terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O pesadelo capitalista videofinanceiro

Por Gilberto Felisberto Vasconcellos, na revista Caros Amigos:

Capitalismo videofinanceiro é a centralização e a concentração de capital. Capitalismo monopolista.O conceito de capitalismo videofinanceiro foi inspirado na teoria de Ruy Mauro Marini sobre a superexploração do trabalho e na mais-valia ideológica de Ludovico Silva. Esta aumenta quanto mais a massa trabalhadora é marginalizada socialmente. A televisão é propriedade de clãs parentais. Estes são os latifundiários das ondas eletrônicas.

Delfim Neto repetiu Roberto Campos no Time-Life da Rede Globo, mas a economia política do automóvel e eletrodoméstico teve o seu começo em 1957 durante os governos JK e Jânio Quadros. A burguesia brasileira é caudatária das multinacionais. Segundo Paulo Schilling (O Expansionismo Brasileiro), o País na década de 1970 é “colônia dos supermonopólios”. Com salário pago abaixo do valor da força de trabalho, as multinacionais produzem para Europa e EUA, o que atiça a mentalidade expansionista bandeirante e subimperialista na América Latina e África.

Cínicos, tecnocratas, Golbery, Roberto Campos e Delfim Neto ferraram o povo no aperto do cinto. A política subimperialista da ditadura foi aplaudida pelos meios de comunicação que fabricaram o gênero telenovela. Os padrinhos da TV Globo (Golbery e Roberto Campos) defenderam a aliança Brasil/EUA contra a Argentina.

O embaixador Roberto Campos em Londres ironizava o romantismo na solidariedade dos países do Terceiro Mundo. Depois os âncoras de TV pregaram o golpe contra Hugo Chaves e Evo Morales. Nos anos 70 várias revistas de cultura em Londres como Encounter e Daedalus foram financiadas pela fundação Ford.

Leonel Brizola nunca se perguntou por que perdeu o poder, é que ele nunca teve o poder, nunca foi presidente da República. Exilado no Uruguai, Darcy Ribeiro abordou essa questão, mas a deixou quando voltou para o Rio de Janeiro.

Leonel Brizola não escreveu sua autobiografia, nem ditou suas memórias. Meio século de vida política. É impossível não ser polêmico sobre ele. Há interesses contraditórios, a começar de seus ex-amigos e companheiros que costearam o alambrado, e os que deixaram-no postumamente esquecido dentro de seu próprio partido, dando a entender que suas ideias caducaram, por conseguinte teria de ser substituído por outros políticos que tiveram sucesso, dentre estes Luiz Inácio Lula.
A ciência da política, se esta for entendida como a tomada do poder, não depende de ideias e argumentos. Leonel Brizola sempre foi um político de ideias, todavia nunca se interessou por fixá-las no papel impresso. Toda sua vida é detalhadamente conhecida desde que entrou do PTB: quinze anos de exílio. Nunca foi preso. O exílio começou com 42 anos, terminou aos 57. O período da maturidade passou no Uruguai, impedido de por os pés no Brasil durante muito tempo, sem saber quanto duraria a ditadura.

Em 1973 Salvador Allende foi derrubado pela CIA, ITT, igreja, milicos chilenos e Itamaraty. O livro de Paulo Schilling sobre o expansionismo da ditadura brasileira data de 1977. O golpe de 1964 foi um desastre, diante do qual será preciso talvez um século a mais para dele nos livrarmos, tal qual a guerra do Paraguai que inviabilizou este País como nação. Os adversários de Leonel Brizola diziam que ele era um maníaco da vitimização histórica: vítima de 64, vítima da televisão, vítima do plano cruzado, vítima do sindicalismo paulista multinacional. Mas nessa acusação, o mais grave é ver 1964 com olhos tolerantes, benevolentes, como se fosse um acontecimento necessário. A tendência dos intelectuais petistas e tucanos é deixar inabordado o golpe de 64.

Golpe é sempre de direita. Mas os golpistas de 64 se esmeraram em chamá-lo de revolução. Essa semântica não vingou, mas é inegável (para os vencedores) que o golpe de 64 foi um golpe bem-sucedido. Nesse aspecto tenho minhas dúvidas se colocaria JK e Carlos Lacerda como vítimas porque foram cassados os seus direitos políticos pelo Marechal Castelo Branco.

Os militares aparentemente são os responsáveis pela queda de João Goulart, mas na verdade não são as forças motrizes. Releve-se a paranoia anti-comunista porque isso nunca foi uma realidade histórica no Brasil na década de 1960. Na época do governo Jango, o processo histórico não era a luta de classes entre proletariado e burguesia industrial.

A explicação histórica não se confunde com a crônica dos fatos e dos acontecimentos, nem tampouco com as motivações dos indivíduos. Não caiu Dilma porque pedalou. Trapalhada fiscal nunca derrubou governo algum. Por que a Fiesp teve por objetivo tirá-la do poder? As intrigas, as manobras, as mentiras esfarrapadas pela imprensa são fatores secundários. O que importa são as forças sociais e os interesses de classe. A corrupção esconde o que há por trás da cena. Corrupção, por si só, nunca é a causa determinante do acontecimento histórico. Nem se pode dizer que a burguesia bandeirante tivesse se empenhado no triunfo de Temer, personagem medíocre e fraco aos olhos dos próprios empresários. Então, trata-se de um instrumento; mas instrumento de que interesses? Um golpe de Estado – armado ou parlamentar – não é um acontecimento banal. É tolice perguntar sobre as intenções dos atores e agentes envolvidos. O PMDB foi companheiro de viagem do PT por mais de uma década. Destarte, o PMDB não protagoniza nada, o seu papel é o de ser coadjuvante.

O PSDB nasceu para diferenciar-se de Temer e Fleury. Os tucanos hoje escondem as diferenças com o PMDB, simplesmente porque as diferenças desapareceram. A feijoada PMDB, PSDB e PT é o principal prato do banquete político dos últimos vinte anos. O despotismo do Judiciário é formalista e positivista.

Os fatos sociais são verdadeiros e genuínos apenas se forem documentados e oficialmente julgados no tribunal. O veredito cabe ao Supremo Tribunal Federal. Se está na Constituição, é verdade, portanto, ponto final. Mas a Constituição não foi feita pelo povo.

* Gilberto Felisberto Vasconcellos é jornalista, sociólogo, escritor e colunista de Caros Amigos.

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