segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Desculpe, Marina, mas eu estou de mal

Reproduzo artigo enviado por Maurício Abdalla:

Marina, há os que a conhecem de agora, como candidata aplaudida pelos mass media. Esses podem estar de bem com você. Mas há os que a conhecem como a militante cristã, engajada nas causas sociais que os que hoje a paparicam jamais tiveram sequer conhecimento – ou, de qualquer forma, com elas nunca se importaram. Há os que também a conhecem como a doce e ferina oposição ao Governo do PSDB em seu mandato como senadora. Esses, Marina, como eu, estão de mal.

Neutra, Marina? Neutros ficamos diante de questões que nos são indiferentes. É-lhe indiferente o futuro do nosso país? Custa-me crer, pois sua história um dia a posicionou. Posicionou-a, inclusive, ao lado de Lula. Não acredito que para você tanto faça a continuidade do atual Governo ou o retorno dos tucanos. Sabe por que, Marina? Porque não “tanto fez” para você durante os 5 anos e meio em que esteve no Governo. Ou você também ficaria tanto tempo como ministra de um Governo do PSDB/DEM? Ou se o governo Lula fosse igual ao do FHC? Alguma diferença havia de ter, não é verdade? Caso contrário, suas motivações passariam a ser um tanto quanto paradoxais.

Em que pese às decepções que tivemos, Marina, não nos é indiferente – a nós que pensamos nos pobres e na justiça social – o fato de 30 milhões de pessoas terem, hoje, o que comer. Não podemos dizer que tanto faz um salário mínimo de R$ 300,00 ou de R$ 510,00. Que mais 15 milhões de pessoas tenham emprego, em contraste com o presidente anterior que cunhou o termo “inempregáveis” como resposta ao desemprego, é fato que não pode deixar de tocar-nos o coração.

É diferente, Marina, tratar os presidentes de outros países, quando são índios, mestiços e ligados aos movimentos sociais, como legítimos mandatários ou tratá-los como ralé que deveria submeter-se aos EUA e ao sub-imperialismo de nosso país gigante.

Temos severas críticas ao Governo Lula, mas nenhuma delas se assemelha às críticas das elites e de seus meios de comunicação. Nenhuma delas pode ser superada por alguma proposta do Serra. Ao contrário, o retorno do PSDB/DEM apenas aumentará as nossas bandeiras de oposição.

Em situações como esta, a neutralidade é um péssimo exemplo para os jovens. Ainda espero que você se posicione. Ainda aguardo que você volte a ser a Marina, de família de seringueiros, cristã, militante, sindicalista e Silva. E que repita para essa juventude que não conheceu o governo do PSDB/DEM tudo aquilo que você já disse sobre ele no senado.

Ainda espero. Pois eu, ao contrário de Caymmi – e, em certo sentido, ao contrário também de você que ainda rumina uma mágoa mal digerida do Governo – “quando me zango, Marina, eu sei perdoar”.

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Politizar, polarizar e mobilizar

Reproduzo artigo de Valter Pomar, publicado na revista Caros Amigos:

Dilma venceu o primeiro turno. Mas não venceu no primeiro turno. A grande mídia, o Demo-PSDB e seus aliados no PV comemoraram. Mas havia jeito de ser diferente?

Lula disputou três eleições antes de vencer, em 2002. No segundo turno. Candidato à reeleição, novamente teve que enfrentar um segundo turno. Como é que com Dilma poderia ser diferente?

Aliás, é curioso: quando iniciamos a campanha, Dilma foi alvo de críticas, ironia e descrença da parte de quem a “acusava” de nunca ter disputado uma eleição.

Quem compartilhava desta impressão negativa, certamente foi surpreendido pelo seu crescimento eleitoral, vendo-o como algo inesperado, capaz inclusive de gerar a proeza de uma vitória em primeiro turno.

E, paradoxalmente, aqueles mesmos enxergaram na ida para o segundo turno uma derrota, quando o surpreendente é exatamente o oposto: que apesar de ser estreante, Dilma quase tenha vencido já no primeiro turno, mostrando que ela era a pessoa certa, no lugar e hora adequados.

Infelizmente, parte importante dos apoiadores da candidatura Dilma acabou caindo no conto de que era possível vencer no primeiro turno. Isso se deve, em alguma medida, a um erro da coordenação de campanha, que embora dissesse o contrário, não adotou as vacinas necessárias, talvez porque no fundo acreditasse em Papai Noel.

A verdade é que em 2010, igual ocorreu em 2006, uma parte de nós evoluiu do pessimismo para um otimismo irresponsável, que dava como praticamente garantida a vitória no primeiro turno; e, pior ainda, em nome desta suposta vitória garantida, adotou uma postura defensiva e despolitizada que, ironicamente, nos levou não à vitória no primeiro turno, mas sim ao segundo turno.

Qual a necessidade de dizer isto, neste momento? Simples: não repetir o erro.

Para ganhar no segundo turno, é fundamental saber que podemos ser derrotados, que nosso lado comete muitos erros, que a oposição de direita é muito forte, que pode haver uma virada. Quem acha que é impossível perder, não está preparado para vencer.

Este foi, talvez, o principal erro que cometemos no primeiro turno: retranca excessiva, às vezes justificada pela possibilidade de uma vitória no primeiro turno, às vezes pela amplitude das alianças, às vezes pelas características da candidata. A retranca foi tanta que, pela primeira vez, não divulgamos oficialmente nosso programa de governo!!!

Esta postura defensiva teve como decorrência certa subestimação do debate político e da polarização, que acabou entrando na campanha pela porta dos fundos, seja por elogiáveis rompantes de algumas lideranças (por exemplo, algumas críticas de Lula contra certa imprensa), mas geralmente por iniciativa da própria direita.

Claro que a oposição de direita não tem interesse em fazer o debate político da maneira como nós gostaríamos. Isto foi interpretado por alguns, erroneamente, como se a direita estivesse “sem projeto”, “se perdendo” em acusações sobre terrorismo, Farc, tráfico, dossiês, radicais e aborto. Quando na verdade a direita estava operando a polarização e politização nas catacumbas, inclusive manipulando em seu proveito aquilo que gostamos de apontar como uma das provas de nosso êxito: o crescimento da classe média.

Aliás, é curioso: quando se pergunta de onde vem grande parte da animosidade contra o governo Lula, contra o PT e contra Dilma, a resposta é: de setores da classe média. Mas quando se pergunta qual é um dos grandes êxitos do governo Lula, a resposta é: o crescimento da classe média. Algo não bate nesta conta.

Deixemos de lado os equívocos conceituais e os exageros estatísticos na discussão sobre a tal classe média e nos limitemos ao seguinte: a elevação das condições materiais de vida de amplos setores da população brasileira, ocorrida nos últimos anos, não foi acompanhada de similar elevação cultural, ideológica e política. A diferença entre uma coisa e outra, numa aproximação grosseira, é a diferença entre a aprovação do governo Lula e a votação de Dilma, neste respectivo setor social.

Falando noutros termos: não basta e nunca bastou o lulismo. Se a simpatia em Lula não for politizada e organizada, em sindicatos, em partidos, noutra visão de mundo propagada por outros meios de comunicação, corremos o risco de assistir segmentos amplos das camadas populares, embora vivendo melhor, continuarem sendo manipulados pela mesma mídia, pela mesma direita e por igrejas conservadoras que se opuseram àquelas medidas que fizeram a vida melhorar.

Por analogia: não basta e nunca bastou a campanha eletrônica. Se não houver militância, corpo-a-corpo, trabalho de formiga cotidiana, seremos vítima dos instrumentos de que a direita dispõe, inclusive a pregação direta feita por religiosos conservadores de variados credos.

No segundo turno, Dilma vencerá se mantiver ao seu lado quem já votou nela; se recuperar quantia significativa de eleitores simpáticos a ela, mas que no primeiro turno escolheram Serra ou Marina; se conseguir parte dos votos de quem não optou por nenhum dos candidatos ou nem mesmo foi votar (este contingente é maior do que o total de eleitores de Serra).

Dilma conseguirá manter ou conquistar estes eleitores, se nossa campanha politizar, polarizar e mobilizar. Agindo assim, neutralizará o terrorismo religioso e a onda de calúnias, que ganharam espaço na exata medida em que nossa campanha deixou de explicitar o debate político de projetos.

Sobre isto, um detalhe: os “analistas políticos” da direita fazem questão de divulgar pesquisas “científicas” dizendo que foi o caso Erenice --e não o tema do aborto-- que levou a disputa ao segundo turno. A rigor, foi de tudo um pouco e haverá tempo para um debate mais científico a respeito. Mas a preocupação dos “analistas políticos” revela, talvez, que eles tenham percebido que o exagero na sordidez pode ser contraproducente, por fazê-los perder votos, mas principalmente por estimular a mobilização dos setores democráticos e progressistas contra a volta da TFP, Opus Dei e CCC.

Sobre o tema do aborto, aliás, a campanha deve sustentar tranquilamente o que foi inscrito no Tribunal Superior Eleitoral, a saber: Promover a saúde da mulher, os direitos sexuais e direitos reprodutivos. O Estado brasileiro reafirmará o direito das mulheres ao aborto nos casos já estabelecidos pela legislação vigente, dentro de um conceito de saúde pública. Como disse a candidata no debate da Band, entre prender e tratar, ela prefere tratar.

Olhando o conjunto da situação, não há como não recordar certo bordão: a burguesia nunca nos falta. E, como de outras vezes, está nos obrigando a politizar, polarizar e mobilizar a base política e social que apóia o governo Lula e a candidatura Dilma, em defesa do que fizemos, mas principalmente do que faremos.

Comparar os governos FHC e Lula e confrontar os dois projetos que estão em disputa: passada a confusão dos primeiros dias, esta vem sendo a linha de campanha no segundo turno, como ficou visível no debate da Band e no horário eleitoral gratuito.

Não se trata, portanto, de mudar de opinião sobre nada; do que precisamos, simplesmente, é colocar em pauta, no centro do debate, o que realmente interessa: o futuro do povo brasileiro.

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Ambientalistas pró-Marina apóiam Dilma

Reproduzo artigo de Maurício Thuswohl, publicado na Rede Brasil Atual:

Apesar de a candidata derrotada do PV nas eleições, Marina Silva, ter oficializado no domingo (17) sua posição de “independência” em relação ao segundo turno da disputa presidencial, alguns dos principais ambientalistas do país que a acompanharam no primeiro turno decidiram lançar um manifesto de apoio à candidata do PT, Dilma Rousseff. O manifesto será lido nesta segunda-feira (18) no Rio de Janeiro, durante o ato de apoio à petista organizado por intelectuais e artistas _ comandados por Chico Buarque, Leonardo Boff, Emir Sader e Eric Nepomuceno, no Teatro Casa Grande.

A leitura do manifesto de apoio dos ambientalistas e sua entrega à Dilma serão realizadas por Ivan Marcelo Neves, que é secretário-executivo do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável (FBOMS). Neves, no entanto, esclarece que o manifesto é uma iniciativa individual de cada um dos dirigentes signatários e que o mesmo não trará a assinatura das entidades, organizações ou redes do movimento socioambientalista: “Dentro do FBOMS, por exemplo, existem setores que não são favoráveis a apoiar o candidato A ou B. Vamos respeitar essa diversidade, até porque não houve tempo para uma discussão aprofundada. Por isso, as manifestações de apoio são individuais”.

Mesmo não sendo assinado pelas entidades, o manifesto traz o apoio individual de respeitados dirigentes do movimento socioambientalista ligados a organizações como o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), a Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA) e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), entre outras, além do próprio FBOMS. Por isso, a divulgação do manifesto logo no dia seguinte ao anúncio da opção de Marina e do PV pela “independência” é vista com muitos bons olhos no comando da campanha de Dilma, que enxerga no documento um importante trunfo para conquistar parte dos votos destinados à candidata verde no primeiro turno.

No manifesto, obtido em primeira mão pela Rede Brasil Atual, os ambientalistas afirmam “assumir com firmeza política” o apoio à Dilma: “Mesmo considerando que o governo Lula não foi tão longe quanto poderia ir na área de meio ambiente, avaliamos como indiscutíveis os avanços deste em relação ao governo anterior, comandado pelo PSDB de Fernando Henrique Cardoso. Consideramos também que a eventual eleição do candidato José Serra representaria um enorme e perigoso retrocesso nas políticas ambientais brasileiras”, diz o documento.

Apesar das críticas ao governo federal, os ambientalistas reconhecem os avanços conquistados pelo país: “Nos últimos oito anos, o Brasil avançou em suas políticas ambientais e se consolidou como um ator de primeira importância nas discussões internacionais sobre temas como mudanças climáticas, proteção à biodiversidade e preservação das florestas, entre outros. Nós avaliamos que as conquistas do país na área ambiental são méritos tanto da gestão de Marina Silva à frente do Ministério do Meio Ambiente quanto da gestão de Carlos Minc, que a substituiu no MMA”, diz o manifesto.

Código Florestal

Além da carta de apoio, o manifesto traz também uma série de propostas que serão levadas à apreciação do comando da campanha de Dilma. Entre elas, destaque para a proposta de “aprofundar junto à sociedade civil e às entidades do movimento socioambientalista as discussões sobre as alterações propostas no Código Florestal e evitar o retrocesso na legislação ambiental atualmente defendido por alguns setores da sociedade representados no Congresso Nacional”.

No total, serão levadas ao conhecimento da candidata do PT vinte e cinco propostas que tratam de temas como mudanças climáticas, desmatamento, biodiversidade, agrotóxicos, transgênicos, conhecimentos tradicionais, bacias hidrográficas, políticas energéticas e licenciamento ambiental, entre outras: “Nós, abaixo assinados, estamos convictos que um governo comandado por Dilma Rousseff terá muito mais condições e vontade política para implementar esse conjunto de propostas _ assim como de fortalecer a participação do movimento socioambientalista na elaboração e implementação das políticas públicas ambientais _ do que um governo de José Serra”, afirma o manifesto.

Propostas

Logo após o anúncio da posição de Marina Silva e do PV, alguns ambientalistas que agora declaram apoio à Dilma chegaram a hesitar em apresentar uma pauta de reivindicações ao comando da campanha petista, uma vez que a ex-ministra do Meio Ambiente já havia feito o mesmo. Ao final, no entanto, prevaleceu a visão de que uma mera declaração de apoio sem a inclusão de propostas passaria a impressão de pouca consistência política.

“Entre as propostas apresentadas pelo PV, foi o PT o partido que mais apresentou concordâncias neste segundo turno das eleições. Nós ambientalistas não estamos colocando nada do que já não tenhamos pautado o atual governo e outros governos. Estas são as reivindicações dos ambientalistas. Devemos tê-las sempre, pois isso demonstra que somos coerentes em qualquer situação”, diz Ivan Marcelo Neves.

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Serra censura Revista Brasil

Reproduzo matéria publicada no blog "Os amigos do presidente Lula":

José Serra, o candidato mentiroso, constuma dizer em debates e na frente das câmeras de TV que é a favor da liberdade de expressão. Mentira! Se fosse não teria ficado em silêncio quando a igreja católica, a seu pedido, distribuiu panfletos contra Dilma, o que claramente favoreceu sua cndidatura.

Agora, quando a CUT tentou distribuir panfleto pró-Dilma, o candidato José Serra procurou o TSE.

E o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) deferiu em parte o pedido de liminar da coligação de José Serra (PSDB) contra Dilma Rousseff (PT), que afirmava que a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e outras entidades sindicais estariam patrocinando a produção material impresso para promover a candidata. Tal qual a CNBB fez com Serra.

A liminar também diz que as entidades estariam fazendo campanha na internet, em favor da Dilma. Porém, José Serra não mencionou sites, revistas, blogs e jornais que estão fazendo campanha para ele 24 horas.

O TSE determinou que a CUT não distribua mais a edição do "Jornal da CUT" de 28 de setembro e que suspenda a divulgação da publicação no seu site. Determinou, ainda, que a CUT suspenda a divulgação em seu site da "Revista do Brasil", também de outubro, as chamadas e textos das mensagens e que a Editora Gráfica Atitude Ltda. não distribua a "Revista do Brasil" e suspenda a divulgação da publicação na internet.

A liminar foi indeferida em parte porque, tendo em vista a data de publicação do jornal e da revista, além do fato de que inclusive já se encontram disponibilizados na internet, seria desnecessária a busca e apreensão requerida.

José Serra também queria censurar o blog de Artur Henrique, asism como fez com o nosso. Porém foi indeferido o pedido de suspensão do "Blog do Artur Henrique", por se tratar de blog de pessoa natural e, portanto, autorizado pela lei.

Ainda foi negado a José Serra o pedido de liminar para que a CUT e a editora apresentem os documentos referentes à contratação da produção das publicações e a empresa gráfica onde foram confeccionados.

Por ausência de previsão legal e "por não vislumbrar a utilidade da medida de busca e apreensão reclamada", o ministro Joelson Dias, relator do processo, indeferiu o pedido de que o processo tramite em segredo de justiça, até sua conclusão.

"Em regra, os processos judiciais correm publicamente, salvo raras exceções, como nas ações de impugnação de mandato eletivo, o que não é o caso", observou. A coligação de Serra pediu o pagamento de multas que variam de R$ 5.000 a R$ 30 mil, além do reconhecimento da ilegalidade das publicações.

O site da Rede Brasil Atual está neste momento fora do ar. Ordem de José Serra. Link: http://www.redebrasilatual.com.br.

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A encruzilhada mais séria desde 1964

Reproduzo artigo enviado pelo jornalista e amigo Alipio Freire:

Ainda que possa parecer para muitos de vocês que estou "chovendo no molhado", sinto-me no dever de repetir:

Vivemos hoje, no Brasil, encruzilhada das mais sérias desde o golpe de 64.

Não interessa muito, a esta altura, as nossas opiniões pessoais sobre os limites das políticas do Partido dos Trabalhadores; da sua política de alianças; do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva; etc. Interessa menos ainda as nossas simpatias pessoais ou opiniões pontuais sobre a candidata Dilma Rousseff (minha candidata desde o primeiro turno).

O que escolhemos nesta eleição é simplesmente o seguinte: ou vamos com a candidata Dilma, e os seus limites, ou escolhemos o candidato da “santa” aliança Demo-Tucana, o senhor José Serra, com sua absoluta falta de limites políticos, éticos e morais.

Não adianta mais discutirmos as falcatruas com as verbas públicas levadas a cabo pelo dois blocos que hoje polarizam a disputa; tolice descobrir ou avaliar quem roubou mais, se os Sarneys ou os Henrique Cardosos; se este ou aquele dirigente petista, ou o ministro Sérgio Motta para a compra do Congresso visando o segundo mandato para o Príncipe dos Sociólogos; se os filhos deste ou daquele presidente, ou daquele governador cuja descendência praticamente monopolizou os pedágios de São Paulo privatizados pelo pai, etc. etc. etc.

Obviamente todas essas coisas estão erradas e, se nos afligem não importando qual dos lados as tenha praticado, para o bloco Demo-Tucanos, não há qualquer reação de repúdio ou censura aos seus membros que assim sempre agiram, agem e agirão: não enrubescem. Pelo contrário, providenciam apenas os Gilmar Mendes para colocar na presidência do STF.

Na verdade, o Demo saqueia o país desde antes de sermos Brasil, quando este território atendia apenas e genericamente por Pindorama, e aqui desembarcaram em 1500. Nos ancestrais do Demo está a responsabilidade de todas as mazelas que vimos herdando há tantas gerações. No Demo está a matriz da corrupção, do Estado autoritário, da escravidão, da tortura, da repressão e de todas as misérias que assolam o país e que conhecemos sobejamente.

Mas não é isto o que fundamentalmente está em jogo neste momento.

Também não está em jogo o programa econômico (macro) das duas candidaturas – na atual conjuntura internacional, e com as estratégias definidas por vários dos partidos de esquerda, essas políticas econômicas dificilmente poderiam ser outras que não as que estão na praça. No entanto, entre uma perspectiva de crescer com distribuição de renda ou com concentração de rendas, sem sombra de dúvidas, a primeira alternativa (representada pela candidatura Dilma Rousseff) é a que mais convém ao nosso povo.

Chamo a atenção de alguns camaradas mais radicalizados para o seguinte: não haverá Armagedon ou Apocalipse Socialista. O povo não morrerá de fome hoje para ressuscitar em pleno Esplendor da Aurora Socialista, quando os rios jorrarão leite e mel. Não haverá qualquer profeta Daniel do Velho Testamento, ou o São João, do Novo Testamento, capaz de prover milagre de tamanha envergadura. Isto não existe, senão nas pobres cabeças de alguns, acostumados a fazer três refeições por dia, e a não passar frio nem calor, resguardados por um conforto que deveria ser igual para todos.

Mas, muito mais que isto, o que está em jogo nesta eleição é ainda mais grave que esta escolha de programa de crescimento.

Trata-se, na verdade, de escolhermos entre uma candidata que quer e fará o possível para nos preservar do fascismo que se expande em todo o mundo (sobretudo nos países centrais do capitalismo), ou um candidato cuja campanha e cujas declarações e estratégias apontam para um alinhamento exatamente com o fascismo.

E não se trata de figura de retórica, discurso de palanque, o que aqui escrevo.

Enquanto na Europa e nos Estados Unidos cresce a xenofobia, o ódio contra os trabalhadores imigrantes; enquanto na Itália o Congresso aprova uma lei que permite e estimula a criação de "rondas de cidadãos" (leia-se, formação de milícias paramilitares); enquanto na Suécia, a ultradireita conquista cadeiras no Parlamento; enquanto na Holanda, a ultradireita cresce no Parlamento - podendo vir a se tornar maioria; enquanto o Governo de Washington – mascarado pela melanina do seu presidente - barra o acordo Brasil-Turquia-Irã, que poderia abrir um importante canal de negociações pacíficas para aquela região que vive hoje a ameaça de invasão pelos EUA e seus aliados, tipo as que foram levadas a cabo no Iraque e no Afeganistão – ocupados até hoje, a ferro e fogo, pela democracia estadunidense; etc. etc. etc.

O senhor candidato da aliança Demo-Tucana segue a mesma linha em sua campanha.

Sim, meus camaradas e amigos: a linha de campanha do senhor José Serra é uma linha fascista. E não é necessária muita análise ou qualquer metafísica para concluirmos isto:

Quando o senhor José Serra ataca sua adversária por ter lutado bravamente na resistência contra a ditadura, o senhor José Serra não apenas tenta criminalizar a candidata Dilma Rousseff e todos os seus companheiros de lutas dos anos 1960-1970, quando os liberais – longe de se oporem à ditadura (o que só farão a partir da metade da década de 1970), serviam de sustentação àquele regime. Significa criminalizar todos os que lutam hoje por seus direitos, todos os movimentos e organizações dos trabalhadores e do povo – como, aliás, têm agido as PMs nos Estados governados pela “santa” aliança que sustenta a candidatura do senhor José Serra.

Isto é fascismo.

Quando o senhor José Serra coloca a questão do aborto e sua estigmatização como divisor de águas entre ele e a candidata Dilma Rousseff – estamos exatamente no terreno da intolerância fascista.

Quando o senhor José Serra tenta transformar a disputa política numa guerra religiosa - estamos no terreno privilegiado do fascismo. Aliás, a este respeito, certo filósofo alemão de origem judaica já nos advertia no século 19 sobre as guerras religiosas enquanto o mais baixo degrau da política, e suas conseqüências para a maioria do povo. Fomentar a intolerância religiosa (ou qualquer outro tipo de intolerância) é fascismo.

Quando o senhor José Serra participa de regabofes no Clube Militar e estimula os encontros entre esses que deveriam ser os guardiões da legalidade e da nossa Constituição, e os lambe-botas da grande mídia comercial que pregam, sem pejo e desabridamente, o golpe contra as nossas instituições, estamos cara a cara com o fascismo.

Quando o senhor José Serra se dirige ao Clube do Pijama, que reúne a nata do que há de pior e mais reacionário dos oficiais da reserva (e que garantiu a ferro e fogo, à base de seqüestros de opositores, aprisionamentos em cárceres clandestinos, torturas, assassinatos e ocultação de cadáveres, os 25 anos de ditadura), ressuscitando fantasmas tipo "República Sindical" e outros jargões que serviram de mote para o golpe de 1964, o senhor José Serra se comporta como um fascista.

Quando o senhor José Serra se articula com a grande mídia comercial para divulgar todo tipo de mentiras e aleivosias contra a candidata Dilma Rousseff e seus apoiadores, sem a menor vergonha de falsificar e publicar uma suposta ficha dos órgãos de repressão da ditadura sobre candidata Dilma Rousseff, o senhor Serra age como um fascista.

Quando o senhor José Serra conquista como apoiadores e se reúne com organizações paramilitares – verdadeiras societas sceleris – como a Tradição Família e Propriedade – TFP, e o Comando de Caça aos Comunistas – CCC, o senhor José Serra está se articulando com fascistas.

E somente fascistas se articulam com fascistas.

Quando o senhor José Serra, em atos aparentemente menores (e apenas demagógicos), como na sua lei antifumo, ou na criação da "nota paulista", e não equipa o Estado da quantidade adequada de funcionários para o controle dessas questões, transferindo esse controle para os cidadãos, estamos frente ao pior dos fascismos: a tentativa de transformar os cidadãos e cidadãs num grande exército de dedos duros e alcagüetes, um verdadeiro embrião das "rondas de cidadãos" do senhor Berlusconi.

Muito mais poderíamos apontar como atos que fazem do senhor José Serra um fascista. A lista, no entanto, seria grande demais (uma verdadeira lista telefônica).

Neste momento, o mais importante é que tenhamos todos muito claro o que significam as duas candidaturas, onde se diferenciam fundamentalmente, e as conseqüências que enfrentaremos com a eleição de uma ou do outro dos candidatos.

A unidade, neste segundo turno, em torno da candidatura de Dilma Rousseff – do meu ponto de vista – tem um claro caráter de frente antifascista.

Sem sombra de dúvida, a unidade em torno do entendimento acima exposto sobre o significado das duas candidaturas e, em conseqüência, a escolha da candidata Dilma Rousseff constituem um ponto de partida fundamental.

Apesar disto, não é suficiente, não basta.

É necessário um passo a mais.

É necessário que nos organizemos e passemos à ação, de forma articulada com o geral da campanha. É necessário, portanto, que procuremos os comitês de campanha dos partidos aos quais sejamos filiados, ou os comitês suprapartidários que apóiam a nossa candidata.

Neste momento, circulam dezenas de manifestos de setores sociais, profissionais, religiosos, etc., com milhares de assinaturas em apoio à candidata Dilma Rousseff. É óbvia a importância de fazermos com que circulem em nossas listas via internet. No entanto, se nos detivermos apenas nisto, corremos o risco de conversarmos sempre e apenas entre nós. E é fundamental que consigamos sair do nosso círculo. Creio que uma boa maneira de faze-lo, de sairmos da tentação do espelho, seria – e que proponho – que reproduzíssemos grandes quantidades desses manifestos e, em grupos, fôssemos distribuí-los, nos locais de concentração dos sujeitos aos quais se dirigem esses manifestos e abaixo-assinados.

Por exemplo: no pé desta mensagem, repasso para todos um documento assinado por religiosos e leigos católicos e evangélicos. Pois bem, podemos reproduzi-lo e panfletarmos organizadamente nas saídas das igrejas e templos, conversando com as pessoas, explicando, convencendo aqueles que ainda tenham dúvidas, etc. Com o manifesto dos juristas, como um segundo exemplo, faríamos panfletagens nas portas de fóruns e tribunais nos horários de entrada e saída do pessoal, e assim por diante.

Temos de vencer o poder da grande mídia.

Para isto, vamos todos para as ruas, praças e avenidas – espaços privilegiados da nossa luta, pois é neles que podemos ser mais forte.

E nos encontraremos pelas ruas e praças do Brasil.

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