segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Dilma usa as vestes da democracia

Por Hildegard Angel, em seu blog:

Enquanto se desenvolve a sessão da defesa da presidenta Dilma, vai se consolidando a convicção de que não é Dilma Rousseff que está no banco dos réus, é a nossa Democracia, é um projeto que ousou contemplar o Brasil como um todo, contemplar o povo brasileiro, a nossa soberania.

E isso cada vez mais, na medida em que vemos se apresentarem senadores com textos decorados, discursos trazidos de casa na pontinha da língua, como se estivessem blindados a qualquer argumentação, surdos e cegos às verdades que lhes são hoje ditas, arraigados aos objetivos fisiológicos que os levam, com sede ao pote, a pretender um golpe, que podará todos os direitos às minorias, às mulheres, aos trabalhadores, com a precarização das leis trabalhistas, a “flexibilização” da CLT e, com isso, de todos os direitos trabalhistas, o congelamento de despesas com saúde e educação por 20 anos, a desvinculação das pensões e aposentadorias ao salário mínimo, relegando nossos idosos e deficientes à absoluta miséria, privatizando todas as nossas riquezas, sem para isso tenha havido aprovação popular…

E essa crise recessiva será potencializada por uma política cruel neoliberal, com um Banco Central obedecendo aos interesses dos banqueiros, e não aos do país, não aos do povo do Brasil.

E vemos uma procissão de senadores falando pró impeachment, e a palavra ser dada inicialmente apenas a dois senadores em apoio à presidenta eleita, mesmo assim tendo suas breves preleções interrompidas ao tempo regulamentar, sem o beneplácito de “uns segundinhos a mais”, o que é conferido apenas aos senadores que condenam.

Eu me sinto, sinceramente, assistindo a um julgamento de paródia. A uma mise-en-scène dramatúrgica com um inevitável final infeliz.

E todos os atores dessa tragédia brasileira, dessa pantomima trágica, tornam-se cada vez menores, minúsculos, imperceptíveis, enquanto a protagonista se agiganta.

Dilma Rousseff passa a ser mais que ela. Alcança dimensão ainda maior. Assume as vestes da Democracia, ela se torna a República do Brasil. É a nossa República que eles hoje pretendem assassinar com as balas da mediocridade, açoitando-a com chibatadas indignas, condenando-a a uma “morte natural pela forca”, como outros algozes de nosso país já fizeram a outros réus, a começar por Tiradentes, mineiro tal qual ela.

E certamente hão de querer apagar Dilma da História, hão de desejar conduzi-la publicamente, não pelas ruas com sua cabeça espetada e as partes de seu corpo exibidas nos postes, mas através das redes de TV, expondo suas entranhas, contando histórias inventadas, com múltiplos Joaquins Silvérios dos Reis traidores a fazerem fila para depor infâmias contra ela, até que o tempo a consuma, à Dilma, aos seus, parentes, amigos, partidários, admiradores.

E todos serão perseguidos, terão os seus bens colocados em dúvida, serão difamados, complicados pelo Fisco. E isso não se dará literalmente, como foi com Tiradentes – com sua casa arrasada e a terra salgada – mas toda e qualquer desmoralização será café pequeno. Pois assim vimos fazerem em 64. E assim de novo farão. E os aliados ou tementes ao Poder, mesmo que sendo os melhores amigos, atravessarão para a outra calçada quando virem algum partidário de Dilma vir na sua direção.

E muitos, através das frestas das janelas, vigiarão seus vizinhos e farão denúncias, anônimas ou identificadas, julgando prestar bons serviços à Nação, quando de fato estarão prejudicando cidadãos honrados, que apenas se atreveram a exercer a prática humana de pensar e falar com liberdade.

Que isso seja apenas um delírio, uma fraqueza de meu pensamento atordoado por essas imagens que vejo se sucederem no monitor da TV Senado na manhã deste desgostoso Agosto.

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