Por Haroldo Ceravolo Sereza, no sítio Opera Mundi:
O ano de 2011 é histórico. Em termos de mobilização, ele talvez seja comparável apenas a 1968 na história recente. Em alguns sentidos, no entanto, ele é ainda mais importante, porque atingiu países em que, na década de 1960, questões como democracia, igualdade e liberdade tinham outro sentido: ainda vivíamos num mundo em processo de descolonização de grandes territórios, sobretudo na África.
2011 começou com uma saudada, por norte-americanos e europeus, Primavera Árabe. Rapidamente, no entanto, a Primavera precisou ser contida. A saída de Mubarak, no Egito, teve como consequência a instalação de um governo controlado por militares contestado por ativistas que já não são vistos como o mesmo grau de simpatia pelos governantes ocidentais.
A morte brutal de Kadafi, após meses de bombardeio pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e apoio a rebeldes que flertam com o fundamentalismo islâmico, mostrou a flexibilidade oportunista da política ocidental para com o Norte da África: a violência de Kadafi deixou de ser “natural” e parceira de “festas bunga-bunga” do ex-premiê Silvio Berlusconi para virar promotora de crimes contra a humanidade – e portanto alvo de bombas italianas, entre outras – de um dia para o outro.
Os movimentos por democracia, liberdade e racionalidade econômica (não no sentido proposto pelo Fundo Monetário Internacional) na Espanha, Reino Unido e Estados Unidos colocaram, como em 1968, em xeque o alcance que essas palavras, tão cantadas no Ocidente, têm na realidade. Na Grécia e em Portugal, que tiveram de aceitar os mais draconianos pacotes de “ajuda” da história da União Europeia, os protestos são mais objetivos. Impostos a seus povos por partidos social-democratas (chamados de socialistas no registro eleitoral), ajudaram a levar ainda mais à direita a condução da política e da economia.
Esta tem sido, aliás, a regra na Europa: as ruas para a esquerda, as urnas para a direita. Nos Estados Unidos, a palavra socialismo deixa de ser um estigma, mas continua não existindo nenhum grande partido capaz de capitalizar (sic) essa guinada à esquerda da juventude. Obama perdeu todas as oportunidades que teve de se aliar às forças que levaram o Occupy Wall Street a se tornar um movimento mundial, com repiques nem sempre muito consequentes em todo o planeta. Em 2012, terá de enfrentar um candidato republicano que apela às mais reacionárias bandeiras – cujo nome ainda não está definido, mas que, tudo leva a crer, nos levará a ter saudades do centrismo de George Bush.
Para completar o ano de incertezas que foi 2011, o economista Paul Krugman defendeu, num artigo recente, que os dados sobre a economia e sobre o confuso mercado imobiliário chinês indicam que a segunda maior economia do mundo pode estar vivendo uma bolha que tem semelhanças com a que deu origem à crise norte-americana em 2008. Tudo fica no pode, por que os dados não são absolutamente confiáveis, relativiza o economista.
Na cronologia do século 20, 1968 ganhou um complemento, a alcunha de “o ano que não acabou”, por suas consequências para as décadas seguintes, nem sempre diretas. O ano de 2011 deixa, também, muitas portas abertas para o futuro – e algumas delas levarão a novos questionamentos, conflitos, avanços e recuos importantes para questões que mobilizaram as pessoas: crise, emprego, democracia, igualdade, liberdade, nenhuma dessas palavras encontrou um ponto de equilíbrio que prometa um 2012 de “tranquilidade”.
Por isso, ao brindar um Feliz Ano Novo nesta noite, a gente pode completar com algumas perguntas que certamente serão feitas ao longo de 2012. Para quem é só uma delas.
O ano de 2011 é histórico. Em termos de mobilização, ele talvez seja comparável apenas a 1968 na história recente. Em alguns sentidos, no entanto, ele é ainda mais importante, porque atingiu países em que, na década de 1960, questões como democracia, igualdade e liberdade tinham outro sentido: ainda vivíamos num mundo em processo de descolonização de grandes territórios, sobretudo na África.
2011 começou com uma saudada, por norte-americanos e europeus, Primavera Árabe. Rapidamente, no entanto, a Primavera precisou ser contida. A saída de Mubarak, no Egito, teve como consequência a instalação de um governo controlado por militares contestado por ativistas que já não são vistos como o mesmo grau de simpatia pelos governantes ocidentais.
A morte brutal de Kadafi, após meses de bombardeio pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e apoio a rebeldes que flertam com o fundamentalismo islâmico, mostrou a flexibilidade oportunista da política ocidental para com o Norte da África: a violência de Kadafi deixou de ser “natural” e parceira de “festas bunga-bunga” do ex-premiê Silvio Berlusconi para virar promotora de crimes contra a humanidade – e portanto alvo de bombas italianas, entre outras – de um dia para o outro.
Os movimentos por democracia, liberdade e racionalidade econômica (não no sentido proposto pelo Fundo Monetário Internacional) na Espanha, Reino Unido e Estados Unidos colocaram, como em 1968, em xeque o alcance que essas palavras, tão cantadas no Ocidente, têm na realidade. Na Grécia e em Portugal, que tiveram de aceitar os mais draconianos pacotes de “ajuda” da história da União Europeia, os protestos são mais objetivos. Impostos a seus povos por partidos social-democratas (chamados de socialistas no registro eleitoral), ajudaram a levar ainda mais à direita a condução da política e da economia.
Esta tem sido, aliás, a regra na Europa: as ruas para a esquerda, as urnas para a direita. Nos Estados Unidos, a palavra socialismo deixa de ser um estigma, mas continua não existindo nenhum grande partido capaz de capitalizar (sic) essa guinada à esquerda da juventude. Obama perdeu todas as oportunidades que teve de se aliar às forças que levaram o Occupy Wall Street a se tornar um movimento mundial, com repiques nem sempre muito consequentes em todo o planeta. Em 2012, terá de enfrentar um candidato republicano que apela às mais reacionárias bandeiras – cujo nome ainda não está definido, mas que, tudo leva a crer, nos levará a ter saudades do centrismo de George Bush.
Para completar o ano de incertezas que foi 2011, o economista Paul Krugman defendeu, num artigo recente, que os dados sobre a economia e sobre o confuso mercado imobiliário chinês indicam que a segunda maior economia do mundo pode estar vivendo uma bolha que tem semelhanças com a que deu origem à crise norte-americana em 2008. Tudo fica no pode, por que os dados não são absolutamente confiáveis, relativiza o economista.
Na cronologia do século 20, 1968 ganhou um complemento, a alcunha de “o ano que não acabou”, por suas consequências para as décadas seguintes, nem sempre diretas. O ano de 2011 deixa, também, muitas portas abertas para o futuro – e algumas delas levarão a novos questionamentos, conflitos, avanços e recuos importantes para questões que mobilizaram as pessoas: crise, emprego, democracia, igualdade, liberdade, nenhuma dessas palavras encontrou um ponto de equilíbrio que prometa um 2012 de “tranquilidade”.
Por isso, ao brindar um Feliz Ano Novo nesta noite, a gente pode completar com algumas perguntas que certamente serão feitas ao longo de 2012. Para quem é só uma delas.
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