sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A normalização do golpe

Por Lincoln Secco, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:

Dois anos depois do golpe de 2016, já ficou evidente que o Partido Togado não possui nenhum projeto [1]. Alguns de seus membros não se importam com a demolição de parques industriais, o caos social ou a ascensão fascista. Acreditam ser um preço a pagar pela moralização do sistema político.

No entanto, desejam colher o fruto proibido sem serem expulsos do paraíso. Aguardam, depois do caos, a ordem. Sua pretensão conservadora de um organismo em que cada órgão desempenha uma função é tão contrastante com a realidade latino-americana que só podem reeditar as farsas do passado, uma vez mais como farsas.

A dolorosa consequência da facada

Por Joaquim de Carvalho, no blog Diário do Centro do Mundo:

Na última foto tirada na Santa Casa de Juiz de Fora, antes da transferência para o hospital Albert Einstein, em São Paulo, Jair Bolsonaro parece sorrir. Há um outro registro fotográfico em que ele aparece fazendo sinal de positivo.

Três horas depois de chegar ao hospital, o Twitter do candidato informou: “Estou bem e me recuperando!”

Quem não soubesse o que ocorreu - Bolsonaro foi esfaqueado e correu risco de morrer - poderia até imaginar que o candidato do PSL estivesse feliz.

Cultura, austericídio e o Estado mínimo

Por Paulo Kliass, no site Carta Maior:

A tragédia criminosa envolvendo o Museu Nacional no Rio de Janeiro nos entristece e nos revolta a todos. Muito já foi dito, ainda sob o impacto da emoção e da tristeza, a respeito da irresponsabilidade com que os dirigentes políticos trataram a questão ao longo dos últimos anos. No entanto, é necessário que se faça um balanço sério e rigoroso a respeito das condições que levaram a tal calamidade. Esse é o único caminho que pode evitar a repetição desse tipo de evento, ainda mais com as consequências terríveis para o futuro de nosso País.

Quem a facada atingiu?

Por Antonio Martins, no site Outras Palavras:

As atitudes de quem deseja reumanizar e reencantar o mundo não podem ser simétricas às dos que agem em favor da barbárie. Jair Bolsonaro defendeu a tortura e o estupro, mas é exatamente por nos opormos à brutalidade que repudiamos o atentado a ele. Felizmente, tudo indica que o ex-capitão, afastado do Exército por planejar atentados terroristas, sobreviverá ao atentado. Mas as eleições já não serão as mesmas. Três novas tendências e questões emergirão.

Alckmin: o candidato fantasma

Por Aristóteles Cardona Júnior, no jornal Brasil de Fato:

Michel Temer, apesar de seus 3% por cento de aprovação, está presente em várias candidaturas a presidente. Na de Henrique Meirelles, seu candidato oficial que não disputa pra valer; na de Bolsonaro e seu economista ultraliberal Paulo Guedes, que quer privatizar tudo; na de Alckmin, que conta com a maior parte da base do governo de Temer, entre outros. Poderíamos escrever horas sobre isto, mas volto a falar da candidatura de Geraldo Alckmin.

Pacote do Veneno beneficia Blairo Maggi

Por Cida de Oliveira, na Rede Brasil Atual:

Ministro da Agricultura de Michel Temer e senador licenciado, o ruralista Blairo Maggi (PP-MT) é proprietário da Amaggi. Gigante do agronegócio brasileiro, o conglomerado controla todos os elos da cadeia da agricultura industrial: insumos, produção, escoamento, processamento, transporte e exportação.

Portanto, todas as decisões tomadas no âmbito da pasta comandada por Blairo afetam diretamente seus negócios. É o caso de perdão de dívidas, liberação de crédito, regulação de agrotóxicos e regularização de terras, entre outras.

Facada em Bolsonaro e o ódio na política

Por Renato Rovai, em seu blog:

Na história política brasileira poucos, em momentos de democracia, incentivaram tanto o ódio como o candidato Jair Bolsonaro.

Ele fez do ódio o combustível de sua trajetória.

Fez homenagem aos torturadores da ditadura militar.

Celebrou o ataque a bala à caravana de Lula no Rio Grande do Sul, no que, diga-se, contou com a entusiasmada adesão de Ana Amélia, vice de Geraldo Alckmin.

O ódio gera ódio. Mas isso não explica e nem justifica o atentado que sofreu.

O duelo Haddad/Lula contra Bolsonaro

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

No post anterior, registrei as semelhanças que o confronto eleitoral de 2018 vai tomando em relação ao de 1989, o primeiro da redemocratização brasileira.

Semelhanças, não igualdade, porque neste existe um fato dominante: o de que o favorito do povo brasileiro para o cargo de presidente está encarcerado e amordaçado, impedido de falar à população, embora dentro de sua memória e identidade.

A candidatura Bolsonaro, porém, virou uma febre dos medíocres e dos fanáticos, tal e qual virou Collor em 1989.

O inferno astral dos meninos da direita

Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:

Não é uma época boa para os meninos-prodígio da direita: enquanto a Argentina afunda com o “mito” Mauricio Macri, agora é a vez da França de Emmanuel Macron.

Após 15 meses de governo, a popularidade de Macron despencou 10 pontos e foi para 31%, menor que a de seu antecessor, François Hollande, durante o mesmo período no poder. O presidente perdeu dois ministros em duas semanas e enfrenta um forte revés desde que veio à tona que seu chefe de segurança, Alexandre Benalla, era o homem com capacete da tropa de choque agredindo manifestantes na rua durante o 1° de maio em Paris.

Debate, sim! Violência e ódio, não!

Editorial do site Vermelho:

Firmeza e serenidade. São duas palavras indispensáveis para se lidar com as consequências do ataque ao candidato presidencial Jair Bolsonaro.
Com firmeza repudiar a violência e o ódio.

Com firmeza defender as eleições marcadas para 7 de outubro. Que se realizem sob a égide da paz e dos preceitos da democracia.

Como disse a presidenta do PCdoB, Luciana Santos, o que o Brasil precisa é de debates de ideias e de projetos, violência e ódio, não!

Haddad no palco da inquisição da GloboNews

Haddad na GloboNews. Foto: Ricardo Stuckert
Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

A imprensa brasileira, sempre tão independente e isenta, acaba de criar uma nova modalidade de entrevista: o jornalista pergunta e ao mesmo tempo responde.

Levado ao palco da inquisição da Globo News, Fernando Haddad parecia um monge tibetano meditando, tentando se defender, nas poucas brechas que lhe davam, enquanto seus ansiosos inquiridores se alternavam nas acusações contra Lula, Dilma e o PT.

Foi um bombardeio sem tréguas, na mesma quinta-feira do atentado a Jair Bolsonaro, sem dar tempo para o entrevistado respirar e falar com quem lhe interessava, ou seja, sua excelência, o eleitor.

O discurso de ódio produz seus frutos

Por Antonio Barbosa Filho

Quem se der ao trabalho de visitar os hangouts e "lives" dos grupos de extrema-direita que multiplicam-se nas redes sociais não terá motivos para surpreender-se com o lamentável atentado contra o candidato de extrema-direita a presidente, Jair Bolsonaro. Há ameaças de violências muito maiores, divulgadas abertamente, há vários anos, inclusive por apoiadores fanáticos deste candidato.

Há cerca de uma semana, o ex-coronel Carlos Alves, um exaltado defensor de uma nova ditadura militar (eles se auto-denominam "intervencionistas") dizia no seu canal do YouTube que os moradores de Roraima deveriam matar os refugiados da Venezuela que adentram aquele Estado. Foi didático: que peguem facas e facões e "cortem os venezuelanos ao meio" . Como este desequilibrado, há dezenas, pregando o assassinato de petistas, esquerdistas, padres, ministros do STF, e até de generais - todos "comunistas", no linguajar simplório e raivoso desses militantes.

Bolsonaro: Causa e efeito da barbárie

Por Jeferson Miola, em seu blog:

O ataque homicida a Jair Bolsonaro, além de significar uma violência inaceitável contra a vida humana, é um atentado adicional ao Estado de Direito cuja democracia já está sendo necrosada pela ditadura jurídico-midiática que mantém Lula em prisão política.

A condenação a este atentado, portanto, deve ser enfaticamente declarada.

É impossível não se aludir, todavia, que Bolsonaro é vítima da barbárie que ele próprio cria e dissemina na sociedade.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

A segunda onda Bolsonaro

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Assim como no mercado de ações, as campanhas eleitorais são compostas por ondas sucessivas, influenciadas pelo fenômeno do “overshooting”.

Funciona assim:

1- Há uma valorização do ativo, quando se apresenta como novidade. Qualquer notícia positiva é superestimada.

2- Chega determinado momento que o mercado (de ações ou da opinião pública) julga que o ativo ficou caro. Segue-se um período de realização de lucros, em que o investidor (ou eleitor) reconsidera suas análises. Qualquer notícia negativa é superestimada, em um processo inverso ao do período anterior.

O primado da luta política sobre a jurídica

Por Haroldo Lima, no Blog do Renato:

O golpe de 2016, a prisão de Lula, o desrespeito ao Comitê dos Direitos Humanos da ONU e a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de impedir a candidatura de Lula à presidência da República, tudo isso mostra o Brasil submetido a uma grave anomalia, a de um país onde o Judiciário passou a tutelar a Nação.

Essa é uma situação grave. Primeiro porque, pela Constituição, os três Poderes da União – o Legislativo, o Executivo e o Judiciário – devem ser “independentes e harmônicos”, nenhum tutela os outros. Segundo porque, o preceito constitucional de que “todo poder emana do povo” só é eminentemente verdadeiro para o Legislativo e o Executivo, submetidos periodicamente ao voto popular. O Judiciário, Poder fundamental no Estado de direito é, contudo, um poder técnico, originário dos dois primeiros, não pode estar monitorando os outros Poderes.

O Estado brasileiro gasta mesmo demais?

Por Emilio Chernavsky, no site Brasil Debate:

Há anos ouvimos no debate político e econômico do país que o Estado brasileiro é muito grande e que gasta demais. Com base nessa alegação, inclusive, o Congresso aprovou no final de 2016 emenda constitucional que congelou por vinte anos a despesa primária da União em termos reais, o que significa, dado que a população cresce, a progressiva redução dos gastos do governo em termos per capita.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Temer e os anos perdidos da Cultura

Por Jotabê Medeiros, na revista CartaCapital:

Ao chegar, em janeiro, para ocupar o Ministério da Cultura (MinC), o ministro escolhido pelo novo presidente ou nova presidenta em outubro próximo vai topar com um cenário, no mínimo, desconfortável, cortesia dos dois anos de desgoverno da gestão Temer.

Primeiro, vai ter de desviar-se do legado de nomeações do atual ocupante do cargo, Sérgio Sá Leitão. O novo ministro vai encontrar em um dos gabinetes, por exemplo, a irmã do ex-governador Sérgio Cabral, Cláudia de Oliveira Cabral (nomeada diretora do Departamento do Sistema Nacional de Cultura em 8 de agosto por empenho pessoal do ministro Moreira Franco).

Famílias tradicionais dominam a política

Por João Filho, no site The Intercept-Brasil:

A primeira pergunta feita para Bolsonaro na entrevista no Jornal Nacional foi como que ele se apresenta como o “novo”, “contra tudo o que está aí”, mesmo tendo feito da política a sua profissão e a de boa parte da sua família. O candidato, que assim como seu filho recebe auxílio-moradia mesmo tendo casa própria em Brasília, respondeu que “quando se fala em famílias na política, fala-se em atos de corrupção. A minha família é limpa na política.” Mais ou menos.

Um hospício sobre os escombros do museu?

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

Tão grave e assustadora quanto a incineração da nossa História no Museu Nacional, é a guerra que se instalou nas redes sociais assim que a noticia correu na noite de domingo.

Um Fla-Flu político insano tomou conta da blogosfera, com ofensas e acusações de todos contra todos, cada facção responsabilizando a outra pela pela desgraça federal.

A tragédia do museu misturou-se ao tiroteio da campanha eleitoral, e o país, que já estava em ruínas, avançou mais um pouco em direção ao abismo da anomia social.

A tensão entre o progresso e a ordem

Por Artur Araújo, no site da Fundação Maurício Grabois:

Geralmente identificamos cortes ou tendências do eleitorado bastante padronizados: estado x mercado; esquerda x direita; progressistas x conservadores; vermelhos x azuis. Creio que as eleições deste ano, altamente atípicas, seriam melhor interpretadas a partir de outra chave: a tensão entre o progresso e a ordem.

Primeiro, uma ligeira definição dos termos.