sábado, 9 de agosto de 2014

O "atestado de virgem" em São Paulo

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Leio em O Globo que o governo Alckmin pede “atestado de virgindade” às aprovadas no concurso para agente de organização escolar da Secretaria Estadual de Educação.

“A obrigatoriedade do exame himenal é aplicada às mulheres que se declarem virgem e que não quiserem se submeter a colposcopia e colpocitologia oncótica, exames ginecológicos exigidos em caso de detecção de células anormais no teste de papanicolau ou exame preventivo”.

É obvio que estes exames são importantíssimos para a saúde da mulher mas, além da invasão (literal) de sua intimidade, não se vislumbra aí qualquer proteção ao ser humano.

E se uma mulher estiver em tratamento precoce de um câncer, que não a invalide para o trabalho, deve ser punida por estar se cuidando?

Ou se, na contramão dos tempos modernos, quiser permanecer virgem, terá de atestar medicamente esta condição?

À parte à falta de sensibilidade e o ridículo da situação, soma-se o raciocínio tecnocrático que assumiu o controle das “razões de Estado” no trato de seu pessoal.

O concurso, que oferece salários de pouco mais de um salário-mínimo – R$ 800 – exige, só na área de perícia média, que o candidato apresente, às suas expensas, uma imensidão de exames (veja aqui).

Isso, sim, e não apenas para as mulheres, precisa ser revisto.

Exame admissional deve ocorrer por conta do empregador, porque representa – e isso fica claro, quando se estabelece como condição para a aceitação no emprego – uma proteção para ele.

É claro que esta estupidez do “atestado de virgindade” vai cair, senão pela repercussão negativa, por ordem judicial.

Mas é importante que, do ponto de vista legal, dê-se fim a esta estupidez de alguém ter de provar, às suas próprias custas, que é saudável.

Que o escândalo sirva, não só em São Paulo, para abrir uma discussão sobre isso.

3 comentários:

Laura disse...

Discordo. Todo servidor (seja homem ou mulher) tem q fazer uma série de exames médicos (periódicos) para a sua própria saúde, entre eles exame de DST. Na colposcopia se introduz um tubo de plástico na vagina da mulher para se poder analisar o útero dela. Se a mulher é virgem, não faz esse exame por 2 motivos: primeiro pq nao precisa, já q ela é virgem e por tanto nao tem dst. Segundo pq senao ela perderia a virgindade durante o exame. Os exames médicos tem q ser obrigatorios sim, para a própria saúde do servidor (detectar doenças em seu inicio é para o bem dele). Caso a mulher seja virgem, ela nao deve fazer a colposcopia, então tem q apresentar um documento no lugar dele. Concordo que um "teste de virgindade" é uma invasão de privacidade, nesse caso acho q uma solução seria ela assinar uma declaração assumindo por sua própria conta e risco a não realização do exame preventivo.

Anônimo disse...

Ah, ainda tem quem concorde com essa estupidez. Cuidar da própria saúde é um direito personalíssimo. Ainda que o Estado queira impor exigências para o ingresso no serviço público, que o faça então por sua conta e não jogar os custos da proeza nos bolsos do individuo. Decerto que uma bobagem desta não passa pelo crivo do judiciário.

Mordaz disse...

Eu gostaria de dizer que muito me admira uma mulher defender tamanha intromissão e invasão da privacidade da mulher, mas sei bem que entre as mulheres ainda há muitas que não se entendem como donas do próprio corpo.