segunda-feira, 16 de março de 2015

Stedile, o neofascismo e o 15 de março

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Por Geraldo Galindo

Poucos dias antes das manifestações ocorridas no dia 15 de Março, circulou nas redes sociais um cartaz com os seguintes dizeres: "“Procurado: João Pedro Stedile, líder do MST.– Inimigo da Pátria – vivo ou morto, recompensa de R$ 10 mil"”. Como se sabe, Stedile é a liderança maior do MST, um movimento dos mais organizados, dinâmicos e combativos em atividade no país, que luta pela reforma agrária, contra o latifúndio e o agronegócio. É um dirigente respeitado da esquerda brasileira e internacional e não vacila em momento algum quando é para fazer o enfrentamento com as classes dominantes do país. Em novembro de 2014 se encontrou com o papa Francisco, o que provocou a ira e a inveja dos reacionários de plantão. Ao líder da Igreja Católica, disse ter relatado as injustiças no campo e que dele teria ouvido que “distribuir o latifúndio é uma questão ética”.

Nos atos realizados pela direita brasileira, em associação explícita com a mídia golpista, nos deparamos com uma escalada de ódio que deve colocar em alerta todos que atuam nos movimentos sociais e da esquerda brasileira. O risco de um retrocesso político que possa levar a uma escalada de perseguição aos militantes que lutam em favor dos trabalhadores não pode ser desprezado, ao contrário, devemos ter essa possibilidade como um risco real. As classes dominantes utilizam todos os recursos, inclusive a tortura e assassinatos, para defender seus privilégios, se acharem necessário.

A Colômbia, exemplo de governo pró-americano ao estilo PSDB, é onde temos o maior número de assassinatos de sindicalistas no mundo. No acirramento da batalha política no Brasil, os reacionários podem descambar para uma escalada de caça às bruxas, tamanho é o ódio acumulado nos últimos 12 anos. Imagino que a vontade dessa elite revoltada é, em algum momento, colocar atrás das grades as principais lideranças responsáveis pelas mudanças que beneficiaram milhões de brasileiros. Não é à toa que eles rotulam Dilma e Lula como “chefes de quadrilha” e outros termos mais desrespeitosos.

Não é um fato isolado a presidenta e o presidente terem aparecido “enforcados” em simulações feitas com bonecos, durante o dia 15/03, como também não o é um cartaz apresentar o texto “"Comunista é bom morto/ Dilma, Maduro, Hugo, Fidel, Cristina e Lula, lixo do mundo”". Parcela considerável desses manifestantes que desenvolveram o ódio, contaminados pelo veneno da mídia, acham que essas lideranças da esquerda da América Latina são lixo e, portanto, devem ser incinerados. 

No protesto, adaptaram a repulsiva frase do bandido bom é bandido morto” para os comunistas, que seriam bandidos a serem executados, na sua torpe visão. Até mesmo Paulo Freire e Marx foram alvo da fúria e da chacota de participantes dos atos. Alguns mais afoitos disseram querer apenas o Ministério Público e a Polícia Federal, instituições com forte influência de setores retrógrados a serviço das classes dominantes.

Os atos de vandalismo contra a sede do PT em Jundiaí são injustificáveis, decorrentes desse clima que prega a intolerância e descamba para a violência, o que nos traz à lembrança a destruição da sede do Partido Comunista da Ucrânia por bandos nazistas armados e financiados pelos EUA e UE. A perseguição a pessoas na cidade de São Paulo, Rio e em outras cidades, apenas por vestirem roupas vermelhas, vai se tornando rotina. Durante a manifestação em São Paulo, um prédio foi cercado por cerca de 500 pessoas porque, em um dos andares, um militante expunha sua bandeira do PT na janela. A suástica nazista apareceu em uma das faixas na capital carioca. Fundamentalistas cristãos caracterizaram o PT como representação do demônio.

A pregação ao golpe apareceu de maneira escancarada – na forma de impeachment ou por intervenção militar. Em qualquer uma das formas, a criminalização dos movimentos sociais e da esquerda seria o resultado de um eventual desfecho desfavorável aos interesses do país. Não nos esqueçamos do massacre de Eldorado de Carajás (PA), que ceifou a vida de 19 trabalhadores rurais sem terra, durante a gestão tucana nos planos federal e estadual. No dia 17 de Abril vai completar 19 anos desse ato covarde comandado por um governo do PSDB.

Voltando a Stedile, a provocação dirigida a ele pelos grupos neofascistas não é um ataque à liderança do dirigente, mas a todos que estão a defender as conquistas do povo brasileiro e dos governos progressistas, inaugurados por Lula, em 2002. A direita sabe que o líder do MST foi um dos primeiros a alertar sobre a conspiração golpista e a convocar nossa tropa pra a resistência. Não vamos baixar a guarda. Lutemos até o último momento em defesa da democracia e da liberdade.

* Geraldo Galindo é dirigente estadual do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na Bahia.

1 comentários:

Maria Moreira disse...

Ontem o Joao Pedro esteve com sua presença marcante e inteligência brilhante na tv cultura.....uma entrevista interessante principalmente pelo dia que ontem foi....
O medo que circula contra o JP é visível pela promissora capacidade que ele detém para ser o nosso próximo presidente da república.