Por Luiz Gonzaga Belluzzo, na revista CartaCapital:
O Federal Reserve emite sinais de aperto monetário, as moedas dos emergentes respondem com um chorrilho de desvalorizações. Umas mais, outras menos.
No campeonato de taxas de câmbio, entre 10 de abril e 9 de maio deste ano, as moedas mais perdedoras foram a lira turca, o rublo russo, o real brasileiro, o peso mexicano e, na lanterna, o peso argentino. Entre as menos afetadas figuram o renminbi chinês, o won sul-coreano e o dólar de Hong Kong.
Analistas que circulam no Cone Sul atribuem a derrocada do peso argentino ao programa de ajustamento fiscal gradualista do governo Macri. Desconfio que repetem as falácias que invertem as relações entre os ciclos de euforia e depressão dos capitais vagabundos e as políticas domésticas, fiscal e monetária.
Resumindo: se o indigente emergente arrumar a casa e seguir os cânones do regime de metas de inflação, os investidores ganham confiança e inundam o menino bem-comportado de investimentos diretos, adquirem participação nas empresas locais, compram confiantes títulos de dívida públicos e privados.
A experiência das globalizações financeiras – aquela das três derradeiras décadas do século XIX, assim como a dos nossos tempos, a era do Lobo de Wall Street – demonstra que os humores dos mercados financeiros globalizados, em sua insaciável voracidade, impõem suas razões às políticas monetária e fiscal dos países de moeda inconversível que abrem suas contas de capital, surfam nos ciclos de crédito externo e tornam-se devedores líquidos em moeda estrangeira.
Os títulos de riqueza denominados na moeda não conversível e os carimbados com o selo das moedas conversíveis (dólar, euro) são substitutos imperfeitos. Diante da hierarquia de moedas (o dólar é mais líquido que o peso ou o real), a convergência entre as taxas de juro, contabilizado o risco-país – não se verifica.
Isso permite aos mercados financeiros prosseguirem sem sustos na peculiar “arbitragem” entre juros internos e externos, sem convergência das taxas, descontados os diferenciais de inflação esperada.
A abertura das contas de capital foi acompanhada da adoção dos regimes de taxas de câmbio flutuantes. Esse arranjo determinou a dominância da dimensão financeira das moedas nacionais, em detrimento de sua função de preço relativo entre importações e exportações.
As flutuações das moedas ensejaram oportunidades de arbitragem e especulação ao capital financeiro internacionalizado e tornaram as políticas monetárias e fiscais domésticas reféns da volatilidade das taxas de juro e de câmbio.
O câmbio flutuante fica à mercê das peculiares idiossincrasias dos mercados de ativos. Sob o comando dos humores da finança e da sabedoria de seus asseclas, os emergentes sacolejam os traseiros nos carnavais e rolezões da abundância de liquidez.
Enquanto os bacanas da finança se locupletam e se refestelam nas utilidades do inútil, a indústria manufatureira dos emergentes imprudentes sofre as agruras das exportações minguantes e das importações predatórias.
Nos momentos de estresse, os ideólogos da finança, mais por interesse do que por ignorância, concentram suas baterias nas condições fiscais internas dos países de moeda não conversível. A primeira geração de modelos pretendia explicar as crises cambiais mediante convenientes relações de determinação: partiam dos déficits fiscais, caminhavam para o excesso de absorção (demanda) doméstica e terminavam no abismo dos déficits em conta corrente.
A fuga de capitais e as bruscas e intensas desvalorizações cambiais, com impacto desastroso sobre a inflação e as finanças públicas, eram atiradas às costas dos governos gastadores e irresponsáveis.
Não há quem aprove ou recomende desatinos fiscais e monetários dos governos, muito menos a insanidade do câmbio fixo. Mas há quem ignore o protagonismo dos provedores privados de financiamento externo nos desastres fiscais e monetários deflagrados no Brasil dos 1980 e 1990, no México em 1994, na Ásia em 1997, na Rússia em 1998, e na Argentina do doutor Cavallo em 2001.
Às vésperas da crise asiática de 1997-1998, a Coreia do Sul dispunha de condições fiscais impecáveis: superávit nominal de 2,5% e dívida pública inferior a 15% do PIB. A missão do FMI, encarregada de analisar a situação da economia sul-coreana, teceu loas aos sólidos “fundamentos”.
Para os países de moeda não conversível, os juros e o câmbio tornaram-se reféns das bruscas reações dos senhores dos portfólios globais, diante dos rodopios e contradanças do Federal Reserve, gestor da moeda internacional. As festanças terminam, invariavelmente, nas quartas-feiras dos crashs de preços de ativos e na desvalorização das moedas.
No campeonato de taxas de câmbio, entre 10 de abril e 9 de maio deste ano, as moedas mais perdedoras foram a lira turca, o rublo russo, o real brasileiro, o peso mexicano e, na lanterna, o peso argentino. Entre as menos afetadas figuram o renminbi chinês, o won sul-coreano e o dólar de Hong Kong.
Analistas que circulam no Cone Sul atribuem a derrocada do peso argentino ao programa de ajustamento fiscal gradualista do governo Macri. Desconfio que repetem as falácias que invertem as relações entre os ciclos de euforia e depressão dos capitais vagabundos e as políticas domésticas, fiscal e monetária.
Resumindo: se o indigente emergente arrumar a casa e seguir os cânones do regime de metas de inflação, os investidores ganham confiança e inundam o menino bem-comportado de investimentos diretos, adquirem participação nas empresas locais, compram confiantes títulos de dívida públicos e privados.
A experiência das globalizações financeiras – aquela das três derradeiras décadas do século XIX, assim como a dos nossos tempos, a era do Lobo de Wall Street – demonstra que os humores dos mercados financeiros globalizados, em sua insaciável voracidade, impõem suas razões às políticas monetária e fiscal dos países de moeda inconversível que abrem suas contas de capital, surfam nos ciclos de crédito externo e tornam-se devedores líquidos em moeda estrangeira.
Os títulos de riqueza denominados na moeda não conversível e os carimbados com o selo das moedas conversíveis (dólar, euro) são substitutos imperfeitos. Diante da hierarquia de moedas (o dólar é mais líquido que o peso ou o real), a convergência entre as taxas de juro, contabilizado o risco-país – não se verifica.
Isso permite aos mercados financeiros prosseguirem sem sustos na peculiar “arbitragem” entre juros internos e externos, sem convergência das taxas, descontados os diferenciais de inflação esperada.
A abertura das contas de capital foi acompanhada da adoção dos regimes de taxas de câmbio flutuantes. Esse arranjo determinou a dominância da dimensão financeira das moedas nacionais, em detrimento de sua função de preço relativo entre importações e exportações.
As flutuações das moedas ensejaram oportunidades de arbitragem e especulação ao capital financeiro internacionalizado e tornaram as políticas monetárias e fiscais domésticas reféns da volatilidade das taxas de juro e de câmbio.
O câmbio flutuante fica à mercê das peculiares idiossincrasias dos mercados de ativos. Sob o comando dos humores da finança e da sabedoria de seus asseclas, os emergentes sacolejam os traseiros nos carnavais e rolezões da abundância de liquidez.
Enquanto os bacanas da finança se locupletam e se refestelam nas utilidades do inútil, a indústria manufatureira dos emergentes imprudentes sofre as agruras das exportações minguantes e das importações predatórias.
Nos momentos de estresse, os ideólogos da finança, mais por interesse do que por ignorância, concentram suas baterias nas condições fiscais internas dos países de moeda não conversível. A primeira geração de modelos pretendia explicar as crises cambiais mediante convenientes relações de determinação: partiam dos déficits fiscais, caminhavam para o excesso de absorção (demanda) doméstica e terminavam no abismo dos déficits em conta corrente.
A fuga de capitais e as bruscas e intensas desvalorizações cambiais, com impacto desastroso sobre a inflação e as finanças públicas, eram atiradas às costas dos governos gastadores e irresponsáveis.
Não há quem aprove ou recomende desatinos fiscais e monetários dos governos, muito menos a insanidade do câmbio fixo. Mas há quem ignore o protagonismo dos provedores privados de financiamento externo nos desastres fiscais e monetários deflagrados no Brasil dos 1980 e 1990, no México em 1994, na Ásia em 1997, na Rússia em 1998, e na Argentina do doutor Cavallo em 2001.
Às vésperas da crise asiática de 1997-1998, a Coreia do Sul dispunha de condições fiscais impecáveis: superávit nominal de 2,5% e dívida pública inferior a 15% do PIB. A missão do FMI, encarregada de analisar a situação da economia sul-coreana, teceu loas aos sólidos “fundamentos”.
Para os países de moeda não conversível, os juros e o câmbio tornaram-se reféns das bruscas reações dos senhores dos portfólios globais, diante dos rodopios e contradanças do Federal Reserve, gestor da moeda internacional. As festanças terminam, invariavelmente, nas quartas-feiras dos crashs de preços de ativos e na desvalorização das moedas.
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