domingo, 30 de março de 2014

César Maia critica Aécio e Campos

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

O ex-prefeito do Rio, César Maia, deu uma instigante entrevista ao UOL. Analisa o quadro eleitoral sem brigar com os fatos. Faz a crítica aos erros da oposição, mas prevê uma eleição muito dura para Dilma. A avaliação de Maia aproxima-se bastante do que escrevi aqui – indicando que a eleição de 2014 será muito mais difícil para Dilma (PT) do que indicam os atuais percentuais de voto em Aécio (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

Maia é um veterano da política que procura dialogar com os novos tempos das redes sociais. Contra ele, talvez, é possível argumentar: se entende tanto assim de estratégia e comunicação política, por que nos últimos anos viu seu partido encolher no Brasil e especialmente no Rio – sua base eleitoral?

Ainda assim, vale a pena escutar o que diz este “cardeal” do DEM (ex-PFL), que é pré-candidato a governador do Rio e um dos estrategistas mais consultados por Aécio nesse momento de pré-campanha.

Maia deixa claro que considerava mais correto, para o DEM, lançar candidatura própria (Ronaldo Caiado, de Goiás), para ocupar uma franja à direita, conservadora, hoje órfã de candidaturas fortes à presidência. Mas ele considera que esse momento passou, e que o DEM acabará apoiando Aécio, mesmo sem indicar o vice na chapa. O DEM, diz Maia, deve se concentrar na eleição de uma bancada de ao menos 43 deputados federais, fazendo um esforço para fortalecer os palanques de Aécio nos Estados.

Leia, a seguir, alguns trechos da entrevista.

*****

A avaliação de César Maia sobre as eleições 2014
- Eleição em aberto
(Cesar Maia) Dilma tem hoje 50% de chance de ganhar no primeiro turno, mas se ela for pro segundo turno, ela tem 50% de chance de perder o segundo turno. Ela não é favoritíssima no segundo turno, independentemente de pesquisas. Quando você faz o cruzamento e o corte daqueles que não votariam nela e que se opõe ao governo que está aí, é uma eleição sem favorito.

(pergunta) -Então o sr. acredita, na hipótese de haver segundo, que a disputa seja entre Dilma e Aécio?
 

E ela vai com uma chance enorme de perder eleição. O Aécio tem essa consciência. Um segundo turno muda completamente o patamar dele, o patamar do voto contra a Dilma.
 

Quero lembrar que o Geraldo Alckmin perdeu para o Lula em 2006 por uns 12 ou 13 pontos. O José Serra perdeu para a Dilma em 2010 por quanto? Oito pontos? Isso em uma eleição com a economia crescendo 7,5%. O Lula, se fosse para o Vaticano, era capaz de assumir o papado. Enfim, com todas as condições favoráveis. Essa foi a diferença.
 

A chance de que em um segundo turno a Dilma perca a eleição no Brasil é muito grande. Agora, o problema é ter segundo turno. Essa deveria, no meu ponto de vista, ser a estratégia dos dois [Aécio e Eduardo Campos]: produzir segundo turno.

- Elitismo da oposição
Há uma razão, uma lógica. Todo esse noticiário de Petrobras é compreendido absolutamente por aqueles que leem jornal todos os dias –20% das pessoas leem jornal. Isso pega no segmento. Tira de Dilma esse segmento que ela vinha perdendo.

Aécio Neves e Eduardo Campos estão parados nas pesquisas há vários meses. (pergunta) - Por quê?
Eles estão priorizando a conversa com as elites. É um erro. Você vê fotografia deles em vários lugares. Não vê em nenhuma favela, por exemplo. Por que não? Aécio é um senador da República, Eduardo Campos é governador do Estado de Pernambuco. Não podem subir uma favela e verificar o que está acontecendo com esse descontrole de segurança pública no Rio? Uma situação gravíssima. Os números estão mostrando. Então, vai lá. Quer ter uma posição? Vai lá na [favela da] Maré. O Exército vai entrar, não tem risco nenhum. Que política é essa das UPPs? Eu quero conhecer, quero ver de perto, quero conversar com as pessoas, entrar em um barraco.
 

A gente não vê essa marca de nenhum deles. A gente vê com a Fiesp, com a Firjan, com a Associação dos Bancos, com o agronegócio.

(pergunta) - Ou seja, mais povo e menos elite?
 

É. E vamos ser pragmáticos. Esse tipo de reunião os obriga a fazer afirmações que tiram voto em campanha. Na nossa América Latina, o pensamento liberal tira voto. O pensamento conservador dá voto.
 

O PSDB fica com uma calça justa porque quer ser socialdemocrata. Essa franja está ocupada. Essa franja o PT ocupou bem, não apenas trazendo teses, como trazendo o populismo e o social-liberalismo por meio de sindicatos e multinacionais.
 

Por onde que entra o PSDB aí? Para onde ele vai? Caminha para a direita. Por que não afirma esse caminho onde tem voto, que é o eleitor conservador? É por aí que tem que caminhar. Se deixar o eleitor conservador solto, ele vai caminhar para o voto do populismo evangélico.

- Aécio e a anti-rede social
O Aécio está contratando 9.000 militantes. Aquilo ali é antirrede social…(pergunta) - Por quê?
Porque as redes sociais são horizontais. Desierarquizadas. Cada indivíduo se sente empoderado. Cada vez que na rede social você tenta dizer “aquele cara é um líder de uma ideia”, esvazia. As organizações não têm força. Tem até a rejeição das redes sociais. As redes sociais são de indivíduos anônimos. Quando você tem um grupo grande de indivíduos anônimos que pensa como você, você cresce por sinergia na opinião pública. Você está dizendo uma coisa que está sendo dita nas redes e vocês se encontram nas ruas, na eleição.
 

Essa forçação de agências, de marketing de guerrilha e internet… Isso é um fracasso completo.

(pergunta) - Aécio Neves erra se entrar nessa área?
 

Totalmente, totalmente. O que ele tinha que fazer é, já nesses últimos anos, um levantamento dos militantes, simpatizantes que já estão na rede. Colocar turista na rede não leva a lugar nenhum. Quem está na rede? Você quer vir aqui? Vamos conversar? Vamos trocar ideias?

(pergunta) – Mas esse é o slogan, “Vamos conversar?”, que Aécio vem usando…

Então, conversar não é o que ele está fazendo com 9.000 militantes que vão se encontrar em 300 reuniões setoriais. Essa não é a lógica das redes. Se ele identifica 500, não 9.000, que estão nas redes, que têm presença, que são sistemáticos, que estão nos cotidianos das redes e vai com esse cadastro empurrando ideias, sugestões para que eles espontaneamente multipliquem essas ideias –aí está certo– contra Dilma e a favor de suas ideias. Se coloca o nome e cola o nome aí já perdeu credibilidade.

- O não-voto

Há uma probabilidade de o não voto crescer nessa eleição. Chamo de “não voto” o seguinte: abstenção, branco, nulo, não sabe, não respondeu. Eu somo isso tudo e chamo de não voto. Há uma probabilidade de esse não voto se aproximar de 40%. Quem perde?
 

A Dilma não perde – tem o voto do Nordeste, do interior, que tem uma máquina grande, uma máquina de gente.

(pergunta) - Perde a oposição?
 

Claro. [Dilma] perde menos. Isso pode gerar um primeiro turno. Em condições normais de temperatura e pressão, ela precisaria ter 47% para ganhar no primeiro turno. Nas últimas eleições, com 43%, isso produz segundo turno. Se essa massa de “não voto” crescer, ela pode ganhar no primeiro turno com 40%? Pode.

- Eleição no Rio de Janeiro

Quem está na frente tem 17%, 18%. [Marcelo] Crivella, [Anthony] Garotinho. Quem está lá atrás, que é o [Luiz Fernando] Pezão e o Miro [Teixeira], tem 5%, 4%. Todos sabem, pois todos são profissionais, que quem passar de 15% tem chance de ir para o segundo turno.
 

Eu já fui para o segundo turno em 1992 com 16%. Já fui para o segundo turno em 2000 com 20%. Fôlego para ir para o segundo turno, passando de 15%, eu posso ter. Principalmente porque a situação do Rio de Janeiro é da maior gravidade em matéria de descontrole administrativo e de segurança pública.

(pergunta) – Quem é o mais competitivo, na sua opinião, de todos já pré-lançados?
 

Depende. No primeiro turno, o próprio Garotinho ou Crivella. No segundo turno, os dois perdem. Aí ficam todos ansiosos para ver quem vai ao segundo turno com Garotinho ou Crivella, para ganhar a eleição.
 

A grande surpresa que a gente está tendo é essa performance pré-eleitoral do Lindbergh [Farias]. O Lindberg foi eleito senador com uma votação espetacular. Talvez seja o político que melhor faz campanha na rua, vai bem na televisão. Como é que Lindbergh pode estar nesse momento com 11%, 10%, como deu o último Ibope? Como é que pode?
 

O Crivella tem uma explicação. Ele me disse, pessoalmente: “Cesar, o problema é que há uma fatia grande da população que acha que essas manifestações todas passaram do ponto e há um ‘bagunção’ nisso tudo. E como ele [Lindbergh] tem essa origem, colaram ele nisso. Ele tem que fazer um descolamento”.
 

Qual é a expectativa hoje dele [Lindbergh]? É que o Lula venha com a mão salvadora, que ele sente no colo do Lula. Só que como é que o Lula faz isso numa campanha com tantos candidatos no Rio de Janeiro da chamada base aliada? Você sabe que a Dilma não engole o Lindberg. Não engole. Você sabe que o Crivella é o mais confiável de todos eles. Confiável é aquele que faz campanha onde você não tem voto. O Crivella fará isso daí. Então como é que o Lula vai se movimentar numa campanha como essa? A Dilma é muito próxima do Pezão, estabeleceu uma linha de amizade quando era ministra ainda. Então, enfim, é uma situação difícil para eles mexerem.

0 comentários: