sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Boris Casoy não cometeu uma “gafe”

O repórter Fábio Pannunzio, que já produziu algumas boas reportagens na TV Bandeirantes, saiu em defesa do âncora da emissora, Boris Casoy, que se desmascarou na virada do ano ao humilhar dois garis que desejaram feliz 2010. Sua frase repugnante – “Que merda. Dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho” – pegou muito mal. Milhares de internautas espalharam o vídeo e espinafraram o preconceituoso.

Em seu sitio, Fábio Pannunzio, que eventualmente substitui o âncora no Jornal da Noite, afirma que considera as reações exageradas. Após esclarecer que “conheço Boris Casoy há apenas dois anos”, ele ainda tenta justificar “a frase infeliz”. Seria apenas uma “gafe”, como tantas outras da televisão. “Outras dezenas de casos correlatos aconteceram sem que seus protagonistas fossem crucificados por seus credos, origem étnica, preferência sexual ou o quer que seja. Por isso, não é justo nem razoável que Boris Casoy continue sendo vítima desse massacrante cyberbullying”.

Direitismo e preconceitos de classe

No texto “Em defesa de Boris Casoy”, Fábio Pannunzio comete vários erros. As pessoas sensatas não “crucificam” o âncora “por seu credo, origem ética ou preferência sexual”. Não se combate preconceitos com preconceitos. Casoy, sim, é que nunca escondeu os seus piores preconceitos, principalmente os de classe. Com suas ironias, risadinhas e trejeitos, ele vive desqualificando os trabalhadores, principalmente os que lutam por seus direitos. Seu ódio aos ativistas do MST que lutam pela reforma agrária é visceral, escancarado; todas as greves são motivo de seu veneno.

A forma ácida como agride o presidente Lula também revela o seu “nojo de classe”. Não há nada de jornalismo, mas sim ranço ideológico. Ele não admite um operário, ex-sindicalista, no Palácio do Planalto. Trata o presidente como um analfabeto, ignorante, bronco. Não é para menos que ele se tornou um expoente da oposição de direita e foi cogitado pelo banqueiro Bornhausen, ex-presidente do PFL, atual Demo, para ingressar com o pedido de impeachment de Lula. Casoy, que prestou assessoria a políticos da ditadura, parece sentir saudades daquele período sombrio.

“O destino acerta suas contas”

O próprio Pannunzio afirma conhecer o apresentador há “apenas dois anos”. Pelas regras do bom jornalismo, ele deveria investigar melhor a longa trajetória de Boris Casoy. Isto ajudaria a entender porque ele humilhou os garis, ataca os grevistas, estigmatiza o MST e ironiza o presidente Lula. Não é verdade que o apresentador cometeu somente uma “gafe”. O vazamento do áudio permitiu ouvir o que ele realmente pensa, desnudou sua concepção elitista e direitista – de viés fascista.

Essa concepção está presente, agredindo os telespectadores da Band, todos os dias. Ela é antiga e somente ficou mais explícita na fase recente, talvez por ódio a um trabalhador no Palácio. Celso Lungaretti, veterano jornalista, conhece bem a trajetória desta figura escrota. Num texto didático, intitulado “O destino acerta suas contas”, ele conta um pouco da sua biografia, que confirma que não houve “gafe”, mas sim puro direitismo e preconceito de classe. Num dos trechos, ele relata:

“Um dos líderes da ala jovem do CCC”

“Casoy é elitista, racista, conservador e reacionário desde muito cedo. Um velho companheiro que com ele cursou Direito no Mackenzie me contou: aos 23 anos, Casoy era um dos líderes da ala jovem do Comando de Caça aos Comunistas, que tinha nessa faculdade um de seus focos principais. Mais: nos idos de 1964, Casoy chegou a ser citado em reportagem da revista Cruzeiro como membro destacado da juventude anticomunista. A quartelada o beneficiou, claro: ele foi homem de imprensa de um ministro do governo Médici e do secretário da Agricultura de São Paulo, Herbert Levy, outra figurinha da direita”. Sobre a sua projeção na imprensa, ele recorda:

“Isto aconteceu quando o comando do II Exército aproveitou uma frase imprudente do cronista Lourenço Diaféria (sobre mendigos urinarem na estátua de Caxias) para intervir na Folha. Os militares exigiram a destituição do diretor de redação Cláudio Abramo (trotskista histórico), o afastamento de profissionais (demitidos ou realocados) e o abrandamento da linha editorial. O proprietário Octávio Frias de Oliveira, que sempre se definiu como comerciante e não jornalista, negociou. Servil, aceitou substituir Abramo por um homem de absoluta confiança do regime militar: Casoy”. Como se observa, a humilhação dos garis não foi apenas uma “frase infeliz”.

10 comentários:

Ramon Fonseca disse...

Altamiro, mais um belíssimo texto seu, parabéns. Apenas uma correção, não é "Ele não admite um operário, ex-sindicalista, no Palácio dos Bandeirantes.", e sim, no Palácio do Planalto.

Saudações Socialistas,

Ramon Fonseca

Kennedy disse...

Absolutamente coerente!
Excelente texto, completamente diferente do Pannunzio que faz uma análise em defesa de Casoy (propositalmente) parcial e limitada.

Marquinho disse...

Parabéns Miro. Belíssima análise do fato. Estou indicando teu blog para a minha lista de contatos.
mais uma vez, parabéns.
Marquinho Mota

Unknown disse...

O Fábio Pannunzio realmente mudou muito. Fazia matérias interessantes, escreveu um livro sobre o cotidiano das FARC's, mas agora, se desdobra em criminalizar o MST e promove outras matérias com muito ranço de classe (dominante, claro). Mais um a serviço dos patrões, não em serviço, mas a serviço.

José Antonio Rocha disse...

Aqui está a matéria (corajosa e anti-ética) da revista O Cruzeiro onde Boris é identificado no abjeto CCC: http://cloacanews.blogspot.com/2010/01/exclusivo-boris-casoy-e-o-comando-do.html

Anônimo disse...

Estou acompanhando a a sujeira de Boris Casoy desde o CCC até o comentário da Band. Você, Paulo Henrique, Azenha, Rodrigo Viana e outros já se manifestaram. Estou surpreso que Luis Nacif ainda não tenha dado o ar da graça sobre o assunto. Por que será?
Boris realmente é tudo isso que você disse e muito mais. Se estivesse na Alemanha na década de 30, teria puxado o saco de Hitler até arranjar um lugarzinho junto a Goebels.

Juliana Dias disse...

Um dos melhores textos que já li sobre o caso.

Parabéns!

Anônimo disse...

Não me admira nada..se a Revista VEJA fizer uma reportagem defendendo o Boris também...e bem provável...

Anônimo disse...

Meu caro Miro. e como falo para todos aqui..não em admira nada se a Revista VEJA fizer uma reportagem nefasta defendene ele...vamos apostar?

Oscar disse...

Há mais de dez anos estou fora do Brasil. Por casualidade acabei vendo pelo youtube a tal "gafe" cometida. Miro, tens a mais absoluta razão no que escreves, porque de facto o que se vê e ouve não é uma "gafe", mas a expressão clara e inequívoca de alguém que se julga superior e no direito de humilhar socialmente o outro. É asqueroso o coméntário de Casoy. O teu texto dá-nos o ponto exacto da situação. Eu penso que noutras latitudes, Casoy teria, ou invés de apresentar desculpas, pedido a sua demissão.