Por Carlos Pompe
Dentre seus efeitos devastadores, a pandemia do novo coronavírus abalou o calendário escolar mundial. Escolas públicas e privadas, de todos os níveis, em todas as regiões do planeta, suspenderam aulas e não encontraram, até o momento, resposta eficaz para a volta às aulas e recuperação do ano letivo.
Estados Unidos e Brasil, campeões mundiais de disseminação e morte pelo Covid-19, comungam a experiência de serem comandados por presidentes que negam a dimensão dos riscos a que as vidas estão sendo expostas pela nova doença e recusam a validade das orientações científicas para enfrentá-la. Esse posicionamento governamental afeta também, nos dois países, as gestões na área da educação.
No Brasil, o Governo Bolsonaro, que desde o seu início opta por ações beligerantes contra o ensino público e pelo favorecimento ao ensino privado, já teve três mandatários no Ministério da Educação, agora acéfalo, e se ausentou de qualquer coordenação nacional no enfrentamento aos desafios colocados pela praga sanitária.
Nos EUA, o chefe do Executivo, Donald Trump, como o seu admirador brasileiro, coloca os interesses empresariais acima de tudo e de todos e disparou nas redes sociais, no último dia 6, “AS ESCOLAS PRECISAM ABRIR NO OUTONO!!!” (assim, em letras garrafais – nesse país, o outono terá início em 22 de setembro). No entanto, como aqui, também lá não estão sendo observadas medidas embasadas cientificamente para o retorno às aulas. O país norte-americano ultrapassa 3 milhões de infectados e mais de 550 mil mortos pelo coronavírus, segundo a Universidade Johns Hopkins.
Reportagem de Luke Sharrett, do New York Times, informa que a Universidade de Kentucky, instituição de ensino superior pública em Lexington, considera os riscos de reabrir seu campus para 30 mil estudantes e 18 mil funcionários. Segundo o jornalista, isso “exigirá mudanças radicais na experiência normal do campus, como o cancelamento de muitas atividades, a alternância entre os alunos (para evitar que os dormitórios sejam muito cheios) e a continuação das aulas on-line (para proteger os professores)”.
Pondera-se que no campus ocorrem festas, refeições e atividades extracurriculares que envolvem contatos sociais próximos, geralmente em ambientes fechados, além da rotina de estudo. Laurence Steinberg, psicóloga da Temple University, denunciou que os planos de reabertura são "tão irrealisticamente otimistas que delimitam a ilusão". Clara Burke, da Universidade Carnegie Mellon, escreveu: "Os alunos podem comprar sanduíches, mas os trabalhadores da cozinha têm espaço suficiente para se protegerem enquanto fazem esses sanduíches?"
Ameaça e resistência
No Brasil, com mais de 68 mil mortes e o número de infectados por COVID-19 chegando a 1 milhão e 720 mil infectados (inclusive o presidente da República, que obtusamente continua a considerá-la uma “gripezinha”), a administração federal ainda não sinalizou como será a volta às aulas, embora constantemente ameace retomá-las o quanto antes. O cenário ainda é de incerteza, marcado pelo embate de autoridades estaduais e municipais, professores, estudantes, pais de alunos e especialistas, brandindo argumentos educacionais e de saúde, os envolvidos no ensino; e econômicos, os empresários e governantes a eles vinculados.
O presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, Ademar Pereira, pretende que a adoção das medidas de proteção a alunos e funcionários fique a cargo de cada estabelecimento. "Tem escola pequena, que tem 50 alunos em uma casa de 300 m², e universidade com 30 mil alunos em 50 mil m² e vários horários disponíveis para aula. São projetos de segurança diferentes que devem ser feitos para cada uma das instituições", diz. Considerando a educação mera mercadoria, preconiza: "Na hora em que foram liberados comércios e serviços, deveria liberar também a escola".
Os pais, por seu lado, estão inseguros quanto a mandar os filhos para a escola, e estes também enfrentarão desafios e dificuldades com o currículo, quando os conteúdos ensinados agora forem retomados, o que vai colocar também novas atribulações para os profissionais do setor, seja na sala de aula, seja no conjunto do ambiente de aprendizado. Outro motivo de preocupação é o distanciamento das crianças menores, sem amadurecimento para o perigo que as circunda e para os cuidados de não se abraçarem quando retornarem as atividades.
Justin Reich, responsável do Massachusetts Institute of Technology (MIT) pelo estudo que acompanha as escolas americanas durante a pandemia, defende que o primeiro momento da volta às aulas deve ser de acolhimento e que a escolas “se concentrem em celebrar a resiliência e o aprendizado dos estudantes durante o isolamento, construindo comunidades, atendendo às necessidades de saúde e emocional dos alunos, identificando o que precisa ser revisto ou retomado”.
Na França, uma semana após o retorno de um terço das crianças do país, foram mapeados novos casos de coronavírus em 70 escolas reabertas. O governo, então, fechou-as como precaução. Na Alemanha, as escolas reabriram parcialmente para crianças pequenas, com regras de distanciamento social e desinfecção. Na Bélgica, é permitido apenas 10 crianças por sala. Na Grécia, somente os estudantes de final de curso voltaram às aulas, em dias alternados e fazendo rodízio entre as classes.
Defesa da vida
Da parte dos profissionais brasileiros, ganha destaque a greve em defesa da vida aprovada pelos professores e professoras do Rio de Janeiro no dia 4. A Contee emitiu nota remetendo à “lição de casa” da Organização Mundial da Saúde (OMS) para preparar a volta às aulas: 1. transmissão do vírus controlada; 2. sistemas de saúde com capacidade de detectar, testar, isolar e tratar todas as pessoas com COVID-19 e os seus contatos mais próximos; 3. controle de surtos em locais especiais, como instalações hospitalares; 4. medidas preventivas de controle em ambientes de trabalho, escolas e outros lugares aonde as pessoas precisam ir; 5. manejo adequado de possíveis novos casos importados; 6. comunidade informada e engajada com as medidas de higiene e as novas normas. Finalizou seu posicionamento, de 25 de maio, clamando: “Saúde e dignidade para quem estuda e ensina! Em defesa da vida!”
Dentre seus efeitos devastadores, a pandemia do novo coronavírus abalou o calendário escolar mundial. Escolas públicas e privadas, de todos os níveis, em todas as regiões do planeta, suspenderam aulas e não encontraram, até o momento, resposta eficaz para a volta às aulas e recuperação do ano letivo.
Estados Unidos e Brasil, campeões mundiais de disseminação e morte pelo Covid-19, comungam a experiência de serem comandados por presidentes que negam a dimensão dos riscos a que as vidas estão sendo expostas pela nova doença e recusam a validade das orientações científicas para enfrentá-la. Esse posicionamento governamental afeta também, nos dois países, as gestões na área da educação.
No Brasil, o Governo Bolsonaro, que desde o seu início opta por ações beligerantes contra o ensino público e pelo favorecimento ao ensino privado, já teve três mandatários no Ministério da Educação, agora acéfalo, e se ausentou de qualquer coordenação nacional no enfrentamento aos desafios colocados pela praga sanitária.
Nos EUA, o chefe do Executivo, Donald Trump, como o seu admirador brasileiro, coloca os interesses empresariais acima de tudo e de todos e disparou nas redes sociais, no último dia 6, “AS ESCOLAS PRECISAM ABRIR NO OUTONO!!!” (assim, em letras garrafais – nesse país, o outono terá início em 22 de setembro). No entanto, como aqui, também lá não estão sendo observadas medidas embasadas cientificamente para o retorno às aulas. O país norte-americano ultrapassa 3 milhões de infectados e mais de 550 mil mortos pelo coronavírus, segundo a Universidade Johns Hopkins.
Reportagem de Luke Sharrett, do New York Times, informa que a Universidade de Kentucky, instituição de ensino superior pública em Lexington, considera os riscos de reabrir seu campus para 30 mil estudantes e 18 mil funcionários. Segundo o jornalista, isso “exigirá mudanças radicais na experiência normal do campus, como o cancelamento de muitas atividades, a alternância entre os alunos (para evitar que os dormitórios sejam muito cheios) e a continuação das aulas on-line (para proteger os professores)”.
Pondera-se que no campus ocorrem festas, refeições e atividades extracurriculares que envolvem contatos sociais próximos, geralmente em ambientes fechados, além da rotina de estudo. Laurence Steinberg, psicóloga da Temple University, denunciou que os planos de reabertura são "tão irrealisticamente otimistas que delimitam a ilusão". Clara Burke, da Universidade Carnegie Mellon, escreveu: "Os alunos podem comprar sanduíches, mas os trabalhadores da cozinha têm espaço suficiente para se protegerem enquanto fazem esses sanduíches?"
Ameaça e resistência
No Brasil, com mais de 68 mil mortes e o número de infectados por COVID-19 chegando a 1 milhão e 720 mil infectados (inclusive o presidente da República, que obtusamente continua a considerá-la uma “gripezinha”), a administração federal ainda não sinalizou como será a volta às aulas, embora constantemente ameace retomá-las o quanto antes. O cenário ainda é de incerteza, marcado pelo embate de autoridades estaduais e municipais, professores, estudantes, pais de alunos e especialistas, brandindo argumentos educacionais e de saúde, os envolvidos no ensino; e econômicos, os empresários e governantes a eles vinculados.
O presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, Ademar Pereira, pretende que a adoção das medidas de proteção a alunos e funcionários fique a cargo de cada estabelecimento. "Tem escola pequena, que tem 50 alunos em uma casa de 300 m², e universidade com 30 mil alunos em 50 mil m² e vários horários disponíveis para aula. São projetos de segurança diferentes que devem ser feitos para cada uma das instituições", diz. Considerando a educação mera mercadoria, preconiza: "Na hora em que foram liberados comércios e serviços, deveria liberar também a escola".
Os pais, por seu lado, estão inseguros quanto a mandar os filhos para a escola, e estes também enfrentarão desafios e dificuldades com o currículo, quando os conteúdos ensinados agora forem retomados, o que vai colocar também novas atribulações para os profissionais do setor, seja na sala de aula, seja no conjunto do ambiente de aprendizado. Outro motivo de preocupação é o distanciamento das crianças menores, sem amadurecimento para o perigo que as circunda e para os cuidados de não se abraçarem quando retornarem as atividades.
Justin Reich, responsável do Massachusetts Institute of Technology (MIT) pelo estudo que acompanha as escolas americanas durante a pandemia, defende que o primeiro momento da volta às aulas deve ser de acolhimento e que a escolas “se concentrem em celebrar a resiliência e o aprendizado dos estudantes durante o isolamento, construindo comunidades, atendendo às necessidades de saúde e emocional dos alunos, identificando o que precisa ser revisto ou retomado”.
Na França, uma semana após o retorno de um terço das crianças do país, foram mapeados novos casos de coronavírus em 70 escolas reabertas. O governo, então, fechou-as como precaução. Na Alemanha, as escolas reabriram parcialmente para crianças pequenas, com regras de distanciamento social e desinfecção. Na Bélgica, é permitido apenas 10 crianças por sala. Na Grécia, somente os estudantes de final de curso voltaram às aulas, em dias alternados e fazendo rodízio entre as classes.
Defesa da vida
Da parte dos profissionais brasileiros, ganha destaque a greve em defesa da vida aprovada pelos professores e professoras do Rio de Janeiro no dia 4. A Contee emitiu nota remetendo à “lição de casa” da Organização Mundial da Saúde (OMS) para preparar a volta às aulas: 1. transmissão do vírus controlada; 2. sistemas de saúde com capacidade de detectar, testar, isolar e tratar todas as pessoas com COVID-19 e os seus contatos mais próximos; 3. controle de surtos em locais especiais, como instalações hospitalares; 4. medidas preventivas de controle em ambientes de trabalho, escolas e outros lugares aonde as pessoas precisam ir; 5. manejo adequado de possíveis novos casos importados; 6. comunidade informada e engajada com as medidas de higiene e as novas normas. Finalizou seu posicionamento, de 25 de maio, clamando: “Saúde e dignidade para quem estuda e ensina! Em defesa da vida!”
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