sexta-feira, 7 de setembro de 2018

O discurso de ódio produz seus frutos

Por Antonio Barbosa Filho

Quem se der ao trabalho de visitar os hangouts e "lives" dos grupos de extrema-direita que multiplicam-se nas redes sociais não terá motivos para surpreender-se com o lamentável atentado contra o candidato de extrema-direita a presidente, Jair Bolsonaro. Há ameaças de violências muito maiores, divulgadas abertamente, há vários anos, inclusive por apoiadores fanáticos deste candidato.

Há cerca de uma semana, o ex-coronel Carlos Alves, um exaltado defensor de uma nova ditadura militar (eles se auto-denominam "intervencionistas") dizia no seu canal do YouTube que os moradores de Roraima deveriam matar os refugiados da Venezuela que adentram aquele Estado. Foi didático: que peguem facas e facões e "cortem os venezuelanos ao meio" . Como este desequilibrado, há dezenas, pregando o assassinato de petistas, esquerdistas, padres, ministros do STF, e até de generais - todos "comunistas", no linguajar simplório e raivoso desses militantes.

O próprio comandante do Exército, general Villas Bôas, já classificou esses grupelhos de "tresloucados". Seria de bom alvitre que instaurasse inquéritos criminais ou inquéritos policiais-militares, contra os que pregam o terrorismo, vários deles usando suas patentes, embora na reserva, para manipularem suas audiências na internet. Alguns não se pejam de aparecer fardados, comprometendo a corporação como se falassem em nome das Forças Armadas.

Este discurso de incitação ao crime começou há cerca de dez anos, pela voz do jornalista Olavo de Carvalho, que se diz "filósofo", e que tem entre seus "alunos" o próprio Bolsonaro, o apresentador Danilo Gentilli, o fascista-mirim Kim Kataguiri, os pastores e parlamentares Magno Malta e Marco Feliciano, os notórios "intelectuais" Alexandre Frota e Lobão, entre muitos outros. Olavo mistura ardilosamente o ódio aos "comunistas" e aos "meta-capitalistas" (que estariam instalando um Governo Mundial, articulado por George Soros, o Vaticano, o Islã, os banqueiros internacionais, Putin, o Foro de São Paulo, etc, etc, etc), com pitadas de religião. A luta da extrema-direita olavista é uma cruzada pela salvação da civilização judaico-cristã...

Olavo afirmou, várias vezes, que "o PT jamais será derrotado; tem que ser eliminado" e que "petista não é ser humano". O que poderia ser visto como uma peroração psicopata, cheia de absurdos, falsificação da História, uma colagem de Mein Kempf com a Bíblia, repetida por anos a fio, e sem contestação por parte das esquerdas ou dos democratas, tornou-se uma bola de neve. A ignorância e o ódio desta seita espraiou-se por dezenas de grupos, extremamente ativos na internet. Só pregando nova paralisação dos caminhoneiros, bloqueio das refinarias da Petrobrás e de estradas, há pelo menos três canais transmitindo ao vivo, 24 horas por dia. Todos recheados de religiosidade, fazendo da geração do caos (expressão comum a todos eles) uma missão apostólica.
 
Quando um candidato a presidente da República afirma em entrevista que "minha especialidade é matar", que tipo de comportamento podemos esperar de seus seguidores e, em resposta, de malucos que sejam seus adversários? 

O atentado contra Bolsonaro é apenas o momento de maior sucesso do discurso de ódio que a direita chucra (para usar a expressão cunhada pelo jornalista de direita Reinaldo Azevedo) vem praticando há anos. Como diz a sabedoria popular, "quem planta ventos, colhe tempestade".
 
Quem tem um mínimo de responsabilidade, sejam políticos, militares, jornalistas, tem todos o dever de baixar a bola, baixar a temperatura do ambiente político. Antes que a violência torne-se ferramenta de disputa. Aí sobrará para todos os lados.

* Antonio Barbosa Filho é jornalista, autor de "O Brasil na era dos imbecis - o discurso de ódio da Direita".

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