Por Emiliano José, na revista Teoria e Debate:
Ouvindo o alegre rumor da cidade, Rieux
pensava que essa alegria estava sempre
ameaçada. A multidão festiva ignorava o
que se pode ler nos livros: o bacilo da peste
não morre nem desaparece, fica dezenas de
anos a dormir nos móveis e nas roupas, espera
com paciência nos quartos, nos porões, nas
malas, nos papéis, nos lenços – e chega talvez
o dia em que, para desgraça e ensinamento
dos homens, a peste acorda os ratos e os manda
morrer numa cidade feliz. (Último parágrafo de
A Peste. CAMUS, Albert. Tradução de Graciliano
Ramos. 2ª. Ed. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio
Editora, 1973, p. 185.)
Estava a um canto. Relegado, condenado ao ostracismo. Aos frangalhos. Nem sei como chegou às minhas mãos, algum dia. Não sei por que resolvi ocupar-me dele novamente, depois de algum tempo. Nem fazia tanto, eu o havia lido. Edição da Nova Fronteira, tradução de Herbert Caro. Certeza, tinha: Doutor Fausto é dessas obras eternas. Não há exagero nesse dizer. Tomei-o de um canto baixo de minha biblioteca. O mais baixo. Com cuidado para as páginas não se espalharem. Já imaginei entregá-lo a um encadernador. Vou fazê-lo. Deixa essa tempestade passar.
Ouvindo o alegre rumor da cidade, Rieux
pensava que essa alegria estava sempre
ameaçada. A multidão festiva ignorava o
que se pode ler nos livros: o bacilo da peste
não morre nem desaparece, fica dezenas de
anos a dormir nos móveis e nas roupas, espera
com paciência nos quartos, nos porões, nas
malas, nos papéis, nos lenços – e chega talvez
o dia em que, para desgraça e ensinamento
dos homens, a peste acorda os ratos e os manda
morrer numa cidade feliz. (Último parágrafo de
A Peste. CAMUS, Albert. Tradução de Graciliano
Ramos. 2ª. Ed. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio
Editora, 1973, p. 185.)
Estava a um canto. Relegado, condenado ao ostracismo. Aos frangalhos. Nem sei como chegou às minhas mãos, algum dia. Não sei por que resolvi ocupar-me dele novamente, depois de algum tempo. Nem fazia tanto, eu o havia lido. Edição da Nova Fronteira, tradução de Herbert Caro. Certeza, tinha: Doutor Fausto é dessas obras eternas. Não há exagero nesse dizer. Tomei-o de um canto baixo de minha biblioteca. O mais baixo. Com cuidado para as páginas não se espalharem. Já imaginei entregá-lo a um encadernador. Vou fazê-lo. Deixa essa tempestade passar.