Reproduzo a "carta aberta à CNBB", publicada no blog Viomundo e redigida por Marcelo Zelic, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e coordenador do Projeto Armazém Memória:
Carta Aberta à CNBB.
São Paulo 17 de outubro de 2010.
Como membro da CJP-SP fui chamado pelo Deputado Estadual Adriano Diogo a registrar o flagrante de crime eleitoral na Editora Gráfica Pana LTDA, que foi contratada pelo Bispo Diocesano de Guarulhos para reproduzir 2,1 milhões de panfletos falsos da CNBB e estava para distribuir, ontem, pelo país 1,1 milhão de cópias do material e fiz estes registros, por ter ciência da orientação de nossa Comissão Brasileira de Justiça e Paz a partir do documento que li, recebido dias atrás sobre a falsificação de panfleto em nome da CNBB.
A encomenda foi realizada a pedido Mitra Diocesana de Guarulhos conforme imagens abaixo, a saber: email de encomenda, cópia do boleto bancário e carta de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini ao Pe. Jean Rogers Rodrigo de Souza, solicitando distribuição, que encaminho também anexo para divulgação, uma vez que constituem a documentação probatória da encomenda e do crime eleitoral praticado.
A gráfica iria entregar 2,1 milhões de panfletos, cuja informação fornecida pelo gerente da empresa pego em flagrante, pode variar em sua tiragem de 20 a 50 milhões. Foram apreendidos somente 1 milhão dos panfletos falsos, cuja liminar de apreensão já foi expedida pelo juiz responsável. Isso significa que muitos panfletos podem ter sido feitos em outras gráficas e continuarão a ser distribuído pelo país, caso não haja uma ação efetiva da CNBB.
Penso que nossos Bispos devam considerar, dada a gravidade dos fatos, encaminhar a Nota de Esclarecimento elaborada no encontro de Itaici, para ser lida em todas as paróquias, em todas as missas do próximo domingo, sua publicação no Jornal O São Paulo e demais revistas e jornais católicos, bem como a leitura nas Tvs e rádios da igreja, buscando por fim ao assunto.
Recomendo esta atitude para nossos pastores reunidos em Itaici, entendendo ser este um gesto que favorecerá a distensão dos mal-entendidos provocados, visando o amplo esclarecimento dos fiéis que receberam tal documento apócrifo e criminoso, sobre a real posição de nossos bispos do Regional 1 e da CNBB, contribuindo desta forma para serenarmos os conflitos gerados entre os católicos, reafirmando a integridade da CNBB e reforçando a cidadania, a democracia e a livre escolha de todos os brasileiros, tão atingidas com esta manifestação difamatória, que desvirtua o foco do debate que interessa à nação e o sentido das eleições de 2010.
A cizânia que a calúnia, as ofensas e as mentiras imputadas geram entre aos cristãos, por ações como está promovida pelo Bispo Diocesano de Guarulhos, estão explicitadas de forma dramática nos fatos que ocorreram hoje em Canindé, no Ceará, onde a missa acabou em tumulto, uma vez que o padre corretamente informou aos presentes que o documento que estava sendo distribuído na missa era falso e acabou sendo atacado por um político, durante a celebração. Pergunto aos nossos Bispos da CNBB; quando na igreja uma missa tão tradicional como a de Canindé, acabou desta maneira? Os fatos demonstram a gravidade do momento e a tentativa de aparelhamento do sentimento religioso em nosso país, conforme nota publicada pela CNBB.
Faz-nos refletir a justeza das palavras da candidata Dilma Rousseff, divulgadas na imprensa recentemente, sobre a campanha de ódio que estas ações subterrâneas estão gerando nos corações e mentes dos brasileiros por todo nosso país. Isso pode ficar mais grave ainda, se não for feita uma ampla campanha de esclarecimento junto aos fiéis. A CNBB e o país tem muito a perder com isso. É preciso por um basta a esta campanha baseada na mentira, na calúnia, na difamação!
Só a Verdade nos libertará.
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domingo, 17 de outubro de 2010
Panfletos da CNBB e suas relações obscuras
Reproduzo grave denúncia publicada no blog NaMariaNews:
A desgraça dos panfletos contra a Dilma, que "supostamente" bispos da CNBB mandaram imprimir na Gráfica Pana, no Cambuci, tem em documento de encomenda/fatura o e-mail de um senhor chamado "kelmon.luis@theotokianos.org.br" (Kelmon Luis da S. Souza).
Ora, trata-se do e-mail da Associação Theotokos, da qual o Sr. Kelmon é o presidente.
Pelo RegistroBR sabe-se que o site está em nome da Casa de Plínio Salgado, que por sua vez é isto (credo!).
Será o benedito que a santa madre igreja tá nesse terror de mandar essa gente mandar uma gráfica fazer e entregar panfleto mentiroso, descarado, sórdido e podre no Paraíso, Barra Funda e Rua do Bosque? E quem paga é a Mitra Diocesana de Guarulhos?
Que relações são essas?
Desculpe, sou alma ingênua.
Atualizações
O dono da Editora Gráfica Pana LTDA é Alexandre Takeshi Ogawa. O pai, Paulo Ogawa, que aparece no vídeo é o "contador". Sócia da gráfica é Arlety Satiko Kobayashi, funcionária pública da Assembleia Legislativa de SP (ver DO: matrícula 5057); filiada do PSDB do bairro da Bela Vista; décima maior doadora da campanha de Victor Kobayashi (vereador suplente PSDB, 2008; em 2010 candidato a deputado estadual, não eleito), que por sua vez é filho do também político Paulo Kobayashi, falecido, e que solta belezas difamatórias no Twitter.
2.100.000 panfletos, por R$33 mil - Quem paga?
Atualizações
Por que os panfletos teriam de ser entregues na Barra Funda, na Rua do Bosque (que também é Barra Funda) e no bairro do Paraíso? O que a Mitra Diocesana teria a ver nesses lugares? Qual é a rede nessa história?
A Associação Theotokos fica exatamente na Rua do Bosque, 1903 - Barra Funda - São Paulo - CEP 11360-001 - essa casa abaixo. Para onde iriam os panfletos depois daí?
Ler mais: http://namarianews.blogspot.com/2010/10/os-panfletos-mentirosos-da-cnbb-e-suas.html#ixzz12d7aTHYI
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A desgraça dos panfletos contra a Dilma, que "supostamente" bispos da CNBB mandaram imprimir na Gráfica Pana, no Cambuci, tem em documento de encomenda/fatura o e-mail de um senhor chamado "kelmon.luis@theotokianos.org.br" (Kelmon Luis da S. Souza).
Ora, trata-se do e-mail da Associação Theotokos, da qual o Sr. Kelmon é o presidente.
Pelo RegistroBR sabe-se que o site está em nome da Casa de Plínio Salgado, que por sua vez é isto (credo!).
Será o benedito que a santa madre igreja tá nesse terror de mandar essa gente mandar uma gráfica fazer e entregar panfleto mentiroso, descarado, sórdido e podre no Paraíso, Barra Funda e Rua do Bosque? E quem paga é a Mitra Diocesana de Guarulhos?
Que relações são essas?
Desculpe, sou alma ingênua.
Atualizações
O dono da Editora Gráfica Pana LTDA é Alexandre Takeshi Ogawa. O pai, Paulo Ogawa, que aparece no vídeo é o "contador". Sócia da gráfica é Arlety Satiko Kobayashi, funcionária pública da Assembleia Legislativa de SP (ver DO: matrícula 5057); filiada do PSDB do bairro da Bela Vista; décima maior doadora da campanha de Victor Kobayashi (vereador suplente PSDB, 2008; em 2010 candidato a deputado estadual, não eleito), que por sua vez é filho do também político Paulo Kobayashi, falecido, e que solta belezas difamatórias no Twitter.
2.100.000 panfletos, por R$33 mil - Quem paga?
Atualizações
Por que os panfletos teriam de ser entregues na Barra Funda, na Rua do Bosque (que também é Barra Funda) e no bairro do Paraíso? O que a Mitra Diocesana teria a ver nesses lugares? Qual é a rede nessa história?
A Associação Theotokos fica exatamente na Rua do Bosque, 1903 - Barra Funda - São Paulo - CEP 11360-001 - essa casa abaixo. Para onde iriam os panfletos depois daí?
Ler mais: http://namarianews.blogspot.com/2010/10/os-panfletos-mentirosos-da-cnbb-e-suas.html#ixzz12d7aTHYI
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José Serra, o exterminador do futuro
Reproduzo artigo do jornalista e economista José Carlos de Assis, publicado no sítio Carta Maior:
Em 1987, ano da Constituinte, encontrei com José Serra no plenário da Câmara dos Deputados aonde fui discutir com alguns parlamentares temas da Seguridade Social. Vi-o muito atarefado com um monte de papel na mão recolhendo assinaturas de deputados. Como o conhecia desde a campanha das diretas, sendo um admirador de suas posições econômicas, me aproximei e perguntei-lhe do que se tratava. É uma emenda para bloquear os recursos propostos por Sarney para a construção da Ferrovia Norte-Sul, esclareceu. Como?, perguntei surpreso; a Norte-Sul é uma obra importante para o Centro-Oeste e para o país, Serra! “Mas que não seja para desequilibrar as contas públicas”, justificou ele, indiferente ao fato de que a Norte-Sul era, de fato, a única grande obra de infra-estrutura tentada por Sarney.
No ano seguinte, o Brasil vivia uma das piores crises inflacionárias de sua história depois do fracasso do Plano Cruzado. Num movimento desesperado para tentar recuperar a estabilidade econômica e relançar o desenvolvimento, tive autorização do presidente da Confederação Nacional da Indústria, Senador Albano Franco, de quem era assessor, para tentar articular um pacto social liderado por empresários e trabalhadores a fim de propor uma alternativa viável, porém não convencional, para a dívida externa, articulada a um programa de relançamento dos investimentos de infra-estrutura. Em síntese, como estávamos em moratória externa, tratava-se de pagar dívida, sim, mas em moeda interna, orientando os recursos forçosamente para investimentos novos na infra-estrutura.
O documento central do Pacto Social chegou a ser assinado por representantes dos trabalhadores e do patronato, a despeito de uma resistência feroz do então ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, empenhado em fazer um acordo convencional com os banqueiros, que se revelou preliminar de uma nova moratória. No curso dessas discussões, levamos o tema do pacto a alguns líderes no Congresso, com outras sugestões. Entre elas, a de reduzir o imposto de renda na base da pirâmide e ter como compensação o acréscimo de uma alíquota marginal para os ricos. No momento em que se discutia isso Serra apareceu na sala e fulminou a proposta, sob a alegação de que não se podia aumentar impostos, mesmo que isso fosse para aliviar os menos favorecidos.
Não me encontrei com Serra no Governo Fernando Henrique. Encontrei-me com Malan, outro dos principais auxiliares de FHC, que me afirmou peremptoriamente que um crescimento de 3,5% do PIB seria perfeitamente satisfatório para o Brasil porque, na década de 90, a taxa de crescimento populacional havia caído! A propósito, um amigo comum me afirmou que, em 1995, assustado com a crise mexicana, Serra advogou decisivamente por uma freada do crescimento brasileiro, que vinha se recuperando com o Plano Real, sob o argumento do risco inflacionário. Como conseqüência, a mediocridade de crescimento iria imperar ao longo de todo o Governo FHC, em especial em função de uma política cambial irresponsável, sem que Serra movesse uma única palha contra.
Portanto, caveant, brasileiros: a República está em risco. Uma distração apenas e elegeremos um contador fiscalista como Presidente, obcecado pela idéia de cortar gastos públicos a qualquer custo, capaz de enterrar a curto prazo com as grandes potencialidades de crescimento que temos, sobretudo depois do segundo mandato do Governo Lula: o mandato efetivamente coordenado por Dilma na Casa Civil. O que está em jogo não é a cadeira presidencial. É o futuro do Brasil. Fala-se em educação, fala-se em saúde, fala-se em aumento de salário mínimo... mas de onde virá o dinheiro para tudo isso, senão do crescimento da economia? Foi o crescimento que permitiu a Lula fazer os programas sociais que fez e reduzir drasticamente o desemprego. Sem ele, perderemos mais uma vez o trem da história.
Sim, porque estamos quase em pleno emprego. Para atingi-lo, será necessário ampliar, e não reduzir gastos públicos. E isso é perfeitamente possível sem gerar inflação. Temos uma dívida pública de pouco mais de 40% do PIB, uma das mais baixas do mundo. Há folga fiscal para crescer. E as pressões inflacionárias, aqui como em todo o mundo, estão longe de representar qualquer risco. Caveat, eleitor! Depois de anos de paralisação quase total do investimento público, sobretudo no período Fernando Henrique/Serra, temos grandes obras em andamento, de aeroportos a hidrelétricas, gerando dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos. E o risco que se corre não é de um deputado isolado, mesmo que influente, correndo pelo plenário da Câmara para bloquear um investimento público essencial. Seria de ter no Planalto um presidente que simplesmente não proporá ao Congresso os investimentos necessários. Nessa perspectiva, não seria eleito um presidente da República. Seria eleito o exterminador do futuro. O nosso!
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Em 1987, ano da Constituinte, encontrei com José Serra no plenário da Câmara dos Deputados aonde fui discutir com alguns parlamentares temas da Seguridade Social. Vi-o muito atarefado com um monte de papel na mão recolhendo assinaturas de deputados. Como o conhecia desde a campanha das diretas, sendo um admirador de suas posições econômicas, me aproximei e perguntei-lhe do que se tratava. É uma emenda para bloquear os recursos propostos por Sarney para a construção da Ferrovia Norte-Sul, esclareceu. Como?, perguntei surpreso; a Norte-Sul é uma obra importante para o Centro-Oeste e para o país, Serra! “Mas que não seja para desequilibrar as contas públicas”, justificou ele, indiferente ao fato de que a Norte-Sul era, de fato, a única grande obra de infra-estrutura tentada por Sarney.
No ano seguinte, o Brasil vivia uma das piores crises inflacionárias de sua história depois do fracasso do Plano Cruzado. Num movimento desesperado para tentar recuperar a estabilidade econômica e relançar o desenvolvimento, tive autorização do presidente da Confederação Nacional da Indústria, Senador Albano Franco, de quem era assessor, para tentar articular um pacto social liderado por empresários e trabalhadores a fim de propor uma alternativa viável, porém não convencional, para a dívida externa, articulada a um programa de relançamento dos investimentos de infra-estrutura. Em síntese, como estávamos em moratória externa, tratava-se de pagar dívida, sim, mas em moeda interna, orientando os recursos forçosamente para investimentos novos na infra-estrutura.
O documento central do Pacto Social chegou a ser assinado por representantes dos trabalhadores e do patronato, a despeito de uma resistência feroz do então ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, empenhado em fazer um acordo convencional com os banqueiros, que se revelou preliminar de uma nova moratória. No curso dessas discussões, levamos o tema do pacto a alguns líderes no Congresso, com outras sugestões. Entre elas, a de reduzir o imposto de renda na base da pirâmide e ter como compensação o acréscimo de uma alíquota marginal para os ricos. No momento em que se discutia isso Serra apareceu na sala e fulminou a proposta, sob a alegação de que não se podia aumentar impostos, mesmo que isso fosse para aliviar os menos favorecidos.
Não me encontrei com Serra no Governo Fernando Henrique. Encontrei-me com Malan, outro dos principais auxiliares de FHC, que me afirmou peremptoriamente que um crescimento de 3,5% do PIB seria perfeitamente satisfatório para o Brasil porque, na década de 90, a taxa de crescimento populacional havia caído! A propósito, um amigo comum me afirmou que, em 1995, assustado com a crise mexicana, Serra advogou decisivamente por uma freada do crescimento brasileiro, que vinha se recuperando com o Plano Real, sob o argumento do risco inflacionário. Como conseqüência, a mediocridade de crescimento iria imperar ao longo de todo o Governo FHC, em especial em função de uma política cambial irresponsável, sem que Serra movesse uma única palha contra.
Portanto, caveant, brasileiros: a República está em risco. Uma distração apenas e elegeremos um contador fiscalista como Presidente, obcecado pela idéia de cortar gastos públicos a qualquer custo, capaz de enterrar a curto prazo com as grandes potencialidades de crescimento que temos, sobretudo depois do segundo mandato do Governo Lula: o mandato efetivamente coordenado por Dilma na Casa Civil. O que está em jogo não é a cadeira presidencial. É o futuro do Brasil. Fala-se em educação, fala-se em saúde, fala-se em aumento de salário mínimo... mas de onde virá o dinheiro para tudo isso, senão do crescimento da economia? Foi o crescimento que permitiu a Lula fazer os programas sociais que fez e reduzir drasticamente o desemprego. Sem ele, perderemos mais uma vez o trem da história.
Sim, porque estamos quase em pleno emprego. Para atingi-lo, será necessário ampliar, e não reduzir gastos públicos. E isso é perfeitamente possível sem gerar inflação. Temos uma dívida pública de pouco mais de 40% do PIB, uma das mais baixas do mundo. Há folga fiscal para crescer. E as pressões inflacionárias, aqui como em todo o mundo, estão longe de representar qualquer risco. Caveat, eleitor! Depois de anos de paralisação quase total do investimento público, sobretudo no período Fernando Henrique/Serra, temos grandes obras em andamento, de aeroportos a hidrelétricas, gerando dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos. E o risco que se corre não é de um deputado isolado, mesmo que influente, correndo pelo plenário da Câmara para bloquear um investimento público essencial. Seria de ter no Planalto um presidente que simplesmente não proporá ao Congresso os investimentos necessários. Nessa perspectiva, não seria eleito um presidente da República. Seria eleito o exterminador do futuro. O nosso!
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Por que Paulo Preto apavora Serra?
Reproduzo reportagem de Sérgio Pardellas e Claudio Dantas Sequeira, intitulada "O poderoso Paulo Preto", publicada na revista IstoÉ desta semana:
Como candidato à Presidência da República, José Serra deve explicações mais detalhadas à sociedade brasileira. Elas se referem a um nome umbilicalmente ligado à cúpula do PSDB, mas de pouca exposição pública até dois meses atrás: Paulo Vieira de Souza, conhecido dentro das hostes tucanas como Paulo Preto. Desde que a candidata do PT, Dilma Rousseff, pronunciou o nome de Paulo Preto no debate realizado pela Rede Bandeirantes no domingo 10, Serra se viu envolvido em um enredo de contradições e mistério do qual vinha se esquivando desde agosto passado, quando ISTOÉ publicou denúncia segundo a qual o engenheiro Paulo Souza, ex-diretor da estatal Dersa na gestão tucana em São Paulo, era acusado por líderes do seu próprio partido de desaparecer com pelo menos R$ 4 milhões arrecadados de forma ilegal para a campanha eleitoral do PSDB.
Na época, a reportagem baseou-se em entrevistas, várias delas gravadas, com 13 dos principais dirigentes tucanos, que apontavam o dedo na direção de Souza para explicar a minguada arrecadação que a candidatura de Serra obtivera até então. Depois de publicada a denúncia, o engenheiro disparou telefonemas para vários líderes, dois deles com cargos no comando da campanha presidencial, e, apesar da gravidade das acusações, os tucanos não se manifestaram, numa clara opção por abafar o assunto. O próprio presidenciável Serra optou pelo silêncio. Então, mesmo com problemas de caixa e reclamações de falta de recursos se espalhando pelos diretórios regionais, o PSDB preferiu jogar o assunto para debaixo do tapete.
No debate da Rede Bandeirantes, Serra mais uma vez silenciou. Instado por Dilma a falar sobre o envolvimento de Paulo Preto no escândalo do sumiço da dinheirama, não respondeu. Mas o pavio de um tema explosivo estava aceso e Serra passou a ser questionado pela imprensa em cada evento que participou. E, quando ele falou, se contradisse, apresentando versões diametralmente diferentes em um período de 24 horas. Na segunda-feira 11, em Goiânia (GO), em sua primeira manifestação sobre o caso, o candidato do PSDB negou conhecer o engenheiro. “Não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês (jornalistas) fiquem perguntando.” A declaração provocou uma reação imediata. Na terça-feira 12, a “Folha de S.Paulo” publicou uma entrevista em que o engenheiro, oficialmente um desconhecido para Serra, fazia ameaças ao candidato tucano. “Ele (Serra) me conhece muito bem. Até por uma questão de satisfação ao País, ele tem que responder. Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam este erro”, disparou Paulo Preto. Serra demonstrou ter acusado o golpe. Horas depois da publicação da entrevista, em evento em Aparecida (SP), o candidato recuou. Com memória renovada, saiu em defesa do ex-diretor do Dersa.
Como se jamais tivesse tratado deste assunto antes, Serra afirmou: “Evidente que eu sabia do trabalho do Paulo Souza, que é considerado uma pessoa muito competente e ganhou até o prêmio de engenheiro do ano. A acusação contra ele é injusta. Ele é totalmente inocente. Nunca recebi nenhuma acusação a respeito dele durante sua atuação no governo”. Aos eleitores, restou uma dúvida: em qual Serra o eleitor deve acreditar? Naquele que diz não conhecer o engenheiro ou naquele que elogia o profissional acusado pelo próprio PSDB de desviar R$ 4 mihões da campanha? As idas e vindas de Serra suscitam outras questões relevantes às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais: por que o tema lhe causou tanto constrangimento? O que Serra teria a temer para, em menos de 24 horas, se expor publicamente emitindo opiniões tão distintas sobre o mesmo tema?
Ainda está envolto em mistério o que Paulo Preto teria na manga para emparedar Serra. A movimentação do engenheiro nas horas que sucederam o debate da Rede Bandeirantes mostra claramente como ele é influente, poderoso e temido nas hostes tucanas. Conforme apurou ISTOÉ, logo depois do programa, Paulo Preto, bastante irritado por não ter sido defendido pelo candidato do PSDB, começou a telefonar para integrantes do partido. Um deles, seu padrinho político, o ex-chefe da Casa Civil de São Paulo, senador eleito Aloysio Nunes Ferreira, que deixou o debate logo que o nome do engenheiro foi mencionado. Outras duas chamadas, ainda de madrugada, foram para as residências de um secretário do governo paulista e de um dos coordenadores da campanha de Serra em São Paulo.
Nas conversas, Paulo Preto disse que não ia admitir ser abandonado pelo partido. E que iria “abrir o verbo”, caso continuasse apanhando sozinho. Com a defesa de Serra, alcançou o que queria. Para os dirigentes do partido restou o enorme desconforto de passarem o resto da semana promovendo contorcionismos verbais para defender as ações de um personagem que acusavam dois meses antes. Em agosto, o PSDB vivia outro momento político, vários líderes tucanos reclamavam do estilo “centralizador e arrogante” de Serra, tinham dificuldades para arrecadar recursos e vislumbravam uma iminente derrota nas urnas. Agora, disputando o segundo turno e sob a ameaça de Paulo Preto, promovem uma ação orquestrada para procurar desqualificar as denúncias que eles próprios fizeram. “Às vésperas da eleição podemos ganhar o jogo. Portanto, não vou dizer nada a respeito do Paulo Preto”, disse uma das principais lideranças do partido na noite da quarta-feira 13. Esse mesmo tucano, em agosto, revelara detalhes sobre a atuação do engenheiro na obra do trecho sul do rodoanel.
“Não é hora de remexer com o Paulo Preto. Isso poderá colocar em risco nossa vitória”, afirmou na manhã da quinta-feira 14 um membro da Executiva Nacional do partido, que em agosto acusara o engenheiro de desviar R$ 4 milhões da campanha. “Em agosto, depois da reportagem de ISTOÉ, procuramos empresários e eles negaram que Paulo Preto tenha pedido contribuições”, disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Se fez de fato esse movimento, Guerra não teve pressa em revelá-lo. Só foi fazê-lo agora, pressionado pelas declarações do engenheiro.
Diferentemente do que alegou Serra em sua primeira declaração, Paulo Preto está longe de ser um desconhecido, principalmente nas altas esferas do PSDB. Ele já havia sido alvo de reportagens de veículos como “Veja” (que o chamou de “o homem-bomba do PSDB”) e “Folha de S.Paulo” . Para um político que se apresenta como um gestor atento a todos os movimentos de seus comandados, é difícil crer que o então governador Serra estivesse alheio a notícias envolvendo um dirigente da estatal que executa as principais obras do governo paulista. Além disso, Serra não pode afirmar não ter sido alertado sobre os métodos do engenheiro.
Em novembro do ano passado, em e-mail enviado ao então governador Serra, o vice Alberto Goldman já dizia que o ex-diretor do Dersa era “incontrolável”. “Ele (Paulo Preto) é vaidoso e arrogante. Fala mais do que deve, sempre. Parece que ninguém consegue controlá-lo. Julga-se o super-homem.” A mensagem eletrônica também foi remetida ao secretário de Transportes, Mauro Arce, a quem o Dersa é subordinado. “Não tenho qualquer poder de barrar ações. Mas tenho o direito, e a obrigação, de opinar e tentar evitar desgastes desnecessários”, ponderou Goldman. Os e-mails deixam claro que não estava se falando sobre um funcionário qualquer do governo. Afinal, não é corriqueiro um vice-governador perder tempo discutindo com o governador do maior Estado do País a atuação do funcionário de uma estatal.
Além dos e-mails de Goldman a Serra, as atividades do engenheiro já haviam espantado o tesoureiro-adjunto e ex-secretário-geral do partido, Evandro Losacco. Na reportagem de ISTOÉ, publicada em agosto, Losacco reconheceu que o engenheiro tinha “poder” para arrecadar e confirmou o sumiço dos R$ 4 milhões. “Todo mundo já sabia disso há muito tempo. Essa arrecadação foi puramente pessoal, mas só faz isso quem tem poder de interferir em alguma coisa. Poder infelizmente ele tinha.” O “empresariado”, segundo Losacco, entendia que Paulo Preto “tem a caneta”. “No governo às vezes você não consegue fazer tudo o que você quer. Você tem contingências que o obrigam a engolir sapo. E eu acho que esse deve ter sido o caso”, disse Losacco na ocasião.
Apesar dos alertas de Goldman, Paulo Preto ficou no cargo até abril deste ano, tocando a principal obra de São Paulo, o rodoanel. Só foi exonerado quando o próprio Goldman assumiu o governo. Se Serra não explica o porquê da permanência de Paulo Preto à frente da estatal, o próprio ex-diretor do Dersa, na entrevista à “Folha”, fornece alguns dados importantes. Paulo Preto disse que sempre criou as melhores condições para que houvesse aporte de recursos em campanhas, por ter feito os pagamentos em dia às empreiteiras terceirizadas que atuaram nas grandes obras de São Paulo, como o rodoanel, a avenida Jacu-Pêssego e a ampliação da Marginal. “Ninguém nesse governo deu condições de as empresas apoiarem mais recursos politicamente do que eu”, afirmou Paulo Preto. De fato, Paulo Preto teve um peso enorme na gestão tucana em São Paulo. Os contratos administrados pelo engenheiro estavam entre as principais obras do País, somando R$ 6,5 bilhões. De acordo com relatório do TCU, obtido por ISTOÉ, o ex-diretor chegou a pagar às empreiteiras não apenas no prazo, mas também de maneira antecipada. Os auditores do tribunal recomendaram ajustes ao que consideram uma conduta indevida de Paulo Preto, pois sempre há o risco de as empresas receberem todo o pagamento sem garantias de cumprimento das obras.
Nesse enredo nebuloso também chama a atenção o patrimônio milionário do engenheiro. Na declaração de bens de 2009, Paulo Vieira de Souza diz possuir um patrimônio avaliado em R$ 3,4 milhões, sendo R$ 560 mil referentes a imóveis. Dois anos antes, declarou em seu nome um apartamento, três casas e mais três terrenos localizados em áreas nobres das cidades de Campos do Jordão e Ubatuba, num total de R$ 2 milhões, além de um hotel-fazenda. Os valores não estão atualizados, como permite a legislação do Imposto de Renda. Só o apartamento de Paulo Vieira, com 550 metros quadrados, no edifício Conde de Oxford, situado à rua Domingos Fernandes, na Vila Nova Conceição, vale pelo menos R$ 5 milhões, de acordo com corretores. O jeito esbanjador de Paulo Vieira de Souza é apontado por amigos e ex-colegas de trabalho como seu calcanhar de aquiles. Na comemoração de seu aniversário, em 7 de março do ano passado, ele deu uma megafesta na Casa das Caldeiras, uma exclusiva área de eventos em São Paulo. Com motivos árabes, os convidados, inclusive vários tucanos de alta plumagem, se deliciaram com danças de odaliscas e passeios de camelo. A quem quisesse ouvir, Paulo dizia que desembolsou nada menos que R$ 1 milhão com a recepção.
A gestão do orçamento milionário que estava a cargo de Paulo Preto levanta ainda outras suspeitas. Preocupada com o destino desse dinheiro, a bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo entrou com uma representação no Ministério Público paulista, na tarde da quinta-feira 14, pedindo uma investigação completa. Embora não conste da representação entregue pelo deputado José Mentor ao Ministério Público, uma equipe técnica do PT está debruçada em duas frentes principais de investigação. A primeira busca checar se houve desvio de verbas no rodoanel, com o suposto uso de material de baixa qualidade a preços superfaturados. “Não é possível que uma obra inaugurada há seis meses já precise de reparos, como os que vemos ao longo do trecho sul. Além disso, quando se anda a 80 quilômetros por hora o carro trepida como se estivéssemos numa estrada de terra”, questiona um petista. A desconfiança também recai sobre o processo de desapropriação de imóveis ao longo do anel viário. “Temos informação de que muitas propriedades e terrenos foram renegociados várias vezes”, acrescenta o mesmo parlamentar. Confirmados os indícios que pesam contra Paulo Preto, o PT paulista trabalhará para instalar uma CPI a fim de apurar o caso ainda mais a fundo.
Seguindo o espírito dos correligionários, que se calaram, Serra argumentou que Dilma, ao trazer o episódio à tona, está se preocupando com uma questão interna das finanças do PSDB, enquanto o caso da Casa Civil envolvia dinheiro público. Isto não é verdade. As arrecadações feitas por Paulo Preto e denunciadas pelo próprio PSDB só se realizaram em razão de obras públicas, financiadas com dinheiro do contribuinte. Além disso, o desvio, se comprovado, caracterizaria a prática criminosa de caixa 2 eleitoral. Por isso, o silêncio, nesses casos, é conveniente tanto para quem arrecadou quanto para as empresas que contribuíram. Há, ainda, indícios de que ele praticava tráfico de influência, já que contratou o escritório Edgard Leite Advogados Associados, banca em que trabalha a sua filha, Priscila Arana. “Paulo Preto contratou a própria filha para defender o Dersa, ao mesmo tempo que advogava para as construtoras. É um aberração, já que era o engenheiro que liberava o dinheiro paras as empresas clientes da filha e do governo”, denuncia o deputado Mentor (PT).
Parte das empresas que supostamente fizeram as doações para a campanha do PSDB é representada pelo escritório onde a filha do engenheiro trabalha. “O escritório presta serviço, há mais de dez anos, a praticamente todas as empresas privadas que compõem os consórcios contratados para a execução do trecho sul do rodoanel”, afirma Edgard Leite Advogados em e-mail enviado à ISTOÉ. Mesmo assim, ele alega que são “inconsistentes e maldosas as tentativas de vincular o nome do escritório com qualquer ilicitude”. Os advogados confirmam ainda que a filha de Paulo Preto é funcionária da empresa desde 2006, ano em que o engenheiro assumiu o cargo de direção do Dersa. Sobre a defesa da empresa pública, o escritório diz que “jamais foi contratado pelo Dersa”. Não é, entretanto, o que mostra o processo judicial TC-011868/2007-6 sobre uma disputa jurídica entre o DNIT e o Dersa. Na peça, o nome de Priscila Arana aparece como advogada constituída para defender a estatal.
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Hora decisiva. Vamos à luta!
Reproduzo artigo enviado pelo amigo Beto Almeida, membro do conselho diretivo da Telesur:
A frágil democracia brasileira, que ainda precisa ser consolidada, está sendo alvo, uma vez mais, de um golpismo midiático comandado pelas forças conservadoras a serviço das oligarquias internacionais. Não se trata apenas de baixaria, de central de boatos, de retrocesso temático por uma característica da sociedade brasileira. Trata-se de uma agenda imposta, cuidadosamente escolhida, destinada a enfraquecer a candidatura de Dilma por ser representante de uma política de recuperação da soberania nacional, de valorização do trabalho e da produção e da integração dos povos da América Latina e do sul num novo equilíbrio mundial, sem vassalagem aos centros imperiais.
A agressividade da caudalosa ação midiática para demolir a imagem de Dilma Roussef, acusada de bandida, terrorista, assassina, incompetente, inexperiente, contrária aos valores da família, da ética, e da vida, é encontrada também em vários outros momentos de nossa história em que o Brasil estava, como agora, decidindo-se por um projeto político em que se afirma como Nação Soberana, contra o outro projeto, destinado a preservar os interesses sórdidos das oligarquias internacionais que vivem da rapina aos povos da periferia do mundo.
Foi exatamente assim, com esta mesma ferocidade, com o rancor mais faccioso, com argumentos fascistas, que as forças conservadoras lançaram-se na campanha histérica para tentar impedir, nos anos 50, que Vargas levasse adiante seu projeto de nacionalização do Petróleo e criação da Petrobrás, bem como da Vale do Rio Doce, do BNDES. “Não me acusam, me insultam; não combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes” [Trecho da Carta Testamento de Vargas].
Dilúvio de calúnias: supressão do debate democrático
Com todo este dilúvio de mentiras, calúnias e ofensas, pretendem impedir que a campanha eleitoral seja o palco democrático iluminado e claro para a comparação civilizada e sensata de propostas, dos projetos defendidos por um e outro candidato. Até grupamentos neonazistas foram convocados para esta fraude informativa. O que se quer é uma invisibilidade da verdadeira pauta democrática sobre os rumos do Brasil, com o que as propostas nem sequer são conhecidas em profundidade, obscurecidas e escondidas sob uma nuvem de desinformação, manipulação e falsificações sem qualquer limite, repetida em uníssono pelos grandes veículos de comunicação, rigorosamente controlados pelos magnatas do setor. Pretendem confundir o povo. É uma articulação que tem o alcance de um golpe midiático!
Como ocorria contra Vargas, quando a artilharia pesada dos meios de comunicação comandados pelo capital externo não admitia que o Brasil tivesse soberania sobre suas riquezas naturais nacionalizada. Para impedir que o governo varguista continuasse valorizando o trabalho, os direitos trabalhistas e avançasse na criação da Eletrobrás, já anunciada, desataram a venenosa campanha do “mar-de-lama no Catete”, organizando a deposição do Presidente da República, que optou por derrotar o golpe com um tiro no próprio coração.
A campanha midiática de então era, como agora, pautada em um moralismo histérico, rudimentar, anti-histórico, perigosamente fanático, descontextualizando fatos, usando abertamente de mentiras, invenções e meias verdades. Como nas medievais caça às bruxas... Mas, o objetivo é um só: impedir a discussão verdadeira e o objetiva dos problemas nacionais, dos problemas do nosso povo, confundí-lo, em favor dos interesses internacionais.
Agora, usando de outros ingredientes e das novas e velhas tecnologias de comunicação, estas mesmas forças imperiais, controladoras da grande mídia por meio do garrote dos anunciantes, quer impedir a continuidade de uma política que está livrando o país das imposições do FMI, reconstruindo a Telebrás, renacionalizando a Petrobrás, e, além disso, dotando o Brasil de uma estratégia nacional de defesa, indispensável num mundo marcado pelo intervencionismo dos fortes contra os fracos...
“Esse mar é meu, leva esse barco pra lá desse mar...”
Para que se tenha um exemplo claro do efeito causado por este dilúvio midiático para desviar e impedir a visão sobre fatos importantes, quase não foi divulgada a decisão recente do governo de ampliar sua fronteira marítima, incorporando mais 960 mil km2 a zona de soberania nacional do mar. A medida é de importância transcendental, sobretudo pela descoberta do pré-sal, mas também em razão do perigoso jogo de poder mundial em que nações imperialistas lançam-se com voracidade ilimitada, com o uso da força militar quando necessário, à rapina das riquezas naturais em qualquer parte do planeta onde imaginam ser possível tomar. Um fato de tal dimensão não é ainda, provavelmente, do conhecimento da grande maioria do povo brasileiro, mas, certamente, serviu para aguçar ainda mais o ódio nos malignos laboratórios imperiais contra a política implementada por Lula e que Dilma pretende continuar, com o apoio dos brasileiros.
Trata-se de uma decisão não isolada, mas vinculada ao conjunto de políticas desenvolvidas pelo governo. Vale dizer que Dilma Roussef, embora estivesse presa, nos anos 70, teve a sabedoria e a objetividade de apoiar a decisão do governo militar de então, de ampliar o mar territorial brasileiro para 200 milhas, medida que provocou o rechaço de várias potências imperiais. Será que os militares nacionalistas sabem disto?
Na atualidade, a nova expansão de nossa soberania sobre o mar está vinculada à recuperação da indústria naval – demolida pela era da privataria - ao apoio ao projeto do submarino nuclear, ao reequipamento da Marinha Brasileira - que também foi desarmada pelos privateiros amigos de FHC/Serra - e a decisão de ampliar o controle estatal sobre o petróleo, incluindo o pré-sal. Será que os militares preferem apoiar um candidato comprometido com o desarmamento unilateral do Brasil? Um candidato que participou da entrega da Embratel às mãos de uma empresa norte-americana, com o que informações estratégicas, inclusive de segurança nacional, passaram às mãos dos órgãos estrangeiros? Sem contar a possibilidade técnica real de promoverem um apagão satelital contra o Brasil?
Houvesse jornalismo independente hoje no Brasil seria boa pergunta se fazer ao Serra... O dilúvio midiático golpista quer evitar que estes temas sejam discutidos democraticamente, no que logra-se êxito já que todos os grandes veículos estão controlados pelos interesses internacionais, enquanto que as forças populares e progressistas ainda não organizaram, até hoje, um veículo de comunicação de expressão de massas, nacional, regular, com capacidade para fazer o contraditório e quebrar a monolítica linha editorial conservadora. Ainda não temos o nosso “Última Hora”.
Golpismo midiático
O golpismo midiático que se aplica agora contra a candidatura de Dilma Roussef foi também aplicado contra Jango. Os veículos de comunicação que pediam em editoriais histéricos a intervenção militar contra a suposta “república sindicalista”, chegaram a proclamar a “vacância da presidência da república”, quando Jango estava em território nacional e possuía a legitimidade que lhe fora dada pelos eleitores.
Não há razoabilidade contra o pensamento golpista. Serra utiliza-se desta linha facciosa de argumentação nos debates e em sua propaganda eleitoral. Perguntou a Dilma sobre a dívida da Santa Casa, parentando preocupação com exigüidade de recursos aplicados em saúde, como se não fora seu partido e as demais forças conservadoras os responsáveis pela extinção do CMPF, sangrando o orçamento da saúde de uma só vez, em cerca de 40 bilhões ano.
A mais recente privatização de Serra
Tenta excluir-se do time dos privateiros, mas o exemplo mais recente de sua vasta lista de internacionalização do patrimônio público, é a nefasta privatização da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, promovida pelo Governo Serra, ocorrida em 2008. A estatal era avaliada em 16 bilhões de reais, e foi doada pela bagatela de 1,6 bilhão a uma empresa colombiana, controlada por acionistas norte-americanos.
Detalhe: em menos de um ano de operação, com alta radical e artificial de tarifas, redução de investimentos e dos serviços de operação, precarização dos serviços, apagões e demissão em massa, a empresa arrecadou quase um bilhão de reais em lucro, quase o valor obtido na venda. Gravíssimo: no edital de privatização desta empresa constou cláusula que impedia a participação de empresas estatais brasileiras, pois havia o interesse da paranaense Copel e da mineira Cemig na sua compra. Pelo edital, um estímulo à internacionalização.
Profissão: golpista
O único argumento que as ações golpistas temem e consideram é aquele que vem acompanhado pela presença de massas nas ruas! Vale lembrar que no episódio da chamada crise do mensalão, quando toda a orquestração midiática estava destinada a alcançar de Lula a renúncia à uma nova candidatura, ou até mesmo recorrer à alternativa do “impeachement”, o que fez esta gente recuar foi o anúncio do presidente de que iria defender seu mandato nas ruas. “Não vou suicidar como Vargas, não vou renunciar como Jânio, não vou sair do País como Jango, vou defender o mandato popular nas ruas!”, disse ele.
Foi isto o que levou a oposição conservadora a vacilar e a recuar de sua sanha golpista de então, sempre lembrando que todos os governos populares estão sempre na alça da mira do golpismo. É um golpismo permanente, uma conduta sistemática das oposições conservadoras. Queriam aplicar em Lula aquela fraseologia facciosa de Carlos Lacerda lançou contra Vargas. Dizia: “ele não pode ser candidato. Se for, não pode vencer as eleições. Se vencer não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar, teremos que derrubá-lo”. Ou seja, profissão, golpista. E tudo isto era apoiado pelos clarins da banda midiática da UDN, que chegaram a “noticiar” que no Brasil não existia petróleo a não ser na mente delirante de Vargas.
A força das ruas
Sendo assim, é chegada a hora de convocar novamente o povo a fazer história nas ruas. E com uma enorme onda unitária verde-amarela, não onda vermelha apenas. As eleições estão ameaçadas por um dilúvio midiático de falsificações e calúnias, mas com o sentido e o alcance de um golpe contra o exercício do direito democrático por meio do voto popular!
Reiteramos: não é apenas estilo torpe, fanatismo ou baixaria. Trata-se de uma intervenção planejada para demolir uma candidatura não por meio do debate de propostas e de idéias. Tentaram contra Evo Morales, taxando-o de “narcopresidente”! Contra Pepe Mujica no Uruguay, chamando-o de terrorista! Também contra Cristina Kirchner, igualmente chamada de bandoleira, terrorista e guerrilheira. Transmissões de rádio captadas mostravam mensagens militares orientando sua eliminação física. Agora, contra Rafael Correa, no Equador, nas mensagens de rádio captadas havia incentivos militares ao assassinato do presidente eleito, jamais perdoado pela recuperação da soberania sobre a Base de Manta, antes controlada por forças militares norte-americanas.
Toda esta agressividade midiática para demolir a imagem de Dilma indica que estas forças reacionárias controladas pelo capital externo interessado em abocanhar o petróleo Pré-Sal, não perdoaram Lula e a candidata pelas medidas de recuperação da soberania nacional, muito embora ainda haja tanto a caminhar. A operação midiática incluiu a valorização da candidatura Marina Silva para assegurar o segundo turno. Sobretudo, influenciando para que na proposta dos verdes incluam-se, por exemplo, pontos programáticos que afirmam ser indiferente se o capital é nacional ou internacional, desde que seja ecológico na aplicação. Será realmente indiferente, por exemplo, no petróleo Pré-Sal, que o capital seja nacional ou internacional?
Unidade, unidade, unidade
Embora havendo semelhanças com o golpe organizado contra Vargas, por sorte, há indicativos de que todas as forças progressistas caminham para uma unidade e para uma linha ação em defesa da continuidade, manutenção e aprofundamento das conquistas alcançadas pelo governo atual. Não se espera que haja, por exemplo, repetição do equívoco histórico cometido pelos comunistas que, no dia 24 de agosto de 1954, em manchete de seu jornal, o Tribuna Popular, reivindicavam a renúncia de Vargas, tal como exigia a direita nacional, teleguiada pelo grande capital internacional.
Morto Vargas, a explosão de fúria das massas não poupou sequer as instalações do jornal dos comunistas, bem como a Tribuna de Imprensa, O Globo e o consulado dos EUA. De tal sorte que, segundo relato dos próprios comunistas, a direção do PCB mandou recolher das bancas os exemplares do jornal que pedia a renúncia de Vargas em coro com as forças conservadoras. Na recente crise criada pela tentativa de golpe no Equador, um dos movimentos sociais mais importantes chegou a solicitar a renúncia de Rafael Correia, revelando perda de visão de conjunto sobre as ações permanentes do imperialismo para desestabilizar e inviabilizar qualquer governo que contrarie seus interesses vitais.
Há indicativos de que uma ampla frente popular está sendo forjada até mesmo pela compreensão de que esta campanha conservadora tem dimensões golpistas, levando à necessidade de alerta máximo das forças progressistas para a eventualidade de ter que prevenir e enfrentar novas ações desestabilizadoras, com muito maior truculência, que não podem ser descartadas. É da história. Isso por que, como visto, os interesses em jogo no processo eleitoral brasileiro são de uma dimensão infinitamente gigantesca, não apenas mais um simples pleito, e podem decidir ritmos e prazos do processo histórico de integração latinoamericana e sul-sul, com plena independência dos interesses e ações imperiais.
“Verás que um filho teu não foge à luta”
Devemos ter uma mobilização à altura dos direitos do povo brasileiro em seguir sua caminhada para um processo de emancipação. Só nas ruas, com responsabilidade, criatividade e argumentação inteligente poderemos alcançar os indecisos, os confusos, os milhões e milhões que se abstiveram de votar, os que ainda acham que todos os candidatos são iguais e fazer a comparação democrática e respeitosa dos projetos em jogo. Se não temos jornais, se todos os jornais são contra nós, temos que inventar formas de produzir publicações e levar informações claras e elucidativas sobre o que está em risco em função deste golpismo midiático.
É hora de honrar os millhões que se manifestaram em 1954 quando Vargas foi levado à morte e paralisaram o golpe que vinha. E hora de relembrar as lutas estudantis, de imbuir-se do espírito das Ligas Camponesas, de entoar novamente as trilhas e roteiros das Diretas Já. É hora de lembrar a Carta Testamento de Vargas, de cantar com toda a energia o verso do Hino Nacional que diz “Verás que um filho teu não foge à luta”. Ou, aquela linda canção de Gonzaguinha “E vamos à luta!”, com a qual termino:
“Eu acredito é na rapaziada,
Que vai em frente e segura o rojão.
Eu tenho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta é com a juventude
Que não corre da raia em troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não está na saudade e constrói a manhã desejada!
Gonzaguinha
.
A frágil democracia brasileira, que ainda precisa ser consolidada, está sendo alvo, uma vez mais, de um golpismo midiático comandado pelas forças conservadoras a serviço das oligarquias internacionais. Não se trata apenas de baixaria, de central de boatos, de retrocesso temático por uma característica da sociedade brasileira. Trata-se de uma agenda imposta, cuidadosamente escolhida, destinada a enfraquecer a candidatura de Dilma por ser representante de uma política de recuperação da soberania nacional, de valorização do trabalho e da produção e da integração dos povos da América Latina e do sul num novo equilíbrio mundial, sem vassalagem aos centros imperiais.
A agressividade da caudalosa ação midiática para demolir a imagem de Dilma Roussef, acusada de bandida, terrorista, assassina, incompetente, inexperiente, contrária aos valores da família, da ética, e da vida, é encontrada também em vários outros momentos de nossa história em que o Brasil estava, como agora, decidindo-se por um projeto político em que se afirma como Nação Soberana, contra o outro projeto, destinado a preservar os interesses sórdidos das oligarquias internacionais que vivem da rapina aos povos da periferia do mundo.
Foi exatamente assim, com esta mesma ferocidade, com o rancor mais faccioso, com argumentos fascistas, que as forças conservadoras lançaram-se na campanha histérica para tentar impedir, nos anos 50, que Vargas levasse adiante seu projeto de nacionalização do Petróleo e criação da Petrobrás, bem como da Vale do Rio Doce, do BNDES. “Não me acusam, me insultam; não combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes” [Trecho da Carta Testamento de Vargas].
Dilúvio de calúnias: supressão do debate democrático
Com todo este dilúvio de mentiras, calúnias e ofensas, pretendem impedir que a campanha eleitoral seja o palco democrático iluminado e claro para a comparação civilizada e sensata de propostas, dos projetos defendidos por um e outro candidato. Até grupamentos neonazistas foram convocados para esta fraude informativa. O que se quer é uma invisibilidade da verdadeira pauta democrática sobre os rumos do Brasil, com o que as propostas nem sequer são conhecidas em profundidade, obscurecidas e escondidas sob uma nuvem de desinformação, manipulação e falsificações sem qualquer limite, repetida em uníssono pelos grandes veículos de comunicação, rigorosamente controlados pelos magnatas do setor. Pretendem confundir o povo. É uma articulação que tem o alcance de um golpe midiático!
Como ocorria contra Vargas, quando a artilharia pesada dos meios de comunicação comandados pelo capital externo não admitia que o Brasil tivesse soberania sobre suas riquezas naturais nacionalizada. Para impedir que o governo varguista continuasse valorizando o trabalho, os direitos trabalhistas e avançasse na criação da Eletrobrás, já anunciada, desataram a venenosa campanha do “mar-de-lama no Catete”, organizando a deposição do Presidente da República, que optou por derrotar o golpe com um tiro no próprio coração.
A campanha midiática de então era, como agora, pautada em um moralismo histérico, rudimentar, anti-histórico, perigosamente fanático, descontextualizando fatos, usando abertamente de mentiras, invenções e meias verdades. Como nas medievais caça às bruxas... Mas, o objetivo é um só: impedir a discussão verdadeira e o objetiva dos problemas nacionais, dos problemas do nosso povo, confundí-lo, em favor dos interesses internacionais.
Agora, usando de outros ingredientes e das novas e velhas tecnologias de comunicação, estas mesmas forças imperiais, controladoras da grande mídia por meio do garrote dos anunciantes, quer impedir a continuidade de uma política que está livrando o país das imposições do FMI, reconstruindo a Telebrás, renacionalizando a Petrobrás, e, além disso, dotando o Brasil de uma estratégia nacional de defesa, indispensável num mundo marcado pelo intervencionismo dos fortes contra os fracos...
“Esse mar é meu, leva esse barco pra lá desse mar...”
Para que se tenha um exemplo claro do efeito causado por este dilúvio midiático para desviar e impedir a visão sobre fatos importantes, quase não foi divulgada a decisão recente do governo de ampliar sua fronteira marítima, incorporando mais 960 mil km2 a zona de soberania nacional do mar. A medida é de importância transcendental, sobretudo pela descoberta do pré-sal, mas também em razão do perigoso jogo de poder mundial em que nações imperialistas lançam-se com voracidade ilimitada, com o uso da força militar quando necessário, à rapina das riquezas naturais em qualquer parte do planeta onde imaginam ser possível tomar. Um fato de tal dimensão não é ainda, provavelmente, do conhecimento da grande maioria do povo brasileiro, mas, certamente, serviu para aguçar ainda mais o ódio nos malignos laboratórios imperiais contra a política implementada por Lula e que Dilma pretende continuar, com o apoio dos brasileiros.
Trata-se de uma decisão não isolada, mas vinculada ao conjunto de políticas desenvolvidas pelo governo. Vale dizer que Dilma Roussef, embora estivesse presa, nos anos 70, teve a sabedoria e a objetividade de apoiar a decisão do governo militar de então, de ampliar o mar territorial brasileiro para 200 milhas, medida que provocou o rechaço de várias potências imperiais. Será que os militares nacionalistas sabem disto?
Na atualidade, a nova expansão de nossa soberania sobre o mar está vinculada à recuperação da indústria naval – demolida pela era da privataria - ao apoio ao projeto do submarino nuclear, ao reequipamento da Marinha Brasileira - que também foi desarmada pelos privateiros amigos de FHC/Serra - e a decisão de ampliar o controle estatal sobre o petróleo, incluindo o pré-sal. Será que os militares preferem apoiar um candidato comprometido com o desarmamento unilateral do Brasil? Um candidato que participou da entrega da Embratel às mãos de uma empresa norte-americana, com o que informações estratégicas, inclusive de segurança nacional, passaram às mãos dos órgãos estrangeiros? Sem contar a possibilidade técnica real de promoverem um apagão satelital contra o Brasil?
Houvesse jornalismo independente hoje no Brasil seria boa pergunta se fazer ao Serra... O dilúvio midiático golpista quer evitar que estes temas sejam discutidos democraticamente, no que logra-se êxito já que todos os grandes veículos estão controlados pelos interesses internacionais, enquanto que as forças populares e progressistas ainda não organizaram, até hoje, um veículo de comunicação de expressão de massas, nacional, regular, com capacidade para fazer o contraditório e quebrar a monolítica linha editorial conservadora. Ainda não temos o nosso “Última Hora”.
Golpismo midiático
O golpismo midiático que se aplica agora contra a candidatura de Dilma Roussef foi também aplicado contra Jango. Os veículos de comunicação que pediam em editoriais histéricos a intervenção militar contra a suposta “república sindicalista”, chegaram a proclamar a “vacância da presidência da república”, quando Jango estava em território nacional e possuía a legitimidade que lhe fora dada pelos eleitores.
Não há razoabilidade contra o pensamento golpista. Serra utiliza-se desta linha facciosa de argumentação nos debates e em sua propaganda eleitoral. Perguntou a Dilma sobre a dívida da Santa Casa, parentando preocupação com exigüidade de recursos aplicados em saúde, como se não fora seu partido e as demais forças conservadoras os responsáveis pela extinção do CMPF, sangrando o orçamento da saúde de uma só vez, em cerca de 40 bilhões ano.
A mais recente privatização de Serra
Tenta excluir-se do time dos privateiros, mas o exemplo mais recente de sua vasta lista de internacionalização do patrimônio público, é a nefasta privatização da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, promovida pelo Governo Serra, ocorrida em 2008. A estatal era avaliada em 16 bilhões de reais, e foi doada pela bagatela de 1,6 bilhão a uma empresa colombiana, controlada por acionistas norte-americanos.
Detalhe: em menos de um ano de operação, com alta radical e artificial de tarifas, redução de investimentos e dos serviços de operação, precarização dos serviços, apagões e demissão em massa, a empresa arrecadou quase um bilhão de reais em lucro, quase o valor obtido na venda. Gravíssimo: no edital de privatização desta empresa constou cláusula que impedia a participação de empresas estatais brasileiras, pois havia o interesse da paranaense Copel e da mineira Cemig na sua compra. Pelo edital, um estímulo à internacionalização.
Profissão: golpista
O único argumento que as ações golpistas temem e consideram é aquele que vem acompanhado pela presença de massas nas ruas! Vale lembrar que no episódio da chamada crise do mensalão, quando toda a orquestração midiática estava destinada a alcançar de Lula a renúncia à uma nova candidatura, ou até mesmo recorrer à alternativa do “impeachement”, o que fez esta gente recuar foi o anúncio do presidente de que iria defender seu mandato nas ruas. “Não vou suicidar como Vargas, não vou renunciar como Jânio, não vou sair do País como Jango, vou defender o mandato popular nas ruas!”, disse ele.
Foi isto o que levou a oposição conservadora a vacilar e a recuar de sua sanha golpista de então, sempre lembrando que todos os governos populares estão sempre na alça da mira do golpismo. É um golpismo permanente, uma conduta sistemática das oposições conservadoras. Queriam aplicar em Lula aquela fraseologia facciosa de Carlos Lacerda lançou contra Vargas. Dizia: “ele não pode ser candidato. Se for, não pode vencer as eleições. Se vencer não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar, teremos que derrubá-lo”. Ou seja, profissão, golpista. E tudo isto era apoiado pelos clarins da banda midiática da UDN, que chegaram a “noticiar” que no Brasil não existia petróleo a não ser na mente delirante de Vargas.
A força das ruas
Sendo assim, é chegada a hora de convocar novamente o povo a fazer história nas ruas. E com uma enorme onda unitária verde-amarela, não onda vermelha apenas. As eleições estão ameaçadas por um dilúvio midiático de falsificações e calúnias, mas com o sentido e o alcance de um golpe contra o exercício do direito democrático por meio do voto popular!
Reiteramos: não é apenas estilo torpe, fanatismo ou baixaria. Trata-se de uma intervenção planejada para demolir uma candidatura não por meio do debate de propostas e de idéias. Tentaram contra Evo Morales, taxando-o de “narcopresidente”! Contra Pepe Mujica no Uruguay, chamando-o de terrorista! Também contra Cristina Kirchner, igualmente chamada de bandoleira, terrorista e guerrilheira. Transmissões de rádio captadas mostravam mensagens militares orientando sua eliminação física. Agora, contra Rafael Correa, no Equador, nas mensagens de rádio captadas havia incentivos militares ao assassinato do presidente eleito, jamais perdoado pela recuperação da soberania sobre a Base de Manta, antes controlada por forças militares norte-americanas.
Toda esta agressividade midiática para demolir a imagem de Dilma indica que estas forças reacionárias controladas pelo capital externo interessado em abocanhar o petróleo Pré-Sal, não perdoaram Lula e a candidata pelas medidas de recuperação da soberania nacional, muito embora ainda haja tanto a caminhar. A operação midiática incluiu a valorização da candidatura Marina Silva para assegurar o segundo turno. Sobretudo, influenciando para que na proposta dos verdes incluam-se, por exemplo, pontos programáticos que afirmam ser indiferente se o capital é nacional ou internacional, desde que seja ecológico na aplicação. Será realmente indiferente, por exemplo, no petróleo Pré-Sal, que o capital seja nacional ou internacional?
Unidade, unidade, unidade
Embora havendo semelhanças com o golpe organizado contra Vargas, por sorte, há indicativos de que todas as forças progressistas caminham para uma unidade e para uma linha ação em defesa da continuidade, manutenção e aprofundamento das conquistas alcançadas pelo governo atual. Não se espera que haja, por exemplo, repetição do equívoco histórico cometido pelos comunistas que, no dia 24 de agosto de 1954, em manchete de seu jornal, o Tribuna Popular, reivindicavam a renúncia de Vargas, tal como exigia a direita nacional, teleguiada pelo grande capital internacional.
Morto Vargas, a explosão de fúria das massas não poupou sequer as instalações do jornal dos comunistas, bem como a Tribuna de Imprensa, O Globo e o consulado dos EUA. De tal sorte que, segundo relato dos próprios comunistas, a direção do PCB mandou recolher das bancas os exemplares do jornal que pedia a renúncia de Vargas em coro com as forças conservadoras. Na recente crise criada pela tentativa de golpe no Equador, um dos movimentos sociais mais importantes chegou a solicitar a renúncia de Rafael Correia, revelando perda de visão de conjunto sobre as ações permanentes do imperialismo para desestabilizar e inviabilizar qualquer governo que contrarie seus interesses vitais.
Há indicativos de que uma ampla frente popular está sendo forjada até mesmo pela compreensão de que esta campanha conservadora tem dimensões golpistas, levando à necessidade de alerta máximo das forças progressistas para a eventualidade de ter que prevenir e enfrentar novas ações desestabilizadoras, com muito maior truculência, que não podem ser descartadas. É da história. Isso por que, como visto, os interesses em jogo no processo eleitoral brasileiro são de uma dimensão infinitamente gigantesca, não apenas mais um simples pleito, e podem decidir ritmos e prazos do processo histórico de integração latinoamericana e sul-sul, com plena independência dos interesses e ações imperiais.
“Verás que um filho teu não foge à luta”
Devemos ter uma mobilização à altura dos direitos do povo brasileiro em seguir sua caminhada para um processo de emancipação. Só nas ruas, com responsabilidade, criatividade e argumentação inteligente poderemos alcançar os indecisos, os confusos, os milhões e milhões que se abstiveram de votar, os que ainda acham que todos os candidatos são iguais e fazer a comparação democrática e respeitosa dos projetos em jogo. Se não temos jornais, se todos os jornais são contra nós, temos que inventar formas de produzir publicações e levar informações claras e elucidativas sobre o que está em risco em função deste golpismo midiático.
É hora de honrar os millhões que se manifestaram em 1954 quando Vargas foi levado à morte e paralisaram o golpe que vinha. E hora de relembrar as lutas estudantis, de imbuir-se do espírito das Ligas Camponesas, de entoar novamente as trilhas e roteiros das Diretas Já. É hora de lembrar a Carta Testamento de Vargas, de cantar com toda a energia o verso do Hino Nacional que diz “Verás que um filho teu não foge à luta”. Ou, aquela linda canção de Gonzaguinha “E vamos à luta!”, com a qual termino:
“Eu acredito é na rapaziada,
Que vai em frente e segura o rojão.
Eu tenho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta é com a juventude
Que não corre da raia em troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não está na saudade e constrói a manhã desejada!
Gonzaguinha
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Porque há um silêncio que ensurdece
Reproduzo artigo enviado pelo amigo Démerson Dias. Discordo, no geral, da sua leitura sobre o governo Lula, mas penso que o texto ajuda a reflexão crítica num setor da esquerda brasileira:
E o venerável Cardeal disse que vê
Tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
...
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
Caetano e Gil, “Haiti”
O processo eleitoral, neste segundo turno, transitava pela dúvida sobre quem seria o melhor gestor capitalista para o Brasil. Até que, alavancada pela vitória de Geraldo Alckmin no primeiro turno para o governo de São Paulo, ressurge com estardalhaço uma vetusta organização política fascista chamada Tradição, Família e Propriedade (TPF, entidade católica que figurou entre os que patrocinaram o golpe de 64).
O governo Lula é neoliberal, mas a TFP, talvez, depois dos skinheads, é o que há de mais fascista neste país. Trata-se de um setor que, de maneira geral, tinha sido derrotado por nós por ocasião da tênue reconstrução democrática.
Enquanto a discussão se dá entre o neoliberalismo condescendente de Lula e o neoliberalismo enrustido dos tucanos (ou o contrário, talvez), a opção é pelo tipo de algoz que preferimos. O estilo a la tucanato é de um algoz que tortura sem rodeios, a sangue frio. Já a plataforma lulista é a de um algoz “esclarecido”, que tortura um pouquinho e depois nos manda à enfermaria, para retomar a tortura mais tarde.
E isso não é um elogio a Lula; seu neoliberalismo é mais cruel, pois dá a nós, trabalhadores, apenas uma sobrevida, enquanto reserva, para o capital, condições nababescas. Como o capitalismo não existe sem suas contradições, o populismo de Lula nos preserva a possibilidade da esperança – não no governo, mas na insurgência, claro.
Em outras palavras, com Serra o povo paga pelo neoliberalismo e ainda morre à míngua; com Dilma, ele pode assistir na TV, durante o jantar, à espoliação de suas riquezas. E ainda comentar por torpedo, ou redes sociais, com os amigos.
Ocorre que por via oblíqua, ou desavisadamente, Lula acaba retificando, na prática, seu caráter de conciliador de classes. Como fosse um capricho da história a alguém que a renega, Lula abre a possibilidade de rompermos o ciclo machista no comando do país (isso não é o mesmo que nada entre nós), e acaba até por render homenagem aos lutadores do Brasil, quando indica a sua sucessão uma mulher que foi às armas contra a ditadura e reivindica esse passado (convenhamos, não no plano histórico, mas pessoalmente é mais do que fez Lula, que renega a esquerda).
A crise à direita é tamanha que somente uns poucos tolos conseguem erguer ilações machistas. O que vai doer mesmo, na própria carne, é que, em primeiro lugar, a direita não tolera os pobres – esses mesmos pobres que busca manipular por meio de seus funcionários fascistoides, invocando fantasmas e demônios para associá-los a Dilma. Há que se convir que a legitimidade do governo Lula é fruto de um assistencialismo turbinado e efetivo.
A segunda provocação é ainda mais intolerável, ao se invocar o passado guerrilheiro, alguns reacionários criminalizam “Estela” pelo assalto aos dólares de um corrupto contumaz paulista. Indagam pelo destino dos recursos nas mãos dos guerrilheiros, mas relevam sua origem (ou seja, há crimes que se toleram e outros que não, a depender de quem os comete). O ataque a Dilma vem se dando, portanto, pelas poucas virtudes existente dentro governo Lula.
O cerne da questão, contudo, não reside aí.
A plataforma que impulsiona a entrada da TFP nesse cenário é o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH). Lembremos que a maioria dos indicados por Lula ao STF endossou a anistia aos torturadores. Ou seja, o governo Lula é tímido em relação à questão dos direitos humanos.
Para os que legitimam as truculências e os assassinatos da ditadura, a ampliação de garantias contida no PNDH3 é inadmissível. Além de absurdo, é trágico criminalizar o aborto, na medida em que, entre os crimes cometidos, incluem-se estupros. Que legitimidade possuem os que acoitam estupradores para criminalizar o aborto?
Além disso, trata-se de um segmento que considera que o direito à propriedade de uns poucos tem primazia sobre o direito à existência digna dos demais.
O governo Lula não merece meu voto, mas a TFP não admite meu silêncio. Tanto esse passado deplorável ainda é atual que, quase 50 anos depois, ainda se confrontam sobreviventes: de um lado, da truculência reacionária; do outro, da luta contra a ditadura. Não vivi aquele momento e, se o tivesse vivido, não tenho certo até onde iria. Mas não tenho absolutamente nenhuma dúvida sobre o lado ao qual me alinharia.
Há concessões que não se fazem, mas há omissões que nos aproximam da conivência. Deixar de distinguir que as semelhanças entre Dilma e Serra estão num patamar distinto do arco reacionário, que busca voltar a se legitimar no Estado brasileiro a partir da candidatura tucana, é recusar as lições da história. Se todas as direitas fossem iguais, as esquerdas também o seriam. A opção pelo “quanto pior, melhor” é tão desumana quanto reacionária.
Tais setores já demonstraram que podem perfeitamente explorar, com requintes de crueldade, a incapacidade de coesão do campo progressista. Historicamente estavam fadados a serem apenas passado, até que um ligeiro solavanco os trouxe de volta à cena, novamente mandando às favas os escrúpulos da consciência.
Não se trata, portanto, de mero endosso à subordinação capitalista do atual governo, mas de perceber, justamente, que há tons de cinza nessa escala política que podem torná-la ainda mais tétrica. Subestimar adversários dessa estirpe já nos custou 30 anos de retrocesso e milhares de vidas. E é essa compreensão que nos distingue do totalitarismo.
Em resposta à TFP, voto na ex-guerrilheira. Dia 31, voto 13, contra o reascenso do campo fascista. A galopar, até enterrá-los no mar.
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E o venerável Cardeal disse que vê
Tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
...
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
Caetano e Gil, “Haiti”
O processo eleitoral, neste segundo turno, transitava pela dúvida sobre quem seria o melhor gestor capitalista para o Brasil. Até que, alavancada pela vitória de Geraldo Alckmin no primeiro turno para o governo de São Paulo, ressurge com estardalhaço uma vetusta organização política fascista chamada Tradição, Família e Propriedade (TPF, entidade católica que figurou entre os que patrocinaram o golpe de 64).
O governo Lula é neoliberal, mas a TFP, talvez, depois dos skinheads, é o que há de mais fascista neste país. Trata-se de um setor que, de maneira geral, tinha sido derrotado por nós por ocasião da tênue reconstrução democrática.
Enquanto a discussão se dá entre o neoliberalismo condescendente de Lula e o neoliberalismo enrustido dos tucanos (ou o contrário, talvez), a opção é pelo tipo de algoz que preferimos. O estilo a la tucanato é de um algoz que tortura sem rodeios, a sangue frio. Já a plataforma lulista é a de um algoz “esclarecido”, que tortura um pouquinho e depois nos manda à enfermaria, para retomar a tortura mais tarde.
E isso não é um elogio a Lula; seu neoliberalismo é mais cruel, pois dá a nós, trabalhadores, apenas uma sobrevida, enquanto reserva, para o capital, condições nababescas. Como o capitalismo não existe sem suas contradições, o populismo de Lula nos preserva a possibilidade da esperança – não no governo, mas na insurgência, claro.
Em outras palavras, com Serra o povo paga pelo neoliberalismo e ainda morre à míngua; com Dilma, ele pode assistir na TV, durante o jantar, à espoliação de suas riquezas. E ainda comentar por torpedo, ou redes sociais, com os amigos.
Ocorre que por via oblíqua, ou desavisadamente, Lula acaba retificando, na prática, seu caráter de conciliador de classes. Como fosse um capricho da história a alguém que a renega, Lula abre a possibilidade de rompermos o ciclo machista no comando do país (isso não é o mesmo que nada entre nós), e acaba até por render homenagem aos lutadores do Brasil, quando indica a sua sucessão uma mulher que foi às armas contra a ditadura e reivindica esse passado (convenhamos, não no plano histórico, mas pessoalmente é mais do que fez Lula, que renega a esquerda).
A crise à direita é tamanha que somente uns poucos tolos conseguem erguer ilações machistas. O que vai doer mesmo, na própria carne, é que, em primeiro lugar, a direita não tolera os pobres – esses mesmos pobres que busca manipular por meio de seus funcionários fascistoides, invocando fantasmas e demônios para associá-los a Dilma. Há que se convir que a legitimidade do governo Lula é fruto de um assistencialismo turbinado e efetivo.
A segunda provocação é ainda mais intolerável, ao se invocar o passado guerrilheiro, alguns reacionários criminalizam “Estela” pelo assalto aos dólares de um corrupto contumaz paulista. Indagam pelo destino dos recursos nas mãos dos guerrilheiros, mas relevam sua origem (ou seja, há crimes que se toleram e outros que não, a depender de quem os comete). O ataque a Dilma vem se dando, portanto, pelas poucas virtudes existente dentro governo Lula.
O cerne da questão, contudo, não reside aí.
A plataforma que impulsiona a entrada da TFP nesse cenário é o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH). Lembremos que a maioria dos indicados por Lula ao STF endossou a anistia aos torturadores. Ou seja, o governo Lula é tímido em relação à questão dos direitos humanos.
Para os que legitimam as truculências e os assassinatos da ditadura, a ampliação de garantias contida no PNDH3 é inadmissível. Além de absurdo, é trágico criminalizar o aborto, na medida em que, entre os crimes cometidos, incluem-se estupros. Que legitimidade possuem os que acoitam estupradores para criminalizar o aborto?
Além disso, trata-se de um segmento que considera que o direito à propriedade de uns poucos tem primazia sobre o direito à existência digna dos demais.
O governo Lula não merece meu voto, mas a TFP não admite meu silêncio. Tanto esse passado deplorável ainda é atual que, quase 50 anos depois, ainda se confrontam sobreviventes: de um lado, da truculência reacionária; do outro, da luta contra a ditadura. Não vivi aquele momento e, se o tivesse vivido, não tenho certo até onde iria. Mas não tenho absolutamente nenhuma dúvida sobre o lado ao qual me alinharia.
Há concessões que não se fazem, mas há omissões que nos aproximam da conivência. Deixar de distinguir que as semelhanças entre Dilma e Serra estão num patamar distinto do arco reacionário, que busca voltar a se legitimar no Estado brasileiro a partir da candidatura tucana, é recusar as lições da história. Se todas as direitas fossem iguais, as esquerdas também o seriam. A opção pelo “quanto pior, melhor” é tão desumana quanto reacionária.
Tais setores já demonstraram que podem perfeitamente explorar, com requintes de crueldade, a incapacidade de coesão do campo progressista. Historicamente estavam fadados a serem apenas passado, até que um ligeiro solavanco os trouxe de volta à cena, novamente mandando às favas os escrúpulos da consciência.
Não se trata, portanto, de mero endosso à subordinação capitalista do atual governo, mas de perceber, justamente, que há tons de cinza nessa escala política que podem torná-la ainda mais tétrica. Subestimar adversários dessa estirpe já nos custou 30 anos de retrocesso e milhares de vidas. E é essa compreensão que nos distingue do totalitarismo.
Em resposta à TFP, voto na ex-guerrilheira. Dia 31, voto 13, contra o reascenso do campo fascista. A galopar, até enterrá-los no mar.
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sábado, 16 de outubro de 2010
O crime eleitoral do Bispo de Guarulhos
Gráfica na capital paulista imprime, a pedido do bispo da igreja católica de Guarulhos, milhões de exemplares de jornal contra a candidata Dilma Rousseff. O caso é grave. É crime eleitoral. O bispo merecia ser processado e até preso
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As falcatruas do homem-bomba do Serra
Reproduzo matéria publicada no blog Cloaca News:
O ex-diretor de engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, acusado de tráfico de influência, desvio de dinheiro público e improbidade administrativa, capitaneou algumas das principais obras do governo de José Serra. Ele foi o responsável pela medição e pagamentos a empreiteiras contratadas para construir o trecho sul do Rodoanel, pela expansão da avenida Jacu-Pêssego e pela reforma na Marginal Tietê.
No currículo do engenheiro constam 11 anos de serviços prestados ao PSDB. Trabalhou no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso como assessor especial da Presidência, no programa Brasil Empreendedor Rural. Assumiu a diretoria da Dersa em 2005, primeiro de Relações Institucionais e, depois, de Engenharia.
O ex-governador José Serra, após ter refrescado sua memória e reconhecido que, sim, sabia quem era Paulo Preto, fez questão de frisar que seu ex-funcionário havia recebido, em 2009, o prêmio Engenheiro do Ano, do Instituto de Engenharia. Porém, o que Paulo Preto deixou para a população paulista foram obras repletas de irregularidades, que, inclusive, já ocasionaram a morte de duas pessoas.
Rodoanel
O trecho sul do Rodoanel custou R$ 5 bilhões e é alvo de suspeitas e denúncias de instituições fiscalizadoras como o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público, que apontam a obra como um gigantesco ninho de superfaturamento e irregularidades de todo tipo.
Essa obra teve seu processo de construção acelerado para uso na campanha eleitoral. Sem uma efetiva fiscalização por parte do Estado, houve ajustes frequentes de preços ao longo da execução, alteração nos materiais utilizados e no projeto da obra.
Pelo projeto básico, por exemplo, deveriam ser usadas fundações de concreto conhecidas como tubulões para sustentar os vãos livres dos viadutos do trecho sul do Rodoanel. Mas os construtores trocaram esse material por duas mil vigas pré-moldadas, mais baratas – como as que desabaram sobre a Rodovia Régis Bittencourt em 13 de novembro de 2009, poucas horas depois de instaladas, esmagando três veículos e ferindo três pessoas.
A troca de material usado na construção, contudo, foi apenas uma das 79 irregularidades classificadas como “graves” em relatório emitido pelo Tribunal de Contas da União, em 29 de setembro de 2009, com base em duas auditorias feitas em 2007 e 2008, nos cinco lotes da obra.
Até hoje, seis meses depois de inaugurado, o trecho sul segue com problemas. Além da ausência de barreiras e acessos, falta de sinalização, câmeras de monitoramento, telefones de emergência, sistema de drenagem. A questão da segurança foi negligenciada. Há também o problema da iluminação, que ainda é obtida através de geradores. Duas pessoas já morreram em acidentes agravados por esses problemas.
Nova Marginal
"Pode ser mortal", diz o engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em Transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em referência aos riscos de acidentes provocados pela falta de guardrails nas novas pistas da Marginal do Tietê, inauguradas há seis meses.
A chamada Nova Marginal Tietê foi entregue praticamente sem sinalização e monitoramento nas vias. A falta de faixas e placas confundiam os motoristas e os colocam em risco de acidentes.
O líder da Bancada do PT na Assembleia, deputado Antonio Mentor, inclusive conseguiu a anulação das multas aplicadas na Nova Marginal devido à falta de sinalização.
Os motoristas enfrentam ainda um outro problema na Nova Marginal, que é ausência de iluminação em alguns trechos. Até agora, o sistema foi instalado em apenas 12,9 dos 23 quilômetros.
Também faltam acessos. No Complexo do Tatuapé, por exemplo, falta mais uma ponte para o trânsito de veículos que saem da Avenida Salim Farah Maluf em direção às rodovias Castelo Branco ou Ayrton Senna. A previsão de entrega dessa ponte é somente para o final do ano.
Vale lembrar também que ao anunciar o projeto de construção da Nova Marginal, o governador José Serra disse que o custo seria de R$ 800 milhões. Depois a obra passou para R$ 1,3 bilhão e finalmente, foi anunciado que a obra vai custar R$ 1,9 bilhão, ou seja, 137% a mais do revelado inicialmente.
Jacu-Pêssego
O prolongamento da avenida Jacu-Pêssego se arrasta desde 1996. A previsão inicial era abrir para o tráfego junto com a inauguração do trecho sul do Rodoanel, em abril, mas foi adiada por várias vezes.
No final de setembro, o jornal O Estado de S. Paulo percorreu a obra, orçada em R$1,9 bilhão, e verificou que ainda não estava finalizada. Apesar de parte da sinalização já estar pintada no chão, não havia placas nem semáforos. No canteiro central, o cenário era de muitas pedras. A via também não tinha retornos e as entradas para outras avenidas não estavam prontas.
Também não havia faixa para pedestres e as duas passarelas estavam em construção. Por fim, a iluminação estava deficiente e, em alguns trechos, postes ainda estavam sendo instalados.
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O ex-diretor de engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, acusado de tráfico de influência, desvio de dinheiro público e improbidade administrativa, capitaneou algumas das principais obras do governo de José Serra. Ele foi o responsável pela medição e pagamentos a empreiteiras contratadas para construir o trecho sul do Rodoanel, pela expansão da avenida Jacu-Pêssego e pela reforma na Marginal Tietê.
No currículo do engenheiro constam 11 anos de serviços prestados ao PSDB. Trabalhou no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso como assessor especial da Presidência, no programa Brasil Empreendedor Rural. Assumiu a diretoria da Dersa em 2005, primeiro de Relações Institucionais e, depois, de Engenharia.
O ex-governador José Serra, após ter refrescado sua memória e reconhecido que, sim, sabia quem era Paulo Preto, fez questão de frisar que seu ex-funcionário havia recebido, em 2009, o prêmio Engenheiro do Ano, do Instituto de Engenharia. Porém, o que Paulo Preto deixou para a população paulista foram obras repletas de irregularidades, que, inclusive, já ocasionaram a morte de duas pessoas.
Rodoanel
O trecho sul do Rodoanel custou R$ 5 bilhões e é alvo de suspeitas e denúncias de instituições fiscalizadoras como o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público, que apontam a obra como um gigantesco ninho de superfaturamento e irregularidades de todo tipo.
Essa obra teve seu processo de construção acelerado para uso na campanha eleitoral. Sem uma efetiva fiscalização por parte do Estado, houve ajustes frequentes de preços ao longo da execução, alteração nos materiais utilizados e no projeto da obra.
Pelo projeto básico, por exemplo, deveriam ser usadas fundações de concreto conhecidas como tubulões para sustentar os vãos livres dos viadutos do trecho sul do Rodoanel. Mas os construtores trocaram esse material por duas mil vigas pré-moldadas, mais baratas – como as que desabaram sobre a Rodovia Régis Bittencourt em 13 de novembro de 2009, poucas horas depois de instaladas, esmagando três veículos e ferindo três pessoas.
A troca de material usado na construção, contudo, foi apenas uma das 79 irregularidades classificadas como “graves” em relatório emitido pelo Tribunal de Contas da União, em 29 de setembro de 2009, com base em duas auditorias feitas em 2007 e 2008, nos cinco lotes da obra.
Até hoje, seis meses depois de inaugurado, o trecho sul segue com problemas. Além da ausência de barreiras e acessos, falta de sinalização, câmeras de monitoramento, telefones de emergência, sistema de drenagem. A questão da segurança foi negligenciada. Há também o problema da iluminação, que ainda é obtida através de geradores. Duas pessoas já morreram em acidentes agravados por esses problemas.
Nova Marginal
"Pode ser mortal", diz o engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em Transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em referência aos riscos de acidentes provocados pela falta de guardrails nas novas pistas da Marginal do Tietê, inauguradas há seis meses.
A chamada Nova Marginal Tietê foi entregue praticamente sem sinalização e monitoramento nas vias. A falta de faixas e placas confundiam os motoristas e os colocam em risco de acidentes.
O líder da Bancada do PT na Assembleia, deputado Antonio Mentor, inclusive conseguiu a anulação das multas aplicadas na Nova Marginal devido à falta de sinalização.
Os motoristas enfrentam ainda um outro problema na Nova Marginal, que é ausência de iluminação em alguns trechos. Até agora, o sistema foi instalado em apenas 12,9 dos 23 quilômetros.
Também faltam acessos. No Complexo do Tatuapé, por exemplo, falta mais uma ponte para o trânsito de veículos que saem da Avenida Salim Farah Maluf em direção às rodovias Castelo Branco ou Ayrton Senna. A previsão de entrega dessa ponte é somente para o final do ano.
Vale lembrar também que ao anunciar o projeto de construção da Nova Marginal, o governador José Serra disse que o custo seria de R$ 800 milhões. Depois a obra passou para R$ 1,3 bilhão e finalmente, foi anunciado que a obra vai custar R$ 1,9 bilhão, ou seja, 137% a mais do revelado inicialmente.
Jacu-Pêssego
O prolongamento da avenida Jacu-Pêssego se arrasta desde 1996. A previsão inicial era abrir para o tráfego junto com a inauguração do trecho sul do Rodoanel, em abril, mas foi adiada por várias vezes.
No final de setembro, o jornal O Estado de S. Paulo percorreu a obra, orçada em R$1,9 bilhão, e verificou que ainda não estava finalizada. Apesar de parte da sinalização já estar pintada no chão, não havia placas nem semáforos. No canteiro central, o cenário era de muitas pedras. A via também não tinha retornos e as entradas para outras avenidas não estavam prontas.
Também não havia faixa para pedestres e as duas passarelas estavam em construção. Por fim, a iluminação estava deficiente e, em alguns trechos, postes ainda estavam sendo instalados.
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O aborto e o casal Monica e José Serra
Reproduzo mensagem enviada pelo amigo jornalista Alipio Freire:
Até este momento, nenhum de vocês me viu escrever sobre o aborto que teria feito a senhora Monica Serra.
Antes de tudo, porque considero que a privacidade das pessoas deve ser respeitada e preservada – princípio que aprendi ainda em criança, em minha casa, com os meus pais, e que os anos de militância e de vida, apenas reforçaram e consolidaram, dando-lhe contornos políticos mais claros e precisos.
Aprendi que transformar a privacidade das pessoas em espetáculo público é uma prática fascista, como é igualmente fascista todo ato de despolitizar e desqualificar o debate político (política = luta de classes, segmentos e grupos sociais em defesa dos seus interesses), substituindo esse debate pela discussão da privacidade e intimidade dos indivíduos [*].
Como muito bem afirma o filósofo Jean-Paul Sartre sobre a questão da tortura, penso igualmente a respeito do fascismo: "Não são os fascistas que produzem os fascismo. São as práticas fascistas que produzem homens e mulheres fascistas".
Sou intolerante com esse tipo de assunto.
E creio que devamos ser todos.
Com as últimas informações, ficou claro para mim que a única responsável por haver transformado em espetáculo público sua intimidade (aborto realizado aos quatro meses de gravidez) foi a própria senhora Monica Serra, esposa do candidato à Presidência da República, senhor José Serra, que o fez publicamente para suas alunas, e em diversas aulas e ocasiões. A mesma senhora que, em campanha pela eleição do seu esposo, afirmou que a candidata à Presidência Dilma Rousseff “vai matar as criancinhas”.
A auto-exposição pública, além de todas as mazelas já apontadas neste texto, ainda carrega as virtudes do narcisismo e da egolatria.
Enquanto a senhora Monica age dessa maneira (hipócrita, duplamente mentirosa, vulgar, narcísica, ególatra e fascista), a campanha do seu esposo – senhor José Serra – contrata um serviço de telemarketing para difundir que a candidata Dilma Rousseff, uma vez eleita, legalizaria o aborto em nosso país.
De acordo com o jornal “Correio Braziliense”, os telefonemas são dados por funcionárias mulheres do telemarketing, acrescentando: “Elas ligam em horário comercial no telefone fixo e procuram saber se há eleitor de Marina Silva (PV) na residência. Caso haja, as atendentes insistem na tecla de que a petista é a favor do aborto e que ela hoje se diz contrária apenas para ludibriar o eleitor”.
Por essas e outras, organizei alguns materiais que recebi de diversas fontes acerca do assunto, e que lhes repasso no pé desta mensagem e em arquivo.
Há uns dois dias, a candidata Dilma Rousseff assinou um documento público, no qual afirma que, durante sua gestão, a questão do aborto permanecerá tal qual está definida legalmente hoje.
Ainda que defensor da descriminalização do aborto e entender que esta é uma questão de políticas públicas – de Saúde e de Direitos Humanos – sinto-me na obrigação (ética e política) de declarar que concordo com este gesto da candidata Dilma Rousseff: a descriminalização do aborto é um assunto por demais sério e a quantidade de preconceitos que envolve (e que vêm sendo explorados calhordamente e de forma crapulosa nestas eleições pelo candidato José Serra, sua família e a frente DEM-Tucanos que ele representa), e que a atual correlação de forças impede qualquer avanço nessa direção. Depois de toda essa campanha, orquestrada pelo que há de mais podre em nossa sociedade, garantir os pequenos avanços conquistados a esse respeito, já é uma vitória.
Aos que ficam indignados com esta decisão da candidata Dilma Rousseff, chamo a atenção para quatro aspectos da questão:
Primeiro: a luta de classes (o fazer política) não se limita aos processos eleitorais – as eleições são um importante momento da política, mas não resumem ou substituem todas as manifestações do fazer político. Mais que as eleições, é a capacidade de mobilização e organização dos trabalhadores e dos demais explorados e oprimidos, quem tem a maior possibilidade de mudar a correlação de forças na sociedade, em favor dos interesses da maioria.
Segundo: hoje, derrotar a aliança DEM-Tucanos é mais importante do que discutir a questão do aborto, uma vez que a derrota das forças que apóiam o candidato José Serra deve ser, neste momento, nestas eleições, a questão prioritária, a questão principal. Desta derrota, depende a possibilidade de avançarmos em várias questões (pontuais ou não), inclusive aquelas relativas às diversas políticas públicas.
Terceiro: os rumos mais à esquerda ou à direita de qualquer governo dependerão sempre da nossa capacidade de pressão, da nossa capacidade de sermos sujeitos políticos: e só o somos, coletivamente. Ou seja, somente organizados somos um sujeito político capaz de enfrentar adversários e inimigos – o resto será sempre radicalismo-de-gogó, radicalidade inconseqüente. Necessitamos ser o suficientemente fortes em termos de organização e capacidade de mobilização, para empurrarmos os poderes da República na direção do atendimento dos nossos interesses.
Por exemplo: se cercássemos a sede do Supremo Tribunal Federal – STF, no momento de votações de assuntos substantivos para os nossos interesses, dificilmente os bípedes togados que ali decidem sobre destinos do país se sentiriam à vontade para agir como agem. Se cercássemos com milhões de pessoas o STJ, dificilmente personagens como o doutor Gilmar Mendes estariam compondo essa importante instância de poder. Sairiam de lá enxotados e sob nossas vaias. O mesmo serve para o Congresso.
Quarto: enquanto prosseguirmos esperando que os nossos representantes que compõem esses poderes (por melhores e honestos que sejam) sejam capazes sozinhos de responderem às nossas reivindicações e exigências, ou colheremos derrotas, ou os estimularemos a alianças por nós indesejadas, e mesmo a graves práticas não republicanas, como o suborno, a compra de votos, os desvios de dinheiros públicos, as chantagens dos dossiês e a toda essas práticas que negamos, que execramos e que devemos continuar a execrar.
Por fim, com esta minha mensagem e o material que segue espero ter contribuído para colocarmos a discussão do assunto aborto no seu mais adequado rumo, fugindo pelo menos da armadilha fascista que a santa aliança DEM-Tucanos propõem a todos nós.
Mais ainda, espero que, se vier a ser lida por dirigentes do Partido dos Trabalhadores, companheiros com responsabilidades no atual governo e/ou coordenadores da campanha da candidata Dilma Rousseff, inspire medidas política e/ou legais sobre o problema do telemarketing, e outras barbaridades que vêm sendo cometidas.
[*] A esse respeito, sugiro a leitura de “A honra perdida de Katharina Blum”, do escritor alemão Heinrich Böll, ou assistam o filme “A honra perdida de uma mulher”, do diretor Volker Schlöndorff (baseado no livro de Böll). Leiam e/ou assistam o filme, e insistam para que os seus filhos e outros jovens também leiam e/ou assistam o filme.
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Até este momento, nenhum de vocês me viu escrever sobre o aborto que teria feito a senhora Monica Serra.
Antes de tudo, porque considero que a privacidade das pessoas deve ser respeitada e preservada – princípio que aprendi ainda em criança, em minha casa, com os meus pais, e que os anos de militância e de vida, apenas reforçaram e consolidaram, dando-lhe contornos políticos mais claros e precisos.
Aprendi que transformar a privacidade das pessoas em espetáculo público é uma prática fascista, como é igualmente fascista todo ato de despolitizar e desqualificar o debate político (política = luta de classes, segmentos e grupos sociais em defesa dos seus interesses), substituindo esse debate pela discussão da privacidade e intimidade dos indivíduos [*].
Como muito bem afirma o filósofo Jean-Paul Sartre sobre a questão da tortura, penso igualmente a respeito do fascismo: "Não são os fascistas que produzem os fascismo. São as práticas fascistas que produzem homens e mulheres fascistas".
Sou intolerante com esse tipo de assunto.
E creio que devamos ser todos.
Com as últimas informações, ficou claro para mim que a única responsável por haver transformado em espetáculo público sua intimidade (aborto realizado aos quatro meses de gravidez) foi a própria senhora Monica Serra, esposa do candidato à Presidência da República, senhor José Serra, que o fez publicamente para suas alunas, e em diversas aulas e ocasiões. A mesma senhora que, em campanha pela eleição do seu esposo, afirmou que a candidata à Presidência Dilma Rousseff “vai matar as criancinhas”.
A auto-exposição pública, além de todas as mazelas já apontadas neste texto, ainda carrega as virtudes do narcisismo e da egolatria.
Enquanto a senhora Monica age dessa maneira (hipócrita, duplamente mentirosa, vulgar, narcísica, ególatra e fascista), a campanha do seu esposo – senhor José Serra – contrata um serviço de telemarketing para difundir que a candidata Dilma Rousseff, uma vez eleita, legalizaria o aborto em nosso país.
De acordo com o jornal “Correio Braziliense”, os telefonemas são dados por funcionárias mulheres do telemarketing, acrescentando: “Elas ligam em horário comercial no telefone fixo e procuram saber se há eleitor de Marina Silva (PV) na residência. Caso haja, as atendentes insistem na tecla de que a petista é a favor do aborto e que ela hoje se diz contrária apenas para ludibriar o eleitor”.
Por essas e outras, organizei alguns materiais que recebi de diversas fontes acerca do assunto, e que lhes repasso no pé desta mensagem e em arquivo.
Há uns dois dias, a candidata Dilma Rousseff assinou um documento público, no qual afirma que, durante sua gestão, a questão do aborto permanecerá tal qual está definida legalmente hoje.
Ainda que defensor da descriminalização do aborto e entender que esta é uma questão de políticas públicas – de Saúde e de Direitos Humanos – sinto-me na obrigação (ética e política) de declarar que concordo com este gesto da candidata Dilma Rousseff: a descriminalização do aborto é um assunto por demais sério e a quantidade de preconceitos que envolve (e que vêm sendo explorados calhordamente e de forma crapulosa nestas eleições pelo candidato José Serra, sua família e a frente DEM-Tucanos que ele representa), e que a atual correlação de forças impede qualquer avanço nessa direção. Depois de toda essa campanha, orquestrada pelo que há de mais podre em nossa sociedade, garantir os pequenos avanços conquistados a esse respeito, já é uma vitória.
Aos que ficam indignados com esta decisão da candidata Dilma Rousseff, chamo a atenção para quatro aspectos da questão:
Primeiro: a luta de classes (o fazer política) não se limita aos processos eleitorais – as eleições são um importante momento da política, mas não resumem ou substituem todas as manifestações do fazer político. Mais que as eleições, é a capacidade de mobilização e organização dos trabalhadores e dos demais explorados e oprimidos, quem tem a maior possibilidade de mudar a correlação de forças na sociedade, em favor dos interesses da maioria.
Segundo: hoje, derrotar a aliança DEM-Tucanos é mais importante do que discutir a questão do aborto, uma vez que a derrota das forças que apóiam o candidato José Serra deve ser, neste momento, nestas eleições, a questão prioritária, a questão principal. Desta derrota, depende a possibilidade de avançarmos em várias questões (pontuais ou não), inclusive aquelas relativas às diversas políticas públicas.
Terceiro: os rumos mais à esquerda ou à direita de qualquer governo dependerão sempre da nossa capacidade de pressão, da nossa capacidade de sermos sujeitos políticos: e só o somos, coletivamente. Ou seja, somente organizados somos um sujeito político capaz de enfrentar adversários e inimigos – o resto será sempre radicalismo-de-gogó, radicalidade inconseqüente. Necessitamos ser o suficientemente fortes em termos de organização e capacidade de mobilização, para empurrarmos os poderes da República na direção do atendimento dos nossos interesses.
Por exemplo: se cercássemos a sede do Supremo Tribunal Federal – STF, no momento de votações de assuntos substantivos para os nossos interesses, dificilmente os bípedes togados que ali decidem sobre destinos do país se sentiriam à vontade para agir como agem. Se cercássemos com milhões de pessoas o STJ, dificilmente personagens como o doutor Gilmar Mendes estariam compondo essa importante instância de poder. Sairiam de lá enxotados e sob nossas vaias. O mesmo serve para o Congresso.
Quarto: enquanto prosseguirmos esperando que os nossos representantes que compõem esses poderes (por melhores e honestos que sejam) sejam capazes sozinhos de responderem às nossas reivindicações e exigências, ou colheremos derrotas, ou os estimularemos a alianças por nós indesejadas, e mesmo a graves práticas não republicanas, como o suborno, a compra de votos, os desvios de dinheiros públicos, as chantagens dos dossiês e a toda essas práticas que negamos, que execramos e que devemos continuar a execrar.
Por fim, com esta minha mensagem e o material que segue espero ter contribuído para colocarmos a discussão do assunto aborto no seu mais adequado rumo, fugindo pelo menos da armadilha fascista que a santa aliança DEM-Tucanos propõem a todos nós.
Mais ainda, espero que, se vier a ser lida por dirigentes do Partido dos Trabalhadores, companheiros com responsabilidades no atual governo e/ou coordenadores da campanha da candidata Dilma Rousseff, inspire medidas política e/ou legais sobre o problema do telemarketing, e outras barbaridades que vêm sendo cometidas.
[*] A esse respeito, sugiro a leitura de “A honra perdida de Katharina Blum”, do escritor alemão Heinrich Böll, ou assistam o filme “A honra perdida de uma mulher”, do diretor Volker Schlöndorff (baseado no livro de Böll). Leiam e/ou assistam o filme, e insistam para que os seus filhos e outros jovens também leiam e/ou assistam o filme.
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Ana Maria Prestes: "Sonhos"
Reproduzo uma bela mensagem enviada pela amiga Ana Maria Prestes Rabelo:
Pessoas queridas,
Eu não costumo enviar este tipo de email, mas estou tão tocada com estas eleições que não pude me conter.
Certamente o Brasil de Lula e Dilma não é o país dos nossos sonhos, mas o pesadelo que prenuncia a candidatura FHC/Serra é por demais assustador.
Queria citar três experiências pessoais que me levam a dizer isto.
Em 1997, quando eu estudava na Escola Técnica Federal de Goiás, uma escola reconhecida por sua excelência no ensino e na formação tal como as diversas de escolas técnicas federais espalhadas pelo país naquela época, o presidente FHC fez o decreto 2208. O decreto era um golpe à estrutura das escolas técnicas federais por separar o ensino médio do técnico, um dos fatores centrais da qualidade da educação nestes centros.
Para mim foi um momento muito marcante pois eu começava minha militância no movimento estudantil e compartilhei com muitos colegas e professores o drama da implementação do decreto passando por cima de experiências riquissimas de ensino concomitante científico e técnico que formava centenas de jovens capacitados para a sociedade brasileira. O governo obedecia na época uma diretriz do Banco Mundial para a educação de formar mão-de-obra direcionada para as demandas do mercado, restringindo a formação destes jovens e inclusive a empregabilidade futura em outras áreas dada a especificidade da formação.
Com o governo Lula o decreto foi revertido, a maioria das escolas tecnicas foram transformadas em centros de formação tecnológica no nível médio e superior, equipadas e reestruturadas e uma série de novas unidades foram criadas por todo o país. Isso sem falar na geração de emprego que triplicou, dando oportunidade aos que se formavam e nas 14 universidades federais criadas por Lula contra nenhuma criada por FHC dando a chance do prosseguimento nos estudos.
Uma outra experiência pessoal e que tem relação com esta campanha foi a minha estada em 2008 em Portugal, quando realizava uma parte do meu doutorado. Na época acompanhei de perto um rico processo em que um dos países mais católicos do mundo aprovou a Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez, ou o aborto. Foi uma campanha linda da sociedade civil com mobilização, debate e exercício democrático da opinião através de referendum que legitimou a lei.
Estou estupefata com o uso político que se tem dado a esta questão nas eleições no Brasil por um casal absolutamente hipócrita, o Sr. Serra e sua esposa, que são a favor do aborto, inclusive por já terem optado pela realização de um, segundo relatos de uma das alunas da esposa do Serra. Esta mesma senhora usou frases chulas contra uma candidata que desde o início falava nas entrevistas que tratava o aborto como uma questão de saúde pública, independente de sua posição pessoal.
Eu pessoalmente sou a favor do aborto e acho que esta campanha oportunista em si já representa um atraso para esta temática no Brasil. Eu quero educar as minhas filhas para um mundo em que elas tenham liberdade para decidir sobre suas convicções religiosas e pessoais e expressá-las livres de constrangimentos morais oportunos e completamente atrasados. Quero para minhas filhas inclusive um país em que a interrupção voluntária de uma gravidez não seja crime, mas um direito da mulher. Mas isto nunca foi assim defendido por Dilma, até porque o programa que ela representa não é da cabeça dela, mas fruto de um conjunto de acúmulos possíveis nas últimas décadas pós redemocratização.
Uma terceira e última experiência que gostaria de relatar - teria outras mais em vários temas - é a do papel do governo Lula no cenário internacional. Principalmente na parte Sul do mundo. Penso que vocês sabem que estou em fase de conclusão da minha tese de doutorado na UFMG em que estudo os movimentos contra-hegemonicos no sul global, especialmente o forum social mundial e sua ocorrencia no Brasil, na Índia e no Quênia.
Devido às minhas atividades internacionais tive a oportunidade de estar nos últimos anos pelos menos 5 vezes na África. Primeiro é impressionante quão profundas e urgentes são as demandas daquele povo em todos os quesitos, desde comida, saneamento e remédios à estruturas políticas mínimas para o exercício da expressão popular e de governos livres do constrangimento pós-colonial. O presidente Lula esteve em absolutamente todos os países da África, em vários foi a primeira vez que um presidente brasileiro e até latino-ameiricano colocava os pés.
Vocês imaginam o Serra indo ao Chad, ao Togo, à Eritrea ou ao Mali? O presidente Lula inverteu o eixo das relações exteriores brasileiras do norte para o sul. Muitas das relações estabelecidas são unilaterais, de apoio brasileiro às demandas dos povos destes países e não necessáriamente atendendo à demandas de comércio exterior brasileiro. Na minha última viagem à Africa do Sul, a ministra de relações exteriores pegou na minha mão e me disse olhando nos olhos: vocês precisam eleger a sucessora de Lula, pela África.
Eu não conheço a Dilma pessoalmente, não posso opinar sobre seu temperamento ou personalidade, mas eu acredito que a política é feita de acúmulos produzidos por coletivos humanos e ela faz parte de um. Ela é a continuidade de um processo ainda precário, mas que representou inúmeros avanços para a população brasileira nos últimos anos.
Eu quero fortemente que minhas filhas vivam em um país que respeite o passado heróico dos que lutaram contra a ditudura, um país livre da homofobia e que respeite o direito dos homossexuais, um país em que o aborto não seja um crime mas um direito de cada mulher à decisão sobre seu corpo e sua vida, um país em que a luta contra a miséria não seja desdenhada mas humanizada, um país em que a liberdade de imprensa não seja usurpada mas democratizada, um país em que boatos, campanhas difamatórias e desonestidade intelectual não sejam a base da candidatura de um concorrente ao mais alto posto do nosso país. Por isso eu voto Dilma.
Ana Maria Prestes Rabelo, estudante do doutorado em ciencia política na UFMG, mãe da Helena (4) e da Gabiela (6 meses).
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Pessoas queridas,
Eu não costumo enviar este tipo de email, mas estou tão tocada com estas eleições que não pude me conter.
Certamente o Brasil de Lula e Dilma não é o país dos nossos sonhos, mas o pesadelo que prenuncia a candidatura FHC/Serra é por demais assustador.
Queria citar três experiências pessoais que me levam a dizer isto.
Em 1997, quando eu estudava na Escola Técnica Federal de Goiás, uma escola reconhecida por sua excelência no ensino e na formação tal como as diversas de escolas técnicas federais espalhadas pelo país naquela época, o presidente FHC fez o decreto 2208. O decreto era um golpe à estrutura das escolas técnicas federais por separar o ensino médio do técnico, um dos fatores centrais da qualidade da educação nestes centros.
Para mim foi um momento muito marcante pois eu começava minha militância no movimento estudantil e compartilhei com muitos colegas e professores o drama da implementação do decreto passando por cima de experiências riquissimas de ensino concomitante científico e técnico que formava centenas de jovens capacitados para a sociedade brasileira. O governo obedecia na época uma diretriz do Banco Mundial para a educação de formar mão-de-obra direcionada para as demandas do mercado, restringindo a formação destes jovens e inclusive a empregabilidade futura em outras áreas dada a especificidade da formação.
Com o governo Lula o decreto foi revertido, a maioria das escolas tecnicas foram transformadas em centros de formação tecnológica no nível médio e superior, equipadas e reestruturadas e uma série de novas unidades foram criadas por todo o país. Isso sem falar na geração de emprego que triplicou, dando oportunidade aos que se formavam e nas 14 universidades federais criadas por Lula contra nenhuma criada por FHC dando a chance do prosseguimento nos estudos.
Uma outra experiência pessoal e que tem relação com esta campanha foi a minha estada em 2008 em Portugal, quando realizava uma parte do meu doutorado. Na época acompanhei de perto um rico processo em que um dos países mais católicos do mundo aprovou a Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez, ou o aborto. Foi uma campanha linda da sociedade civil com mobilização, debate e exercício democrático da opinião através de referendum que legitimou a lei.
Estou estupefata com o uso político que se tem dado a esta questão nas eleições no Brasil por um casal absolutamente hipócrita, o Sr. Serra e sua esposa, que são a favor do aborto, inclusive por já terem optado pela realização de um, segundo relatos de uma das alunas da esposa do Serra. Esta mesma senhora usou frases chulas contra uma candidata que desde o início falava nas entrevistas que tratava o aborto como uma questão de saúde pública, independente de sua posição pessoal.
Eu pessoalmente sou a favor do aborto e acho que esta campanha oportunista em si já representa um atraso para esta temática no Brasil. Eu quero educar as minhas filhas para um mundo em que elas tenham liberdade para decidir sobre suas convicções religiosas e pessoais e expressá-las livres de constrangimentos morais oportunos e completamente atrasados. Quero para minhas filhas inclusive um país em que a interrupção voluntária de uma gravidez não seja crime, mas um direito da mulher. Mas isto nunca foi assim defendido por Dilma, até porque o programa que ela representa não é da cabeça dela, mas fruto de um conjunto de acúmulos possíveis nas últimas décadas pós redemocratização.
Uma terceira e última experiência que gostaria de relatar - teria outras mais em vários temas - é a do papel do governo Lula no cenário internacional. Principalmente na parte Sul do mundo. Penso que vocês sabem que estou em fase de conclusão da minha tese de doutorado na UFMG em que estudo os movimentos contra-hegemonicos no sul global, especialmente o forum social mundial e sua ocorrencia no Brasil, na Índia e no Quênia.
Devido às minhas atividades internacionais tive a oportunidade de estar nos últimos anos pelos menos 5 vezes na África. Primeiro é impressionante quão profundas e urgentes são as demandas daquele povo em todos os quesitos, desde comida, saneamento e remédios à estruturas políticas mínimas para o exercício da expressão popular e de governos livres do constrangimento pós-colonial. O presidente Lula esteve em absolutamente todos os países da África, em vários foi a primeira vez que um presidente brasileiro e até latino-ameiricano colocava os pés.
Vocês imaginam o Serra indo ao Chad, ao Togo, à Eritrea ou ao Mali? O presidente Lula inverteu o eixo das relações exteriores brasileiras do norte para o sul. Muitas das relações estabelecidas são unilaterais, de apoio brasileiro às demandas dos povos destes países e não necessáriamente atendendo à demandas de comércio exterior brasileiro. Na minha última viagem à Africa do Sul, a ministra de relações exteriores pegou na minha mão e me disse olhando nos olhos: vocês precisam eleger a sucessora de Lula, pela África.
Eu não conheço a Dilma pessoalmente, não posso opinar sobre seu temperamento ou personalidade, mas eu acredito que a política é feita de acúmulos produzidos por coletivos humanos e ela faz parte de um. Ela é a continuidade de um processo ainda precário, mas que representou inúmeros avanços para a população brasileira nos últimos anos.
Eu quero fortemente que minhas filhas vivam em um país que respeite o passado heróico dos que lutaram contra a ditudura, um país livre da homofobia e que respeite o direito dos homossexuais, um país em que o aborto não seja um crime mas um direito de cada mulher à decisão sobre seu corpo e sua vida, um país em que a luta contra a miséria não seja desdenhada mas humanizada, um país em que a liberdade de imprensa não seja usurpada mas democratizada, um país em que boatos, campanhas difamatórias e desonestidade intelectual não sejam a base da candidatura de um concorrente ao mais alto posto do nosso país. Por isso eu voto Dilma.
Ana Maria Prestes Rabelo, estudante do doutorado em ciencia política na UFMG, mãe da Helena (4) e da Gabiela (6 meses).
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Aborto: a indignação de Sheila Ribeiro
Reproduzo artigo de Conceição Lemes, publicado no blog Viomundo:
No dia 14 de setembro, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Monica Serra, acompanhada de Índio da Costa (DEM), vice de José Serra (PSDB), deu a senha da campanha sórdida, em pleno andamento, contra Dilma Rousseff (PT). A repórter Gabriela Moreira, da Agência Estado, testemunhou. O Estadão publicou:
"A um eleitor evangélico, que citava Jesus Cristo como o “único homem que prestou no mundo” e que declarou voto em Dilma, a professora [Monica Serra] afirmou que a petista é a favor do aborto. 'Ela é a favor de matar as criancinhas', disse a mulher de Serra ao vendedor ambulante Edgar da Silva, de 73 anos".
Domingo passado, no debate realizado pela Band entre os dois presidenciáveis, Dilma jogou o esqueleto em cima da mesa. Cobrou de Serra as acusações de Monica a ela.
Serra não respondeu. Indignada, na segunda-feira às 10h24, Sheila Ribeiro postou em sua página na rede social Facebook uma reflexão com o título "Respeitemos a dor de Monica Serra".
"Meu nome é Sheila Ribeiro e trabalho como artista no Brasil. Sou bailarina e ex-estudante da Unicamp onde fui aluna de Monica Serra".
…
"Com todo respeito que devo a essa minha professora, gostaria de revelar publicamente que muitas de nossas aulas foram regadas a discussões sobre o aborto, sobre o seu aborto traumático. Monica Serra fez um aborto. Na época da ditadura, grávida de quatro meses, Monica Serra decidiu abortar, pois que seu marido estava exilado e todos vivíamos uma situação instável. Aqui está a prova de que o aborto é uma situação terrível, triste, para a mulher e para o casal, e por isso não deve ser crime, pois tantas são as situações complexas que levam uma mulher a passar por essa situação difícil. Ninguém gosta de fazer um aborto, assim como o casal Serra imagino não ter gostado. A educação sobre a contracepção deve ser máxima para que evitemos essa dor para a mulher e para o Estado".
O episódio aconteceu em 1992, 18 anos atrás. Sheila tinha 18 anos, fazia curso de Dança no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Monica Serra era então professora de Psicologia do Desenvolvimento Aplicada à Dança.
A revelação caiu como bomba na rede. A NovaE considerou boato de má fé, desqualificou-a (a matéria já foi tirada do ar).
O jornalista Gilberto de Souza, do Jornal Correio do Brasil, resolveu investigar. Conversou com a própria Sheila. Publicou a matéria aqui. Depois, ouviu mais três ex-alunas de Monica, que confirmaram o relato.
Neste sábado, a jornalista Mônica Bergamo, em sua coluna na Folha de S.Paulo, dá a notícia: "Monica Serra contou ter feito aborto, diz ex-aluna". A assessoria de Monica Serra não respondeu à consulta da Folha. O mesmo fez a de Serra com o Correio do Brasil.
“Discussão de genero sempre esteve presente em minha vida"
Seu nome completo é Sheila Canevacci (sobrenome do marido, o antropólogo Massimo Canevacci) Ribeiro. Profissionalmente, Sheila Ribeiro. Tem 37 anos. Morou 11 anos em Montreal, Canadá. Foi para lá depois de se formar na Unicamp. É coreógrafa e doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo.
Nos meios da dança, Sheila é conhecida e reconhecida, no Brasil e no exterior. Quem priva do seu convívio pessoal ou profissional, não se espantou com a atitude dela.
Márcio Seligmann-Silva, professor livre-docente de Teoria Literária da Unicamp, com pos-doutorado pelo Zentrum Für Literaturforschung Berlim, Alemanha, e pela Yale University,nos EUA, afirma:
“A indignação de Sheila com o debate biopolítico que pontua nosso cenário político atual é plenamente compreensível, mas sua coragem talvez tenha a ver com esta experiência de vida em um país democrático [Canadá], onde as pessoas podem se manifestar sem medo”.
Helena Katz, professora no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica e no Curso Comunicação das Artes do Corpo, na PUC-SP, comenta:
“Sheila Ribeiro está em cada um dos gestos que cria. O seu trabalho nos ajuda a identificar os danos que o discurso publicitário vem produzindo na sociedade e que não está somente na publicidade propriamente dita, mas que hoje pauta o modo como nos relacionamos e se materializa no nosso comportamento, na cidade, nos meios de comunicação. A potência da sua poética sempre crítica insufla, em cada um dos que entram em contato com as suas produções, a esperança de que um mundo melhor é possível”.
O coreógrafo Wagner Schwartz, do Rio de Janeiro, observa:
"Sheila Ribeiro é mulher, cidadã, coreógrafa. Antes ter um cunho corajoso, o seu relato tem uma potência vital, porque não está relacionado ao tema da dualidade morte-e-vida, muito menos às questões partidárias. Como sempre, seja em suas práticas artísticas ou entre amigos, Sheila reafirma a necessidade de se pensar o lugar das classes menos favorecidas, independente da grande escala de forças contrárias às suas ações, porque sua finalidade é, sempre, investigar a causa, sua dor e a sua liberdade".
A artista e produtora Cândida Monte, de Curitiba (PR), enfatiza:
“Sheila Ribeiro é uma mulher que escolhe atuar, pessoal e profissionalmente, com sinceridade e transparência. Age sempre de forma observadora, pensadora e questionadora. Tem um enorme interesse em discutir e refletir. Seu pensamento artístico emerge disso. Volta sua atenção à cultura para além das considerações sobre a estética, pensando o indivíduo através da arte”.
Sheila é filha de Majô Ribeiro, militante feminista que foi aluna de mestrado de Eva Blay e pesquisadora do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero da USP. Foi candidata derrotada a vereadora e a vice-prefeita em Osasco pelo PSDB.
A mãe, segundo Sheila, pouco se pronunciou sobre o episódio: “Só disse que achou bom que eu fiz isso pela questão da descriminalização do aborto”.
“Discussão de gênero sempre faz parte da minha vida, daí a minha indignação”, disse-me numa primeira conversa, que tivemos na quarta-feira. “No primeiro turno, votei no Plínio [de Arruda Sampaio, do Psol]. No segundo, voto na Dilma.”
“Eu não admito que a própria vítima se assemelhe ao seu opressor"
Na segunda conversa, Sheila, que já havia se mostrado assertiva no primeiro contato, foi bastante firme. Divertida, atenta, interessada, não titubeou um instante:
“As pessoas acharam que eu era falsa [personagem fake, inventado], muitos me agrediram, muitos insinuaram que eu tinha ganhado dinheiro. Eu fico muito triste e brava com essas coisas”.
” O que eu posso garantir é que Monica nos contou que fez aborto. Havia muitas outras pessoas que sabem que não é mentira o que eu disse”.
“Quando eu vi o Serra se esquivando no debate, tive um troço, fiquei indignada e fiz uma reflexão sobre o que é ser uma pessoa na privacidade e o que é ser uma pessoa pública”.
“A minha primeira preocupação foi exercer a minha cidadania. Acharam que eu fiz isso porque eu vivi praticamente a minha vida inteira de adulta no Canadá, onde as pessoas falam abertamente sobre esses assuntos e outros assuntos complexos de se abordar. O que me interessa é a saúde pública”.
“Algumas pessoas me dizem que tive coragem, outras ficaram assustadas de eu falar diretamente. Pensei: sou anormal? Acho que o meu jeito é por causa do Canadá. Depois que eu me formei na Unicamp, morei 11 anos lá. A minha vida adulta e profissional, eu desenvolvi lá. Tenho dupla nacionalidade”
“No Canadá, o aborto é legalizado. Eu te contei das clínicas de ginecologia lá [os serviços de saúde são públicos]? Você telefona, funciona assim. Bem-vinda à clínica da mulher. Para urgências, disque zero. Para consultas, disque 1. Para abortos, disque 2. Para exames, disque 3”.
“Um amigo disse: ‘E se a Monica e o Serra se converteram?’ Eu respondi. Vamos supor que a Monica e Serra se converteram à religião e se arrependeram do aborto que fizeram. Só que quando uma pessoa se arrepende perante Deus – o aborto é crime perante Deus –, eles fazem os seus Pai-Nossos, depois vão ser absolvidos e vão para o céu ou para o inferno. Quer dizer: é uma discussão religiosa”.
“Se a pessoa é religiosa, ninguém a obriga a fazer o aborto. Muito bem. A pessoa pode ser religiosa, dizer eu sou contra o aborto em todos os níveis, eu nunca vou fazer o aborto, porque é um crime perante Deus. Ok. Só que você pode não misturar essa coisa crime perante Deus, porque no Estado laico não tem Deus. O Estado laico é um Estado”.
“Quem é religioso, não é obrigado a fazer. Ponto. No Canadá, é visto como um problema de saúde pública”.
“As pessoas ficam me perguntando: você é a favor do aborto a partir de que mês? Quem sou eu para dizer quando, em que mês, como não deve? Tem vários países em que o aborto é legalizado, o Brasil tem que aprender com eles. Ponto”.
“O que me chocou mais, mais, mais, é que o aborto é uma questão de todos. Até uma pessoa militante contra a descriminalização do aborto já fez aborto. Além da Monica, eu cito a Benedita da Silva (PT), que é contra a descriminação do aborto e também fez aborto”.
“Significa o quê? Olha a lógica da matemática. Se eu sou contra a descriminalização, acho o aborto um crime e faço o meu clandestino, eu deixo criar uma coisa perversa em mim que é o contrário absoluto da cidadania. Morrer não é só porque tomou Cytotet, colocou agulha de crochê. Morrer é também não poder exercer a sua cidadania. Daí a importância da descriminalização”.
“Não significa que você precisa ficar contando para todo mundo que fez aborto… colocar no jornal que fez aborto. Mas, se você precisar fazer, você sabe que não é uma criminosa. Você sabe que não está morrendo por dentro por ter cometido um crime”.
“Agora se você é uma religiosa e faz aborto, está cometendo um crime religioso. É um problema seu cultural, social, religioso. Isso é um problema da pessoa” .
“O que mais deixou indignada, portanto, é que até as militantes contra o aborto fazem aborto”.
“Outra coisa que me chocou foi que a Mônica Serra no debate virou uma carta do jogo, assim como o pré-sal, a Petrobras, a banda larga, privatização. Então, diante de qualquer carta do jogo, o Serra não enfrentava, não dialogava…”.
“Para mim, todas eram cartas do jogo das quais ele ficava se esquivando. Mas eu fiquei mais sensível com a Monica Serra, porque eu a conheço. Na minha cabeça, misturou a relação da pessoa civil, que relatou ter feito aborto, e da pessoa simbólica, que estava ali fazendo campanha contra a descriminalização”.
“É como se eu estivesse no sofá e ouvisse alguém na televisão dizer que o Nelson Mandela é racista. Eu diria: como assim? O Nelson Mandela é negro, foi preso, lutou contra o apartheid… Tem alguma coisa errada. Aí eu escreveria um artigo: O que está acontecendo com o Nelson Mandela como pessoa pública. Ele mesmo é racista? Não é racista?
“A Monica Serra que existiu na minha realidade enquanto aluna é a Monica da família Allende, que fez aborto. A outra Monica Serra, que eu vi no debate, é uma citação do nome de uma pessoa, que era uma carta do jogo, uma Monica Serra simbólica, que virou uma carta do jogo. Só.”
“É uma tremenda contradição. Eu sou uma pessoa brasileira, como outras, que não tem medo de falar. Uma pessoa que foi lapidada em praça pública porque cometeu adultério não vai lutar para que isso exista. Afinal, ela foi vítima disso, concorda?”.
“Assim como eu disse no Facebook que nós devemos respeitar a Mônica Serra – evidentemente a figurativa, a metafórica –, está errado as pessoas se calarem. Eu como cidadã, mais ainda como ser humano, não admito que a professora que, traumatizada, falou para mim sobre a experiência do aborto que ela teve por causa da didatura"– é super importante citar o contexto –, venha hoje não considerar a sua própria dor que ela me fez escutar”.
“Eu sou uma artista. Quando exibo alguma obra, a pessoa está perdendo o tempo dela para ver a minha proposta comunicacional. A Monica Serra usou a aula de psicologia do movimento para falar disso. Acho lindo. Não acho que é problema. A Universidade é para isso mesmo. É para falar de aborto, de questões complexas ligadas ao ser humano. Aquela humanidade que ela dividiu com a gente, inclusive me ensinou a levantar e a escrever sobre isso no dia seguinte ao debate. Foi o fato que falou por si só“.
“Eu não gosto de que qualquer mulher tenha de fazer aborto por causa de uma ditadura. Então, eu não admito que essa própria vítima se assemelhe ao opressor”.
“Sei que tem várias pessoas me condenando. Escreveram em um post: “Ai, com uma amiga dessas…” Para começar, eu não sou amiga da Monica Serra. Eu fui aluna dela. Eu gosto dela. Mas por mais que eu goste do meu marido, da minha mãe, dos meus irmãos, do meu vizinho, quando uma pessoa faz uma coisa que é eticamente contra os meus valores humanistas, eu vou me colocar contrária. Eu vou dizer. Tal pessoa, eu gosto muito de você, mas não concordo politicamente com o seu posicionamento. Só isso. Então para mim a última coisa que interessa nessa coisa, nessa história é a Monica Serra. É a última”.
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No dia 14 de setembro, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Monica Serra, acompanhada de Índio da Costa (DEM), vice de José Serra (PSDB), deu a senha da campanha sórdida, em pleno andamento, contra Dilma Rousseff (PT). A repórter Gabriela Moreira, da Agência Estado, testemunhou. O Estadão publicou:
"A um eleitor evangélico, que citava Jesus Cristo como o “único homem que prestou no mundo” e que declarou voto em Dilma, a professora [Monica Serra] afirmou que a petista é a favor do aborto. 'Ela é a favor de matar as criancinhas', disse a mulher de Serra ao vendedor ambulante Edgar da Silva, de 73 anos".
Domingo passado, no debate realizado pela Band entre os dois presidenciáveis, Dilma jogou o esqueleto em cima da mesa. Cobrou de Serra as acusações de Monica a ela.
Serra não respondeu. Indignada, na segunda-feira às 10h24, Sheila Ribeiro postou em sua página na rede social Facebook uma reflexão com o título "Respeitemos a dor de Monica Serra".
"Meu nome é Sheila Ribeiro e trabalho como artista no Brasil. Sou bailarina e ex-estudante da Unicamp onde fui aluna de Monica Serra".
…
"Com todo respeito que devo a essa minha professora, gostaria de revelar publicamente que muitas de nossas aulas foram regadas a discussões sobre o aborto, sobre o seu aborto traumático. Monica Serra fez um aborto. Na época da ditadura, grávida de quatro meses, Monica Serra decidiu abortar, pois que seu marido estava exilado e todos vivíamos uma situação instável. Aqui está a prova de que o aborto é uma situação terrível, triste, para a mulher e para o casal, e por isso não deve ser crime, pois tantas são as situações complexas que levam uma mulher a passar por essa situação difícil. Ninguém gosta de fazer um aborto, assim como o casal Serra imagino não ter gostado. A educação sobre a contracepção deve ser máxima para que evitemos essa dor para a mulher e para o Estado".
O episódio aconteceu em 1992, 18 anos atrás. Sheila tinha 18 anos, fazia curso de Dança no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Monica Serra era então professora de Psicologia do Desenvolvimento Aplicada à Dança.
A revelação caiu como bomba na rede. A NovaE considerou boato de má fé, desqualificou-a (a matéria já foi tirada do ar).
O jornalista Gilberto de Souza, do Jornal Correio do Brasil, resolveu investigar. Conversou com a própria Sheila. Publicou a matéria aqui. Depois, ouviu mais três ex-alunas de Monica, que confirmaram o relato.
Neste sábado, a jornalista Mônica Bergamo, em sua coluna na Folha de S.Paulo, dá a notícia: "Monica Serra contou ter feito aborto, diz ex-aluna". A assessoria de Monica Serra não respondeu à consulta da Folha. O mesmo fez a de Serra com o Correio do Brasil.
“Discussão de genero sempre esteve presente em minha vida"
Seu nome completo é Sheila Canevacci (sobrenome do marido, o antropólogo Massimo Canevacci) Ribeiro. Profissionalmente, Sheila Ribeiro. Tem 37 anos. Morou 11 anos em Montreal, Canadá. Foi para lá depois de se formar na Unicamp. É coreógrafa e doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo.
Nos meios da dança, Sheila é conhecida e reconhecida, no Brasil e no exterior. Quem priva do seu convívio pessoal ou profissional, não se espantou com a atitude dela.
Márcio Seligmann-Silva, professor livre-docente de Teoria Literária da Unicamp, com pos-doutorado pelo Zentrum Für Literaturforschung Berlim, Alemanha, e pela Yale University,nos EUA, afirma:
“A indignação de Sheila com o debate biopolítico que pontua nosso cenário político atual é plenamente compreensível, mas sua coragem talvez tenha a ver com esta experiência de vida em um país democrático [Canadá], onde as pessoas podem se manifestar sem medo”.
Helena Katz, professora no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica e no Curso Comunicação das Artes do Corpo, na PUC-SP, comenta:
“Sheila Ribeiro está em cada um dos gestos que cria. O seu trabalho nos ajuda a identificar os danos que o discurso publicitário vem produzindo na sociedade e que não está somente na publicidade propriamente dita, mas que hoje pauta o modo como nos relacionamos e se materializa no nosso comportamento, na cidade, nos meios de comunicação. A potência da sua poética sempre crítica insufla, em cada um dos que entram em contato com as suas produções, a esperança de que um mundo melhor é possível”.
O coreógrafo Wagner Schwartz, do Rio de Janeiro, observa:
"Sheila Ribeiro é mulher, cidadã, coreógrafa. Antes ter um cunho corajoso, o seu relato tem uma potência vital, porque não está relacionado ao tema da dualidade morte-e-vida, muito menos às questões partidárias. Como sempre, seja em suas práticas artísticas ou entre amigos, Sheila reafirma a necessidade de se pensar o lugar das classes menos favorecidas, independente da grande escala de forças contrárias às suas ações, porque sua finalidade é, sempre, investigar a causa, sua dor e a sua liberdade".
A artista e produtora Cândida Monte, de Curitiba (PR), enfatiza:
“Sheila Ribeiro é uma mulher que escolhe atuar, pessoal e profissionalmente, com sinceridade e transparência. Age sempre de forma observadora, pensadora e questionadora. Tem um enorme interesse em discutir e refletir. Seu pensamento artístico emerge disso. Volta sua atenção à cultura para além das considerações sobre a estética, pensando o indivíduo através da arte”.
Sheila é filha de Majô Ribeiro, militante feminista que foi aluna de mestrado de Eva Blay e pesquisadora do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero da USP. Foi candidata derrotada a vereadora e a vice-prefeita em Osasco pelo PSDB.
A mãe, segundo Sheila, pouco se pronunciou sobre o episódio: “Só disse que achou bom que eu fiz isso pela questão da descriminalização do aborto”.
“Discussão de gênero sempre faz parte da minha vida, daí a minha indignação”, disse-me numa primeira conversa, que tivemos na quarta-feira. “No primeiro turno, votei no Plínio [de Arruda Sampaio, do Psol]. No segundo, voto na Dilma.”
“Eu não admito que a própria vítima se assemelhe ao seu opressor"
Na segunda conversa, Sheila, que já havia se mostrado assertiva no primeiro contato, foi bastante firme. Divertida, atenta, interessada, não titubeou um instante:
“As pessoas acharam que eu era falsa [personagem fake, inventado], muitos me agrediram, muitos insinuaram que eu tinha ganhado dinheiro. Eu fico muito triste e brava com essas coisas”.
” O que eu posso garantir é que Monica nos contou que fez aborto. Havia muitas outras pessoas que sabem que não é mentira o que eu disse”.
“Quando eu vi o Serra se esquivando no debate, tive um troço, fiquei indignada e fiz uma reflexão sobre o que é ser uma pessoa na privacidade e o que é ser uma pessoa pública”.
“A minha primeira preocupação foi exercer a minha cidadania. Acharam que eu fiz isso porque eu vivi praticamente a minha vida inteira de adulta no Canadá, onde as pessoas falam abertamente sobre esses assuntos e outros assuntos complexos de se abordar. O que me interessa é a saúde pública”.
“Algumas pessoas me dizem que tive coragem, outras ficaram assustadas de eu falar diretamente. Pensei: sou anormal? Acho que o meu jeito é por causa do Canadá. Depois que eu me formei na Unicamp, morei 11 anos lá. A minha vida adulta e profissional, eu desenvolvi lá. Tenho dupla nacionalidade”
“No Canadá, o aborto é legalizado. Eu te contei das clínicas de ginecologia lá [os serviços de saúde são públicos]? Você telefona, funciona assim. Bem-vinda à clínica da mulher. Para urgências, disque zero. Para consultas, disque 1. Para abortos, disque 2. Para exames, disque 3”.
“Um amigo disse: ‘E se a Monica e o Serra se converteram?’ Eu respondi. Vamos supor que a Monica e Serra se converteram à religião e se arrependeram do aborto que fizeram. Só que quando uma pessoa se arrepende perante Deus – o aborto é crime perante Deus –, eles fazem os seus Pai-Nossos, depois vão ser absolvidos e vão para o céu ou para o inferno. Quer dizer: é uma discussão religiosa”.
“Se a pessoa é religiosa, ninguém a obriga a fazer o aborto. Muito bem. A pessoa pode ser religiosa, dizer eu sou contra o aborto em todos os níveis, eu nunca vou fazer o aborto, porque é um crime perante Deus. Ok. Só que você pode não misturar essa coisa crime perante Deus, porque no Estado laico não tem Deus. O Estado laico é um Estado”.
“Quem é religioso, não é obrigado a fazer. Ponto. No Canadá, é visto como um problema de saúde pública”.
“As pessoas ficam me perguntando: você é a favor do aborto a partir de que mês? Quem sou eu para dizer quando, em que mês, como não deve? Tem vários países em que o aborto é legalizado, o Brasil tem que aprender com eles. Ponto”.
“O que me chocou mais, mais, mais, é que o aborto é uma questão de todos. Até uma pessoa militante contra a descriminalização do aborto já fez aborto. Além da Monica, eu cito a Benedita da Silva (PT), que é contra a descriminação do aborto e também fez aborto”.
“Significa o quê? Olha a lógica da matemática. Se eu sou contra a descriminalização, acho o aborto um crime e faço o meu clandestino, eu deixo criar uma coisa perversa em mim que é o contrário absoluto da cidadania. Morrer não é só porque tomou Cytotet, colocou agulha de crochê. Morrer é também não poder exercer a sua cidadania. Daí a importância da descriminalização”.
“Não significa que você precisa ficar contando para todo mundo que fez aborto… colocar no jornal que fez aborto. Mas, se você precisar fazer, você sabe que não é uma criminosa. Você sabe que não está morrendo por dentro por ter cometido um crime”.
“Agora se você é uma religiosa e faz aborto, está cometendo um crime religioso. É um problema seu cultural, social, religioso. Isso é um problema da pessoa” .
“O que mais deixou indignada, portanto, é que até as militantes contra o aborto fazem aborto”.
“Outra coisa que me chocou foi que a Mônica Serra no debate virou uma carta do jogo, assim como o pré-sal, a Petrobras, a banda larga, privatização. Então, diante de qualquer carta do jogo, o Serra não enfrentava, não dialogava…”.
“Para mim, todas eram cartas do jogo das quais ele ficava se esquivando. Mas eu fiquei mais sensível com a Monica Serra, porque eu a conheço. Na minha cabeça, misturou a relação da pessoa civil, que relatou ter feito aborto, e da pessoa simbólica, que estava ali fazendo campanha contra a descriminalização”.
“É como se eu estivesse no sofá e ouvisse alguém na televisão dizer que o Nelson Mandela é racista. Eu diria: como assim? O Nelson Mandela é negro, foi preso, lutou contra o apartheid… Tem alguma coisa errada. Aí eu escreveria um artigo: O que está acontecendo com o Nelson Mandela como pessoa pública. Ele mesmo é racista? Não é racista?
“A Monica Serra que existiu na minha realidade enquanto aluna é a Monica da família Allende, que fez aborto. A outra Monica Serra, que eu vi no debate, é uma citação do nome de uma pessoa, que era uma carta do jogo, uma Monica Serra simbólica, que virou uma carta do jogo. Só.”
“É uma tremenda contradição. Eu sou uma pessoa brasileira, como outras, que não tem medo de falar. Uma pessoa que foi lapidada em praça pública porque cometeu adultério não vai lutar para que isso exista. Afinal, ela foi vítima disso, concorda?”.
“Assim como eu disse no Facebook que nós devemos respeitar a Mônica Serra – evidentemente a figurativa, a metafórica –, está errado as pessoas se calarem. Eu como cidadã, mais ainda como ser humano, não admito que a professora que, traumatizada, falou para mim sobre a experiência do aborto que ela teve por causa da didatura"– é super importante citar o contexto –, venha hoje não considerar a sua própria dor que ela me fez escutar”.
“Eu sou uma artista. Quando exibo alguma obra, a pessoa está perdendo o tempo dela para ver a minha proposta comunicacional. A Monica Serra usou a aula de psicologia do movimento para falar disso. Acho lindo. Não acho que é problema. A Universidade é para isso mesmo. É para falar de aborto, de questões complexas ligadas ao ser humano. Aquela humanidade que ela dividiu com a gente, inclusive me ensinou a levantar e a escrever sobre isso no dia seguinte ao debate. Foi o fato que falou por si só“.
“Eu não gosto de que qualquer mulher tenha de fazer aborto por causa de uma ditadura. Então, eu não admito que essa própria vítima se assemelhe ao opressor”.
“Sei que tem várias pessoas me condenando. Escreveram em um post: “Ai, com uma amiga dessas…” Para começar, eu não sou amiga da Monica Serra. Eu fui aluna dela. Eu gosto dela. Mas por mais que eu goste do meu marido, da minha mãe, dos meus irmãos, do meu vizinho, quando uma pessoa faz uma coisa que é eticamente contra os meus valores humanistas, eu vou me colocar contrária. Eu vou dizer. Tal pessoa, eu gosto muito de você, mas não concordo politicamente com o seu posicionamento. Só isso. Então para mim a última coisa que interessa nessa coisa, nessa história é a Monica Serra. É a última”.
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Serra invade missa e toma vaia no Ceará
Reproduzo matéria de Saul Leblon, publicada no "Blog das Frases" no sítio Carta Maior:
"Isso é uma profanação"
Cristãos começam a reagir ao oportunismo religioso de Serra. A presença do candidato do conservadorismo nativo na missa da festa de São Francisco, em Canindé (CE), neste sábado, pode ter sido um ponto de inflexão.
A festa é o maior evento religioso da cidade. Quando chegou, Serra foi vaiado por manifestantes pró-Dilma. O candidato chegou a ser empurrado num início de conflito.
"Gostaria que a missa não fosse tumultuada com os políticos que aqui chegaram, por favor. Se vieram com outra intenção, peço que saiam assim como entraram. Isso é uma profanação", advretiu o celebrante olhando fixamente para a fileira da frente onde Serra estava.
Perto do fim da missa, o frade exibiu um panfleto contra Dilma e foi mais duro ainda: "Acusam a candidata do PT em nome da igreja. Não é verdade". A plateia aplaudiu. "Não está autorizada essa coisa. A igreja não está autorizando essas coisas". Mais aplausos. Serra saiu à francesa.
Indignação também nas universidades
Inteligência brasileira se une contra um retrocesso chamado Serra.
Intelectuais e artistas brasileiros se mobilizam em todo o país em manifestações de protesto e indignação contra as metas e os métodos adotados pela candidatura do conservadorismo brasileiro. Circulam pelas universidades e na Internet o "Manifesto dos Reitores contra Serra"; o "Manifesto dos Professores de Filosofia contra Serra"; o "Manifesto dos Artistas e Intelectuais contra Serra". O mais recente documento, que ontem já reunia cerca de 680 assinaturas, é o manifesto dos professores universitários que abre com a seguinte frase:
"Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra".
Porto Alegre se levanta
Tarso Genro mobiliza dois mil militantes.
"Um tom de urgência, gravidade e intensa mobilização marcou praticamente todas as intervenções".
No Rio, na 2º feira, dia 18, no teatro Casa Grande, intelectuais liderados por Chico Buarque, Emir Sader, Eric Nepomuceno e Leonardo Boff entregam manifesto de apoio a Dilma Rousseff.
Em São Paulo, na 3º feira, dia 19, às 19 horas, a campanha pró-Dilma tem encontro marcado na PUC-SP, Monte Alegre ,1024. O ato está sendo organizado pelo jurista Celso Antônio Bandeira de Mello e pelo teólogo Mário Sérgio Cortella.
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"Isso é uma profanação"
Cristãos começam a reagir ao oportunismo religioso de Serra. A presença do candidato do conservadorismo nativo na missa da festa de São Francisco, em Canindé (CE), neste sábado, pode ter sido um ponto de inflexão.
A festa é o maior evento religioso da cidade. Quando chegou, Serra foi vaiado por manifestantes pró-Dilma. O candidato chegou a ser empurrado num início de conflito.
"Gostaria que a missa não fosse tumultuada com os políticos que aqui chegaram, por favor. Se vieram com outra intenção, peço que saiam assim como entraram. Isso é uma profanação", advretiu o celebrante olhando fixamente para a fileira da frente onde Serra estava.
Perto do fim da missa, o frade exibiu um panfleto contra Dilma e foi mais duro ainda: "Acusam a candidata do PT em nome da igreja. Não é verdade". A plateia aplaudiu. "Não está autorizada essa coisa. A igreja não está autorizando essas coisas". Mais aplausos. Serra saiu à francesa.
Indignação também nas universidades
Inteligência brasileira se une contra um retrocesso chamado Serra.
Intelectuais e artistas brasileiros se mobilizam em todo o país em manifestações de protesto e indignação contra as metas e os métodos adotados pela candidatura do conservadorismo brasileiro. Circulam pelas universidades e na Internet o "Manifesto dos Reitores contra Serra"; o "Manifesto dos Professores de Filosofia contra Serra"; o "Manifesto dos Artistas e Intelectuais contra Serra". O mais recente documento, que ontem já reunia cerca de 680 assinaturas, é o manifesto dos professores universitários que abre com a seguinte frase:
"Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra".
Porto Alegre se levanta
Tarso Genro mobiliza dois mil militantes.
"Um tom de urgência, gravidade e intensa mobilização marcou praticamente todas as intervenções".
No Rio, na 2º feira, dia 18, no teatro Casa Grande, intelectuais liderados por Chico Buarque, Emir Sader, Eric Nepomuceno e Leonardo Boff entregam manifesto de apoio a Dilma Rousseff.
Em São Paulo, na 3º feira, dia 19, às 19 horas, a campanha pró-Dilma tem encontro marcado na PUC-SP, Monte Alegre ,1024. O ato está sendo organizado pelo jurista Celso Antônio Bandeira de Mello e pelo teólogo Mário Sérgio Cortella.
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Manifesto dos movimento sociais pró-Dilma
Reproduzo manifesto encabeçado pela Via Campensina e MST, intitulado "Vamos eleger Dilma Rousseff presidenta do Brasil":
No início do processo eleitoral deste ano, os movimentos sociais e a Via Campesina Brasil tomaram a decisão política de empenhar esforços para eleger o maior número possível de parlamentares e governadores identificados com as bandeiras populares da classe trabalhadora, com o aprofundamento da democracia e soberania brasileira e com políticas que combatam a concentração da propriedade e da renda em nosso país.
Quanto à eleição presidencial, as organizações populares que compõem a Via Campesina decidiram lutar para que não houvesse a vitória eleitoral de uma proposta neoliberal, representando pela candidatura do tucano José Serra. Passando o primeiro turno dessa campanha eleitoral, realizado em 3 de outubro, queremos, com este comunicado ao povo brasileiro, manifestar nossa decisão política frente às eleições deste ano.
Avaliação do 1º turno
As renovações que aconteceram nas Assembleias estaduais, na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, além da eleição e reeleição de governadores progressistas, são alvissareiras. No Senado Federal, especialmente, fomos vitoriosos com a eleição de companheiros e companheiras identificadas com as nossas lutas e com a não eleição de senadores que se notabilizaram pela perseguição aos movimentos sociais, identificados com os interesses do agronegócio.
Destacamos como vitória a derrota eleitoral do governo tucano de Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul, que se notabilizou, juntamente com o governo tucano de São Paulo, pelo controle da mídia, criminalização dos movimentos sociais e repressão à luta pela reforma agrária, aos movimentos de moradia e ao movimento dos professores da rede pública estadual.
Em relação às campanhas presidenciais, não transcorreram debates em torno de projetos políticos e dos problemas principais que afetam a população brasileira. A campanha de Dilma Rousseff (PT) buscou apenas, de forma pragmática, divulgar o desenvolvimento econômico e as políticas sociais do governo Lula, apoiando-se na popularidade e nos enorme índices de aprovação do atual governo. Com essa estratégia, obteve quase 47% dos votos, que foram insuficientes para vencer no primeiro turno.
A candidatura de José Serra (PSDB) nos surpreendeu, não por sua identificação com as políticas neoliberais, e sim pelo baixo nível da sua campanha presidencial. Foi agressivo e perseguiu jornalistas em entrevistas, tentou interferir em julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF), espalhou mentiras e acusações infundadas.
Chegou a usar a própria esposa, que percorreu as ruas de Niterói (RJ) dizendo que Dilma Rousseff “é a favor de matar as criancinhas”. Somente uma candidatura sem nenhum compromisso com a ética e com a verdade, contando com o total controle sobre a mídia, pode desenvolver uma campanha de tão baixo nível. A biografia do candidato já é a maior derrotada nestas eleições.
A candidatura de Marina Silva (PV) cumpriu o objetivo a que se propôs: provocar o segundo turno nesta campanha eleitoral. O tempo dirá se o seu êxito serviu para fortalecer a democracia ou simplesmente foi utilizada pelas forças conservadoras, para que retornassem ao governo.
Já as candidaturas identificadas com os partidos de esquerda, que utilizaram o espaço eleitoral para defender os interesses da classe trabalhadora, infelizmente tiveram uma votação inexpressiva.
O descenso social que temos há duas décadas em nosso país, a fragmentação das organizações da classe trabalhadora e a fragilidade da política de comunicação com a sociedade certamente influíram no resultado eleitoral. Cabe uma auto-crítica aos partidos políticos que se limitam apenas às campanhas eleitorais para dialogar com a sociedade. E que não falte daqui pra frente trabalho de base e a formação política permanente.
As eleições deste ano demonstraram o poder nefasto e antidemocrático da mídia. Mas, por outro lado, foi potencializada uma rede de comunicadores independentes, comprometidos com a liberdade de expressão e com o direito à informação, e que enfrentam aguerridamente o monopólio dos meios de comunicação em nosso país. São avanços rumo à democratização da informação e na construção de uma comunicação democrática e plural, com a participação da sociedade.
O 2º turno
Nós reafirmamos nosso compromisso em defesa das bandeiras de lutas da classe trabalhadora e na construção de um país democrático, socialmente justo e soberano. Independentemente do governo eleito, seja ele qual for, iremos lutar de forma intransigente pela expansão das liberdades e dos direitos democráticos oprimidos.
Vamos lutar também por mudanças nas instituições e serviços públicos, em benefício da ampla maioria da população; combater aos monopólios para o desenvolvimento com soberania e distribuição de renda; defender as conquistas trabalhistas, a redução da jornada de trabalho, o direito de greve para os servidores públicos; a Previdência Social pública, de boa qualidade, pelo fim do fator previdenciário
Defendemos também a realização de uma reforma urbana, com moradia, saneamento básico, transporte público e segurança; a construção de serviços de saúde universal e de boa qualidade; reformas na educação pública e promoção da cultura nacional-popular com caráter universal; o fim do latifúndio, limite do capital estrangeiro sobre os nossos recursos naturais e a realização de uma Reforma Agrária anti-latifundiária; a implantação de novas relações da sociedade com o meio ambiente e efetivação uma política externa de autodeterminação, solidariedade aos povos e que priorize a integração dos povos do continente latino-americano e do Caribe.
Infelizmente, os avanços do governo Lula em direção a essas bandeiras democrático-populares foram insuficientes, em que pese o acerto de sua política externa. Também nos preocupa constatar que, no arco de alianças da candidatura de Dilma Rousseff, há forças políticas que se contrapõem a essas demandas sociais.
Porém, temos uma certeza: José Serra, por sua campanha, pelo seu governo no Estado de São Paulo e pelos oito anos de governo FHC, tornou-se o inimigo dessas bandeiras de lutas. Pelo caráter anti-democrático e anti-popular dos partidos que compõem sua aliança eleitoral e por sua personalidade autoritária, estamos convictos que uma possível vitória sua significará um retrocesso para os movimentos sociais e populares em nosso país, para as conquistas democráticas em nosso continente e uma maior subordinação ao império dos Estados Unidos. Esse retrocesso não queremos que aconteça.
Nossa posição nessa conjuntura
Assim, os movimentos sociais e a Via Campesina Brasil afirmam o seu apoio e compromisso de lutar para eleger a candidata Dilma Rousseff para o cargo de presidenta do Brasil. Queremos nos juntar aos movimentos sindicais, populares, estudantis, religiosos e progressistas para promover debates com a sociedade, desmascarar a propaganda enganosa dos neoliberais e autoritários e exigir avanços na democracia, nas políticas públicas que favoreçam a população, no combate aos corruptos e corruptores e na democratização do poder em nosso país.
Precisamos derrotar a candidatura Serra, que representa as forças direitistas e fascistas do país. Devemos seguir organizando o povo para que lute por seus direitos e mudanças sociais, mantendo sempre nossa autonomia política frente aos governos.
Conclamamos a militância de todos os movimentos sociais, os lutadores e lutadoras do povo brasileiro, para se engajarem nessa luta, que é importantíssima para a classe trabalhadora.
Vamos à luta!! Vamos eleger Dilma Rousseff presidenta do Brasil.
- Via Campesina Brasil
- Movimento dos Atingidos por Barragens- MAB
- Movimento das Mulheres Camponesas- MMC
- Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA
- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra- MST
- Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil- FEAB
- Assembléia Popular- PE
- Centro de Estudos Barão de Itararé
- Fórum Brasileiro de Economia Solidária
- Marcha Mundial das Mulheres- MMM
- Movimento Camponês Popular- MCP
- Rede Brasileira de Integração dos Povos- REBRIP
- Rede de Educação Cidadã Sudeste- RECID
- Sindicato dos Engenheiros do Paraná- Senge-PR
- Uniao de Estudantes Afrodescendentes-UNEAFRO
- Projeto Popular
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No início do processo eleitoral deste ano, os movimentos sociais e a Via Campesina Brasil tomaram a decisão política de empenhar esforços para eleger o maior número possível de parlamentares e governadores identificados com as bandeiras populares da classe trabalhadora, com o aprofundamento da democracia e soberania brasileira e com políticas que combatam a concentração da propriedade e da renda em nosso país.
Quanto à eleição presidencial, as organizações populares que compõem a Via Campesina decidiram lutar para que não houvesse a vitória eleitoral de uma proposta neoliberal, representando pela candidatura do tucano José Serra. Passando o primeiro turno dessa campanha eleitoral, realizado em 3 de outubro, queremos, com este comunicado ao povo brasileiro, manifestar nossa decisão política frente às eleições deste ano.
Avaliação do 1º turno
As renovações que aconteceram nas Assembleias estaduais, na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, além da eleição e reeleição de governadores progressistas, são alvissareiras. No Senado Federal, especialmente, fomos vitoriosos com a eleição de companheiros e companheiras identificadas com as nossas lutas e com a não eleição de senadores que se notabilizaram pela perseguição aos movimentos sociais, identificados com os interesses do agronegócio.
Destacamos como vitória a derrota eleitoral do governo tucano de Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul, que se notabilizou, juntamente com o governo tucano de São Paulo, pelo controle da mídia, criminalização dos movimentos sociais e repressão à luta pela reforma agrária, aos movimentos de moradia e ao movimento dos professores da rede pública estadual.
Em relação às campanhas presidenciais, não transcorreram debates em torno de projetos políticos e dos problemas principais que afetam a população brasileira. A campanha de Dilma Rousseff (PT) buscou apenas, de forma pragmática, divulgar o desenvolvimento econômico e as políticas sociais do governo Lula, apoiando-se na popularidade e nos enorme índices de aprovação do atual governo. Com essa estratégia, obteve quase 47% dos votos, que foram insuficientes para vencer no primeiro turno.
A candidatura de José Serra (PSDB) nos surpreendeu, não por sua identificação com as políticas neoliberais, e sim pelo baixo nível da sua campanha presidencial. Foi agressivo e perseguiu jornalistas em entrevistas, tentou interferir em julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF), espalhou mentiras e acusações infundadas.
Chegou a usar a própria esposa, que percorreu as ruas de Niterói (RJ) dizendo que Dilma Rousseff “é a favor de matar as criancinhas”. Somente uma candidatura sem nenhum compromisso com a ética e com a verdade, contando com o total controle sobre a mídia, pode desenvolver uma campanha de tão baixo nível. A biografia do candidato já é a maior derrotada nestas eleições.
A candidatura de Marina Silva (PV) cumpriu o objetivo a que se propôs: provocar o segundo turno nesta campanha eleitoral. O tempo dirá se o seu êxito serviu para fortalecer a democracia ou simplesmente foi utilizada pelas forças conservadoras, para que retornassem ao governo.
Já as candidaturas identificadas com os partidos de esquerda, que utilizaram o espaço eleitoral para defender os interesses da classe trabalhadora, infelizmente tiveram uma votação inexpressiva.
O descenso social que temos há duas décadas em nosso país, a fragmentação das organizações da classe trabalhadora e a fragilidade da política de comunicação com a sociedade certamente influíram no resultado eleitoral. Cabe uma auto-crítica aos partidos políticos que se limitam apenas às campanhas eleitorais para dialogar com a sociedade. E que não falte daqui pra frente trabalho de base e a formação política permanente.
As eleições deste ano demonstraram o poder nefasto e antidemocrático da mídia. Mas, por outro lado, foi potencializada uma rede de comunicadores independentes, comprometidos com a liberdade de expressão e com o direito à informação, e que enfrentam aguerridamente o monopólio dos meios de comunicação em nosso país. São avanços rumo à democratização da informação e na construção de uma comunicação democrática e plural, com a participação da sociedade.
O 2º turno
Nós reafirmamos nosso compromisso em defesa das bandeiras de lutas da classe trabalhadora e na construção de um país democrático, socialmente justo e soberano. Independentemente do governo eleito, seja ele qual for, iremos lutar de forma intransigente pela expansão das liberdades e dos direitos democráticos oprimidos.
Vamos lutar também por mudanças nas instituições e serviços públicos, em benefício da ampla maioria da população; combater aos monopólios para o desenvolvimento com soberania e distribuição de renda; defender as conquistas trabalhistas, a redução da jornada de trabalho, o direito de greve para os servidores públicos; a Previdência Social pública, de boa qualidade, pelo fim do fator previdenciário
Defendemos também a realização de uma reforma urbana, com moradia, saneamento básico, transporte público e segurança; a construção de serviços de saúde universal e de boa qualidade; reformas na educação pública e promoção da cultura nacional-popular com caráter universal; o fim do latifúndio, limite do capital estrangeiro sobre os nossos recursos naturais e a realização de uma Reforma Agrária anti-latifundiária; a implantação de novas relações da sociedade com o meio ambiente e efetivação uma política externa de autodeterminação, solidariedade aos povos e que priorize a integração dos povos do continente latino-americano e do Caribe.
Infelizmente, os avanços do governo Lula em direção a essas bandeiras democrático-populares foram insuficientes, em que pese o acerto de sua política externa. Também nos preocupa constatar que, no arco de alianças da candidatura de Dilma Rousseff, há forças políticas que se contrapõem a essas demandas sociais.
Porém, temos uma certeza: José Serra, por sua campanha, pelo seu governo no Estado de São Paulo e pelos oito anos de governo FHC, tornou-se o inimigo dessas bandeiras de lutas. Pelo caráter anti-democrático e anti-popular dos partidos que compõem sua aliança eleitoral e por sua personalidade autoritária, estamos convictos que uma possível vitória sua significará um retrocesso para os movimentos sociais e populares em nosso país, para as conquistas democráticas em nosso continente e uma maior subordinação ao império dos Estados Unidos. Esse retrocesso não queremos que aconteça.
Nossa posição nessa conjuntura
Assim, os movimentos sociais e a Via Campesina Brasil afirmam o seu apoio e compromisso de lutar para eleger a candidata Dilma Rousseff para o cargo de presidenta do Brasil. Queremos nos juntar aos movimentos sindicais, populares, estudantis, religiosos e progressistas para promover debates com a sociedade, desmascarar a propaganda enganosa dos neoliberais e autoritários e exigir avanços na democracia, nas políticas públicas que favoreçam a população, no combate aos corruptos e corruptores e na democratização do poder em nosso país.
Precisamos derrotar a candidatura Serra, que representa as forças direitistas e fascistas do país. Devemos seguir organizando o povo para que lute por seus direitos e mudanças sociais, mantendo sempre nossa autonomia política frente aos governos.
Conclamamos a militância de todos os movimentos sociais, os lutadores e lutadoras do povo brasileiro, para se engajarem nessa luta, que é importantíssima para a classe trabalhadora.
Vamos à luta!! Vamos eleger Dilma Rousseff presidenta do Brasil.
- Via Campesina Brasil
- Movimento dos Atingidos por Barragens- MAB
- Movimento das Mulheres Camponesas- MMC
- Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA
- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra- MST
- Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil- FEAB
- Assembléia Popular- PE
- Centro de Estudos Barão de Itararé
- Fórum Brasileiro de Economia Solidária
- Marcha Mundial das Mulheres- MMM
- Movimento Camponês Popular- MCP
- Rede Brasileira de Integração dos Povos- REBRIP
- Rede de Educação Cidadã Sudeste- RECID
- Sindicato dos Engenheiros do Paraná- Senge-PR
- Uniao de Estudantes Afrodescendentes-UNEAFRO
- Projeto Popular
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O PSTU e a metafísica do absenteísmo
Reproduzo artigo de polêmica enviado pelo professor José Ricardo Figueiredo:
No segundo turno destas eleições, o PSTU recomendou voto nulo a seus militantes e eleitores, como já fizera em 2006. O PSOL estuda a questão, não tendo repetido o intempestivo voto nulo decretado por Heloísa Helena logo no início do segundo turno, e acatado pelo partido. Mas muitos no PSOL se inclinam pela mesma tendência de voto nulo. Acreditam que esta é a postura coerente com seu discurso do primeiro turno, onde buscaram diferenciar-se das principais candidaturas denunciando-as todas como parte de um mesmo “tudo que está aí”.
De fato, nenhuma das principais candidaturas ostentou propostas de enfrentamento das relações capitalistas em geral, nem de redistribuição radical das rendas ou das propriedades. Pelo ângulo dos que defendem um discurso explicitamente socialista, há fundamentos lógicos para a defesa da abstenção.
É fato que, pela complexidade e amplitude das questões políticas, há também fundamentos lógicos para uma postura distinta. Por exemplo, num debate em que Plínio foi perguntado por Serra a respeito das relações Brasil-Irã, ele defendeu, na prática, a atual política brasileira. Em vista da importância da questão da paz mundial, esta aproximação com a atual linha da política brasileira, por si só, justificaria um apoio crítico no segundo turno. Entretanto, a concordância foi pontual, enquanto as falas nos debates e a propaganda do PSOL, como do PSTU, enfatizaram as divergências.
Algumas vezes, as divergências se manifestaram de forma injusta, como quando Plínio foi perguntado por Dilma sobre o ProUni e o ReUni. Respondeu o esperado acerca do ProUni, criticando o financiamento das escolas privadas. Mas também não deu o braço a torcer pelo ReUni, que virou “política do Banco Mundial”. Ora, o Reuni é uma expressiva ampliação das universidades federais, na qual os novos professores vem sendo contratados por meio de concursos públicos, tal como o movimento docente, discente e de funcionários sempre defendeu. Por razões táticas, para marcar diferença e não valorizar a adversária, Plínio passou por cima de uma das bandeiras históricas mais importantes destes movimentos. Nestes pontos, portanto, a defesa do voto nulo é coerente com o erro.
Mas isto não é a essência da questão. A coerência que se busca é a coerência com uma política de explicitação de um projeto socialista. E a que leva tal coerência lógica?
Temos neste segundo turno uma acirrada oposição entre dois campos, o que governou entre 1995 e 2002, e o que governou entre 2003 e 2010. O acirramento se vê, principalmente, pela imprensa, instrumento central da política em situações democráticas. Por mais heterogênea que seja a composição de cada um destes dois campos, toda a grande imprensa defende, sem exceção, o retorno do primeiro campo ao poder. Esta polarização não é nova. Ocorreu nas eleições de 2006, de 2002, e mesmo na de 1989. E lembra muito as polarizações de um passado mais remoto, como a crise de 1954, que levou ao suicídio de Vargas, e a campanha pró-golpe de 1964.
É diante desta luta feroz que PSTU defende, e talvez o PSOL venha a defender, em termos de coerência lógica, o voto nulo. A soma dos votos obtidos por estes dois partidos no primeiro turno foi aproximadamente 1% do total dos votos válidos. Mas a coerência lógica com o discurso que lhes propiciou tal votação é o motivo para lavar as mãos, soberbamente, diante da luta em que se engalfinharão os outros 99% da população.
Evidentemente, esta lógica é profundamente idealista, metafísica, por que parte do discurso, dos projetos idealizados para o futuro, e ignora a realidade material, a luta objetiva que se desenvolve no momento. Supostamente revolucionária, esta lógica nada tem a ver com o marxismo e o leninismo, que reiteradamente insistem na essencialidade da estratégia e da tática políticas se fundarem nas análises concretas das situações concretas. O absenteísmo é antagônico à política como práxis de enfrentamento das contradições reais da sociedade, tal como se manifestam efetivamente, e só se fundamenta em formulações teóricas abstratas.
Entretanto, isto não significa que o absenteísmo não tenha conseqüências concretas. Tem, porque o absenteísmo não é neutro. Não se vê nenhum militante de extrema direita pregar o voto nulo porque, por exemplo, em seu passado, Serra, tal como Dilma, pertenceu a grupo de resistência à ditadura militar. A propaganda absenteísta não tem a pretensão de convencer partidários de Serra a mudarem de idéia e anular seu voto. Seu alvo são eleitores possivelmente simpáticos a Dilma, mas que tenham divergências em relação ao projeto em andamento.
Mas, afinal, o que vale este pequeno detalhe prático para quem tanto valoriza a coerência do discurso na construção do socialismo ideal? Diante de ideais tão sublimes, que importam as conseqüências imediatas? Bem feito para Dilma, para Lula, para todos aqueles que decepcionaram os defensores do socialismo ideal! Bem feito para a população em geral, que ainda não percebeu a magnificência do ideário socialista, e continua a fiar-se no reformismo, aliás, “melhorismo”!
Este ponto de vista tem sua coerência. Pelo menos para quem não depende de bolsa-família, nem do aumento real de salário mínimo. Para quem não valoriza a criação de empregos neste sujo mundo capitalista. Nem a diminuição das desigualdades regionais. Nem a política externa soberana e pacifista, incluindo os esforços de integração latino-americana. Nem a interrupção das privatizações a toque de caixa e a preço de esterco. Nem o aumento dos investimentos em universidades e em pesquisa. Para quem, enfim, defende um socialismo tão lindo, tão distributivista, tão democrático, tão ecológico, tão ideal, que as humildes conquistas do presente são irrelevantes. Abstraindo, evidentemente, um ou outro infiltrado, que defende o voto nulo de esquerda precisamente pelas conseqüências práticas em favor da direita.
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Em tempo: O texto de polêmica de José Ricardo Figueiredo foi escrito antes da executiva nacional do PSOL aprovar a resolução "Nenhum voto em Serra", liberando seus militantes para o voto crítico em Dilma ou voto nulo.
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No segundo turno destas eleições, o PSTU recomendou voto nulo a seus militantes e eleitores, como já fizera em 2006. O PSOL estuda a questão, não tendo repetido o intempestivo voto nulo decretado por Heloísa Helena logo no início do segundo turno, e acatado pelo partido. Mas muitos no PSOL se inclinam pela mesma tendência de voto nulo. Acreditam que esta é a postura coerente com seu discurso do primeiro turno, onde buscaram diferenciar-se das principais candidaturas denunciando-as todas como parte de um mesmo “tudo que está aí”.
De fato, nenhuma das principais candidaturas ostentou propostas de enfrentamento das relações capitalistas em geral, nem de redistribuição radical das rendas ou das propriedades. Pelo ângulo dos que defendem um discurso explicitamente socialista, há fundamentos lógicos para a defesa da abstenção.
É fato que, pela complexidade e amplitude das questões políticas, há também fundamentos lógicos para uma postura distinta. Por exemplo, num debate em que Plínio foi perguntado por Serra a respeito das relações Brasil-Irã, ele defendeu, na prática, a atual política brasileira. Em vista da importância da questão da paz mundial, esta aproximação com a atual linha da política brasileira, por si só, justificaria um apoio crítico no segundo turno. Entretanto, a concordância foi pontual, enquanto as falas nos debates e a propaganda do PSOL, como do PSTU, enfatizaram as divergências.
Algumas vezes, as divergências se manifestaram de forma injusta, como quando Plínio foi perguntado por Dilma sobre o ProUni e o ReUni. Respondeu o esperado acerca do ProUni, criticando o financiamento das escolas privadas. Mas também não deu o braço a torcer pelo ReUni, que virou “política do Banco Mundial”. Ora, o Reuni é uma expressiva ampliação das universidades federais, na qual os novos professores vem sendo contratados por meio de concursos públicos, tal como o movimento docente, discente e de funcionários sempre defendeu. Por razões táticas, para marcar diferença e não valorizar a adversária, Plínio passou por cima de uma das bandeiras históricas mais importantes destes movimentos. Nestes pontos, portanto, a defesa do voto nulo é coerente com o erro.
Mas isto não é a essência da questão. A coerência que se busca é a coerência com uma política de explicitação de um projeto socialista. E a que leva tal coerência lógica?
Temos neste segundo turno uma acirrada oposição entre dois campos, o que governou entre 1995 e 2002, e o que governou entre 2003 e 2010. O acirramento se vê, principalmente, pela imprensa, instrumento central da política em situações democráticas. Por mais heterogênea que seja a composição de cada um destes dois campos, toda a grande imprensa defende, sem exceção, o retorno do primeiro campo ao poder. Esta polarização não é nova. Ocorreu nas eleições de 2006, de 2002, e mesmo na de 1989. E lembra muito as polarizações de um passado mais remoto, como a crise de 1954, que levou ao suicídio de Vargas, e a campanha pró-golpe de 1964.
É diante desta luta feroz que PSTU defende, e talvez o PSOL venha a defender, em termos de coerência lógica, o voto nulo. A soma dos votos obtidos por estes dois partidos no primeiro turno foi aproximadamente 1% do total dos votos válidos. Mas a coerência lógica com o discurso que lhes propiciou tal votação é o motivo para lavar as mãos, soberbamente, diante da luta em que se engalfinharão os outros 99% da população.
Evidentemente, esta lógica é profundamente idealista, metafísica, por que parte do discurso, dos projetos idealizados para o futuro, e ignora a realidade material, a luta objetiva que se desenvolve no momento. Supostamente revolucionária, esta lógica nada tem a ver com o marxismo e o leninismo, que reiteradamente insistem na essencialidade da estratégia e da tática políticas se fundarem nas análises concretas das situações concretas. O absenteísmo é antagônico à política como práxis de enfrentamento das contradições reais da sociedade, tal como se manifestam efetivamente, e só se fundamenta em formulações teóricas abstratas.
Entretanto, isto não significa que o absenteísmo não tenha conseqüências concretas. Tem, porque o absenteísmo não é neutro. Não se vê nenhum militante de extrema direita pregar o voto nulo porque, por exemplo, em seu passado, Serra, tal como Dilma, pertenceu a grupo de resistência à ditadura militar. A propaganda absenteísta não tem a pretensão de convencer partidários de Serra a mudarem de idéia e anular seu voto. Seu alvo são eleitores possivelmente simpáticos a Dilma, mas que tenham divergências em relação ao projeto em andamento.
Mas, afinal, o que vale este pequeno detalhe prático para quem tanto valoriza a coerência do discurso na construção do socialismo ideal? Diante de ideais tão sublimes, que importam as conseqüências imediatas? Bem feito para Dilma, para Lula, para todos aqueles que decepcionaram os defensores do socialismo ideal! Bem feito para a população em geral, que ainda não percebeu a magnificência do ideário socialista, e continua a fiar-se no reformismo, aliás, “melhorismo”!
Este ponto de vista tem sua coerência. Pelo menos para quem não depende de bolsa-família, nem do aumento real de salário mínimo. Para quem não valoriza a criação de empregos neste sujo mundo capitalista. Nem a diminuição das desigualdades regionais. Nem a política externa soberana e pacifista, incluindo os esforços de integração latino-americana. Nem a interrupção das privatizações a toque de caixa e a preço de esterco. Nem o aumento dos investimentos em universidades e em pesquisa. Para quem, enfim, defende um socialismo tão lindo, tão distributivista, tão democrático, tão ecológico, tão ideal, que as humildes conquistas do presente são irrelevantes. Abstraindo, evidentemente, um ou outro infiltrado, que defende o voto nulo de esquerda precisamente pelas conseqüências práticas em favor da direita.
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Em tempo: O texto de polêmica de José Ricardo Figueiredo foi escrito antes da executiva nacional do PSOL aprovar a resolução "Nenhum voto em Serra", liberando seus militantes para o voto crítico em Dilma ou voto nulo.
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