Por Altamiro Borges
Este fim de ano tem sido difícil para vários bolsonaristas que sempre se travestiram de defensores da ética e dos bons costumes. Não é só a “deputada-pistoleira” Carla Zambelli (PL-SP) que está na mira. Nesta quinta-feira (19), a Polícia Federal efetuou seis mandados de busca e apreensão em endereços de assessores dos deputados Carlos Jordy e Sóstenes Cavalcante – ambos do PL do Rio de Janeiro. Investigações apontam para o desvio de cotas parlamentares a partir de contratação irregular com empresa de locação de veículos.
A operação da PF foi batizada ironicamente de “Rent a Car”, em referência aos elementos centrais das investigações e às práticas ilícitas identificadas. O caso tramita em sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF) sob relatoria do ministro Flávio Dino. Segundo matéria da Folha, “os suspeitos realizavam a prática de ‘smurfing’, que consiste em dividir um dinheiro ilícito em outros depósitos para despistar os órgãos de fiscalização. Os dois deputados são apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Sóstenes Cavalcante é uma das lideranças da bancada evangélica no Congresso”.
O mimimi vitimista dos deputados
Diante da operação policial, os dois bolsonaristas juraram que são inocentes – mas evitaram jogar às feras os seus assessores. Eles também recorreram ao velho mimimi vitimistas. “Acho estranho que isso justamente venha num momento em que todos já sabem que tenho as assinaturas suficientes para ser o líder do maior partido da Câmara, o PL. Quero acreditar que esse tipo de investigação não seja nenhum tipo de perseguição política”, choramingou o parlamentar-pastor.
Já o truculento Carlos Jordy usou a tribuna da Câmara Federal para rechaçar a “pesca probatória” da Polícia Federal, chamando-a de “Gestapo”. Alvo de outras operações de busca, o deputado ainda reclamou: “Até hoje não me devolveram nada, para que eu possa ficar embaixo do braço deles, pra que eu possa inclusive disputar uma eleição para prefeito, como eu fiz, e ser colocado como indiciado, investigado do 8 de janeiro e eu não tive participação alguma naquele episódio”.
R$ 584 mil para a locadora de automóveis
O chororô dos dois famosos bolsonarista, porém, agora deverá ser exposto às provas levantadas pela Polícia Federal. Conforme já revelou o jornal O Globo, a locadora de automóvel usada para os supostos desvios de verbas pertence à irmã de Itamar de Souza Santana, secretário parlamentar de Carlos Jordy. A empresa Alfa Auto Car Locação de Veículos, cujo nome fantasia é Mobile Rent, inclusive foi visitada pelos agentes da PF. Segundo a Receita Federal, a locadora tem como sócia a administradora Rosileide de Souza Santana, irmã do assessor bolsonarista.
De acordo com o Portal da Transparência da Câmara dos Deputados, os gabinetes dos deputados Carlos Jordy e Sóstenes Cavalcante desembolsaram R$ 584 mil com a locadora entre janeiro de 2019 e dezembro de 2024. Os recursos vieram da cota parlamentar, destinada a custear despesas como transporte e comunicação dos parlamentares. A PF suspeita que a empresa foi usada para desviar esses valores, simulando a prestação de serviços. O jornal O Globo até visitou a sede da locadora, registrada em um endereço na Asa Sul, em Brasília, mas o local estava vazio.
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