Por Paulo Nogueira Batista Jr.
“Quando a China despertar o mundo inteiro tremerá”. Profecia atribuída a Napoleão Bonaparte.
Que consequências a crise do coronavírus terá para o quadro geopolítico, em especial para as posições dos Estados Unidos e da China? Eis aí uma questão obscura e repleta de incertezas, mas isso não é motivo para ignorá-la. Afinal, questões essenciais são mesmo obscuras e incertas. Os temas claros e previsíveis são os secundários ou aqueles já de alguma forma equacionados.
Quando o novo vírus apareceu em Wuhan, órgãos importantes da mídia ocidental, particularmente nos Estados Unidos, receberam a notícia com mal disfarçada satisfação. Larga divulgação foi dada a especialistas e comentaristas que previram graves dificuldades para a China. Falou-se até em ameaça ao poder do presidente Xi Jinping, que seria fatalmente responsabilizado pela crise de saúde pública.
Não foi o que se viu, entretanto. Severa e radical, a reação chinesa surtiu efeito rapidamente e conseguiu conter, por enquanto, a propagação do vírus no país. O custo foi alto em termos econômicos e sociais, mas os resultados vieram em pouco tempo, surpreendendo especialistas ocidentais e frustrando aqueles que esperavam a eclosão de uma crise política na China.
A resposta chinesa não foi inteiramente surpreendente para mim. Conheço um pouco esse grande país em razão de ter lá residido por mais de dois anos, quando exerci o cargo de primeiro vice-presidente brasileiro do Novo Banco de Desenvolvimento estabelecido pelos BRICS em Xangai. Também tive contato frequente com autoridades e funcionários chineses nos oito anos em que trabalhei na diretoria do FMI em Washington.
As minhas observações sobre a China estão registradas em livro que publiquei no final do ano passado: O Brasil não cabe no quintal de ninguém (editora LeYa). Os chineses combinam capacidade de trabalho com disciplina. Atuam de forma organizada e coordenada sob comando do Estado. O indivíduo é parte de uma engrenagem maior e aceita essa realidade como natural. A economia e a sociedade são rigorosamente planejadas. Tendo tido experiência prévia recente com epidemias graves, a China visivelmente dispunha de um plano de contingência, que foi posto em prática com velocidade fulminante. Erros foram cometidos, sem dúvida, mas a recuperação impressiona.
Em contraste, a resposta nos Estados Unidos e na maior parte do Ocidente foi confusa, claudicante, pouco eficaz. Na comparação com os chineses, americanos e europeus saíram-se mal no combate à pandemia. O saldo por enquanto é totalmente oposto ao que previam (ou desejavam) alguns especialistas ocidentais. A China sofre com a crise, como todos, mas começa a sair dela com prestígio basicamente intacto.
Isso para desespero dos Estados Unidos. Conheço os americanos até melhor, e também registrei as minhas impressões sobre eles no livro recém-lançado. Um traço da psicologia americana: a preocupação ou, melhor dizendo, a obsessão em ser o número 1. Nos últimos dez, quinze anos, os americanos assistem com preocupação a ascensão da China. Em outras épocas, a rivalidade era com a União Soviética, depois foi com o Japão. Mas, já há algum tempo, a China é vista como uma grande ameaça, provavelmente sem precedentes, à liderança mundial a que os americanos tanto se apegam. Donald Trump partiu para a ignorância, mas o não foi ele que inventou o problema. O nervosismo é generalizado no establishment americano, e não é de hoje que sentimentos anti-chineses predominam entre republicanos e democratas.
A posição americana é mais difícil do que talvez pareça. A crise do coronavírus e a reação atabalhoada à pandemia constituem, na verdade, o terceiro grande choque para a hegemonia dos Estados Unidos em um período de pouco mais de dez anos. O primeiro abalo foi a grande crise financeira internacional de 2008-2010 que teve origem, como se sabe, no sistema financeiro americano. Essa crise abalou não só a economia, mas também o prestígio dos americanos e a confiança nas políticas financeiras e econômicas por eles preconizadas. Até os satélites mais fiéis começaram a ter algumas dúvidas.
A forma como a crise financeira foi enfrentada preparou o terreno para o segundo grande abalo. Prevaleceu a percepção de que o governo deu prioridade a salvar os grandes bancos, abandonando a classe média e os mais pobres à própria sorte. O ressentimento e a frustração com a concentração da renda e da riqueza deram lugar à ascensão do populismo de direita que conduziria à eleição de Trump e solaparia, ainda mais, o prestígio e a influência dos Estados Unidos.
Não se deve perder de vista que a presidência de Trump representa uma descontinuidade importante nas relações internacionais dos Estados Unidos. Modificou-se a maneira de exercer o poder americano. O imperialismo americano, antes disfarçado por camadas variadas de ideologia, valores “universais”, sedução e soft power, passou a ser exercido de forma nua e crua. America first foi o lema de Trump desde o início e, de forma ainda mais desabrida, durante a pandemia.
Essa forma de atuar é prejudicial aos Estados Unidos, pois o poder se fragiliza quando depende apenas da força e da intimidação. Tosco como é, Trump não compreende a importância estratégica da hipocrisia. Certamente nunca leu La Rochefoucauld para quem “a hipocrisia é a homenagem do vício à virtude”. Ao descartá-la, Trump fragiliza a hegemonia americana e aumenta as resistências a ela. Munido das suas intuições e improvisações, superestimando provavelmente o poder americano, Trump vem fazendo inimigos e afastando até aliados tradicionais como a União Europeia e o Canadá. E trata com indisfarçado desprezo os seus satélites, inclusive o lacaio de Brasília. Perdeu a confiança dos seus interlocutores e se enfraqueceu para a disputa primordial com a China.
Trump tem certamente seus pontos fortes ou não teria chegado à presidência dos Estados Unidos. Mas o que mais chama a atenção é o seu despreparo, que apareceu de forma escancarada durante a pandemia. A sua tendência é governar na base dos rompantes e do improviso, sem respeitar a opinião dos cientistas e especialistas. Cerca-se de auxiliares medianos, que se destacam mais pela lealdade ao chefe do que por sua competência profissional e política.
Quando veio a emergência, o primeiro instinto de Trump foi negacionista, minimizando o tamanho da ameaça. Preocupado com a sua reeleição, não quis inicialmente aceitar a necessidade de medidas drásticas de distanciamento social. Entrou em choque com os governadores dos Estados mais atingidos, buscando transferir a culpa pelo impacto das medidas preventivas sobre a economia a e o emprego. Resultado: os Estados Unidos demoraram a reagir ao desafio e se tornaram em pouco tempo o “epicentro” da pandemia. A economia mergulhou na pior recessão desde os anos 1930, com o desemprego aumentando de maneira rápida e alarmante.
A semelhança entre Trump e Bolsonaro, registro de passagem, salta aos olhos. Não apenas porque o segundo imita o primeiro, mas também porque ambos são o produto de circunstâncias sociais até certo ponto semelhantes – mal estar social profundo, classes dirigentes medíocres e sem espírito público, concentração da renda e o predomínio avassalador da ignorância. O sujeito que hoje dispõe de algum conhecimento deve cercar-se de todos os cuidados. Se não o fizer, corre o risco de ser caçado a pauladas, feito ratazana prenhe. A expressão é de Nelson Rodrigues, aliás o grande profeta mundial do triunfo do idiota. Mesmo ele, ficaria impressionado, imagino, com a extensão que o fenômeno adquiriu até mesmo em países desenvolvidos.
Mas não quero me desviar do assunto. Volto ao quadro geopolítico. Os Estados Unidos têm muita gordura para queimar. Apesar das decepções e dos estragos dos últimos anos, os americanos conservarão por muito tempo influência em todas as partes do mundo. O declínio da sua hegemonia será lento e gradual, como foi o declínio da hegemonia inglesa entre o final do século 19 e a Segunda Guerra Mundial.
A China, por sua vez, tem suas vulnerabilidades e limitações. Trata-se de um país em desenvolvimento, de proporções gigantescas, mas nível médio de renda. Não domina sequer a Ásia, nem mesmo o Leste da Ásia. Outros países importantes resistem, com apoio americano, à ascensão chinesa. Japão, Austrália e Índia, por exemplo, têm interesses econômicos no relacionamento com a China, mas não confiam nela. Com um pouco mais de habilidade em Washington, não seria impossível reduzir os chineses a um certo isolamento, mesmo no seu continente.
O cenário mais provável para as próximas décadas é de um mundo crescentemente multipolar, marcado por erosão gradual, mas persistente, da influência e do peso relativo dos Estados Unidos e, em contrapartida, poder e presença crescentes da China. O eixo do poder econômico e político continuará se deslocando do Atlântico Norte para o Leste da Ásia – processo que pode ser acelerado por choques como o que estamos experimentando em 2020.
Uma palavra final sobre o Brasil. Nosso país, repito, não cabe no quintal de ninguém. Um país gigante não pode alinhar-se a nenhuma potência, nem aos Estados Unidos, nem à China. Mas é particularmente inoportuno, do ponto de vista estratégico, embarcar na canoa de uma potência declinante. E, pior, complementar esse alinhamento com gestos gratuitos de hostilidade à China. O Brasil precisa, ao contrário, manter as suas opções em aberto e relações de amizade com todos os países. De forma condizente com suas proporções continentais e com um mundo cada vez mais multipolar, a nossa política externa precisa voltar a ser independente e de caráter global.
* Paulo Nogueira Batista Jr. é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países. Lançou recentemente pela editora LeYa o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém. E-mail: paulonbjr@hotmail.com; twitter: @paulonbjr; canal YouTube: youtube.nogueirabatista.com.br
* Este artigo é uma versão resumida do que foi publicada na revista CartaCapital, em 15 de maio de 2020.
“Quando a China despertar o mundo inteiro tremerá”. Profecia atribuída a Napoleão Bonaparte.
Que consequências a crise do coronavírus terá para o quadro geopolítico, em especial para as posições dos Estados Unidos e da China? Eis aí uma questão obscura e repleta de incertezas, mas isso não é motivo para ignorá-la. Afinal, questões essenciais são mesmo obscuras e incertas. Os temas claros e previsíveis são os secundários ou aqueles já de alguma forma equacionados.
Quando o novo vírus apareceu em Wuhan, órgãos importantes da mídia ocidental, particularmente nos Estados Unidos, receberam a notícia com mal disfarçada satisfação. Larga divulgação foi dada a especialistas e comentaristas que previram graves dificuldades para a China. Falou-se até em ameaça ao poder do presidente Xi Jinping, que seria fatalmente responsabilizado pela crise de saúde pública.
Não foi o que se viu, entretanto. Severa e radical, a reação chinesa surtiu efeito rapidamente e conseguiu conter, por enquanto, a propagação do vírus no país. O custo foi alto em termos econômicos e sociais, mas os resultados vieram em pouco tempo, surpreendendo especialistas ocidentais e frustrando aqueles que esperavam a eclosão de uma crise política na China.
A resposta chinesa não foi inteiramente surpreendente para mim. Conheço um pouco esse grande país em razão de ter lá residido por mais de dois anos, quando exerci o cargo de primeiro vice-presidente brasileiro do Novo Banco de Desenvolvimento estabelecido pelos BRICS em Xangai. Também tive contato frequente com autoridades e funcionários chineses nos oito anos em que trabalhei na diretoria do FMI em Washington.
As minhas observações sobre a China estão registradas em livro que publiquei no final do ano passado: O Brasil não cabe no quintal de ninguém (editora LeYa). Os chineses combinam capacidade de trabalho com disciplina. Atuam de forma organizada e coordenada sob comando do Estado. O indivíduo é parte de uma engrenagem maior e aceita essa realidade como natural. A economia e a sociedade são rigorosamente planejadas. Tendo tido experiência prévia recente com epidemias graves, a China visivelmente dispunha de um plano de contingência, que foi posto em prática com velocidade fulminante. Erros foram cometidos, sem dúvida, mas a recuperação impressiona.
Em contraste, a resposta nos Estados Unidos e na maior parte do Ocidente foi confusa, claudicante, pouco eficaz. Na comparação com os chineses, americanos e europeus saíram-se mal no combate à pandemia. O saldo por enquanto é totalmente oposto ao que previam (ou desejavam) alguns especialistas ocidentais. A China sofre com a crise, como todos, mas começa a sair dela com prestígio basicamente intacto.
Isso para desespero dos Estados Unidos. Conheço os americanos até melhor, e também registrei as minhas impressões sobre eles no livro recém-lançado. Um traço da psicologia americana: a preocupação ou, melhor dizendo, a obsessão em ser o número 1. Nos últimos dez, quinze anos, os americanos assistem com preocupação a ascensão da China. Em outras épocas, a rivalidade era com a União Soviética, depois foi com o Japão. Mas, já há algum tempo, a China é vista como uma grande ameaça, provavelmente sem precedentes, à liderança mundial a que os americanos tanto se apegam. Donald Trump partiu para a ignorância, mas o não foi ele que inventou o problema. O nervosismo é generalizado no establishment americano, e não é de hoje que sentimentos anti-chineses predominam entre republicanos e democratas.
A posição americana é mais difícil do que talvez pareça. A crise do coronavírus e a reação atabalhoada à pandemia constituem, na verdade, o terceiro grande choque para a hegemonia dos Estados Unidos em um período de pouco mais de dez anos. O primeiro abalo foi a grande crise financeira internacional de 2008-2010 que teve origem, como se sabe, no sistema financeiro americano. Essa crise abalou não só a economia, mas também o prestígio dos americanos e a confiança nas políticas financeiras e econômicas por eles preconizadas. Até os satélites mais fiéis começaram a ter algumas dúvidas.
A forma como a crise financeira foi enfrentada preparou o terreno para o segundo grande abalo. Prevaleceu a percepção de que o governo deu prioridade a salvar os grandes bancos, abandonando a classe média e os mais pobres à própria sorte. O ressentimento e a frustração com a concentração da renda e da riqueza deram lugar à ascensão do populismo de direita que conduziria à eleição de Trump e solaparia, ainda mais, o prestígio e a influência dos Estados Unidos.
Não se deve perder de vista que a presidência de Trump representa uma descontinuidade importante nas relações internacionais dos Estados Unidos. Modificou-se a maneira de exercer o poder americano. O imperialismo americano, antes disfarçado por camadas variadas de ideologia, valores “universais”, sedução e soft power, passou a ser exercido de forma nua e crua. America first foi o lema de Trump desde o início e, de forma ainda mais desabrida, durante a pandemia.
Essa forma de atuar é prejudicial aos Estados Unidos, pois o poder se fragiliza quando depende apenas da força e da intimidação. Tosco como é, Trump não compreende a importância estratégica da hipocrisia. Certamente nunca leu La Rochefoucauld para quem “a hipocrisia é a homenagem do vício à virtude”. Ao descartá-la, Trump fragiliza a hegemonia americana e aumenta as resistências a ela. Munido das suas intuições e improvisações, superestimando provavelmente o poder americano, Trump vem fazendo inimigos e afastando até aliados tradicionais como a União Europeia e o Canadá. E trata com indisfarçado desprezo os seus satélites, inclusive o lacaio de Brasília. Perdeu a confiança dos seus interlocutores e se enfraqueceu para a disputa primordial com a China.
Trump tem certamente seus pontos fortes ou não teria chegado à presidência dos Estados Unidos. Mas o que mais chama a atenção é o seu despreparo, que apareceu de forma escancarada durante a pandemia. A sua tendência é governar na base dos rompantes e do improviso, sem respeitar a opinião dos cientistas e especialistas. Cerca-se de auxiliares medianos, que se destacam mais pela lealdade ao chefe do que por sua competência profissional e política.
Quando veio a emergência, o primeiro instinto de Trump foi negacionista, minimizando o tamanho da ameaça. Preocupado com a sua reeleição, não quis inicialmente aceitar a necessidade de medidas drásticas de distanciamento social. Entrou em choque com os governadores dos Estados mais atingidos, buscando transferir a culpa pelo impacto das medidas preventivas sobre a economia a e o emprego. Resultado: os Estados Unidos demoraram a reagir ao desafio e se tornaram em pouco tempo o “epicentro” da pandemia. A economia mergulhou na pior recessão desde os anos 1930, com o desemprego aumentando de maneira rápida e alarmante.
A semelhança entre Trump e Bolsonaro, registro de passagem, salta aos olhos. Não apenas porque o segundo imita o primeiro, mas também porque ambos são o produto de circunstâncias sociais até certo ponto semelhantes – mal estar social profundo, classes dirigentes medíocres e sem espírito público, concentração da renda e o predomínio avassalador da ignorância. O sujeito que hoje dispõe de algum conhecimento deve cercar-se de todos os cuidados. Se não o fizer, corre o risco de ser caçado a pauladas, feito ratazana prenhe. A expressão é de Nelson Rodrigues, aliás o grande profeta mundial do triunfo do idiota. Mesmo ele, ficaria impressionado, imagino, com a extensão que o fenômeno adquiriu até mesmo em países desenvolvidos.
Mas não quero me desviar do assunto. Volto ao quadro geopolítico. Os Estados Unidos têm muita gordura para queimar. Apesar das decepções e dos estragos dos últimos anos, os americanos conservarão por muito tempo influência em todas as partes do mundo. O declínio da sua hegemonia será lento e gradual, como foi o declínio da hegemonia inglesa entre o final do século 19 e a Segunda Guerra Mundial.
A China, por sua vez, tem suas vulnerabilidades e limitações. Trata-se de um país em desenvolvimento, de proporções gigantescas, mas nível médio de renda. Não domina sequer a Ásia, nem mesmo o Leste da Ásia. Outros países importantes resistem, com apoio americano, à ascensão chinesa. Japão, Austrália e Índia, por exemplo, têm interesses econômicos no relacionamento com a China, mas não confiam nela. Com um pouco mais de habilidade em Washington, não seria impossível reduzir os chineses a um certo isolamento, mesmo no seu continente.
O cenário mais provável para as próximas décadas é de um mundo crescentemente multipolar, marcado por erosão gradual, mas persistente, da influência e do peso relativo dos Estados Unidos e, em contrapartida, poder e presença crescentes da China. O eixo do poder econômico e político continuará se deslocando do Atlântico Norte para o Leste da Ásia – processo que pode ser acelerado por choques como o que estamos experimentando em 2020.
Uma palavra final sobre o Brasil. Nosso país, repito, não cabe no quintal de ninguém. Um país gigante não pode alinhar-se a nenhuma potência, nem aos Estados Unidos, nem à China. Mas é particularmente inoportuno, do ponto de vista estratégico, embarcar na canoa de uma potência declinante. E, pior, complementar esse alinhamento com gestos gratuitos de hostilidade à China. O Brasil precisa, ao contrário, manter as suas opções em aberto e relações de amizade com todos os países. De forma condizente com suas proporções continentais e com um mundo cada vez mais multipolar, a nossa política externa precisa voltar a ser independente e de caráter global.
* Paulo Nogueira Batista Jr. é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países. Lançou recentemente pela editora LeYa o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém. E-mail: paulonbjr@hotmail.com; twitter: @paulonbjr; canal YouTube: youtube.nogueirabatista.com.br
* Este artigo é uma versão resumida do que foi publicada na revista CartaCapital, em 15 de maio de 2020.
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