e do Facebook na Venezuela que utilizam esses meios para promover mensagens contra o governo venezuelano e o presidente Chávez e que tentam distorcer e manipular a realidade sobre o que acontece no país.
Outros programas manejados pelo Departamento de Estado selecionaram jovens venezuelanos para receber treinamento e capacitação no uso dessas tecnologias e para criar o que chamam uma "rede de ciberdissidentes" na Venezuela.
Por exemplo, em abril deste ano, o Instituto George W. Bush, juntamente com a organização estadunidense Freedom House, convocou um encontro de "ativistas pela liberdade e pelos direitos humanos" e "especialistas em Internet" para analisar o "movimento global de ciberdissidentes". Ao encontro, que foi realizado em Dallas, Texas, foi convidado Rodrigo Diamanti, da organização Futuro Presente da Venezuela.
No ano passado, durante os dias 15 e 16 de outubro, a Cidade do México foi a sede da 2ª Cúpula da Aliança de Movimentos Juvenis ("AYM", por suas siglas em inglês). Patrocinado pelo Departamento de Estado, o evento contou com a participação da Secretária de Estado Hillary Clinton e de vários "delegados" convidados pela diplomacia estadunidense, incluindo aos venezuelanos Yon Goicochea (da organização venezuelana Primero Justicia); o dirigente da organização Venezuela de Primera, Rafael Delgado; e a ex-dirigente estudantil Geraldine Álvarez, agora membro da Fundação Futuro Presente, organização criada por Yon Goicochea com financiamento do Instituto Cato, dos EUA.
Junto a representantes das agências de Washington, como Freedom House, o Instituto Republicano Internacional, o Banco Mundial e o Departamento de Estado, os jovens convidados receberam cursos de "capacitação e formação" dos funcionários estadunidenses e dos criadores de tecnologias como Twitter, Facebook, MySpace, Flicker e Youtube.
Financiamento a universidades
Os documentos desclassificados também revelam um financiamento de US$ 716.346 via organização estadunidense Freedom House, em 2008, para um projeto de 18 meses dedicado a "fortalecer os meios independentes na Venezuela". Esse financiamento através da Freedom House também resultou na criação de "um centro de recursos para jornalistas" em uma universidade venezuelana não especificada no relatório. Segundo o documento oficial, "o centro desenvolverá uma rádio comunitária, uma página web e cursos de formação", todos financiados pelas agências de Washington.
Outros US$ 706.998 canalizados pela Fupad foram destinados para "promover a liberdade de expressão na Venezuela", através de um projeto de dois anos orientado ao jornalismo investigativo e "às novas tecnologias", como Twitter, Internet, Facebook e Youtube, entre outras. "Especificamente, a Fupad e seu sócio local capacitarão e apoiarão [a jornalistas, meios e ONGs] no uso das novas tecnologias midiáticas em várias regiões da Venezuela".
"A Fupad conduzirá cursos de formação sobre os conceitos do jornalismo investigativo e os métodos para fortalecer a qualidade da informação independente disponível na Venezuela. Esses cursos serão desenvolvidos e incorporados no currículo universitário".
Outro documento evidencia que três universidades venezuelanas, a Universidade Central da Venezuela, a Universidade Metropolitana e a Universidade Santa Maria, incorporaram cursos sobre jornalismo de pós-graduação e em nível universitário em seus planos de estudos, financiados pela Fupad e pelo Departamento de Estado. Essas três universidades têm sido os focos principais dos movimentos estudantis antichavistas durante os últimos três anos.
Sendo o principal canal dos fundos do Departamento de Estado aos meios privados e jornais na Venezuela, a Fupad também recebeu US$ 545.804 para um programa intitulado "Venezuela: As vozes do futuro". Esse projeto, que durou um ano, foi dedicado a "desenvolver uma nova geração de jornalistas independentes através do uso das novas tecnologias". Também a Fupad financiou vários blogs, jornais, rádios e televisões em regiões por todo o país para assegurar a publicação dos artigos e transmissões dos "participantes" do programa.
A Usaid e a Fupad
Mais fundos foram distribuídos através do escritório da Usaid em Caracas, que maneja um orçamento anual entre US$ 5 milhões e US$ 7 milhões. Esses milhões fazem parte dos 40 a US$ 50 milhões que anualmente as agências estadunidenses, européias e canadenses estão dando aos setores antichavistas na Venezuela.
A Fundação Panamericana para o Desenvolvimento está ativa na Venezuela desde 2005, sendo uma das principais contratistas da Usaid no país sulamericano. A Fupad é uma entidade criada pelo Departamento de Estado em 1962, e é "filiada" à Organização de Estados Americanos (OEA). A Fupad implementou programas financiados pela Usaid, pelo Departamento de Estado e outros financiadores internacionais para "promover a democracia" e "fortalecer a sociedade civil" na América Latina e Caribe.
Atualmente, a Fupad maneja programas através da Usaid com fundos acima de US$ 100 milhões na Colômbia, como parte do Plano Colômbia, financiando "iniciativas" na zona indígena em El Alto; e leva dez anos trabalhando em Cuba, de forma "clandestina", para fomentar uma "sociedade civil independente" para "acelerar uma transição à democracia".
Na Venezuela, a Fupad tem trabalhado para "fortalecer os grupos locais da sociedade civil". Segundo um dos documentos desclassificados, a Fupad "tem sido um dos poucos grupos internacionais que tem podido outorgar financiamento significativo e assistência técnica a ONGs venezuelanas".
Os "sócios" venezuelanos
Espaço Público é uma associação civil venezuelana dirigida pelo jornalista venezuelano Carlos Correa. Apesar de sua página web destacar que a organização é "independente e autônoma de organizações internacionais ou de governos", os documentos do Departamento de Estado evidenciam que recebe um financiamento multimilionário do governo dos Estados Unidos. E tal como esses documentos revelam, as agências estadunidenses, como a Fupad, não somente financiam grupos como o Espaço Público, mas os consideram como seus "sócios" e desde Washington lhes enviam materiais, linhas de ação e diretrizes que são aplicadas na Venezuela, e exercem um controle sobre suas operações para assegurar que cumprem com a agenda dos Estados Unidos.
O Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS) é nada mais do que um porta-voz de Washington, criado e financiado pelo National Endowment for Democracy (NED) e por outras entidades conectadas com o Departamento de Estado. Seu diretor na Venezuela é o jornalista Ewald Sharfenberg, conhecido opositor do governo de Hugo Chávez. IPYS é membro da agrupação Intercâmbio Internacional de Livre Expressão (IFEX), financiado pelo Departamento de Estado e é parte da Rede de Repórteres Sem Fronteiras (RSF), organização francesa financiada pela NED, pelo Instituto Republicano Internacional (IRI) e pelo Comitê para a Assistência para uma Cuba Livre.
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Documentos recentemente desclassificados do Departamento de Estado dos Estados Unidos através da Lei de Acesso à Informação (FOIA, por suas siglas em inglês) evidenciam mais de US$ 4 milhões em financiamento a meios e jornalistas venezuelanos durante os últimos anos.
O financiamento tem sido canalizado diretamente do Departamento de Estado através de três entidades públicas estadunidenses: a Fundação Panamericana para o Desenvolvimento (PADF, por suas siglas em inglês), Freedom House e pela Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid).
Em uma tosca tentativa de esconder suas ações, o Departamento de Estado censurou a maioria dos nomes das organizações e dos jornalistas recebendo esses fundos multimilionários. No entanto, um documento datado de julho de 2008 deixou sem censura os nomes das principais organizações venezuelanas recebendo os fundos: Espaço Público e Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS).
Espaço Público e IPYS são as entidades que figuram como as encarregadas de coordenar a distribuição dos fundos e os projetos do Departamento de Estado com os meios de comunicação privados e jornalistas venezuelanos.
Os documentos evidenciam que a PADF, o FUPAD, em espanhol, implementou programas na Venezuela dedicados à "promoção da liberdade dos meios e das instituições democráticas", além de cursos de formação para jornalistas e o desenvolvimento de novos meios na Internet devido ao que considera as "constantes ameaças contra a liberdade de expressão" e "o clima de intimidação e censura contra os jornalistas e meios".
Financiamento a páginas na web
Um dos programas da Fupad, pelo qual recebeu US$ 699.996 do Departamento de Estado, em 2007, foi dedicado ao "desenvolvimento dos meios independentes na Venezuela" e para o jornalismo "via tecnologias inovadoras". Os documentos evidenciam que mais de 150 jornalistas foram capacitados e treinados pelas agências estadunidenses e 25 páginas web foram financiadas na Venezuela com dinheiro estrangeiro. Espaço Público e IPYS foram os principais executores desse projeto em âmbito nacional, que também incluiu a outorga de "prêmios" de 25 mil dólares a vários jornalistas.
Durante os últimos dois anos, aconteceu uma verdadeira proliferação de páginas web, blogs e membros do Twitter e do Facebook na Venezuela que utilizam esses meios para promover mensagens contra o governo venezuelano e o presidente Chávez e que tentam distorcer e manipular a realidade sobre o que acontece no país.
Outros programas manejados pelo Departamento de Estado selecionaram jovens venezuelanos para receber treinamento e capacitação no uso dessas tecnologias e para criar o que chamam uma "rede de ciberdissidentes" na Venezuela.
Por exemplo, em abril deste ano, o Instituto George W. Bush, juntamente com a organização estadunidense Freedom House, convocou um encontro de "ativistas pela liberdade e pelos direitos humanos" e "especialistas em Internet" para analisar o "movimento global de ciberdissidentes". Ao encontro, que foi realizado em Dallas, Texas, foi convidado Rodrigo Diamanti, da organização Futuro Presente da Venezuela.
No ano passado, durante os dias 15 e 16 de outubro, a Cidade do México foi a sede da 2ª Cúpula da Aliança de Movimentos Juvenis ("AYM", por suas siglas em inglês). Patrocinado pelo Departamento de Estado, o evento contou com a participação da Secretária de Estado Hillary Clinton e de vários "delegados" convidados pela diplomacia estadunidense, incluindo aos venezuelanos Yon Goicochea (da organização venezuelana Primero Justicia); o dirigente da organização Venezuela de Primera, Rafael Delgado; e a ex-dirigente estudantil Geraldine Álvarez, agora membro da Fundação Futuro Presente, organização criada por Yon Goicochea com financiamento do Instituto Cato, dos EUA.
Junto a representantes das agências de Washington, como Freedom House, o Instituto Republicano Internacional, o Banco Mundial e o Departamento de Estado, os jovens convidados receberam cursos de "capacitação e formação" dos funcionários estadunidenses e dos criadores de tecnologias como Twitter, Facebook, MySpace, Flicker e Youtube.
Financiamento a universidades
Os documentos desclassificados também revelam um financiamento de US$ 716.346 via organização estadunidense Freedom House, em 2008, para um projeto de 18 meses dedicado a "fortalecer os meios independentes na Venezuela". Esse financiamento através da Freedom House também resultou na criação de "um centro de recursos para jornalistas" em uma universidade venezuelana não especificada no relatório. Segundo o documento oficial, "o centro desenvolverá uma rádio comunitária, uma página web e cursos de formação", todos financiados pelas agências de Washington.
Outros US$ 706.998 canalizados pela Fupad foram destinados para "promover a liberdade de expressão na Venezuela", através de um projeto de dois anos orientado ao jornalismo investigativo e "às novas tecnologias", como Twitter, Internet, Facebook e Youtube, entre outras. "Especificamente, a Fupad e seu sócio local capacitarão e apoiarão [a jornalistas, meios e ONGs] no uso das novas tecnologias midiáticas em várias regiões da Venezuela".
"A Fupad conduzirá cursos de formação sobre os conceitos do jornalismo investigativo e os métodos para fortalecer a qualidade da informação independente disponível na Venezuela. Esses cursos serão desenvolvidos e incorporados no currículo universitário".
Outro documento evidencia que três universidades venezuelanas, a Universidade Central da Venezuela, a Universidade Metropolitana e a Universidade Santa Maria, incorporaram cursos sobre jornalismo de pós-graduação e em nível universitário em seus planos de estudos, financiados pela Fupad e pelo Departamento de Estado. Essas três universidades têm sido os focos principais dos movimentos estudantis antichavistas durante os últimos três anos.
Sendo o principal canal dos fundos do Departamento de Estado aos meios privados e jornais na Venezuela, a Fupad também recebeu US$ 545.804 para um programa intitulado "Venezuela: As vozes do futuro". Esse projeto, que durou um ano, foi dedicado a "desenvolver uma nova geração de jornalistas independentes através do uso das novas tecnologias". Também a Fupad financiou vários blogs, jornais, rádios e televisões em regiões por todo o país para assegurar a publicação dos artigos e transmissões dos "participantes" do programa.
A Usaid e a Fupad
Mais fundos foram distribuídos através do escritório da Usaid em Caracas, que maneja um orçamento anual entre US$ 5 milhões e US$ 7 milhões. Esses milhões fazem parte dos 40 a US$ 50 milhões que anualmente as agências estadunidenses, européias e canadenses estão dando aos setores antichavistas na Venezuela.
A Fundação Panamericana para o Desenvolvimento está ativa na Venezuela desde 2005, sendo uma das principais contratistas da Usaid no país sulamericano. A Fupad é uma entidade criada pelo Departamento de Estado em 1962, e é "filiada" à Organização de Estados Americanos (OEA). A Fupad implementou programas financiados pela Usaid, pelo Departamento de Estado e outros financiadores internacionais para "promover a democracia" e "fortalecer a sociedade civil" na América Latina e Caribe.
Atualmente, a Fupad maneja programas através da Usaid com fundos acima de US$ 100 milhões na Colômbia, como parte do Plano Colômbia, financiando "iniciativas" na zona indígena em El Alto; e leva dez anos trabalhando em Cuba, de forma "clandestina", para fomentar uma "sociedade civil independente" para "acelerar uma transição à democracia".
Na Venezuela, a Fupad tem trabalhado para "fortalecer os grupos locais da sociedade civil". Segundo um dos documentos desclassificados, a Fupad "tem sido um dos poucos grupos internacionais que tem podido outorgar financiamento significativo e assistência técnica a ONGs venezuelanas".
Os "sócios" venezuelanos
Espaço Público é uma associação civil venezuelana dirigida pelo jornalista venezuelano Carlos Correa. Apesar de sua página web destacar que a organização é "independente e autônoma de organizações internacionais ou de governos", os documentos do Departamento de Estado evidenciam que recebe um financiamento multimilionário do governo dos Estados Unidos. E tal como esses documentos revelam, as agências estadunidenses, como a Fupad, não somente financiam grupos como o Espaço Público, mas os consideram como seus "sócios" e desde Washington lhes enviam materiais, linhas de ação e diretrizes que são aplicadas na Venezuela, e exercem um controle sobre suas operações para assegurar que cumprem com a agenda dos Estados Unidos.
O Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS) é nada mais do que um porta-voz de Washington, criado e financiado pelo National Endowment for Democracy (NED) e por outras entidades conectadas com o Departamento de Estado. Seu diretor na Venezuela é o jornalista Ewald Sharfenberg, conhecido opositor do governo de Hugo Chávez. IPYS é membro da agrupação Intercâmbio Internacional de Livre Expressão (IFEX), financiado pelo Departamento de Estado e é parte da Rede de Repórteres Sem Fronteiras (RSF), organização francesa financiada pela NED, pelo Instituto Republicano Internacional (IRI) e pelo Comitê para a Assistência para uma Cuba Livre.
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Uma boa idéia: “jornalismo ficha limpa”
Reproduzo artigo de Artur Henrique, presidente da CUT, publicado em seu blog:
O professor da USP e jornalista Bernardo Kucinski apresenta a proposta de criação de uma iniciativa política intitulada “Jornalismo Ficha Limpa”. Seria uma espécie de frente formada por jornalistas que tenham a reputação de qualidade e honestidade e um histórico de coerência. Outro requisito indispensável é ser identificado com o combate às desigualdades sociais. Ter renome também ajuda.
Esses profissionais de comunicação assinariam um manifesto defendendo que jornais, revistas, rádios, TVs e páginas de internet façam uma cobertura das eleições 2010 com objetividade, sem coloração partidária e fornecendo mais espaço para os projetos e propostas do que para bate-bocas menores, trocas de acusação que desviam o foco do que realmente importa. Quer dizer, ao contrário do que ocorre neste momento.
O manifesto pelo “Jornalismo Ficha Limpa” também deveria explicitar quais ações editoriais e linhas de reportagem devem ser consideradas “ficha suja”, de forma tão didática quanto possível ou necessária, para assim expor quem as pratica.
A idéia também aproveitaria a boa acolhida que a população deu ao projeto “Ficha Limpa”, aprovado recentemente pelo Congresso, para mostrar que o processo eleitoral e a ação política também dependem e são influenciados fortemente pela mídia.
A frente que daria início ao “Jornalismo Ficha Limpa” não deveria, na opinião do próprio, incluir Kucinski, por ele ser muito identificado com o PT. Kucinski apresentou a proposta durante debate da Direção Nacional da CUT na última quinta (29), na capital paulista.
Durante as campanhas de 1994, 1998 e 2002, e ainda durante boa parte do primeiro mandato do governo Lula, do qual foi assessor, o professor escrevia um relato diário, matinal e minucioso, do que a imprensa estava veiculando desde o dia anterior. A partir da sua releitura do noticiário, Kucinski então propunha ações políticas para o comando de campanha e assessores de Lula, a partir de oportunidades vislumbradas ou, especialmente, a partir da identificação de tramas que os adversários estariam traçando tendo a imprensa como pista de decolagem.
Lula era leitor assíduo desse relato e foi quem o batizou de “Cartas Ácidas”, por causa do tom intenso e do olhar agudo do seu autor.
Nova paixão
Kucinski contou ao nosso blog que atualmente está se dedicando à literatura de ficção. “Fiquei fascinado. Descobri isso e estou inteiramente voltado a essa experiência”. Em sete dias, escreveu uma novela policial intitulada “Crime de Morte na USP”.
No texto, o assassinato de uma professora serve como ponto de partida para “deslindar o ambiente acadêmico, o carreirismo, as disputas de ego, os roubos de produção intelectual, enfim, os bastidores”, explica. O livro está à espera de uma editora que decida lançá-lo. Enquanto isso, Kucinski continua escrevendo contos e crônicas todos os dias.
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O professor da USP e jornalista Bernardo Kucinski apresenta a proposta de criação de uma iniciativa política intitulada “Jornalismo Ficha Limpa”. Seria uma espécie de frente formada por jornalistas que tenham a reputação de qualidade e honestidade e um histórico de coerência. Outro requisito indispensável é ser identificado com o combate às desigualdades sociais. Ter renome também ajuda.
Esses profissionais de comunicação assinariam um manifesto defendendo que jornais, revistas, rádios, TVs e páginas de internet façam uma cobertura das eleições 2010 com objetividade, sem coloração partidária e fornecendo mais espaço para os projetos e propostas do que para bate-bocas menores, trocas de acusação que desviam o foco do que realmente importa. Quer dizer, ao contrário do que ocorre neste momento.
O manifesto pelo “Jornalismo Ficha Limpa” também deveria explicitar quais ações editoriais e linhas de reportagem devem ser consideradas “ficha suja”, de forma tão didática quanto possível ou necessária, para assim expor quem as pratica.
A idéia também aproveitaria a boa acolhida que a população deu ao projeto “Ficha Limpa”, aprovado recentemente pelo Congresso, para mostrar que o processo eleitoral e a ação política também dependem e são influenciados fortemente pela mídia.
A frente que daria início ao “Jornalismo Ficha Limpa” não deveria, na opinião do próprio, incluir Kucinski, por ele ser muito identificado com o PT. Kucinski apresentou a proposta durante debate da Direção Nacional da CUT na última quinta (29), na capital paulista.
Durante as campanhas de 1994, 1998 e 2002, e ainda durante boa parte do primeiro mandato do governo Lula, do qual foi assessor, o professor escrevia um relato diário, matinal e minucioso, do que a imprensa estava veiculando desde o dia anterior. A partir da sua releitura do noticiário, Kucinski então propunha ações políticas para o comando de campanha e assessores de Lula, a partir de oportunidades vislumbradas ou, especialmente, a partir da identificação de tramas que os adversários estariam traçando tendo a imprensa como pista de decolagem.
Lula era leitor assíduo desse relato e foi quem o batizou de “Cartas Ácidas”, por causa do tom intenso e do olhar agudo do seu autor.
Nova paixão
Kucinski contou ao nosso blog que atualmente está se dedicando à literatura de ficção. “Fiquei fascinado. Descobri isso e estou inteiramente voltado a essa experiência”. Em sete dias, escreveu uma novela policial intitulada “Crime de Morte na USP”.
No texto, o assassinato de uma professora serve como ponto de partida para “deslindar o ambiente acadêmico, o carreirismo, as disputas de ego, os roubos de produção intelectual, enfim, os bastidores”, explica. O livro está à espera de uma editora que decida lançá-lo. Enquanto isso, Kucinski continua escrevendo contos e crônicas todos os dias.
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Racha na ANJ e crise dos jornalões
Por Altamiro Borges
A Associação Nacional de Jornais (ANJ), presidida por Judith Brito – executiva do Grupo Folha que confessou recentemente que a “grande imprensa” exerce a função inconstitucional de partido de oposição ao governo Lula –, sofreu um duro baque na semana passada. Ela foi acusada de ser uma entidade contrária à liberdade de expressão, que se esquiva de “defender os direitos do ser humano, os valores da democracia representativa, a livre iniciativa e a livre concorrência”.
A critica não partiu, como era de se imaginar, de um movimento de luta pela democratização dos meios de comunicação. Ela foi feita por um ex-sócio da ANJ, a Empresa Jornalística Econômico S.A. (Ejesa), responsável pela publicação dos jornais Brasil Econômico, O Dia, Meia Hora e Campeão. Por considerar que a entidade não respeita os princípios que alardeia e defende apenas os interesses dos jornalões O Globo, Folha e Estadão, a Ejesa pediu a sua desfiliação da ANJ.
O falso discurso do “livre mercado”
O racha na entidade confirma a brutal crise vivida pela mídia impressa. Os jornalões tradicionais têm reduzido drasticamente suas tiragens – a Folha, por exemplo, caiu de mais de um milhão de exemplares, nos anos 1980, para menos de 300 mil nos dias atuais –, e temem a concorrência no setor. Numa prova de que a defesa da “liberdade de expressão” e do “livre mercado” é conversa fiada, a ANJ tem feito de tudo para excluir outras empresas do restrito mercado editorial.
Recentemente, a entidade moveu pedido ao Ministério Público para que investigasse a origem da Ejesa, alegando que ela fere o limite de 30% de capital estrangeiro autorizado para o controle dos meios de comunicação no país. A ANJ acusou o grupo de ser controlado por capital português. A reação da empresa foi pedir sua desfiliação da entidade e escancarar a sujeira existente no setor. Na sua nota, a Ejesa afirma que é vítima da perseguição implacável dos monopólios midiáticos e que a ANJ defende unicamente os interesses das Organizações Globo e do Grupo Folha.
Disputa fratricida e cinismo
O grupo editorial também reafirmou que “apóia de forma incondicional toda e qualquer ação que vise assegurar a manifestação do pensamento, a criação, a expressão, a educação e o livre fluxo informativo”. Em sua defesa, a Ejesa argumentou que os “documentos societários se encontram devidamente registrados na Junta Comercial” e garantiu que não fere a legislação brasileira. Para ela, o que ocorre é uma ação mesquinha dos monopólios para restringir a concorrência no setor.
Nesta briga de titãs é difícil tomar partido. A apuração da origem do capital é necessária para se evitar qualquer ilegalidade que dê brechas à invasão estrangeira. O que chama atenção, porém, é a disputa fratricida neste setor e a hipocrisia dos contendores. A “patriótica” ANJ sempre defendeu a criminosa desnacionalização da economia brasileira. Já o jornal O Globo, que agora também pousa de nacionalista, parece que se esqueceu das razões do enriquecimento deste império.
A origem ilegal da Globo
O grupo burlou a legislação brasileira ao se associar ilegalmente à empresa estadunidense Time-Life, em 1962, garantindo acesso a cerca de US$ 6 milhões, o que era proibido pela Constituição. Com esse capital ilegal, a TV Globo montou toda sua infra-estrutura e o Time-Life passou a ter influência direta na emissora brasileira, inclusive indicando o suspeito ianque Joseph Wallace para o cargo de diretor-executivo. O cinismo dos barões da mídia é realmente impressionante.
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A Associação Nacional de Jornais (ANJ), presidida por Judith Brito – executiva do Grupo Folha que confessou recentemente que a “grande imprensa” exerce a função inconstitucional de partido de oposição ao governo Lula –, sofreu um duro baque na semana passada. Ela foi acusada de ser uma entidade contrária à liberdade de expressão, que se esquiva de “defender os direitos do ser humano, os valores da democracia representativa, a livre iniciativa e a livre concorrência”.
A critica não partiu, como era de se imaginar, de um movimento de luta pela democratização dos meios de comunicação. Ela foi feita por um ex-sócio da ANJ, a Empresa Jornalística Econômico S.A. (Ejesa), responsável pela publicação dos jornais Brasil Econômico, O Dia, Meia Hora e Campeão. Por considerar que a entidade não respeita os princípios que alardeia e defende apenas os interesses dos jornalões O Globo, Folha e Estadão, a Ejesa pediu a sua desfiliação da ANJ.
O falso discurso do “livre mercado”
O racha na entidade confirma a brutal crise vivida pela mídia impressa. Os jornalões tradicionais têm reduzido drasticamente suas tiragens – a Folha, por exemplo, caiu de mais de um milhão de exemplares, nos anos 1980, para menos de 300 mil nos dias atuais –, e temem a concorrência no setor. Numa prova de que a defesa da “liberdade de expressão” e do “livre mercado” é conversa fiada, a ANJ tem feito de tudo para excluir outras empresas do restrito mercado editorial.
Recentemente, a entidade moveu pedido ao Ministério Público para que investigasse a origem da Ejesa, alegando que ela fere o limite de 30% de capital estrangeiro autorizado para o controle dos meios de comunicação no país. A ANJ acusou o grupo de ser controlado por capital português. A reação da empresa foi pedir sua desfiliação da entidade e escancarar a sujeira existente no setor. Na sua nota, a Ejesa afirma que é vítima da perseguição implacável dos monopólios midiáticos e que a ANJ defende unicamente os interesses das Organizações Globo e do Grupo Folha.
Disputa fratricida e cinismo
O grupo editorial também reafirmou que “apóia de forma incondicional toda e qualquer ação que vise assegurar a manifestação do pensamento, a criação, a expressão, a educação e o livre fluxo informativo”. Em sua defesa, a Ejesa argumentou que os “documentos societários se encontram devidamente registrados na Junta Comercial” e garantiu que não fere a legislação brasileira. Para ela, o que ocorre é uma ação mesquinha dos monopólios para restringir a concorrência no setor.
Nesta briga de titãs é difícil tomar partido. A apuração da origem do capital é necessária para se evitar qualquer ilegalidade que dê brechas à invasão estrangeira. O que chama atenção, porém, é a disputa fratricida neste setor e a hipocrisia dos contendores. A “patriótica” ANJ sempre defendeu a criminosa desnacionalização da economia brasileira. Já o jornal O Globo, que agora também pousa de nacionalista, parece que se esqueceu das razões do enriquecimento deste império.
A origem ilegal da Globo
O grupo burlou a legislação brasileira ao se associar ilegalmente à empresa estadunidense Time-Life, em 1962, garantindo acesso a cerca de US$ 6 milhões, o que era proibido pela Constituição. Com esse capital ilegal, a TV Globo montou toda sua infra-estrutura e o Time-Life passou a ter influência direta na emissora brasileira, inclusive indicando o suspeito ianque Joseph Wallace para o cargo de diretor-executivo. O cinismo dos barões da mídia é realmente impressionante.
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segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Os erros da direita e de sua mídia
Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:
Com sua imensa auto confiança, Lula chegou a dizer que esta seria a campanha mais fácil para o PT. Comparado com as anteriores, o PT dispõe da vantagem de poder apresentar os resultados do seu governo e não ter que estar confinado ao marco das críticas aos governos dos outros. Este fator já contou fortemente para decidir favoravelmente a eleição de 2006, mas agora, com os dois mandatos, parece contar de maneira ainda mais decisiva.
Mas para ganhar o favoritismo na campanha atual, contou-se também com os erros da direita, de que esta campanha é uma demonstração cabal. Antes de tudo a direita – que conta, sobretudo com o monopólio dos meios de comunicação como sua maior força – seguiu acreditando em um poder que se revela cada vez mais declinante.
A campanha contra o governo em 2005 e a utilização pesada desse monopólio no primeiro turno das eleições de 2006 – em que tiveram peso determinante, com suas manipulações, para a passagem ao segundo turno – lhes deram uma sensação de onipotência, de falar em nome do país da opinião pública. Ficaram com a impressão de um poder que já era declinante e que perdeu aceleradamente força conforme o apoio ao governo se consolidou.
Mas os maiores equívocos vieram da assunção dos valores neoliberais a fundo, acreditando que a população seria solidária com essas posições, confundindo seus interesses com os do país – como é típico da mídia conservadora. Passaram a acreditar que a população brasileira não gosta do Estado, que tudo o que vem do Estado lhe aparece como negativo e que, por conseqüência, o que vem do mercado aparece como positivo à população.
Criticam qualquer gasto governamental, sem nunca discriminar sua destinação, como se à população qualquer ação estatal aparecesse como negativa. Não discriminam se se trata de contratar burocratas ineficientes – o clichê que tem do funcionário público – e não professores, enfermeiras, médicos, para atender a massa da população.
As críticas de FHC e do Serra sobre o “corporativismo” (?) do governo Lula não fazem nenhum sentido para a população, que nem entende o que significa, nem considera que seja um dos problemas essenciais do Brasil. A própria revista conservadora britânica The Economist considera que o povo brasileiro gosta do Estado, que lhe garante direitos. Como esta problemática não está incluída na ótica neoliberal – a dos direitos -, a direita brasileira é vitima dos seus próprios preconceitos e fica na contramão da opinião dos brasileiros.
Da mesma forma, consideram que a participação do movimento sindical e dos partidos seja considerada negativamente pelo povo, assim como julgam que qualquer critério ideológico seja desvirtuador dos objetivos do Estado. O povo prefere um governo que tenha afinidades com os sindicatos – que personificam reivindicações para grandes contingentes da população a um governo, como o de FHC, que criminaliza os sindicatos e nega suas reivindicações.
No plano internacional, a direita carrega a concepção tradicional de relações privilegiadas (de subordinação) com os EUA e com a Europa. Acreditava que o dinamismo econômico externo continuasse a vir desses eixos e propugna o privilegio de relações com eles. A crise atual demonstrou exatamente o contrário. Os países do centro do capitalismo não saem da crise, enquanto que os que optamos pela integração regional, saímos, ao lado do conjunto dos países do sul do mundo.
A direita acredita nas mentiras que propaga. Por exemplo, a de que há um empate técnico, de que os candidatos começam o horário eleitoral numa situação de equilíbrio. É vitima do seu próprio veneno.
O erro mais importante, no entanto, do qual paga um preço caro, é o governo FHC, que acreditou que com a simples estabilidade monetária poderia conquistar apoio popular para perpetuar o projeto do bloco tucano-demista no poder. Sacrificou as políticas sociais, o desenvolvimento econômico, a soberania nacional, o papel ativo do Estado, a regulação econômica, os direitos da massa da população – em função do ajuste fiscal e da hegemonia do capital financeiro.
FHC escolheu como tema central para atacar, a estabilidade monetária, os dados inflacionários aos salários, o ajuste fiscal como remédio para todos os males. Lula escolheu a injustiça social, com o crescimento e a distribuição de renda como antídotos. Fica claro que tem razão e quem triunfou. Com os méritos da esquerda e os erros da direita.
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Com sua imensa auto confiança, Lula chegou a dizer que esta seria a campanha mais fácil para o PT. Comparado com as anteriores, o PT dispõe da vantagem de poder apresentar os resultados do seu governo e não ter que estar confinado ao marco das críticas aos governos dos outros. Este fator já contou fortemente para decidir favoravelmente a eleição de 2006, mas agora, com os dois mandatos, parece contar de maneira ainda mais decisiva.
Mas para ganhar o favoritismo na campanha atual, contou-se também com os erros da direita, de que esta campanha é uma demonstração cabal. Antes de tudo a direita – que conta, sobretudo com o monopólio dos meios de comunicação como sua maior força – seguiu acreditando em um poder que se revela cada vez mais declinante.
A campanha contra o governo em 2005 e a utilização pesada desse monopólio no primeiro turno das eleições de 2006 – em que tiveram peso determinante, com suas manipulações, para a passagem ao segundo turno – lhes deram uma sensação de onipotência, de falar em nome do país da opinião pública. Ficaram com a impressão de um poder que já era declinante e que perdeu aceleradamente força conforme o apoio ao governo se consolidou.
Mas os maiores equívocos vieram da assunção dos valores neoliberais a fundo, acreditando que a população seria solidária com essas posições, confundindo seus interesses com os do país – como é típico da mídia conservadora. Passaram a acreditar que a população brasileira não gosta do Estado, que tudo o que vem do Estado lhe aparece como negativo e que, por conseqüência, o que vem do mercado aparece como positivo à população.
Criticam qualquer gasto governamental, sem nunca discriminar sua destinação, como se à população qualquer ação estatal aparecesse como negativa. Não discriminam se se trata de contratar burocratas ineficientes – o clichê que tem do funcionário público – e não professores, enfermeiras, médicos, para atender a massa da população.
As críticas de FHC e do Serra sobre o “corporativismo” (?) do governo Lula não fazem nenhum sentido para a população, que nem entende o que significa, nem considera que seja um dos problemas essenciais do Brasil. A própria revista conservadora britânica The Economist considera que o povo brasileiro gosta do Estado, que lhe garante direitos. Como esta problemática não está incluída na ótica neoliberal – a dos direitos -, a direita brasileira é vitima dos seus próprios preconceitos e fica na contramão da opinião dos brasileiros.
Da mesma forma, consideram que a participação do movimento sindical e dos partidos seja considerada negativamente pelo povo, assim como julgam que qualquer critério ideológico seja desvirtuador dos objetivos do Estado. O povo prefere um governo que tenha afinidades com os sindicatos – que personificam reivindicações para grandes contingentes da população a um governo, como o de FHC, que criminaliza os sindicatos e nega suas reivindicações.
No plano internacional, a direita carrega a concepção tradicional de relações privilegiadas (de subordinação) com os EUA e com a Europa. Acreditava que o dinamismo econômico externo continuasse a vir desses eixos e propugna o privilegio de relações com eles. A crise atual demonstrou exatamente o contrário. Os países do centro do capitalismo não saem da crise, enquanto que os que optamos pela integração regional, saímos, ao lado do conjunto dos países do sul do mundo.
A direita acredita nas mentiras que propaga. Por exemplo, a de que há um empate técnico, de que os candidatos começam o horário eleitoral numa situação de equilíbrio. É vitima do seu próprio veneno.
O erro mais importante, no entanto, do qual paga um preço caro, é o governo FHC, que acreditou que com a simples estabilidade monetária poderia conquistar apoio popular para perpetuar o projeto do bloco tucano-demista no poder. Sacrificou as políticas sociais, o desenvolvimento econômico, a soberania nacional, o papel ativo do Estado, a regulação econômica, os direitos da massa da população – em função do ajuste fiscal e da hegemonia do capital financeiro.
FHC escolheu como tema central para atacar, a estabilidade monetária, os dados inflacionários aos salários, o ajuste fiscal como remédio para todos os males. Lula escolheu a injustiça social, com o crescimento e a distribuição de renda como antídotos. Fica claro que tem razão e quem triunfou. Com os méritos da esquerda e os erros da direita.
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