Diferentemente do Brasil, onde a mídia hegemônica finge ser neutra nas disputas eleitorais para enganar os incautos, nos EUA ela toma partido explicitamente em seus editoriais. Sempre sob a ótica dos interesses do império, ela assume qual seu candidato e as razões – e jura, o que também é uma falsidade – que isso não interfere na cobertura jornalística. Na acirrada disputa presidencial deste ano entre Kamala Harris e Donald Trump, a imprensa ianque voltou a se posicionar.
Um dos principais veículos ianques, porém, rompeu com sua tradição e optou pela “neutralidade” – o que gerou muitas suspeitas. Após várias décadas apoiando candidatos do Partido Democrata, o Washington Post anunciou a sua pretensa isenção. William Lewis, CEO do jornal, alegou que a decisão foi um retorno “às nossas raízes de não apoiar candidatos presidenciais”. Ele, porém, foi alvo de crítica dos jornalistas e dos leitores do próprio jornal.
Conforme registra a BBC-News, “o próprio Washington Post noticiou – citando fontes anônimas – que funcionários do setor de editoriais já haviam redigido um artigo manifestando apoio do jornal a Kamala Harris que não foi publicado. Citando as mesmas fontes, o jornal disse que a decisão de não publicar o endosso foi tomada pelo proprietário do jornal, o fundador da Amazon, Jeff Bezos. Alguns jornalistas se demitiram e o jornal teria perdido milhares de assinantes, críticos à decisão”.
Outras duas opções pela "neutralidade"
Também optaram pela “neutralidade” o principal veículo do mercado financeiro, o Wall Street Journal, e o Los Angeles Times, o maior diário da Califórnia. O primeiro, que há décadas optou por não apoiar candidatos, justificou sua isenção. “A democrata é uma progressista da Califórnia, escolhida no último minuto, que parece despreparada para um mundo em chamas. O republicano é Donald Trump, que ainda nega ter perdido em 2020 e pouco fez para tranquilizar os eleitores indecisos de que seu segundo mandato será mais calmo do que seu amargo primeiro”.
Já no caso do LA Times, a decisão também surpreendeu os leitores e levou a diretora de editoriais do jornal a pedir as contas. “Estou renunciando porque quero deixar claro que não concordo com o silêncio... Em tempos perigosos, pessoas honestas precisam se levantar. É assim que estou me levantando”, denunciou Mariel Garza. Segundo explicou, o jornal havia planejado apoiar Kamala Harris, mas o plano foi bloqueado pelo dono do veículo, o bilionário Patrick Soon-Shiong.
Declaração de voto no neofascista
A maioria dos veículos, porém, não adotou a mesma “neutralidade”. Entre outros veículos, Donald Trump recebeu o apoio do The Washington Times, o segundo maior jornal da capital ianque. “Trump passou sua carreira construindo coisas e empregando pessoas. Ele concorreu à Casa Branca em 2016 não para enriquecer – ele já era bilionário – mas para retribuir ao seu país. Foi atacado como nenhum outro chefe executivo por uma razão simples: ele se recusa a fazer o que a máquina manda”, bajulou.
Outro jornal trumpista, o New York Post, tentou justificar o apoio ao neofascista. “Sim, muitos o acham ofensivo – e nós dizemos que é justo: ele pode ser ridiculamente hiperbólico. Mas antes que a Covid causasse estragos pelo mundo, os resultados do primeiro mandato de Trump eram salários que cresciam notavelmente mais rápido que a inflação, o menor desemprego em 50 anos, uma fronteira segura e paz no exterior... Hoje, Trump exibe a mesma força e vigor que ele exibiu em 2016, apesar do vergonhoso e inédito uso do sistema de justiça contra ele, duas tentativas de assassinato e a constante e muito familiar onda de ataques histéricos da mídia contra ele."
Kamala não convence, mas ganha apoio
No outro polo, The New York Times – jornal com maior número de assinantes dos EUA – anunciou seu apoio a Kamala Harris. No passado, ele até apostou nos republicanos, mas desde 1960 sempre apoia os democratas na disputa presidencial. Em editorial publicado neste domingo (3), o veículo foi incisivo: “Você já conhece Donald Trump. Ele não é apto para liderar. Observe-o. Ouça aqueles que o conhecem melhor. Ele tentou subverter uma eleição e continua sendo uma ameaça à democracia... Ele mente sem limites. Se for reeleito, o partido republicano não o conterá. Trump usará o governo para perseguir oponentes. Ele perseguirá uma política cruel de deportações em massa. Ele causará estragos nos pobres, na classe média e nos empregadores”.
Em outro editorial, publicado em setembro, o jornal já havia dado apoio a Kamala Harris. “Ela pode não ser a candidata perfeita para todos os eleitores, especialmente aqueles que estão frustrados e irritados com as falhas do nosso governo em consertar o que está quebrado – do nosso sistema de imigração às escolas públicas, aos custos de moradia e à violência armada. No entanto, pedimos aos americanos que comparem o histórico de Harris com o de seu rival”.
Já a revista britânica The Economist, que é uma das mais influentes publicações nos EUA, também declarou voto em Kamala Harris. Em editorial, ela afirmou que “um segundo mandato de Trump traz riscos inaceitáveis... Ao eleger Trump como líder do mundo livre, os americanos estariam fazendo uma aposta arriscada na economia, no estado de direito e na paz internacional. Não podemos quantificar a chance de algo dar terrivelmente errado: ninguém pode. Mas acreditamos que os eleitores que minimizam isso estão se iludindo”. E conclui: “Se o Economist tivesse um voto, nós o daríamos a Kamala Harris”.
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