terça-feira, 3 de maio de 2016

Vacilante, PSDB pede milagres a Temer

Por Tereza Cruvinel, em seu blog:

Aécio Neves foi ao encontro de Temer levando um “documento programático” que mais parece um pedido ao “santo das causas impossíveis”. São as condições para o apoio do PSDB ao virtual governo do vice-presidente e constituem um programa de governo que o próprio PSDB não implementou em oito anos de FHC. Pedir tanto milagre pode ser uma senha para o recuo na decisão de participar do governo. Nas últimas horas voltou a circular a tese de que o apoio devia ser apenas parlamentar. Neste momento, o resultado do encontro Aécio-Temer ainda não é conhecido.

Aécio foi ao encontro de Temer com uma disposição estranha, expressando o receio tucano de que o novo governo acabe sendo “muito parecido” com o atual. O receio é estranho porque o PSDB nunca ignorou que Temer vai governar com as mesmíssimas forças que apoiavam Dilma. Com a diferença de que agora um Eduardo Cunha, que ela alijou, será o segundo homem da República. A confeito novo seriam eles, os tucanos.

Se Temer aceitar todos os pontos da Carta Compromisso estará vendendo terreno na lua pois não terá condições de cumpri-los. O primeiro pressuposto é a continuidade da Lava Jato. Bem, nem a continuidade nem a descontinuidade das investigações estarão ao alcance de Temer, apesar dos muitos peemedebistas envolvidos e até de citações à sua pessoa, que o procurador Janot já considerou insuficientes para inclui-lo no pedido de investigação que apresentou contra Aécio, os peemedebistas Jucá, Valdir, Raupp e Renan, além do petista Edinho Silva.

A agenda tucana de recuperação econômica tem 15 propostas para serem implementadas num prazo de 30 a 60 dias e pede um milagre, uma reforma tributária que governo algum conseguiu realizar. Para se comprometer com todos os pontos, Temer vai ter que consultar Meirelles, o futuro ministro da Fazenda. Ele se compromete? Num prazo tão curto, só se for milagreiro. As medidas teriam que produzir a retomada do crescimento e da geração de empregos, o reequilíbrio das contas públicas e outros tantos resultados que não virão no curto prazo.

Na esfera política, os tucanos querem a antecipação da discussão sobre a implantação do parlamentarismo. O presidencialismo de coalizão já levou ao afastamento de dois presidentes em pouco mais de vinte anos, num sinal de sua exaustão, diz o governador Pedro Taques. Verdade. Mas Temer vai se comprometer com isso? Como seria o procedimento? Através de emenda constitucional? E se o STF decidir que não pode, como é provável? Temer convocara um plebiscito? Um compromisso para valer teria que examinar todos estes aspectos. Ou então, será conversa para boi dormir. Os tucanos querem ainda uma reforma política que inclua a cláusula de barreira. Essa é uma boa medida mas não é uma boa pedida. Quando passou, o STF derrubou. Agora vai colaborar?

Outro milagre pedido é a “mudança sobre a fórmula de funcionamento dos governos de coalizão”. “ Não tem sentido aumentar o número de ministérios para abrigar todos os partidos que apoiam o governo. Um exemplo do que defendemos foi a escolha de Serra por Temer. Serra não foi uma exigência do PSDB, foi uma escolha de Temer, mas o partido apoia”, disse o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima. Então está bem. Temer vai escolher sozinho os ministros dos partidos que vão apoiá-lo e eles ficarão caladinhos, aceitarão as escolhas e votarão com o governo no Congresso, disciplinadamente. Que sistema politico civilizado! E estamos falando do PMDB, do PP, do DEM, do PSD, de todos os que traíram Dilma para entrar no novo governo. Você acredita? Nem eu. Nem os tucanos.

E isso, com redução do número de ministérios. Ou seja, alguns partidos não terão pastas, só segundo escalão, e mesmo assim, com nomes escolhidos pelo presidente e não indicados pelas siglas. O recuo de Temer da promessa de reduzir o número de pastas à metade está na origem do receio tucano de que o governo acabe parecido com o de Dilma. Mas ele, Temer, que foi até coordenador político de Dilma, sabe como o sistema funciona. Sabe que não foi inventado nem por Lula nem por Dilma. Sabe que se não der carne às bancadas não terá votos. Dilma, mesmo entregando arrobas de carne e poder, não colheu reciprocidade. Temer conhece o barro de que é feito o sistema. Não tem para onde correr.

E nós, os governados, para onde corremos?

Só tem um jeito. Eleger um novo presidente que se comprometa com uma Constituinte exclusiva, que passe este sistema a limpo. Pode até ser que a opção seja pelo parlamentarismo que os tucanos defendem mas a partir da vontade popular, e não da vontade de um presidente que chega ao cargo como Temer chegará. Pelo golpe legislativo travestido de impeachment que nos obriga a este longo e tedioso velório. Fora disso, tudo será mais do mesmo na politica, e a volta do pior no social.

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