terça-feira, 9 de agosto de 2016

O que viria depois do AI-2 de Gilmar?

Por Bepe Damasco, em seu blog:            

Na certa, uma caçada aos militantes dos movimentos sociais e da oposição, com porrada em quem se atrever a comparecer a atos de protesto, ampliação da censura, que já está acontecendo nas arenas olímpicas, e prisões. Estaria aberta a porteira para a formalização da ditadura, que passaria da condição de velada para escrachada.

Um cenário tenebroso para o Brasil se vislumbra caso o militante togado da extrema-direita Gilmar Mendes (me nego a chamá-lo de ministro ou de juiz) logre êxito na sua cruzada para fechar o maior partido da esquerda brasileira, reeditando, na prática, o Ato Institucional Nº 2, de 27 de outubro de 1965, através do qual o marechal Castelo Branco, ditador de plantão, extinguiu os partidos políticos.


Recuando ainda mais no tempo, remeteria à outra mancha na história republicana brasileira, a cassação do registro do Partido Comunista do Brasil, no governo Dutra, em 1947.

E o argumento utilizado por Gilmar para abrir o processo contra o PT, além de revelar um cinismo assustador, é mais uma evidência de que não existe mais justiça em nosso país e que o fascismo cresce a olhos vistos. Diz Gilmar que por ter aceitado recursos das empreiteiras envolvidas na Lava Jato para suas campanhas eleitorais o PT deve deixar de existir.

Então, seria o caso de lacrar as sedes do partido ao qual Gilmar serve, o PSDB, mais a do PMDB, PP, PSD e tantos outros. Se merecesse ser levado minimamente a sério como integrante do STF e presidente do TSE, Gilmar saberia que justiça que não vale para todos não é justiça. O assento de Gilmar na suprema corte envergonha o Brasil e avacalha as nossas instituições.

Quem observa a conjuntura política do país com um mínimo de atenção, e não teve o ódio inoculado no organismo pela mídia, sabe que a Lava Jato, embora se esforce para vender a ideia de que luta para varrer a corrupção no Brasil, nasceu e cresceu com três objetivos : o impeachment sem crime de Dilma, a prisão ou, no mínimo, a inabilitação de Lula para 2018 e a cassação do PT.

Com a faca nos dentes para atingir essas metas, os fariseus de Curitiba não hesitaram em destruir a democracia, criminalizar a atividade política e deixar a economia em frangalhos. Em que pese contem com sócios poderosos nessa empreitada, tais como o STF, o Congresso Nacional e os grupos monopolistas de mídia, Moro e sua força tarefa sabem que no que se refere à prisão de Lula e o fechamento do PT o buraco é mais embaixo.

Lula já denunciou ao mundo, através da ONU, que a justiça brasileira, capturada pelo ativismo político de direita, é incapaz de julgá-lo com imparcialidade. Também a proscrição do PT está longe de ser um mar de tranquilidade. O Brasil não é o mesmo de 1947, quando a sociedade assistiu passivamente os comunistas serem destituídos de seus mandatos conquistados nas urnas.

Hoje, PT e movimentos sociais têm vigor, capilaridade e enraizamento na sociedade. A par do alastramento de posturas e concepções fascistas, persiste uma resistência democrática e cidadã digna de nota por parte de professores, estudantes, artistas, intelectuais, juristas, trabalhadores, negros, mulheres e LGBT. Sem falar que, a exemplo do que vem acontecendo na denúncia do golpe de estado, a mídia internacional seria outro empecilho ao sucesso da operação deflagrada para liquidar o PT.

Nesta segunda-feira (7), Gilmar já começou a sentir os efeitos da reação ao ataque ao PT. Talvez seja por isso que amenizou o discurso, dizendo que seu objetivo não é a extinção, mas sim apurar o envolvimento do PT com a Lava Jato. Disse ainda que outros partidos poderão ser também investigados pelo mesmo motivo. Só mesmo Roger Abdelmassih e Daniel Dantas têm motivos parta acreditar no "republicanismo" de Gilmar.

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