Um fato que atingiu o autor destas linhas durante o último fim de semana mudou o foco do post que aqui está sendo publicado. O fato é a invasão do meu escritório por ladrões. Não roubaram nada além de algum dinheiro. Iam levar os computadores, mas perderam tempo vasculhando gavetas e a chegada de um vizinho os espantou, fazendo com que fugissem.
Sim, havia mais de um ladrão. Vizinhos relatam que durante o horário em que ocorreu o assalto uma Kombi ficou estacionada diante da casa, mas que, às vezes, circulava e voltava a parar no mesmo lugar. E, pelo local em que fica meu escritório, por certo, além do ladrão que entrou na casa e do motorista que ficou à porta, foi necessário também um “olheiro” para alertar o bando caso a polícia estivesse passando, pois, nesta região, há, sim, viaturas patrulhando – mal, mas, ainda assim, patrulhando…
Enfim, não é nada demais. Acontece toda hora. Uma semana antes, o restaurante japonês ao lado do escritório foi assaltado, também. Há alguns meses, outros imóveis próximos foram invadidos enquanto seus ocupantes não estavam. É rotina, em São Paulo. Isso sem falar na violência para roubar, que, vale lembrar, não costuma ser registrada como homicídio quando a vítima do crime é morta.
As estatísticas da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, pois, são um caso de Polícia, com o perdão pelo trocadilho. Mas é a pura verdade. A aliança entre a mídia paulista e os governos do PSDB redundou em uma unidade de medida para a situação da Segurança no Estado mais rico do país. A mídia só fala na taxa de homicídios.
Ora, como a taxa de homicídios em São Paulo é uma ficção – o que, por várias vezes, a grande mídia reconheceu em matérias “escondidas” e esparsas – não se tem informação adequada sobre o caos na Segurança Pública paulista. Os crimes contra o patrimônio aumentam exponencialmente e causam inclusive crimes contra a vida, os quais, por também terem sido contra o patrimônio, a SSP-SP excluí das estatísticas de homicídios.
Ano que vem a esta hora, terão se passado vinte anos desde a primeira vez em que a maioria absoluta do Estado de São Paulo elegeu um governador do PSDB. Pela lógica mais elementar, portanto, se o Estado vai bem ou mal a responsabilidade única pela situação atual é desse partido e dos governadores Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra.
Parece simples, não? A Segurança Pública vai bem? O mérito é tucano. Vai mal, deveria ser tucano. A mídia paulista costuma tecer loas ao governo do Estado quando há “queda” do número de homicídios. Folha, Estadão, Veja, Globo, todos sempre soltam “reportagens” sobre “Como São Paulo reduziu os homicídios”.
Todavia, quando há problemas na Segurança, como durante os ataques do PCC em 2006, a culpa não é, como no caso do mérito, atribuída ao PSDB e ao seu governador de plantão. Aí vira culpa do PT e, mais especificamente, “do Lula”.
Ou então, pior ainda, os encarregados de aliviar a responsabilidade do governo paulista tratam de dizer que em Estados infinitamente mais pobres que São Paulo há violência maior, o que não se pode saber ao certo se é verdade porque as estatísticas paulistas não são confiáveis, ainda que outras tampouco possam ser.
O fato é que após a descoberta do crime de que eu e outras pessoas aqui do escritório fomos vítimas, quando os vizinhos se aproximaram da frente da casa para saber o que ocorrera comentei o caso com eles e descobri que vários, ou melhor, que a maioria já tinha tido seu imóvel invadido por ladrões.
Fiquei curioso. Instiguei que falassem sobre a situação caótica da Segurança em SP. Descubro, então, um perturbador conformismo.
Só se animaram a atribuir responsabilidade a alguma autoridade quando um deles “lembrou” que o ex-ministro da Justiça Marcio Thomas Bastos teria defendido um membro do PCC, um dia. E como foi Lula quem nomeou MTB, então a culpa pelos problemas de Segurança em SP, para a vizinhança do escritório deste que escreve, ficou sendo de um ex-presidente e de seu ex-ministro da Justiça.
É mole?
Não é nada mole. Perguntei aos meus vizinhos se a Polícia não deveria patrulhar melhor a região? A resposta? De que “não adianta fazer nada porque entram armas pela fronteira e isso ocorre porque o Lula as deixou desguarnecidas”
Obviamente que repliquei perguntando o que, diabo, as armas tinham que ver com o peixe, já que, tanto na invasão do imóvel que ocupo quanto nas dos imóveis dos tais vizinhos, não houve uso de armas e, sim, de pés de cabra, de muita força física e de uma habilidade atlética dos ladrões para pularem muros de 4 metros de altura como os do meu escritório.
Pensa você, leitor, que fiz os tais vizinhos refletirem? Doce ilusão. Começaram a falar de outras coisas e não responderam mais.
Ou seja: pessoas que deveriam estar revoltadas pelo sofrimento que suportam simplesmente não dão bola, parecem masoquistas. Estão vivendo essa situação de insegurança assustadora e não responsabilizam ninguém. Na verdade, acho até que os tais vizinhos não têm noção de que o governo do Estado comanda as polícias civil e militar, a Secretaria de Segurança Pública, os presídios etc.
Paulista, ou melhor, a maioria dos paulistas não sabe para que serve governador. Agora estou convicto disso. Uma geração inteira cresceu, ao longo dos últimos vinte anos, sem ser lembrada pela imprensa de que um governador tem quase todas as responsabilidades em relação a problemas que nos atormentam, aos paulistas e paulistanos.
Por não saber para que serve governador, os paulistas não sabem de quem reclamar pelo transporte caótico na capital e em seu entorno. Estritamente porque, nesses últimos vinte anos, não houve investimento em transporte sobre trilhos (metrô e trens de subúrbio). E tampouco sabem reclamar de tudo mais que é responsabilidade do governo do Estado.
O povo da capital paulista sofre sendo transportado como gado pela cidade durante horas e não se dá conta de que quem tinha que construir metrô aqui não construiu por opção própria.
Dos vinte anos de PSDB em SP, durante oito a Presidência da República também era tucana. Nem assim SP construiu metrô. Passou a construir alguma coisa depois que o PT chegou à Presidência e enviou ao governo tucano mais dinheiro para esse fim.
O ponto central do texto, então, é o risco de que, ano que vem, ocorra o que parece impensável: o PSDB pode conseguir o SEXTO mandato consecutivo de governador. Que tal? Pode o ainda Estado mais rico da Federação, que nos últimos vinte anos empobreceu e perdeu importância, manter-se sob o comando do mesmo partido que o conduziu a tal situação?
Só não sendo de São Paulo para não reconhecer a situação calamitosa deste Estado. Só vivendo no mundo da fantasia – caso não seja pago pelo governo do Estado – para não reconhecer quão mal o Estado tem sido governado ao longo de DUAS DÉCADAS (!!?).
É verdade que os vizinhos de que falei são de classe média alta, gente cheia de imóveis, que vive de renda, que não entende nada de política e nem faz questão de entender porque não depende do Estado… Ou melhor, pensa que não depende, pois depende para lhe dar segurança inclusive para o seu patrimônio, que vive sendo alvo de investidas criminosas.
Penso que é na questão da Segurança Pública que mais se percebe um fenômeno espantoso em São Paulo: as pessoas, sobretudo dos estratos mais altos da pirâmide social, não se dão conta de que a forma de governar o Estado – forma que o mantém socialmente mais atrasado do que deveria, sendo tão rico – é o que gera essa criminalidade crescente.
Nas últimas semanas, até Maluf apareceu na tevê pregando que “Para melhorar a segurança em SP tem que pôr, de novo, a Rota na rua”. Ou seja: nas entrelinhas, o zumbi político que hoje não tem pretensões em SP, pois perdeu a direita para o PSDB, pregou a volta de esquadrões da morte, como se fosse possível matar um exército de criminosos como o que aprisionou o Estado.
O PCC já mostrou que pode pôr o Estado inteiro sob uma espécie de “lei marcial” ou “estado de sítio”. Se houvesse a tal “Rota na rua” mesmo, haveria uma guerra em São Paulo. Teria que vir o Exército e haveria que baixar leis de exceção para controlar o caos.
Quem deixou o PCC e outras organizações criminosas construírem esse poder paralelo em SP? Exatamente quem comanda as polícias, os presídios e a Secretaria de Segurança Pública. Mas, enquanto isso, vê-se muita gente entre essa população hipnotizada de São Paulo acusando um ex-presidente da República e um ex-ministro da Justiça pelo que (não) faz o governo do Estado.
Tomara que, ano que vem, não haja tanta gente em SP capaz de tecer, ou melhor, de comprar tal teoria para o caos na Segurança como havia em 2010. Pode ser que muitos tenham acordado. Pode ser que gente como os tais vizinhos só exista na rua do meu escritório… Pode ser tudo, mas me apavoro com a hipótese de que possa não ser bem assim.
0 comentários:
Postar um comentário