Por Altamiro Borges
Após os protestos nas redes sociais, a cervejaria Skol finalmente retirou do ar sua campanha publicitária que fazia apologia ao estupro. Segundo informa o site de entretenimento F5, da UOL, ela foi substituída por outra peça que pede respeito às mulheres no período de Carnaval. “Não deu jogo? Tire o time de campo”, afirma a nova campanha. Os anúncios originais da Skol eram descaradamente machistas: “Topo antes de saber a pergunta”, “esqueci o ‘não’ em casa”, “tô na sua, mesmo sem saber qual é a sua”, afirmavam as peças da campanha de marketing. A reação na internet foi imediata, com fortes críticas à falta de escrúpulos da indústria de cerveja.
A pressão contra a empresa partiu dos movimentos feministas organizados e de pessoas que se sentiram agredidas. A publicitária Pri Ferrari e a jornalista Mila Alves se destacaram nesta reação. “Indignadas com as frases, as duas decidiram fazer uma intervenção em um dos outdoors, num ponto de ônibus na Rua Vergueiro (SP). Com fita isolante preta, elas deram continuidade à frase que diz ‘Esqueci o 'não' em casa’. Escreveram: ‘E trouxe o 'nunca'. A foto da intervenção, publicada no Facebook, teve mais de 8.000 curtidas e quase 3.000 compartilhamentos”, relata o F5.
Vitória para festejar, mas sem ilusões
“Essa publicidade estava no ponto de ônibus que eu vou todo dia e fiquei chocada. Resolvemos fazer uma intervenção. A peça e a campanha em si mostram claramente um conceito errado, de 'topo, depois pergunto' de 'não pode dizer não', sendo que estamos no carnaval e 'não' é o que mais a gente precisa dizer. Não ao estupro, não ao beber e dirigir, não ao sexo sem camisinha... Cerveja e machismo andam juntos desde sempre e precisamos desconstruir isso. Não podemos aceitar esse tipo de coisa ser chamada de normal e engraçadinha”, afirma Pri Ferrari.
Para ela, a campanha se mostrou “totalmente irresponsável, principalmente durante o Carnaval, que a gente sabe que o índice de estupro sobe pra caramba. Isso é uma falta de respeito e de responsabilidade”. A publicitária relata ainda que foi procurada pelo diretor de comunicação da Ambev, dona da marca Skol. “No começo, ele tentou manipular a situação. Falei tudo! Vomitei tudo! Falei que ele tinha que pensar mil vezes antes de colocar no ar uma coisa daquele tipo, que ele tem responsabilidade como patrocinador e como marca”.
Pouco tempo depois, “ele me ligou para me avisar que vão fazer uma força tarefa durante a noite e tirar todas as campanhas das ruas e colocar uma nova no lugar com um conceito mais 'diga sim para as coisas boas'. Desliguei, abracei a Mila e choramos. Ganhamos essa! E a Ambev com certeza vai pensar duas vezes antes de fazer uma campanha que ofenda alguém”, concluiu a publicitária, feliz e otimista. Mas não dá para ter tanta esperança assim. Afinal, as indústrias de cerveja – assim como a de medicamentos, de veículos e outras – não têm qualquer escrúpulo.
Os bilhões no mercado publicitário
O próprio F5 entrou em contato com o diretor da Skol, Fábio Barracho, que desqualificou as críticas e explicou os motivos do recuo. “Queríamos falar sobre paquera, amor e pegação do Carnaval. Mas se houve uma interpretação errada, a gente ouve o consumidor”. De fato, a preocupação das empresas do setor é com o tal consumidor – não com a qualidade dos produtos, mas sim com seus lucros. Daí elas abusarem nas suas peças publicitárias. Pouco importa que elas sejam machistas ou que prejudiquem as crianças. O que importa é estimular o consumismo obsessivo!
Em vários países, a publicidade de bebidas alcóolicas nas concessões públicas de rádio e televisão é simplesmente proibida. No Brasil, porém, as poderosas empresas do setor, as agências de publicidade e as emissoras não aceitam sequer discutir o assunto. No final do ano passado, elas conseguiram novamente barrar qualquer regulamentação do setor. Com base em uma ação do Ministério Público Federal, a Justiça determinou que a publicidade de bebidas com teor alcoólico, como cerveja e vinho, só deveriam ir ao ar na TV e no rádio entre 21h e 6h. Ela também fixou que os comerciais não poderiam ter imagens associadas a esporte, direção de veículos ou desempenho sexual.
A gritaria dos empresários foi violenta. Eles alegaram que teriam enormes prejuízos e que demitiriam milhares de trabalhadores. Segundo uma agência que monitora inserções comerciais, entre junho e julho do ano passado – período da Copa do Mundo –, Globo, Band, SBT, Record e RedeTV exibiram 3.675 inserções comerciais de cerveja só em São Paulo. Somado, o valor bruto (sem descontos) dessas ações chegaram a R$ 82 milhões. Nos pós-Copa, entre agosto e setembro, o estudo contabilizou 2.100 inserções publicitárias de cerveja na televisão em SP, somando investimento bruto de R$ 48 milhões. Com base nestes números milionários, as empresas chiaram e a decisão da Justiça foi suspensa!
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Após os protestos nas redes sociais, a cervejaria Skol finalmente retirou do ar sua campanha publicitária que fazia apologia ao estupro. Segundo informa o site de entretenimento F5, da UOL, ela foi substituída por outra peça que pede respeito às mulheres no período de Carnaval. “Não deu jogo? Tire o time de campo”, afirma a nova campanha. Os anúncios originais da Skol eram descaradamente machistas: “Topo antes de saber a pergunta”, “esqueci o ‘não’ em casa”, “tô na sua, mesmo sem saber qual é a sua”, afirmavam as peças da campanha de marketing. A reação na internet foi imediata, com fortes críticas à falta de escrúpulos da indústria de cerveja.
A pressão contra a empresa partiu dos movimentos feministas organizados e de pessoas que se sentiram agredidas. A publicitária Pri Ferrari e a jornalista Mila Alves se destacaram nesta reação. “Indignadas com as frases, as duas decidiram fazer uma intervenção em um dos outdoors, num ponto de ônibus na Rua Vergueiro (SP). Com fita isolante preta, elas deram continuidade à frase que diz ‘Esqueci o 'não' em casa’. Escreveram: ‘E trouxe o 'nunca'. A foto da intervenção, publicada no Facebook, teve mais de 8.000 curtidas e quase 3.000 compartilhamentos”, relata o F5.
Vitória para festejar, mas sem ilusões
“Essa publicidade estava no ponto de ônibus que eu vou todo dia e fiquei chocada. Resolvemos fazer uma intervenção. A peça e a campanha em si mostram claramente um conceito errado, de 'topo, depois pergunto' de 'não pode dizer não', sendo que estamos no carnaval e 'não' é o que mais a gente precisa dizer. Não ao estupro, não ao beber e dirigir, não ao sexo sem camisinha... Cerveja e machismo andam juntos desde sempre e precisamos desconstruir isso. Não podemos aceitar esse tipo de coisa ser chamada de normal e engraçadinha”, afirma Pri Ferrari.
Para ela, a campanha se mostrou “totalmente irresponsável, principalmente durante o Carnaval, que a gente sabe que o índice de estupro sobe pra caramba. Isso é uma falta de respeito e de responsabilidade”. A publicitária relata ainda que foi procurada pelo diretor de comunicação da Ambev, dona da marca Skol. “No começo, ele tentou manipular a situação. Falei tudo! Vomitei tudo! Falei que ele tinha que pensar mil vezes antes de colocar no ar uma coisa daquele tipo, que ele tem responsabilidade como patrocinador e como marca”.
Pouco tempo depois, “ele me ligou para me avisar que vão fazer uma força tarefa durante a noite e tirar todas as campanhas das ruas e colocar uma nova no lugar com um conceito mais 'diga sim para as coisas boas'. Desliguei, abracei a Mila e choramos. Ganhamos essa! E a Ambev com certeza vai pensar duas vezes antes de fazer uma campanha que ofenda alguém”, concluiu a publicitária, feliz e otimista. Mas não dá para ter tanta esperança assim. Afinal, as indústrias de cerveja – assim como a de medicamentos, de veículos e outras – não têm qualquer escrúpulo.
Os bilhões no mercado publicitário
O próprio F5 entrou em contato com o diretor da Skol, Fábio Barracho, que desqualificou as críticas e explicou os motivos do recuo. “Queríamos falar sobre paquera, amor e pegação do Carnaval. Mas se houve uma interpretação errada, a gente ouve o consumidor”. De fato, a preocupação das empresas do setor é com o tal consumidor – não com a qualidade dos produtos, mas sim com seus lucros. Daí elas abusarem nas suas peças publicitárias. Pouco importa que elas sejam machistas ou que prejudiquem as crianças. O que importa é estimular o consumismo obsessivo!
Em vários países, a publicidade de bebidas alcóolicas nas concessões públicas de rádio e televisão é simplesmente proibida. No Brasil, porém, as poderosas empresas do setor, as agências de publicidade e as emissoras não aceitam sequer discutir o assunto. No final do ano passado, elas conseguiram novamente barrar qualquer regulamentação do setor. Com base em uma ação do Ministério Público Federal, a Justiça determinou que a publicidade de bebidas com teor alcoólico, como cerveja e vinho, só deveriam ir ao ar na TV e no rádio entre 21h e 6h. Ela também fixou que os comerciais não poderiam ter imagens associadas a esporte, direção de veículos ou desempenho sexual.
A gritaria dos empresários foi violenta. Eles alegaram que teriam enormes prejuízos e que demitiriam milhares de trabalhadores. Segundo uma agência que monitora inserções comerciais, entre junho e julho do ano passado – período da Copa do Mundo –, Globo, Band, SBT, Record e RedeTV exibiram 3.675 inserções comerciais de cerveja só em São Paulo. Somado, o valor bruto (sem descontos) dessas ações chegaram a R$ 82 milhões. Nos pós-Copa, entre agosto e setembro, o estudo contabilizou 2.100 inserções publicitárias de cerveja na televisão em SP, somando investimento bruto de R$ 48 milhões. Com base nestes números milionários, as empresas chiaram e a decisão da Justiça foi suspensa!
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