quinta-feira, 7 de julho de 2016

O arcebispo golpista que acoberta pedófilos

Por Altamiro Borges

Nesta quarta-feira (6), o Vaticano confirmou o afastamento do arcebispo da Paraíba, o golpista Aldo Pagotto. Segundo o comunicado lacônico, o Papa Francisco “aceitou a renúncia” do religioso ítalo-brasileiro, mas não há maiores detalhes sobre o motivo do expurgo. Nos últimos meses, porém, aumentaram as denúncias de que o arcebispo teria abrigado em sua diocese padres e seminaristas acusados de abuso sexual de menores de idade. Já em 2002, Aldo Pagotto foi acusado pelo Ministério Público do Ceará de coagir adolescentes para que mudassem seus depoimentos a fim de proteger um frei acusado de estupro. Diante das suspeitas, o Vaticano determinou, no ano passado, que o arcebispo não ordenasse mais padres ou recebesse novos seminaristas. Agora, ele “renúncia” e se diz vítima de acusações “difamatórias”, que o expõem ao “escárnio público”.

Nas marchas golpistas pelo impeachment de Dilma, no ano passado, o arcebispo desfilou pelas ruas de João Pessoa com a bandeira do Brasil enrolada no corpo e fez discursos inflamados em defesa da ética, da moral e da família. Segundo a imprensa paraibana, que sempre omitiu as suspeitas sobre o acobertamento de pedófilos, o arcebispo virou a principal estrela dos protestos organizados pelas seitas fascistas. Na primeira grande marcha golpista, em março de 2015, um site local noticiou que “umas das presenças que mais chamou a atenção foi a do Arcebispo Dom Aldo di Cillo Pagotto. Ele compareceu à divisa das praias de Cabo Branco e Tambaú portando a bandeira do Brasil e um apito e disse que estava protestando contra ‘a roubalheira, a falcatrua e a corrupção’”. Muitos “midiotas” seguiram o religioso fanfarão, agora defenestrado pelo Vaticano.

Antes destas marchas, Aldo Pagotto já havia se destacado por suas posições reacionárias. O blogueiro Rubens Nóbrega cita várias “controvérsias” do arcebispo da Paraíba – “que condenava ‘os padres na política’, mas sempre atuou politicamente e foi às ruas defender o ‘Fora Dilma’”. Ele lembra que o “arcebispo renunciante sempre foi avesso aos valores, causas e conceitos que identificam a chamada Igreja Progressista e sua ‘opção preferencial pelos pobres’... Dom Aldo se envolveu em diversas brigas com os padres e pastorais de ‘doutrinação marxista’ e também com representantes de outras igrejas, especialmente as neopentecostais da linha da Universal de Edir Macedo”.

Em 2009, ele suspendeu o padre Luiz Couto (deputado federal pelo PT) das suas funções eclesiásticas. “O motivo: o sacerdote e parlamentar disse em entrevista ser contra o celibato e a discriminação de homossexuais e a favor do uso de preservativos nas relações sexuais”. No outro extremo, o arcebispo “colocou-se publicamente a favor de Cássio Cunha Lima quando o então governador tucano foi deposto do cargo pela Justiça Eleitoral”. Já em 2010, ele foi alvo de um manifesto de católicos da diocese, que o acusaram de ser contra os pobres. Reproduzo abaixo o texto de repúdio ao ex-arcebispo, agora afastado sob a suspeita de acobertar pedófilos:

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Cristãos da Paraíba pedem afastamento de bispo por preconceito contra os pobres

João Pessoa, 09 de setembro de 2010

Ao Sr. Núncio Apostólico no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri
Ao Sr. Presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha
Ao Sr. Presidente do Regional Nordeste II da CNBB, Dom Antônio Muniz Fernandes
Aos membros das instâncias colegiadas da Arquidiocese da Paraíba
Srs. Bispos, nossos Irmãos,

Em carta aberta, nós, Leigos, Leigas, Religiosas, Religiosos, Diáconos e Presbíteros da Arquidiocese da Paraíba, abaixo-assinados, dirigimo-nos respeitosamente aos Srs. Responsáveis pelas diferentes instâncias eclesiais, inclusive as instâncias colegiadas da CNBB, da CNBB Nordeste II e da Arquidiocese da Paraíba, para externar-lhes nossas profundas inquietações em relação à situação comprometedora de nossa Arquidiocese, tendo em vista a já longa sequência de atos deploráveis REITERADAMENTE cometidos pelo Sr. Arcebispo da Paraíba, Dom Aldo di Cillo Pagotto, desde o primeiro ano de sua chegada a essa Arquidiocese (cf. documentos anexos), principalmente no tocante ao seu relacionamento sistematicamente desrespeitoso e preconceituoso em relação aos pobres, à maioria das pastorais sociais (que não apenas não têm contado com seu apoio, antes têm sido por ele hostilizadas). Atos dessa natureza se sucedem, sem qualquer sinal de mudança de atitude por parte de Dom Aldo. 


Entendemos chegada a hora de apelarmos a quem tem o dever de se posicionar claramente sobre tal situação, que só tende a agravar-se, caso continue prevalecendo o silenciamento ou a omissão diante da lista considerável de atitudes de desdém ou de humilhação a tudo que diga respeito, por exemplo, às CEBs, à CPT, aos leigos, leigas, religiosas ou até a padres e outros grupos pastorais comprometidos com a causa dos pobres, com igual atitude em relação aos movimentos populares, constantemente agredidos por suas palavras e atos, tratando aos pobres com arrogância e desprezo, enquanto trata com privilégio os ricos e poderosos e seus respectivos interesses. Para tanto, não hesita em apelar, quando lhe convém, e de forma unilateral, aos rigores do Código de Direito Canônico, como o fez em relação à suspensão de ordens do Pe. Luiz Couto.

Seu mais recente ato de desrespeito e de preconceito contra os pobres e suas legítimas demandas se deu por meio da imprensa local - na qual aparece com uma frequência pouco recomendável a um pastor de quem se espera discrição e prudência. Desta feita, numa atitude de afronta a um pleito legítimo e justo como é o Plebiscito pelo limite do tamanho da propriedade da terra, no Brasil, medida já tomada inclusive por diversos países, inclusive a Itália, bandeira amplamente consensual entre as organizações de base da sociedade brasileira (pleito assumido pela CNBB, pelo CONIC e mais de cinqüenta entidades e movimentos populares) e que tem fundamento na própria Doutrina Social da Igreja e nos Documentos da CNBB.

Eis que, sem tomar em conta sequer os documentos que fundamentam a iniciativa, Dom Aldo Pagotto vai ao Correio da Paraíba, em coluna assinada pelo mesmo, em artigo publicado a dois dias do início do referido Plebiscito, e trata de questionar - já a partir do título capcioso de seu artigo "Limite à propriedade produtiva?"- a validade do Plebiscito, tecendo insinuações injuriosas- inclusive de roubo - contra os pobres e contra os movimentos populares. Não contente com a desfeita, volta à sua coluna semanal de domingo, dia 5 de setembro, em pleno período de realização do referido Plebiscito, para reiterar sua posição.

Diante desses fatos graves, em que é o próprio pastor que se mantém intransigente em seu comportamento sistemático de semear o divisionismo em seu rebanho, vimos solicitar encarecidamente às diferentes instâncias eclesiais que os Srs. representam, a substituição do atual arcebispo, Dom Aldo Pagotto, convencidos que estamos, por fatos concretos de que ele não atende aos requisitos pastorais e pedagógicos de um pastor, no cuidado de seu rebanho.

Confiantes em sua prudência pastoral, e aguardando seu pronunciamento e as providências urgentes que o caso requer, expressamos-lhes nossas saudações fraternas.

Alder Júlio Ferreira Calado - Diácono
Elias Cândido do Nascimento - Leigo, Coordenador do MTC/NE-II
Genaro Ieno - Ex-Agente de Pastoral Leigo
Rolando Lazarte - Sociólogo, ex-professor da UFPB
Lívia Lima Pinheiro - Leiga, ex-Membro da Equipe Exec. Setor Juvent.
Romero Venâncio Júnior - Leigo, Professor Universitário
Genielly Ribeiro da Assunção - Leiga
José Brendan Macdonald - Leigo, Assessor na formação de jovens do meio popular
Eduardo Côrtes Aranha - Leigo
Antônio Alberto Pereira - Professor da UFPB
Ricardo Brindeiro - Animador das Pastorais Sociais
Arivaldo José Sezyshta - Coordenador do Serviço Pastoral dos Migrantes do Nordeste
Maria Angelina de Oliveira - Ex-Coordenadora da JOC (nacional e internacional)
José Gilson Silva Alves - Dirigente Sindical (SINTER - PB)
Luiz Lima de Almeida - Dirigente Sindical (SINTR - PB)
Renato Paulino Lanfranchi - Leigo, ativista de direitos humanos
Raimundo Nonato de Queiroz - Educador de Jovens Cristãos
Luciano Batista de Souza - Nós Também Somos Igreja
Luciano de Sousa Silva - Professor da UFPB
João da Cruz Fragoso - Leigo, membro do Grupo Nós Também Somos Igreja
José Marcos Batista de Moraes - Assessor da Past. Juventude/ C.G
Gilma Fernandes B. Madruga - Leiga, Educadora de Jovens Cristãos
Samantha Pollyanna M. Pimentel - Leiga, Educadora de Jovens Cristãos
Íris Charlene Lima de Abreu - Leiga, Educadora de Jovens Cristãos
Janaína Brasileiro Formiga - Leiga, Educadora de Jovens Cristãos
José Washington de Oliveira Castro Júnior - Leigo, Educador de Jovens Cristãos
Magdala Cavalcanti de Melo - Leiga, membro do Grupo Nós Também Somos Igreja
Valdênia Paulino Lanfranchi - Advogada de Direitos Humanos
Pedro Ferreira de Lima - Diretor do SINTRICOM
Luiz Muniz de Lima - Diretor do SINTRICOM
Maria José Moura Araújo - Projeto Sal da Terra
Erasmo França de Sousa - SINTRICOM
Josiana da S. Ferreira - SINDTESP
José Laurentino da Silva - SINTRICOM
Ednalva Costa da Silva - SINTRICOM
Rafaela Carneiro Cláudio - Leiga, Coord. Assembléia Popular
Adenilton Felinto da Silva - Leigo - Educador Popular
Rosa Lisboa - Leiga - Educadora Popular
Gleyson Ricardo A. de Melo - Leigo, Assembléia Popular
Dora Delfino - Leiga, Rede de Educadores do NE
João Batista da Silva - Leigo
José Santana - SINTRICOM
Eulina Pereira Ferreira - Projeto Sal Terra
Gilberto Paulino de Oliveira - CUT
Edmilson da Silva Souza - Leigo
Francisco D. H. dos Santos - Leigo
Eliana Alda de F. Calado - Leiga
Maria de Oliveira Ferreira Filha - Professora da UFPB
Nilza Ribeiro - Leiga


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1 comentários:

Marcelo Delfino disse...

Só o fato de ir a passeatas partidárias nos dá o direito de aplicar a Dom Aldo a mesma alcunha aplicada pela revista Veja a parte do clero brasileiro: padre de passeata. No caso, arcebispo de passeata.