sábado, 23 de outubro de 2010

TV Globo e a farsa da bolinha de papel



Víde de autoria de Marcelo Zelic, intitulado "Farsa em 6 partes".

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Ignacio Ramonet e a revolta na França

Reproduzo entrevista concedida ao jornalista Laurent Etre, publicada no jornal L`Humanité:

Sarkozy rompeu unilateralmente o contrato moral que tinha feito com os franceses, acusa Ignacio Ramonet, presidente da Associação Memória das Lutas. Para ele, "seria necessária uma jornada europeia de ação".

Na sua opinião, o que representa a amplitude da mobilização pela defesa das aposentações?

Pouco a pouco, todos vão ganhando consciência de que o projeto governamental vai atingi-los e que, num sentido, isto vai pagar-se em anos de vida. Para além disso, há um mal-estar social mais global, que não se pôde exprimir desde que se desencadeou a crise, financeira e depois econômica, em 2008. Observamos igualmente a rejeição de um certo modo de governo, feito de arrogância, de soberba, de auto-suficiência. Do que se pode chamar de “espírito de Fouquet”, que foi ilustrado recentemente pelo caso Woerth.

O poder obstina-se a negar o envolvimento de um ministro num caso que o liga a milionários, a classes extremamente favorecidas. A população começa a ficar farta. E tenho a impressão que, à medida em que se sucedem as jornadas de protesto, cada cidadão toma consciência de que pode associar-se ao movimento. Assim, este vai ganhando amplitude. Progressivamente, o movimento traduz o mal-estar de cada um.

Nicolas Sarkozy estimou que o dossiê reformas estava fechado. Que fazer diante de uma tal surdez?

No plano da legalidade parlamentar, o espaço de tempo é relativamente curto porque se estima que de hoje até quinta o Senado acabará por votar esta lei, que voltará então à Assembleia. E daqui a uma dezena de dias, do ponto de vista desta legalidade parlamentar, o caso estará fechado. Mas em democracia, há também outras legitimidades. Vemos assim exprimir-se, neste momento, a legitimidade social, aliás reconhecida pela Constituição através do direito de greve e do direito de manifestação.

Mesmo que o poder se mantenha surdo, esta legitimidade é maioritária no país, como mostram todas as sondagens. Seria imprudente por parte do governo teimar em não levar em conta senão uma única legitimidade e não reconhecer as outras, perfeitamente legais em democracia. Além disso, ninguém ignora que o presidente da República afirmou, no seu programa presidencial, que não tocaria na reforma aos 60 anos. Ele rompeu unilateralmente o contrato moral que tinha feito com os franceses. Por isso, temos o direito de invocar ainda uma outra legitimidade, a da democracia participativa: já que o presidente muda o seu programa, deve submetê-lo aos eleitores. É por isso que há quem peça, a meu ver com razão, a realização de um referendo.

Outros movimentos desenvolvem-se na Europa, atualmente, num grande número de países, contra os planos de austeridade. A sequência do braço-de-ferro em França vai ocorrer do lado das mobilizações à escala europeia?

Há manifestações muito importantes num grande número de países, na Espanha, em Portugal, na Itália, na Romênia... Na Grécia, houve seis greves gerais. Logo, realmente, seria necessária uma jornada europeia de ação. Acrescento a isso que alguns dos países onde os protestos estão sendo mais fortes são governados pela social-democracia. Por isso, muitos cidadãos se perguntam se a social-democracia, quando está no poder, acaba por aceitar ela própria as diretivas do Fundo Monetário Internacional, ele mesmo dirigido por um social-democrata. Há, consequentemente, uma hipoteca, que os sociais-democratas devem levantar. Em relação a isto, só podemos alegrar-nos de que, na França, o PS anuncie que, se voltar ao poder, restabelecerá a idade legal de 60 anos. Mesmo que não descarte a possibilidade de fazer uma reforma do sistema de reformas.

Em que sentido podemos dizer que a questão das reformas é um assunto de civilização?

Construímos sociedades mais avançadas, mais civilizadas, na medida em que criamos sistemas de reforma que permitissem eliminar um dos grandes terrores do Ocidente, a angústia dos velhos. Hoje, é isso que está sob ameaça. Todos sabem que a questão das reformas implica o conjunto das famílias, consequentemente a sociedade, portanto a civilização. É preciso sublinhar que, em certos países, uma das medidas que a esquerda implanta, quando chega ao poder, é precisamente a redução da idade de ida para a reforma. A Bolívia de Evo Morales reduziu-a de 65 para 58 anos! Isso corresponde a uma aspiração profunda das populações.

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O dia em que até a Globo vaiou Ali Kamel

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Passava das 9 da noite dessa quinta-feira e, como acontece quando o “Jornal Nacional” traz matérias importantes sobre temas políticos, a redação da Globo em São Paulo parou para acompanhar nos monitores a “reportagem” sobre o episódio das “bolinhas” na cabeça de Serra.

A imensa maioria dos jornalistas da Globo-SP (como costuma acontecer em episódios assim) não tinha a menor idéia sobre o teor da reportagem, que tinha sido editada no Rio, com um único objetivo: mostrar que Serra fora, sim, agredido de forma violenta por um grupo de “petistas furiosos” no bairro carioca de Campo Grande.

Na quarta-feira, Globo e Serra tinham sido lançados ao ridículo, porque falaram numa agressão séria – enquanto Record e SBT mostraram que o tucano fora atingido por uma singela bolinha de papel. Aqui, no blog do Azenha. você compara as reportagens das três emissora na quarta-feira. No twitter, Serra virou “Rojas”. Além de Record e SBT, Globo e Serra tiveram o incômodo de ver o presidente Lula dizer que Serra agira feito o Rojas (goleiro chileno que simulou ferimento durante um jogo no Maracanã).

Ali Kamel não podia levar esse desaforo pra casa. Por isso, na quinta-feira, preparou um “VT especial” – um exemplar típico do jornalismo kameliano. Sete minutos no ar, para “provar” que a bolinha de papel era só parte da história. Teria havido outra “agressão”. Faltou só localizar o Lee Osvald de Campo Grande. O “JN” contorceu-se, estrebuchou para provar a tese de Kamel e Serra. Os editores fizeram todo o possível para cumprir a demanda kameliana. mas o telespectador seguiu sem ver claramente o “outro objeto” que teria atingido o tucano. Serra pode até ter sido atingido 2, 3, 4, 50 vezes. Só que a imagem da Globo de Kamel não permite tirar essa conclusão.

Aliás, vários internautas (como Marcelo Zelic, em ótimo vídeo postado aqui no Escrevinhador) mostraram que a sequência de imagens – quadro a quadro – não evidencia a trajetória do “objeto” rumo à careca lustrosa de Serra.

Mas Ali Kamel precisava comprovar sua tese. E foi buscar um velho conhecido (dele), o peritoRicardo Molina.

Quando o perito apresentou sua “tese” no ar, a imensa redação da Globo de São Paulo – que acompanhava a “reportagem” em silêncio – desmanchou-se num enorme uhhhhhhhhhhh! Mistura de vaia e suspiro coletivo de incredulidade.

Boas fontes – que mantenho na Globo – contam-me que o constrangimento foi tão grande que um dos chefes de redação da sucursal paulista preferiu fechar a persiana do “aquário” (aquelas salas envidraçadas típicas de grandes corporações) de onde acompanhou a reação dos jornalistas. O chefe preferiu não ver.

A vaia dos jornalistas, contam-me, não vinha só de eleitores da Dilma. Há muita gente que vota em Serra na Globo, mas que sentiu vergonha diante do contorcionismo do “JN”, a serviço de Serra e de Kamel.

Terminado o telejornal, os editores do “JN” em São Paulo recolheram suas coisas, e abandonaram a redação em silêncio – cabisbaixos alguns deles.

Sexta pela manhã, a operação kameliana ainda causava estragos na Globo de São Paulo. Uma jornalista com muitos anos na casa dizia aos colegas: “sinto vergonha de ser jornalista, sinto vergonha de trabalhar aqui”.

Serra e Kamel não sentiram vergonha.

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Mídia imperialista prega voto em Serra

Reproduzo matéria publicada no sítio Vermelho:

Renomados veículos da imprensa internacional, porta-vozes do capital financeiro, dos grandes monopólios e oligopólios econômicos e dos interesses estratégicos do imperialismo, publicaram reportagens, editoriais e colunas nos últimos dias sobre a eleição presidencial brasileira, pregando abertamente o voto no candidato do PSDB, José Serra.

A revista The Economist, porta-voz do capital financeiro internacional e dos interesses estratégicos do imperialismo, afirma em editorial publicado nesta quinta-feira (21) que o candidato do PSDB José Serra “seria um presidente melhor que Dilma Rousseff".

Na véspera, outro veículo de mídia a serviço dos interesses do grande capital, o diário Financial Times também avaliou que o tucano seria mais recomendável. E dá a receita: O Brasil precisa controlar suas contas públicas. Na opinião do jornal, Serra tem mais competência para isso.

The Economist especula sobre o possível resultado das urnas e diz que “talvez Dilma seja ainda a favorita”. Mas não esconde sua torcida: “Serra reagiu e a eleição está em aberto”.

A revista dos grandes monopólios financeiros derrama-se em elogios sobre o tucano em relação àquilo que, de acordo com seu código de valores neoliberais e conservadores, seriam qualidades: “Serra parece mais convincente... avançaria mais rapidamente no corte de despesas e do déficit fiscal” e teria mais sucesso em “mobilizar o capital privado”.

Tanto a revista como o jornal, macaqueando a mídia conservadora brasileira, pregam abertamente o voto em Serra. The Economist: “Após oito anos sob o PT, o Brasil se beneficiaria de uma mudança no topo do poder”. Financial Times: “A melhora da intenção de voto em Serra tem sido seguida de menores taxas de juros futuros para papéis” brasileiros... “Se os brasileiros acham que estão prontos para viver sob um governo mais austero, podem votar a favor disso”.

Para seu azar, no dia 31 o eleitorado brasileiro, exceção feita aos compatriotas emigrados, que com certeza não lhes darão ouvidos, o povo brasileiro não vota em Londres nem em Washington ou Nova Iorque.

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Imagem da tomografia de José Serra



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