quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O caso do dossiê Amaury

Reproduzo artigo de Luis Nassif, publicado em seu blog:

Para entender melhor o inquérito da Polícia Federal sobre a quebra do sigilo fiscal dos tucanos.

As investigações foram encerradas na semana passada, inclusive com a tomada de depoimento do repórter Amaury Jr por mais de dez horas.

A conclusão final do inquérito foi a de que Amaury trabalhou o dossiê a serviço do Estado de Minas e do governador Aécio Neves – como uma forma de se defender de esperados ataques de José Serra.

Em negociação com o Palácio, a cúpula da Polífica Federal decidiu segurar as conclusões para após as eleições, para não dar margem a nenhuma interpretação de que o inquérito pudesse ter influência política.

No entanto, a advogada de Eduardo Jorge – que tem acesso às peças do inquérito por conta de uma liminar na Justiça – conseguiu as informações. Conferindo seu conteúdo explosivo, aparentemente pretendeu montar um antídoto. Vazou as informações para a Folha, dando ênfase ao acessório – a aproximação posterior de Amaury com a pré-campanha de Dilma – para diluir o essencial – o fato de que o dossiê foi fogo amigo no PSDB.

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Serra, Aécio e o duelo dos tucanos

Reproduzo artigo de Saul Leblon, publicado no Blog de Frases no sítio Carta Maior:

Diante da escorregada de seu candidato nas pesquisas de intenções de voto [hoje sai novo Ibope], a Folha abriu manchete garrafal nesta 4º feira para requentar o tema da quebra de sigilo fiscal de impolutas figuras que cercam a vida e as obras de José Serra [Paulo Preto é hours concours; tem enredo exclusivo]. Mexeu com brasa dormida. Ao contrário do que sugere, o tema é inoportuno para Serra, carente, mais que nunca, de apoios em MG.

O destinatário das informações fiscais mencionadas foi o jornalista Amaury Jr, cujo depoimento à Polícia Federal traz revelações bem mais incomodas à campanha tucana do que petista.

Vejamos:

a) o jornalista afirmou que sua pesquisa sobre todos os homens de Serra teve como origem, motivação e destino original a defesa preventiva do ex-governador Aécio Neves;

b) Defesa contra quem Amaury?, perguntou naturalmente a Polícia Federal. Resposta: contra Serra e seu agente de espionagem e dossiês, deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), ex-policial federal, que naquele momento produzia dossiês contra Aécio Neves, para forçá-lo a desistir da postulação presidencial dentro do PSDB c) a revelação reitera a crescente percepção de que os métodos, metas e meios de Serra não tem familiaridade com o jogo limpo e transparenter da democracia.

d)à PF, Amaury afirmou ainda que iniciou seus levantamentos quando era funcionário do jornal 'Estado de Minas', que apoiava Aécio nesse duelo inter-bicudos.

e) o jornalista afirmou ainda que só mais tarde, concluído seu levantamento sobre recursos e riquezas enredados na biografia de Serra, teve contato com círculos da pré-campanha do PT. Seu computador, então, foi furtado --acredita Amaury-- por alguém desse círculo. A partir daí o tema vazou para os jornais. Cabe agora aos jornais informar a seus leitores o que, afinal, contem de tão importante no dossiê sobre Serra apurado pelo respeitado jornalista Amaury Jr, vencedor de três Premios Esso de Jornalismo. Dois deles, ressalte-se por trabalhos publicados no jornal 'O Globo'.

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Problemas do jornalismo. Licença para matar

Reproduzo artigo do escritor Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa:

O problema do jornalismo é, como quase tudo em que humanos interagem, um problema de escolhas. Assim como nossa vida é pautada pelas escolhas que fazemos, o jornalismo, enquanto ofício, é também assim pautado. Por exemplo, se ele opta por ter poder político, opta também por abdicar de sua independência crítica em relação aos políticos ou ao menos em relação uma selecionada parte do espectro político. Se o jornalismo abraça a causa da cidadania, está deixando de abraçar um submundo tecido com fios desgastados da corrupção de valores tanto morais e éticos quanto materiais e financeiros.

Ao escolher o jornalismo cidadão, escolhe ser sensível a conceder espaço aos dramas humanos, em especial os vividos por aqueles que se encontram em situação humana quase falimentar: são humanos porque guardam certos traços de humanidade e deixam de ser humanos quando com fome alucinante não conseguem colocar as ideias em ordem, não conseguem colocar em pé seu pensamento.

É também uma questão de fundo: ou posso exercitar um jornalismo desse jeito ou daquele outro jeito, mas nunca será bem sucedido se quiser fazer os dois tipos porque o resultado será a falsificação da atividade, será trocar o sólido e permanente pelo viscoso e insustentável.

Então, podemos dizer, o problema do jornalismo é tão somente o problema dos que o exercem, as conveniências toleradas, os abusos permitidos, a renúncia a certas atitudes éticas indispensáveis à sua realização plena. Mas, convenhamos, escolher não é fácil. A luta cotidiana entre o público e o privado, o poder e a submissão, o atendimento à letra fria da lei e o jeitinho -sempre tão brasileiro- surgindo de maneira cada vez mais sedutora a nos mover rumo à fabricação da realidade que necessita ser noticiada.

Falta de ética

Existe também o problema relacionado ao lugar da fala. Quanto maior a estrutura administrativa, financeira e operacional do jornalismo impresso maior a sensação de poderio, quase absoluto - aquele sentimento de que quem pode abalar os alicerces de uma nação, quem pode enxovalhar a honra de seus mais ilustres presidentes, ministros de Estado, ministros da Suprema Corte, representantes do povo no Parlamento, pode também selecionar o tipo de mundo em que pretende viver e interagir. Pode noticiar o fato como se versão fosse e esta como fato mais que comprovado e consumado.

O poder que viceja nas diretorias e nas redações, nas editorias e nos setores especializados de cada meio de comunicação é o seu maior problema: não existe linha divisória a separar a realidade da ficção, o ético do aético, o verdadeiro do falso.

Muito depois do período mesozóico, o fato é que em 1984 assisti ao Licença para Matar. Não foi um dos melhores títulos da longeva série e nem Timothy Dalton figuraria entre os melhores a conceder vida ao bom personagem de Ian Fleming, James Bond. Minha atenção, como era comum aos jovens na casa dos 20 anos, havia se conectado profundamente com o título: licença para matar. Pensava entre assustado e inquieto: "Mas se alguém tem licença para matar tem licença para tudo!" E não sei por que me vem à mente o emblemático título da saga 007 quando começo a me perder no emaranhado de razões que levam ao verdadeiro problema do jornalismo.

Talvez seja porque os donos dos jornais de maior circulação e seus funcionários de primeira classe - aqueles Nascimentos e Matias que formam a tropa de elite na grande imprensa - sintam-se como tendo ampla licença para não apenas escrever: mas, sobretudo, para matar o que é notícia ao sobrecarregá-la com as subjetividades opinativas, para matar os personagens que lhe são difíceis de digerir seja porque são inábeis no manuseio da língua pátria, seja porque lhes falta sólida formação acadêmica, seja porque são dados a gracejos em lugar e hora altamente inadequados.

Eles, os da tropa de elite, são conhecedores do código que os guia e orienta: ninguém ousa pisar nos calos de um ou outro que pontifique desde o mesmo concorrido lugar de fala. Trocando em miúdos: é assim que dificilmente iremos ver Merval Pereira sendo sarcástico com Clóvis Rossi, Lúcia Hippolito desferindo mau humor para algum texto da lavra de Janio de Freitas e muito menos ler texto de Elio Gaspari insinuando falta de ética (qualquer ética, desde a do carpinteiro até a do jornalista) na atividade profissional de Ali Kamel. Deixaremos de nos emocionar ao ouvir Roberto Carlos cantando "Detalhes" no dia em que Paulo Moreira Leite discorde de alguma ideia defendida apaixonadamente por Carlos Heitor Cony.

Críticas sobreviventes

Quem ingressa na tropa de elite do jornalismo brasileiro sabe que recebeu licença especial para em seu ofício de jornalista salpicar água benta em recém-nascido, ouvir confissões em privado (off) e comunitárias (on), consagrar hóstia, prescrever penitência (como banir da agenda positiva), conceder extrema unção (deixar passar em branco menção a certos nomes ou questionar sua autoridade moral). E mesmo que o capitão Nascimento seja promovido a subsecretário de Segurança Pública, a princípio será visto pelos demais integrantes do seleto grupo que forma a tropa de elite como alguém que "roeu a corda"; mas, logo depois, será assimilado assim mesmo. Ele conhece nossos segredos e seu erro de hoje poderá ser nem mais nem menos que nosso próprio erro de amanhã.

Sobrevivência da espécie integra qualquer código de conduta desde o início que não teve início e continuará assim até o fim que não tem fim. É como aquele proeminente jornalista que é flagrado, de forma documentada e mesmo filmada, plantando notas em sua coluna a soldo de empresários e banqueiros e, ainda assim, após breves semanas de silêncio regulamentar, ressurge fulgurante em outro veículo como se tivesse o dom de reescrever o passado, retirando tudo o que incomoda e dando retoques de calma paisagem ao que mais se aparentaria a vulcão em franca erupção.

O problema do jornalismo é o mesmo da desditosa Medusa condenada a transformar em pedra quem ousasse olhar diretamente seus olhos. É o que acontece com quem deseja fazer crítica séria do jornalismo: são degradados do reino humano para o mineral, pessoas a serem transformadas em pedras que precisam ser simplesmente afastadas do caminho.

Conscientes do poder de que se acham investidos, mas na maioria das vezes não legitimados pela sociedade (coisa etérea, fugidia, espaçosa, escorregadia essa coisa de sociedade!), os integrantes dessa tropa de escol não aceitam críticas nem qualquer tipo de desfeita - e seja de quem for. É que eles criaram seu próprio mundo, seu próprio templo onde os admiradores de sua escrita e de suas ideias se comprazem em festejar como bom, benéfico, justo e sábio a mais hedionda falsificação da verdade e se colocam como guardas de honra a emitir loas e adjetivos carregados de senso comum como parte de sua veneração pública. Basta ler os comentários nos sítios de alguns dos jornalistas proeminentes aqui mencionados e se verão como expressão constantes de viva bajulação: "Perfeito - Como sempre: Genial - Maravilhoso - Impecável - Vai para a moldura - Perfeito - Notável reflexão - Traduziu tudo o que eu sinto ou o que eu poderia sentir sobre o assunto - Fantástico! - Assino 100% embaixo. - Daria tudo para ter escrito algo assim".

Infelizmente somos infinitamente mais afeitos ao elogio, mesmo falso e exageradamente equivocado, que o mais nobre e sincero reparo a um texto nosso. Enredados nessa contradição paralisante não é difícil que o renomado articulista ceda à tentação onipresente da vaidade: concorde com 100% dos elogios recebidos e rejeite 100% das poucas críticas sobreviventes à sanha do moderador do site, isto quando não é o próprio que faz a moderação.

J. D. Salinger

No meio dessa selva úmida e calorenta de contradições, desvios de conduta, negociação de valores éticos, passamos a envergar roupa de camuflagem, como se estivéssemos em My Lai, no Vietnã, naquele 16 de março de 1968. Se no país de Ho Chi Minh o céu daquele dia e daquela noite não protegeu centenas de civis que foram executados, sendo dezenas de mulheres estupradas e molestadas sexualmente, torturadas e espancadas, seus corpos mutilados por soldados do exército norte-americano... em nosso país de 16 de outubro de 2010 temos o massacre diário efetuado pela tropa de elite do jornalismo que no mais das vezes forja situações em que os fatos e seus reais personagens são igualmente estuprados, torturados e espancados.

É este o problema do jornalismo. E não sei por que minha cabeça começou a latejar logo após essas três últimas frases. E não é que Salinger tinha razão? Holden Caulfield tinha dito tudo naquele verão de 1951.

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Frei Betto e Júlio Lancelotti no ato em SP

Reproduzo reportagem de André Cintra, publicada no sítio Vermelho:

Mais de 2 mil acadêmicos, escritores, estudantes, juristas, políticos e lideranças sociais tomaram o Tuca (Teatro da Universidade Católica), na PUC-SP, nesta terça-feira (19), em ato de apoio à presidenciável Dilma Rousseff. Apesar do caráter do evento – cujo objetivo era apresentar um manifesto de intelectuais e juristas pró-Dilma –, quem roubou a cena foram dois líderes religiosos progressistas: o padre Júlio Lancellotti e o frade dominicano Carlos Alberto Libânio, o Frei Betto.

A 12 dias do segundo turno das eleições, eles criticaram a forma “oportunista” como segmentos católicos se aliaram ao candidato tucano José Será para rechear a campanha de inverdades e calúnias. “Lamento que bispos panfletários estejam dizendo por aí tantas mentiras sobre a companheira Dilma”, expressou Frei Betto. De acordo com ele, as insinuações e denúncias contra a petista não passam de “opiniões mentirosas, caluniosas e injuriosas”.

O frade não fugiu sequer do tema do aborto e saiu, mais uma vez, em defesa da candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando. “O que esse pessoal (da campanha Serra) precisa entender é que a lei do aborto não impede o aborto. O que impede o aborto é a política social, é o salário, é o Bolsa Família, é a distribuição de renda.” Frei Betto também afirmou que a eleição de Dilma é a garantia de continuidade da “primavera democrática” por que passa, nos últimos 12 anos, a América Latina.

Já Júlio Lancelotti, que lidera a Pastoral da Rua, centrou suas críticas na política de higiene social posta em prática durante a gestão de Serra na Prefeitura paulistana. “José Serra é o pai do higienismo em São Paulo. Foi ele que começou a jogar água e gás de pimenta nos povos de rua”, afirmou o padre, que dissecou esse mesmo tema, em maio, numa entrevista exclusiva ao Vermelho.

Lancelotti arrancou ainda mais aplausos do público quando desmascarou líderes católicos que aderem aos governos de plantão e tentam despolitizar a população. Segundo ele, “a igreja deve estar onde o povo está, lavar os pés dos pobres – e não dominar a consciência das pessoas”. Pouco antes, em crítica ao uso de temas religiosos na campanha, o líder da Pastoral de Rua sustentou que a igreja tem de “libertar”, e não “aprisionar”.

As paredes do Tuca

Dilma, ausente, gravou um vídeo exclusivo, que foi exibido num telão e pelo qual ela agradeceu ao apoio dos diversos segmentos presentes. A candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando também renovou, na gravação, seu “compromisso com os valores democráticos” e enalteceu os avanços sociais garantidos nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Nosso governo continuará sendo conduzido de forma republicana”, declarou Dilma.

Vários oradores, a começar pelo deputado federal eleito Gabriel Chalita (PSB), sublinharam o simbolismo de realizar um ato político diante das “paredes marcadas” do Tuca – palco de incontáveis manifestações em defesa da liberdade e da democracia durante o regime militar (1964-1985). Em sua gravação, Dilma se referiu ao local do encontro como “palco sagrado da liberdade”. O senador Aloizio Mercadante citou as “paredes machucadas pelo tempo”, que abrigaram manifestações históricas, como o “ato mais importante pela anistia”.

Ana Maria Araújo Freire, a Nita, viúva do educador Paulo Freire, também foi muito aplaudida. “Paulo Freire está aqui conosco, porque está com o Brasil, com a Justiça e com a democracia. Até o último minuto de vida, Paulo não passou para o outro lado do rio”, afirmou Nita, que evocou, ainda, o exemplo de Oscar Niemeyer. Aos 102 anos e mesmo de cadeira de rodas, o arquiteto participou, um dia antes, no Rio, de evento similar ao do Tuca – um ato de intelectuais e artistas em apoio a Dilma.

O jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, professor emérito da PUC e um dos idealizadores do ato em São Paulo, deixou uma gravação em que faz apelo à “sensatez” dos eleitores. “Dilma tem participação direta no processo de evolução da sociedade”, afirmou ele, centrando sua fala na defesa da política de erradicação da miséria iniciada no governo Lula. “Votar em Dilma não é votar em promessas ou palavras. É votar em ação – e é mais sensato escolher as realizações.”

Entre os políticos presentes, também discursaram a deputada federal Luiza Erundina (PSB), o senador Eduardo Suplicy (PT) e a senadora eleita Marta Suplicy (PT), além do deputado José Eduardo Cardozo (PT), um dos coordenadores da campanha Dilma. O PCdoB foi representado na mesa do ato pelo deputado federal Aldo Rebelo, pelo vereador em São Paulo Jamil Murad e pelos deputados eleitos Protógenes Queiroz (federal) e Lecy Brandão (estadual).

“Representamos aqui não mil ou 2 mil pessoas, mas os 82% de brasileiros que aprovam o governo Lula”, afirmou o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. Na mesma linha de Bandeira de Mello, Thomaz Bastos definiu Dilma como “um projeto cuja causa final é a erradicação da miséria” no Brasil. “Todo mundo tem o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar.”

"Onda vitoriosa"

O ato no Tuca foi encerrado com a apresentação do manifesto de intelectuais e juristas pró-Dilma, lido por Luiz Edson Fachin, da Universidade Federal do Paraná. Michel Temer – que, em nome da candidata, recebeu o documento – declarou que tanto o evento em São Paulo como o do Rio se destacaram pela “quantidade numérica e qualitativa” de participantes. “Sim, é a onda vitoriosa que percorre o país”.

Segundo Temer, “Dilma lutou por um tempo pela democracia política, que parecia inviável – mas nós conseguimos. O governo Lula mostrou a necessidade da democracia do pão sobre a mesa, da justiça social. Dilma é a fusão dessas concepções e dessas ideias”.

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Serra seria um desastre na política externa

Reproduzo entrevista concedida para o sítio do PT:

O cientista político e professor Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira, que vive atualmente na Alemanha, afirmou em entrevista ao site do PT que é muito grande a expectativa do mundo, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, com relação ao segundo turno das eleições no Brasil.

Segundo ele, tal expectativa se deve ao sucesso do governo do presidente Lula. “Nunca o Brasil esteve tão presente nos jornais da Europa, e também dos Estados Unidos, como no governo do presidente Lula. Seus êxitos são ressaltados em numerosos artigos, que infelizmente a imprensa brasileira não transcreve”, afirma Moniz Bandeira.

Na entrevista ele também aborda o terrorismo ideológico que vem sendo feito pela campanha adversária contra a candidata Dilma Rousseff e fala sobre a política externa do Brasil. Ele critica a falta de sensibilidade do tucano José Serra para com o tema. “Seria um desastre para a política exterior do Brasil e prejudicaria seu comércio com os países em desenvolvimento, sobretudo da América do Sul”, afirma.

O mundo está acompanhando com interesse o segundo turno da eleição presidencial brasileira?

Sim, há grande expectativa quanto ao 2° turno da eleição presidencial, porque nunca o Brasil esteve tão presente nos jornais da Europa, e também dos Estados Unidos, como no governo do presidente Lula. Seus êxitos são ressaltados em numerosos artigos, que infelizmente a imprensa brasileira não transcreve. Há poucos dias, a edição alemã do Financial Times publicou uma página inteira sobre o sucesso do governo brasileiro, tanto sob o aspectos econômico quanto sob o aspecto social, e o mesmo fez o importante diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. Também na França a imprensa tem dado grande destaque ao governo do presidente Lula e à eleição presidencial.

Desde setembro, a direita está lançando mão do terrorismo ideológico. Surpresa ou previsível?

Era previsível. Trata-se de uma intensa campanha terrorista, uma guerra psicológica, promovida não apenas direita, mas pela extrema-direita, e alimentada por interesses estrangeiros, que alimentam a campanha contra a política exterior do presidente Lula e não querem que o Brasil se projete mais e mais como potência política global. Uma campanha assim, execrável, só é possível em uma república presidencialista, como existe nos Estados Unidos, cujo modelo foi copiado pelo Brasil, após o golpe militar de 15 de novembro de 1889.

O que aprendi, em meus 74 anos de vida, foi que sempre os gritam contra a corrupção são geralmente os mais corruptos. O jornalista Carlos Lacerda gritou que, sob o governo do presidente Getúlio Vargas, havia um “mar de lama”. Nada se provou. Porém, o jornalista Carlos Lacerda, depois governador do Estados da Guanabara, nunca pôde explicar devidamente de onde proveio a enorme fortuna que deixou. A campanha contra Dilma Roussef é abjecta, sórdida, de tão baixo nível, com escândalos forjados, fabricados visivelmente por motivo eleitoral. É lamentável a degradação política a que o PSDB, seus aliados e os meios de comunicação estão levando o país.

O que mudaria, na política externa do Brasil, se Serra fosse eleito presidente?

José Serra nunca teve nem tem a menor sensibilidade para a política internacional. Seria um desastre para a política exterior do Brasil e prejudicaria seu comércio com os países em desenvolvimento, sobretudo da América do Sul. Ele já deu as declarações, as mais absurdas, atacando a Argentina, a Bolívia, a Venezuela e outros países. Em manteria de submissão às diretrizes políticas dos Estados Unidos, o governo de José Serra seria muito pior, mil vezes pior, do que o do presidente Fernando Henrique Cardoso. E a mudança na política externa do Brasil teria graves implicações para a política de defesa nacional.

Como presidente, José Serra, sem dúvida, acabaria com o programa de reaparelhamento e modernização das Forças Armadas, suspenderia definitivamente a fabricação do submarino nuclear e a reconstrução da indústria bélica no Brasil, tudo para atender aos interesses dos Estados Unidos, que precisam vender seus armamentos obsoletos. As reservas petrolíferas da camada pré-sal seriam entregues às companhias estrangeiras, a Petrobrás e o Banco do Brasil, privatizados.

Muito possivelmente José Serra também alienaria territórios da Amazônia, onde atuam 100 mil ONGs, muitas das quais, com interesses ocultos, exercem atividades ilegais, como o tráfico de drogas, de armas e de pessoas, lavagem de dinheiro e até mesmo espionagem, sob o manto de que estão a defender os direitos dos indígenas. Essas atividades devem ser reprimidas, mas dificilmente as Forças Armadas brasileiras teriam condições de fazê-lo, se o candidato do José Serra fosse eleito, uma vez que a coligação PSDB-DEM alimenta a idéia de apequenar o Estado e de que, num mundo globalizado, não mais pode ser reconhecido o preceito da soberania nacional. O Brasil sofreria um enorme retrocesso.

O que mudaria, na política externa do Brasil, se Dilma confirmar sua vitória no segundo turno?

Não tenho a menor dúvida de que Dilma Roussef dará continuidade à política exterior do presidente Lula, se vencer, o que espero e desejo, no segundo turno. Ela decerto continuará tratando de promover a união da América do Sul, não apenas como um bloco econômico, cujo epicentro é o Mercosul, mas como um espaço geopolítico, capaz de alcançar melhor inserção internacional, competindo com outras grandes massas geográficas, demográficas e econômicas, tais como China, Estados Unidos, Rússia e Índia. E, para tanto, dará seguimento ao programa de defesa nacional, que visa a reaparelhar, modernizar e capacitar as Forças Armadas para que possam defender o território nacional, tanto a Amazônia verde como que que chamam de Amazônia azul, i. e., seu imenso mar territorial onde se encontram as enormes jazidas de petróleo, na camada pré-sal.

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