segunda-feira, 24 de março de 2014

A entrevista "Caras" com Barbosa

Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
 

Roberto Dávila fez uma entrevista “Caras” com Joaquim Barbosa na estreia de seu programa de entrevistas na Globonews, neste final de semana.

Não incomodou em nenhum momento seu entrevistado, o que é a prova maior de uma entrevista desprezível no jornalismo sério.

Só faltou a ele falar com Joaquim Barbosa de joelhos dobrados.

Pela amostra, dá para imaginar o que serão os futuros programas: completamente dispensáveis.

Chances de levar a conversa para algo mais quente não faltaram. Joaquim Barbosa disse, por exemplo, que está processando um jornalista por racismo.

Dávila simplesmente ignorou o assunto. Fugiu dele ou por inépcia ou por medo de sair da zona de conforto à base de sorrisos e rapapés.

Não foi sequer pronunciado o nome de Noblat, o processado.

Dávila também se furtou a entrar na história da nomeação de JB para o Supremo.

Poderia ter perguntado a ele se confirmava a versão de Frei Betto segundo a qual Barbosa o abordou no aeroporto de Brasília e se apresentou como uma resposta para a busca de Lula por um ministro negro.

A impressão que sobrou é que a entrevista foi toda ela combinada. Ficou, portanto, emasculada.

O melhor da conversa girou sobre racismo. Estavam os dois de pé, por causa das dores nas costas de Barbosa. Com razão, JB disse que o Brasil é imensamente racista.

Isto é uma verdade doída, mas também é verdade que ele nada fez pelos negros como presidente do Supremo.

Poderia ter feito um pronunciamento, um só, para levantar o debate – mas nada fez. Sua voz jamais se ergueu na defesa dos negros, o que é uma lástima, uma grande oportunidade desperdiçada.

Ainda nesta semana, ele teria agido bem se falasse algo em defesa de Claudia Ferreira, arrastada e morta barbaramente por policiais no Rio de Janeiro.

Mas nada.

Dávila foi tão bajulador que conseguiu dizer que, aos 59 anos, Barbosa é “muito jovem”. Ora, aos 33 Alexandre tinha ganhado e perdido o mundo. Penso aqui comido que, aos 57, devo me julgar um adolescente, talvez.

Como o DCM já noticiou, JB disse que não será candidato em 2014. A razão é óbvia: ele não tem voto.

Provavelmente não será candidato a nada expressivo jamais, porque virou um herói da direita, e isso dá holofotes mas não votos.

Se Dávila perdeu sucessivas chances de produzir uma conversa minimamente excitante, Joaquim Barbosa não deixou escapar a oportunidade de bater em Lula.

Disse que várias vezes Lula, quando presidente, o convidou para fazer parte da comitiva em viagens para a África.

Disse que sempre recusou por entender que Lula queria fazer “marketing” – mostrar aos africanos uma imagem racial muito distante da realidade brasileira.

Não obstante, JB ficou sentido com Dilma por não ter sido incluído no grupo que foi ao funeral de Mandela.

Joaquim Barbosa parece jamais haver superado as marcas do racismo de que foi vítima antes de ascender socialmente, e é compreensível.

O que é incompreensível é sua falta de ação para promover seus iguais. Teve palco, teve microfone, teve tudo para isso, sobretudo no ápice do Mensalão, quando a imprensa lhe deu um espaço extraordinário.

Mas ficou quieto.

5 comentários:

Anônimo disse...

O entrevistado para mim é um ser
desprezível pela conduta que vem tendo desde que entrou no STF,mais
ainda como presidente.O entrevista-
dor é que foi uma 'surprêsa'negati-
va,digamos assim,pois até agora,pe-
lo que já assistira considerava-o
um pouquinho acima da média jorna-
lística...

Denise Patti disse...

Vi a entrevista. O que se poderia esperar de uma entrevista com JB na Globo News? O que ficou evidente foi a prepotência travestida de humildade e uma absoluta falta de desenvoltura na expressão da língua comum (não aquela utilizada nos tribunais), mas a que requer recursos criativos de estrutura e vocabulário. Tenho que concordar com ele quando disse que é balela a história do menino de poucos recursos que conseguiu chegar até o lugar que ocupa hoje. Todavia lhe falta um bom pedaço.

Anônimo disse...

ENTREVISTADOR e ENTREVISTADO correspondem à soma dos zeros ao quadrado.

sergio m pinto disse...

Esperava o que, de um programa da globolpe?

Anônimo disse...

Pelo visto o sr.Demétrio já tem mais um novo coleguinha. Mas com que salário, hein! Coitado do sr. Leonel de Moura Brizola traído até depois de morto. É sr. JB, já havia escrito que seria em um futuro bem próximo mais um bagaço de laranja sem uma gota de caldo. A Direita é assim mesmo e não muda, pois no momento é o caso da refinaria que no passado deu lucro e foi um bom negócio, agora é a bola vez para degradar a presidenta Dilma. Então sr. JB das próximas vezes se submeta a entrevistas espontâneas para não dar vexame igual a esta.