quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Cristina ataca de frente; Lula bate de leve

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Cristina Kirchner subiu o tom contra a velha mídia argentina. Não se trata de guerra verbal, mas de ação concreta: a presidenta da Argentina pede a investigação sobre a compra da “Papel Prensa” (principal grupo fornecedor de papel na Argentina) por grupos midiáticos daquele país.

É fácil entender que Cristina tem ótimos argumentos. Em 1976, a “Papel Prensa” foi comprada pelo “Clarin”, o “La Nacion” – os dois maiores jornais argentinos – além de um terceiro diário já extinto. Não foi uma compra normal. A família que controlava a empresa relata que vendeu as ações para os jornais, por um preço muito inferior ao de mercado, porque estava sob pressão da ditadura militar argentina.

Sobre o caso, o jornal “O Globo” (que entende de ditadura como nenhum outro, talvez só com a concorrência da “Folha”) dá uma manchete mentirosa: “Cristina usa ditadura para controlar jornais”. Primeiro, o título dá a entender que Cristina usa métodos ditatoriais. Não é verdade. Ela propõe uma investigação justa, sobre uma transação nebulosa, feita às sombras (aí, sim) da ditadura argentina. Em segundo lugar, não há na ação nada que aponte para o controle dos jornais.

Cristina não fala em fechar jornais, em intimidar jornais, em censurar. Nada disso.

“O Globo”, sim, apoiou um regime que fechou jornais, censurou, prendeu e torturou. “O Globo” tem o telhado de vidro, porque cresceu na estufa da ditadura brasileira. Por isso, ataca Cristina Kirchner. “O Globo” também tem medo de ser investigado.

Lula – até agora, durante oito anos de governo - abdicara do confronto aberto, preferindo uma dança mais sutil: pequenas escaramuças verbais, uma ou outra farpa lançada na direção da velha (e golpista) mídia brasileira.

Na campanha, Lula parece ter mudado. Será que foram os ataques a Dilma no “JN” da Globo? Ou as perguntas sob encomenda (feitas por tucanos enrustidos) no debate da “Folha”/UOL?

Não se sabe o que foi. Mas Lula resolveu bater. Relembrou a história de 2002, quando o garotão que dirige (?) a “Folha” tentou atacá-lo de forma deselegante durante almoço na sede do jornal. O garotão da “Folha” achava que – por não falar inglês – Lula não pudesse governar o Brasil. No discurso, terça, em Campo Grande, Lula contou a história. E disse mais: “vou terminar meu mandato sem precisar ter almoçado com nenhum jornal, com nenhuma televisão”.

Na Venezuela, Chavez já tinha percebido que a batalha da mídia é a “mãe de todas as batalhas” (isso ficou muito claro depois do golpe de 2002, em que Chavez foi tirado do poder com apoio explícito das TVs e jornais).

Na Argentina, Cristina também já percebeu a importância dessa batalha, e aceitou o combate aberto – com a “Ley de Medios” e a guerra do papel.

Aqui no Brasil, ainda estamos nas escaramuças. Mas o partido comandado formalmente por Dona Judith (a presidenta da Associação Nacional dos Jornais/ANJ declarou que a imprensa é a “verdadeira oposição” no Brasil) não dará tréguas a Dilma num provável governo da petista.

Por isso, aqui também caminharemos para combates cada vez mais abertos. Esse clima não é bom para a democracia, não foi esse o caminho escolhido por Lula e a esquerda – que isso fique bem claro. Mas deixar de travar o bom combate, diante de tantos ataques, seria suicídio.

Lula e Dilma já mostraram que não são suicidas. E parecem dispostos a encarar a mãe de todas as batalhas.

.

A guerra de Cristina contra a mídia golpista

Reproduzo artigo de Umberto Martins, publicado no sítio Vermelho:

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, está em guerra com os monopólios da imprensa no país vizinho, os grupos Clarín e La Nación, que prosperaram durante o regime fascista (1976-1983) apoiando os generais e deles extraindo obscuros favores. Entre tais favores, destaca-se a aquisição da Papel Prensa, fabricante de papel para 170 jornais, que domina 75% do mercado.

Em discurso transmitido em cadeia nacional de televisão, na noite de terça-feira (24), a chefe do Estado argentino acusou os dois órgãos de comunicação de aproveitar o relacionamento privilegiado com os ditadores para se apoderarem de forma irregular da empresa em 1976. A proprietária anterior, Lídia Papaleo, foi presa e torturada pelos militares junto com outros familiares.

Irados

O governo decidiu ingressar na Justiça com uma denúncia penal contestando a aquisição e encaminhou um projeto ao Congresso declarando a produção de papel uma atividade de interesse público, o que abre caminho para o controle da empresa pelo Estado.

A conduta corajosa de Cristina despertou a ira dos barões da mídia. E não só na Argentina como em outros cantos do mundo. No Brasil, as Organizações Globo, da família Marinho, reservam grande espaço na TV e no jornal nesses dias para desancar a presidente, insinuando que ela manipula os fatos e atenta contra a democracia.

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), representante dos monopólios da comunicação no continente americano, cujo presidente recentemente disse que Lula era um “falso democrata”, saiu em defesa dos dois maiores jornais argentinos falando em “escalada contra a liberdade de imprensa”.

Papel estratégico

Dirigentes do Clarín e de La Nación negam as denúncias formuladas por Cristina e alegam que o governo está manipulando os fatos para se apropriar da empresa, que tem uma importância estratégica na comunicação impressa.

“Quem controla a Papel Prensa controla a palavra impressa”, argumenta o jornal Clarín no editorial de domingo (22). A presidente concorda com a sentença. “É verdade que quem controla a Papel Prensa controla a palavra impressa. E a única empresa que produz pasta de celulose para fabricar papel de jornal para distribuição e comercialização é justamente uma empresa sob monopólio”, acusou.

O monopólio, ao anular a livre concorrência, tem práticas nocivas à economia, prejudiciais principalmente para os jornais de pequeno e médio porte, que pagam caro pelo papel e hoje sofrem boicote e chantagens. “Há uma resistência enorme em entregar papel aos diários do interior e às pequenas e médias empresas”, afirma Beatriz Paglieri, representante do Estado (que é acionista minoritário) na Papel Prensa.

Provas contundentes

Cristina apresentou um relatório de 233 páginas sobre as relações dos empresários com o regime militar com provas contundentes acerca da aquisição irregular da fábrica de papel, segundo Paglieri. Esclareceu que a investigação e as conclusões contidas no documento “coincidem com as declarações da senhora Lidia Papaleo e de Rafael Ianover”.

Ianover foi o braço direito de David Graiver, marido de Lídia e antigo proprietário da Papel Prensa, que morreu em um acidente aéreo no México deixando a fábrica como herança para a viúva. Graiver era acusado de ligações com o grupo guerrilheiro Montoneros, o que explica a perseguição sofrida pela família.

Pressão

Em entrevista aos meios de comunicação nesta quarta-feira (25), Rafael Ianover assegurou que existiram fortes pressões para a venda da empresa e que todos “em torno dos Graiver estavam com medo”.

“Todo mundo sabia da situação. Todos sabiam, os Graiver também, que íamos ser detidos, de modo que a pressão que havia para que se produzisse a operação [venda da Papel Prensa] existiu. Todos tínhamos medo”, desabafou.

O caso já veio à tona antes. Ainda durante a ditadura, em maio de 1977, os dois jornais publicaram um comunicado informando que tinham comprado a empresa com a autorização dos comandantes da Junta Militar e do então ministro da Economia, Martínez de Hoz, conforme informações de Osvaldo Papaleo, irmão de Lídia Papaleo.

Durante anos, porém, as relações perigosas do Clarín e La Nación com a ditadura foram convenientemente esquecidas e abafadas, numa prova, entre outras, da notável influência que os dois jornais desfrutam no interior da sociedade argentina. Agora, quando o governo corajosamente decide revelar e enfrentar os crimes do regime fascista, a mídia golpista reage em uníssono levantando, em falso como sempre, a defesa da democracia e da liberdade de imprensa.

Ligações perigosas

Embora se apresentem como guardiões da liberdade de expressão e de imprensa, donos da verdade e campeões da democracia, as famílias que monopolizam os meios de comunicação na Argentina e em outras nações americanas nada têm de democráticas e confundem liberdade de imprensa com a liberdade de suas empresas, inclusive para práticas ilegais e monopólios, como no caso em tela.

O fascismo cobrou um preço altíssimo à nação e ao povo argentino. Em torno de 30 mil pessoas foram assassinadas pelos militares, que só agora (no governo de Cristina Kirchner) estão sendo devidamente cobrados pelos crimes que cometeram. A mídia empresarial, dominada por poucas famílias de ricos capitalistas, foi cúmplice dos golpistas, torturadores e assassinos, com poucas (e honrosas) exceções. Quem ficou contra (como os Graiver) foram presos, torturados, mortos e alijados do meio.

Democratização

Por lá, como por aqui, o regime teve seus apaniguados e os promoveu, ao mesmo tempo em que perseguiu quem não comungava com seus métodos e objetivos. Lembremos que as Organizações Globo, na época da “ditabranda” (conforme a Folha) dirigida por Roberto Marinho, só se transformou no império que é hoje graças aos generais, que provocaram a ruína de Assis Chateaubriand e seus Diários Associados.

Embora iluda muita gente boa, o discurso da mídia golpista é apenas falso e hipócrita. Ao contrário do que sugere O Globo e outros jornais que apoiaram os ditadores e comeram na mão dos militares, as medidas que o governo argentino está adotando, com invulgar coragem, vão no sentido de democratizar os meios de comunicação. Isto não se concretizará sem uma guerra aos monopólios privados, bem como o fortalecimento da mídia pública e de veículos alternativos, contrahegemônicos.

.

As pesquisas e os perigos da euforia

Reproduzo artigo de Wladimir Pomar, publicado no sítio do Correio da Cidadania:

As recentes pesquisas eleitorais continuam apresentando Dilma em processo de ascensão. Aparentemente, a continuar nessa rota, a candidata do PT estaria em condições de obter a vitória no primeiro turno. Porém, essa aparência, como já reiteramos em comentário anterior, pode ser fatal para a campanha petista, por vários motivos.

Se olharmos as pesquisas com mais atenção, veremos Dilma em crescimento, Serra em queda e Marina, assim como os demais candidatos, em situação estável. A queda de Serra está associada à subida de Dilma, devendo significar que a natureza direitista e reacionária da candidatura do PSDB-DEM está vindo à luz, e que seu falso discurso de continuidade do governo Lula não colou.

Portanto, podemos deduzir que Dilma ganhou pontos principalmente entre os indecisos, entre os que estavam acreditando no discurso continuísta de Serra, e entre aqueles setores da classe média que ainda acreditavam que o PSDB é um partido social-democrata. No entanto, a candidatura Dilma ainda não abalou a candidatura Marina, onde se encontra uma parte da esquerda, embora Marina também esteja em dificuldade para manter seu discurso de continuidade do governo Lula.

Nessas condições, talvez seja a primeira vez, nas campanhas eleitorais presidenciais desde 1989, que o PT tem chances não só de vencer, mas de vencer no primeiro turno. Isto, que apresenta um aspecto positivo, por não obrigar o partido a rebaixar ainda mais seu programa eleitoral, também apresenta o aspecto negativo de levar os candidatos dos partidos de sustentação da candidatura Dilma - a governador, senador e deputado - a suporem ganha a parada presidencial e se voltarem totalmente para suas próprias campanhas.

Aliás, quem quer que se dê ao trabalho de acompanhar o horário eleitoral na televisão pode notar que até mesmo muitos candidatos do PT tiraram a imagem de Dilma de suas apresentações. A preocupação maior vem sendo colocar Lula ao lado, a fim de angariar votos para suas próprias candidaturas. Se a leitura das últimas pesquisas eleitorais levar à euforia do ‘está ganha a presidência’, mesmo que teoricamente isto seja negado, o ritmo da campanha presidencial tende a baixar, abrindo a possibilidade de subida da Marina e recuperação ou estabilidade de Serra.

Em tais condições, se a campanha Dilma pretender manter o ritmo de crescimento, ela terá de fazer ajustes, principalmente nas relações com o seu PT. É esquisito que candidatos desse partido, seja aos governos estaduais, seja aos legislativos federal e estadual, não mostrem apoio explícito à candidatura presidencial do PT. Deve haver algum desajuste entre a campanha da coligação de apoio à Dilma e a campanha petista.

Além disso, as informações de que a campanha Dilma pretende realizar maior ofensiva na conquista dos indecisos e dos ‘não-sabe’ pode ser positiva, mas talvez não baste para consolidar a perspectiva de sua vitória no primeiro turno. Talvez seja necessária uma ofensiva complementar, tratando com mais propriedade alguns temas que se tornaram cavalos de batalha na campanha Marina.

Marina vem concentrando seu fogo e ataques ao governo em temas como reforma tributária, proteção ambiental, jornada de trabalho, segurança e liberdade de comunicação. É essa crítica que a fez conquistar parte do eleitorado de esquerda, e também tem carreado apoios a candidatos de outros partidos desse espectro político. Somados, eles representam mais de 15% das intenções de voto. Assim, como é nos detalhes que o diabo se apresenta, se a campanha Dilma desprezar o trato de tais temas, pode ser por aí que ela seja surpreendida.

.

Qual seria a política externa de Serra?

Reproduzo artigo de Breno Altman, publicado no sítio Opera Mundi:

O biombo mercadológico das campanhas eleitorais esconde, por diversas vezes, discussões importantes. Não é comum, afinal, que temas de pouco apelo popular sejam tratados com desenvoltura no horário eleitoral e nos debates entre candidatos. Um desses assuntos condenados ao desterro é a política internacional, apesar de sua relevância estratégica.

Essa agenda, até agora, não foi efetivamente abordada por nenhuma das duas candidaturas que polarizam a sucessão presidencial. Obviamente são mais fáceis de identificar opiniões da postulante governista, Dilma Rousseff, pois prega abertamente a continuidade do que foi feito nos últimos oito anos. Mas o silêncio do candidato oposicionista, José Serra, obriga que se mexa nas gavetas para conhecermos seu ponto de vista.

A bem da verdade, deu declarações acidamente críticas contra o Mercosul, insinuou o comprometimento do governo boliviano com o narcotráfico e entrou na onda de relacionar o PT com a guerrilha colombiana. Não há nessas diatribes, porém, idéias consistentes. Talvez o melhor caminho para encontrá-las seja realizar o diagnóstico da política internacional seguida por Fernando Henrique Cardoso, da qual Serra é herdeiro natural.

A coluna vertebral da orientação cumprida pelo Itamaraty entre 1995-2002 está em antigo raciocínio do então presidente. Para ele, o desenvolvimento da economia brasileira somente poderia ocorrer sob a égide da dependência, através da associação com os grandes centros capitalistas. Sem essa aliança subalterna, escreveu o renomado sociólogo, não seria possível obter os fluxos de investimento e comércio necessários à modernização nacional.

Trata-se de profunda injustiça acusar o ex-mandatário de ter rasgado o que, no passado, havia escrito, pois executou sua concepção ao pé da letra. Não aderiu às chamadas práticas neoliberais pela via conservadora, mas como conseqüência de suas próprias pesquisas. O pensamento de FHC levou ao amálgama entre o partido dos tucanos e setores da direita tradicional, cujos reflexos se manifestaram tanto na economia quanto na política externa.

A atração de investimentos externos, nesse modelo, pressupunha ousado programa de desregulamentações, privatizações e desnacionalizações. Os ativos brasileiros, estatais e privados, além das taxas de juros oferecidas pelos títulos públicos, deveriam ser os instrumentos fundamentais de sedução ao capital estrangeiro. O Estado deveria, por fim, se resumir ao papel de comitê gestor desses negócios, nos quais aos empresários brasileiros seria oferecida a perspectiva de progredir como sócios minoritários da globalização.

Esse desenho econômico exigia ações correspondentes no plano internacional. A diplomacia deveria estar focada no estreitamento das relações com os chamados países desenvolvidos, especialmente Estados Unidos e União Européia, reduzindo ao máximo possível todas as arestas e conflitos que atrapalhassem a importação de capitais e a ampliação de crédito juntos às principais instituições financeiras mundiais.

Tal concepção, que situava o motor do desenvolvimento fora das fronteiras nacionais, tampouco era amigável a políticas de integração regional ou de relação com o hemisfério sul. A América Latina e a África, por exemplo, eram vistas apenas como espaços comerciais que poderiam ser ocupados se os fluxos mundiais robustecessem as empresas brasileiras. No máximo, regiões para onde poderiam ser exportados capitais excedentes das grandes companhias.

O objeto do desejo de FHC era a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), idealizada pelo governo Clinton em 1994. Correspondia à arquitetura perfeita para sua doutrina: os setores mais frágeis da economia nacional seriam abertos ao capital norte-americano, incluindo os serviços públicos, para que os segmentos mais fortes (particularmente o agronegócio) pudessem ter acesso desimpedido ao ambicionado mercado dos Estados Unidos.

A busca pela simpatia das potências ao norte levou à renúncia de compromissos históricos. O Brasil passou a flertar com o sionismo no Oriente Médio. A aceitar a utilização do tema de direitos humanos para marginalizar países que confrontassem a Casa Branca. A ser omisso diante de agressões militares contra nações, como a antiga Iugoslávia e o Iraque, que se rebelassem contra a ordem mundial fixada após o colapso da União Soviética.

Essa política internacional foi interrompida com a eleição de Lula, cristalizando aquela que talvez seja a maior mudança que o novo governo promoveu em relação ao anterior. Trata-se de hipótese razoável imaginar que Serra, eleito, promoveria o retorno aos velhos preceitos. Claro que poderia efetivar algumas adaptações, já que não estamos no mesmo mundo dos anos noventa. O naufrágio da Alca, por exemplo, parece irrevogável: mais simples seria o eventual presidente tucano buscar um tratado direto com Washington.

Mas dificilmente a lógica de sua política externa escaparia de uma volta ao passado, com danos para a integração da América Latina e benefícios para a estratégia norte-americana na região. A trajetória histórica é suficiente para se afirmar que o Brasil dos planos de Serra possivelmente abdicaria de pretensões autonomistas, para se reinserir como sócio menor do campo hegemônico. Mesmo que, por ora, o candidato mantenha sua posição protegida pelo silêncio eleitoral.

.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O episódio Lula versus Otavinho

Reproduzo matéria de Luis Nassif, publicada em seu blog:

Não sei por que razão, na edição online não está a matéria da impressa, com a versão do Otávio Frias Filho para a grosseria cometida no almoço oferecido pelo jornal a Lula, em 2002. Na versão de Otávio, ele apenas questionou a falta de preparo de Lula. Mas a versão do Ricardo Kotscho descreve em detalhes a grosseria e desmente (a priori) a versão nova de Otávio.

Extrato do livro "Do golpe ao Planalto", de Ricardo Kotscho

O único problema mais sério que tivemos no relacionamento com a imprensa ao longo da campanha aconteceu por culpa minha. Lula já havia mantido encontros e participado de almoços com os dirigentes dos principais meios de comunicação, mas resistia a atender ao convite da Folha para o tradicional almoço com os diretores, editores e repórteres especiais. Quase toda semana, "seu" Frias ou alguém a seu pedido repetia o convite, que eu voltava a levar a Lula. Este alegava que noutras ocasiões tinha ficado contrariado com a maneira pouco cortês como fora tratado no jornal. Tanto insisti, que ele acabou me autorizando a marcar o almoço. Impôs, no entanto, que o número de participantes fosse reduzido, para que pudesse conversar melhor com o "seu" Frias.

Em razão de algum mal-estar ocorrido em almoços anteriores, dos quais não participei, o clima já não pareceu muito amigável desde o momento em que "seu" Frias recebeu Lula e José Alencar. Otávio Frias Filho ficou calado, enquanto Lula não parava de falar dos seus planos para o país e da importância de ter um vice como Alencar. Assim que os comensais sentaram à mesa, Frias Filho disparou a primeira pergunta: se Lula se sentia em condições de governar o país, mesmo sem ter se preparado para isso, não sabendo nem falar inglês. O candidato fez uma expressão de incredulidade, olhou prá mim como quem diz: "E eu tinha que ouvir isso?", engoliu em seco e deu uma resposta até tranqüila diante daquela situação constrangedora.

Como se tivessem sido ensaiadas, as perguntas seguiram no mesmo tom hostil ao convidado até que, já quase na hora em que seria servida a sobremesa, alguém quis saber como ele se sentia ao aceitar uma aliança com Paulo Maluf. O argumento era que, se o PL apoiava Maluf na eleição para governador de São Paulo, o candidato do PT a presidente também estaria se aliado ao político que mais combatera durante toda a história do partido. Não havia porém, nenhuma aliança em São Paulo entre o PP e o PT, que disputava a mesma eleição tendo como candidato o deputado federal José Genoíno. Foi a gota d'água. Lula não respondeu; levantou-se, dirigiu-se a "seu" Frias e comunicou: "O senhor me desculpe, mas não posso mais ficar aqui. Vou embora. Não posso aceitar isso, em nome da minha dignidade."

Ficou todo mundo paralisado. "Seu" Frias levantou-se também. Antes de sair, Lula ainda disse a Otavinho, o único que permaneceu na sala:"Eu não tenho culpa se você está nervoso porque teu candidato vai mal nas pesquisas". Para ele, a Folha estava apoiando José Serra. Pegando no braço do candidato, "seu" Frias o acompanhou até o elevador e depois até o carro, no estacionamento, com os outros todos caminhando atrás. "Nunca tinha acontecido isso antes na nossa casa", lamentou.


.

Lula critica complexo de vira-lata da Folha



.

Acertos e erros do encontro dos blogueiros

Por Altamiro Borges

Histórico, sensacional, emocionante, sucesso total. Estes e outros elogios, repetidos por várias pessoas, confirmam que o 1º Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas, realizado em São Paulo neste final de semana, foi um baita êxito. Ele é uma vitória de todos os que se envolveram na sua preparação, dos militantes virtuais espalhados pelo país que constroem este novo tipo de movimento social. Não há estrelas ou anônimos. Todos foram protagonistas deste grande êxito.

A idéia de um encontro de blogueiros é antiga. No ano passado, por exemplo, ela foi aventada no Fórum Social Mundial de Belém do Pará, em janeiro, e no Fórum de Mídia Livre, em dezembro. Mas sua realização precisou maturar e ganhou novo impulso na fundação do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em 14 de maio deste ano. Na ocasião, o blogueiro Luis Carlos Azenha formalizou a proposta, que foi aprovada como prioridade pela jovem entidade.

Fruto dos avanços recentes

O encontro ocorreu no momento certo, decorrente do acúmulo de energias verificado nos últimos anos na luta pela democratização da comunicação. Cresce a consciência no país de que é preciso enfrentar a ditadura midiática, concentrada, verticalizada e manipuladora; e de que é urgente incentivar a pluralidade e a diversidade informativas, numa comunicação mais colaborativa e democrática. A 1ª Confecom, em dezembro passado, foi a expressão deste movimento.

Na própria semana do evento, dois fatos reforçaram estas idéias. O presidente Lula divulgou um vídeo sobre a contribuição dos internautas na ampliação da democracia. Já o tucano José Serra fez declarações levianas contra os “blogs sujos”, confirmando seu ódio à liberdade de expressão. Os dois episódios indicam que a blogosfera ganha força no país, que cresce seu papel na disputa de hegemonia na sociedade e que ela incomoda os que monopolizam os meios de comunicação.

Espírito generoso, militante, camarada

Entre os acertos, o 1º Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas superou as expectativas ao reunir quase 400 pessoas de 19 estados. Foram 330 inscritos, mas muita gente nem se inscreveu e transitou pelos três locais do evento – Sindicato dos Bancários, na festa de abertura, Sindicato dos Advogados, com dois grupos de discussão, e Sindicato dos Engenheiros, auditório dos principais debates, painéis e plenária final. A previsão inicial era de reunir 200 participantes.

Militantes virtuais, que nunca se viram na vida, puderam se conhecer, abraçar, beijar, gargalhar. O fim da “clandestinidade” do Senhor Cloaca, que produz um blog irreverente – com a cara do Barão de Itararé da era da internet –, representou bem este “encontro” de pessoas e sotaques que não se conheciam. O que predominou nos três dias do evento foi o espírito generoso, fraterno, militante e camarada, que ofusca as vaidades e rejeita as disputas aparelhistas mesquinhas.

A unidade na diversidade

Essa convivência democrática, ampla e plural garantiu outra marca positiva do encontro: a da sua diversidade. Apesar do clima pré-eleitoral, que sempre desperta paixões e rivalidades, pessoas de distintas filiações partidárias – muitas delas, sem qualquer vínculo político – procuraram conter o sectarismo e ajudar a preservar a unidade, indispensável na construção deste movimento. O que garantiu esta “unidade na diversidade” foi a idéia difusa de que é preciso fortalecer a blogosfera, multiplicar e qualificar seus fazedores, para enfrentar o poder descomunal dos donos da mídia.

Ainda sobre os acertos, vale elogiar a organização do encontro por sua capacidade de otimizar os trabalhos. Sem contratar nenhuma empresa especializada e sem experiência numa atividade desta dimensão, foi possível garantir hospedagem e refeição para os participantes. Não houve maiores traumas de estrutura no evento. Aqui cabe um agradecimento especial às 25 entidades sindicais e veículos progressistas que viabilizaram financeiramente o encontro – os “amigos da blogosfera”.

Ajustes para os próximos

Em síntese, o saldo geral foi altamente positivo e todos deixaram o evento na maior alegria. Mas ocorreram falhas, que precisam ser apontadas para futuras correções. Na logística, apesar de todo o empenho da galera do setor, houve dificuldades para viabilizar a transmissão ao vivo e o uso da internet – um pecado num encontro de blogueiros e twitteiros, sempre prontos a disparar os seus textos e imagens. Uma premissa para o próximo é garantir a rápida conexão para todos.

Já na programação, duas falhas graves. O tempo para os painéis e oficinas foi muito curto, o que impediu maiores contribuições dos palestristas e dos participantes. No próximo será preciso dar mais espaço para discussão sobre narrativas da internet (a linguagem dos blogs, o uso do twitter, a força das redes sociais, vídeos e áudio na blogosfera, entre outros temas que visam melhorar a qualidade deste trabalho militante). A mesma falha se manifestou nas reuniões em grupo, com pouco tempo para os presentes relatarem suas ricas experiências e apresentarem suas propostas.

Depois da ressaca, a saudade

Quanto à plenária final, de aprovação da “Carta dos Blogueiros”, peço desculpas por meus erros. Alguns me criticaram por “tratorar” as discussões, acelerando os trabalhos; outros me criticaram por excesso de democratismo, por repetir votações. Concordam com ambos. Por favor, “incluam-me fora desta” tarefa no próximo encontro nacional de blogueiros progressistas. Parabéns a todos nós! Passada a ressaca (nos dois sentidos) dos três dias do evento, já estou com saudades!

.

Bomba! Serra já montou seu ministério

Reproduzo texto hilário publicado no blog do Professor Hariovaldo Almeida Prado:

Como a vitória agora é questão de dias, é hora de começarmos a analisar o futuro ministério de salvação nacional do governo Serra. Alguns nomes já estão certos, outros ainda são dúvidas. É importante que cada um de nós dê sua opinião sobre eles ou indique substitutos. Vamos conhecê-los:

Relações Exteriores: Fernando Henrique Cardoso;

Defesa: Nelson Jobim;

Justiça: Gilmar Mendes;

Banco Central: Salvatore Cacciola

Comunicações: Ali Kamel;

Saúde: Cacá Rosset;

Economia: (Serra está em dúvidas entre Sardenberg e Leitão)

Segundo sugestões dos homens bons que frequentam este sítio noticioso, poderemos ter também as seguintes pessoas nos ministérios indicados:

Minas e Energia: David Zylbersteyn

Pró-Álcool: Lucia Hipolitro.

Cultura: Arnaldo Jabor

O IBGE será gerido pelo Datafolha.

Trabalho: Chiquinho Scarpa

Turismo: Maitê Proença

Ministério do Acarajé: Cira de Itapuã

Ministério da Juventude: Soninha

Instituto Federal de Reeducação Social Henning Boilesen: Jair Bosolnaro

Previdência Social: Georgina de Freitas

Igualdade Racial: Demétrio Magnoli

Reforma Agrária e Agricultura Familiar: Kátia Abreu

Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres: Rogéria

Articulação Política: Índio da Costa

Esportes: Ricardo Teixeira

A chefia da Casa Civil ficará com a Condoleesa Rice, pois é assunto muito sério pra ser tratado por brasileiros.

O Instituto Rio Branco passará a se chamar Ronald Reagan Institute.

Diário Oficial será substituído pela Folha de São Paulo.

.

Cloaca e o "réquiem para um tucano"



.

Caros Amigos no encontro dos blogueiros

Reproduzo matéria de Kyra Piscitelli, publicada no sítio da revista Caros Amigos:

Personalidades, comunicadores e admiradores da blogsfera e do twitter se reuniram em São Paulo para debater a rede e a liberdade de expressão, durante o 1° Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Do encontro surgiram diversas ideias para incentivar e unir o segmento. Entre elas, está a previsão de encontros regionais, oficinas de software livres e uma cooperativa de blogs centralizados no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé – idealizador do evento. Também foi reiterada a defesa pelo direito universal de acesso a internet e banda larga como constitucional e, principalmente, a neutralidade da rede, ou seja, o direito de todos acessarem da mesma forma e com a mesma velocidade a internet.

Realizado no Sindicato dos Engenheiros, nos dias 21 e 22 de agosto, o encontro teve 323 inscritos de 19 estados diferentes. “Temos que incentivar cada um a ter um blog para multiplicar. O blog dá direito da gente se expressar e ninguém pode nos barrar”, afirma Débora da Silva, do Movimento Mães de Maio.

A organização buscou refletir as diferentes opiniões e a pluralidade que existe na blogsfera no encontro. As mesas abrigaram debates sobre a importância dos blogs para a liberdade de expressão, questões jurídicas sobre grandes denúncias, as possibilidades de financiamento para a blogsfera, além de oferecer uma oficina para que os participantes conhecessem melhor as ferramentas disponíveis nas plataformas. Também foi lembrada a importância de se ter provas do que se escreve para se resguardar em possíveis processos. “Esse encontro fortalece esses laços e cria uma agência informal para unir essas pessoas”, disse o blogueiro Rodrigo Vianna.

No encontro, o blog Cloaca News recebeu o troféu Barão de Itararé, como o Blog do Ano. Além do troféu destaque do ano, um troféu satírico chamado “O Corvo” foi oferecido para Judith Brito, re-eleita presidente da ANJ (Associação Nacional dos Jornais) e diretora-superintendente do jornal Folha de S.Paulo. O troféu será entregue por sedex.

Repúdio a Serra

Uma declaração do candidato à presidência da república do PSDB, José Serra, indignou as diversas forças políticas, movimentos sociais e pessoas ali presentes. Ele acusou o governo de financiar “blogs sujos” que “patrulham” jornalistas.

Em resposta a Serra, Paulo Henrique Amorim disse que a calúnia dita pelo candidato demonstra como se dá a “criminalização dos blogs” no Brasil. O blogueiro e apresentador da TV Record ainda pediu apoio ao blog Cloaca News para processar o tucano. “Vamos ajudar a financiar o Cloaca News, que entrará na Justiça para que Serra diga quem são os blogs sujos”.

Quem também não deixou passar em branco as declarações de Serra foi o organizador do evento, Altamiro Borges. “Aqui não tem dinheiro do governo. O dinheiro vem dos blogueiros, dos movimentos sociais e dos veículos progressistas. Isso vai tudo para a internet com nota fiscal para ninguém falar nada”.

Prestação de contas

A organização estima que gastou em torno de R$ 36 mil reais entre, por exemplo, etiquetas, som, certificados além de hospedagem para quem veio de fora São Paulo, almoço para todos no sábado e lanche no domingo.

Quanto à arrecadação só a inscrição, que custava R$ 20 reais para estudantes e R$ 100 reais para os restantes, conseguiu R$ 41 mil reais. Como o evento também ofereceu cotas para movimentos sociais, veículos e blogueiros, o total chegou a cerca de R$ 76 mil reais.

Os R$ 40 mil reais que sobraram, segundo Miro, serão guardados para o próximo Encontro Nacional do Blogueiros Progressistas. Sem local definido, ficou decido que acontecerá no mês de maio, já que assim evita-se que o evento se misture com agenda ou campanha política nos anos em que ocorrer eleições.

.

Grita São Paulo no encontro de blogueiros



.

A carta de Lúcio Flávio aos blogueiros

Reproduzo artigo de Conceição Lemes, publicado no blog Viomundo, e a íntegra da carta do jornalista Lúcio Flávio Pinto:

O jornalista Lúcio Flávio Pinto, de Belém (PA), é ganhador dos principais prêmios de Jornalismo no Brasil. É um exemplo de ética, coragem, competência e dignidade para todos nós que atuamos na imprensa.

Por falar a verdade contra os poderosos do Pará, responde a vários processos. Desde que eles começaram, Lúcio Flávio procurou oito escritórios de advocacia de Belém. Nenhum aceitou defendê-lo.

A sua participação estava prevista no 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressitas. No entanto, não pode comparecer, pois na segunda-feira teve de apresentar agravo a um dos processos.

Para representá-lo, veio o filho Angelim Pinto. Em nome de Lúcio Flávio, leu esta mensagem aos participantes do encontro. Palmas da plateia interromperam-na várias vezes:

Caros amigos blogueiros

Sinto-me muito honrado pelo convite, que devo ao Azenha e à Conceição Lemes, para participar deste encontro. É uma iniciativa generosa e gentil para com um analfabeto digital, como eu. Garanto que sou capaz de ligar e desligar um computador, de enviar e receber mensagens. Não garanto nada a partir daí.

Como, então, estou aqui? Sou – digamos assim – um blogueiro avant la léttre. Não podendo ser um tigre, posto que sou Pinto, fui precursor na condição de blogueiro de papel – e no papel. Às vezes, por necessidade, também um tigre in fólios – e nada mais do que isso.

Em 1987, eu tinha 38 anos de idade e 22 de profissão e me vi diante de um dilema.

Numa vertente, a carreira profissional bem assentada em O Estado de S. Paulo, então com 16 anos de “casa”, e também no grupo Liberal, a maior corporação de comunicação do norte do país, no qual tinha 14 anos, com um rompimento pelo meio, quando tentaram me censurar, logo superado pelo restabelecimento da minha liberdade de expressão.

Na outra vertente, uma matéria pronta, importante, mas que não encontrava quem a quisesse publicar. Era o desvendamento do assassinato do ex-deputado estadual Paulo Fonteles, por morte de encomenda, executada na área metropolitana de Belém, o primeiro crime político em muitos anos na capital do Pará. O Estadão publicara todas as matérias que eu escrevera até então sobre o tema. Mas aquela, que arrematava três meses de dedicação quase exclusiva ao assunto, era, segundo o editor, longa demais.

Já O Liberal a considerava impublicável porque ela apontava como envolvidos ou coniventes com a organização criminosa alguns dos homens mais poderosos da terra, dois deles listados entre os mais ricos. Eram importantes anunciantes. Ao invés de me submeter, decidi ir em frente.

Aí, há 23 anos nascia o Jornal Pessoal, sem anunciantes, feito unicamente por mim, assemelhando-se aos blogs de hoje. Um blog impresso no papel, que exerceu na plenitude o direito de proclamar a verdade, sobretudo as mais incômodas aos poderosos.

Em janeiro de 2005, depois de muitas ameaças por conta desse compromisso, fui espancado por Ronaldo Maiorana, um dos donos do grupo do grupo Liberal, que na época era simplesmente o presidente da comissão em defesa da liberdade de imprensa da OAB do Pará. Eu estava almoçando ao lado de amigos em restaurante situado num parque público de Belém, quando agressor me atacou pelas costas, contando com a cobertura de dois policiais militares, que usava – e continua a usar – como seus seguranças particulares.

Qual a causa da brutalidade? Um artigo que publiquei dias antes sobre o império de comunicação do agressor. O texto não continha inverdades, não era ofensivo, nem invadia a privacidade dos personagens. Mas desagradava aos senhores da comunicação. Embora tendo a emissora de televisão de maior audiência do Estado, afiliada à Rede Globo, o jornal que ainda era o líder do segmento (já não é mais) e estações de rádio, não usaram seus veículos para me contraditar ou mesmo atacar com o produto que constitui seu negócio, a informação.

O que resultou dessa agressão? Da minha parte, a comunicação do fato à polícia, que enquadrou o criminoso na forma da lei. Mas o agressor fez acordo com o Ministério Público do Estado, entregou cestas básicas a instituições de caridade (uma delas ligada à família Maiorana) e permaneceu solto, com sua primariedade criminal intacta. Já o agressor, com a cumplicidade do irmão mais velho e mais poderoso, ajuizou contra mim 14 ações na justiça, nove delas penais, com base na Lei de Imprensa da ditadura militar, e cinco de indenização.

O objetivo era óbvio: inverter os pólos, fazendo-me passar da condição de vítima para a de réu. Em quatro das ações eu era acusado de ofender os irmãos e sua empresa por ter dito que fui espancado, quando, segundo eles, eu fui “apenas” agredido. Mais um dentre vários absurdos aviltantes, aos quais a justiça paraense se tem prestado – e não apenas aos Maiorana, já que me condenou por ter chamado de pirata fundiário o maior grileiro de terras do Pará e do universo, condição provada pela própria justiça, que demitiu por justa causa todos os funcionários do cartório imobiliário de Altamira, onde a fraude foi consumada, colocando ao alcance do grileiro pretensão sobre “apenas” cinco milhões de hectares.

Os poderosos, que tanto se incomodam com o que publico no Jornal Pessoal, descobriram a maneira de me atingir com eficiência. Já tentaram me desqualificar, já me ameaçaram de morte, já saíram para o debate público e não me abateram nem interromperam a trajetória do meu jornal. Porque em todos os momentos provei a verdade do que escrevi. Todos sabem que só publico o que posso provar. Com documentos, de preferência oficiais ou corporativos. Nunca fui desmentido sobre fatos, o essencial dos temas, inclusive quando os abordo pioneiramente, ou como o único a registrá-los. Não temo a divergência e a contradita. Desde então, os Maiorana já me processaram 19 vezes.

Nenhuma das sentenças que me foram impostas transitou em julgado porque tenho recorrido de todas elas e respondido a todas as movimentações processuais, sem perder prazo, sem deixar passar o recurso cabível, reagindo com peças substanciais. O que significa um trabalho enorme, profundamente desgastante.

Desde 1992, quando a família Maiorana propôs a primeira ação, procurei oito escritórios de advocacia de Belém. Nenhum aceitou. Os motivos apresentados foram vários, mas a razão verdadeira uma só: eles tinham medo de desagradar os poderosos Maiorana. Não queriam entrar no seu índex. Pretendiam continuar a brilhar em suas colunas sociais, merecer seus afagos e ficar à distância da sua eventual vendetta. Contei apenas com dois amigos, que se sucederam na minha defesa até o limite de suas resistências, de um tio, que morreu no exercício do meu patrocínio, e, agora, com uma prima, filha dele.

Apesar de tantas decisões contrárias, ainda sustento minha primariedade. Logo, não posso ser colocado atrás das grades, objeto maior do emprenho dos meus perseguidores. Eles recorrem ao seu cinto de mil utilidades para me isolar e me enfraquecer.

Não posso contar nem mesmo com o compromisso da Ordem dos Advogados do Brasil. Seu atual presidente nacional, o paraense Ophir Cavalcante Júnior, quando presidente estadual da entidade, firmou o entendimento de que sou perseguido e agredido não por exercer a liberdade de imprensa, o direito de dizer o que sei e o que penso, mas por “rixa familiar”.

No entanto, dos sete filhos de Romulo Maiorana, criador do império de comunicações, só três me atacam, com palavras e punhos. Dos meus sete irmãos, só eu estou na arena. Nunca falei da vida privada dos Maiorana. Só me refiro aos que, na família, têm atuação pública. E o que me interessa é o que fazem para a sociedade, inclusive no usufruto de concessão pública de canal de televisão e rádio. E fazem muito mal a ela, como tenho mostrado – e eles nunca contraditam.

Crêem que, me matando em vida, proibindo qualquer referência a mim e meus parentes, e silenciando sobre tudo que fazem contra mim na permissiva e conivente justiça local, a história dessa iniqüidade jamais será escrita porque o que não está nos seus veículos de comunicação não está no mundo. Não chegaria ao mundo porque o controlam, a ponto tal que tem sido vão meu esforço de fazer a Unesco, que tem parceria com a Associação Nacional de Jornais, incluir meu caso na relação nacional de violação da liberdade de imprensa.

O argumento? Não se trata de liberdade de imprensa e sim de “rixa familiar”. O grupo Liberal, por mera coincidência, é um dos seis financiadores do portal Unesco/ANJ.

Após os Maiorana, o dilúvio. A maior glória do Jornal Pessoal é nunca ter sido derrotado no terreno que importa à história: o da verdade. Enquanto for possível, as páginas do Jornal Pessoal continuarão a ser preenchidas com o que o jornalismo é capaz de apurar e divulgar, mesmo que, como um Prometeu de papel, o seu ventre seja todo extirpado pelos abutres.

Eles são fortes, mas, olhando em torno, vejo que há mais gente do outro lado, gente que escreve o que pensa, apura sobre o que vai escrever e não depende de ninguém para se expressar, mesmo em condição de solidão, de individualidade, como os blogueiros, que hoje, generosamente, me acolhem nesta cidade que fiz minha e que tanto amo, como se estivesse na minha querida Amazônia.


Solidariedade

Durante o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, vários participantes solicitaram a conta para colaborar com o Lúcio Flávio nesta luta . Ficou decidido que forneceríamos depois. Aqui, está. Obrigadíssima a todas e todos pela solidariedade.


UNIBANCO (banco 409)
Conta: 201.512-0
Agência: 0208
CPF: 610.646.618-15

.

Kirchner acusa jornais de apropriação ilegal

Reproduzo matéria publicada no sítio Carta Maior/Página 12:

A presidente Cristina Fernández de Kirchner apresentou, na noite desta terça, um relatório de mais de 20 mil páginas acusando os donos dos principais jornais do país de envolvimento em crimes cometidos durante a ditadura. No relatório, intitulado “Papel Prensa, a Verdade”, o governo denuncia os proprietários dos jornais La Nación, Clarín e do extinto La Razón de terem se apropriado ilegalmente e mediante ameaças da maior empresa fornecedor de papel jornal do país na época da ditadura, a Papel Prensa, em novembro de 1976.

O governo argentino denunciou, na noite desta terça-feira (24), a apropriação ilegal da empresa “Papel Prensa” (maior empresa fornecedora de papel jornal do país) por parte dos jornais Clarín, La Nación e La Razón.

A presidente Cristina Fernández de Kirchner, acompanhada de todo o seu gabinete, dos presidentes de ambas as câmaras, funcionários, dirigentes políticos empresários e de representantes de organizações sociais recebeu o informe elaborado pela Comissão Oficial formada especialmente para investigar a transferência das ações da empresa do Grupo Graiver (antigo proprietário de Papel Prensa) aos proprietários dos jornais Clarín, La Nación e La Razón. Essas empresas (durante a ditadura) “necessitavam das ações classe A para assumir o controle da empresa”, fato comunicado naquela época, nos três jornais, por meio de uma nota afirmando que “tomavam o controle da empresa conforme acordo prévio com a Junta de Comandantes” da ditadura.

Cristina Fernández de Kirchner afirmou que “no caso do Clarín ocorreu a coincidência entre quem fabrica o papel e quem controla a palavra impressa”. Ela denunciou as condições políticas nas quais a transferência das ações se deu, num país em que só existia a “liberdade ambulatória”. Denunciou também que, anos depois, por causa da falência do La Razón, os jornais controladores da empresa “acordaram um pacto de sindicalização de ações”, para controlar as decisões da companhia.

Assegurou, além disso, que a viúva de David Graiver, Lidia Papaleo, foi detida cinco dias depois de ter assinado a transferência das ações da empresa do marido, para evitar que a empresa caísse na interdição dos bens da família ordenada pela Junta militar. Por último, afirmou que “apesar de que estou convencida de como as coisas aconteceram, o Procurador do Tesouro fará a denúncia correspondente para que a Justiça determine as condições nas quais se realizou a transferência das ações da empresa” e antecipou que enviará ao Congresso um projeto de lei para “declarar de interesse público a produção de pasta de celulose e do papel jornal, bem como sua distribuição e comercialização, e para estabelecer o marco regulatório deste insumo básico, que garanta um tratamento igualitário para todos os jornais da República.”

Integrante da Comissão, Alberto González Arzac afirmou que “o informe constitui uma refutação definitiva das versões sobre a história da empresa Papel Prensa S/A que os jornais Clarín e La Nación publicaram em suas edições de 2 de março e de 4 de abril deste ano.

.

Autorregulamentação, mais do mesmo

Reproduzo artigo do jornalista e escritor Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa:

Na quinta-feira (19/8), a Associação Nacional de Jornais (ANJ) veio à boca do palco para anunciar a criação de um conselho de autorregulamentação como forma de reiterar o compromisso da entidade com a liberdade de expressão e com a responsabilidade editorial. De acordo com a presidente da ANJ, Judith Brito, reeleita no dia 20, a entidade organizará até o final do ano um conselho autônomo, destinado a examinar queixas contra periódicos afiliados e impor eventuais sanções. E nunca escrevi um texto de abertura que demandasse tantas explicações, tanta necessidade de se colocar o assunto às claras como este.

O que passou a serem favas contadas e tratadas como instância deliberativa "mais que oportuna" pela quase totalidade dos grandes blocos empresariais de comunicação no Brasil, os mesmos que dão suporte físico e algum tipo de substância à sua entidade porta-voz, longe de acenar com algo útil, trouxe ao debate, uma vez mais, a desconcertante existência do monopólio da comunicação no Brasil que avança no século 21, sem perceber a força de enxurrada arrancando ideias arcaicas como a que sustentava a indústria da seca, e outras não menos letais que teimavam em rotular brasileiros em duas classes apenas – os do Sul-Sudeste, ricos e opulentos e os do Norte-Nordeste-Centro-Oeste, prisioneiros de crônica falta de meios elementares para sua subsistência física.

No entanto, ficou patente que é muito mais fácil mudar o curso do Rio São Francisco e também muito mais factível o Brasil constatar o mais vigoroso processo de mobilidade social que se tem notícia nos últimos séculos que o país democratizar o acesso aos meios de comunicação e transformar o direito de expressão em conquista não de um punhado empresas de comunicação, mas sim uma conquista de sociedade como um todo.

Três interrogações

Nada soa mais extemporâneo no momento por que passa o país que a criação de um Conselho de Autorregulamentação. Extemporâneo por quê?

Oras, alguém já teve a feliz e oportuna idéia de criar um Conselho de Autorregulamentação para os presidiários do país? Um conselho com força para evitar rebeliões, motins, assegurar a segurança da população carcerária, dos agentes públicos etc?

Alguma entidade de classe das operadoras de telefonia celular já teve a brilhante iniciativa de propor a criação de um Conselho de Autorregulamentação como algo viável para coibir os milhares de abusos cometidos por suas afiliadas, desde aquela comezinha falha de cobrar taxas e impostos do tipo "se colar, colou" até a de não prover com rapidez e eficiência o direito do usuário à sua portabilidade?

Não chama a atenção o fato de que, até o momento, nenhuma entidade representativa dos proprietários de transporte público (ônibus, vans etc.) tenha criado o seu Conselho de Autorregulamentação com a missão de punir os motoristas que mostram descaso com seus usuários, dirigem em alta velocidade, não param nos pontos designados, freiam bruscamente, arrancam antes mesmo de o passageiro estar completamente dentro do veículo?

A presidente Judith Brito promete que será um conselho autônomo, destinado a examinar queixas contra periódicos afiliados e impor eventuais sanções. Autônomo? Como assim? O cordão umbilical do conselho em gestação não derivaria, em absoluto, de sua entidade-mater, a ANJ?

Sei não, depois que o monobloco da comunicação no Brasil decidiu tutelar o conceito de liberdade de expressão parece que tudo é possível. A começar por iniciativa como esta que já nasce fadada ao descrédito: como tratar de julgar com objetividade matéria de natureza eminentemente subjetiva?

É sintomático recolher do editorial da Folha de S.Paulo de segunda-feira (23/8) estas pérolas:

"Setores autoritários do bloco hoje dominante na política brasileira, o de Lula e Dilma, acenam com um controle `social´ sobre a mídia. Mas como formar um conselho representativo? Como evitar que esse conselho seja dominado pela militância em nome da `sociedade´? Como assegurar que suas decisões sejam `certas´?"

E não seriam estas mesmíssimas três interrogações que inviabilizam logo de saída o anunciado Conselho de Autorregulamentação a ser indicado pela ANJ? Como formar um conselho representativo se quem o cria representa tão somente um espectro – majoritário, sem dúvida – das empresas de comunicação do Brasil?

Fim do ano

Apenas a título de exemplo, como imaginar que revistas como CartaCapital e Caros Amigos "se sintam representadas" em tal conselho?

E o jornalismo da internet, uma realidade que assoma os olhos por sua pujança e vigor nos últimos anos, como estariam representadas se não são subsidiários de portais mantidos por empresas como as Organizações Globo, a Editora Abril, os jornais Folha de S.Paulo e Estado de S.Paulo?

E os blogues, por alguns chamados logo de início como "sujos"? Quem representaria os "sujos" no conselho de autorregulamentação? Ou então este seria apenas um conselho dos "cheirosinhos"?

Como evitar que esse conselho proposto pela ANJ seja dominado exatamente por aqueles que mais se dizem porta-vozes da sociedade, muito embora não tenham recebido qualquer procuração da população para tal, seja por meio de eleições livres e universais, seja através de consultas plebiscitárias? A não se encontrar resposta plausível a esta pergunta, penso que a nova instância nada acrescentaria ao status quo de nossas comunicações no Brasil. Ao contrário, visaria tão somente legitimar a prepotência dos que muito podem sobre os que nunca podem, dos que têm direito a falar e a ser ouvidos sobre os que têm, quando muito, apenas o direito de falar, mas nunca o de ser ouvidos.

E, missão impossível mesmo seria a busca de meios que pudessem assegurar que as decisões do novo rebento da ANJ sejam "certas". Sim, porque é de todo impensável, em pleno século 21, acreditar que é justo... decidir em causa própria.

Ora, nem vamos muito longe com o andor porque os santos continuam sendo de barro: não é da praxe jurídica que a isenção por parte de quem julga é essencial para se obter julgamento justo?

E não é por isso que juízes devem se "declarar impedidos" quando têm interesses próprios em julgamento e, se não o fizerem, a parte prejudicada poderá requerer simplesmente a nulidade do mesmo?

Vamos ver se até o dia 31 de dezembro de 2010 seremos brindados com respostas a tais questões. Até lá, esperemos mais, cada vez mais, do mesmo.

.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ministro Padilha no encontro dos blogueiros



.

Emir Sader e os desafios dos blogueiros



.

O encontro dos blogueiros em vídeo



Vídeo produzido por CarlosCarlos, do blog Bola & Arte

O Globo contra o Ipea: a farsa continua

Reproduzo matéria publicada no sítio Carta Maior:

O jornal O Globo segue em sua campanha contra o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Depois de ver fracassado seu intento de produzir uma matéria contendo ataques falsos à instituição, no último domingo, o jornal, pelas mãos da repórter Regina Alvarez, busca o auxílio de universitários ligados ao PSDB e ao DEM para seguir com suas investidas.

Como se sabe, O Globo, dizendo querer ouvir o “outro lado” na matéria do final de semana, enviou extenso questionário em tom prepotente para a diretoria do órgão. Visando evitar que as respostas fossem manipuladas ou distorcidas, o Ipea resolveu publicar a íntegra de seus argumentos e fatos no site www.ipea.gov.br desde a noite de sexta-feira passada.

No domingo, O Globo produziu uma matéria vazia, mas cheia de afirmações e conclusões sem comprovação. A matéria tinha um ponto positivo: divulgou que o Ipea teria dado respostas ao jornal em seu sitio. O número de visitas à página do Ipea, por sua vez, aumentou exponencialmente.

Volta à carga

Nesta terça, o jornal carioca tenta voltar à carga. Em matéria intitulada “Especialistas criticam interferência no Ipea”, a mesma Regina Alvarez consulta os economistas Regis Bonelli e Paulo Rabello de Castro, ambos militantes da oposição ao governo e ardentes defensores das privatizações dos governos de Fernando Henrique Cardoso.

Logo de cara, a matéria, citando palavras de Bonelli, assegura que “os atuais desvios de finalidade e a interferência política no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) comprometem a imagem da instituição, que se manteve como organismo de Estado em todos os governos”. Mais não diz. O curioso é que nunca o Ipea teve tanta credibilidade não apenas entre os setores empresariais e acadêmicos, mas também – e esta é a novidade – entre setores do movimento sindical e social.

O Globo vai adiante. A jornalista ouviu duas fontes universitárias e também um parlamentar, Valter Feldman, do PSDB-SP. Não deu lugar ao propalado “outro lado” . O Ipea não foi consultado dessa vez.

Segundo o texto, a opinião de Bonelli “reflete a opinião e o sentimento de outros pesquisadores, que preferem se manter no anonimato por temor a represálias”. Assim, em um “furo internacional”, O Globo revela que há “represálias” internas no Ipea. Em qualquer redação do mundo isso seria pauta das mais quentes. Não na reportagem de O Globo, na qual nada de concreto aparece. A matéria revela apenas o empenho da jornalista em defender as idéias daqueles que pagam o seu salário. As mencionadas represálias e perseguições nunca foram comprovadas, apenas existem nos factóides que caracterizam o diário.

Desinformado

O economista Paulo Rabello de Castro, por sua vez, é o típico entrevistado que parece estar totalmente desinformado. Convidado a opinar, ele dispara: “O Ipea precisa retornar às pesquisas de fôlego que deixou de fazer: análises sobre emprego, distribuição de renda, competitividade da economia”. Ainda segundo o universitário, “caberia ao instituto fazer um estudo aprofundado sobre a produtividade de segmento e ações do setor público, assim como uma análise efetiva e aprofundada da conjuntura internacional, que pode surpreender o governo”. E finaliza: “A produção atual é rala e superficial. Raramente alguma coisa impressiona”.

Rabelo de Castro deve ser muito ocupado ou provavelmente está sem acesso à internet. Se antes de responder tivesse se dado ao trabalho de consultar a página do IPEA, veria a profusão de pesquisas justamente sobre os temas que arrola.

Defensores do desmantelamento do Estado e da passagem das funções públicas de seus órgãos para a esfera privada, Bonelli, Rabello de Castro e Feldman se tornaram, da noite para o dia, ardorosos defensores do Estado.

Aparentemente, O Globo e suas fontes não sabem o que fazer com outras pesquisas. Não são as do Ipea, mas as eleitorais, que mostram a previsível derrocada de seu candidato em 3 de outubro. Perderam a linha. A baixaria, provavelmente, só vai aumentar. E outros universitários, conhecidos da grande mídia, serão chamados a ajudar O Globo. A tarefa inglória: o candidato José Serra vai caindo como um balão que apagou.

Tiro na água

Na página do Ipea, vale a pena o leitor conferir a pergunta que O Globo, para apimentar a sua matéria do último domingo, fez sobre a contratação de jatinhos pela instituição. Confiram a pergunta e a resposta.

Fogo amigo ou inimigo?

Um dos universitários consultados na matéria de hoje de O Globo, que atacou a instituição, recentemente foi contratado para produzir estudo que servirá de base para uma das mais importantes publicações que o Ipea lançará em breve.

.

Mais fotos do encontro dos blogueiros













.

Rovai avalia o encontro dos blogueiros




Reproduzo artigo de Renato Rovai, publicado no sítio da Revista Fórum:

Neste final de semana mais uma página foi virada na história da comunicação no Brasil. O 1° Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas torna-se um marco nesse processo de mudança de patamar na correlação de forças entre a comunicação vertical e a horizontal. Ou seja, entre a velha mídia que trata o seu público enquanto consumidor e receptor. E a nova mídia que se constrói de forma colaborativa e em processo de rede.

Por que ele se torna um marco? Primeiro, porque reuniu um grupo grande e representativo de blogueiros. Participaram do evento 330 pessoas de 19 estados brasileiros. Número que poderia ser ainda maior se as inscrições não fossem encerradas na segunda-feira. Depois, porque os debates realizados nos dois dias foram de alto nível e apontaram para um processo organizativo que busca ampliar a penetração do movimento em todos os estados, como também criar formas de proteção e incentivo à atividade blogueira. Por um lado criando uma rede de advogados que defenda blogueiros em ações judiciais e por outro construindo projetos que possibilitem sustentabilidade aos ativistas.

Além disso, o evento também foi um espaço de troca de experiências, de construção de novas redes e de qualificação coletiva. Os participantes não só trocavam endereços de e-mail, blogues e perfis no tuiter, mas também idéias e experiências em diferentes temas. Como, por exemplo, formas de melhorar a qualidade da ação na internet.

O evento também foi fundamental para que as pessoas se conhecessem. E a grande descoberta coletiva foi a identidade do Cloaca News. Que foi identificado pelo blogueiro e amigo Rodrigo Vianna ainda na festa de abertura de sexta-feira, realizada na subsede da Avenida Paulista do Sindicato dos Bancários de SP. Cloaca acabou sendo eleito por aclamação como o primeiro blogueiro a receber o troféu Barão de Itararé.

Mas outras tantas descobertas aconteceram. Entre elas a de muitos amigos que circulam neste e em outros blogues postando comentários. Isso leva-me a uma observação: blogueiro não é só quem faz os posts, mas também quem os comenta. São os comentaristas que dão vitalidade à blogosfera e que têm sido fundamentais para que muitas vezes uma informação produzida num espaço se espraie.

Talvez se os blogues não tivessem espaço para comentários, o Encontro Nacional dos Blogueiros não tivesse acontecido. Quem coloca um blogue em contato com outro são eles, ou melhor, muitos de vocês.

O 1° Encontro foi um primeiro passo não só no processo de organização dessa nova esfera da comunicação, mas também um momento para que aqueles que estão envolvidos nesse processo pudessem repensar suas ações. Este blogue, por exemplo, passará a interagir mais com seus leitores e comentaristas.

Um abraço especial para todos que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente neste fim de semana.

.

Arthur Virgílio vai apanhar do Serra



Arthur Virgílio, líder tucano no Senado, está tremendo nas bases. Na sua primeira peça de campanha na TV, ele mudou o nome - banindo o H -, escondeu a legenda do PSDB, afirmou na maior caradura que é "independente" e, o mais grotesco, não citou sequer uma vez o nome de José Serra. O valentão, que prometeu "dar uma surra" no Lula, pode apanhar nas urnas e do irritadiço presidenciável demotucano.

.

Arthur Virgílio leva uma "surra" do Lula



Pesquisas indicam que José Serra pode ficar em terceiro lugar no Amazonas, abaixo de Marina Silva. Para completar o desastre, também afunda a candidatura ao Senado do tucano raivoso Arthur Virgílio. O valentão já está em terceiro lugar, abaixo da candidata comunista Vanessa Grazziotin. Essa "surra" faria um enorme bem à democracia brasileira.

.

Getúlio e Lula: o mesmo combate

Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:

Há pouco mais de meio século – em 1954 -, em um dia 24 de agosto, morria Getúlio Vargas, o mais importante personagem da história brasileira no século passado. Ele havia sido antecedido na presidência do país por Washington Luis (como FHC, carioca recrutado pela elite paulista), que se notabilizou pela afirmação de que “A questão social é questão de polícia”, que erigiu como brasão de seu governo, produto da aliança “café com leite”, das elites paulista e mineira (essa que FHC queria reviver).

Getúlio liderou o processo popular mais importante do século passado no Brasil, dando inicio à construção do Estado nacional, rompendo com o Estado das oligarquias regionais primário-exportadoras, e começando a imprimir um caráter popular e nacional ao Estado brasileiro.

Um país que tinha tido escravidão até pouco mais de quatro décadas – o último a terminar com a escravidão nas Américas - , que significava que o trabalho era atividade reservada a “raças inferiores”, passava a ter um presidente que interpelava os brasileiros no seu discurso com “Trabalhadores do Brasil”. Fundou o Ministério do Trabalho, deu inicio à Previdência Social, fazendo com que a questão social passasse de “questão de policiai”, a responsabilidade do Estado.

Começou a aparelhar o Estado para ser instrumento fundamental na indução do crescimento econômico que, junto às políticas de industrialização substitutiva de importações, deu inicio ao mais longo ciclo de expansão da história do Brasil. Promoveu a expansão da classe operária, criou as carreiras públicas no Estado, impulsionou a construção de um projeto nacional, de uma ideologia da soberania nacional, organizou um bloco de forças que levou a cabo o processo de industrialização, de urbanização, de modernização do Brasil.

Getúlio pagou com sua vida a audácia da fundação da Petrobrás, no seu segundo mandato. Foi vítima dos tucanos da época, com o corvo mor Carlos Lacerda como golpista de plantão. Tal como agora, detestavam tudo o que tivesse que ver com o povo, com nação, com Estado. Resistiram à campanha “O petróleo é nosso”, como entreguistas e representantes do império norteamericano aqui. A direita nunca perdoou Getúlio.

Os corvos daquela época – tal como os de hoje – desapareceram na poeira do tempo. Seu continuador, FHC, afirmou que ia “virar a página do getulismo”, porque sabia que o neoliberalismo seria incompatível com o Estado herdado do Getúlio. Fracassou seu governo e o projeto de Estado mínimo dos tucanos.

A figura de Getúlio permanece como referência central do povo brasileiro e se revigora com o governo Lula. Com a consolidação da Petrobrás, com a retomada do papel do Estado indutor do desenvolvimento econômico, da afirmação dos direitos sociais dos trabalhadores e da massa da população.

São Paulo, que promoveu uma tentativa de derrubada do Getúlio em 1932 – movimento caracterizado por Lula como uma tentativa de golpe -, promove Washington Luis e o 9 de Julho (de 1932), com nomes de avenidas, estradas e ruas, mas não tem nenhum espaço público importante com o nome do Getúlio. Não por acaso São Paulo representa hoje o ultimo grande bastião da direita, das forças e do pensamento conservador, no Brasil.

Getúlio foi um divisor de águas na história brasileira, como hoje é Lula. Diga-me o que pensa de Getúlio e de Lula e eu te direi quem você é politicamente. O dia 24 de agosto encontra o Brasil reencontrado com o Estado nacional, democrático e popular, com a soberania na política externa, com o regaste do mundo do trabalho, com mais uma derrota da direita. O fio condutor da história brasileira passa pelos caminhos abertos e trilhados por Getúlio e por Lula.

.

A mídia e o "novo analfabetismo"

Reproduzo artigo do professor Venício A. de Lima, publicado no Observatório da Imprensa:

Faz tempo que os estudiosos chamam a atenção para o problema do excesso de informação nas sociedades contemporâneas. Em precioso artigo intitulado "O novo analfabetismo", publicado no Jornal do Brasil, há exatos seis anos, Emir Sader lembrava que:

"Até um certo momento, a capacidade de compreensão do mundo, e de nós dentro do mundo, esbarrava na falta de informações. Mais recentemente, passamos a sofrer o fenômeno oposto: excesso de informações. Nos dois casos, o que sofre é a capacidade de compreensão, de apreensão dos fenômenos que nos rodeiam, que produzem e reproduzem o mundo tal qual é e nós dentro dele... A informação contemporânea, massificada, fragmentada, atenta contra a capacidade de compreensão da realidade como uma totalidade. Os noticiários de televisão enunciam uma enorme quantidade de informação, sem capacitar para sua compreensão, com um ritmo e uma velocidade que impedem sua assimilação e o questionamento do sentido proposto".

Já tive a oportunidade de argumentar neste OI que informação não é conhecimento e que o excesso de informação passou a ser sinônimo de desinformação. Além disso, o principal problema provocado pelo excesso de informação tem sido identificado como a incapacidade do cidadão comum de "compreensão da realidade como uma totalidade".

Há, todavia, outro aspecto pouco lembrado: a informação que está disponível "em excesso" nem sempre é aquela que permite a "compreensão da realidade como uma totalidade". Ou ainda: não é nem mesmo a informação correta sobre fatos e dados de grande interesse público.

Presidente muçulmano em país antimuçulmano?

Parte dos resultados de uma pesquisa nacional realizada nos Estados Unidos pelo conceituado Pew Research Center, agora divulgados, dramatiza essa nova realidade.

O número de americanos que acredita que o seu presidente é muçulmano tem aumentado ano a ano e chegou a 18% da população, em agosto de 2010. Se somados àqueles que declaram "não saber" ou que ele é de "outra religião" que não a sua, 63% dos americanos desconhecem que Barack Obama, na verdade, é cristão.

Quando perguntados como souberam qual a religião de Obama, 60% daqueles que acreditam que ele é muçulmano citam a mídia. Dezesseis por cento mencionam a televisão como sua fonte.

Alguns ainda podem acreditar que não se deva atribuir maior significado aos dados revelados pelo Pew Center. No entanto, bastaria lembrar a crescente onda anti-islâmica que varre os Estados Unidos [por exemplo, "The US blogger on a mission to halt `Islamic takeover´"], ou mencionar a manchete de capa da revista Time desta semana [vol. 176, nº. 9] que pergunta "A América é islamofóbica?" e publica os assustadores resultados de outra pesquisa nacional:

* 25% consideram os muçulmanos americanos não patriotas;

* 28% dos americanos afirmam ser contra um muçulmano integrar a Suprema Corte (nunca houve nenhum); e

* 33% se opõem a um muçulmano concorrendo à presidência.

E o dever de informar?

É imperativo, portanto, perguntar: se o grau de informação (desinformação?) dos americanos em relação à crença religiosa do seu próprio presidente expressa a qualidade da informação sendo oferecida pela grande mídia - sobretudo, a televisão - , estaria ela cumprindo sua missão fundamental na democracia que é informar corretamente ao cidadão?

A lição para nós, brasileiros, é a reiterada necessidade de se estar atento às muitas contradições das posições públicas assumidas pela grande mídia e suas entidades representativas.

A defesa da liberdade de imprensa em nome do direito de informar - que, na verdade, é o corolário do direito básico do cidadão de ser informado - não significa que a informação necessária e correta esteja disponível. Mesmo em sociedades onde, eventualmente, possa existir "excesso de informação".

.

O próximo passo da blogosfera

Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:

A Conceição Oliveira, do Maria Frô, definiu bem: os blogueiros mais velhos devem ensinar aos mais novos como fazer política; e os mais novos devem ensinar tecnologia aos mais velhos. Foi a respeito de um momento que considero simbólico no debate final do Encontro Nacional de Blogueiros, quando aqueles que queriam incluir a palavra “mídia colaborativa” na carta foram derrotados pela grande maioria. Perderam duas vezes, por não terem conseguido explicar o que queriam dizer com isso. Talvez não tenham tido tempo de fazê-lo. Vou tentar explicar esse distanciamento entre as gerações, que ficou evidente.

Quando leio os portais da grande mídia e mesmo quando leio a Carta Maior, a Caros Amigos e a CartaCapital na internet (as três com conteúdo editorial excelente), percebo que todos estão ainda na internet do século 20. Na internet 1.0. Na internet verticalizada , em que os editores decidem e os leitores lêem. Sim, há caixas de comentários. E há espaço para os leitores se manifestarem, enviando fotos e informações, em alguns portais. Mas esses espaços ainda refletem, acima de tudo, a transposição da lógica da velha mídia para o espaço virtual. O leitor está ali, mas ainda é tratado como se fosse hierarquicamente inferior aos jornalistas, aos editores e aos especialistas.

Para não cometer uma injustiça, noto o excelente blog do Emir, do professor Emir Sader, que foi ao encontro dos blogueiros; e as mudanças que Celso Marcondes fez, melhorando muito o site da CartaCapital.

Noto, também, que a lógica da velha mídia é reproduzida por muitos blogueiros. Aliás, ela fazia sentido quando a internet começou a se transformar em um espaço para furar o bloqueio dos barões da mídia. Muitos blogueiros se tornaram, eles próprios, micro-barões da mídia, com poder de veto sobre os comentários e a condução da linha editorial do espaço. Fazia sentido, quando não existiam ainda as ferramentas da internet 2.0, da chamada mídia colaborativa ou horizontalizada.

Quais são essas ferramentas? O twitter e o formspring, os microblogs que permitem a você trocar informações com outros internautas; as redes sociais como o facebook e o orkut, em que você se integra a uma comunidade de internautas; e ferramentas como o twitpic, a twitcam e o ustream, que permitem a você enviar e receber imagens de internautas e transmitir vídeo ao vivo enquanto interage com os leitores. Há dezenas de outras, essas são apenas as mais conhecidas.

O que significam essas ferramentas? Basicamente, interação.

Qual a consequência do uso delas por um blogueiro, seja jornalista ou não? Fica implícito que ele desce do pedestal, se iguala aos leitores, passa a ser apenas o coordenador do espaço, que na verdade é tocado pelos interesses dos leitores e comentaristas.

A longo prazo, seria o fim do jornalismo industrial. Seria, não, será. Talvez eu não viva para testemunhar isso, mas o papel tradicional da mídia, assim chamada por pretender fazer a mediação entre os diversos atores sociais, receberá um estaca no coração cravada pela “mídia colaborativa”.

As razões para isso residem no fato de que há uma infinidade de leitores muito mais qualificados do que eu ou qualquer blogueiro para escrever sobre engenharia, medicina e informática. Para fazer humor ou opinar sobre política. Para tratar de questões éticas ou legais. E essas pessoas começam a participar da blogosfera, criando seus próprios espaços ou comentando nos já existentes.

Como demonstrei no Encontro Nacional de Blogueiros, onde apresentei a minha “mala de ferramentas” (câmeras, gravadores, cabos de conexão etc.), quando quero carrego comigo uma emissora de rádio, de TV e um jornal. Quanto Assis Chateaubriand gastou para formar seu império? E o Roberto Marinho? Guardadas as devidas proporções, as novas tecnologias de informação permitem a um blogueiro ter seu mini-império informativo com um investimento total de menos de 5 mil reais.

Qual é a diferença essencial entre ele, blogueiro, e o jornalista que trabalha em uma corporação? A liberdade para falar e escrever o que quiser, desde que se submeta de maneira elegante à chuva de críticas de seus próprios leitores, quando for o caso. Sim, porque os leitores deixam de ser apenas receptores de informação. Eles opinam, criticam, acrescentam e anunciam na caixa de comentários. Funcionam como abelhas em um processo de polinização. Trazem sugestões de textos, insights e informações que muitas vezes se transformam em posts, ou seja, os leitores se tornam co-responsáveis pelo espaço.

É justamente por isso que, como notou o Rodrigo Vianna, do Escrevinhador, talvez o foco do Segundo Encontro Nacional de Blogueiros deva ser na troca de informações entre os blogueiros sobre essas novas tecnologias. Fizemos alguns painéis que tiraram o fôlego do público, tantas eram as novidades sobre as quais falamos.

Já antevejo o passo seguinte: esses blogueiros, futuramente, poderão ser os professores dessas tecnologias em seus bairros, em escolas técnicas ou junto aos movimentos sociais.

Essas tecnologias, obviamente, são politicamente neutras, mas devem ser apropriadas para que um número cada vez maior de brasileiros possa produzir conteúdo informativo e participar direta e ativamente do trabalho de aprofundamento de nossa nascente democracia.

.

As mulheres no encontro das blogueiras

Reproduzo matéria publicada no blog "Maria da Penha neles":

Participamos do Primeiro Encontro de Blogueiros Progressistas em São Paulo no último fim de semana.Foi um encontro alegre e descontraído, com a presença de muitas mulheres interessantes, batalhadoras e comprometidas com as lutas sociais.

Foi emocionante ver reunidas tantas mulheres que estão alinhadas com os novos tempos que vivemos e que se posicionam de maneira firme para defender suas ideais e lutas. Não tenho estatísticas mostrando o número de mulheres participantes, mas no "olhometro", arriscaria dizer que empatamos em número de participantes com os homens.

Tivenos a oportunidade de ouvir as experiências exitosas dos blogueiros de grande sucesso, o Paulo Henrique Amorim, o Luis Azenha e o Nassiff, e de blogueiros menos conhecidos mas importantíssimos na luta pela democracia, pela liberdade de expressão e contra o pensamento único da grande mídia.

Destaco o emocionante e corajoso depoimento de Débora da Silva, do blog Mães de Maio, que seguramente encorajou outras mulheres a continuar lutando por seus ideais de justiça social e liberdade de expressão.

Foi gratificante conhecer pessoalmente mulheres maravilhosas como Caia Fitipaldi, que colabora de forma voluntária com muitos blogueiros com suas ótimas traduções da imprensa internacional, a bela Nanda Tardin, que incansavelmente divulga as notícias de "nuestra américa", a simpática e competente twitteira Conceição Oliveira, do blog Maria Fro, e a vibrante Conceição Lemos, do blog do Azenha.

Muitas blogueiras jovens que, como eu e minha companheira de blog Rosangela Basso, ouviram atentamente e aprenderam muito com os mais experientes. O encontro de blogueiros progressistas, encerrado no domingo 22 de agosto, já deixou muita saudade e a vontade de que o próximo se realize logo.

No próximo encontro, já com uma mulher presidente do Brasil, temos que nos organizar e garantir que nossa presença se destaque nas palestras e depoimentos, pois este ainda teve a predominância de homens. Não vai aqui uma crítica aos homens ou aos organizadores do evento, mas um alerta a nós mulheres.

Somos corajosas, somos competentes e temos um Brasil novo para conquistar, mas não conquistaremos nossos espaços por decreto, mas com luta e determinação, mostrando nossa cara e nossa história, como o faz nossa futura presidente do Brasil.

Temos que estar preparadas para nos mobilizarmos e botar nossos blogues na rua, quando nossa futura presidente da República precisar da força das mulheres brasileiras para mostrar ao Brasil que ainda insiste em nos desqualificar, que somos cidadãs plenas de direitos e que lutaremos para ser protagonistas deste novo Brasil

A bola está nas nossas mãos!

.

A diversidade no encontro dos blogueiros

Reproduzo matéria publicada no sítio da revista Fórum:

Terminou ontem (22) o I Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, realizado em São Paulo. O evento contou com 330 participantes de 19 estados brasileiros e discutiu diversos temas, desde formas de integrar mais os blogues, aprimorando a diversidade informativa, como questões referentes à defesa da neutralidade na rede e acesso público à banda larga.

Todos os relatórios dos seis grupos de trabalho foram aprovados por unanimidade. Um dos pontos consensuais foi a necessidade de difusão de conhecimentos a respeito das ferramentas utilizadas para blogar e das redes sociais, já que nem todos os blogueiros tem o mesmo nível de conhecimento técnico na área. A ideia é que oficinas sejam realizadas nos estados e uma cartilha sobre software livre será produzida para tornar o conceito mais próximo das pessoas. A lista dos blogues de todos os participantes será publicada na página eletrônica do Centro Barão de Itararé.

Outra das preocupações dos participantes foi pensar em formas de assegurar auxílio jurídico aos blogueiros, por meio da formação de uma rede de operadores do Direito. Isso tendo em vista que já existem notificações e mesmo ações judiciais promovidas por veículos da imprensa comercial feitos com a intenção de cercear a liberdade de expressão de blogueiros que nem sempre têm condições financeiras de arcar com sua defesa.

A questão do financiamento também foi debatida e levantou-se a necessidade de mobilizar parte da sociedade civil progressista para apoiar os blogues, incluindo a conexão com iniciativas relacionadas à economia solidária.

Descentralização

Uma das polêmicas da plenária final foi acerca do adjetivo “progressistas” no título do evento. Mas, em votação, o nome acabou sendo mantido, garantindo um caráter mais aberto em relação à orientação dos blogues que podem participar. A carta aprovada também ratificou o caráter suprapartidário do evento.

A proposta é que o próximo Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas aconteça em um local que não seja São Paulo. Ele deve ocorrer em maio de 2011, mas, antes encontros estaduais devem ser realizados.

.

José de Abreu agita os blogueiros



.

TVT no encontro dos blogueiros



.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

300 podem virar mil blogueiros

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Foi um encontro vitorioso esse ocorrido no fim-de-semana em São Paulo. Reunimos, em dois dias de intensos debates, mais de 300 blogueiros progressistas de todo o país; havia gente de 19 Estados!

Vitorioso, em primeiro lugar, porque aconteceu. Conseguimos dar o primeiro passo. Conseguimos fazer a reunião, na raça. E saiu tudo direito: alimentação, hospedagem, estrutura para os debates. Em apenas 3 meses, botamos o Encontro de pé, contando “apenas” com a boa vontade geral e com o apoio material de 25 quotistas - em sua maioria, sites e sindicatos ou organizações de trabalhadores.

Esse, aliás, é um aspecto simbólico que pode ter passado quase despercebido durante o fim-de-semana: mostramos a força dessa parceria entre movimentos sociais, sindicatos e blogueiros independentes. Como deixou claro a Debora Silva , do “Movimento Mães de Maio”, logo na mesa de abertura no sábado: a internet tem mais força se estabelecer essa parceria com as ruas, com a turma que se organiza em associações e sindicatos. A força da blogosfera progressista é a força dos movimentos sociais. Uma não existe sem os outros. A internet não substitui o combate nas ruas, na realidade concreta.

O Encontro foi também divertido. E isso é ótimo! É preciso haver algum prazer nessas atividades. Aquelas velhas assembléias da esquerda nos anos 70 e 80, em que todo mundo parecia sempre sofrer e arrastar sua cruz para provar uma militância destemida, não cabem mais no século XXI. Militância pode -e deve - ser feita com leveza e (sempre que possível) com bom-humor.

E essa foi uma reunião também emocionante! Muito legal encontrar as pessoas no auditório, ou nos grupos de debate, olhar pro crachá e dizer: “ah, você é o Roberto”; ah, você é a Marlúcia”; ou ”você é o Miguel do Rosário”. São apenas exemplos. São pessoas que eu leio sempre – como blogueiros ou comentaristas nos blogs (no meu e nos outros)- e que eu só conhecia no mundo virtual. Encontrar esse povo todo pessoalmente foi uma experiência riquíssima.

Aliás, esse pra mim foi um dos pontos fortes do Encontro: aproximar os blogueiros de todo país, para fortalecer essa rede virtual e horizontal que já se criou no Brasil.

Um dos momentos mais engraçados foi ver o editor-em-chefe do Cloaca News, todo tímido, recebendo o merecido reconhecimento dos presentes pela combatividade e criatividade. Ele ganhou o troféu Barão de Itararé – como blogueiro de 2010. Só faltou a gente descobrir agora quem é o Stanley Burburinho! Essa tarefa fica pra 2011.

Outro ponto importante foram os debates de política da Comunicação: a defesa firme do Plano Nacional de Banda Larga, a briga pela “neutralidade” da rede (não aceitar que sites grandes tenham condições técnicas de navegação melhores do que os pequenos) e o apoio à ADIN (Ação Direta de Constitucionalidade) que o professor Fabio Komparato vai mover no STF, exigindo a regulamentação dos artigos da Constituição que falam sobre Comunicação.

Tudo isso, e muito mais, está na Carta Final do Encontro – que sofreu várias emendas e deve ter sua redação divulgada nas próximas horas.

Por último, mas isso talvez seja o mais importante, conversou-se muito sobre as questões técnicas: como fazer um blog de qualidade, como usar vídeo, como aproveitar ferramentas como o twitter. Ficou claro que, nas próximas edições do encontro, a gente deve gastar mais tempo com essas questões práticas, e menos com o debate “político”. Não que a Política seja desimportane (e vocês saõ testemunhas de como eu gasto posts e mais posts falando de Política aqui); mas é que o povo está com sede de aprender, de fazer, de criar!

Acertamos, na Assembléia Final de domingo, que nos meses de março e abril de 2011 vamos priorizar os encontros estaduais (com foco nessas oficinas bem práticas, e também no debate sobre a realidade da comunicação em cada região), preparatórios para o Segundo Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que deve ocorrer em Maio de 2011.

A idéia é fazer a segunda edição numa cidade mais central do país (Brasília? Salvador? Rio?), pra facilitar o deslocamento da turma que vem do Nordeste, da Amazônia e do Centro-Oeste.

A Comissão Organizadora do Primeiro Encontro deve se reunir nas próximas semanas, pra fazer uma grande avaliação, e pra implementar algumas das sugestões que surgiram no debate - entre elas a de criar uma grande lista de blogs (que poderia ficar sob administração do Centro Barão de Itararé – será que é viável?).

Sãs muitas idéias, muita coisa pra fazer! Uma delas, que me parece fundamental, é organizar um Encontro de Blogueiros sul-americanos. Surgiu a proposta de realizá-lo em Foz do Iguaçu, ano que vem, para aproveitar a efervescência política em todo o Continente.

Será que temos perna pra tanta coisa? Acho que sim. Em 3 meses, fizemos o primeiro Encontro – com 300 blogueiros. No segundo, com um pouquinho mais de trabalho, podemos chegar fácil a Mil blogueiros.

.

As decisões do encontro dos blogueiros

Reproduzo reportagem de Anselmo Massad e Ricardo Negrão, publicada na Rede Brasil Atual:

Cerca de 300 autores de blogs reunidos na capital paulista neste domingo (22), segundo dia do 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, na capital paulista, aprovaram uma carta de princípios.

O texto defende a liberdade de expressão, especialmente na internet, democratização da comunicação e a universalização da banda larga no Brasil (acesse link para íntegra da Carta dos Blogueiros Progressistas, no quadro abaixo). O documento encerra o 1º Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas.

Os trabalhos foram organizados por Altamiro Borges, do Centro de Estudos Barão de Itararé, e tomaram cerca de duas horas e meia. Propostas elencadas na manhã do domingo por grupos de trabalho foram apresentadas e aprovadas na plenária.

Também foi deliberada a realização de um segundo encontro, em data e local ainda a definir, além de eventos locais e regionais e aprovadas moções de apoio e de solidariedade a jornalistas e comunicadores.

Uma das primeiras polêmicas entre os ativistas esteve relacionada ao próprio nome do evento. Enquanto alguns participantes defendiam outras opções de adjetivos aos blogueiros, ficou definida a manutenção do termo "progressistas".

"O que seremos depende menos do nome e mais de nossa conduta daqui para frente", resumiu Conceição Lemes, do Viomundo. A resolução teve apoio da maioria da plenária.

Preocupações em definir o movimento como suprapartidário e desvinculado de lideranças e correntes políticas específicas, em sublinhar a posição contrária à censura e em garantir o apoio à neutralidade da internet foram incorporadas à redação final.

O texto foi divulgado na tarde deste domingo. Há ainda apoio a regulamentação dos artigos da Constituição Federal que tratam dos meios de comunicação no país e de incentivo a estruturas de financiamento para produtores autônomos.

.